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5/18/07

TEMPLOS E ESPAÇOS SAGRADOS DAS ILHAS DE QUERIMBA.

MEMÓRIAS DAS ILHAS DE QUERIMBA.
TEMPLOS E ESPAÇOS SAGRADOS DAS ILHAS DE QUERIMBA.
ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.
(1ª Parte)
Por Carlos Lopes Bento
Mais trabalhos de Carlos Lopes Bento aqui:
http://br.geocities.com/quirimbaspemba/
Depois de divulgar as fortificações, construídas pelos Portugueses, na ilha do Ibo, passarei, a partir de agora, a debruçar-me sobre os principais templos sagrados edificados nas Ilhas de Querimba e terras firmes.
A Religião, assente em crenças, normas de comportamento e rituais, manifesta-se, exteriormente, através de cultos, por intermédio dos quais os crentes estabelecem uma relação com a Divindade.
Os cultos religiosos, cerimoniais sempre de natureza pública, têm lugar em locais adequados, entre os quais se destacam os edifícios próprios construídos para o efeito, genericamente, denominados templos.
Dos templos religiosos, e a sua distribuição, erigidos nas Ilhas de Querimba e terras adjacentes darei, de seguida, especial relevo, aos templos edificados, nas ilhas de Quirimba e do Ibo, para o culto dos cristãos- igrejas, capelas e cemitérios-, alguns dos quais, com ruínas ainda visíveis ou, ainda, em activos em 1974.
Nestas duas ilhas, que foram capital da capitania-mor das Ilhas Quirimbas, o número cristãos foi, durante centenas de anos, predominante quando comparado com os moradores que professavam as religiões islâmica e de raiz africana.
Segundo a Relação Geral dos Habitantes das Ilhas, de 1798, da população livre, num total de 2909 pessoas, 24,43% era cristã, 21,73%, islâmica e 21,73% seguia princípios religiosos africanos. Na ilha do Ibo a percentagem de cristãos era de 97,96 e a de maometanos de 0,82. O peso dos cristãos estava reflectido no grande número de templos religiosos erigidos na ilha do Ibo.
1- IGREJAS E CAPELAS
Nesta parte setentrional das terras moçambicanas, a evangelização, que havia sido partilhada nesta costa de África entre Jesuítas e Dominicanos[1], ficou sob a responsabilidade da Ordem de São Domingos.
A situação colonial teria sido instituída no 1º quartel do século XVI, após a conquista das Ilhas pelos Portugueses. Depois desta data teriam sido erguidos alguns templos religiosos nas principais ilhas do arquipélago. A construção dos conventos (?), das ilhas de Quisiva(Fig. I), de que se encontram ruínas e de Macaloé atribui-se, não comprovadamente, aos padres jesuítas. Estes religiosos que chegaram a Moçambique, depois de 1560, segundo o historiador da Companhia de Jesus Padre Francisco Rodrigues nunca estiveram a missionar nas Ilhas[2]
[1]- Arquivo Português Oriental, Tomo IV, Vol. II, p. 211, Carta de 83/1617.
[2]- GERARDS, Constantino., Algumas Datas e Factos ..., cit., p.
Fig. I- Ruínas de convento na Ilha de Quisiva. 1970. Crédito Carlos Bento
A primeira igreja, dominicana, referida pela primeira vez em 1530[1] e descrita por Frei João dos Santos, foi edificada "por Diogo Rodrigues Correia, primeiro senhor desta ilha que a deu aos religiosos de São Domingos", a solicitação destes, com terras e palmares com a obrigação de rezarem, semanalmente, duas missas, ficando sufragânea à de Moçambique[2].
O Administrador Episcopal de Moçambique, em 1753[3], chamava a atenção das autoridades régias para o estado de desamparo em que se encontrava a cristandade sob a sua responsabilidade e para os abusos praticados, no seio da comunidade religiosa, tanto por parte dos cristãos, como do clero.
Lamentava, profundamente, a falta de igrejas, de curas e de párocos, verificada desde as Ilhas de Cabo Delgado até Moçambique, onde não existiam mais do que as igrejas das ilhas de Querimba e da Amisa, a desta sem telhas e de paredes arruinadas e, ambas, então, sem pároco ou qualquer outro sacerdote.
A ausência de pároco, nesta altura, ficava a dever-se ao facto dos dois frades que ali residiam terem deixado, com pretextos frívolos originados nas "suas desordens e inconsiderado modo de viver como de ordinário se experimenta fora da disciplina claustral"[4], as respectivas paróquias.
As dificuldades no preenchimento destas seriam uma constante com o decorrer dos tempos.
A capela de São João Baptista criada, novamente, pelo fundador da vila do Ibo, que servia de capela militar, em 1767[5], não tinha capelão, ficando da sua administração incumbido o vigário da Querimba, cuja missão era ministrar os sacramentos aos elementos do Presídio Militar.
O mau estado da igreja de Amisa levaria mais tarde a que o seu pároco fosse residir no Ibo, onde desempenhava as funções de capelão militar, continuando a ir, anualmente, a Amisa para exercer os actos de desobrigação e demais funções[6]. A deterioração constante do edifício e despovoamento do local onde estava erigida levaria a que os párocos aí fossem mais raros.
A partir da última década do século XVIII, a falta de clérigos, a instabilidade política e a falta de segurança como resultado dos ataques dos Franceses, Makhwa e Sakalava, levariam a que, algumas vezes, apenas um vigário, que passava a residir no Ibo, ficasse com a responsabilidade das paróquias da Querimba e Amisa e da capelania do Ibo[7]. Dizia missa, interpoladamente, em cada Domingo, no Ibo e Querimba e ia, quando tal era possível, anualmente, à Amisa. Sempre que adoecia[8] as coisas complicavam-se. Depois do ataque à ilha do Ibo, de 1796 perpetrado pelos corsários franceses, por o capelão ter sido feito prisioneiro e depois assassinado, solicitava-se a sua substituição por outro que, porventura, chegasse da Índia[9].
À escassez de missionários, juntava-se o problema relacionado com a remuneração e sustento, factores decisivos no prestígio e desempenho das suas funções.
A Fazenda Real remunerava, em 1758[10], cada sacerdote em serviço na Colónia com 250 cruzados, por ano, que somados a alguns dízimos, devidos à Igreja, se tornavam insuficientes para as necessidades da paróquia e do seu pároco. Os padres das Ilhas[11], em 1760, recebiam 140 mil réis/ano, ou seja, 350 cruzados. Quanto ao capelão militar do Presídio percebia, em 1787, segundo a respectiva Folha Civil e Eclesiástica, a importância de 300 cruzados.
Na tentativa de alcançar um remédio para este problema de penúria, o Administrador Episcopal de Moçambique dava conta à Rainha de Portugal da situação de muitos párocos, que, explicava, não tinham rendimentos suficientes para seu sustento e explicava as razões:
A igreja não lhe rende coisa alguma. Das igrejas que experimento com esta indigência, pela repugnância que os eclesiásticos têm de os ocupar: a 1ª é de Amisa, uma das igrejas sitas nas ilhas de Cabo Delgado (...) é a última e a mais remota de Moçambique para a parte das ditas Ilhas e como tal a mais solitária e que for costume se diz ter muitos poucos homens de chapéu; e como todos os paroquianos a maioria são cafres ou outros da mesma qualidade que são cristãos enquanto o querem e não são oprimidos, procuram subterfúgios para não enterrarem os seus defuntos na igreja ...[12].
A situação por falta de solução continuava em aberto. O vigário paroquial da igreja de Nossa Senhora do Rosário, da ilha de Querimba e encarregado de toda a cristandade da ilha do Ibo, em virtude dos emolumentos da igreja serem muito ténues e não chegarem para sustento de um pároco, requeria, em 1808[13], para ser provido na capelania do Ibo, cujo cargo estava vago.
Ao solicitar providências ao Soberano, o Bispo de São Tomé, Prelado de Moçambique[14] expunha claramente e de novo o problema:
O Pároco da Ilha de Querimba tem a mesma côngrua de 350 cruzados, paga umas vezes na referida moeda nesta capital, outras em panos na Feitoria daquelas Ilhas e neste 2º caso são 280 panos, isto é, 350 braças de pano grosso que vestem os negros e outros efeitos de que eles usam, que é a moeda com que se compra o necessário. Nada se pode dizer dos seus rendimentos, porque à excepção de uns 120 panos que tem de 2 festividades quando eles se celebram, não percebem, senão, de ano a ano, algumas vezes, de mais tempo, 1 ou 2 ofertas por ocasião de 1 baptizado ou enterro de pessoa de maior distinção. Os outros ou não pagam o que devem ou o fazem em géneros tão insignificantes que não podem entrar em razão de vendas, o que não procede da pobreza em que vivem os habitantes dessas Ilhas. O mesmo se deve dizer da paróquia da Amisa que se acha vaga. Daqui se segue que os Párocos destas 2 freguesias que não têm do seu, não podem subsistir com os rendimentos da sua estola.
As carências continuariam durante todo o século XIX e nos princípios do século XX o Governador voltava a levantar o problema, que, aliás, persistia, embora, sem escravos:
Os padres nas suas pouco rendosas paróquias, longe da tutela dos superiores, utilizam os seus escravos que passam de seus neófitos a serem seu arrimo: colimam, caçam, pescam, carregam-no no andor, transportam madeira para a igreja; cristãos por momentos, breve se tornam aos seus feitiços e superstições[15].
Como já foi salientado, a evangelização desta parte norte de Moçambique pertenceu aos padres dominicanos, que foram responsáveis pela construção dos templos levantados nas Ilhas.
Caber-lhe-ia a missão particular de pregar a devoção de Nossa Senhora do Rosário, não sendo, pois, de estranhar que as paróquias da ilhas de Querimba e da Amisa, de Mocímboa da Praia e a 1ª Confraria criada nas Ilhas, lhe fossem dedicadas.
Depois da reconquista das Ilhas, que teve lugar em 1523, foram edificados vários templos[16], que, de Sul para Norte, seguidamente, se inventariam:
Capela de Santo António, na ilha de M'funvo
Capela de Nossa Senhora da graça, em Arimba
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na ilha de Querimba
Capela de Santo António, na da ilha de Querimba
Igreja de São Luís Gonzaga, na ilha de Querimba(sec. XIX)
Capela/igreja de São João Baptista, na ilha do Ibo
Capela militar de São João Baptista, na ilha do ibo
Capela de família, na ilha do Ibo(séc XIX)
Capela de São Miguel, na ilha de Matemo
Capela de São Domingos, na ilha de Macaloé
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Mocímboa da Praia(sec. XIX)
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na ilha de Amisa
Capela de Santo António, em Mulúri.
Sobre cada um destes templos fornecerei, seguidamente, mais alguns dos seus principais traços
Fig. II- Situação geográfica das Ilhas de Querimba e suas terras firmes.
Crédito: Orlando do Amaral, 1992
[1]- BOCARRO, A., O Livro ..., cit., p. 40.
[2]- NAZARETH, Prelazia de Moçambique, p. 171, que entre as igrejas dominicanas construídas em Moçambique destacava em 1570 a de Nossa Senhora do Rosário de Querimba; CACEGAS, L., História de São Domingos, p. 435.; SANTOS, J., Etiópia ..., cit., Vol. I, p.p. 273 e 274; e BRÁSIO, A., “A Igreja em Moçambique .. “, p. 286.
[3]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 9, Doc. 3, Carta de 20/12/1753.
[4]- Idem, Códice 1310, Carta de 4/8/1753, do Cap. Gen. para o Vice-Rei da Índia.
[5]- Idem, Doc. Av. Moç., Cx. 27, Docs. 134 e 138: Descrição geral de todas as Igrejas de 19/8/1767.
[6]- Idem, Ibid, Cx. 35, Doc. 17, Representação de Janeiro de 1781, do Pároco da Amisa Francisco José Azevedo, enviada para Lisboa por Carta de 25/9/1781 (Cx. 37, Doc. 26).
[7]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 76, Doc. 31, Carta nº 197, de 28/10/1796, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[8]- Idem, Ibid, Cx. 133, Doc. 30, Carta nº 443, de 28/7/1810.
[9]- Idem, Ibid, Cx. 76, Doc. 69, Carta de 16/12/1796, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[10]- Idem, Ibid, Cx. 14, Doc. 34, Carta de 8/8/1758, do Administrador Episcopal para o Reino.
[11]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 22, Doc. 49, Folha Eclesiástica do Pagamento do Soldo, de 7/7/1763, que inclui os vigários da Querimba Frei José Carlos e da Amisa, Frei Manuel Tomás.
[12]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 38, Doc. 8, Carta de 24/9/1781.
[13]- Idem, Ibid, Cx. 123, Doc. 4, Petição de 2/5/1808, feita pelo Padre José Xavier Raposo.
[14]- Idem, Ibid, Cx. 159, Doc. 11, Plano do Estado Actual da Prelazia de Moçambique, p. 4v. O capelão do Presídio mantinha o ordenado de 300 panos/ano (p. 5). A Carta Régia de 13/2/1797, fixou o côngrua anual dos Prelados de Moçambique em 3000 cruzados (Cx. 79, Doc. 20, Carta de 27/11/1797, do Cap. Gen. para o Reino).
[15]- VILHENA, Ernesto., De Tete a Quiloa, cit., p. 46.
[16]- CUNHA, Sebastião, Notícias Históricas ..., cit., p. 16. Este Pároco faz a sua enumeração dos existentes no seu tempo.
CAPELA DE SANTO ANTONIO NA ILHA DE M'FUNVO
A ilha de M´funvo situa-se a sul a ilha de Sancar ou Samucar e a norte de ilha de de Quisiva o Quisiwa. Ver Fig II)
Em 1970, quando o autor deste trabalho esteve nesta ilha os seus habitantes não foram capazes de localizar a Capela. Apenas havia, próximo da praia, um nicho com uma imagem de Santo António, que, aliás, havia sido roubada há pouco tempo, por desconhecidos.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA, DE ARIMBA
Construída nas terras firmes, que serviria, especialmente, a família Morais , residente em Bringano ou Beringano,(Ver situação geográfica na Fig.II) povoação onde estava, provavelmente, localizada. Entre 1796 e 1798 ainda estava em funcionamento. Neste período foi nela enterrado um menor[1].
Do "Inventário dos Bens e Alfaias da Igreja de Querimba", de 8/3/1793, consta: um cálice todo lavrado e oirado com a patena e uma pedra d'ara muito pequena, recolhidas para maior segurança, depois da morte de João Morais (Dezembro de 1792). É muito provável que este notável mestre de campo também aí tenha sido sepultado.
Para além desta capela, há notícia da Capela de Santa Ana[2]. Teriam sido abandonadas por serem desnecessárias "aos filhos da terra porque em religião e bons costumes são virtuosos (...) os cafres"[3] .
Desconhece se ainda existem vestígios desta capela e respectivo cemitério, em princípio, construído no seu interior, onde era costume enterrar os defuntos das famílias mais ilustres da área. É provável que os Sakalava tudo tenham destruído e roubado quando em Agosto, de 1808, por lá passaram.
IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, NA ILHA DE QUERIMBA
Mandada construir pelo primeiro senhorio da ilha, Diogo Rodrigues Correia, cerca de 1530[4], foi oferecida aos padres dominicanos. Era a Igreja Matriz e Paroquial, e os seus vigários de "Vara e Forâneos"[5], cabeça de todos os outros templos levantados nas Ilhas.
A primeira descrição que se dispõe sobre esta Igreja paroquial pertenceu a um dos seus párocos, João dos Santos, autor da Etiópia Oriental(1609):
... uma formosa igreja que é dos religiosos de São Domingos, a qual serve de freguesia, assim desta ilha como as demais que estão nesta costa até Cabo Delgado; e todos os moradores dela são obrigados a vir ouvir missa a esta igreja certos domingos e festas do ano e na quaresma a confessar-se e comungar[6].
Esta igreja reparada em 1780[7], estava nesta data "quase comida pelo mar que lhe batia na porta principal"[8], inconveniente que se poderia resolver com uma estacada de paus, a serem cortados pelos escravos dos moradores.
Em 1793, o pároco da Querimba testemunhava a pobreza da sua igreja e respectiva confraria, não dispondo esta de fundos mais do que 1400 cruzados, dos quais 1000 estavam emprestados a juros e 400 nas mãos de um morador que não pagava juros nem devolvia o capital, dando como penhora 2 casas de laca-laca e 4 palmeiras que nada valiam[9].
Também em 1793, do inventário da fábrica da igreja de Nossa Senhora do Rosário constavam, para além de alguns de prata e de cobre, objectos em madeira, entre os quais duas imagens grandes, uma de Santo António e outra de São Domingos. Além destes objectos existiam livros novos e antigos, de registo de testamentos, de baptizados, casamentos e enterros. Ainda faziam parte do inventário desta paróquia, duas negras, Maria e Domingas, velhas, incapazes, "cujo cativeiro é duvidoso"[10], afirmava-se.
No ano 1796 há a indicação de estarem enterrados, nesta Igreja, vários defuntos, em locais diferenciados - junto dos bancos, cruzeiro, coro, debaixo do coro, no altar e em cova - consoante a sua posição social[11].
Nesta paróquia funcionou, durante quase dois séculos, a confraria de Nossa Senhora do Rosário. Os frades dominicanos logo após a sua instalação em Goa instituíram nesta cidade do Oriente, "uma original confraria de cafres de Nossa Senhora do Rosário, como a de São Domingos[12]. Nas suas pregações faziam grandes admoestações ao povo a favor dos escravos pretos para que os deixassem ir servir na dita Irmandade, pedindo-lhes ainda um tratamento humano.
Estas confrarias, depois disseminadas por todo o Oriente (que englobava então também a África), prestaram valioso contributo para o desenvolvimento do culto público cristão e para além do domínio religioso, ajudaram, economicamente, os mais desfavorecidos.
Na ilha de Moçambique foi instituído o Compromisso dos Irmãos da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, com sede no Convento do Patriarca de São Domingos ali erigido[13], que foi treslado, em 1667, passando a constituir o Compromisso da Irmandade da Virgem de Nossa Senhora do Rosário[14], que funcionava na igreja de Querimba.
[1]- A.H.U., Códice 1488, fls. 4v, Receita do Padre Vigário Estalisnau Torres, de 21/5/1796 a 31/8/1798.
[2]- GIRALDES, C. Cardoso - Memórias sobre a Capitania de Moçambique. A.C. Lisboa, 1810, Manuscrito 17, fls. 7v.
[3] - A.H.U., Códice 1321, Carta de 18/8/1764, do Cap. Gen. para o Reino.
[4]- RESENDE, Pedro, Livro ..., cit., p.p. 432 e segts. e BOCARRO, A, O Livro ..., cit., p. 40.
[5]- CUNHA, Sebastião, op. cit, p. 16.
[6]- Etiópia Oriental, Vol. I, p. 273.
[7]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 38, Doc. 8, de 24/9/1781, cit..
[8]- Idem, Ibid, Cx. 40, Doc. 21, Carta nº 20, de 10/9/1782, do Pároco para o Cap. Gen..
[9]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 40, Doc. 21, Carta nº 20, cit., de 20/9/1782. O devedor era Simão Pinto para quem se solicitava a sua prisão até ao pagamento da dívida.
[10]- A.H.U., Códice 1488, fls. 1 e 2, Inventário datado de 8/3/1793.
[11] Idem, Ibid, fls. 5v, Receita do Vigário, cit., de 21/5/1796 a 31/8/1709. Em 1796 foram sepultados, junto aos bancos, o sargento-mor Manuel António Carrilho, reinol, cujo enterramento custou 56:000 e no altar, Diogo Domingos Baptista, capitão-mor e foreiro da ilha de Querimba, por cujo enterramento se pagou 36:000.
[12]- ROCHA, L., As Confrarias ..., cit., p. 33. No Convento de São Domingos, em Lisboa, em 1496, já existia a Confraria do Rosário para pretos, que exercia uma acção corporativista de grande alcance social e cristão. Ver BRÁSIO, A., Os Pretos em Portugal, p.p. 76 e 77. Este autor também nos fornece as outras localidades portuguesas e brasileiras onde foram estabelecidas confrarias do Rosário para brancos e quando possível para pretos, também em irmandade privativa (p.p. 99 e segts.).
[13]- "Compromissos de Moçambique", In Boletim Oficial, 1894, 13ª Série, nº 3, p.p. 177-195. O 1º Compromisso parece datar de 1602 (LAPA, J., Páginas de Pedra ...).
[14]- A.H.U., Códice 1291, com 10 fls.. Livro que foi numerado por José Carrilho. À Nossa Senhora do Rosário protectora dos pretos juntou-se, nos finais do século XIX, o São Benedito Africano, cuja imagem pintada de escuro encontrada, em 1969, no cemitério de Munawa do Ibo(temos foto) e depois guardada na Câmara da vila. No Brasil os escravos fundavam irmandades como as de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, existindo a primeira, em 1552, em Pernambuco, constituída por negros e índios. Sobre este assunto ver MELO, Idalina, "A Civilização das Américas", p.p. 60 e 61.

Fig. III- Primeira página - A:H:U. Códice 1291.
Era composto por 20 capítulos que continham as normas que regulavam a sua constituição e funcionamento: festa de Nossa Senhora do Rosário no 1º Domingo de Outubro; eleição dos 13 confrades da mesa e seus deveres; direitos e deveres dos irmãos da confraria; procissões do 1º Domingo de cada mês; festa do patriarca de São Domingos; missa por alma dos irmãos falecidos; graças e indulgências; e enterramentos dos irmãos e oficiais da Mesa.
A confraria da Querimba destinava-se, especialmente, a cristãos filhos da terra, mestiços e pretos. Podiam admitir-se alguns reinóis, desde que beneméritos, homens bons e bons cristãos.
Em caso algum se tomavam como irmãos pessoas justiciadas, naiques, galinheiros e alabardeiras, preceito, ao que parece, nem sempre respeitado[1].
Em princípios de 1801[2] a confraria elegia nova mesa, assim constituída: António Francisco Fernandes (presidente, na condição de oferecer à conferência 200 cruzados para a festa da padroeira); Pedro Baptista (procurador); Francisco Xavier Baptista (escrivão); e Calisto de Morais, João Baptista Simões, Francisco Baptista Simões, Nicolau de Meneses, Caetano José, Francisco de Morais (irmãos).
Em 1804[3] a organização da festa de Nossa Senhora do Rosário coube a Caetano José Cordeiro e por não haver novos irmãos na ilha de Querimba a mesa mantinha-se como os do ano anterior. A confraria estava a chegar ao fim por causa dos ataques dos Sakalava, que levariam à mudança de muitos dos seus moradores para o Ibo, terras firmes e ilha de Moçambique.
Terá existido pelo menos até 1806 e da sua mesa fizeram parte moradores de várias ilhas e terras firmes, pertencentes às famílias detentoras do poder político-administrativo e económico.
Também a paróquia da Amisa teve a mesma irmandade.
Poucos anos depois seria esta Igreja, barbaramente, atingida pelos Sakalava, provenientes de Madagáscar.
Os primeiros assaltos da 2ª grande invasão dos Sakalava às Ilhas de Querimba, começaram, nos meados de Agosto de 1808, por Changa[4], passando pela Arimba, com numerosa população escrava, Bringano, ilhas de Quisiva e de M'funvo até atingirem, mortalmente, a ilha de Querimba.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi, totalmente, destruída, em 1808, por aqueles invasores marítimos:
... No dia 1º de Setembro desembarcaram na ilha de Querimba, assolando, roubando, matando, aprisionando tudo o que encontravam, assenhorando-se do batel de Manuel Onofre Pantoja, que estava fundeado no porto da mesma ilha, carregado de cauri, com a maior parte do seu fato, ao qual deitaram fogo e avariaram as embarcações que ali estavam. O dito Pantoja, Caetano José Cordeiro e o padre vigário escaparam da fúria destes bárbaros, à sua vista, no escaler do referido Cordeiro, que se transportou pelo passo que há para este Ibo e chegada à minha presença me narraram o sucedido e que o número de embarcações ou lacas era grande[5].
Para além destes enormes prejuízos, ficaram também despojados dos ornamentos, vasos e imagens sagradas, e de toda a prata da Igreja Paroquial Nossa Senhora do Rosário, material religioso que se encontrava num batel[6], que, para os pôr a salvo, os levaria para Fortaleza de São João Baptista do Ibo.
O Governador das Ilhas atribuiu a responsabilidade desta lamentável perda à falta de diligência e cuidado do Pároco, que tivera o tempo suficiente para os guardar em lugar seguro e preocupava-se com as imagens sagradas roubadas, pois, temia pelo "desacato que estes bárbaros farão nelas"[7].
Até 1816 (6 de Dezembro) esta igreja serviu, várias vezes, como base daqueles piratas do mar[8].
Voltou depois a ser restaurada, mas no fim do século XIX viria a ser substituída por uma nova igreja dedicada a São Luís Gonzaga (Fig.VI).
Desta igreja paroquial chegaram aos nossos dias algumas das suas paredes (Fig. IV.), sepulturas, tanto no seu interior, como exterior, entre as quais se destaca a do 1º Governador e Capitão-Mor Caetano Alberto Júdice (Fig.V ).
[1]- Em 1801 Pedro Baptista, que em 1787 fora naique do Santo Ofício (Cx. 85, Doc. 83, Relação dos Moradores, de 23/11/1787, cit.) fazia parte da mesa da confraria.
[2]- Idem, Códice 1488, fls. 17 e 25.
[3]- Idem, Códice 1478, fls. 26, Reunião de 15/8/1803.
[4]- Idem, Ibid, Cx. 124, Doc. 42, Carta de 20/9/1808 e Códice 1478, fls. 208 e segts.. Ver Carta nº 401, de 10/11/1808 (Cx. 125, Doc. 14) e Carta de 4/12/1808, em que o Cap. Gen. comunica a Lisboa os estragos feitos pelos Sakalava (Cx. 125, Doc. 23). Nesta povoação, sita junto a uma lagoa do mesmo nome, a sul da baía de Pemba, queimaram uma barquinha do baneane Gapalgi, que depois de preso, se escapou. Por este tempo também surgiu a falsa notícia do ataque ao Mossuril pela parte de Condúcia, com grande poder de gente e embarcações, que teriam sido completamente destroçadas por 2 navios portugueses.
[5]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Carta nº 401, de 10/11/1808, também no Códice 1478, fls. 210.
[6]- Propriedade de Manuel Onofre Pantoja.
[7]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Carta nº 414, cit., fls. 213 do Códice 1478.
[8]- Para mais informações sobre ao ataques a esta costa norte de Moçambique consular Cap.X, da minha tese de doutoramento: As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado :
Fig.IV. Ruínas da Igreja de N.S. do Rosário. 1970-Crédito: Carlos Bento
Fig. V- Sepultura de Caetano Júdice. 1970-Crédito: Carlos Bento
CAPELA DE SANTO ANTÓNIO, DA ILHA DE QUERIMBA
Esta capela, levantada junto ao mar, a menos de 2 quilómetros da igreja de Nossa Senhora do Rosário, foi mandada construir, em 1593, por Frei João dos Santos. Dela ainda se encontravam, em 1974, algumas paredes de pé, embora em franca ruína[1].(Fig,VI )
[1]- Tanto as ruínas da igreja de Nossa Senhora do Rosário como desta capela encontram-se referenciadas na Carta Corográfica de Palma Velho, citada no Capítulo I.

Fig.VI- Ruínas da Capela de Stº António. 1970-Crédito: Carlos Bento
IGREJA DE SÃO LUIS GONZAGA, NA ILHA DE QUERIMBA
De acordo com informações fornecidas pelo padre Constantino Gerards coube a D. António Barroso restaurar, em 1892, a paróquia da ilha de Querimba, sob o título São Luís Gonzaga.
Construída à custa dos moradores católicos da ilha do Ibo, a sua primeira pedra foi lançada em 16 de Fevereiro de 1893 e, a nova igreja, benzida em 21 de Junho de 1896.
Esta segunda paróquia de Querimba não alcançou os frutos desejados por falta de fiéis. Eis algumas das razões, segundo o Pe Gerards:
“ Em 1900 veio o governador da prelazia fazer a visita pastoral. No registo das visitas pastorais escreveu: “ ... para se ver o estado de desolação a que chegou esta freguesia, basta dizer-se que, sendo este dia domingo, celebrou o pároco missa às 7 horas da manhã e eu às 8, sem que assistissem mais que o sacristão ... . Nesta ilha só há maometanos asiáticos e pretos sem adeptos ... .”
... . O pároco de Querimba escreveu em 1913: ... a meia dúzia(pouco Mais) de bons católocos que há aqui ... “
“ Em 1923 escreveu o pároco do Ibo, encarregado também da paróquia de Querimba: ... hoje não há gente católica em Querimba ... .”[1]
Em 1969, encontrei o edifício da antiga paróquia em mau estado, que, depois, tornei útil, preparando para ser uma escola.(Fig. XI)
[1]- Algumas Datas e Factos Acerca das Ilhas de Querimba... .p. 5 e 6.

Fig. VII- Edifício em 1969 Edifício em 1972
Pesquisa e texto de: Carlos Lopes Bento, antropólogo e prof. universitário.
CAPELA/IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA, DA ILHA DO IBO
Pedro Resende[1] forneceu a indicação da existência, em 1631, de uma igreja e de um frade na ilha do Ibo. Recorde-se que, por vezes, as armadas que iam para a Índia invernavam nesta ilha e que na 1ª década do século XVII, nela permaneceu um vice-rei da Índia, o que justificava a existência de um templo religioso. Após esta data, apenas depois de fundada a vila do Ibo, voltaram a aparecer informações acerca da capela na dita ilha.
Em 1766, o Capitão General informava as autoridades do Reino de que o 1º Governador e Capitão-Mor, Alberto Caetano Júdice, entre as várias obras realizadas, em 1764, construíra uma pequena igreja[2], que, no ano seguinte, na Descrição Geral de todas as Igrejas, assim paroquiais e conventuais, como capelas curadas da capital de Moçambique e suas conquistas, surgia com a denominação de Capela de São João Baptista e a indicação de que havia sido, novamente, fundada no Ibo.
Esta capela funcionava como capela militar[3], servindo de apoio à guarnição militar até à construção da fortaleza de São João Baptista (1789-1794).
Entre 1796 e 1798[4] foram feitos vários enterramentos na capela do Ibo debaixo do coro, junto aos bancos, de acordo com o status social que cada defunto tivera enquanto vivo. Era a afirmação social dos familiares vivos com a ajuda dos seus mortos.
Para acabar com os danos que tal prática acarretava para a saúde pública, a carta régia de 14/1/1801[5] proibia o enterramento de cadáveres em templos e igrejas, logo que para o efeito fossem construídos cemitérios. Em cumprimento desta disposição real mandava-se levantar um cemitério na ilha do Ibo.
O Governador[6] achava a providência de grande utilidade para as Ilhas em virtude dos templos existentes serem pequenos e existirem apenas dois onde se costumava fazer enterramentos. Afim de obviar este inconveniente e cumprir aquela disposição legal, propunha a construção de dois cemitérios, um no Ibo e outro na Querimba, em pedra e cal e não de madeira, material que exigia reparações anuais e permitia a entrada de animais nocturnos. Perguntava, ao mesmo tempo, quem suportaria as despesas com os materiais, que seriam de elevados montantes.
A resposta do Capitão General[7] era negativa ao determinar que os cemitérios deveriam fazer-se de madeira, o mais rapidamente possível e de maneira a evitar a entrada neles de animais. Por se tratar uma obra de interesse e benefício públicos caberia aos moradores contribuir com materiais e mão-de-obra escrava, uma vez que não haver cabimento para despesas extraordinárias.
Solicitava, ainda, aquela autoridade o envio de dados estatísticos anuais sobre o número de católicos que morriam e se enterravam nas igrejas e se havia probabilidades de aumentar o número de cadáveres de modo a poder "infeccionar os ares e causar epidemias, como acontece nas cidades populosas".
Desconhece-se se tais obras foram ou não concretizadas. Mas a construção de um pequeno cemitério, em 1846, junto à igreja do Ibo, dedicada a São João, pode levar a concluir pela negativa.
Em 1816, com o ataque dos Sakalava, em 21 de Outubro, a capela do Ibo ficou reduzida a cinzas[8]. Depois desta data terá sido aumentada, passando a designar-se por igreja de São João Baptista.

Fig. VIII- Igreja de São João Baptista com cemitério anexo
Crédito: Carlos Bento. 1971
Os enterramentos tiveram lugar, primeiro, no interior da capela, depois na igreja e posteriormente naquele pequeno cemitério, ainda existente em 1974. No último quartel do século XIX, mais precisamente em 1889, foi erigido o cemitério de Munaua para cristãos e não cristãos[9] ( Fig. ) e na sua capela foi benzida em 1892 a imagem do Santo Africano Benedito, pintado de preto (Fig. ). Um caso típico de sincretismo religioso. A igreja de São João Baptista, com muitas alterações na traça, com um recheio de grande valor artístico, constituiria, até 1974, um ex-libris da Vila (Fig. )[10].
Também na "capela militar da capital do Ibo" foi, por provisão de 14/3/1782[11], erigida uma Irmandade do Senhor Santíssimo Sacramento, com um fundo de 600 cruzados. O respectivo compromisso composto por 13 capítulos tem a data de 24/8/1781[12]. O corpo da mesa compunha-se de: 1 presidente, 1 padre (capelão militar ou vigário), 1 procurador, 1 escrivão, 1 tesoureiro e 6 irmãos, que serviriam durante um ano com pureza de coração, zelo e piedade cristã, obrigando-se a abolir todo o capricho e intriga particulares.
A clivagem social também se fazia sentir no seio desta Confraria. A presidência e cargos mais importantes eram desempenhados pelos moradores- filhos do Ibo- que detinham mais poder e prestígio na terra (juiz, vereadores, feitor, oficiais)[13], diferenciação social também presente na morte. Os irmãos e irmãs que falecessem tinham direito a ser acompanhadas desde a porta da sua casa até à sepultura, com opas e tocheiros: presidente 10 tocheiros; procurador, escrivão e tesoureiro 6; e irmãos 4. Nas missas a mandar rezar o presidente tinha direito a 10 e os restantes irmãos a 5[14].
Nos primeiros anos de 1970, a Igreja de São João Baptista, tanto interior como exterior, encontrava-se bem conservada.
CAPELA MILITAR DE SÃO JOÃO BAPTISTA, DA ILHA DO IBO
Fica situada no interior da Fortaleza de São João Baptista. Em 1795, foi aí colocada a imagem daquele Santo[15] e, devidamente, ornamentada com: 1 crucifixo; 1 cálice de prata dourada com pé de estanho; 1 colherinha de prata; 1 patena de prata dourada; 1 missal dourado; 1 pedra d'ara; 2 castiçais de latão, pequenos; 1 caldeirinha com o seu isopo de cobre branco; 2 frontais de damasceno branco e encarnado; entre outros[16].

Fig. IX- Capela de São João Baptista
CAPELA DE FAMÍLIA NA ILHA DO IBO
A prosperidade socioeconómica atingida por algumas famílias da vila do Ibo, como resultado do próspero e clandestino comércio, designadamente, de escravos, permitiu, como modo de mostrar o seu elevado status social, a construção de alguns monumentos religiosos singulares, como capelas e cemitérios de família.
Das capelas chegaram até ao terceiro quartel do século XX aa ruínas de uma capela de família, pertença da família Figueiredo, de origem goesa, local onde foram sepultados alguns dos seus membros.

Fig. X- Capela de família nos subúrbios da Vila
Dos cemitérios de família, em maior número, darei conta mais adiante.
CAPELA DE SÃO MIGUEL, NA ILHA DE MATEMO
Desconhece-se a data da sua fundação, mas em 1796 ainda estava funcional pois nela foi enterrado "um crioulo de Diogo Miguel de Meneses"
[17]. Serviria, especialmente, a família Meneses, a mais prestigiada família da Matemo, de descendência indo-portuguesa.
Nas caminhadas que fez através da ilha, o autor deste trabalho, não viu nem ouviu qualquer referência à localização desta capela. Possivelmente estaria instalada no seu centro norte onde as condições de solos permitem o povoamento. Apenas encontrou, junto da ponta NE, ruínas de alvenaria, que os moradores diziam ser de uma antiga mesquita. Apenas futuras investigações poderão trazer novos dados para esclarecer o assunto.

Fig. XI- Ruínas de capela ou mesquita?
Crédito: Carlos Bento. 1972
CAPELA DE SÃO DOMINGOS, NA ILHA DE MACALOÉ
Segundo informação prestada pelo Padre Sebastião da Cunha que informa ter nela existido a capela de São Domingos, nada mais existe que permita conhecer em concreto a sua fundação e desactivação.
Em 1634, António Bocarro indicava pertencer a Mateus Delgado, que fez nela uma casa assobradada que servia de forte.
As últimas indicações sobre o povoamento da ilha são de 1744 e mesmo nesta data o número de habitantes era insignificante, pois, o foreiro e seus colonos viviam, nas terras firmes, em Pangane e Ongué, mais propícias à actividade agrícola e ao comércio.
O incremento das trocas comerciais, a partir do 2º quartel do século XVIII, a ilha deixaria, de todo, de ser funcional para a actividade comercial e de perder toda a importância como baluarte defensivo e passaria apenas a servir de refúgio aos comerciantes franceses e suaílis(mouros da costa).
É de admitir, pois, que a Capela de São Domingos fosse construída primeiro na ilha e depois transferida para as terras firmes, provavelmente, para a povoação de Pangane, local da nova residência dos foreiros do prazo que manteve sempre, enquanto existiu, a denominação de "Macaloé e sua morimas".
IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, DA ILHA DE AMISA
A sua instalação na ilha de Amisa deve ter tido lugar logo após a chegada dos frades dominicanos às Ilhas. Foi paróquia até 1815, data em que anexada à paróquia da Querimba.
O seu estado de conservação era, em 1753
[18], muito precário, afirmando-se estar descoberta e paredes arruinadas.
Em 1766, entre as necessidades consideradas prementes, estavam o terrado da igreja e a construção de uma cisterna junto dela[19] para fornecer água aos militares do destacamento, sempre muito carente dela e também passando fome por não terem um coxe para poderem passar às terras firmes e aí comprarem mantimentos. Até àquele ano a vida decorria sem grandes sobressaltos na Amisa e sua circunscrição religiosa:
Paroquiavam nesta freguesia Religiosos da Sagrada Ordem dos Pregadores e vendo as contínuas desordens e vários absolutos que experimentavam daquele povo mais cafreal, ainda quando habitavam homens de chapéu, desistiram da dita e entraram os clérigos seculares e só foram dois, que pouco tempo residiram nela. Nesta ainda habitavam seguros na ilha de Amisa, a igreja e as casas paroquiais eram de pedra e cal, persistia nela o comandante e um destacamento militar e todo o povo vivia obediente e sujeito aos seus superiores[20].
No entanto, um acontecimento à primeira vista banal, verificado, nos princípios daquele ano, viria a alterar, profundamente, a vida religiosa dos cristãos da freguesia da Amisa.
Depois de ter naufragado na ilha Longa, em 7/3/1766 e de dar à costa, uma pala de Damão foi saqueada pelos moradores da Amisa. Para castigar esta rebeldia e recuperar o material roubado foi organizada, a partir do Ibo, uma expedição militar, comandada pelo mestre de campo João de Morais, que provocou a fuga dos moradores, que se dispersaram pelo mato, ficando assim arruinados e a terra devoluta.
Face a este evento agregava-se a paróquia da Amisa, à capelania do Ibo, passando o seu pároco a residir na capital dos territórios de Cabo Delgado, pelo que ficou a ilha deserta, a igreja e as casas destruídas[21] e pelo decurso do tempo, tudo veio abaixo, restando as paredes em parte.
Para ajudar a cristandade moradora na parte continental ou terras firmes transferiu-se o templo para as terras firmes. Uma rápida solução, predominantemente, prática, surgiria:
Fabricou-se na terra firme uma pequena barraca de 5 braças de comprido por 2,5 de largo, de madeira, coberta de palha, sem sacristia e cómodo algum e nela está colocada a Imagem de Nossa Senhora do Rosário. Toda comida de muxém no único altar feito de mataca e este também inclinado para uma parte, sem pias baptismal e de água benta. Os ornamentos todos velhos e indecentes, não há razões nem preparos para administrar o sacramento da eucaristia; sem cipio e o pequeno que há está quebrado, não podendo os moradores pela sua pobreza pôr cobro a tudo isto. Não há rendimento da fábrica por que quase todos os que falecem serem enterrados nos cemitérios a este fim erigidos pela dificultosa condução para a Igreja pela distância das suas moradias[22].
Procuravam, em 1781, ainda subterfúgios para enterrarem os defuntos na Igreja[23].
Desta foi roubada, em 1796, uma imagem grande de Nossa Senhora do Rosário supõe-se, por uma tripulação de mouros da costa, que, durante o dia, haviam pedido para entrar na igreja, para conhecerem os seus Santos.
Aconselhava-se, então, para evitar casos semelhantes e sempre que as paróquias não tivessem vigários, a utilização de altares portáteis para assim "não ficarem as imagens sagradas expostas entre bárbaros numa Igreja que, segundo o Capitão José Amado da Cunha viu, é uma intemba com chave de pau ..."[24].
De Moçambique recomendava-se que fossem feitas todas as possíveis diligências para descobrir e segurar o delinquente causador do malefício, ao mesmo tempo que se informava que o vigário da vara iria tomar as providências necessárias para resolver o problema do mau estado da Igreja[25].
Nos princípios de 1797 a imagem ainda andava por mãos alheias, mas algumas esperanças ainda pairavam na mente do Governador: esperava que sendo os roubadores de Quiloa ou Zanzibar a imagem seria restituída[26].
Desconhece-se o resultado final deste caso. Mas tudo leva a crer que jamais tenha sido devolvida a imagem desaparecida. Tempos difíceis que se adivinhavam exigiam outras preocupações: as invasões dos Sakalava, no início do século XIX, que iriam prolongar-se até 1817.
Em 1818, entre as 16 paróquias e 10 coadjutorias da Prelazia de Moçambique, contava-se as paróquias de Querimba e da Amisa e respectivas coadjutorias[27].
CAPELA DE SANTO ANTÓNIO, DE MULÚRI
Na povoação de Mulúri, que fica situada nas terras firmes, fronteiriças à ilha de Amisa, passou a estar sediado o pelotão destacado na parte mais norte do território, antes instalado na própria ilha.
É de admitir que a citada construção provisória da Igreja se situasse em local próximo da capela de Santo António, já, então, existente e destinada a servir os cristãos moradores nas terras firmes.
Estas e outras dúvidas levantadas, anteriormente, só poderão ser esclarecidas em futuras investigações.
Nas terras firmes não foram erigidos mais do que dois templos e mesmo estes de pequena dimensão: um a Sul, em Arimba, outro a Norte, em Mulúri, aliás, em terras muito povoadas, agricolamente ricas e próximas de rotas comerciais. Enquanto em ilhas foram edificadas 3 igrejas e 5 capelas. Era nelas que se concentrava a população cristã de todos os estratos sociais, locais ideais para se sobreviver com escassos recursos financeiros e humanos e diminutas forças militares.
Desconhece se ainda existem vestígios desta capela e respectivo cemitério, em princípio no seu interior onde era costume enterrar os defuntos das famílias mais ilustres da área.
IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, EM MOCÍMBOA DA PRAIA(SEC. XIX)
A geografia dos templos religiosos, que serviriam de lugares de culto aos cristãos das Ilhas, vem mais uma vez confirmar a importância geo-estratégica das diversas ilhas do arquipélago das Quirimbas nos processos de colonização e de aculturação.
Para além destes templos cristãos existiam na Ilha do Ibo várias mesquitas que serviam os moradores que professavam a religião islâmica, predominante, a partir do primeiro quartel do século XIX, devido aos ataques dos Sakalava e ao abandono das Ilhas, por parte de muitos católicos.
À descrição anterior, das principais igrejas e capelas construídas nas Ilhas de Quirimba e terras adjacentes, segue-se a inventariação dos cemitérios dos vários credos religiosos, que, por falta de informação, fica limitada à ilha do Ibo.
[1]- Livro do Estado da Índia ..., cit., p. 440.
[2]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 27, Docs. 134 e 138, Carta de 19/8/1767, cit..
[3]- Idem, Ibid, Cx. 57, Doc. 31, Carta de 14/4/1789, do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas.
[4]- Idem, Códice 1488, fls. 5v e 6, Receita do Vigário, cit..
[5]- Idem, Doc. Av. Moç., Cx. 92, Doc. 81 e Códice 1478, fls. 175v a 176v, Carta de 23/2/1802, do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas.
[6]- Idem, Códice 1478, fls. 176v, Carta nº 299, de 23/3/1802, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[7]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 93, Doc. 46 e Códice 1478, fls. 178, Carta de 21/5/1802.
[8]- Idem, Códice 1478, fls. 248, Carta de 4/12/1816, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. Em algumas datas ...,o Padre Gerards, p. 3, refere ter a Igreja ter sofrido, no século XIX, muitas mudanças e reparações.
[9]- Depois dos meados do século XIX, como prova de afirmação social, surgiam na ilha uma capela (Fig.59)e vários cemitérios de família, que ainda existiam, embora inactivos, em 1974. Na dita capela, apenas com as paredes e sem telhado, encontravam-se algumas sepulturas dos seus proprietários e familiares. Dizia o povo que com elas haviam sido sepultados escravos jovens. Na ilha do Ibo também se encontravam cemitérios de outros credos religiosos (Figs.61,62 e 63), nomeadamente um crematório. Encontravam-se também algumas campas de chineses, que no século passado, vieram apanhar holutúrias (makojojo) que depois de preparadas exportavam para o seu País.
[10]- No interior desta Igreja encontram-se mais de uma dezena de epitáfios, com datas compreendidas entre 1850 e 1897.
[11]- A.H.U., Códice 1486, fls. 86, Carta de 20/5/1782.
[12]- Idem, Ibid, fls. 73. As actas estão registadas neste Códice entre 20/5/1782 e 12/11/1848.
[13]- Entre os tesoureiros indicam-se Nicolau Luís da Graça, Manuel António Carrilho, António Frazão, António Fernandes (Códice 1487, fls. 6, 7, 8 e 11). O Inventário dos ornamentos e objectos da Confraria encontramo-lo no Códice 1488, fls. 99v, datado de 10/2/1846.
[14]- Em 1893 não existia no Ibo qualquer Confraria religiosa, estando as despesas do culto a cargo da Câmara Municipal (SOUSA, Rosário, op. cit., p. 705).
[15]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 72, Doc. 91, Carta de 20/12/1795, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. Segundo CUNHA, Sebastião, op. cit., p. 21, esta capela foi benzida em 23/11/1795 e ficou subordinada à Igreja de Querimba.
[16]- Idem, Códice 1478, fls. 65 e 65v, Carta de 24/12/1795, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[17]- A.H.U., Códice 1478, fls. 4-6, Relação de Receitas de 1796 a 1798, cit..
[18]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 9, Doc. 3, Carta de 20/12/1753, cit..
[19]- Idem, Ibid, Cx. 26, Doc. 95, Carta de 26/6/1766, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen., mandada de Bringano, residência do mestre de campo João de Morais.
[20]- Idem, Ibid, Cx. 35, Doc. 17, Representação de Janeiro de 1781, do vigário da Amisa Padre Francisco José de Azevedo e Carta de 25/9/1781 (Cx. 37, Doc. 26), do Governador Eclesiástico de Moçambique para o Reino.
[21]- Palma Velho na sua Carta Corográfica localiza ruínas e um poço na ponta ocidental da ilha.
[22]- Representação, cit., fls. 1v. Em 1811 o Cap. Gen. informava o Reino (Cx. 135, Doc. 30, Carta de 16/1) que algumas Igrejas de Moçambique se achavam indecentíssimas, cobertas de palha e indignas de se celebrar a Missa.
[23]- Idem, Ibid, Cx. 38, Doc. 8, Carta de 24/9/1781, cit..
[24]- Idem, Ibid, Cx. 75, Doc. 48, Carta nº 178, de 25/9/1796, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. Do Capitão referido falou-se ao abordar-se a Cartografia.
[25]- Idem, Ibid, Cx. 76, Doc. 61, Carta de 7/12/1796, do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas.
[26]- Idem, Ibid, Cx. 77, Doc. 20, Carta nº 206, de 19/1/1797, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[27]- Idem, Ibid, Cx. 75, Doc. 48, Carta de 13/9/1818, cit..

6/22/11

MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL - A ILUMINAÇÃO PÚBLICA NA ILHA IBO, DESDE 1884

PARABÉNS ILHA DO IBO - SALVÉ 24 DE JUNHO !

A vila de Ibo foi fundada em 1761, sendo uma das primeiras primeira capitais de Cabo Delgado. O seu auge posterior esteve relacionado com o comércio esclavagista. Com a sua abolição começa o lento declínio económico que se consuma politiciamente com a transferência das últimas repartições da administração de Cabo Delgado para Pemba (então Porto Amélia) em 1929. A ilha tem 10 km de comprimento por cinco de largura e está quase totalmente urbanizada, localizando-se aí a vila do Ibo, sede do distrito do mesmo nome. Encontra-se dentro do Parque Nacional das Quirimbas. (Fontes Dr. Carlos Lopes Bento* e Wikipédia)
Neste 24 de Junho, passa-se mais um aniversário da histórica Vila do Ibo.

  • *Carlos Lopes Bento - A primeira capital de Cabo Delgado foi na ilha de Querimba, onde podemos encontrar as ruinas de monumentos religiosos do século XVI ou até, possivelmente, na ilha de Amisa.
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Link's para "Ilha do Ibo":
Ilhas de Querimba (blog do Dr. Carlos Lopes Bento)
Pesquisa de trabalhos sobra a Ilha do Ibo no blogue ForEver PEMBA
Algumas imagens publicadas na net sobre a bela e histórica Ilha do IBO
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MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL
A ILUMINAÇÃO PÚBLICA NA ILHA IBO, DESDE 1884
ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO
Trabalho de autoria do Dr. Carlos Lopes Bento elaborado em especial para o dia 24 de Junho de 2011- Aniversário da histórica Ilha do Ibo.
(Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
A ILUMINAÇÃO PÚBLICA NA ILHA IBO, DESDE 1884

8/23/06

FORTIFICAÇÕES MILITARES DA ILHA DO IBO.

Pelo interesse cultural, histórico, pelo valor intelectual do autor e porque faz parte de Cabo Delgado, transcrevo:

FORTIFICAÇÕES MILITARES DA ILHA DO IBO

FORTIM DE SÃO JOSÉ DO IBO
Por Carlos Lopes Bento - Administrador do concelho do Ibo, entre 1969 e 1972, doutor em Ciências Sociais pelo ISCSP da UTL e Prof. Universitário.
O principal objectivo deste trabalho é, por um lado, dar a conhecer as Fortificações Militares construídas, na era colonial, pelos Portugueses na ilha do Ibo, uma das históricas e edílicas ilhas do arquipélago das Quirimbas(Fig. I), e, por outro, divulgar as principais fontes documentais primárias consultadas, para que se possa rectificar algumas inexactidões nas informações históricas trazidas a público sobre a mesma temática.
Fig. I- Situação geográfica das Ilhas Quirimbas e das Fortificações do Ibo.(Clique na imagem para ampliar)
Ganhará com tal divulgação não só a comunidade científica como também o turismo desta paradisíaca região costeira moçambicana.

FORTIM DE SÃO JOSÉ DO IBO
Por ser a que melhor condições defensivas parecia oferecer, entre as várias ilhas do arquipélago das Quirimbas ou de Cabo Delgado, foi na ilha do Ibo que foram construídos, pelas autoridades portuguesas, os três principais fortes militares: Fortim de S. José, Fortaleza de S. João Baptista e Forte de Santo António, que foram colocados de forma estratégica, de modo a defendê-la, ficando cada um deles sedeado nos vértices de um triângulo que continha a Vila no seu interior.
Fig II: 1 Fortaleza; 2 Fortim; 3 Forte
Crédito: Carlos Bento. 1971 - Clique na imagem para ampliar.
As autoridades coloniais portuguesas de Moçambique e da Índia, a partir do primeiro quartel do século XVIII, face ao constante aumento de interesse dos Franceses e Ingleses por Moçambique[1], excelente território para o fornecimento, em condições vantajosas, de escravos, começaram a preocupar-se, seriamente, com as Ilhas de Querimba/Quirimba/Kirimba e com a sua defesa, uma vez que estava em jogo a segurança da capital da Capitania Geral, sedeada na ilha de Moçambique, e demais portos da sua jurisdição.
Com o acelerado desenvolvimento do tráfico de escravos e consequente aumento do comércio clandestino, as autoridades locais, sem meios de acção, foram perdendo prestígio e capacidade para gerir uma situação cada vez mais complexa e difícil de controlar.
As Ilhas que, até então, tinham constituído uma eficaz e firme barreira, pelo norte, do restante território sob o domínio português, encontravam-se, nos meados daquele século XVIII, sem qualquer fortificação digna desse nome e "em tais termos que é providência grande de Deus não se ter inserido nelas alguma nação estrangeira, mui, especialmente, naquelas que ficam mais a norte, vizinhas de Cabo Delgado, por lá não residir homem branco algum e aqueles cafres serem de condição de amigos de novidade ..."[2].
Por estas razões, receava-se a perda das Ilhas e, com a sua queda, de todo o território moçambicano. Para ultrapassar esta fase crítica, o Governo da Índia fizera saber a Lisboa da conveniência de "fortificar-se alguma das Ilhas para ao menos se arvorar uma bandeira da nação, porque de não a haver, tomam os Franceses pretexto para entrar nelas"[3].
As suas condições eco-geográficas limitariam essa escolha, pois, nem todas poderiam "ser fortificadas por não haver nelas portos capazes de ancorarem navios e somente na Ilha do Ibo há uma grande baía de fundo para todo o lote de naus e junto a ela uma coroa de areia capaz de fortificação, a qual se deve erigir e por nela um capitão-mor com guarnição (...), porque doutra sorte se virão a perder e por ali entrava primeiro a ruína desta conquista toda"[4].
Reconhecia-se a importância e a necessidade urgente de uma obra de defesa, indispensável para proteger a barra do Ibo, manter o respeito dos habitantes ao seu Governador, conter "os diferentes régulos da terra firme com que avizinham, de cujo comércio dependem inteiramente as mesmas Ilhas"[5]. Mas mais do que essa obra, procurava implantar-se novos símbolos que aos olhos das populações locais, submetidas ou não, e dos estrangeiros, demonstrassem mais poder e força.
Os levantamentos topográficos prévios da área pareciam apontar para a escolha da ilha do Ibo, que era aquela que parecia oferecer melhores condições para a implantação de uma fortificação, de natureza defensiva.
Por influência moradores locais mais poderosos ou por outras razões, para as quais, por agora, não se encontram explicação, optou-se pela ilha de Matemo, que com as ilhas do Ibo e Querimba forma uma enseada e um surgidouro, sendo o mais capaz e mais seguro o situado "entre a Ilha do Ibo e a terra firme porquanto todo o fundo é limpo de pedra e consiste o fundo de areia e erva"[6].
As Instruções provenientes da ilha de Moçambique, sede do poder político colonial, não deixavam quaisquer dúvidas, ao determinarem que na parte sul da ilha de Matemo deveria ser erigida "uma fortificação no melhor terreno e paragem que achar para defender a entrada da barra", sendo suficiente que dispusesse de "uma bateria sobre o canal, que o defenda, capaz de sete ou oito canhões e algum fogo nos lados quanto baste a fazê-la defensável e com a capacidade de ter dentro dos quartéis, para água da guarnição (...) cisterna ou poço de que beba"[7].
Para as Ilhas e segundo as mesmas Instruções, foi mandado, expressamente, o Capitão Engenheiro António José de Melo com a missão de examinar:
1- O local mais vantajoso para a nova fortificação;
2- Se no mesmo local existia pedra para a construção e da qual também se pudesse fazer cal, de modo a evitar as despesas de transporte de Moçambique e, igualmente, se havia lenha perto para os fornos de cal;
3- Da existência de ostras na marinha próxima ou de pedra do mar, que localmente é designada por momba de que se faz a melhor cal, devendo na recolha de informação, para além de ver, ouvir as pessoas práticas das Ilhas e o Juiz delas;
4- O fundo existente entre os canais que separam as diferentes ilhas, elaborando um Mapa de todas elas em que esteja desenhada a fortificação projectada na ilha de Matemo, como também de toda a costa que corre até Moçambique.
Deveria ainda o mesmo oficial elaborar o orçamento das despesas previstas para pessoal, material e fretes, fornecendo indicações sobre o número de oficiais e serventes necessários e o tempo julgado indispensável para a conclusão da obra[8].
No iate que transportou às Ilhas o dito Capitão Engenheiro e os seus colaboradores, seguiriam, a fazer de lastro, "vinte pipas de cal e vinte milhares de tijolo, a maior parte quebrado" e ainda alavancas, enxadas e picaretas, destinadas a principiar a construção da fortaleza que foram dados à guarda do único português morador na ilha de Matemo[9].
Antes do início das obras, previsto para Outubro de 1753, com a ajuda de oficiais vindos de Moçambique, havia que preparar, localmente, grande quantidade de cal que seria paga a seis cruzados o moio. Os habitantes das ilhas de Matemo e da Querimba foram então convidados a manufacturar 500 moios de cal (chunambo), que seriam pagos em panos[10].
Tratava-se de uma construção dispendiosa para as débeis disponibilidades financeiras da Fazenda Real, apenas possível, com a ajuda dos foreiros e demais autoridades auxiliares, e das respectivas escravaturas.
As dificuldades financeiras porque passavam os senhores das Ilhas e algumas daquelas autoridades, especialmente, as cristãs, levou o Capitão General a estender o seu pedido de auxílio à comunidade islâmica, considerada mais obreira e próspera, mas nem sempre colaborante com os detentores do poder colonial.
Pareceu, então, ao Capitão General ser a implantação desta obra, pela protecção que poderia trazer para toda a população, uma ocasião propícia para o governador dos mouros "mostrar o seu préstimo e como empregá-lo no serviço de sua Majestade, sendo a presente a melhor que tem havido nestas Ilhas ...". Para o efeito, de Moçambique chegava um convite directo que incitava, habilmente, aquela autoridade a dar provas da sua fidelidade à coroa portuguesa "concorrendo da sua parte com tudo o que lhe ordenar (...) o Juiz (...) para que os Mouros dessas Ilhas, com o exemplo do seu Governador, concorram com os seus escravos para a factura de chunambo e ajuntamento de pedra de que se necessite"[11]. Pela ajuda a prestar, a mais alta autoridade portuguesa no território moçambicano, dava garantias de remuneração aos escravos que seriam pontual e semanalmente pagos e oferecia agradecimentos para todos os que, de algum modo, prestassem a sua colaboração.
Por o início das obras ter sido adiado, a cooperação pedida ficou suspensa, não se concretizando efectivamente no futuro. De qualquer modo, atendendo a que o forte a construir se destinava, entre outras funções, a combater o comércio de Árabes e Mouros da Costa e que estes estavam ligados por fortes laços de sangue com as populações islamizadas das Ilhas e terras firmes, essa cooperação seria sempre diminuta.
Os trabalhos topográficos e hidrográficos executados na área levaram à conclusão de que a "fortaleza deve fazer-se na ilha do Ibo porque fica mais próxima ao canal do que a de Matemo"[12], que não tem barra capaz.
A este contratempo outros se iriam somar, que seriam responsáveis pelo atraso no início das obras. Apesar de algumas facilidades, como a existência próxima de pedra, tanto para as fundações e paredes como para o fabrico de cal, as ditas obras não arrancariam pelo facto de não haver oficiais em Moçambique e os 20 recrutados em Damão e Diu[13] tardarem a chegar.
Durante este impasse tomaram-se algumas medidas orçamentais importantes, que consignaram as despesas a despender na obra às receitas resultantes de estanque do velório[14].
O atraso constatado no começo do forte viria a ser aproveitado politicamente para denegrir a acção governativa de um Capitão General[15] que era acusado e responsabilizado por algumas desordens provocadas por um mouro da ilha de Querimba, apenas possíveis por não estar construída a fortificação, que, aliás, o mesmo Capitão General achava indispensável para evitar o ingresso de navios estrangeiros nas ditas Ilhas[16]..
Mas as coisas em vez de se tornarem fáceis complicavam-se. O Conselho Ultramarino solicitava a Moçambique, em 23/5/1758, Parecer sobre as fortificações levantadas e por levantar nos portos da costa de Moçambique. Em resposta o Capitão General, no que respeitava às Ilhas de Querimba, prestava uma informação que parecia contrariar todas as expectativas até então existentes. Pura e simplesmente manifestava a opinião "de que na Ilha do Ibo, cuja barra é capaz de nela entrar toda a sorte de embarcações (...) não deve haver fortificação". Como fundamento para a sua argumentação apontava como principais causas:
· a falta de verbas para suportar as despesas necessárias e não ser possível recorrer-se a empréstimos indispensáveis para as despesas ordinárias, por não haver, baneanes ou moradores, que os possam ou queiram fazer a El-Rei de Portugal;
· a escassez de efectivos militares para a defesa de qualquer ofensiva do inimigo e a impossibilidade de ser socorrida, com êxito, de Moçambique, devido à distância e aos ventos, por vezes, contrários, levariam a sua queda, dando-se assim ao adversário uma "casa segura" à custa de erário público;
· a sua queda viria a ser a ruína do resto do território por a praça de Moçambique passar a ter por vizinho um poderoso inimigo que não se limitaria ao domínio das Ilhas mas intentaria alargá-lo a horizontes mais vastos;
· e, finalmente, a posse das Ilhas por qualquer nação europeia, representaria a perda do comércio dos Yao[17].
Como opção e em sua substituição, para segurança das Ilhas, bastaria proceder à instalação de "uma companhia com o seu capitão, condecorado com algum título", que, com a ajuda da gente da terra, teria capacidade para repelir qualquer ataque do inimigo.
As opiniões continuavam a divergir, e à tese dos que defendiam a não construção de uma fortificação, como meio de manter e conservar as Ilhas "debaixo do domínio português", juntava uma outra, segundo a qual seria suficiente, para fiscalizar o porto de desembarque, uma guarnição militar e o levantamento de "uma faxina, com parapeito de mar, de pedra, sobre o canalzinho que está na ponta da Ilha e de onde somente possam laborar 5 peças de calibre 18 e juntamente se arvorará um pau de bandeira"[18].
Mas a ideia da construção de uma obra de defesa viria a ser concretizada quando da implantação, na ilha do Ibo, da nova capital das Ilhas que teve lugar no ano de 1764.
O Governador incumbido dessa missão, Caetano Alberto Júdice[19], entre as muitas obras que mandou edificar conta-se "um forte em redentes a que se deu o nome de Santa Bárbara em que se assestou a artilharia que há nesta Vila e estava quase inútil, por se achar sobre a terra sem plataforma e em sítio onde não podia produzir o efeito que tanto é preciso e se requer do seu exercício"[20].
A vila do Ibo ficava deste modo, "com alguma defesa, assim para a entrada do rio como depois, sendo entrado pela figura como o dito forte está construído que pode jogar a sua artilharia, para uma e outra parte sem grande trabalho"[21].
Para assinalar e marcar mais rigorosamente o prestígio e a presença lusíada nestas paragens do Indico, o dito Governador "logo junto ao forte teve o honorífico trabalho e honra de arvorar a Bandeira de El-Rei Fidelíssimo de Portugal Nosso Senhor, com sua mestra de pedra e cal no extremo inferior do pau de bandeira, para segurança dele"[22], não se esquecendo da protecção dos seus defensores ao construir "em um ângulo da mestra, uma guarita, também de pedra e cal, com as suas fendas ou frestas, para abrigo e vigia da sentinela"[23].
As obras iniciadas depois de Junho de 1764 viriam a ser concluídas no mês de Dezembro desse mesmo ano.
A totalidade das obras reais realizadas foram depois inventariadas e avaliadas, tendo sido intervenientes no acto: o Governador, os oficiais da Câmara e os mestres pedreiros, e lavrado o respectivo auto[24]. Dele constam as obras e respectivos custos:
- 1 forte construído em redentes, que joga 4 peças para o mar, 4 para o rio e 2 para terra, com a sua rampa e pórtico para a entrada do forte, em que se gastaram 6 900 lajes, 125 barris de cal; com o trabalho de pedreiros e serventes, foi avaliado em 1 800 cruzados;
- 1 mestra unida ao mesmo forte para segurança do pau de bandeira, em que se gastaram 500 lajes, 25 barris de cal; com o trabalho de pedreiros e carpinteiros que prepararam o pau de bandeira, que foi avaliada em 200 cruzados;
- 1 guarita de pedra e cal construída num ângulo do forte para abrigo das sentinelas, que foi avaliada em 150 cruzados.
O total das obras foi de 2 150 cruzados, importância que parece diminuta tendo em consideração a dimensão do forte, a mão-de-obra necessária e os materiais utilizados em quantidades razoáveis, como as 7 400 lajes - que outra coisa não deviam ser do que pedra de coral, em talha -, 150 barris de cal e madeira.
Por falta de dados quanto aos quantitativos dos salários pagos e aos custos dos mesmos materiais, a explicação para tal cômputo estará, necessariamente, relacionada com as ajudas dos foreiros e moradores, tanto em géneros e prestação de serviços, como em mão-de-obra escrava. Os oficiais ganhavam 200 réis/dia e os serventes 100. Para se ter uma ideia de valor relativo da referida importância de 2 150 cruzados bastará dizer que ela equivaleria, então, ao preço de compra, nas Ilhas, de 30 escravos adultos ou a 350 moios de cal de produção local[25].
O fortim em análise, que demora a SW da Ilha, junto ao porto de cabotagem e de pesca, construído a pedra, terra e cal, mede 3,49 m de altura, tendo de parapeito 1,50 m. Estava artilhado, em 1810, com 1 peça de calibre 3, 1 de calibre 4 e 1 de calibre 6, a que se juntava mais a artilharia de campanha (incapaz), constituída por 1 peça de calibre 2 e 2 peças de calibre 3[26].
Nos meados do século XIX continuava guarnecido com 7 bocas de fogo, de ferro[27] Teve, com o decorrer do tempo, funções militares, de cadeia e de alfândega.
A informação documental recolhida é omissa quanto às razões da escolha de Santa Bárbara para designar o primeiro forte construído pelos portugueses nas Ilhas. Poder-se-ão ligar à data de finalização da obra, mês de Dezembro, que coincide com a festa em que se homenageia aquela Santa, celebrada em 4 de Dezembro ? ou terão alguma coisa a ver com o facto do Governador Caetano Alberto Júdice estar ligado à arma de artilharia[28], de que a dita Santa é protectora? ou a ambos os factos?. Para além de outras explicações que venham a ser dadas, admite-se serem os dois motivos apontados os principais responsáveis pela evocação do forte a Santa Bárbara, não pondo de parte qualquer tempestade com fortes trovoadas, surgida durante a construção que levasse ao pedido de intervenção daquela Santa.
A designação inicial dada a este forte foi efémera e não se encontra ligada a documentação emanada de Moçambique para a Corte, referindo-se a Capitania Geral na sua correspondência para Lisboa apenas a "uma fortaleza com toda a artilharia necessária" ou "um reduto com 7 peças de artilharia"[29]. Nos anos posteriores à sua construção é conhecido por "forte do Ibo", "pequeno forte ou reduto" e "antigo forte"[30] e, somente, a partir de Agosto de 1809[31] aparece a sua evocação a São José, que perdurou até aos nossos dias. Não existe, por agora, explicação para esta nova designação.
Este fortim estava inactivo, nos finais do século XVIII, pelo seu mau estado de conservação, tendo, no inverno de 1788, caído o lanço da muralha, na planta (Fig. III), representado pelas letras BG, prevendo-se a queda do lanço principal AB, voltado para o canal, no ano seguinte. Para sua reparação eram requisitados a Moçambique, em 1789, os efeitos necessários[32]. A falta de resposta a esta solicitação e a pressão constante dos Sakalava sobre a ilha do Ibo que exigia a restauração deste forte, levou o Governador a tomar medidas imediatas.

Fig.- III- Planta do fortim (Clique na imagem para ampliar)

A solução dos múltiplos problemas que, a cada momento, se colocavam às autoridades portuguesas nas Ilhas, nem sempre podia estar de acordo e aguardar as instruções e ordens provenientes das autoridades superiores, com sede na ilha de Moçambique. O seu representante face à realidade específica do território e às necessidades e interesses das populações, tinha, em momentos graves, de tomar decisões por sua conta e risco. Assim se poderá explicar o início da activação e reedificação do antigo forte sem aprovação superior e, posteriormente, a reparação de algumas das peças da sua artilharia, à qual junta 2 de calibre 1, e o restauro do pau de bandeira[33].
A incapacidade e o mau estado da fortaleza de São João Baptista, já construída, que não permitiam a resolução dos problemas levantados, pela ameaça permanente dos aguerridos Sakalava, à defesa da ilha do Ibo, capital e evitar as embarcações dos Mouros da Costa e Franceses que dominavam todo o comércio, levaram à reactivação do fortim de São José.
A importância estratégica deste forte, para a ilha do Ibo, voltaria de novo a ser destacada, reconhecida e transmitida a Moçambique desta forma: "... posto que pequeno é uma das melhores forças que ela tem para sua defesa pois está numa posição tal que embarcação alguma de Mouros fundeada neste porto pode deixar de ser ofendida pela artilharia do mesmo"[34].
Com ou sem a anuência das autoridades de Moçambique, o certo é que o fortim, já designado de São José, face aos consecutivos ataques dos Sakalava viria a sofrer algumas alterações de fundo na sua planta original. Destinado a ultrapassar os obstáculos que o envolviam, a igreja de São João Baptista e altas e intrincadas palmeiras, foi-lhe acrescentado um baluarte que ficou com a altura de mais 5 pés do que o terraplano antigo. Posteriormente, por esta alteração não se apresentar funcional para colocação da artilharia e de acordo com um "Plano do forte e baluarte", com 7 figuras, foi "mandada abaixo a sua antiga porta e puxou-se atrás (...) para ficar com praça suficiente"[35].
Sofreria algumas alterações em 1945, data em que foi restaurado e passou a ter a configuração actual.
Fig. IV- Fortim de S. José. 1971.
Crédito: Carlos Bento.(Clique na imagem para ampliar)

Em 1974, o referido forte estava bem conservado e constituía um importante monumento histórico de grande atracção turística[36][37].
[1]- C.E.H.U., LM-115-44, fls.179, Inquirição de Testemunhas iniciada a 20/5/1742 pelo Juiz das Ilhas de Cabo Delgado acerca de comércio e entrada de navios estrangeiros nas Ilhas.
[2]- A.H.U., Doc. Av. Moç. Cx. 6, Doc. 14, Carta do Cap. Gen. para o Reino, de 11/10/1745.
[3]- C.E.H.U., Idem, Carta de 14/8/1742, fls. 169 e segts., em que o Cap. Gen. expõe a Goa o problema das Ilhas de Cabo Delgado, dos Franceses e do Comércio da Conquista; Carta de 4/8/1753, do Cap. Gen. para V. Rei da Índia, Códice 1310, fls. 14v.
[4]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Carta de 10/11/1745, p. 8.
[5]- Idem, Ibid, Cx. 10, Doc. 45, Carta de 16/8/1755, em que o Cap. Gen. descreve, à Corte, a situação das fortalezas de Moçambique.
[6]- B.N., Códice 617, cit., fls. 13v. O Capitão da Fragata levava ordens expressas para fazer "certa diligência nas Ilhas de Querimba" e para esse efeito se chegaram "para elas para melhor as conhecer". É bem provável que esse reconhecimento estivesse ligado à construção da futura fortificação.
[7]- A.H.U., Códice 1310, que contém as Instruções para o Levantamento da Fortaleza da Matemo, de 21/7/1753, dadas ao Cap. Engº António José de Melo, fls. 6, e Carta de 22/7/1753, do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas.
[8]- A.H.U., Códice 1310, p. 7.
[9]- Idem, Ibid, Cartas de 22 e 23/7/1753, do Cap. Gen. para Cap. das Ilhas, fls. 2 e Lista da Carregação que vai para as Ilhas no Hyate S. Anna e S. Francisco de Paula, fls. 3. Recorda-se que este iate ia às Ilhas comprar escravos por conta da Fazenda real em troca de fazendas, com os quais regressaria, levando no lastro cauri ou pedra.
[10]- Idem, Ibid, Carta de 22/7/1753. Os panos valiam 400 réis cada.
[11]- A.H.U., Códice 1310, Carta de 22/7/1753, fls. 8, dirigida pelo Cap. Gen. ao Governador dos Mouros, que era, então, Falume Juma.
[12]- Idem, Doc. Av. Moç. Cx. 8, Doc. 41, Carta de 20/11/1753, do Cap. Gen. para a Corte. Junto com esta Carta remete-se uma planta cartografada das Ilhas e uma planta onde está desenhada a Fortificação a fazer no Ibo, que não se encontrou; Ver também Cartas de 21/11/1753, Cx. 8, Doc. 44 e de 27/12/1753, Cx. 9, Doc. 18.
[13]- Idem, Códice 1310, Carta do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas, de 23/5/1754; Doc. Av. Moç., Cx. 10, Doc. 30, Carta de 17/11/1754, do Cap. Gen. para o Reino, que volta a informar ter no ano de 1753 sido enviada a planta da fortaleza a construir no Ibo.
[14]- Idem, Doc. Av. Moç., Cx. 12, Doc. 28, Carta de 10/8/1756, do Cap. Gen. para o Reino; e Arquivos das Colónias, Vol. III, fls. 161. O monopólio ou estanque do velório ou missanga foi extinto pela Lei de 7/5/1761. Códice 1310, fls. 72v.
[15]- A.H.U., Doc. Av. Moç. Cx. 13, Doc. 22, Carta de 23/7/1757, dirigida pelo Brigadeiro David Marques Pereira, acusador, ao Marquês de Pombal. O acusado era o Gen. Francisco de Melo e Castro.
[16]- Idem, Ibid, Cx. 13, Doc. 30, Carta para a Corte datada de 2/8/1757.
[17]- Idem, Ibid, Cx. 15, Doc. 63, Carta de 30/12/1758,cit . do Cap. Gen. para Lisboa e também no Arquivo das Colónias, Vol. IV, 1919, fls. 76 e 77. O Parecer do Cap. Gen. mereceu a concordância de El-Rei de Portugal (Carta de 13/8/1760, do Cap. Gen. para Cap. das Ilhas, Cx. 18, Doc. 56).
[18]- Idem, Doc. Av. Moç., Cx. 24, Doc. 23, Carta de 12/1/1764, do oficial comandante do Destacamento Militar do Ibo para Moçambique.
[19] - Faleceu nas Ilhas e foi sepultado na igreja de N.S do Rosário, na ilha de Querimba. Em 1972 ainda existia a lápide tumular dando conta do facto.
[20]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 24, Doc. 84, Certidão de 20/12/1764, em que os vereadores da Câmara da nova Vila de São João do Ibo e os moradores cristãos mais notáveis atestavam, com juramento dos Santos Evangelhos, a acção e as obras levantadas na Vila pelo Governador Caetano Alberto Júdice desde a sua chegada, que, como foi referido, teve lugar a 16 de Junho de 1764.
[21]- Idem, Ibid, fls. 1 e 1v.
[22]- Idem, Ibid, fls. 1v. Até esta data segundo indicação do dito Governador não havia Bandeira Real nas Ilhas (Cx. 25, Doc. 73, Carta de 11/11/1765).
[23]- Idem, Ibid, fls 1v.
[24]- Idem, Ibid, Cx. 25, Doc. 6, Auto de Avaliação de 20/2/1765 e Cx. 28, Doc. 43, Requerimento de 18/4/1768, do Governador e Cap.-Mor em que se pede para ser atestada a sua boa conduta e acção nas Ilhas.
[25]-Idem, Ibid, Cx. 24, Doc. 3, Carta de 25/1/1764, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. Este em 1753 oferecia aos moradores da Querimba e Matemo, 6 cruzados por cada moio de cal que fabricassem (Carta de 22/7/1753, cit.).
[26]- Idem, Ibid, Cx. 133, Doc. 84, Carta nº 440, de 31/7/1810, do Cap. Ilhas para Moç..
[27]- ROMERO, op. cit., p. 10 e VILHENA, E., Relatórios ..., cit., p. 212. Para mais pormenores ver: MENESES, José Guedes de Carvalho, Relatório do Governador- Geral de Moçambique de 1875. Lisboa, I.N., 1878, p. 177, onde se dá "Notícia acerca dos Edifícios e Obras Públicas no Distrito de Cabo Delgado".
[28]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 24, Doc. 84. Na certidão da folha de serviços do referido Governador, datada de 2/11/1777, consta que durante 8 meses e 26 dias serviu a ocupação de posto de sargento-mor e comandante do Corpo de Artilharia da Praça de Moçambique. Este oficial e António José de Melo, que já se referiu atrás, eram "chamados engenheiros" (Códice 1322, fls. 267).
[29]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 26, Doc. 80, Carta de 20/8/1766 e Códice 1321, fls. 92; e B.N., Cx. 12, nº 29, Carta de 28/8/1768.
[30]- Idem, Ibid, Cx. 121, Doc. 105, Carta nº 381, de 26/2/1807, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen., em que se refere ainda ao "antigo forte".
[31]- Idem, Códice 1478, Carta de 26/8/1809, fls. 221, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[32]- Idem, Ibid, Cx. 57, Doc. 16, Carta nº 6, de 20/2/1789, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[33]- Idem, Ibid, Cx.131, Dou. 63, Carta nº 404, de 15/2/1810 e Códice 1478, Cartas nas 410, de 15/2/1810, fls. 223, também no Doc.Av.Moç, Cx. 131, Doc. 64, de 19/2/1810, fls. 224, ambas do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[34]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 121, Doc. 105, Carta nº 381, de 26/2/1807, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[35]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 140, Doc. 47, Carta nº 493, de 29/5/1812, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. O referido Plano e Figuras não foram encontradas. Indica-se nesta carta as dimensões do forte: 48 pés de comprido, por 25 de largura.
[36] - A Bibliografia será publicada quando se tratar do Forte de S. António.
[37]- Deixo aqui uma palavra de gratidão e de amizade ao meu amigo Jaime Luís Gabão responsável pela apresentação gráfica deste trabalho e publicação no seu espaço nético.
Mais trabalhos de Carlos Lopes Bento aqui: http://br.geocities.com/quirimbaspemba/