10/05/07

Moçambique - Ausência de guerra não significa paz.

A Opinião do "OBSERVADOR" - Ano I *Nº 072 *Sexta-feira 05 de Outubro de 2007:
(...) Depois de alguns passos em frente protagonizados por Chissano, Moçambique volta a retroceder
para o pódio dos mais pobres.
Contrariamente à notícia dada à estampa na edição passada, o líder da oposição moçambicana, Afonso Dhlakama, não esteve presente na Praça da Paz em Maputo, nas celebrações do 15º aniversário do Acordo Geral de Paz, mantendo assim o seu boicote aos eventos oficiais do Governo.
Orlando Castro
Não sei se se comemora a paz ou a ausência de guerra o que não é, convenhamos, a mesma coisa.
Paz pressupõe, na minha leitura, dar de comer a quem tem fome. E isso ainda está muito longe.
O presidente da RENAMO, principal partido da oposição moçambicana, foi, com o ex-Presidente moçambicano Joaquim Chissano um dos signatários em Roma do Acordo Geral de Paz, que a 4 de Outubro de 1992 pôs termo a cerca de 16 anos de guerra civil em Moçambique. A RENAMO mantém o mesmo líder, o que não sei se é bom, mas o país mudou de presidente. E mudou, na minha opinião, para pior.
Se Chissano conseguiu afastar a guerra, Armando Guebuza parece estar a afastar a paz.
O conflito armado moçambicano opôs a antiga guerrilha da RENAMO às forças governamentais da FRELIMO, provocando mais de um milhão de mortos e elevados prejuízos económicos que atiraram Moçambique a lista dos países mais pobres do Mundo.
Caladas as armas, a FRELIMO continua a ser - já lá vão 15 anos, a ser a dona e senhora do país e, depois de alguns passos em frente protagonizados por Chissano, volta a retroceder para o pódio dos mais pobres. Moçambique, que não está só em matéria de pobreza, continua contudo a ter poucos com muitos milhões e, é claro, muitos milhões com muito poucos... ou nada.
Segundo o porta-voz da RENAMO, Fernando Mazanga, a RENAMO e o seu líder estarão presentes na Praça da Paz e no culto ecuménico que terá lugar no Centro de Conferências Joaquim Chissano, para assinalar o 15º aniversário do Acordo Geral de Paz.
É, apesar de tudo, um bom sinal.
Sinal de que ainda há gente que põe a força da razão acima da razão da força. Falta é saber se será por muito tempo.
A RENAMO exige a inclusão na lista dos heróis moçambicanos de algumas das suas figuras, entre as quais o fundador deste partido, André Matsangaíssa, morto em 1977 numa batalha com as forças governamentais.
Será difícil entender que heróis não são apenas os que concordam connosco, não são apenas os que estiveram do nosso lado?
Enquanto Moçambique (os seus eternos líderes) não perceberem que a guerra está à distância de um dedo, mas que a paz está muito mais longe, então o perigo mantém-se.
Com a ausência na Praça dos Heróis, Dhlakama mantém o seu boicote ao panteão onde repousam os restos mortais dos heróis oficialmente reconhecidos pela FRELIMO, partido no poder desde a independência do país, a 25 de Junho de 1975, entre os quais o fundador do partido e do país, Samora Machel, e o poeta José Craveirinha.
Desde quando uma só organização, no caso a FRELIMO, tem o direito exclusivo de dizer quem são os heróis?
Desde que chegou ao poder, eu sei.
Mas, para haver paz, devem ser os moçambicanos a dizer quem são os seus heróis.
Os moçambicanos todos. Não apenas parte deles.
“Temos a nossa história e os nossos heróis e eles devem ter o reconhecimento do país pelos seus feitos, pois caso contrário continuaremos a afirmar que o Governo só reconhece os heróis da FRELIMO e não do povo moçambicano”, reforçou o porta-voz do principal partido da oposição moçambicana.
É isso mesmo.
Não sei se a RENAMO teria o mesmo comportamento se estivesse no poder.
Creio que não.
Mas de facto, há muita gente que andou nas matas com a farda da RENAMO e que hoje, como ontem, pergunta:
-Foi para isto que lutei ?

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