8/23/08

Ronda pela net: Um pouco de prosa virtual - Mais uma cibervoz que se calou (?)...

Mais uma cibervoz que se calou (?).
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- Ah! O jardim de Luxembourg! Gostaria de lá voltar. Lembro-me que um dia fomos lá passear todos e fiz um filme com a minha família, Liliane e as crianças. Também estavas tu com a tua família e a nossa mãe. Não tenho esse filme. Se o tens manda-mo.
Passados quase trinta anos, François teve um súbito desejo de rever a sua primeira família - a ex-mulher, Liliane, e os dois filhos adoptivos que tinham doze e dezasseis anos quando ele saira de casa para ir viver plenamente o enlevo de dez anos de um amor secreto, enfeitiçado que ficou pelos encantos da sua empregada Maria, emigrante portuguesa, com quem teve depois uma filha, a Carô. Passados vinte anos, Maria escolheu viver de outro modo e Carô fizera o seu percurso e fora morar fora do país.
François sentia-se vazio e sozinho num país estranho. Não tinha amigos que frequentassem a sua casa, apenas tinha os do ginásio e alguns conterrâneos seus, que habitavam em Portugal, com quem tomava café ou jantava, às vezes. Via a idade avançar pelos setenta adentro e a saúde já dera avisos. Sabia que ninguém o poderia ajudar de uma forma continuada. Começou a apoderar-se dele o medo, talvez pânico, de morrer só.
Na Net tinha várias amigas virtuais. Mas sabia que não poderia contar com elas. Só serviam para passar tempo de conversa, na troca de e-mails ou alguns telefonemas. François nunca mais soube da sua ex-mulher nem dos filhos adoptivos, a Chris e o Tob. Queria agora rever esse passado. Pediu-o ao irmão mas este facultou-lhe o endereço electrónico de Liliane.
Reataram o discurso e talvez o amor antigo. A filha adoptiva Chris, agora com 42 anos, falou com o pai com tal entusiasmo e desejo de o ter consigo que ele não hesitou em aceitar a sua proposta - ir viver com ela em Paris e os seus dois filhos adolescentes e muito perto vivia também Liliane.
Meteu meia dúzia de peças de vestuário numa mochila e seguiu viagem. Tal como fizera da primeira vez deixou todos os bens materiais e uma carta, para ser entregue a Maria, a explicar a suas decisões.
Escreveu-me duas vezes um e-mail, emocionado e feliz porque reencontrara a sua verdadeira família. Outras duas falei com ele no Messenger, estava felicíssimo por estar na sua verdadeira família donde não deveria ter saído nunca.
Fiquei contente de o ver feliz e acompanhado nesta última fase da sua vida. Já lá vão seis meses sem notícias. Será que foi operado às cataratas e tem que repousar os olhos? Ou foi a Doença Obstrutiva Crónica que o vitimou?
Nunca saberei porque a Net não fala de pessoas comuns.
- Por Joviana Benedito, Profª. aposentada do Ensino Sec. e autora.

Ainda acontece em África - As esposas do rei viajaram para o exterior para comprar roupas...

Mulheres protestam na Suazilândia contra extravagância da realeza.
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Centenas de mulheres na Suazilândia realizaram uma passeata pelas ruas da capital, Mbabane, para protestar contra os gastos com uma viagem ao exterior para compras feita por nove das 13 esposas do rei Mswati 3º.
Elas alugaram um avião na semana passada para ir à Europa e ao Oriente Médio.
Os manifestantes entregaram uma petição ao Ministério das Finanças dizendo que o dinheiro poderia ter sido gasto de uma forma mais proveitosa. "Nós não podemos nos dar ao luxo de uma viagem de compras quando um quarto da nação vive com ajuda alimentar internacional", gritaram as mulheres.
"Nós precisamos deste dinheiro para ARVs (medicamentos antiretrovirais)."
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Aids.
A Suazilândia, a última monarquia absolutista da África, é um dos países mais pobres do mundo e, estima-se, mais de 40% da população estaria infectada com o vírus HIV, que causa a Aids.
A passeata foi organizada pela ONG Positive Living (Vivendo Positivo), para mulheres com Aids.
Participaram dela mulheres de todas as faixas sociais, de profissionais liberais a representantes do setor agrícola.
O rei da Suazilândia, que tem 40 anos, foi criticado no passado por requisitar dinheiro público para pagar por novos palácios, um avião pessoal e carros de luxo.
A notícia da viagem de suas esposas apareceu na imprensa local um dia depois que elas deixaram o país.
Em meados desta semana, príncipes advertiram as mulheres para não realizar o protesto, dizendo que ele desafia a tradição do país.
- BBCBrasil.com, 22/08/2008.