Mostrar mensagens com a etiqueta Descolonização. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Descolonização. Mostrar todas as mensagens

10/01/08

Ecos da imprensa lusa: A influência "trágica" do partido Comunista Português no processo de descolonização.

A "História" vai sendo feita...
O "Expresso", em tema que espelha a palestra dada terça-feira, em Maputo, pelo historiador português José Pacheco Pereira, diz:

PCP foi "tragédia" no processo de descolonização.
Para Pacheco Pereira, "a herança, quer do colonialismo, quer do PCP, enquanto partido comunista nas colónias portuguesas, é de facto trágica".

A intervenção do PCP em Portugal e junto dos movimentos independentistas nas ex-colónias portuguesas em África foi "trágica" para a história recente desses países, considerou terça-feira, em Maputo, o historiador português José Pacheco Pereira.
Numa palestra subordinada ao tema "As relações dos movimentos de libertação com a oposição portuguesa", Pacheco Pereira defendeu ainda que um debate desapaixonado sobre a história recente pressupõe a emergência de uma "nova geração" e a abertura dos arquivos do PCP e de partidos como a FRELIMO (Moçambique) e MPLA (Angola).
"Se o PCP não tivesse o papel que teve em Portugal o caso de Angola, por exemplo, teria sido muito diferente porque o acordo inicial em Angola é assinado com três movimentos e a independência é feita por um, com tropas cubanas", disse Pacheco Pereira, acrescentando:
"Em Moçambique, a FRELIMO comportou-se como um partido único realizando toda uma série de violências que criaram o caldo de cultura para o conflito civil que houve mais tarde com a RENAMO e praticamente destruiu Moçambique".
Para Pacheco Pereira, "a herança, quer do colonialismo, quer do PCP enquanto partido comunista nas colónias portuguesas é de facto trágica".
"Como aconteceu em muitos sítios, em África destruiu infra-estruturas, fez com que em muitos desses países as pessoas ficassem mais pobres do que eram no tempo do colonialismo", disse o historiador.
Para Pacheco Pereira, autor de uma biografia em vários volumes do falecido dirigente comunista Álvaro Cunhal, a acção do PCP no pós-independência, designadamente enquanto instrumento da extinta União Soviética, influenciou ainda as guerras civis que posteriormente assolaram e arruinaram as ex-colónias africanas de Portugal.
"Uma das heranças que o PCP e a União Soviética deixaram, em muitos aspectos trágica, foram partidos e regimes comunistas. Basta olhar para a bandeira de Angola, para a bandeira de Moçambique para ver a simbologia comunista, uma versão da foice e do martelo", sublinhou.
Pacheco Pereira considerou não ser ainda possível "tirar uma conclusão" sobre a acção do PCP em Portugal no período que se seguiu ao 25 de Abril - se a simples tomada do poder para instauração de um regime do tipo comunista, se a criação de agitação que acelerasse, em condições favoráveis para Moscovo, a entrega das possessões ultramarinas, se ambas.
"Não se pode ainda tirar uma conclusão, mas penso que alguns quadros do PCP objectivamente quiseram tomar o poder em Portugal. Não estou a dizer que fosse essa a orientação da União Soviética", observou Pacheco Pereira, referindo que o PCP teve "enorme importância na génese dos movimentos de libertação", embora essa importância não tenha sido "a mesma para Angola, Guiné ou Moçambique".
Por outro lado, acrescentou, em 1953, os estudantes africanos ligados ao PCP, que mais tarde protagonizaram as lutas pela independência dos respectivos países, fizeram um "movimento de ruptura" recusando ser "apenas uma parte de um movimento português".
- Expresso, 10:30 Quarta-feira, 1 de Out de 2008.

2/23/08

RETORNADOS DE ÁFRICA - A mancha que não se apaga...

...ou o drama ignorado:
.
Segundo Luis M. Viana do Diário de Notícias - Lisboa, RETORNADOS - Vivem-se vidas inteiras sem conhecer o desespero. Mas esse sentimento rude, amargo, foi partilhado em 1975 por centenas de milhares de portugueses em Angola sobretudo, em Moçambique, na Guiné (até em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor), cidades inteiras de pessoas felizes, prósperas, esperançosas, com uma absurda confiança no futuro, viram-se de repente sem vida social, sem emprego, sem casa, com o dinheiro congelado nos bancos e um terrível sentimento de perigo em relação às suas vidas e às da sua família.
O desespero tem espinhos, alguns aguçados, e os seus bicos empurram as pessoas para o abismo. Em 30 de Junho, em Luanda, um grupo de 2500 residentes em Angola anunciou que, não conseguindo obter passagens aéreas ou marítimas para Lisboa, tencionava fazer a viagem até Portugal por via rodoviária, atravessando oito mil quilómetros de países africanos no sentido sul-norte ao longo de 90 dias.
A caravana motorizada esteve organizada para ser constituída por 200 camiões e 500 automóveis particulares, sendo os suprimentos destinados a 15 camiões-frigoríficos com capacidade para transportar 30 toneladas de alimentos cada um.
Alguns veículos foram transformados em oficinas móveis para fazer face à inclemência do trajecto e um dos organizadores, Guilherme dos Santos, fez contactos formais com a Cruz Vermelha Internacional e com a Comissão das Nações Unidas para os Refugiados para, na medida do possível, ajudarem essa travessia das selvas, savanas e desertos do continente africano.
Acabaram por não avançar para esse louco caminho para a morte.
Mais a sul, porém, houve traineiras a largar de Porto Alexandre, cheias de gente, em direcção a Portugal, onde chegaram, com muita sorte, sem males de maior.
Outros barcos de pesca artesanais cruzaram o Atlântico para despejarem no Brasil "retornados" que, afinal, não retornaram a Portugal.
E quase todos os que puderam escaparam por terra em direcção à África do Sul, e a outros países limítrofes, em alguns casos viajando com máquinas de obras públicas que iam aplainando os acidentes do caminho.
"O que dominou o primeiro tempo da chegada foi uma grande confusão na cabeça das pessoas", recorda Rui Pena Pires, sociólogo das migrações e, também ele, retornado de África.
"Mais do que a revolta, as pessoas tentavam perceber como é que se poderiam instalar em Portugal. A fase da revolta veio depois".
Na quantidade tremenda de gente que desaguou em Portugal aconteceu de tudo.
Uma pequena minoria tinha acautelado o seu património e preparado o seu regresso a Portugal. Outra minoria - precisamente aquela que mais tinha a perder com a independência das colónias uma vez que perdera os laços com a metrópole - nunca acreditou no pior desfecho, não preparou coisa nenhuma e veio sem nada, absolutamente nada para além da roupa que trouxe no corpo.
A larga maioria, essa, conseguiu trazer alguma coisa, pouca, mas suficiente para o espectáculo dos caixotes que inundou o cais e o aeroporto de Lisboa.
.
Jovens, portugueses.
Com a descolonização, em 1975, abre-se em Portugal o ciclo da imigração, não só com o repatriamento de meio milhão de portugueses radicados nas colónias, mas também com o início de uma migração africana que, ao contrário do repatriamento, teve continuidade até aos dias de hoje.
Do número de retornados recenseados pelo INE em 1981 61% são oriundos de Angola, 34% de Moçambique e apenas 5% das restantes colónias.
Quase dois terços desses retornados nasceram em Portugal (63%), embora esta proporção se inverta nas camadas mais jovens - 75% dos menores de 20 anos eram naturais das colónias.
É muito curiosa a distribuição da origem dos retornados nascidos em Portugal 32% eram naturais do Norte, 36% do Centro e 20% da região de Lisboa.
Os distritos de Lisboa e Porto são os que maior número de pessoas enviou para África (12% e 11%, respectivamente), seguidos por quatro distritos do Nordeste: Viseu, Bragança, Guarda e Vila Real - é aliás com esta migração para África que se inicia o grave problema demográfico que hoje afecta o interior norte do País.
A estrutura por idade e sexo da população repatriada era, em 1981, significativamente diferente da do conjunto da população portuguesa.
Há um predomínio ligeiro da população masculina, 53% são homens, em praticamente todas as classes de idades e um forte peso da população jovem 64% dos retornados tinham menos de 40 anos.
.
Os "tinhas".
Quando começou a fazer trabalho de campo com retornados, Rui Pena Pires frequentou algumas reuniões de retornados no princípio dos anos 90. E encontrou os grupos dos ressentidos, dos ainda inconformados com a desgraça de há 15 anos, muito limitado e circunscrito. Eram "os tinhas" (como lhes chamavam todos os outros com irónica condescendência), os que estavam sempre a dizer "eu tinha", "eu tinha"..."
A partir de 1975 as pessoas não tiveram mais tempo para pensar e foram obrigadas a começar a trabalhar de uma forma um pouco mais dura do que o normal para recomeçar tudo de novo", recorda o sociólogo das migrações.
"Foi a melhor coisa que podia ter acontecido se tivessem entrado numa lógica de reclamar e esperar por indemnizações ainda hoje, 30 anos volvidos, haveria situações complicadas de integração".
Sucedeu o contrário, porém.
Os retornados revelaram-se como um grupo com competências muito acima da média da sociedade portuguesa e rapidamente se disseminaram pela sociedade, em vez de se constituírem como uma sociedade colectividade delimitada.
É muito interessante ouvir hoje os retornados falarem das relações entre si "É como companheiros de escola que se encontram passados uns anos e falam sobre a vida do liceu. Quando as pessoas se encontram e acabam por descobrir que são retornados, há logo ali uma relação de afectividade, há um elo comum, resultante de uma desgraça que compartilharam. Depois começam a contar como cada um evoluiu, o que significa que o que é importante já não é o ponto de partida, mas o de chegada, o que interessa é onde se está, onde se chegou".
.
Falta acrescentar que até hoje, o desgaste emocional, o sofrimento, os prejuízos morais e materias, a saúde abalada, as mortes, todo o tipo de crimes e a situação dramática vivenciados por milhares de famílias portuguesas e africanas "pulverizadas" atualmente por Portugal e por esse mundo afora e que atravessaram essa fase triste da descolonização portuguesa em África, não foram devidamente justiçados nem compensados. Pelo contrário: Os tais "heróis de barro" responsáveis por essa vergonha, continuam impunes, arrogantes, gabarolas e sorridentes. Descolonizar era necessário. Mas não dessa forma insana, indigna, caloteira !
.
A não perder:
Reportagem - RETORNADOS - RDP ÁFRICA - 19/02/2008 - Escute aqui !
In "Moçambique Para Todos" - (Para evitar sobreposição de sons, não esqueça de "desligar" a "ForEver PEMBA FM" no lado direito do menu deste blogue.)

1/14/08

Guerra Colonial em África - Série documental "A Guerra" - IV

Do Moçambique Para Todos: Passou a RTP no seu 1º canal uma série intitulada A GUERRA, da autoria do jornalista Joaquim Furtado.Essencial para quem quer conhecer a história de Portugal e dos novos países de língua oficial portuguesa nas últimas décadas.
Se não viu, poderá encontrar e ver a 1ª Série de 9 episódios aqui.
.
Video de um depoimento no programa Prós e Contras da RTP - Comando Sargento Monteiro:

(Para evitar sobreposição de sons, não esqueça de "desligar" a "Last.FM" no lado direito do menu deste blogue)