8/27/08

Jóia da Coroa de Moçambique: Parque Nacional da Gorongosa

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Li no Bar da Tininha-MSN de hà pouco, afirmado pelo luso de nascimento e moçambicano de coração Celestino Gonçalves (Marrabenta), "arca" valiosa, vasta, felizmente saudável e viva, contemporânea em conhecimentos, dados e histórias do Moçambique colonial que, o Parque Nacional da Gorongosa - santuário da fauna bravia moçambicana, regista progressos que confirmam sua recuperação após anos de abandono desastroso que o devastou, pós saída do governo português de Moçambique em 1975. E indica um site (Sofala OnLine-Gorongosa) de onde transcrevo:
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Sobre o nascimento, a história, as agruras e as desgraças por onde passou o Parque Nacional da Gorongosa, há muito que tudo isso está relatado. A partir do momento em que a actual equipa tomou a inciativa de chamar a si o futuro do Parque, as coisas mudaram, para melhor, como da noite para o dia. É verdade que ainda há muito caminho a percorrer e um imenso trabalho a levar a cabo para que o PNG venha a experimentar algumas semelhanças com o Parque Nacional da Gorongoza existente em África e mesmo em todo o mundo, até aos anos 80. Desde que assumiu a liderança da gestão do PNG, a Fundação Carr e a sua vasta equipa tem dado o seu melhor, tendo em vista a efectiva recuperação do Parque, em todas as vertentes. A recuperação do acampamento do Chitengo, a reintrodução de algumas espécies praticamente extintas, a deslocação das populações residentes no interior do Parque para a sua periferia, são apenas alguns exemplos do trabalho levado a cabo. Faltava, no entanto, uma ferramenta essencial à prossecução do fim em vista. Esse indispensável utensílio de trabalho só no mês passado (Julho de 2008) foi assinado. O Governo Moçambicano, através do Ministério do Turismo, e Greg Carr, presidente da Fundação com o seu nome, deram corpo ao, então celebrado, ACORDO DE GESTÃO CONJUNTA.
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O Parque Nacional da Gorongosa fica situado na zona limite sul do Grande Vale do Rift Africano, no coração da zona centro de Moçambique. A sua diversidade de ecossistemas – da exuberante floresta tropical às vastas planícies aluviais acolheu, em tempos, algumas das mais densas populações de animais selvagens em toda a África. Nos anos 50 e 60, turistas de todo o mundo afluíam à “Jóia da Coroa de Moçambique”.
Seguiram-se quase 30 anos de guerra e nos anos 80, o parque transformou-se num campo de batalha, tendo de ser deixado ao abandono.
Durante a guerra, soldados e civis caçaram grande maioria dos mamíferos existentes no parque.
Mesmo depois da paz ter sido acordada, em 1992, a caça furtiva continuou incontrolável.
Em 1996, com a ajuda de várias agências internacionais, o governo Moçambicano conseguiu reduzir substancialmente a caça furtiva. Aquando da reabertura do parque, verificou-se a extinção de alguns dos mamíferos do parque mas os pássaros – cerca de 400 espécies sobreviveram à guerra, relativamente ilesos.
Desde então, muitas das fortemente afectadas populações de mamíferos começaram a crescer lentamente. As poucas espécies extintas podem eventualmente ser reintroduzidas a partir de outras regiões da zona sul do continente africano. Ainda que seriamente ameaçado pela perda temporária de espécies-chave e pela desflorestação na Serra da Gorongosa, o ecossistema da Gorongosa permanece basicamente intacto e saudável.
O estado moçambicano reconheceu que o parque representa uma grande oportunidade no desenvolvimento da economia da zona central de Moçambique, uma das regiões mais pobres do mundo. O governo Moçambicano empreende, de momento, uma parceria com uma organização não governamental com sede nos Estados Unidos, no intuito de desenvolver uma aposta no ecoturismo. Esta destina-se a criar postos de trabalho e outras oportunidades para os locais, enquanto se procede a um investimento na protecção e reabilitação dos magníficos recursos naturais da Gorongosa. O projecto de reabilitação começou em 2004 e está a progredir a olhos vistos:
A equipa de conservação está a trabalhar arduamente para parar com a desflorestação da Serra da Gorongosa e reconstituir as populações animais do parque.
A equipa de investigação está a levar a cabo pesquisa científica alargada e a fazer planos a longo prazo para assegurar que, uma vez restaurado, o equilíbrio ecológico delicado do parque não seja perturbado.
A equipa das relações comunitárias está a trabalhar conjuntamente com diferentes parceiros na melhoria das condições de vida das pessoas que vivem na zona intermédia que rodeia o parque, ao criar emprego, financiar escolas e clínicas e ao dar formação em agricultura sustentável aos agricultores locais.
  • Link's que o levam a conhecer o Parque Nacional da Gorongosa em Moçambique: Aqui; Aqui e Aqui

Acrescento: Se deseja conhecer África-Moçambique, seu litoral sem igual, seus santuários naturais, as emoções (não predatórias) da vida da selva, não esqueça de incluir no roteiro, além da bela Pemba e ilhas/paraíso próximas, o Parque Nacional da Gorongoza. Jamais se arrependerá!

8/26/08

Ex-Combatentes do Ultramar - Ignorados, desconhecidos, desprezados e agora também abandonados!

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Envolvido por uma juventude vivenciada em Pemba-Moçambique-colónia, recebo diáriamente o news letter de um portal - "Guerra do Ultramar" onde se fala e tenta manter viva a memória e a HISTÓRIA de muitos heróis de uma guerra acontecida no ex-ultramar português até Abril de 1975.
Normalmente, as nações, colocando de lado ideais políticos de esquerda ou direita, reverenciam, homenageiam, respeitam, prestigiam e acarinham com destaque, porque são exemplos que honram, enobrecem e fazem parte da HISTÓRIA, seus ex-combatentes, seus heróis sofridos, mutilados, arruinados psicológica e fisicamente, quando vivos, assim como cuidam das campas e protegem as famílias dos que morreram com glória e coragem em defesa da Pátria.
Lamentávelmente, parece que isso não vem acontecendo no Portugal de agora, onde, segundo leio e vejo no portal referido acima e na reportagem do passado dia 10 de Agosto do diário português "Correio da Manhã" que transcrevo em parte devido à extensão do texto, mas que poderá ser lido integralmente aqui, os heróis portugueses da antiga guerra do ultramar vivem o presente do culminar de suas vidas, nas ruas da amargura e do abandono que envergonha e humilha. Pois aqui fica:
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10 Agosto 2008 - 00h00 - Ultramar - A luta na rua.
Ser sem-abrigo é estar na condição de alguém que esgotou todos os recursos para resolver as vicissitudes da vida. É uma luta inglória que cerca de 200 veteranos da Guerra do Ultramar vivem hoje, apesar de a esta terem sobrevivido. Vale-lhes a caridade.
É preciso coragem para viver duas guerras: a de ter combatido no Ultramar e a de ser sem-abrigo. Deitado colado à montra do posto dos Correios da rua dos Caminhos de Ferro, junto a Santa Apolónia, Lisboa, repousa um antigo primeiro-cabo na Guerra Colonial hoje sem morada para receber correspondência. José Freitas foi obrigado a defender a pátria em Angola. Como ele, combateram cerca de 1,2 milhões de efectivos, dos quais 700 mil estão vivos. Quase dez mil morreram em batalha e têm os nomes inscritos no Monumento ao Combatente, perto da Torre de Belém. Regressaram 30 mil com o corpo ferido, deficiente. Pela cabeça de metade passam traumas e stress de guerra. Estima-se, por fim, que 200 sejam sem-abrigo – mas quem cuida destes?
Todas as noites há rondas da Comunidade Vida e Paz – e de outras instituições – na rotina dos sem-abrigo de Lisboa. Por ser Verão basta um saco-cama para enrolar José Freitas.
'Vim parar à rua porque sou da rua', diz, emocionado. 'Não tenho rendimento mínimo, não tenho nada. O que tenho é de arrumar carros.' O seu corpo está visivelmente debilitado. Muito magro.
'A única memória que tenho da guerra é que fui para a mata no Toto. Estive ali 17 meses até que saí para Luanda onde ia embarcar, mas fiquei lá sete meses', recorda, levantando a manga para mostrar a tatuagem. As suas palavras são vagas. E estas são as curtas memórias que se podem ouvir de José quando fala deste período da sua vida, entre 1972 e 74. 'Não sofro com nada, só que gosto de andar sozinho. Tenho muitos amigos – e aponta para os dois sem-abrigo ao seu lado – só que, às vezes, gosto que não falem comigo' – afirma. Depois, confessa que 'antes de ir para a tropa não era assim'. Dizem os técnicos que o acompanham que nos últimos dez anos se tem degradado física e emocionalmente – é o alcoolismo.
Não é fácil fazer com que um sem-abrigo conte o que se passou na tropa. António Bengaló, 63 anos, era o soldado 33 446 em Moçambique. Embarcou em 1965 e regressou, precisa, a 14 de Março de 68. 'A mágoa que sinto é uma coisa muito íntima. Acredito que haja muitos [ex-combatentes] que se façam de malucos só por interesse.' Mas este não aceita essa ‘alcunha’. 'Estive um ano na Zambézia. Não havia lá guerra nenhuma. No Sul havia a chamada guerra subversiva e no Norte é que já havia zona de combate. Quando fui para aí lembro-me de um rapaz que era alcunhado de ‘Alho’ – até parece que o estou a ver – e havia outro rapazola perto de nós que com um estilhaço na garganta morreu aos meus pés...'
As pernas de António já fraquejam. Garante que não é alcoólico e que só ganha 180 euros do Rendimento Social de Inserção. Servem para pagar o quarto. Alimentação é o que lhe vai aparecendo com o apoio aos sem-abrigo. 'Já sei que não sou desprezado.' Pelo menos diz isso porque exclui a família. Da mulher divorciou-se e 'os filhos aproveitam a deixa para ser livres e, depois, o velho não presta para nada.' Da profissão de dourador (trabalho com peças antigas de sacristia) e, depois do 25 de Abril, de pintor da construção civil, ainda não recebe qualquer reforma... ...
- A reportagem na íntegra no "Correio da Manhã"!

  • Guerra do Ultramar: Guerra na Rua - Aqui!


  • Combatentes mortos na guerra colonial... - Aqui!


  • retornados de África; A mancha que não se apaga - Aqui!

E, é bom lembrar aos "senhores do agora", que a HISTÓRIA se fará. E não perdoará quem não a respeita nem honra!