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8/24/13

Uma figura da História da Ilha e Vila do Ibo: JACOB MAMUDO (Bob)

Jacob Mamudo (Bob), há relativamente pouco tempo falecido (24 de Agosto de 2009), é ilustre filho e parte da história da Ilha do Ibo.
Até 1974, foi membro da Comissão Municipal local à qual prestou colaboração efectiva.
Amigo da terra que o viu nascer, respondeu sempre com prontidão e desinteressadamente, a todos os pedidos de ajuda feitos à época colonial pelas autoridades constituidas no concelho.
Para o recordar-mos, ficam aqui algumas imagens que consideramos documentos para a história da também histórica Ilha do Ibo e de Moçambique:
1970 - Visita de dois estudiosos, drs. Pierre Verin (francês) e Amaro Monteiro, antropólogos, linguístas, professores, pesquisadores da civilização malgaxe e de outras ilhas do Índico à Ilha Quisiva. Esta viagem de estudo acompanhada pelo Dr. Carlos Lopes Bento, administrador do Concelho do Ibo, só foi possível graças ao apoio logístico de Jacob Mamudo (Bob) também na foto.
 
Entrevista de Jacob Mamudo (imagem acima), vogal da Comissão Municipal do Ibo, concedida a 13 de Setembro de 1963 ao correspondente do jornal "Diário de Lourenço Marques" em Cabo Delgado, Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, em consequência da ida de uma representação de Cabo Delgado a Lisboa, recebida pelo Dr. Oliveira Salazar.
A leitura do conteúdo da entrevista mostra calramente a dimensão e sentido da Pátria Portuguesa de então em relação às suas colónias.
(Clique nas imagens acima para ampliar)

Representação da Vila do Ibo, a Lisboa, em 1963 - Na foto está o Jacob Mamudo (Bob) com o estandarte da Vila do Ibo, entre outros participantes da representação de Cabo Delgado.

Histórico  de JACOB MAMUDO mais conhecido por BOB:
- Filiacao: Mamudo Agy Jacob e Luisa Zamith.
- Nasceu em 11/05/1927 na histórica vila do Ibo.

Desde 1959 que esteve a testa da firma comercial fundada no Ibo pelo seu pai em 1919, “Flor do Ibo” de Mamudo Agy Jacob.

Bob jogou a bola pelo Clube Desportivo do Ibo e  a sua actividade comercial incluia a venda de produtos alimentares, representações e agenciamentos de transportes maritimos (Companhia Nacional de Navegação), aéreos (Comag e TTA), banca (BNU - actual CGD), açucareira (Sena Sugar Estates) e também se dedicava à venda de peixe seco, percorria semanalmente, por terra e mar, centenas de quilometros desde o Ibo até Nampula.

Em 1975 mudou-se e transferiu a firma para Pemba, desta vez com maior destaque para venda, representação e distribuição de material de pesca (Equipesca), oleo alimentar e sabão (Companhia Industrial do Monapo) e açucar (Distribuidora Nacional do Açucar).

Devido a sua saude, encerra as actividades comerciais em 2006 e muda-se para Maputo, onde vivem sua filha, irmãs, cunhado e sobrinhos e pode ter melhor assistencia médica. Nesta altura a firma “Flor do Ibo de Mamudo Agy Jacob, Sucessor” devia ser a mais antiga firma comercial Moçambicana no norte ainda em actividade (87 anos).

Entre finais dos anos 80 e principio de 90, Bob e outros conterraneos seus nomeadamente Ernesto Silva (Simba), Candido Manuel Inacio (Kesso), Mussa Alimomade (Magaga), Leopoldino Costa e Jordãp Soares (Joda) todos já falecidos, e Issa Tarmamade  fundam a Associação dos Amigos da Ilha do Ibo (AAIIBO), cujo maior objectivo era de promover e tentar encontrar ou criar oportunidades que possibilitassem o renascer da esperança de desenvolvimento da Ilha do Ibo e neste caso concreto tiveram sempre o apoio dos srs. Antonio Simbine, Governador da Provincia de Cabo Delgado nessa altura e de Magido Ali, então Director da Industria Comercio e Turismo.

Também já se voltava a celebrar o “São Joao Baptista” no Ibo, 24 de Junho, anualmente, e realizavam-se excursões a partir de Pemba.

Anos mais tarde com a nomeação de Jose Pacheco (actual Ministro do Interior de Mocambique) para Governador de Cabo Delgado, a questão do Ibo voltou a ganhar interesse, tendo havido vários encontros entre o Governador Jose Pacheco e Jacob Mamudo para troca de ideias e impressões.

Hoje com os meios de comunicacão e de transportes existentes, ja estão criadas as bases para tornar o Ibo num destino turistico. O Ibo ja não dorme mais.

Em Julho e agosto de 2007, vai pela ultima vez à Europa, Inglaterra visitar o filho, nora e netos e Portugal visitar a filha e netos e tratamentos médicos.

Nessa viagem a Portugal teve o desejo de rever  amigos seus, elaborou uma lista da qual constavam os nomes de Carlos Bento, Carlos Soares, Rosario Dias, Barreira de Sousa e outros que não me lembro.

Infelizmente devido ao seu estado de saude nao concretizou esse desejo.

10/11/12

Retalhos: De Porto Amélia a Pemba - Parque Nacional das Quirimbas, no Norte de Moçambique.

Parque Nacional das Quirimbas, no Norte de Moçambique
Por Carlos Lopes Bento

O Parque Nacional das Quirimbas (PNQ) foi declarado no dia 6 de Junho de 2002, pelo Conselho de Ministros. Ele tem a singularidade de ter sido estabelecido em resposta a solicitações das comunidades locais e outros intervenientes. Portanto, o Parque deve ser entendido como uma iniciativa "de baixo para cima", uma tentativa das bases para resolver um sem número de problemas que afetam a Província de Cabo Delgado em geral e a área do PNQ em particular.

O Arquipélago das Quirimbas em Cabo Delgado é uma cadeia de 28 ilhas, que se estendem ao longo de quase 400 km, desde o norte da cidade de Pemba no sul, à cidade de Palma no norte. As 11 ilhas mais ao sul uma uma extensa zona de floresta no continente estão incluídas no Parque, resultando numa área total de 750,639 ha, dos quais 598,402 ha são hábitat's terrestres e 152,237 ha são habitat's marinhos e ilhéus. Esta área é de há muito reconhecida como uma zona de grande beleza paisagística, enorme biodiversidade de significado mundial, e importante patrimônio histórico; a recomendação de que esta área seja declarada um parque nacional vem já de 1971.
A Importância da Área:
Os distritos costeiros e centrais de Cabo Delgado (Macomia, Quissanga, Ibo, e Meluco) têm representados quatro das 200 eco-regiões de importância mundial de acordo com o WWF. Estas 200 eco-regiões são consideradas os melhores exemplares existentes de ecossistemas típicos e também raros. Se o simples fato de um País possuir uma das eco-regiões é já por si assinalável, imagine-se o que significa quatro eco-regiões estarem representadas em uma só Província. As quatro eco-regiões são:

- no. 23... Floresta Costeira do Mosaico de Inhambane-Zanzibar;
- no. 118... Mangais do Leste de África;
- no. 193... Eco-região Marinha do Leste de África;
- no. 55... Floresta de Miombo.

O Arquipélago das Quirimbas, em particular, é considerado pelo WWF como uma área marinha de importância Mundial. A área também foi considerada como tendo potencial para ser nomeada como Patrimônio Mundial da natureza pela UNESCO, e contém a histórica cidade do Ibo, antigo centro comercial de escravos de Árabes / Africanos / Portugueses.

Espécies de importância mundial, incluem quatro dos chamados “big five” (o rinoceronte foi eliminado), substanciais populações de mabecos (wild dogs), dugongos, quatro ou cinco espécies de tartarugas marinhas, uma variedade de espécies de conchas em vias de extinção como a Chariona tritonis e a Tridacna squamosa, a baleia corcunda (Megaptera novaeangliae, ou “Humpback whale”), várias espécies de golfinhos, as árvores de pau preto e sândalo...

Os Elefantes e leões são um problema particular. O número de Elefantes está em expansão e a incidência de ataques de elefantes às machambas também tende a crescer. Mais de setenta ataques de leões foram registrados no Distrito de Macomia em 2000. No mar, espécies como dugongos, tartarugas marinhas e tubarões estão em perigo de sobre-exploração. As extensas áreas de ervas marinhas e florestas de mangal estão também sob pressão severa.

Florestas:
A floresta costeira contém espécies raras e endêmicas que foram relativamente pouco estudadas, enquanto que pelo seu lado a floresta de miombo possui madeiras de valor comercial tais como a mbila (kiyaat), chanfuti, e jambire. O abate comercial destas madeiras tem sido feito exclusivamente por empresas baseadas em Pemba. Entre os ditritos de Ibo e Quissanga desenvolveu-se um mangal que ocupa uma área de 39km2, com 8 espécies de árvores de mangal representadas.

O Governo sempre deu a necessária importância a estas Florestas e em 1996 estabeleceu duas grandes áreas como “Reservas do Estado”, com a intenção de promovê-las a Reservas Florestais. Apesar de os constrangimentos financeiros terem dificultado o desenvolvimento destas reservas, o Governo tem recusado desde então o licenciamento de corte de madeira nestas áreas, até existirem condições para a sua declaração formal como zonas protegidas.

Fauna:
Os Distritos atrás referidos têm sido mencionados em vários estudos como áreas prioritárias de fauna. Três rotas migratórias de Elefantes atravessam a área, seguindo as margens dos Rios Montepuez e Messalo. As montanhas isoladas de granito (inselbergs) de Meluco não só são espetacularmente bonitas como também foram identificadas como centros de endemismo de plantas e animais e servem historicamente como refúgio de elefantes. Os elefantes da zona estão de certa maneira adaptados ao ambiente das montanhas a dar pelas marcas da sua passagem nos mais incríveis locais.
O Ambiente Marinho a Costeiro:
A área costeira possui 11 das ilhas mais a sul do Arquipélago das Quirimbas, numa distância de cerca de 100 Km. (ver mapa). Estas Ilhas formam uma linha quase contínua separadas por canais estreitos, extensões de terra e baías. Já Tinley, em 1971, havia sugerido a proteção desta área com base na riqueza do habitat que suporta uma flora e fauna diversa, incluindo 375 diferente espécies de peixes. O Arquipélago também incluí o Baixo de São Lazaro, um baixo isolado e ainda bem conservado para a pesca desportiva e mergulho a cerca de 42 milhas náuticas da costa.

Os recursos marinhos costeiros estão presentemente sob ameaça de sobre-utilização, enquanto que os recursos de mar aberto estão quase por explorar. Também levam as estas conclusões estudos científicos, consultas com instituições e consultas às comunidades (mais recentemente durante um Seminário na Ilha do Ibo). As principais ameaças resultam de:

- A chegada, a Cabo Delgado, de pescadores vindos da Província de Nampula e Tanzania;
- Uso de artes de pesca destrutivas (rede fina, rede mosquiteira, veneno, extração de corais);
- Perda de valores tradicionais com o resultado de que as práticas tradicionais não são mais respeitadas (antigamente a pesca era feita em ciclos de 12 dias, dos quais 6 dias a pescar e seis dias a descansar; hoje pesca-se todos os dias);
- Falta de controlo por parte das autoridades de fiscalização devido a várias razões entre elas a falta de transporte (barcos).

Os pescadores locais também se referem à falta de condições de comercialização do seu pescado e a falta de equipamento para a pesca de mar alto, razão pela qual existe a sobre-pesca perto da costa. Em termos da atual captura, esta tem vindo a descer desde há muitos anos a níveis extremamente baixos. Isto resulta em que todos os locais de fácil acesso estão sobre-utilizados. Locais menos acessíveis (como o canal de Montepuez com correntes perigosas a a parte de fora da barreira de corais, com correntes e ondas) estão em muito bom estado. Os recifes de corais de baixa profundidade estão também muito danificados pelo fenômeno do El Nino Southern Oscillation ocorrido em 1997/8.

População:
Estes distritos são majoritariamente habitados por povos das etnias Macua e Muani, apesar de Macomia ter populações de Maconde também. Estas populações vivem da agricultura de subsistência, pesca e caça e não existe qualquer indústria. O Distrito do Ibo, por exemplo, não tem uma simples loja. O Distrito de Quissanga, largamente conhecido por ser potencialmente o mais produtivo da Província em termos de agricultura (com 25% de solos de aluvião), não possui um simples trator a funcionar. A esperança de vida na Província é de 37.8 anos, enquanto a mortalidade infantil antes dos cinco anos é de 295 por cada mil nascimentos. O PIB (produto Interno Bruto) per capita era de 141 USD/ano em 2000, mas estima-se que nas zonas rurais seja menos de metade desse valor. A taxa de analfabetismo em adultos é de 75% (estatísticas do Plano Estratégico de Cabo Delgado, 2000-2005).

O desespero econômico e o crescimento populacional criam uma pressão ainda maior sobre as florestas e recursos terrestres. Pelo seu lado, hábitos tradicionais como a queima da mata na época seca e a caça com armadilhas retiram aos recursos naturais a sua capacidade de regeneração. Assim, os recursos de fauna e flora estão e estado contínuo de declínio, o que é inclusivamente reconhecido pelo próprio Governo e comunidades rurais. Outro aspecto crítico é o permanente conflito animais-seres humanos tal como já atrás foi referido.

O Governo de Cabo Delgado e a GECORENA solicitaram ao WWF apoio na criação da área protegida e estão ainda a procurar mais apoio junto de outras organizações. Regulamentos e zoneamento para investimento é uma parte parte do plano que está a ser elaborado. Isto criará um quadro legal e institucional para um desenvolvimento apropriado de turismo no Parque o que contribuirá mais tarde para a sustentabilidade financeira dos esforços de conservação.

A área do Parque inclui assim:
- Uma floresta costeira entre Macomia e Quissanga, como uma fantástica fauna selvagem, incluindo o elefante, o búfalo, o leão e o leopardo;
- A costa Sul do Arquipélago das Quirimbas, incluindo 11 Ilhas, praias de desova de tartarugas marinhas, recifes de coral, ervas marinhas, e imensas florestas de mangal, e, a cerca de 40 milhas da costa, o Baixo de São Lazaro, local de pesca desportiva de classe mundial;
- O corredor de elefantes entre os Rios Messalo e Montepuez e a Reserva de Elefantes de Mputho .

CONTACTOS DE CULTURA PÓS-GÂMICOS NA COSTA ORIENTAL DE ÁFRICA.- O CASO CONCRETO DAS ILHAS DE QUERIMBA OU DE CABO DELGADO.
Por Carlos Lopes Bento

A Costa Oriental de África, considerada o berço de Humanidade, serviu de base a intensos movimentos externos de pessoas e culturas, conhecidos pelo menos desde o século II DC, altura em que a costa africana foi integrada nos fluxos do comércio marítimo do Índico, que conjugados com os movimentos internos de povos africanos, originaram a cultura suaíli ou swahili. Trata-se de uma cultura com padrões típicos, marcadamente marítima, de raíz bantu, mas de ideal islâmico que se enquadra, segundo Allen, na denominada “unidade do Oceano Índico”(1) .

Para este extenso espaço africano, constituído por um vasto conjunto insular e respectivas terras firmes, convergiram, por razões de natureza comercial, política e religiosa e em épocas históricas diferentes, fluxos migratórios provenientes do Oriente, designadamente, da Arábia, Pérsia, Índia, China, e Indonésia, do Ocidente (Portugal, Espanha, França, Holanda e Inglaterra), da América (Brasil, Cuba,....) e da própria África. Dos permanentes cruzamentos inter-genéticos e da constante interpenetração de culturas nasceria a supracitada cultura suaíli(2) e as suas variantes, aliás, sabiamente, observadas e descritas, a partir dos finais do século XV, pelos destemidos nautas portugueses, data a partir da qual passaram a sulcar, regularmente, as agitadas águas do Índico. Os dados então recolhidos , mostram a existência de :
FIG. 1- Parte sul da costa swahili.
Fonte: NEWITT, Malyn, The Southern Swahili ..., p 112

- Sociedades pluri-raciais/pluri-étnicasconstituídas por indivíduos possuidores de várias tonalidades de pele: pretos, baços, ruivos e brancos;
- Uma religião comum assente nos princípios do Alcorão;
- Cidades-Estado com estruturas sociais complexas, estratificadas e relativa autonomia política, governadas por reis mouros, com excepção da Ilha Brava em que o poder político estava nas mãos dos mais antigos da terra;
- Uma produção agrícola variada, com grande riqueza de caça grossa e de produtos aquáticos. De realçar a existência de excedentes destinados, essencialmente: à afirmação do status social; à oferta de presentes; e ao reabastecimento e apoio da navegação e moeda de troca;
- De cidades e vilas com casas assobradadas, com portas e janelas de madeira muito bem lavrada, construídas a pedra e cal;
- De um rico vestuário, de seda e algodão, por vezes bordado a oiro, usado pelas camadas mais abastadas, por homens e mulheres e de jóias, em ouro e prata que embelezavam as encantadores damas suaílis.

Com a presença e domínio português imposto às principais cidades da Costa Oriental de África, através de tratados de vassalagem, desde os princípios do sec. XVI, extinto definitivamente, a partir de 1729- perda definitiva de Mombaça- a cultura suaíli foi enriquecida com muitos traços da cultura portuguesa que, pela sua utilidade e compatibilidade e até prestígio, acabariam por ser integrados nos léxicos do kiswahili(3) e do kimwani, perdurando até aos nossos dias. Recordam-se alguns vocábulos do kiswahili relacionados com: cargos/profissões, meios e instrumentos náuticos, armas , instrumentos de guerra e símbolos de soberania, utensílios de uso doméstico, animais domésticos, edifícios, fortificações e lugares, árvores de fruto, frutos, ferramentas e objectos mecânicos, artigos de vestuário, meios de pagamento, produtos e tecidos(4): almari, amari, bandera, bao, baraza, barakinya, bastola, bata, batela, beramu, bereu, biblia, bibo, bomba, boriti, boya, bulu, busha, chá, chapa, chapeo, dadu, dama, faranga, foronya, fogau, gereza, hospitali, idadi, kanderinya, kapa, kasha, kimau, kitalu, kopa, kopo, korosho, lakir , lesso, limao, machila, meza, m’pera, mvinyo, nahota, padre, pao, parafujo, pera, pesa, pilau, pipa, rateli, riale, roda, rupia, saa, safari, seti, shumburere/sombrero, shupaza, shuka, sukari, tabakelo, tarumbeta, turufu, uru, e yaya(5).
Após a perda sucessiva do domínio português sobre as várias cidades do Indico ocidental, as autoridades portuguesas limitaram o exercício do seu poder colonial , depois de 1729, às terras litorálicas situadas a sul do rio Rovuma, em cujo extremo norte encontramos as Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado. O arquipélago, habitado especialmente por wamwani (gentes da praia), é constituído por cinco dezenas de ilhas e ilhéus, pequenas em território- muitas delas com menos de um quilómetro quadrado - e pobres em solos, quase todos de origem corálica. Apesar destes condicionalismos mas atendendo à sua posição geo-estratégica este conjunto insular, com as terras firmes adjacentes, foi aproveitado, primeiro por árabes e persas e depois por portugueses para aí instalarem alguns dos seus portos de escala e desenvolverem uma importante rede comercial, complementada por algumas práticas agrícolas, armentistas, de construção naval e de pesca.

Antes da era gâmica dependeram as mesmas Ilhas, de acordo com as circunstâncias políticas, de Mombaça e de Quiloa. Passariam, definitivamente, para o domínio português, em 1523, após a sua reconquista pelo capitão Pedro de Castro, perdurando a situação colonial, então, instituída durante 452 anos. Conhecendo-se os fracos recursos humanos e materiais, a debilidade e pouca operacionalidade das estruturas político-administrativas, económicas e religiosas de apoio implantadas, a concorrência sempre crescente de um comércio internacional pouco favorável à coroa portuguesa, os ataques de franceses, sakalava, makhwa e mouros da costa e a resistência oferecida por uma elite local influente e portadora de uma dupla herança cultural, é pertinente interrogarmo-nos como foi possível uma permanência tão prolongada dos Portugueses e do seu domínio nas Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado?

Este verdadeiro “milagre”, que não foi o resultado da força das armas que, aliás, primava pela insuficiência e pela ineficácia, deveu-se principalmente, a uma política, concreta e espontânea, de tolerância, solidariedade, miscigenação, adaptação e convívio pluri-étnico, política essa, aqui e ali com alguns desvios e conflitos, respeitadora das diferenças étnicas e culturais, das crenças e dos valores humanos dos grupos dominados e dos seus modos de vida. Estávamos perante uma prática política, um diálogo intercultural, uma busca permanente de soluções para os problemas comuns, que, só séculos mais tarde, mais precisamente em 1948, viria a ser consagrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual não faz distinção entre etnias, culturas ou crenças. Desde há séculos, é legítimo recordá-lo, que os Portugueses consideravam e defendiam o princípio da igualdade como uma relação entre coisas diferentes. Há muito tempo e em muitas partes do Mundo e em contextos históricos e sócio-culturais diversificados que praticavam, na sua vivência do dia-a-dia, o princípio da tolerância: todos diferentes, todos iguais, actualmente, pouco assumido e muito afastado dos corações dos homens.

O homem português, colono modesto, sem grandes letras, por vezes desterrado, com o seu génio criativo e plástico, a sua grande capacidade de improvisar e inovar e o seu caracter individualista e sentido oportunista, soube, habilmente, em novos espaços ecológicos, geográficos e sociais, viver em situações de solidariedade, de contraste, de ambiguidade e de conflito. Teve a capacidade de moldar e de se deixar moldar e de criar novas realidades bio-culturais e de se adaptar a contextos específicos deveras variados.

Com a implantação da situação colonial nas Ilhas iria estabelecer-se no território um novo domínio e diferentes tipos de contactos entre populações biológica e culturalmente heterogéneas, há muito adaptadas a um meio geográfico específico e comprometidas com uma história. Nesta parte norte de Moçambique o colono português conviveu com gentes de outras culturas e religiões (makhwa, mwani, yao, mouros da costa( swahili),...) e aí constituíu famílias mestiças não consagradas nas leis e costumes do Reino- mestiças pela biologia e pela cultura - e originou novas formas sincréticas de família, geradoras de consensos e de solidariedades, que se desviavam, nítidamente, dos modelos da família real cristãmente organizada e aceite. Era frequente reunirem-se num só grupo familiar pessoas de mais de uma religião, etnia e posição social. A prova factual de tal realidade encontramo-la na Relação Geral de População de 1798 relativa às Ilhas: famílias compostas por cristãos, maometanos e gentios, por pessoas livres e por escravos, sendo grande parte delas formadas através da mancebia que as autoridades político-administrativas e religiosas, embora o tentassem, nunca conseguiram eliminar. A título de exemplo dá-se conta dos seguintes registos: uma cristã, de nome Luzia, solteira, com uma filha Ana, gentia e uma mãe maometana, Muana Mungi, com uma filha Ana e duas netas, Tomásia e Catarina, todas cristãs(6). Verificámos ainda uma escrava amancebada com um homem livre( um m´zungo), a qual, por sua vez possuía uma escrava.

Dos processos de fusão biológica e de interpenetração das culturas em contacto, que foram realidades constantes ao longo da colonização portuguesa, resultaram trocas recíprocas entre os grupos em presença, variáveis em intensidade conforme a compatibilidade e utilidade dos traços e complexos de cultura. Relativamente à influência da cultura portuguesa, a maior aceitação verificou-se nos domínios da antroponímia e da cultura material, limitação que estava relacionada com o modo de vida dos habitantes das Ilhas pautado por valores e normas culturais de raiz africana ou afro-asiática, bem diferentes daqueles que o poder colonial procurava impor. Os cristãos, livres e escravos e os seus descendentes mesmo não aderentes à doutrina cristã, e alguns não cristãos adoptaram nomes e apelidos portugueses e indo-portugueses. Os cristãos livres por cultura e tradição ligadas ao sistema de povoamento processado no território. Os cristãos escravos por obrigação imposta no acto do baptismo, também ele de natureza coerciva. Apesar do optimismo de Frei João dos Santos, autor da Etiópia Oriental, que realça a conversão nas Ilhas e terras firmes de l6 000 gentios , desde o inicio da evangelização até l594, data em que deixou de paroquear a freguesia da ilha de Querimba, a realidade, segundo nos conta o Pedro Barreto Resende parece algo diferente:

“O cafres são gente bárbara, natural e muito cruel e pouco dada ao culto divino e só os que são nossos cativos se fazem cristãos por esse respeito, durando-lhe a cristandade enquanto lhe dura o cativeiro, sendo que não repugnam muito a nossa cristandade”.

Embora aderentes a valores sagrados diferentes, em 1798, - os habitantes das Ilhas estavam distribuídos pelos seguintes credos: 48,85% cristãos, 29,43% maometanos e 21,70 % de religião tradicional- verificava-se a existência de contactos permanentes e efectivos entre os membros das várias religiões praticadas. Afirmava-se naquela data que os cristãos que não eram “parentes dos maometanos e deles descendentes, o são dos cafres macuas e macondes”(7). Esta evidência vem mostrar que a política inter-étnica condenada, em l592, pelo dominicano Frei João dos Santos, não teve sucesso. O frade, como chefe religioso e chefe político, não admitia e via com bons olhos alguns usos e costumes e as relações de convivência e de amizade existentes entre cristãos e maometanos:” ... em nossos Domingos e dias santos de guarda virem as mouras visitar as cristãs suas amigas e todas juntas, cantavam, bailavam, comiam e bebiam, tão amigavelmente, como se fossem todas mouras”(8).

No lº quartel do séc. XIX, Frei Bartolomeu dos Mártires confirmava a política de convivência encetada após a imposição do domínio colonial no território verificada a partir de 1523: “Os mouros têm tal ascendente sobre os desgraçados habitantes que até lhes tem pregado e introduzido a sua infame lei, seus costumes depravados e as suas torpezas mais nefandas de maneira que já não é fácil reconhecer as diferenças entre eles”(9).

Como resultado da aculturação e miscigenação espontâneas vamos encontrar na sociedade colonial casos específicos de uma dualidade cultural: uma herança cultural por parte de uma elite local mestiça que se moldou às regras e valores da sociedade dominante, que punha em prática sempre que era preciso relacionar-se com os seus representantes e substituía pelos próprios da sociedade dominada ao regressar ao meio de origem; chefes que participavam nas duas culturas e asseguravam, deste modo, o funcionamento das estruturas coloniais, pondo ao serviço das autoridades coloniais, o seu poder tradicional e as instituições indígenas pré-existentes. Recorda-se o terço dos auxiliares, os prazos da coroa, a cobrança de impostos, o fornecimento de mão-de-obra e de forças militares sempre que estava em jogo a segurança do território e a sobrevivência do domínio colonial; uma mestiçagem, com significado mais cultural do que biológico, bem evidente e clara na antroponímia constante da Relação de l798 supra citada, da qual se respigaram alguns nomes próprios, sobrenomes e apelidos, herança das várias culturas em presença. Encontramos, por um lado, nomes próprios da língua portuguesa com apelidos provenientes de línguas locais(kimwani, kiswahíli, makonde ,makhwa,...): Agostinho Quemissa, Alberto Lupulo, Alexandre Mutema,Ambrósio Macogo, Ana Mulusso, António de Faria Mussupia, Bruno Antunes Oengue, Catarina Muadia, Cristina Muanseni, Domingos Muzuzi , Francisca Muanessa ,João Madudo, Lázaro Mazome, Macaelo Faque, Manuel Morindua, Paulo Botelho Quidava, Roque Cassicazi, Sebastião Malemoca e Sebastião Raimundo Aidoz .Por outro lado, embora mais raros, surgem nomes em que o nome próprio provem das línguas locais e os apelidos do português: Mualenda Gonçalves, Muanassa de Faria, Mucoto Ribeiro, Muenhe Mussa Ribeiro, Tima Simão e Zina Faria(10).
Ao contrário do que acontecia em 1798, durante a nossa estadia nas Ilhas, entre 1969 e l972,constatámos que os nomes de origem afro-suaíli atingiam cerca de 94,50% contra 5,5% provenientes da língua portuguesa. A mudança drástica verificada no período de quase de dois séculos ficou a dever-se à consolidação do Islamismo na Costa Oriental de África, designadamente em Moçambique, e à incapacidade dos Portugueses, através do poder político-administrativo e poder religioso, imporem o seu modelo de sociedade. Contudo, ainda pude verificar, numa análise superficial ao léxico da língua falada pelo povo mwani , o kimwani, a existência de um grande de palavras portuguesas e aportuguesadas que continuavam a fazer parte da linguagem dos Wamwani : alfanete, ambari, armari,ayo, bacia, balança, barbero, bata, biberau, blusa, bolo, brinco, buli, cabido, cadiado, calça, camisa, camisola, capote, caxa, cesto, chicra, colher, copo ya café, copo ya vidro , côr ya café, curuneta, epangaio, fato, ferro yakongomar, fogão ya makala, fogão ya patroli, fronha, fundi ya candieiro, galação, galico, galo garrafão, garufu, gelera, giz, gramafone, kifio ya cozinha, koroso, janelazi, lata, lampeão, leço, loja, mala, malaya zinco, , mala ya m´bawa, manchila, mantega, maquina ya kossoma, marrau, masoldado, m,batata, mpapaia, marmita ya alumínio, meias, mesa, moscaleta, m,pera, nakoda, nanazi, , n caju, orive, paquete, patrol, piresse, prateleira, quadro, rádio, reloyo, reloyo ya kajubera, reloyo ya campaínha, sabau, safrau, , safrau, sucrire, tamangu, tamboro, tampa ya kufinika, tcha kutaya mantega, telhado, termo , tejolo, vestido, ...

Entre a famosa doçaria que faz parte da culinária mwani também encontramos a influência da presença portuguesa, sendo bem conhecido o bolo denominado “biscoito”feito com farinha de mapira, que na forma nada difere do biscoito confeccionado em Portugal.

No princípio do presente século o governador Ernesto de Vilhena dá-nos conta de uma dança cantada de origem portuguesa a “ Margarida” que servia de divertimento aos rapazes em que a letra do refreão incluía um vocabulário misto de português e de kimwani: Ai ué niquareta/ Ai Mussa ladrão/Roubou macarrão(11). A dança da corda , conhecida por Insóbué, tão do agrado da mulher mwani, possivelmente, de origem portuguesa, ainda era divertimento em 1974.


Nas Ilhas de Querimba, após a sua conquista pelos Portugueses, nasceu e desenvolveu-se uma nova realidade sócio-cultural constituída biologicamente pela miscigenação, economicamente pela técnica escravocrata da produção e sociologicamente pela interpenetração de culturas. As famílias mestiças- pela cultura e pela biologia, desempenharam um papel relevante no povoamento, na imposição de um modo de vida próprio, no processo de mobilidade social, na solução de conflitos, na convivência social e na continuidade e revitalização da situação colonial.

Da situação colonial nesta parte norte de Moçambique resultaram processos de aculturação- que foi mais espontânea do que imposta- como a integração, a assimilação e diversos sincretismo: famílias, prazos da coroa, religião, antroponímia ..., que devem merecer a curiosidade e análise sistemática por parte das novas gerações para que se conheçam a riqueza, a diversidade e o significado da vida humana em diferentes contextos e as formas específicas de vida em comum e as inter-relações que se estabeleceram entre a Europa e os outros Continentes na era gâmica(12).

REFERÊNCIAS:
1 - Segundo este autor essa unidade cultural é constituída por três componentes: uma unidade racial resultante de múltiplas e seculares migrações humanas de natureza inter-continental(África, Ásia, Europa e América); uma unidade cultural que se estende da China até à África; e uma unidade religiosa assente no Alcorão cujos princípios doutrinais se adaptaram às diferentes condições ecológicas, políticas, culturais e étnicas e teve a capacidade de ultrapassar as divergências geradas pelos contactos de povos e culturas em diferenciados contextos. Para mais pormenores ver ALLEN,J-”Propuestas de Studios Sobre el Oceano Indico”,in Relaciones Historicas Através de Oceano Indico.Barcelona, 1980, p.p. 164 e segtes e BENTO, Carlos Lopes- As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado- Situação Colonial, Resistências e Mudança-1742-1822, 2 vols.
2 - NEWITT, Malyn - "The Southern Swahili Cost in the First Century of European Expansion". In Azania, Vol. XIII, 1978, p.p. 111-126.
3 - Os principais dialectos do Kiswahili são: o Kiamu, falado em Kiamo, Kenia e Pate; o Kimvita falado em Mombaça; o Kiunguja falado em em Zanzibar e Pemba(ilhas); o Kimrima falado nas terras firmes de Zamzibar; o Kingarija falado na Grande Cômoro; e o Kimwani falado nas Ilhas de Querimba, Quissanga, Mossimboa, Thungui e cidade de Pemba. Nas línguas do litoral , desde do sul da baía de Pemba até Sofala o prefixo ki foi substituído por e : Émakha,Ésakati, Ékoti, Éshwabo e Iboani ou Éboani.
4 - Vidé PRATA, Pe António Pires- “Influência do Português sobre o Suaíli”, in Bol. do Museu de Nampula, Vol. 2, 1961,p.149-150.
5 - Para mais pormenores consultar : MADAN, A.C.- Suahili dictionary.Oxford, 1903, p.p.442 e SACLEUX, Charles- Dictionnaire Swahili-Français.Paris , 2 Tom. e PRATA, op.cit. p.p.133-175.
6 - Para mais esclarecimentos ver BENTO, op. cit., Vol. I, p., 532.
7 - BENTO, op.cit. Vol.I, p.519.
8 - Idem,Ibid.p. 518-519.
9 - Idem ,Ibid. p.524.
10 - Idem, Ibid. p. 532.
11 - Ver OLIVEIRA, Mário Baptista de-Monografia sobre a Ilha do Ibo. Ibo, dac.,1962, p.223.
12 - Este pequeno trabalho, aqui com pequenas alterações, foi publicado na Revista de Estudos Políticos e Sociais, ISCSP, Lisboa, 2000, p. 119-126. O seu autor, que foi administrador do concelho do Ibo, é antropólogo, doutorado, em Ciências Sociais e Políticas, especialidade História dos Factos Sociais e licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo I.S.C.S.P., da Universidade Técnica de Lisboa, é professor coordenador do Instituto Superior Politécnico Internacional e professor catedrático convidado, da Universidade Internacional, onde exerce actividade docente e de coordenação de estágios, nas licenciaturas bietápicas em Gestão Turística e Hoteleira e Gestão Bancária e Seguradora. É director do Centro de Investigação Aplicada em Gestão Turística e Hoteleira e do Centro de Estudos de Gestão Turística e Hoteleira. Interessa-se pela Antropologia Africana- Moçambique e pela Antropologia Portuguesa, domínios do turismo e do comportamento organizacional. Faz investigação no domínio da cultura alimentar- Culinária tradicional.
TRABALHOS DO AUTOR:
Entre a múltipla colaboração dispersa por livros e publicações periódicas, realçam-se os seguintes artigos publicados ou em prelo:

- "Problemas Eco-Sociais e a Reconversão da Pesca Artesanal" ( 1980);
- "O Trabalho de Campo na Antropologia e o Desenvolvimento" (1982);
- "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado" (1984);
- "A Historiografia e a Antropologia em África" (1984);
- "O Contributo do Estudo das Práticas Culinárias para um Melhor Conhecimento das Migrações Humanas e dos Fenómenos da Difusão, Mudança e Evolução Culturais - A caso específico da cozinha entre os Wamwani das Ilhas de Querimba / Moçambique (1984);
- "Moínhos e Azenhas em Mouriscas" (1985);
- "As Potencialidades das Fontes Históricas na Pesquisa Antropológica" (1986)
- "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado. Breves Considerações Finais" (1986);
- "A Pesca do rio Tejo. Os Avieiros: Que Padrões de Cultura? Que Factores de Mudança Sócio-Cultural? Que Futuro?" (1987);
- "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado.- Ambiente, Tecnologia e Qualidade de Vida" (1988);
- "A Posição Geo-Política e Estratégica das Ilhas de Querimba. As Fortificações de Alguns dos seus Portos de Escala" (1989);
- «La Femme Mwani e la Famille. Étude Quantitatif des Quelques Comportements des Femmas de l’île d’Ibo» (1990);
- "As Companhas de Ceifeiros Ribatejanos no Alto Alentejo- Uma Forma de Organização Social Extinta" (1991);
- "O 1º Pré-censo de Moçambique- A Relação Geral de População de 1798 das Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado" (1991);
- "Uma Experiência de Desenvolvimento Comunitário na Ilha do Ibo/Moçambique entre 1969 e 1972" (1992);
- "Os Prazos da Coroa nas Ilhas de Querimba e a sua Importância na Consolidação do Domínio Colonial Português” (1997);
- "Ambiente, Cultura e Navegação nas Ilhas de Querimba: Embarcações, Marinheiros e Artes de Navegar" (1998);
- "A Administração Colonial Portuguesa em Moçambique- Um Comando Militar em Mogincual, entre 1886 e 1921" (1999);
- "Situação Colonial nas Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado- Senhorios, Mercadores e Escravos"(Resumo da Tese de doutoramento) (2000);
- “Contactos de Cultura Pós- Gâmica na Costa Oriental de África. O Estudo de um Caso Concreto” (2000);
- "Quem Defende os Interesses dos Pequenos Agricultores do Alto Ribatejo? (2001);
- “A Ilha do Ibo: Gentes e Culturas - Ritos de passagem” (2001);
- “Mouriscas: Terra Pobre, Gente Nobre”. (2002);
- “A Antropologia da Alimentação em Portugal.- Um estudo concreto” (2003);
- “A Cozinha Tradicional na Área do Pinhal e o Desenvolvimento Regional - O Maranho como Prato Emblemático num Processo de Mudança” (2003);
- “A possessão em Moçambique - O Curandeiro N´kanga entre os Wamwuani do Ibo (1969-74)” (2003).
  • Carlos Lopes Bento neste blogue.
  • Carlos Lopes Bento no Google.

Clique nas imagens para ampliar. Transferência de arquivos do sitio "Pemba" que será desativado. Colaboração do Dr. Carlos Lopes Bento. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Julho de 2012. Atualizado em Outubro de 2012. Só é permitida a copia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores.

5/30/12

Relendo - O Curandeiro N'Kanga entre os Wamwuani do IBO

Trabalho do Dr. Carlos Lopes Bento* que pretende dar a conhecer parte do profundo saber médico-religioso dos curandeiros na sociedade tradicional mwani da Ilha do Ibo, pertencente ao Arquipélago das Quirimbas em Cabo Delgado - Moçambique, apresentado em 16 de Dezembro de 2003, no Seminário “Perspectiva Antropológica das Práticas e Conceitos Tradicionais de Saúde”, realizado na Sociedade de Geografia de Lisboa, organizado pela Secção de Antropologia da mesma Sociedade.
(Click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)

*Carlos Lopes Bento - Doutor em Ciências Sociais, especialidade História dos Factos Sociais, Licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo ISCSP, UTL e professor universitário. Faz parte da Direcção da S.G.Lisboa, desempenhando as funções de tesoureiro. É antropólogo e foi antigo administrador dos concelhos dos Macondes, do Ibo e de Porto Amélia (Pemba) na época colonial. Publicação neste blogue cedida e autorizada pelo autor.
Alguns trabalhos do Dr. Carlos Lopes Bento publicados neste blogue
Clique nas imagens acima para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue ForEver PEMBA em Maio de 2012. Todos os direitos reservados. Só é permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

3/04/10

Arquipélago das Quirimbas e Lago Niassa ameaçados de desaparecer...

Cultivo nas zonas costeiras e destruição de mangais - Maputo (Canalmoz) – O Lago Niassa, na província com o mesmo nome e o Arquipélago das Quirimbas, na província de Cabo Delgado, estão sob ameaças de desaparecer do mapa geográfico nacional, nos próximos 100 anos, caso não se ponha termo às acções de prática de agricultura nas zonas costeiras e à destruição dos mangais nestas regiões. Este alerta foi lançado por Peter Bechetel, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (WWF) Moçambique, à margem dum seminário sobre o meio ambiente que teve lugar ontem em Maputo.

Falando ao Canalmoz, o representante do Programa das Nações Unidas para o Ambiente disse que, para além sofrer fortes acções agrícolas nas suas margens, o lago Niassa debate-se igualmente com problemas de disputa da fronteira entre Malawi e Tanzania e como o lago é único, isto tem efeitos para os três países que o partilham.

“Malawi e Tanzania estão a discutir um problema criado pelos colonizadores. A Inglaterra, depois da Segunda Guerra Mundial, passou a administrar a Tanzania e como já estava a dirigir os dois países, o aspecto da fronteira não teve relevância”, disse esclarecendo que agora que os dois países são Estados soberanos, o conflito das fronteiras está no topo da agenda e os efeitos fazem-se sentir nas margens do lago Niassa. Segundo Peter Bechetel, a fronteira entre os dois países está no meio do lago, mas agora o Malawi reivindica que a mesma deve ser removida mais para a costa tanzaniana.

Para os ambientalistas, estas discussões, em curso naqueles dois países, foram criadas pelos colonizadores e isto já está a criar problemas no lago, “apesar de existirem poucos impactos em Moçambique, em virtude da província de Niassa ser pouco habitada, o que não acontece do lado das províncias no Malawi e Tanzânia, que são densamente povoadas”.

Bechetel que falava ontem à margem do encontro ”Save Turism”, subordinado ao tema “Oportunidades para a Prática do Turismo Cientifico, Académico, Voluntário e Educacional em Moçambique”, organizado pelo Ministério do Turismo em parceria com a WWF, disse que Moçambique ao trazer este assunto para discussão, não está a fazer guerra contra nenhum destes países, mas sim a tentar salvar a biodiversidade do lado que está a ser posto em causa.

“As ervas marinhas são importantes para a reprodução e alimentação dos peixes, e estas estão a ser destruídas pelos agricultores”, lamentou.

Falando sobre o arquipélago das Quirimbas, sentenciou que as previsões mundiais indicam que o nível das águas do mar vai subir drasticamente nos próximos 100 anos, acompanhado de ciclones.

“Com o mar a galgar alguns metros, parte das ilhas do arquipélago das Quirimbas vai desaparecer e haverá muitos ciclones”, disse acrescentando que há dois anos, nalgumas zonas do arquipélago, a água aqueceu e espécies de animais aquáticos, bem como corais, foram destruídos.

Segundo explicou, os mangais que tem a função de defender a parte continental das tempestades estão a ser destruídos na ordem de 18 porcento e, neste momento, cerca de 700 famílias abandonaram uma das ilhas das Quirimbas, devido aos efeitos climáticos.

Um docente da Faculdade de Engenharia e Ciências Naturais, na Universidade Lúrio, em Pemba, que interveio no debate, disse haver necessidade de se requerer mais hectares de áreas na zona de Ibo para que se façam estudos durante as férias do verão.

“A Universidade vai dar uma parte da logística e os investigadores poderão trabalhar com os estudantes e comunidade. Depois vamos publicar os resultados deste trabalho que é muito urgente para salvar a zona”, desafiou, sublinhando que o estudo está aberto aos interessados, incluindo instituições do ensino superior.

Disse ainda que o passo mais importante será encontrar os parceiros interessados em participar nesta área, apontando que a partir do ano em curso vai se fazer naquela zona uma área de conservação.
- (Fenias Zualo) - 2010-03-03 05:46:00 - CanalMoz

11/11/09

A SITUAÇÃO COLONIAL NAS ILHAS DE QUERIMBA OU DE CABO DELGADO - Senhorios, Mercadores e Escravos

(1742-1822)
Por Carlos Lopes Bento[i]

O presente artigo exprime os traços fundamentais da tese de doutoramento intitulada AS ILHAS DE QUERIMBA OU DE CABO DELGADO- SITUAÇÃO COLONIAL, RESISTÊNCIAS E MUDANÇA(1722-1822), defendida, pelo seu autor em 1994, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade Técnica de Lisboa.

O território, objecto de estudo, é constituído por duas partes distintas, uma insular que integra cerca de cinco dezenas de ilhas e ilhéus - as ilhas de Querimba)[ii] -, a outra continental formada pelas terras firmes a elas adjacentes, é banhado pelo Oceano Índico ocidental e fica situado na entrada noroeste do Canal de Moçambique e na costa leste de África. Parte integrante de Moçambique, distando para norte da Ilha do mesmo nome, cerca de 60 léguas, estende-se o mesmo território na direcção norte-sul, por, aproximadamente, 36 léguas, compreendidas entre o rio Rovuma (11º 20¢ Lat. S e 38º 36¢ Long. E de G), a norte e a parte sul da baía de Pemba (13º 05¢ Lat.S e 42º 32¢ Long.E de G), a sul(Fig.1).

(Clique na imagem para ampliar)

A tese apresentada tem como objecto a situação colonial instituída pelos Portugueses, a partir do primeiro quartel do século XVI, nas Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado, daqui em diante designadas, apenas, por Ilhas, e terras firmes adjacentes e procura conhecer, objectiva e sistematicamente, as estruturas, o funcionamento e os processos sociais e de mudança, tanto da sociedade colonizadora como da sociedade colonizada e as respectivas lógicas internas, dinâmicas e práticas.

A concretização do presente estudo representa uma importante contribuição para a história económica, política e social da colonização portuguesa, de Moçambique e dos Países vizinhos de Norte e Leste e para a comunidade científica internacional.

O arquipélago das Querimbas ou de Cabo Delgado integra-se num vasto conjunto insular, situado na costa leste de África, entre Sofala e Guardafui, que, desde há séculos, serviu de palco privilegiado a múltiplos contactos de povos e de culturas ou civilizações e a permanentes sínteses bio-culturais e sociais. Para esta extensa região costeira, por razões de natureza económica, política e religiosa, convergiram, desde há muitos séculos, fluxos migratórios provenientes da Ásia, da Europa e da própria África que, através de consecutivos cruzamentos inter-genéticos e de uma permanente interpenetração de culturas, estiveram na génese e florescimento da civilização suaíli e das suas variantes, aliás, observadas e descritas, a partir da última década do século XV, pelos primeiros nautas portugueses. Grande parte das ilhas deste vasto conjunto e as suas realidades sócio-culturais já mereceu a atenção pluridisciplinar de muitos estudiosos. Entre as excepções encontramos as ilhas de Querimba, berço do povo mwani( significa, na língua da terra, gente da praia), portador de uma cultura e língua(kimwani) próprias, que apenas foram objecto de algumas abordagens parcelares, nem sempre pautadas pela objectividade e pelo rigor científico.

O presente estudo será, pois, um valioso contributo para ajudar a compreender a sociedade suaíli e os seus sub-grupos, de que o povo mwani faz parte, e esclarecer o significado e a função das suas experiências nos vários domínios da sua realidade sócio-cultural, antes e depois da era gâmica.

Com a sua tese, com base no conhecimento pessoal que possui do território e das suas etnias e nas fontes - pessoas e documentos, especialmente escritos -, o autor descreve e interpreta, sistematicamente:

- A toponímia do território e das suas partes e as alterações temporais verificadas; a interacção entre os diferentes ecossistemas (aquáticos, terrestres e humanos) e os fenómenos sócio-culturais, dando especial relevo aos principais factores ecológicos responsáveis pelos padrões ambientais do território que serviram de suporte às diversas actividades humanas, que condicionaram, e às biocenoses existentes;

- O ambiente sócio-cultural índico-africano observado pelas armadas portuguesas, cujo conhecimento é indispensável para a explicação dos problemas sócio-económicos e políticos levantados pela presença lusíada no Oceano Indico e para compreender, com mais precisão, o funcionamento e a lógica interna do subsistema social/situação colonial, constituído pelas Ilhas e terras firmes adjacentes;

- O aspecto demográfico de modo a caracterizar os seus elementos típicos e a definir os vários problemas resultantes do contacto de grupos étnicos diferenciados e de seus elementos, e de culturas, declaradamente, heterogéneas;

- As inter-relações entre as diversas realidades sócio-políticas e económicas sediadas nas terras firmes, especialmente, as povoadas por povos de etnia makhwa, independentes do poder colonial português e a realidade sócio-cultural constituída pelas Ilhas;

- O conjunto de estruturas sociais, económicas, político-administrativas, militares e religiosas que as autoridades coloniais utilizaram para consolidar a conquista política, incrementar a exploração económica e difundir o Cristianismo, isto é, para imporem a sua totalidade social a outra totalidade social com base num sistema de relações sociais desiguais, e a influência dessa intervenção na estrutura e funções das instituições sociais, tanto da sociedade em situação colonial como das sociedades vizinhas das terras firmes não integradas nos prazosdacoroa;

- Os problemas mais significativos relacionados com os aspectos estruturais e organizativos do sector económico, designadamente os ligados com os prazos da coroa, propriedade e exploração da terra;

- A natureza das rotas oceânicas e das redes comerciais;

- As trocas comerciais, agentes, bens transaccionados, tráfico de escravos e meios de pagamento e o seu impacto nas estruturas demográficas, produtivas e políticas, tanto na situação colonial como nas sociedades africanas vizinhas;

- O desenvolvimento do comércio internacional, regional e a longa distância com implicações decisivas:
  • no empobrecimento e abandono da agricultura do território;
  • na decadência dos prazos da coroa e na prestação de serviços por parte dos foreiros/senhorios à administração colonial;
  • nas trocas comerciais com o interior e no relacionamento dos comerciantes com as autoridades políticas das chefaturas africanas não subordinadas ao poder político colonial;
  • na demografia do território;
  • no aumento do tráfico esclavagista;
  • na eclosão de conflitos armados contra o território provenientes do exterior por parte de piratas franceses, de chefados Makhwa, Mouros da costa e de Sakalava;
  • na perda de influência do cristianismo e de seus representantes e no crescente aumento da influência do Islamismo;
  • nas rebeliões e "levantamentos" de individualidades locais pertencentes às principais famílias dominantes contra a presença portuguesa.
- As relações estabelecidas entre cristãos e maometanos e as dinâmicas do Islamismo e do Cristianismo, perante as realidades socioculturais bantos, com relevo para o papel dos Dominicanos como intervenientes activos da colonização portuguesa e para a difusão da religião islâmica; e

- as situações de convivência, cooperação, conflito, contestação e resistência, estas três últimas, geradas como resultado da intervenção do colonizador e da imposição de novos valores e expectativas contrários aos interesses de uma aristocracia dominante de mercadores, tanto da terra, como estrangeiros.

O projecto de investigação concretizado, limitado, por razões de natureza pessoal e económica, a um universo temporal, compreendido entre 1742 e 1842, resultado de uma prolongada e cuidada pesquisa no terreno e documental, apoia-se numa abordagem sincrónica-diacrónica e interdisciplinar, centrada nos pontos de contacto entre as várias Ciências Sociais e Humanas, particularmente, entre a História, a Ecologia Humana, a Antropologia Cultural, a Sociologia e a Economia.

As fontes e as técnicas de recolha de dados foram as mais adequadas à natureza e aos condicionalismos temporais traçados a atingir. A experiência adquirida através da observação participante e de entrevistas directas e pessoais e o contacto diário com as populações, as suas particularidades, originalidades e problemas, durante mais de cinco anos, proporcionaram, ao autor deste trabalho, uma vivência muito aproximada da realidade, permitindo, por um lado, um entendimento mais claro e aproximado da situação colonial em análise, dos seus processos, das suas práticas e dos seus resultados. Por outro, prestaram uma valiosa ajuda na análise de conteúdo e na interpretação dos milhares de documentos escritos - manuscritos e impressos -, designadamente, cartográficos, consultados nos principais arquivos portugueses da especialidade. O procedimento metodológico posto em prática, aliás, defendido e adoptado por muitos investigadores do social parte do princípio de que o contacto pessoal com uma região, o seu povo e a sua cultura constitui uma prática necessária para colmatar insuficiências do conhecimento do passado. Os estudiosos que não trabalharam no terreno nem tiveram a oportunidade de se enquadrar no ambiente eco-geográfico e sócio-cultural de um povo, sociedade ou comunidade cujo passado pretendem conhecer e analisar, defrontar-se-ão com dificuldades acrescidas ao procurarem desvendar e explicar as inter-relações Homem/Ambiente, Homem/Homem e Homem/Sobrenatural engendradas em diferentes épocas e os processos de dinamismo cultural e de mudança gerados ao longo do tempo.

Depois de delineados o objecto e os principais objectivos da tese de doutoramento apresentada e defendida, indicam-se alguns dos seus traços mais significativos.

Após a sua reconquista, em 1523, uma minoria social, impunha nas Ilhas uma situação colonial caracterizada por um regime de propriedade, de trocas comerciais e de trabalho, e um sistema de subordinação política, pautados por valores poucas vezes compatíveis com a realidade sócio-cultural submetida.

A efectivação do domínio português exigia a ocupação e o povoamento efectivo do território conquistado, a criação e a manutenção de um símbolo de soberania, que passava: pela obediência; pelo estabelecimento de novas relações sociais quanto à posse e exploração da terra e ao comércio; pelo pagamento de um tributo; e pela prestação de novas formas de trabalho, por parte de uma maioria constituída pela população colona e escrava.

A concretização destes objectivos nem sempre foi alcançada, atendendo às dificuldades que tiveram as autoridades portuguesas em implantar, localmente, a sua realidade sócio-cultural, de matriz ocidental e, por conseguinte, estabelecer um sistema de poder (político, económico e simbólico-ideológico) efectivo, pleno e completo.

À incompatibilidade dos sistemas sócio-culturais em contacto, cada um com racionalidades próprias, acrescia, por parte dos Portugueses, a escassez de povoadores e de recursos materiais, indispensáveis para valorizar e defender a nova conquista, factores limitadores que seriam suficientes para levar ao fracasso a sua missão colonizadora. Contudo, tal não aconteceria e esses obstáculos foram, pouco a pouco, ultrapassados, tanto pelo génio, criatividade e plasticidade, como pelo individualismo, oportunismo e improvisação do homem português, o homem simples que, exemplarmente, nos novos espaços geográficos e sócio-culturais e em situações multifacetadas contrastantes, teve a capacidade de moldar e de se deixar moldar, de criar uma original solidariedade comunitária e novas realidades bio-culturais e de se adaptar a contextos específicos.

Um dos mais significativos e sérios obstáculos levantados à concretização dos desígnios dos Portugueses nas novas conquistas, nomeadamente, nas Ilhas, foi sem dúvida alguma, o problema relacionado com o povoamento. Tornava-se indispensável colonizar, povoar, realizar uma ocupação produtiva, com a ajuda de grupos humanos vindos de outras terras, para consolidar a conquista política, promover e expandir a fé de Cristo e incrementar a exploração económica. Mas este complexo processo exigia recursos humanos cuja disponibilidade escasseava, tanto a nível de quantidade como de qualidade. A população portuguesa do Reino apresentava uma expressão diminuta, não só quantitativa como até qualitativa, para poder atender, simultaneamente, as exigências de povoamento das imensas terras, sob o domínio português, espalhadas por esse Mundo fora.

Nesta perspectiva, qualquer projecto para o povoamento das Ilhas, pelas suas reduzidas dimensões e pouca importância geo-estratégica, relativamente, à ilha de Moçambique ou aos Rios de Sena, tinha à partida menos viabilidade de concretização. Mesmo assim não deixaram de ser elaboradas propostas concretas para solução do problema do povoamento do território conquistado que, tiveram sempre como resposta o esquecimento ou o constante adiamento. Para as Ilhas reclamavam-se colonos, de preferência casais, da Europa - Reino e Açores - e da Ásia: Goa, Macau e Bombaim, por serem esses que mais garantias políticas e culturais ofereciam à concretização da política colonial portuguesa.

A análise de alguns testemunhos chegados até aos nossos dias - mestiçagem, ruínas de antigos edifícios e documentos escritos - demonstra terem estas terras do litoral norte moçambicano sido povoadas, pelo menos durante o século XVI e parte do XVII, por gente portuguesa, nem sempre de boa fama, numa primeira fase, vinda do Reino (os denominados reinóis) e do Brasil e, posteriormente, da Índia. A partir do 2º quartel do séc. XVII verifica-se um crescente despovoamento do território. Em 1609 eram habitadas dezoito ilhas, em 1634 nove, em 1744 sete, em 1798 seis, em 1807 quatro e 1817 três.

Segundo o pré-censo de 1798[iii] , talvez o primeiro a ser realizado em Moçambique, as seis, das vinte oito ilhas e respectivas terras firmes, eram habitadas pela seguinte população:

O fracasso do povoamento com gente vinda do exterior seria de algum modo ultrapassado com a ajuda da mestiçagem espontânea, muitas vezes, incentivada pelas autoridades portugueses locais que tinham a preocupação de manter um núcleo de habitantes com traços fenotípicos semelhantes às dos europeus, por, então, eles constituírem um factor cultural relevante para a sobrevivência da situação colonial. Os dados disponíveis mostram uma altíssima percentagem de mestiçagem na população local, aliás, atestada pelo seu Capitão e Governador das Ilhas, em 1798, ao afirmar que os cristãos naturais do território(48,5% da população não escrava) " ... os que não são parentes dos maometanos e deles descendentes, o são de cafres macuas e macondes e por consequência nada diferem dos mulatos, nem na cor nem no cabelo - ainda mesmo alguns filhos e netos de europeus e asiáticos -..."[iv]

Foi essa gente mestiça- genética e culturalmente - que, de acordo com as suas capacidades, desempenhou altos cargos político-administrativos e militares (governador, mestre de campo, coronel, capitão-mor, sargento-mor, foreiro, feitor, presidente do senado, senador, juiz, ... .) em igualdade de circunstâncias com moradores de outras naturalidades e tonalidades de pele.

Os Portugueses nas suas colónias distinguiram sempre os povos colonizados mais pela religião do que pela cor da pele. Comprova-o, clara e inequivocamente, o Alvará com força de Lei de 2/4/1711, aplicado aos territórios sob administração colonial por Alvará de 10/4/1763. A sua concretização no território de Moçambique teve lugar através do Edital de 11/8/1763, que rezava assim: "Todos os vassalos nascidos em Moçambique sendo cristãos baptizados e não tendo outra inabilidade de direito, gozam das mesmas honras, preeminências, prerrogativas e privilégios de que gozam os naturais deste Reino sem a menor diferença, havendo-os desde logo habilitados para todas as honras, dignidades e empregos, postos e ofícios e jurisdições deles"[v].

Após a ocupação, no território foram instituídos prazos da coroa, organização social com uma vertente económica significativa ligada à propriedade e ao aproveitamento das terras. Constituindo domínios territoriais pertencentes à Coroa Portuguesa eram administrados por senhorios ou prazeiros, sem propriedade plena sobre as terras aforadas, que pela sua autoridade, força e influência, dispunham de um conjunto significativo de direitos de natureza político-administrativa, militar, fiscal e judicial, com a ajuda dos quais organizava e administrava as populações, colonos e escravos, que trabalhavam as suas terras. Como contrapartida destes direitos obrigavam-se a pagar, anualmente, ao erário real o foro, a que se juntaria, mais tarde o dízimo e a prestar, às autoridades coloniais portuguesas, ajuda militar e administrativa com as suas gentes, sempre que a ordem pública e o bem comum assim o exigissem.

Nos finais do século XVI, estavam aforadas todas as ilhas de importância estratégica e económica e suas morimas[vi] , situadas entre a ilha de Sito e o Cabo Delgado e todos os aforamentos, com excepção do de Criacoma/Mussemuco, sediado em terras firmes, englobavam território insular e continental, as morimas, particularidade que os diferenciava dos prazos instituídos na Zambézia, Tete e Sofala.

O fracasso do povoamento com gente vinda do exterior seria de algum modo ultrapassado com a ajuda da mestiçagem espontânea, muitas vezes, incentivada pelas autoridades portugueses locais que tinham a preocupação de manter um núcleo de habitantes com traços fenotípicos semelhantes às dos europeus, por, então, eles constituírem um factor cultural relevante para a sobrevivência da situação colonial. Os dados disponíveis mostram uma altíssima percentagem de mestiçagem na população local, aliás, atestada pelo seu Capitão e Governador das Ilhas, em 1798, ao afirmar que os cristãos naturais do território(48,5% da população não escrava) " ... os que não são parentes dos maometanos e deles descendentes, o são de cafres macuas e macondes e por consequência nada diferem dos mulatos, nem na cor nem no cabelo - ainda mesmo alguns filhos e netos de europeus e asiáticos -..."[iv]

Foi essa gente mestiça- genética e culturalmente - que, de acordo com as suas capacidades, desempenhou altos cargos político-administrativos e militares (governador, mestre de campo, coronel, capitão-mor, sargento-mor, foreiro, feitor, presidente do senado, senador, juiz, ... .) em igualdade de circunstâncias com moradores de outras naturalidades e tonalidades de pele.

Os Portugueses nas suas colónias distinguiram sempre os povos colonizados mais pela religião do que pela cor da pele. Comprova-o, clara e inequivocamente, o Alvará com força de Lei de 2/4/1711, aplicado aos territórios sob administração colonial por Alvará de 10/4/1763. A sua concretização no território de Moçambique teve lugar através do Edital de 11/8/1763, que rezava assim: "Todos os vassalos nascidos em Moçambique sendo cristãos baptizados e não tendo outra inabilidade de direito, gozam das mesmas honras, preeminências, prerrogativas e privilégios de que gozam os naturais deste Reino sem a menor diferença, havendo-os desde logo habilitados para todas as honras, dignidades e empregos, postos e ofícios e jurisdições deles"[v].

Após a ocupação, no território foram instituídos prazos da coroa, organização social com uma vertente económica significativa ligada à propriedade e ao aproveitamento das terras. Constituindo domínios territoriais pertencentes à Coroa Portuguesa eram administrados por senhorios ou prazeiros, sem propriedade plena sobre as terras aforadas, que pela sua autoridade, força e influência, dispunham de um conjunto significativo de direitos de natureza político-administrativa, militar, fiscal e judicial, com a ajuda dos quais organizava e administrava as populações, colonos e escravos, que trabalhavam as suas terras. Como contrapartida destes direitos obrigavam-se a pagar, anualmente, ao erário real o foro, a que se juntaria, mais tarde o dízimo e a prestar, às autoridades coloniais portuguesas, ajuda militar e administrativa com as suas gentes, sempre que a ordem pública e o bem comum assim o exigissem.

Nos finais do século XVI, estavam aforadas todas as ilhas de importância estratégica e económica e suas morimas[vi] , situadas entre a ilha de Sito e o Cabo Delgado e todos os aforamentos, com excepção do de Criacoma/Mussemuco, sediado em terras firmes, englobavam território insular e continental, as morimas, particularidade que os diferenciava dos prazos instituídos na Zambézia, Tete e Sofala.

Esta forma típica de prazo teria como fundamentos:

- a situação geográfica das Ilhas relativamente ao continente;

- a sua reduzida dimensão; a falta de água e a pobreza dos solos, estas duas realidades evidentes na maioria delas;

- a geografia política e a ecologia das terras firmes.

A conjugação destes factores, para além de não possibilitar uma produção de bens e uma reprodução social adequadas às exigências da população das Ilhas e às solicitações externas, limitava, a produção agrícola e o povoamento, nomeadamente, europeu. As condições menos favoráveis ao seu povoamento e ao desenvolvimento das actividades necessárias à sobrevivência humana eram contrabalançadas pela segurança que elas ofereciam, relativamente às ameaças, hostilidades e ataques desferidos do exterior.

Os prazos instituídos no território, com uma área estimada de 44 325 ha, eram constituídos por uma população, socialmente diferenciada e etnicamente heterogénea, composta de senhorios ou foreiros, colonos e escravos, estes em maioria, propriedade, especialmente, dos primeiros.

As sesmarias apenas eram concedidas a candidatos possuidores de determinados atributos:

- suficiência para o desempenho do papel que passava pelo conhecimento dos dialectos e dos usos e costumes das populações dos prazos e terras limítrofes, e pelo respeito e conceito por que eram tidos por parte das populações macuas e mouras do que o continente estava povoado;

- desempenhar ou ter desempenhado, com cabal satisfação e notório zelo, uma carreira civil ou militar no Real Serviço, cumprindo sempre as obrigações de bom vassalo de Sua Majestade e de boa vida e costume, sem em tempo algum cometer crime;

- estar na posse de bens suficientes, designadamente, escravos, para suportar as despesas indispensáveis para cumprir as suas obrigações imposta na carta de sesmaria;

- possuir capacidade de liderança, firmeza e agressividade;

- residir nas terras dos prazos para poder acudir e dar as providências precisas quando necessário e no momento certo;

- o estado de viuvez, por morte do marido, quando oficial português e aliado ao de pobreza; e o estado de pobreza de descendentes de foreiros quando do sexo feminino.

Entre os candidatos a sesmeiros incluíam-se, obrigatoriamente: as viúvas de oficiais, os empregados públicos e as filhas de uns e outros.

Não bastava, contudo, estar na posse dos atributos formais exigidos, pois, a decisão final, de natureza política, caberia, em última estância, ao Capitão-General que tinha a liberdade de concessionar as terras devolutas e vagas a quem bem lhe parecesse ou seja aos mais identificados com a situação colonial imposta e com a ideologia defendida pelas autoridades portuguesas.

As terras foram, numa primeira fase, concedidas, preferencialmente, a reinóis. Mas com a sua falta e a alteração dos fluxos migratórios, os prazos passariam, sucessivamente, para as mãos de descendentes de reinóis, de indo-portugueses e seus descendentes e de naturais das Ilhas. Em 1791, estava consumada a africanização dos senhores dos prazos. Todos eles se encontravam na posse das mais prestigiadas famílias negras e mestiças do território.

Para além dos deveres específicos constantes das cartas de sesmaria, os foreiros tinham como obrigações genéricas:

- obedecer às autoridades coloniais e fazer com que os colonos e escravos sob a sua dependência o fizessem de igual modo;

- cumprir e executar as ordens e instruções das ditas autoridades;

- informar estas autoridades de todas as ocorrências extraordinárias verificadas no território dos seus prazos;

- não consentirem nas suas terras a prática do muave- planta alucinatória -, sob pena de perda dos seus prazos e ficarem privados do exercício dos postos e empregos civis ou militares que ocupassem e serem presos e devassados;

- auxiliar as autoridades civis e eclesiásticas na recolha de informação reservada à elaboração das relações de população, e de produtos naturais e elementos etnográficos destinados a colecções e museus;

- assegurar a defesa e manter o sossego, a ordem e a tranquilidade públicas na área da sua jurisdição;

- recrutar colonos e escravos que, para defesa ou polícia do território sob o domínio português, lhes fossem requisitados pelo Capitão General ou pelo Capitão-mor das Ilhas;

- fornecer mão-de-obra, sob a sua dependência, para as obras reais, como fortalezas, fortes, edifícios públicos, abertura e limpeza de estradas públicas e de poços públicos;

- controlar o movimento de pessoas e embarcações, na área dos seus prazos, que não podiam deslocar-se, sem expressa licença escrita, as primeiras por terra para o sertão da Macuana e Ajawa, as segundas para norte e sul das Ilhas;

- desenvolver a agricultura e as artes;

- manter boas relações com os povos vizinhos; e

- dar livre passagem pública para fontes, pontes e portos.

Como contrapartida e para cumprimento deste vasto conjunto de obrigações, os foreiros beneficiavam, para além da cobrança de impostos, de alargados privilégios, entre os quais se realçam:

- a gestão independente do prazo, directamente ou pelos seus procuradores com a ajuda de uma estrutura político-administrativa; e

- a administração da justiça, que lhes conferiam vantagens económicas e um status social elevado na comunidade local.

Consideravam-se como verdadeiros senhores, que para se fazerem respeitar, recorriam, muitas vezes, a medidas arbitrárias fundadas na violência. Foram, muitas vezes, considerados pelas autoridades coloniais como homens sem piedade, desobedientes e preguiçosos, praticantes de sanguinolentas ferocidades, de costumes bárbaros e de usuras desmedidas.

Concediam-se, sem dúvida, aos foreiros, poderes quase absolutos sobre uma determinada área, facilitando-se-lhes os meios de realizar, com o seu próprio esforço, um conjunto de acções que, tendo em vista a instalação e subsistência dos colonos, as autoridades coloniais, por falta de recursos (humanos e materiais), estavam impossibilitadas de concretizar.

Em 1798 , segundo a Relação de População, já referenciada, existiam os seguintes prazos e respectivos foreiros, de sul para norte:

1- Ilha de Sito
Com suas morimas, concedido ao cor. de milícias Calisto de Morais, filho de João de Morais.

2- Ilha de Quisiva
Com as suas morimas, que incluíam as férteis terras de Arimba, concedido ao dito ao cor. de milícias Calisto de Morais.

3- Ilha de M’funvo
Abrangia a ilha de Quilaluia, despovoada e as respectivas morimas concedido ao referido cor. de milícias Calisto de Morais.

4- Ilha de Querimba
Mais a norte, estava localizado o prazo da ilha de Querimba, sob a jurisdição do foreiro Luís António Baptista, capitão-mor, com as suas morimas, em número de 13, das quais se destacavam os distritos da Quissanga, Maxeia e Mussomero.

5- Ilha do Ibo
O prazo da ilha do Ibo era constituído pela própria ilha e pela sua morima denominada Pemba (que deve ser Memba) e estava concedido a D. Domingas Petronila de Morais (filha de João Morais).

6- Mussemuco
Vinha depois, o prazo de Mussemuco, com terras apenas na parte continental, cujo foreiro era Bwana Agi Selemane, Língua do Estado.

7- Ilha de Matemo
A ilha de Matemo e os ilhéus de Teixeira e Rolas (desabitados os dois), constituíam a parte insular de outro prazo, a que se acrescentava as terras firmes de Quirimize. Pertencia a D. Ana Joaquina da Silva Neves.

8- Ilha de Macalóe
Ao aforamento anterior, seguia-se, para norte, o da ilha de Macaloé, com importantes vestígios de uma fortaleza e um convento, que abrangia mais as ilhas de Mulundulo, Quifula, Ihate, M'djumbi, Quissanga e Pássaros, que, como a primeira, eram todas desertas, e os distritos das terras firmes, entre eles, o de Pangane. Estava concessionado a D. Maria Mendes da Silva Delgado.

9- Ilha de Lupululo
Referenciava-se, depois, o prazo da ilha de Lupululo, sita perto da povoação de Mossimboa, composto, para além daquela, das ilhas de Mionge, M'Shanga, Tambuzi, Suna ou Soncié e Cungo, todas desabitadas e suas morimas das terras firmes, entre elas, Mossimboa. Estava, então, na posse do foreiro João Gonçalves Delgado.

10- Ilha de Amisa
Ao foreiro Calisto de Morais, atrás mencionado, pertencia, ainda, o prazo da ilha de Amisa, constituído pela ilhas de Quifuqui, Mutundo, Quissungura, Vumba, Amisa e Quiramimbi, desertas e as terras firmes adjacentes, como Mulúri e Banuala.

11- Ilha de Longa ou Rongwi
Este era penúltimo prazo mais setentrional, sem população permanente, composto por esta ilha e pela terra firme de Funzi. Estava aforado por de Manuel Baptista Pereira.

12- Tecomadji
Estava situado mais a norte do território das Ilhas, que compreendia a própria ilha, igualmente despovoada, e a terra firme de Missete, sendo pertença de Francisco Pais de Morais, também filho de João Morais.

Dos doze prazos implantados, apenas, o de Mussemuco estava concedido a um não cristão, o língua/intérprete da Capitania-mor, de religião islâmica.

Os colonos constituíam uma significativa unidade sócio-cultural formada, quase na totalidade, por gente forra ou adima, que se ocupava predominantemente, das actividades produtivas ligadas ao sector primária da economia: agricultura, pesca e caça.
(Continua)

[i] - Doutorado em Ciências Sociais e Políticas, na Especialidade História dos Factos Sociais, antropólogo e professor universitário. Este artigo foi publicado pelo Centro de Estudos sobre África e de Desenvolvimento, do Instituto Superior de Economia e Gestão, da UTL, no Anuário CEsA/2000 , pp 15-37.

[ii] - Todas de reduzidas dimensões, as mais importantes em termos demográficos e económicos eram então: a Amisa, Macalóe, Matemo, Ibo, Querimba, M'funvo e Quisiva.

[iii]- Relação Geral dos Habitantes das Ilhas e das Povoações e Terras Firmes dos seus Distritos., de 31/12/1798. A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx.82, Doc.11.

[iv]- Relação cit. fls. 1.

[v]- BENTO, Carlos Lopes-As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado-Situação Colonial, Mudanças e Resistências.., Vol. I, p. 140 e A.H.U., Doc.Av.de Moç.,Cx.22, Doc.31.

[vi]- A parte continental do prazo designaram os Portugueses por mourimas, murimas, moirimas, morimas ou moribas, vocábulo que não se encontrou nos dicionários de língua portuguesa e constituirá, sem dúvida, uma corruptela da palavra suaíli m'rima/mirima, que significa continente ou terras firmes.