8/29/10

O MEU REENCONTRO COM O SAUDOSO E QUERIDO PADRE CARMINHO

Todos nós recordamos a figura ímpar do nosso amigo que tão depressa nos deixou.

Não cheguei a vê-lo por estas terras tão longínquas. No casamento da minha filha nascida em Porto Amélia quisemos ter o prazer de ter connosco, além de outras amizades também lá nascidas, a presença dele que a tinha baptizado e o Dr. Carmo que assistiu ao parto. Este deu-nos essa alegria mas o Pr. Carminho, por qualquer razão não pode estar presente.

A minha filha mais velha e o marido tinham estado na Índia e falavam-me maravilhas. Em 2004 voltavam lá e aguçaram-me o apetite (não gosto nada de viajar...).

Resolvemos então que após as “andanças” deles nos encontraríamos em Goa em Janeiro seguinte. Fui primeiro a Nova Delhi para conhecer o celebríssimo Taj-Mahal e dia 15 desembarcava na nossa Goa. Tinha tido a preocupação de me munir do endereço do Padre Carminho e contactá-lo foi das primeiras coisas que fiz. Ficou feliz e queria logo ir buscar-me para ficar em casa dele. Expliquei que estava com os filhos e que ainda andava a visitar a região mas que iríamos o mais depressa possível.

Sorri com a visão da ideia de ele vir buscar-me pensando num Padre Carminho de batina branca e a sua motoreta comigo atrás.

Eu tinha sido submetida a uma melindrosa e complicada operação à base do cérebro e além da inerente debilidade estava bastante desfigurada devido a uma paralisia facial e também 30 anos haviam passado...
No momento do nosso encontro não estava o nosso querido amigo. No lugar um simpático e elegante cavalheiro no seu automóvel conduzido por um jovem goês. Mais magro, sem batina, sem motoreta com o mesmo sorriso e no rosto a alegria de me ver e abraçar mas disse :

- “Estás tão velha minha filha!”

Também ele, como eu, tinha esquecido o TEMPO esse grande mas implacável Escultor.

- “Já passaram 30 anos…” - lembrei eu.

Mas os sentimentos esses não são tão vulneráveis e isso é que é importante.

Fomos para sua casa onde nos esperava um delicioso almoço, visitamos a família e andou a mostrar-nos a ilha, a sua paróquia onde criara uma obra social orientada para mulheres e crianças. Tinha uma irmã já bastante avançada no tempo e duas sobrinhas, uma de férias acabada de chegar da Alemanha onde reside com o marido, cidadão alemão. Teimava em que lá ficássemos e aproveitamos para deixar as malas e compras entretanto feitas, para irmos mais leves à descoberta daquelas paragens tão acolhedoras e que ainda nos falam da nossa História e nos recordam, na sua Natureza, o nosso querido Moçambique.
Voltamos e de novo convivemos momentos muito agradáveis mas com tristeza e saudade porque, claro, seria muito pouco provável um novo reencontro. Mas nunca pensei que tão cedo ele nos iria abandonar para sempre, como infelizmente aconteceu.

Notava-se que era muito querido mas receava que, para continuar, o quisessem obrigar a tornar-se cidadão indiano e ele então renunciaria porque nunca deixaria de ser português.

Descansa em Paz, temos a certeza.
- Portugal, 28 de Agosto de 2010, Maria Emilia Amorim Gil.
  • NOTA: Faleceu em 19 de Janeiro de 2007, com 82 anos de idade, na paróquia de Curtorim, diocese de Goa-Damão, o Padre Carminho Francisco Rodrigues que exerceu funções pastorais no Patriarcado de Lisboa entre 1977 e 2001. Ordenado sacerdote em 1952, o Padre Carminho pertenceu ao presbitério da diocese de Goa-Damão, tendo dedicado alguns anos do seu sacerdócio à diocese de Pemba, em Moçambique. É desta diocese que vem para Portugal, sendo admitido no Patriarcado de Lisboa no ano de 1977. No Patriarcado, exerceu funções paroquiais como pároco do Cercal, Alguber e Figueiros, coadjutor em Alcoentre, e colaborador na Amadora, Alcoentre e Manique do Intendente. Além disso, prestou assistência religiosa nas cadeias prisionais de Alcoentre e Vale Judeus. Tendo regressado definitivamente a Goa, no ano de 2001, o Padre Carminho, nos seus últimos anos de vida, manteve uma generosa actividade pastoral, com especial dedicação aos mais necessitados, tanto na sua como noutras dioceses do país. - Do ForEver PEMBA, 28 de Janeiro de 2007.

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