7/02/12

Em conversa com Nogueira Borges... REVOLTA!

Fosse mais novo e sem responsabilidades familiares, quem emigrava era eu. Não para um outro país desta Europa desigual e dependente de soberbas geográficas e políticas, dos cafés e dos bares – como diz George Steiner - , mas para a África onde a pobreza tem sol, e alimento no mato, e água nos rios, e serenidade nas madrugadas das buganvíleas, e espelho no mar azul dos corais, e silêncio nas sombras dos palmares, e emoção num embondeiro perdido na imensidão da savana, e amor na contemplação das estrelas nas noites de arrebatamento.

Fugir desta Europa falida, levada à desgraça por homens e mulheres que atraiçoaram o voto da democracia, servindo-se da crença popular para se encharcarem no enriquecimento, cozinheiros de ementas para os banquetes sequazes; dirigentes de branqueamento intelectual e sem estofo e sem exemplo, mentirosos no limite do desaforo, a pensarem só neles e nos mais chegados, sem letra e sem lei, nomes e caras que só de lembrar ou ver nos revoltam as entranhas. Chegamos à miséria total, a da bolsa e a da alma, onde tudo o que é canalha triunfa, ao ponto em que só nos destinam a tristeza e a solidão, em que temos que aceitar tudo, mesmo o inaudito!

Criou-se a pior violência social: a silenciosa! Um povo infeliz, em que, como dizia o poeta, nos roubaram Deus e a humanidade! Uma Nação de duas classes: os desgraçados e os ricos cada vez mais frios, descarados e milionários.

Em África escolheria o mato das machambas e das palhotas, cultivaria a cana e o caju, escutaria os ecos dos meus gritos nas ”terras do fim do mundo”, andaria descalço nas picadas vermelhas, usaria uma catana só para abrir o coco que matasse a sede, rir-me-ia dos entretidos que dizem que o voto é a arma do povo, revoltar-me-ia contra os que sabem usar gravata e jogam ao poker eleitoral. Longe deles não seria tentado a fazer o que pede o coração.

Pôr-me a milhas deste continente, que criou uma civilização e se deixou afundar por calaceiros e falsos; corruptos sem classificação, que, em nome da Democracia, desempregam trabalhadores aos milhões, arruínam as finanças das pátrias, desviam réditos incontáveis para as latrinas do capitalismo, enquanto apregoam ideais igualitários e se afirmam defensores das doutrinas repartidoras.

Na África recôndita, sem cheiros de perfumes das alcofas de alperce, de tiques dos entendidos serventuários do sistema, dos que jogam e se vendem nos casinos do euro, afastado de toda a súcia desta desacreditada democracia, viveria feliz mesmo com o chirriar da coruja ou o uivo das hienas; é que a verdade é suportável, o fingimento sofrido.

Assim, não tenho outro modo senão partilhar o sofrimento…
- M. Nogueira Borges, 11 de Abril de 2012
Clique  na imagem para ampliar. Imagem original não editada recolhida da net livre. Edição de J. L. Gabão para os blogues "Escritos do Douro" e "ForEver PEMBA" em Julho de 2012 e em homenagem ao saudoso Amigo MANUEL COUTINHO NOGUEIRA BORGES. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos.

6/30/12

Em conversa com Nogueira Borges...

"... palavras sobre o homem amigo e o escritor nascido em S. João de Lobrigos, terra simples e de vinhos, para que sua grandeza humanista continue a brilhar no Douro. Uma vez me disse com um espanto infantil: "CARAMBA!!! ISTO É MESMO LINDO!!!!!!...
Hoje, ao anoitecer, fiz estas fotos a ele dedicadas, enquadradas no Céu do Douro lembrando-me que só pode está lá em cima a dizer-me: "CARAMBA!!! ISTO É MESMO LINDO!!!!!!"
- Jasa, Peso da Régua, 29 de Junho de 2012
A MINHA CIDADE
A minha cidade
Tem o visco da saudade
E o nevoeiro do futuro.
A minha cidade
Tem a tristeza do escuro,
Mas, sobretudo,
O brilho da verdade.
- M. Nogueira Borges in "O Lagar da Memória" -
O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou.
- Vergílio Ferreira
(Desligue o player da LM Rádio localizado no final do menu lateral deste blogue para escutar o video)
Clique  nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Junho de 2012 e em homenagem ao saudoso Amigo MANUEL COUTINHO NOGUEIRA BORGES. Este artigo contém colaboração de José Alfredo Almeida e pertence ao blogue ForEver PEMBA. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

6/29/12

Um adeus sentido a MANUEL COUTINHO NOGUEIRA BORGES

Nota - O dia correcto de nascimento de M. Nogueira Borges é o de 05 de Outubro de 1943. A data na foto (12 de Outubro) é apenas a que consta na conservatória. Contava sempre que tal se devia ao facto de no ano de 1943 ser por vezes normal o registo ter a data do mesmo e não a real - Ricardo Nogueira em 2JUL2012)


De MANUEL COUTINHO NOGUEIRA BORGES:
Acreditem-me ou não, o que escrevi SINTO-O. Sabes, a vida é feita por NÓS, "OS SIMPLES", OS QUE ANDAM AQUI COM UMA LUZ NO CORAÇÃO.  SÓ TEMOS QUE FAZER UMA "COISA": AGRADECER A QUEM NOS DEU ESSA FELICIDADE!
Escrito por Manuel Coutinho Nogueira Borges em 7 de Fevereiro de 2012.

A notícia chegou assim:

Armando Figueiredo ->Jaime Gabao
há 4 horas
Amigos,
Anuncio-vos com muito pesar que Manuel Coutinho Nogueira Borges faleceu ontem por enfarte do miocárdio. O que parecia ser uma pequena indisposição foi infelizmente um ataque fatal. O seu corpo repousa hoje, deposto em câmara ardente, na Capela de Sto Ovídio (Bairro dos Cedros) e segue daí amanhã pelas 15 horas para a Igreja de Mafamude, onde será celebrada a missa de corpo presente. Divulgue por favor.
From: José Alfredo Almeida
Sent: Thursday, June 28, 2012 6:24 AM
To: Jaimel
Subject: Morreu... Nogueira Borges

Ola Jaime,
Bom dia..
Soube agora mesmo e nem sei como começar... mas é uma má e triste noticia para si e para mim...
Ontem morreu o Nogueira Borges...
Não sei que dizer, estou abalado com a perda do amigo, do homem bom que Deus nos colocou no caminho.
Nao sei que lhe dizer... a tristeza cai nestes montes e rio que ele também amou.
Abraço,
JASA
Jaime Gabao 28JUN2012 15H05 - Não me esqueço do último abraço que lhe dei há poucas semanas, no Porto, quando me despedi dele à porta do SAMS, onde ia marcar um exame ao coração. Parece que adivinhava. Agarrou-se a mim com lágrimas nos olhos como se fosse a última vez... Que SAUDADE já tenho de ti, "velho" companheiro de tantos anos, MANUEL COUTINHO NOGUEIRA BORGES.
Manuel Coutinho Nogueira Borges, escritor e poeta do Douro em Portugal nasceu no lugar de S. Gonçalo, freguesia de S. João de Lobrigos, concelho de Santa Marta de Penaguião, em 12.10.1943. Frequentou o curso de Direito de Coimbra, cumpriu o serviço militar obrigatório em Moçambique, como oficial miliciano e enveredou pela profissão de bancário. Colaborou em diversos jornais, nomeadamente: Diário (de Lourenço Marques); Diário de Moçambique (Beira), Voz do Zambeze (Quelimane), Diário de Lisboa, República, Gazeta de Coimbra, Noticias do Douro, Miradouro, Arrais e outros. Em 1971 estreou-se com um livro de contos a que chamou "Não Matem A Esperança". (In 'Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses', coordenado por Barroso da Fonte. Manuel Coutinho Nogueira Borges está no Google.
ÚLTIMA VONTADE
Quando eu morrer,
Que seja em Agosto
Com toda a gente de férias.
Quero morrer sem desgosto,
Sem dor e sem aborrecer,
Envolto na brancura de um lençol,
Só um padre, a família e os amigos,
Sem mais ninguém saber.
Quero morrer sem choros, sem gritos
E sem anúncio no jornal.
Morrer não é o fim,
E quem me diz a mim
Que a minha vida, afinal,
Não se renovará num caminho
De amor e carinho,
De risos verdadeiros,
Todos os dias renovados
Como se fossem os primeiros?
Quando eu morrer,
Lavem-me com a lágrima do adeus
Que quem morre sempre deita,
Não com pena de morrer,
Mas triste pelos que ficam,
Mais tristes e abandonados,
Sem saberem o que os espera:
Se a disputa de uma herança
Ou o fim de uma esperança.
Quando eu morrer,
Metam-me num jazigo
Com uma ampla janela
Para ver, através dela,
O sol de cada domingo.
Ponham-me flores e uma vela,
Uma cruz e um poema
Que aqui deixo escrito:
Nasceu sem saber porquê,
Viveu sem que o entendessem.
Morreu sabendo para quê:
Para que na ausência o lembrassem.
Basta para dizer tudo,
O que foi o meu mundo
Em criança e em adulto.
Atravessei mares e continentes,
Chorei nas noites de abandono,
Amei raças diferentes
E não sei se matei por engano.
Quando eu morrer,
Não quero ir para a terra;
Em vez de morrer uma vez,
Morreria, então, duas vezes.
Concordem que não o merecerei
E, se o fizerem, garanto-vos,
Nunca o esquecerei.
Afinal, quem vive com os remorsos
De uma última vontade não cumprida,
Naquele instante de amargura e despedida
Em que o sangue se esvai,
No grito intolerável que a vida dá,
Até se esbater cansado num ai
Que até parece que, depois dele, nada mais há?
Quando eu morrer,
As andorinhas farão ninhos
No beiral da casa onde nasci,
Cantando de mansinho
Para que não me interrompam o fim.
Apanhem uma que seja dócil e bela,
Prendam-na às minhas mãos
E deixem-me ir assim com ela,
Caixão aberto e o sol a brilhar,
As pessoas espantadas a olhar
Para um funeral nunca visto.
Batam palmas devagarinho,
Não se importem de parecer mal,
Não falem durante o caminho,
E vejam se vou a voar.
Quando eu morrer,
Se calhar, não terei tempo de dizer
O que sempre calei em vida:
Que amei tanto os outros
E alguns não me mereceram,
Que chorei por loucos
E por quem não devia,
Que encolhi silêncios
Pelos que nunca me lembraram
E alguns até se afastaram.
Quando eu morrer
Vai ser penoso ir-me embora,
Deitado, estrada fora,
Sem me mexer,
Sem poder beijar os frutos da minha felicidade,
Virtudes e defeitos do meu ser,
Os seus rostos mais lindos do que o sol a nascer
E sorrir-lhes, então, até à eternidade.

- De M. Nogueira Borges extraído com autorização do autor de sua obra "O Lagar da Memória". O livro "O Lagar da Memória" foi apresentado  dia 12 de Março último na Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia . Informações para compra aqui. Também pode ler M. Nogueira Borges no blogue "Escritos do Douro". A imagem ilustrativa acima é formada/editada por diversas fotos recolhidas da internet livre. Clique nas imagens para ampliar.
Clique  nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Junho de 2012 e em homenagem ao saudoso Amigo MANUEL COUTINHO NOGUEIRA BORGES. Este artigo pertence ao blogue ForEver PEMBA. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

6/23/12

MARCOS RELEVANTES DA HISTÓRIA DAS ILHAS DE QUERIMBA OU DE CABO DELGADO - O CASO PARTICULAR DA VILA DE SÃO JOÃO DO IBO

(Clique na imagem para ampliar - Origem da imagem)

Contribuição para as comemorações do 251º aniversário da Vila do Ibo (Cabo Delgado – Moçambique), em 24 de Junho de 2012 de autoria do Dr. Carlos Lopes Bento, antigo Administrador do Concelho, Presidente da Câmara Municipal do Ibo, entre 1969 e 1972, antropólogo, professor universitário e Diretor Tesoureiro da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Junho de 2012. Só permitida a cópia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.