Os mistérios e mitos da "agreste" África vão sendo desvendados, expostos cada vez mais neste mundo mágico da informação que é a net e, com o conhecimento, vai acontecendo a transformação gradual do antipático, do inóspito e violento em charme, em poesia, em beleza e até em novidade e encanto para o mundo que a desconhece e até para as crianças.
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Do jornal "Estado de São Paulo"-Brasil, Quinta-feira, 11 de Outubro de 2007:
África que encanta crianças
África que encanta crianças
Editoras enfim descobrem o tom certo, sem ser superficial ou didático e sem resvalar no preconceito, para divulgar o melhor da cultura africana em livros infantis.
Beth Néspoli
Beth Néspoli
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Sabe como se pronuncia leão em swahili, uma das línguas faladas na África?
- Simba!
- Ah! Por isso o nome do leão no famoso filme da Disney?
A descoberta agrada a crianças e a adultos e vem das páginas do livro infantil Um Safári na Tanzânia, que acaba de ser lançado pela editora SM.
Num país mestiço como o nosso, que tem na África uma matriz cultural importante na formação da identidade nacional, tal publicação é relevante, bem-vinda e deveria estar em todas as bibliotecas públicas.
Embora mais presente nos últimos cinco anos, esse tipo de livro infantil ainda pode ser considerado novidade no mercado editorial.
Mesmo os muito pequenos, que ainda não sabem ler, podem se encantar com as ilustrações de Julia Cairns para o texto de Laurie Krebs, em Um Safári na Tanzânia, que, de forma lúdica, ensina a contar, usando o olhar de um grupo de crianças que passeia pela savana.
Eles vêem javalis, gnus, hipopótamos e leões, sempre em grupo, em número crescente.
No fim do volume, uma espécie de posfácio didático, eficiente e atrativo traz o nome em swahili dos animais vistos pelas crianças, um mapa que localiza a Tanzânia no continente africano e um texto curto sobre o país e o povo Masai que habita a região que faz fronteira com o Quênia.
Outro lançamento infantil da SM é Yemanjá.
A autora, Carolina Cunha, profunda conhecedora da cultura iorubá, escreveu seu primeiro livro para crianças em 2002, Aguemon, também com temática africana, que, editado pela Martins Fontes, foi indicado para o Prêmio Jabuti.
Nas páginas de Yemanjá, o leitor encontra glossário que explica termos como ifá (oráculo iorubá) e ebó (oferenda aos deuses).
De certa forma, Carolina Cunha tenta dar às crianças de hoje algo que ela própria sentiu falta na infância.
Baiana, menina branca de classe média, ela conseguiu que os pais trouxessem da Inglaterra o brinquedo pedido: um bebê negro.
“Não tinha boneca negra em Salvador, só de pano, não é absurdo? Vivendo na Bahia, era inevitável que eu entrasse em contato com a religiosidade de raiz africana. Lembro-me da empregada lá de casa que toda noite de quarta-feira se arrumava, linda, para ir a um ritual que era cercado de mistério. Eu ficava muito curiosa, mas não entendia direito.”
Agora ela não só entende como compartilha essa compreensão, de forma poética e simples, com crianças brasileiras em seus livros.
Envolver o leitor mirim com lendas e mitos da cultura africana certamente é um filão editorial já descoberto.
Por isso mesmo, é preciso tomar cuidado.
Há o risco de simples superficialidade ou, pior ainda, da falsa arte, da historinha inventada unicamente com fins didáticos que, ao fim, não tem potência nenhuma.
Muito interessantes, nesse sentido, são as histórias assinadas por autores africanos.
Pelo menos nas conferidas pelo Estado, nada é explicitamente didático com relação à cultura negra.
Sabe como se pronuncia leão em swahili, uma das línguas faladas na África?
- Simba!
- Ah! Por isso o nome do leão no famoso filme da Disney?
A descoberta agrada a crianças e a adultos e vem das páginas do livro infantil Um Safári na Tanzânia, que acaba de ser lançado pela editora SM.
Num país mestiço como o nosso, que tem na África uma matriz cultural importante na formação da identidade nacional, tal publicação é relevante, bem-vinda e deveria estar em todas as bibliotecas públicas.
Embora mais presente nos últimos cinco anos, esse tipo de livro infantil ainda pode ser considerado novidade no mercado editorial.
Mesmo os muito pequenos, que ainda não sabem ler, podem se encantar com as ilustrações de Julia Cairns para o texto de Laurie Krebs, em Um Safári na Tanzânia, que, de forma lúdica, ensina a contar, usando o olhar de um grupo de crianças que passeia pela savana.
Eles vêem javalis, gnus, hipopótamos e leões, sempre em grupo, em número crescente.
No fim do volume, uma espécie de posfácio didático, eficiente e atrativo traz o nome em swahili dos animais vistos pelas crianças, um mapa que localiza a Tanzânia no continente africano e um texto curto sobre o país e o povo Masai que habita a região que faz fronteira com o Quênia.
Outro lançamento infantil da SM é Yemanjá.
A autora, Carolina Cunha, profunda conhecedora da cultura iorubá, escreveu seu primeiro livro para crianças em 2002, Aguemon, também com temática africana, que, editado pela Martins Fontes, foi indicado para o Prêmio Jabuti.
Nas páginas de Yemanjá, o leitor encontra glossário que explica termos como ifá (oráculo iorubá) e ebó (oferenda aos deuses).
De certa forma, Carolina Cunha tenta dar às crianças de hoje algo que ela própria sentiu falta na infância.
Baiana, menina branca de classe média, ela conseguiu que os pais trouxessem da Inglaterra o brinquedo pedido: um bebê negro.
“Não tinha boneca negra em Salvador, só de pano, não é absurdo? Vivendo na Bahia, era inevitável que eu entrasse em contato com a religiosidade de raiz africana. Lembro-me da empregada lá de casa que toda noite de quarta-feira se arrumava, linda, para ir a um ritual que era cercado de mistério. Eu ficava muito curiosa, mas não entendia direito.”
Agora ela não só entende como compartilha essa compreensão, de forma poética e simples, com crianças brasileiras em seus livros.
Envolver o leitor mirim com lendas e mitos da cultura africana certamente é um filão editorial já descoberto.
Por isso mesmo, é preciso tomar cuidado.
Há o risco de simples superficialidade ou, pior ainda, da falsa arte, da historinha inventada unicamente com fins didáticos que, ao fim, não tem potência nenhuma.
Muito interessantes, nesse sentido, são as histórias assinadas por autores africanos.
Pelo menos nas conferidas pelo Estado, nada é explicitamente didático com relação à cultura negra.
Assim é, por exemplo, O Que Tem na Panela, Jamela?, também da SM.
E o que dizer de um infantil do premiado moçambicano Mia Couto?
Pois ele é um dos autores da coleção Mama África, da editora Língua Geral, que tem entre seus autores outro escritor de renome, José Eduardo Agualusa.
E eles são tão bons escrevendo para crianças quanto para adultos?
A resposta é um sonoro sim, a julgar por O Beijo da Palavrinha, de Mia Couto, e O Filho do Vento, de Agualusa.
“Entender a existência de diferentes visões de mundo é passo fundamental para combater intolerância e preconceito”, diz Dolores Prades, da editora SM.
Se é na infância que mais se aprende, livros agora não faltam.
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