9/01/07

Notícias de Negomano...

Particularidades de Negomano
Para além de se tratar dos mais carenciados postos administrativos de Cabo Delgado e punido pela intransitabilidade da sua única via de acesso durante a maior parte do ano, Negomano deve ser dos menos habitados por homens.
A sua sede não tem mais que 460 habitantes, segundo uns dados, e 667 conforme outros.
Tendo fé nesta última cifra é curioso que, ao contrário do que tem sido quase automático, nos outros pontos do país, em Negomano há mais homens que mulheres.
São 327 mulheres contra 340 homens. Mesmo assim, há polígamos, outros ainda que têm outras mulheres do outro lado da fronteira, em Ntambaswala, Tanzânia.
Há muito que se discute se Negomano podia merecer o estatuto de posto administrativo em função do número dos seus habitantes. Em 1997, eram apenas 3500 em toda a área do posto administrativo de Negomano e hoje, 10 anos depois, ainda não sabemos quantos é que são.
Mesmo para colocação de um posto de saúde, houve que desprezar alguns passos normais da saúde então vigentes, como o facto de não ter 10 mil habitantes para isso merecer.
Na sede de Negomano, as casas para habitação não passam de 125, quatro destas fabricam todos os dias uma bebida tradicional, vulgo “nipa”, seis vendem outros tipos de bebida das destilarias semi-industriais e seis barracas estão por concluir, para engrossarem o número das casas que vendem “grossa”.
Em Negomano fala-se sete/oito línguas: matangwe, ngoni, yau, macua, maconde, swahili e português/inglês.
Mas nas línguas que vêm normalmente da escola quase que só com meia dúzia de pessoas se pode falar: professores, o enfermeiro e o pessoal da migração.
O centro de saúde, pelo menos no dia 8 do mês de Agosto ontem terminado, estava com as portas escancaradas, com os medicamentos à vista, incluindo caixas de soro.
Nem enfermeiro, nem doente, nem ladrões.
Espera-se, entretanto, que Negomano seja povoado nos próximos meses. É que por ironia do destino, éprecisamente aqui onde está em construção a ponte sobre o Rio Rovuma, certamente trará muita gente e, se calhar, os outros da margem esquerda virão preencher os espaços ainda virgens.
Pedro Nacuo - Maputo, Sábado, 1 de Setembro de 2007:: Notícias

8/30/07

Renovação das fontes de energia - Biocombustíveis.

Estão na moda.
Muito se fala, confabula em todos os níveis intelectuais e até nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Apontam-se com imensos benefícios e poucas contra-indicações.
Apresentam-se como a salvação do planeta, milagreiros na geração de empregos, incentivadores do mundo industrial, preponderantes na gestão do aquecimento global.
Eufóricos, governantes viram arautos entusiasmados destas novas fontes de energia.
Justificam até a volta da energia nuclear e passam por cima do terrível acidente de Chernobil ocorrido dia 26 de abril de 1986 na Ucrânia.
Moçambique não foge a este emergente e entusiasmado fenómeno globalizado.
Entretanto, não esqueçamos por favor os aspectos ecológicos consequentes, ressaltados por ambientalistas conscientes.
Consciência é o mínimo que se exige.
Nossos filhos e netos agradecem, pois é este o único planeta que lhes deixaremos.
Jaime
================
Transcrevo:
Biocombustíveis são boa alternativa, mas têm desvantagens. São considerados substituto ideal do petróleo, seja nos aspectos econômico, ambiental e de política energética. Ambientalistas advertem, no entanto, para aspectos ecológicos destas alternativas.
Os combustíveis de biomassa estão na moda e o mercado vive um verdadeiro boom. Desde 1º de janeiro deste ano, por exemplo, eles estão sendo misturados aos combustíveis convencionais nos postos de gasolina da Alemanha. Dos atuais 5%, a cota de biocombustível misturado ao combustível convencional aumentará para 8% em 2015.
Na América Latina, Ásia, Austrália e Europa, cultivam-se especialmente para este fim cada vez mais plantas ricas em energia, como a cana-de-açúcar, milho, trigo e colza. Também os Estados Unidos pretendem reduzir a dependência do petróleo e de gás do exterior, usando biocombustíveis. Além do aspecto econômico, acredita-se que tragam mais benefícios ao meio ambiente. Isto, no entanto, é controverso.
Imke Lübbeke, especialista em energia do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), adverte que matérias-primas renováveis não necessariamente trazem vantagens ecológicas.
Pulmão verde x biomassa?
A queima dos biocombustíveis libera menos dióxido de carbono (CO²) do que a queima de combustíveis fósseis. Isso foi confirmado num balanço feito pelo Instituto de Pesquisas de Energia e Meio Ambiente (IFEU) de Heidelberg.
Mesmo assim, o WWF, a Associação de Proteção da Natureza e organizações ambientalistas da América Latina advertem para os perigos da rápida expansão do cultivo de biomassa. No Brasil, Indonésia e Malásia as florestas estão sendo derrubadas para ceder espaço a novas áreas de cultivo.
As queimadas empregadas para derrubar as matas causam exorbitantes emissões de gás carbônico, o que só aumenta o efeito estufa. Além disso, um canavial, por exemplo, não consegue armazenar tanto CO² quanto a floresta tropical que foi derrubada para lhe ceder lugar.
Produção ecológica?
Imke Lübbeke acha bom que a União Européia pretenda aumentar seus incentivos para a produção de biocombustível. "Só temos de tomar cuidado para que esta produção também seja positiva para o meio ambiente. De nada adianta sacrificar áreas naturais importantes ou ameaçar a proteção do solo e da água com o cultivo de colza ou beterrabas de açúcar", diz Lübbeke.
Os ambientalistas advertem que o cultivo em larga escala pode levar à extinção de muitas espécies de plantas porque esta forma de plantio altera as propriedades do solo. Por outro lado, o WWF e o instituto de Heidelberg concordam que o uso de biomassa para produzir energia e calor seria positivo para o meio ambiente, pois ainda existem muitas usinas de carvão especialmente poluentes.
"A questão é sempre questionar que tipos de energia podem ser substituídos pela bioenergia. E neste caso é melhor substituir o que produz mais gás carbônico", explica Nils Rettenmaier, do IFEU.
Por Vera Möller-Holtkamp (rw) - DW-Worl.DE Deutsche Welle