Está previsto que a 10 de Novembro do próximo ano tenhamos na pequena povoação de Negomano, distrito de Mueda, em Cabo Delgado, uma grande festa nacional e não só, pela inauguração da chamada ponte da Unidade, sobre o rio Rovuma, cujas obras de construção decorrem agora a um ritmo bastante acelerado. O momento juntará igualmente a vizinha Tanzânia, concretizando um velho sonho de dois grandes estadistas que os dois países tiveram, nomeadamente Samora Machel, de Moçambique, e Julius Nyerere, da Tanzânia.
Até 10 de Novembro de 2008 são 15 meses e o progresso actual da construção da ponte é de 11 pilares e um encontro concluídos, o que equivale a 35 porcento da obra. Tudo está a andar como o previsto, conforme afiança o empreiteiro, apesar de se ter registado um atraso de cinco meses, entre Novembro do ano passado e Maio deste ano, devido à chuva que elevou o caudal do rio, deixando os pilares então concluídos meio engolidos.
Peter Larsen, Engenheiro-residente e representante do empreiteiro, a viver em Mtambwa, Tanzânia, onde o nosso jornal esteve recentemente, diz que nada impede que os prazos estabelecidos sejam rigorosamente cumpridos, concluindo os 720 metros de ponte em caixão pré-reforçado, com 18 vãos de zero metro e a conclusão dos 17 pilares e dois encontros previstos no empreendimento.
É uma obra que promete trazer-nos uma ponte com uma largura total de 13,5 metros, duas faixas de rodagem de 3,25 metros e dois passeios de 1,5 metro cada, num local cuja paisagem empresta uma beleza única, resultante do facto de confluírem ali os rios Lugenda e Rovuma.
Está-se num ponto em que, estando do lado moçambicano, província de Cabo Delgado, distrito de Mueda, temos na margem esquerda do rio Lugendaz, a província do Niassa, através do distrito de Mecula e à nossa frente o rio Rovuma, fazendo-nos ver a Tanzânia.
Administrativamente, Negomano, o ponto aonde de Novembro do próximo ano em diante, cidadãos de todo o mundo vão cruzar a fronteira para ligarem Moçambique e a Tanzânia, é um posto cuja história passa por se ter registo de uma batalha durante a segunda guerra mundial.
Recordando esse acontecimento, na vila de Mueda, frente à administração colonial, está escrito num pequeno monumento “a Pátria reconhecida que por si honrosamente morreram no combate de Negomano, em 17 de Novembro de 1917”, palavras repetidas numa sala de aulas, já na sede do posto administrativo.
É, por outro lado, um dos mais carenciados postos administrativos de Cabo Delgado. Isolado, propenso à seca, muitas vezes incomunicável e cheio de curiosidades. A maioria dos seus habitantes é constituída por homens, ao contrário do que é comum neste país. São 340 homens e 327 mulheres. Mesmo assim, de acordo com Rosema Jairosse, entrevistada no dia 8 de Agosto corrente, há homens polígamos.
“Aqui temos homens polígamos, mesmo sendo eles a maioria. Outros têm três mulheres aqui e outras na outra margem, na Tanzânia, uma espécie de poligamia transfronteiriça. E a nossa vida é esta, fazer filhos, beber nipa (bebida destilada com métodos tradicionais).
Por outro lado, há muitas dificuldades de localizar quem se possa expressar com alguma fluência na língua portuguesa em Negomano, mas parece ser a única região do país onde se fala nada mais, nada menos que sete línguas: matambwe, Ngoni, Yao, Macua, Maconde, Suahili, português e inglês.
Negomano é, por outro lado habitado por pouca gente. Antes do actual censo populacional, os números apontavam para cerca de 3.500 habitantes, vivendo nas diferentes aldeias, entre as quais há as que se localizam a mais de 70 quilómetros da sede, como Chicumba, Nampunda, Nacaca, Chitande e Tuandembo, que até na última semana do censo populacional e de habitação, não haviam sido atingidas pelos brigadistas.
Peter Larsen, Engenheiro-residente e representante do empreiteiro, a viver em Mtambwa, Tanzânia, onde o nosso jornal esteve recentemente, diz que nada impede que os prazos estabelecidos sejam rigorosamente cumpridos, concluindo os 720 metros de ponte em caixão pré-reforçado, com 18 vãos de zero metro e a conclusão dos 17 pilares e dois encontros previstos no empreendimento.
É uma obra que promete trazer-nos uma ponte com uma largura total de 13,5 metros, duas faixas de rodagem de 3,25 metros e dois passeios de 1,5 metro cada, num local cuja paisagem empresta uma beleza única, resultante do facto de confluírem ali os rios Lugenda e Rovuma.
Está-se num ponto em que, estando do lado moçambicano, província de Cabo Delgado, distrito de Mueda, temos na margem esquerda do rio Lugendaz, a província do Niassa, através do distrito de Mecula e à nossa frente o rio Rovuma, fazendo-nos ver a Tanzânia.
Administrativamente, Negomano, o ponto aonde de Novembro do próximo ano em diante, cidadãos de todo o mundo vão cruzar a fronteira para ligarem Moçambique e a Tanzânia, é um posto cuja história passa por se ter registo de uma batalha durante a segunda guerra mundial.
Recordando esse acontecimento, na vila de Mueda, frente à administração colonial, está escrito num pequeno monumento “a Pátria reconhecida que por si honrosamente morreram no combate de Negomano, em 17 de Novembro de 1917”, palavras repetidas numa sala de aulas, já na sede do posto administrativo.
É, por outro lado, um dos mais carenciados postos administrativos de Cabo Delgado. Isolado, propenso à seca, muitas vezes incomunicável e cheio de curiosidades. A maioria dos seus habitantes é constituída por homens, ao contrário do que é comum neste país. São 340 homens e 327 mulheres. Mesmo assim, de acordo com Rosema Jairosse, entrevistada no dia 8 de Agosto corrente, há homens polígamos.
“Aqui temos homens polígamos, mesmo sendo eles a maioria. Outros têm três mulheres aqui e outras na outra margem, na Tanzânia, uma espécie de poligamia transfronteiriça. E a nossa vida é esta, fazer filhos, beber nipa (bebida destilada com métodos tradicionais).
Por outro lado, há muitas dificuldades de localizar quem se possa expressar com alguma fluência na língua portuguesa em Negomano, mas parece ser a única região do país onde se fala nada mais, nada menos que sete línguas: matambwe, Ngoni, Yao, Macua, Maconde, Suahili, português e inglês.
Negomano é, por outro lado habitado por pouca gente. Antes do actual censo populacional, os números apontavam para cerca de 3.500 habitantes, vivendo nas diferentes aldeias, entre as quais há as que se localizam a mais de 70 quilómetros da sede, como Chicumba, Nampunda, Nacaca, Chitande e Tuandembo, que até na última semana do censo populacional e de habitação, não haviam sido atingidas pelos brigadistas.
DESCOORDENAÇÃO
De acordo com Magnus Marcos, supervisor, esperava-se que o distrito enviasse uma viatura para que eles se deslocassem àquelas aldeias. Mas os dados presentes, relativos à sede de Negomano e aldeias vizinhas de Mitumbate e Ntahane, contradizem os do levantamento feito pelo Ministério das Obras Públicas. Foram recenseadas apenas 460 pessoas, número abaixo dos 667 habitantes que os técnicos daquele ministério encontraram.
Uma vida rotineira, conforme alguns jovens, que só poderá vir a mudar, provavelmente, por causa da ponte sobre o rio Rovuma. Uma actividade dividida entre a pesca nos dois rios disponíveis a metros, Rovuma e Lugenda e consumo de bebidas alcoólicas.
Numa povoação em que o número de casas não ascende as 125, havia aquando da nossa presença quatro a fabricar “nipa” com os consumidores à espreita e outras seis casas vendiam outros tipos de bebidas alcoólicas em pequenas barracas, na companhia de outros produtos de consumo.
Durante mais de três horas, o nosso jornal não conseguiu localizar o enfermeiro nem servente do posto de saúde local. A porta do hospital estava escancarada, deixando ver muitos medicamentos, incluindo soros, mas o estabelecimento não tinha ninguém, nem enfermeiro, nem doentes.
Negomano continua sem se mexer no sentido de que em breve vai ser um lugar de passagem e espelho do nosso País para todos os estrangeiros que por ali quiserem transitar. A escola é ainda aquele antigo refeitório da tropa colonial, feito de zinco e lá no interior alguém escreveu com letras garrafais: este edifício não apresenta imagem duma escola.
Informações que obtivemos do lado da Tanzânia referem que na região de Mtambaswala vão ser erguidas em breve infra-estruturas sociais e existe um plano-director elaborado pelo Ministério de Terras, tendo sido, inclusive contratado um consultor para a construção da estrada de 70 quilómetros, até Songueia, 40 dos quais totalmente de floresta fechada.
Do lado moçambicano, começou-se recentemente a falar da possível ocupação da vila pacata de Negomano, com os olhos na real necessidade que os diferentes organismos vão ter a partir de 2008. Os representantes das diferentes instituições reuniram-se em Pemba e juntos foram visitar Negomano e a outra margem do Rovuma, na Tanzânia.
Na verdade, chegou-se a uma conclusão de que houve até aqui uma gritante descoordenação das entidades governamentais, a partir do pressuposto de que, afinal, o comité técnico da ponte sobre o rio Rovuma se encontra sediado na capital do país e não dispõe de nenhuma representação na província de Cabo Delgado.
Guilhermina Amurane, directora provincial do Ambiente, chegou a considerar-se intrusa no encontro em que se tratou das questões integradas com relação à ponte do Rovuma. Na sua opinião, nada vinha claro sobre o envolvimento do seu ministério a níveis central e local, muito menos sobre as responsabilidades a si acometidas.
Aliás, Felício Fernando, director nacional adjunto da Avaliação do Impacto Ambiental no mesmo ministério, disse não ter sabido se no projecto de construção da ponte terão sido acauteladas as questões ambientais. O mesmo se constatou a nível de outros sectores como de Energia, das Telecomunicações, Migração e Alfândegas, etc..
Joaquim Nido, director da Ordem e Segurança no Comando provincial da PRM em Cabo Delgado disse que a sua corporação nem sequer havia sido alertada para a necessidade de poder começar a pensar o que fazer na fronteira de Negomano.
O LADO MAIS LENTO
Uma vida rotineira, conforme alguns jovens, que só poderá vir a mudar, provavelmente, por causa da ponte sobre o rio Rovuma. Uma actividade dividida entre a pesca nos dois rios disponíveis a metros, Rovuma e Lugenda e consumo de bebidas alcoólicas.
Numa povoação em que o número de casas não ascende as 125, havia aquando da nossa presença quatro a fabricar “nipa” com os consumidores à espreita e outras seis casas vendiam outros tipos de bebidas alcoólicas em pequenas barracas, na companhia de outros produtos de consumo.
Durante mais de três horas, o nosso jornal não conseguiu localizar o enfermeiro nem servente do posto de saúde local. A porta do hospital estava escancarada, deixando ver muitos medicamentos, incluindo soros, mas o estabelecimento não tinha ninguém, nem enfermeiro, nem doentes.
Negomano continua sem se mexer no sentido de que em breve vai ser um lugar de passagem e espelho do nosso País para todos os estrangeiros que por ali quiserem transitar. A escola é ainda aquele antigo refeitório da tropa colonial, feito de zinco e lá no interior alguém escreveu com letras garrafais: este edifício não apresenta imagem duma escola.
Informações que obtivemos do lado da Tanzânia referem que na região de Mtambaswala vão ser erguidas em breve infra-estruturas sociais e existe um plano-director elaborado pelo Ministério de Terras, tendo sido, inclusive contratado um consultor para a construção da estrada de 70 quilómetros, até Songueia, 40 dos quais totalmente de floresta fechada.
Do lado moçambicano, começou-se recentemente a falar da possível ocupação da vila pacata de Negomano, com os olhos na real necessidade que os diferentes organismos vão ter a partir de 2008. Os representantes das diferentes instituições reuniram-se em Pemba e juntos foram visitar Negomano e a outra margem do Rovuma, na Tanzânia.
Na verdade, chegou-se a uma conclusão de que houve até aqui uma gritante descoordenação das entidades governamentais, a partir do pressuposto de que, afinal, o comité técnico da ponte sobre o rio Rovuma se encontra sediado na capital do país e não dispõe de nenhuma representação na província de Cabo Delgado.
Guilhermina Amurane, directora provincial do Ambiente, chegou a considerar-se intrusa no encontro em que se tratou das questões integradas com relação à ponte do Rovuma. Na sua opinião, nada vinha claro sobre o envolvimento do seu ministério a níveis central e local, muito menos sobre as responsabilidades a si acometidas.
Aliás, Felício Fernando, director nacional adjunto da Avaliação do Impacto Ambiental no mesmo ministério, disse não ter sabido se no projecto de construção da ponte terão sido acauteladas as questões ambientais. O mesmo se constatou a nível de outros sectores como de Energia, das Telecomunicações, Migração e Alfândegas, etc..
Joaquim Nido, director da Ordem e Segurança no Comando provincial da PRM em Cabo Delgado disse que a sua corporação nem sequer havia sido alertada para a necessidade de poder começar a pensar o que fazer na fronteira de Negomano.
O LADO MAIS LENTO
Já no local, a parte moçambicana concluiu ser necessário que as instituições, principalmente aquelas ligadas à soberania nacional, façam os seus planos para muito rapidamente começarem com a sua implantação em Negomano.
Do lado tanzaniano o acampamento/escritórios do engenheiro residente está concluído em 98 porcento e do nosso lado em 40 porcento. A Tanzânia emprega 200 seus concidadãos no empreendimento e o nosso país, 65, exactamente porque é do nosso lado onde o processo se mostra relativamente mais atrasado.
Mesmo assim vai se colocar um outro problema: não estava previsto nenhum orçamento para o efeito, nem está claro se tal caberá à província ou às estruturas centrais. Mas, Ana Dimande, directora nacional no Ministério de Planificação e Desenvolvimento, avisou que o tempo limite para incorporar nos orçamentos termina daqui a uma semana.
Da mesma forma ainda não está claro em relação à proveniência dos fundos com que vai ser construída ou reabilitada a estrada Negomano/Mueda, 174 quilómetros sem a qual a ponte não terá o sentido real da sua existência.
Atanásio Mugunhe, chefe do gabinete técnico da ponte do Rovuma, do lado moçambicano, disse que ainda se está à procura de financiamento, não tendo inclusive o valor real necessário para a construção da estrada.
Entretanto, o “Notícias” soube que uma primeira estimativa apontava para um valor na ordem dos 55 milhões de dólares e a ideia prevalecente é enveredar por um novo alinhamento da estrada.
Do lado tanzaniano o acampamento/escritórios do engenheiro residente está concluído em 98 porcento e do nosso lado em 40 porcento. A Tanzânia emprega 200 seus concidadãos no empreendimento e o nosso país, 65, exactamente porque é do nosso lado onde o processo se mostra relativamente mais atrasado.
Mesmo assim vai se colocar um outro problema: não estava previsto nenhum orçamento para o efeito, nem está claro se tal caberá à província ou às estruturas centrais. Mas, Ana Dimande, directora nacional no Ministério de Planificação e Desenvolvimento, avisou que o tempo limite para incorporar nos orçamentos termina daqui a uma semana.
Da mesma forma ainda não está claro em relação à proveniência dos fundos com que vai ser construída ou reabilitada a estrada Negomano/Mueda, 174 quilómetros sem a qual a ponte não terá o sentido real da sua existência.
Atanásio Mugunhe, chefe do gabinete técnico da ponte do Rovuma, do lado moçambicano, disse que ainda se está à procura de financiamento, não tendo inclusive o valor real necessário para a construção da estrada.
Entretanto, o “Notícias” soube que uma primeira estimativa apontava para um valor na ordem dos 55 milhões de dólares e a ideia prevalecente é enveredar por um novo alinhamento da estrada.
Pedro Nacuo - Maputo, Quinta-Feira, 30 de Agosto de 2007:: Notícias