9/27/07

Angola e Bissau são lusófonos vistos como mais corruptos.

Lisboa, 26 Set - Angola e a Guiné-Bissau estão empatados em 149º lugar entre os países com pior colocação no índice global de corrupção, na lista com 179 países e territórios divulgada nesta quarta-feira pela ONG Transparency International, posição que coloca as duas nações africanas como as piores de língua portuguesa.
A organização não-governamental explica que o ranking estima o grau de corrupção do setor público percebido por empresariado e analistas dos respectivos países, que responderam um questionário que resultou na pontuação final.
Portugal, na 28ª colocação, é o menos corrupto entre os lusófonos, seguido de Macau e Cabo Verde.
O Brasil, em 72º, vem em seguida, empatado com a China.
Ex-colônia portuguesa, Macau, região especial chinesa, ficou com a 34ª posição, mas é citado entre os países que registraram um "agravamento dos níveis percebidos de corrupção", em relação ao ano anterior.
Cabo Verde conseguiu um honroso 49º lugar na lista, o que o coloca como o segundo melhor africano - o melhor é Botsuana, em 38º. O arquipélago de língua portuguesa tem índices parecidos com países da União Européia, como Eslováquia, Letônia e Lituânia e fica mais de dez posições à frente da Polônia, que está em 61º.
Os demais lusófonos africanos aparecem depois bem abaixo na lista.
Moçambique ficou com a 111ª posição, seguido por São Tomé e Príncipe, na 118ª posição.
Nessa faixa, estão países como Maláui, Ucrânia, Guatemala e Uganda.
Líderes
Entre os dez países percebidos como menos corruptos encontram-se, por ordem decrescente, Cingapura, Suécia, Islândia, Holanda, Suíça, Canadá e Noruega.
Os Estados Unidos aparecem na 20ª posição, enquanto o Iraque é o terceiro pior (177º).
O Afeganistão está um pouco melhor, na 142ª posição do ranking, com 1,8, e o Irã aparece no 131º.
Entre as entidades que contribuem para o estudo estão os bancos de desenvolvimento asiático e africano, a Fundação Bertelsmann, o Banco Mundial, Economist Intelligence Unit, Freedom House, Comissão Econômica das Nações Unidas para África e Fórum Econômico Mundial.
De acordo com a Transparency International, Somália e Mianmar são os países com maiores problemas de corrupção percebidos.
Os resultados deste ano, diz a ONG, demonstram que "o desnível entre os níveis percebidos de corrupção entre países ricos e pobres permanece tão grande como sempre". "Apesar de alguns ganhos, a corrupção continua a desviar recursos muito necessários à educação, saúde e infra-estruturas.
Os países com pontuações mais baixas precisam levar os resultados a sério e tomar medidas para fortalecer a imagem das instituições públicas", afirma Huguette Labelle, diretora da Transparency International.
26-09-2007 17:27:47 - Lusa

Diversificando - Ditadores & Opressores...MYANMAR

Birmânia, a voz de um povo silenciado
No budismo Theravada da Birmânia, os monges não podem sequer recusar serviços religiosos a violadores ou a assassinos, mas quando os recusaram aos membros da Junta Militar no poder, tornou-se claro que o descontentamento era mais profundo que nunca, noticia a Lusa.
Bastou essa simples recusa, totalmente pacífica e simbólica, para que os birmaneses percebessem que a única fonte de poder existente no país para além da Junta Militar estava prestes a desafiar a sinistra ditadura militar que governa a Birmânia (ou Myanmar).
Há muito a dividir o budismo de tradição Theravada dos monges da Birmânia - que enfatiza o caminhar religioso do indivíduo em direcção à redenção (nirvana) através da renúncia das coisas - do budismo Mahayana - de carácter menos individual, cujo líder é o Dalai Lama no Tibete -, mas uma coisa as duas escolas têm em comum: uma profunda legitimidade social que lhes permite atingir objectivos políticos de forma totalmente pacífica.
Sociedades como a birmanesa, em que 90 por cento dos cerca de 47 milhões de habitantes são budistas Theravada, acreditam que a vida na terra é apenas um estágio antes de várias reencarnações até atingirem o nirvana.
Os únicos guias neste caminho são os monges e daí a sua legitimidade moral.
A questão agora é qual a dinâmica que fez os monges manifestarem-se nesta altura, com tanto vigor, para além da razão imediata quando soldados dispararam tiros de aviso sobre um grupo de monges que se tinham juntado a uma manifestação contra o enorme aumento dos preços dos combustíveis, na cidade central de Pakokku, a 05 de Setembro.
Um mosteiro retaliou fazendo reféns 20 funcionários governamentais numa espiral de tensão até aos ataques de hoje das forças de segurança a milhares de monges que se manifestavam pacificamente no centro de Rangum, a maior cidade da Birmânia.
Na semana passada, a Aliança de Todos os Monges Budistas Birmaneses divulgou um comunicado em que declarava a Junta Militar, liderada pelo general Than Shwe, como «o inimigo do povo».
Os analistas dizem no entanto que a revolta dos monges é tanto contra o governo como contra a ordem interna da Sangha, a comunidade, para os budistas, dos monges e freiras ordenados.
«Não é um conflito novo, sempre existiu na história do budismo birmanês», explica Aung Zaw, editor do The Irrawaddy, publicação independente, cujos jornalistas birmaneses cobrem o país a partir do norte da Tailândia.
«O que existe é um conflito entre os monges mais novos e os superiores.
Os monges superiores são vistos como corruptos e comprados pelo poder da Junta Militar», acrescenta o analista.
Como deve ser numa sociedade budista devota, crente na reencarnação e sem uma divisão estanque entre a vida terrena e a vida após a morte, monges e povo dependem uns dos outros.
Os monges vivem das esmolas do povo, que, acreditam os birmaneses, são a forma de ganhar méritos, as boas acções que permitem estar mais perto do nirvana na próxima vida.
26/09/07 22:41 Rui Boavida, da Agência Lusa