9/25/07

Literatura - O Senhores da Floresta.

O livro "Os Senhores da Floresta", da autoria do Prof. Eduardo Medeiros, docente do Departamento de Sociologia da Universidade de Évora e membro do Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da UE, acaba de ser publicado pela "Campo das Letras". Esta obra constitui uma referência fundamental para a compreensão da temática dos ritos de iniciação das populações macua e lómué do norte de Moçambique. Sobre esta obra, leia o texto do Prof. Francisco Martins Ramos, Antropólogo e docente da UE.
A obra que acaba de ser publicada pela "Campo das Letras" é uma referência fundamental para a compreensão da temática dos ritos de iniciação das populações macua e lómué do norte de Moçambique. Para além disso, devo realçar o facto de o Professor Eduardo da Conceição Medeiros ter colectado, analisado, sistematizado e explicado informação que corria o risco de se perder na voragem oportunista dos novos tempos, que primaram por branquear a história, a cultura e a memória de tradições moçambicanas ancestrais. A tese de doutoramento de Eduardo Medeiros, construída religiosamente ao longo de vários anos de trabalho de campo antropológico, é um documento etnográfico de valor incalculável para o entendimento das sociedades em estudo, num período crucial da vida moçambicana na sua dolorosa transição colonial para um estado soberano. O autor teve o bom senso, a capacidade intelectual e o sentido ético de doar ao Arquivo Histórico Moçambicano um acervo documental único, para benefício de outros investigadores, para salvaguarda da memória colectiva e para enriquecimento do património nacional. Tal atitude contrasta com oportunismos conjunturais baseados em inconfessáveis interesses pessoais que penalizam a comunidade e o bem comum. "Os Senhores da Floresta" sistematiza-se em cinco partes, constituídas por vários capítulos, que nos ajudam de maneira estruturada a seguir o pensamento do autor e o modo como aborda a problemática dos ritos de iniciação masculinos macua-lómué, em sociedades marcadas pelo seu perfil matrilinear. Apesar das vicissitudes porque passou o processo dos ritos de iniciação (tempo colonial, período de luta pela independência, guerra civil, período revolucionário da soberania e a fase última de consolidação da paz), Eduardo Medeiros apresenta uma análise diacrónica da forma e da substância dos "ritos de passagem" dos adolescentes, enfatizando o significado dos cerimoniais: "A iniciação constituía, antes de mais, um ensinamento progressivo destinado a familiarizar a pessoa com as significações do seu próprio corpo chegado à maturidade e com o significado que ela deveria dar ao universo que a envolvia". Esta investigação, apesar de se ter prolongado ao longo dos anos, foi uma verdadeira "pesquisa de urgência", designação atribuída a trabalhos antropológicos que abordam temas, situações, práticas e comportamentos em processo de mudança galopante ou em vias de extinção. O crédito desta salvaguarda vai todo para Eduardo Medeiros. Portugal, potência colonial, não aproveitou a possibilidade de alargar e aprofundar outros estudos antropológicos em Moçambique, quando apenas nos vem à ideia a investigação de Jorge Dias sobre os Macondes. Sem desprimor para muitos padres, administradores, missionários e militares anónimos que realizaram recolhas etnográficas de valor. Assim, "Os Senhores da Floresta" é um texto de leitura obrigatória e de reflexão permanente para todos aqueles que se interessam pela cultura moçambicana.
Francisco Martins Ramos Antropólogo - Universidade de Évora OnLine

Cabo Delgado potencia desenvolvimento local.

A província de Cabo Delgado tenciona criar dentro dos próximos tempos uma Agência de Desenvolvimento Local (ADEL), com a principal missão de potenciar as comunidades e outros agentes de desenvolvimento económico local para promover a produção e auto-emprego. Para o efeito, realizou-se há dias, naquela província um encontro que pretendia entre outras questões, estabelecer uma visão comum sobre o que é o desenvolvimento económico local, propiciar a reflexão e o debate a nível da província e delinear as linhas de acção que conduzam à constituição da referida Agência de Desenvolvimento de Cabo Delgado.
Para além de representantes do Governo, o encontro também contou com a participação de representantes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), um dos principais parceiros do Governo de Cabo Delgado, representantes de outras organizações não-governamentais, entre outros membros da sociedade civil.
Com o estabelecimento do ADEL pretende-se, segundo os promotores, contribuir para o desenvolvimento socioeconómico sustentável da província, com base no processo participativo das comunidades e outros agentes de desenvolvimento local.
O governador de Cabo Delgado, Lázaro Mathe recordou durante o encontro, que o Governo de Moçambique definiu o distrito como pólo de desenvolvimento socioeconómico e base de planificação a partir do qual devem ser concentrados todos os esforços com vista ao combate à pobreza rumo ao desenvolvimento económico e social sustentável.
É com base neste desiderato que o Governo provincial tem vindo a criar instrumentos para a implementação da sua agenda como é o caso do Plano de Acção de Combate à Pobreza, Fome e do Programa de Capacitação Distrital (PROCADIS).
“Queremos aqui, destacar o funcionamento dos Conselhos Consultivos Locais como fóruns privilegiados de consulta participativa, inclusiva, descentralizada e democrática”, frisou Lázaro Mathe.
É que segundo ele, a abordagem do desenvolvimento local constitui uma ferramenta para promover o uso apropriado dos recursos locais do território, formando-se assim as iniciativas produtivas que obedeçam e privilegiam a interligação em cadeia, a coordenação inter-institucional entre o Governo e outros actores e agentes de desenvolvimento, nomeadamente, o sector privado e a sociedade civil e o empreendedorismo a nível local.
Para o governador de Cabo Delgado, o desenvolvimento económico local é um desafio que se coloca a todos intervenientes, nomeadamente a sociedade civil, o Governo, o sector privado, bem como a população em geral da província, a tomarem um papel activo e concertado para o aumento da produção e produtividade, criação de emprego e geração da riqueza pelos agregados familiares.
Durante o encontro, também foram apresentadas experiências das províncias de Nampula e Manica onde as Agências de Desenvolvimento Local já vêm sendo implementadas com algum sucesso.
Maputo, Terça-Feira, 25 de Setembro de 2007:: Notícias