Maputo, 14 Set (Lusa) - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu nesta sexta-feira em Maputo, capital de Moçambique, "políticas arrojadas" para conter a inflação, citando o sucesso do Brasil neste campo, mas reconheceu a "fragilidade" de alguns Estados face às exigências do Fundo Monetário Internacional. Numa palestra proferida nesta sexta na Universidade Politécnica em Maputo sobre a sua experiência, durante o período em que foi ministro da Fazenda, FHC apontou as diversas estratégias adotadas para impedir a hiperinflação e que culminaram com a mudança da moeda brasileira. O ex-ministro brasileiro da Fazenda apontou como exemplo do seu sucesso a mobilização dos parlamentares e a adoção de políticas de previdência social e administração pública, além da democratização do acesso às políticas sociais.Às vezes, "tinha que ser muito duro com os deputados, que têm uma linguagem muito dura. Um dia no Parlamento perguntaram-me sobre a negociata que estávamos fazendo com o Fundo Monetário Internacional" (FMI), lembrou. "O Brasil teve que tomar medidas duras para o controle do déficit público", mesmo diante de algumas reclamações do FMI, disse. Apesar de reconhecer a incapacidade de certos países para fazer frente ao FMI, FHC sugeriu a implementação de "políticas arrojadas" nestes Estado, visando inverter algumas situações de dependência àquela instituição financeira mundial. No seu mandato, antes de assumir a presidência brasileira, em 1994, FHC primou pela mobilização de uma maioria parlamentar e conquista da opinião pública a favor do seu plano de estabilização, o Plano Real. "Enquanto havia recomendações [dos assessores] para não falar com jornalistas [por exemplo] quando entrasse na minha sala, eu fazia o contrário", disse numa alusão a sua estratégia para angariar simpatia da população, já "cansada da inflação". As medidas de controle do déficit público foram acompanhadas da reforma monetária, que se completou com a entrada em circulação de uma nova moeda, o Real, em julho de 1994. Apesar das várias crises externas que tiveram um forte impacto na economia brasileira, as estratégias seguidas pelo sociólogo resultaram na redução da inflação na casa de um dígito por cento anual, que continua até hoje. Conseqüentemente, as reformas abriram caminho para a modernização da infra-estrutura econômica, com a abertura para investimentos privados nas áreas de telecomunicações, energia elétrica, petróleo, transportes e mineração, apesar de uma forte oposição no Congresso Nacional do Brasil. As mudanças escolhidas por FHC refletiram-se igualmente no maior acesso ao ensino básico, bem como na generalização do atendimento básico de saúde e da previdência social e os benefícios gozados por pequenos agricultores, que tiveram acesso amplo à terra e ao crédito.
Agência Lusa - 14/09/07