11/29/05

Moçambique - Turismo - Opinião !




Moçambique turístico.

Está neste momento a decorrer em Maputo o Congresso das Agências de Viagens e Turismo de Portugal, com cerca de quinhentos participantes.
Tendo o MOÇAMBIQUE PARA TODOS estado em Moçambique de 9 a 24 do corrente mês, além dos saborosos camarões que “deixam sem fôlego qualquer um”, e em que “a natureza nos brindou com uma longa costa de águas cristalinas, que se completa com uma riquíssima fauna” no dizer de Luísa Diogo, que mais tem feito o governo de Moçambique para atrair turistas de todo o mundo?
Sendo a “combinação de selva e mar um produto turístico único”, como acrescentou a Primeira Ministra, como conjugá-los?
Do que há poucos dias vimos e sentimos, podemos concluir que não basta ao turista pequenas “ilhas” de bem-estar e prazer.
O turista certamente quer conhecer o País, a sua história e as suas gentes.
E o “sorriso” de famintos não ajuda! Mas há sempre um sorriso…
A história de Moçambique, que não começou em 1975, está a ser paulatinamente destruída. Veja-se o que se passa com o Forte de Jerónimo Romero em Pemba, com a Fortaleza e outros monumentos da Ilha de Moçambique, com a Igreja da Cabaceira Grande (primeiro templo católico no continente na costa oriental de África), com o palácio de verão dos governadores de Moçambique de 1795, igualmente na Cabaceira, com o Museu Nacional de Etnologia em Nampula, com o acesso às reservas do Parque Nacional da Gorongoza ou do Maputo, entre muitos outros.
Será que o Parque Transfronteiriço irá ter estrada capaz na entrada moçambicana?
Porque não seguir o exemplo de Macau, onde a China reabilitou todo o património histórico legado por Portugal, sendo esta a segunda maior atracção turística a seguir aos casinos.
E o está a fazer CaboVerde.
No dia 19 de Novembro passado fiz a ligação, pela LAM, de Nampula a Maputo, sendo que o avião vinha de Lichinga.
Qualquer turista, não muito exigente, reclamaria do cheiro nauseabundo que a maioria dos passageiros exalava e certamente nunca mais voltaria a Moçambique.
O mesmo acontece nos transportes públicos terrestres.
Será que o povo não quer tomar banho (no que não acredito) ou antes não terá acesso a água potável?
Os senhores ministros e outros, os das belas mansões e carros de topo de gama, já experimentaram?
A não ser que os turistas fossem de helicóptero, directamente para os tais locais paradisíacos (que o são na realidade), não se misturando com o povo, que parece ser o que acontece.
Mas turismo será isto?
Quer o Ministro Fernando Sumbana que o número de turistas suba para 4 milhões nos próximos 4 anos.
Também nós.
Mas como?
Em que circunstâncias?
Com que camas?
Para ver o quê? Lixo nas ruas, pedintes esfomeados, ter o telemóvel roubado enquanto fala ou não percorrer as ruas das cidades por medo e aconselhamento dos próprios agentes turísticos? Por quase nunca haver troco ter de ser este convertido em “saguate” (mesmo em repartições do Estado).
Ser impedido de filmar a esposa ou os filhos nos aeroportos ou nas fronteiras como recordação da entrada ou despedida de Moçambique?
Ou, muito simplesmente, ter curiosidade de conhecer o palácio onde mora o Presidente da República e ter o acesso interdito a alguns quarteirões, quando tal não acontecia no tempo dos Governadores-Gerais?
Como os preços, em relação a outros destinos turísticos semelhantes e com serviços de mais alta qualidade, são em dobro ou mais, como conseguir atrair turistas?
O chamado “turismo da saudade” certamente que não será suficiente para o turismo que se pretende.
MOÇAMBIQUE PARA TODOS esteve com o povo.
Conviveu com o povo.
Ouviu o povo.
Inevitáveis as comparações em muitos aspectos da vida quotidiana.
Até porque a liberdade da conversação estava assegurada à partida.
Com mais pragmatismo e menos política (ou politiquice), resultados positivos aparecerão a breve trecho. Estou certo disso.
Resta-me concluir que Moçambique merece melhor governo, que povo sempre teve de primeira água!
E até breve, amigos!
Fernando Gil

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