As coisas que eu aprendo em férias. Desculpem a ignorância que para alguns possam representar estas minhas lucubrações mas, na realidade, no ócio deste Verão fingido dei-me conta de algumas evidências que desconhecia de todo. De uma forma ou de outra, já todos demos de caras com esses canais de televisão exclusivamente dedicados ao anúncio e promoção para venda directa dos mais variados produtos milagrosos e com resultados retumbantes.
Ele é pentes para carecas, unguentos para emagrecer, aparelhos para transformar as barriguinhas em corpos esculturais e por aí fora. Claro, tudo sem qualquer esforço, basta comprar a coisa. Há tempos dei-me conta também de canais do mesmo género a anunciar pacotes de férias. E, como não podia deixar de ser, para além dos preços milagrosos, logo se oferecia crédito para pagamento em prestações. Num destes dias em que o tempo, mais uma vez, não dava para trabalhar pró bronze, resolvi fazer “mappling”. É um exercício assim como o “jogging” ou “footing” só que praticado sentado no sofá. Para ajudar ao esforço, comando na mão e toca de explorar o satélite. Dei então com um canal que vende casas e apartamentos de sonho em destinos turísticos. Destinado essencialmente ao mercado inglês lá se anunciavam os belos imóveis em Creta, Chipre, Grécia, Baleares e até no Algarve. Preços exorbitantes anunciados como pechinchas mas que, tomando por base os mercados alvo, soam atractivos. A técnica de venda consiste em proporcionar uma viagem ao potencial comprador para exploração e visualização dos locais dos imóveis, viagem essa a preço incrível de saldo e, uma vez apanhado lá o incauto, prega-se-lhe com uma lavagem ao cérebro e tortura chinesa tipo venda de colchões. Os resultados parecem ser bons, até porque se o comprador não fizer nenhum negócio é logo tratado abaixo de cão e, com algum azar, abandonado à sua sorte, tendo de pagar a viagem de regresso e suportar restantes despesas. Claro, para ajudar a entusiasmar o adquirente, as imagens da tv são divinas, quase sempre digitalizadas e distorcidas, apresentando jardins e piscinas enormes que na realidade não passam de quadradinhos de relva ou tanques de água onde mal cabem duas pessoas.Atente-se que o reverso da moeda foi-me dado por casal “very british” com o qual comentei o conteúdo do canal e que também me falou de como essas televendas têm dado celeuma nas ilhas inglesas. Logo desataram num ataque às civilizações do sul e do pouco escrúpulo desses vendedores que usavam a boa fé e honestidade intrínseca dos cidadãos britânicos para depois os vigarizarem. Uns malandros estes latinos. Ou seja, a postura é a mesma a que assistimos recorrentemente cada vez que essa gente tem de qualificar os restantes povos. Eles são os melhores e os mais santinhos que andam a aguentar com a corja do mundo. Lembre-se o recente caso da pequenita raptada no Algarve e de como a comunicação social britânica tratou as autoridades portuguesas e até o nosso país. Reconheço que fiquei danado com o desplante do dito casal e da forma ligeira como generalizavam logo as suas apreciações. Por isso dediquei mais algum tempo ao tema e fui tentar saber as origens daquela empresa promotora. Como era de esperar, sede na Inglaterra, controlada por ingleses, com os serviços em Londres prestados por ingleses para ingleses. O que a promotora faz é adquirir aos empreiteiros nacionais daqueles países os direitos de comercialização a preços esmagados e com comissões chorudas que lhes extorquem, controlando completamente o negócio sem qualquer intervenção, quer dos construtores, quer dos proprietários dos imóveis. Aliás, é a mesma empresa britânica que dispõe de um site na net para arrendamentos de casas de férias, com excelentes fotografias e descrições deslumbrantes que depois se revelam desoladoras mas já não há nada a fazer porque é exigido um pagamento de 50% antecipado. E aqui o mercado alvo é também o dos incautos cidadãos do sul.Virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Afinal quem são os verdadeiros doutorados da vigarice?
*Albano Loureiro-Advogado
In - O Primeiro de Janeiro-Porto - 24/08/07
* O autor é advogado e nascido em Porto Amélia/Pemba, filho dos antigos residentes Sr. Loureiro do A. Teixeira e da Professora D. Ana Alcina, sobrinha do Administrador do posto de Metuge (na época colonial), próximo a Bandar e à Companhia Agricola de Muaguide, Fernandes Pinto.
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