2/09/07

Pesquisas sísmicas no parque das Quirimbas ????


Realização de pesquisa de hidrocarbonetos no parque das Quirimbas.
Por temerem pela destruição de mais de 70 diferentes espécies de peixe e mangais, tartarugas marinhas e dugongos, as organizações ambientalistas moçambicana Impacto e sul-africana Mark Wood estão a desaconselhar a efectivação de pesquisas sísmicas visando a descoberta de hidrocarbonetos noParque Nacional das Quirimbas, na província nortenha de Cabo Delgado.
Os trabalhos estão para ser executados pelo consórcio moçambicano/norueguês Hydro Oil & Gás Moçambique que ganhou o concurso público internacional lançado há cerca de dois anos pelo Governo para prospecção e produção dos hidrocarbonetos nos blocos 2 e 5 da Bacia do rio Rovuma.
Previa-se que a primeira fase das pesquisas decorresse de Fevereiro corrente a Julho de 2007, segundo fonte competente do Ministério dos Recursos Minerais, ajuntando que as restantes arrancariam depois das análises da primeira, uma vez que o acordo prevê que cobrissem um período máximo de oito anos,segundo a mesma fonte, ouvida esta quarta-feira pelo Correio da Manhã.
Aquelas duas organizações de defesa do meio ambiente sustentam a sua oposição lembrando que “existeno país um dispositivo legal que proíbe a efectivação de trabalhos de prospecção sísmica do petróleo e gás natural nas zonas do uso para parques nacionais”.
Num extenso documento produzido após estudos do impacto ambiental, a Impacto e Mark Wood salientam que a prospecção do petróleo e gás natural na Bacia do Rovuma apenas deve circunscrever os blocos 2 e 5 autorizados pelo Governo e não o Parque Nacional das Quirimbas.
“A pretensão não deve ser aceite para não serem devastadas as espécies marinhas que lá existem”, sublinham aquelas organizações ambientalistas no seu documento a ser depositado dentro em breve no Ministério para Coordenação da Acção Ambiental (MICOA) após consulta pública a partir do dia 13 de Fevereiro corrente, nas cidades de Maputo e de Pemba.

Pistolas
Mas o consórcio justifica o alargamento da área a ser trabalhada dizendo que nas proximidades da ilha poderá ocorrer o petróleo e/ou o gás natural.
Aquelas espécies marinhas iriam ser destruídas pelo som a ser produzido por disparos de pistolas em uso naquele tipo de pesquisas sísmicas visando a descoberta dos hidrocarbonetos.

J. Ubisse - CORREIO DA MANHÃ - Maputo - 09.02.2007

Moçambique - A morte das florestas...VII


Carta Aberta a Hu Jintao (que está em visita a Moçambique)
Por Marcelo Mosse*

Camarada Jintao

Nos últimos anos, em Moçambique, temos estado a operar uma transição para a democracia aceite de mãos abertas por todos.
Também encetamos uma viragem para a economia liberal, a custo de muito esforço.
A democracia de Moçambique tem ainda muitos espinhos; precisa de ser melhorada.
É uma democracia mínima.
Mas a democratização tem permitido que apreendamos uma nova cultura política.
Instituições como liberdade de expressão e de imprensa e pluralismo político são como que bandeiras desse processo.
As liberdades de expressão e associação consagradas na nossa Constitução da República permitem-nos que exigamos e defendamos o respeito pelos direitos humanos.
Reconhecemos e agradecemos o apoio da China à libertação de Moçambique da dominação colonial.
Depois dessa libertação, Moçambique sofreu inúmeros desastres naturais e uma guerra fracticida de 16 anos, a qual destruíu infraestruturas básicas de educação, saúde, transportes e comunicação.
Há 15 anos iniciamos a reconstrução do Estado.
Não se tem tratado apenas de reerguer infra-estruturas; trata-se também de estabelecer novas instituições, sistemas, regras de transparência e normas de gestão de recursos naturais.
Enfim, novos valores na gestão do bem público.
O nosso Estado, camarada Jintao, está em processo de reforma, vamos dizer de modernização.
E muitos destes processos têm tido o apoio da comunidade internacional ocidental bilateral, do Banco Mundial (FMI) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Somos um país pobre, dependente, como deve saber, e precisamos desse apoio.
Somos pobres, mas não somos cegos; e gostamos de nós!!
Por isso, ao longo destes anos, criticamos os doadores ocidentais pelos aspectos negativos que a sua "cooperação" implicava; criticamos a destruição da anterior indústria do caju; o reendividamento com a "assistência técnica"; o rigor excessivo no controlo da despesa pública; as privatizações (desastrosas) impostas; as tecnologias inadequadas; a chamada "tied aid" (que a China hoje promove); as unidades de implementação de projectos; o disempowerment do Estado; os capacity buildings cíclos e ineficazes, etc.
Muito dinheiro, crédito e donativos, foram gastos nesses processos.
Podíamos estar melhor, é certo.
Não estamos.
Contudo, o país tem mudado de face; temos mais escolas, hospitais, melhores comunicações, estradas, instituições em amadurecimento, etc.
Em suma, apesar dos aspectos negativos dessa cooperação, há muitos ganhos visíveis.
No entanto, continuamos dependentes.
Camarada Jintao,
Uma das nossas grandes guerras é, pois, vencer a dependência externa.
Isso pode ser alcançado se gerirmos melhor o nosso bem público, os nossos recursos e melhorarmos os termos de troca com o estrangeiro.
Ainda persistem condicionalismos na cooperação com o ocidente, é certo, mas eles tem sido removidos através do diálogo político que se faz no âmbito do apoio orçamental que recebemos. São condicionalismos de que não nos podemos queixar: a transparência e o combate à corrupção, a independência e eficiência do judicário, a melhoria da gestão financeira do Estado, o respeito pelos direitos humanos, etc, ajudam-nos a melhorar a gestão do nosso bem público.
Nos últimos anos, a sua China tornou-se um actor de relevo na economia mundial, tendo reforçado a cooperação com África, essencialmente virada para a captação de matéria-prima.
A sua China procura em Africa não mercados para os seus produtos, mas matéria-prima, recursos naturais.
Moçambique, que também precisa da ajuda da China, é um dos vossos alvos preferenciais.
Os moçambicanos aceitam, de braços abertos, a cooperação com a China.
Ela é necessária.
Mas gostariam que essa cooperação fosse transparente, equilibrada, e que os termos de troca fossem equitativos.
Uma das nossas grandes guerras é vencer a dependência externa; não apenas a dependência ocidental.
Isso significa que a cooperação com a China não tem de ser uma cooperação de dependência e, pior, clientelar.
Não queremos transferir a dependência do ocidente para a China, queremos eliminá-la; não queremos que a Hidroelétrica de Cahora Bassa tenha um novo dono estrangeiro; não queremos que as empresas chinesas ganhem falsos concursos nas obras públicas e maltratem impunemente os nossos cidadãos; não queremos um novo ciclo de endividamento externo, principalmente quando não aplicado no sector produtivo e sobretudo quando aplicado em bens supérfluos como palácios; não queremos que cidadãos chineses entrem em Moçambique sem documentação nenhuma, quando repatriamos tanzanianos e congoleses nas mesmas condições; não queremos, sobretudo, esta delapidação sem paralelo dos nossos recursos florestais.
Não queremos ser um "Dumba-Nengue" chinês.
Ou "take away", como no passado colonial.
A China pode nos construir estádios de futebol, oferecer bolsas de estudos, erguer pontes, apoiar no combate à malária, mas essa generosidade não pode ter como moeda de troca a promoção da riqueza fácil para as nossas elites, do vandalismo ambiental, da pirataria nas obras públicas, da precarização do emprego, da desresconstrução das instituições que temos vindo a reconstruir. Por isso, gostaríamos de vê-lo a anunciar não a construção de um novo palácio presidencial, mas a deixar claro às empresas chinesas que Moçambique é um país com regras, instituições e leis (incluindo de gestão ambiental) democráticas que devem ser respeitadas.
Camarada Hu Jintao,
Somos pobres, mas gostamos de nós.
Uma das coisas que temos tentado fazer é constuir um Estado de Direito.
Isso passa pelo funcionamento pleno do nosso aparato legal, da nossa administração pública.
A China e os chineses devem respeitar isso.
Muito gostariamos de vê-lo a ordenar os seus concidadãos a terminarem o saque desenfreado aos nossos recursos.
A China não tem o direito de promover uma cooperação que, a longo prazo, vai custar caro aos moçambicanos, mais caro do que aquela cooperação que se diz condicionalizada.
Moçambique precisa do IDE chinês, precisa de acordos comerciais equilibrados, relações laborais justas e créditos concessionais para o sector produtivo.
Mas sabemos que não há almoços grátis.
E também não basta dizer que é uma cooperação sem condicionalismos, pois pior que colocar condicionalismos em cima da mesa, é encenar montanhas de caridade cujo substracto assenta numa nova relação de dependência e subordinação politica e económica, onde o nosso único papel é alimentar de recursos as empresas e a economia do seu país.

* Marcelo Mosse é Coordenador Executivo do Centro de Integridade Pública

2/08/07

PEMBA - Adiado julgamento do “caso Horizonte”.


Foi adiado para data ainda por indicar o julgamento que estava marcado para ontem do jornal “Horizonte”, sediado na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado, num processo movido pela ONG nacional UMOKAZI.
A UMOKAZI alega ter sido difamada e injuriada em artigo jornalístico publicado por aquele semanário há mais de um ano, reportando aspectos que, na sua opinião, consubstanciavam gestão danosa da associação para fins a ela estranhos.
O adiamento foi solicitado pelo advogado indicado pelo MISA-Moçambique, que justificou não ter tido tempo de melhor conhecer o processo, por ter sido constituído tardiamente, pelo que não haveria de se deslocar a Pemba, vindo da capital do país, para participar na discussão, audiência e julgamento.
O juiz de causa, Orlando Zunguze, deferiu tanto a junção aos autos da procuração que o “Horizonte” conferiu ao advogado, André Cumbe, por achá-la viável, como o adiamento com base nas alegações, devido àquilo que considerou respeito ao direito de defesa.
Maputo, Quinta-Feira, 8 de Fevereiro de 2007:: Notícias

2/07/07

DECAPITAÇÃO !



Decapitação - Quadro de autoria de Inez Andrade Paes pintado em madeira
A propósito da morte das florestas em Moçambique e em Cabo Delgado:

DECAPITAÇÃO

arrancas as folhas
que de mim se veste o homem
cortas os braços que de mim
se aquece o homem

cravas o machado no que de mim
seria o meu vestido

à catanada feres a casca que me protege e alberga o meu passado

olha homem
que no meio dos outros estás
eu choro

cortas-me o cabelo
e choro

lágrimas de seiva
turvam meu horizonte
e leio em tua ira
presságio de morte

homem que ensombras
a vida
terás tu filhos para ver a tua ira?

Inez Andrade Paes - 7 de Fevereiro de 2007
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Inez Andrade Paes, natural de Pemba - Moçambique e residente em Portugal, é também, além de poetisa de sensibilidade invulgar, artista plástica e escritora.
Alguns de seus trabalhos podem ser apreciados na net, aqui:
Gente e Olhares:
http://geocities.yahoo.com.br/arteinez/
O que os meus olhos vêm:
http://geocities.yahoo.com.br/andradepaes/inezfotos.htm
Quadros:
http://geocities.yahoo.com.br/andradepaes/arteinez.htm
Pássaros:
http://geocities.yahoo.com.br/andradepaes/passaros.htm

CACIMBO


Do "Cacimbo"- http://textocompleto.blogspot.com:80/ e em homenagem a todos os "Heróis Esquecidos" da guerra colonial em África:

Aerograma
Mueda, 10 de Março de 1972
Meu amor,
Hoje morreu o Rivelino.
Disseram que morreu.
É irremediável, mas queria falar disto a alguém.
Sabes? Quando morre alguém nós ficamos um pouco mais sós. Por isso te escrevo, um dia quando te conhecer, quando nos amarmos e quando eu precisar de dizer isto outra vez a alguém, entrego-te este aerograma, para me fazeres companhia.
Aqui onde estou, a meio mundo de ti e a meia vida de te conhecer, há uma guerra e todos os dias morre alguém, é como se deus fizesse connosco o que eu estou a fazer agora com aquelas latas de cerveja alinhadas na vedação.
Hoje a lata em que Deus acertou chama-se Rivelino e eu precisava de chorar um pouco.
Eu choro sempre que morre alguém, mesmo que morram várias pessoas por dia.
É a minha maneira de não aprender a morte; mesmo que não me apeteça chorar, choro.
É uma espécie de exercício para não me esquecer que sou humano.
De vez em quando interrompo este aerograma e dou um tiro numa lata de cerveja e não vejo que prazer pode dar isso.
É por pura curiosidade que o faço, para ver o que pode ter sentido deus quando o Rivelino morreu.
Falhei.
Não é fácil acertar numa lata de cerveja com uma G3 a esta distância.
Se aquela lata fosse o Rivelino eu hoje talvez não tivesse chorado, talvez não estivesse a escrever este aerograma e talvez não te viesse um dia a conhecer.
Mas o Rivelino morreu e eu sinto que é imperioso não deixar que isso passe em vão.
Aponto de novo a G3 e a lata de Laurentina aguarda ao longe que a minha pontaria volte a falhar.
Eu enchi as latas de areia e quando lhes acerto em cheio elas explodem.
É mais divertido assim, pensei eu, do que com uma lata vazia.
Mas quando se trata de destruição e de morte não vejo que o espectáculo divirta mais.
Será por isso que dizem que deus pôs uma alma dentro de nós, será que é para ela explodir quando morremos, para ser mais divertido?
Não faças caso.
Eu sei muito bem que não é deus que faz connosco o que eu faço com as latas de cerveja; são pessoas como eu que fazem isso, pessoas que aceitaram a missão de nos irmos abatendo uns aos outros por um motivo de que já nem sequer nos lembramos.
Quando esta guerra acabar ninguém se lembrará mais do Rivelino, então um dia, quando eu me sentir tão só como hoje e me apetecer dar tiros em latas de cerveja, eu hei-de encontrar este aerograma e dar-to-ei como se tu fosses a minha correspondente de guerra e nessa altura a solidão desvanecer-se-á um pouco.
Mas tenho que te encontrar primeiro, tenho que ir tentando pela vida fora até ter a certeza que és tu a destinatária deste aerograma.
Saberei que és tu se ao olhar-te não me apetecer chorar ninguém, como senão tivesse havido uma guerra, como se eu não tivesse feito com homens como eu, o que agora faço com as latas de cerveja.
E então sentirei um apelo enorme para te contar tudo isto, como se a música de um piano se soltasse, retinindo pérola a pérola sobre o pesado mármore do silêncio e acordasse em mim o riso e a inocência.
Se fores tu, lembraremos o Rivelino como uma criança inocente antes de lhe terem dado a missão que só é costume desculpar aos deuses e que na verdade nos transforma a todos em predadores ou em presas, em projécteis ou em alvos.
Se fores tu, terei a certeza que não aprendi a lição da morte, e este aerograma terá finalmente a sua destinatária.
Com todo o meu amor,
Manuel
© Manuel Bastos

PEMBA - Julgamento do “Horizonte” terá (?) lugar hoje.


O tribunal judicial da cidade de Pemba deverá julgar hoje, o semanário “Horizonte”, publicado na capital provincial de Cabo Delgado, no Processo 965/06, que envolve o jornal e uma Organização Não-Governamental (ONG) nacional denominada UMOKAZI, que alega ter sido difamada num artigo publicado na edição número 164, de 3 de Fevereiro de 2006, que falava da má gestão e incapacidade dos seus gestores.
A UMOKAZI pede pela difamação um valor de 12 milhões de meticais, para reparar os danos morais resultantes da publicação da referida peça jornalística, que, por outro lado, acredita tê-la deixado uma má imagem junto dos doadores e outros parceiros.
O julgamento teria lugar no dia 25 de Janeiro passado, mas o “Horizonte” pediu adiamento para que conseguisse constituir advogado, se bem que ia à audiência em desvantagem, pelo que, sem meios financeiros, muitas vezes mesmo para aguentar com a edição do próprio jornal, solicitou ajuda a diferentes pessoas e organizações, tendo encontrado acolhimento no MISA-Moçambique, capítulo nacional do Instituto de Comunicação Social da África Austral de que todos os jornalistas do periódico são membros.
Entretanto, ao fim da tarde de ontem, o “Notícias” soube que o advogado contratado pelo MISA-Moçambique, Dr. André Cumbe, disse não poder deslocar-se a Pemba para participar na audiência de discussão do julgamento marcada para hoje, por ter tomado conhecimento tardiamente da sua constituição.
Cumbe requereu já o respectivo adiamento por um período de 8 dias, para, segundo ele, melhor conhecimento dos autos, gesto que diz ser legal e justo. Este facto poderá, se o tribunal o entender, levar a mais um adiamento para 15 de Fevereiro corrente.

Maputo, Quarta-Feira, 7 de Fevereiro de 2007:: Notícias