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6/03/08

Ecos da imprensa moçambicana - APREENSÃO DE MADEIRA ILEGALMENTE EXPLORADA EM MELUCO.

Pelo que lemos no "Vertical" de hoje, é notório que em Moçambique e específicamente em Cabo Delgado também se trava uma luta quase inglória e de "resistência" para combater os "assassinos da floresta".
Transcrevo:
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No dia 28 de Maio de 2008, ao abrigo de um evento organizado pela delegação do MISA da província de Cabo Delgado, tivemos a oportunidade de acompanhar um grupo de jornalistas ao distrito de Meluco, sito nesta província, para cobrir um caso de exploração ilegal de recursos florestais, que culminou na apreensão de dois camiões carregados de toros de madeira pau-preto, no posto administrativo de Muaguide, na noite de 26 para 27 de Março de 2008, pelos fiscais do Parque Nacional do Arquipélago das Quirimbas, com apoio da Polícia da República de Moçambique afecta a este distrito.
Muito resumidamente, a reportagem decorreu na sede do Distrito de Meluco (onde foram entrevistados o Director Distrital de Actividades Económicas, bem como alguns fiscais do turismo e da agricultura envolvidos na operação de apreensão da madeira), na sede do posto administrativo de Muaguide (local da apreensão da madeira, tendo sido entrevistada a respectiva chefe do posto), em Montepuez (donde era proveniente o infractor, que foi igualmente entrevistado, sendo nesta cidade onde foram alugados os dois camiões) e, finalmente, na cidade de Pemba (onde se procurou, sem sucesso, ouvir o substituto do Director Provincial da Agricultura).
Em termos resumidos, o infractor, de nome Fernando Elias, proveniente de Montepuez, recorreu ao aluguer de dois camiões, a um cidadão de nome Juma Combola, para transportar madeira da espécie pau preto adquirida na aldeia de Namitie, junto a Meluco sede, em plena zona tampão do Parque Nacional do Arquipélago das Quirimbas. O infractor utilizou o período da noite, de modo a se aproveitar de uma eventual fragilidade no corpo de fiscalização, fazendo passar os dois camiões a alta velocidade na sede do Distrito, facto que alertou de imediato as autoridades locais, as quais ordenaram de imediato a perseguição das viaturas.
Os camiões vieram a ser interceptados em Muaguide, após uma tentativa inicial de não acatar a ordem de paragem, onde a jovem fiscal Zaina Bandi, afecta ao Parque Nacional do Arquipélago das Quirimbas, levantou o auto de notícia, traduzido na aplicação ao infractor de uma multa de 80 000,00 Meticais.
No entanto, a equipa de reportagem constatou que os camiões foram libertos às primeiras horas do dia 27 de Março, depois de descarregar a madeira pau-preto junto à sede do posto administrativo de Muaguide, onde ainda hoje pode ser vista.
Estranhamente, não foi respeitado o disposto no n.º 5 do artigo 37. º da Lei de Florestas e Fauna Bravia (Lei n.º 10/99, de 7 de Julho), segundo o qual "é obrigatória a apreensão, pelos fiscais de florestas e fauna bravia, dos produtos florestais e faunísticos e dos instrumentos utilizados na prática da infracção".
Sabe-se ainda que a multa não foi paga até ao presente momento.
Segundo informações obtidas juntos dos fiscais, a ordem foi emitida pelo Director Distrital de actividades Económicas de Meluco, Sr. Faustino Alberto.
Em entrevista ao próprio, este alegou que "o receio é termos os camiões à nossa responsabilidade e alguém tirar os pneus".
A equipa de reportagem constatou ainda, por trás da Direcção Distrital de Actividades Económicas, a existência de 40 toros de madeira pau-ferro, apreendidas ao mesmo cidadão Fernando Elias, num caso que remonta ano de 2006, o que torna o mesmo em reincidente, e, portanto, sujeito a eventuais sanções acessórias mais gravosas, nos termos do artigo 44.° da Lei de Florestas e Fauna Bravia.
Para além deste caso, constamos ainda a ocorrência de uma outra infracção, desta vez no passado dia 24 de Abril, quando um camião alugado, de marca Mercedes Benz, ostentando a chapa de matrícula MLX 20 - 16, carregado de barrotes e tábuas de três espécies florestais -metonha, chanfuta e umbila, foi interceptado, por volta das 22 horas, no posto administrativo de Muaguide, pelos fiscais do Parque Nacional do Arquipélago das Quirimbas.
O camião foi alugado por um empresário de Pemba, unicamente referido como Sr. Sábado, a a organização não governamental de nome UMOCAZ, para transportar produtos florestais adquiridos a comunidades locais no distrito de Meluco. Todo o processo foi feito sem obedecer ao disposto na legislação de florestas e fauna bravia. Desta vez, o camião foi apreendido como mecanismo para pressionar o pagamento da multa aplicada, ainda que, com enorme prejuízo para a referida organização, que invoca não ter nenhum tipo de envolvimento no cometimento da
infracção.
Da leitura destes factos podemos extrair as seguintes ilações:
O corpo de fiscalização actua unicamente após o dano ter sido cometido na floresta, com impactos irreversíveis no equilíbrio ecológico;
O sistema de sanções baseado fundamentalmente na aplicação de multas nem sempre tem-se revelado adequado e satisfatório, tendo presente, por um lado, o facto de muitas vezes estas não serem pagas, e, por outro lado, não visarem a reparação dos danos ambientais.
Aliás, verifica-se a falta de uma sanção direccionada efectivamente para a restauração ou compensação ecológica dos danos causados na floresta;
O Parque Nacional do Arquipélago das Quirimbas tem vindo a ser alvo de uma pressão intensa por parte de operadores florestais ilegais, indiciando quem fora dos seus limites, já possa estar a rarear as espécies florestais com valor comercial. Colhemos um dado referente ao aumento de operadores florestais de Cabo Delgado que passou a exercer a sua actividade na província do Niassa.
Os nossos parabéns ao fiscais a trabalhar no distrito de Meluco por, não obstante as inúmeras dificuldades quanto a condições de trabalho, tendo presentes ainda os constantes riscos e ameaças a que estão sujeitos, conforme nos foi reportado pelos próprios.
Entretanto, a título de informação, vai realizar-se, nos dias 2 a 3 de Junho, na vila da Namaacha, a III Reunião da Direcção Nacional de Terras e Florestas, que esperamos vir a produzir resultados para muitos dos problemas que enfermam o sector florestal.
Tendo tido acesso à respectiva agenda, ficámos a saber que serão abordados diversos temas importantes, com especial destaque para a apresentação do Relatório Anual de Terras e Florestas - 2007, para os constrangimentos e lições na Implementação do Diploma Ministerial sobre os mecanismos e utilização dos 20% destinados às comunidades locais e para os mecanismos de distribuição dos 50% das Multas aos Fiscais.
Logo a seguir, nos dias 4 a 6 de Junho, no mesmo local, terá lugar o Fórum Nacional de Florestas e Fauna Bravia, para o qual o movimento Amigos da Floresta foi convidado, e em que vão ser abordados temas bastante diversificados com enorme importância para a sustentabilidade florestal. Faremos cobertura deste evento oportunamente.
Protegendo as florestas, construindo o desenvolvimento sustentável...
*Carlos Serra (Amigos da Floresta) - Vertical de 03/06/2008

Brasil - O desmatamento da Amazónia assusta...

(Imagem original daqui. Clique na imagem para ampliar)
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Lamentável mas real. Impunidade e interesses económicos privados permitem a destruição crescente da floresta amazônica.
Transcrevo do blogue da jornalista brasileira Miriam Leitão:
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Notícias da floresta
O termômetro mostra: o desmatamento é assustador.
Os dados, afinal divulgados pelo Inpe, mostram que o desmatamento se acelerou em abril.
O Inpe explicou que, em março, houve mais cobertura de nuvens do que em abril.
Isso significa que os dados de março podem estar subestimados, mas os de abril, com mais visibilidade, não deixam dúvidas: o ritmo do desmatamento está crescendo, e ele é mais acentuado nos estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia.
Desses três, só o Pará tem demonstrado preocupação em enfrentar o problema.
O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, quis quebrar o termômetro do Inpe, quis criar um "Inpe do B" para ele mesmo, brigou com a ex-ministra Marina Silva e acusou a Polícia Federal.
O fato que os números não deixam duvida é que a devastação avança mais no estado que ele governa.
E não por acaso, afinal ele tem defendido de forma cada vez mais explícita a idéia de que a produção cresça às custas da Amazônia.
É bom lembrar que o Brasil tem terras disponíveis em extensão maior do que a hoje ocupada para produzir 142 milhões de toneladas de grãos.
O Inpe fez a divulgação em São José dos Campos, cercando cada informação com as devidas qualificações técnicas para lembrar algumas coisas.
Primeiro, ele não é um órgão que está no meio da briga política.
Segundo, que ele é uma instituição científica à disposição da sociedade brasileira e que sua preocupação não é ideológica, nem partidária, mas, sim, em melhorar as condições científicas de cumprir seu papel, dando à sociedade brasileira os meios para decidir os caminhos da Amazônia.
O país perdeu um campo de futebol a cada dez minutos na Amazônia, nos últimos 20 anos.
Pode escolher continuar perdendo, ou mudar a curva.
Miriam Leitão - 02/06/08 - 18h24.

4/30/08

Diversificando - O impacto do consumismo no meio-ambiente.

A eco-ativista Annie Leonard conta no site The Story of Stuff, em vinte minutos, que a história das coisas que consumimos é muito mais do que a extração, produção, distribuição, consumo e descarte, como define linearmente a economia dos materiais. Durante 10 anos pesquisou de onde as coisas vêm e para onde vão realmente. A "História das Coisas" expõe as conexões entre um enorme número de importantes questões ambientais e sociais, demonstrando que estamos a destruir o mundo e a auto destruirmo-nos, e assim apela a criar um mundo mais sustentável e justo para o planeta Terra e seus habitantes. Este video ensina, faz rir, e tenta mudar a forma como olhamos para todas as coisas que existem na nossa vida. Um excelente documentário a não perder.
Annie Leonard compôs em video um conteúdo educativo que deve ser absorvido com atenção por todos, principalmente por governos e entidades que lideram o globo terrestre e mais ainda pelas populações dos jovens países em desenvolvimento como Moçambique.
Para quem entende inglês vale a pena a visita aqui: http://www.storyofstuff.com/
  • Assista o video em língua inglesa aqui !
  • Assista o video legendado em português aqui !

4/09/08

Meio ambiente - Brasil e Indonésia lideram ranking de desmatamento.

O relatório Global Monitoring Report, realizado pelo Banco Mundial (Bird) e divulgado nesta terça-feira, afirma que a maior parte do desmatamento mundial vem se dando no Brasil e na Indonésia.
Um ranking publicado no relatório afirma que, entre 2000 e 2005, o Brasil teria desmatado um total de 31 mil quilômetros quadrados de sua área florestal, seguido pela Indonésia, que desmatou 18,7 mil quilômetros quadrados, e o Sudão, que derrubou 5,9 mil quilômetros de sua área florestal.
O desmatamento nos dois países com as maiores regiões de floresta no mundo vem ocorrendo, predominantemente, devido à transformação de suas áreas florestais em terras agrícolas.
Segundo o documento, o desmatamento no Brasil tem sido movido pela demanda por carne, soja e madeira.
Na Indonésia, ele tem sido estimulado pela demanda por madeira e por terras para o cultivo de palmeiras que fornecem óleo.
Nos dois países, afirma o Bird, o desmatamento tem sido causado "tanto por grandes interesses corporativos como pelo de pequenos proprietários".
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Transformação
No Brasil, o relatório afirma que o índice de hectares desmatados foi de 2,7 milhões, entre 1990 e 2000, mas que ele passou para 3,1 milhões de hectares entre 2000 e 2005. Na Indonésia, ao contrário, os índices permaneceram inalterados no mesmo período.
O estudo do Bird afirma que áreas florestais do tamanho de países como Serra Leoa ou Panamá são perdidas anualmente devido a sua transformação em terras agrícolas. As regiões mais afetadas têm sido a América Latina e Caribe e a África Subsaariana.
O documento afirma que problemas de saúde causados por fatores ambientais são responsáveis por 80% das doenças, entre elas malária, diarréia e doenças respiratórias em todo mundo.
O relatório afirma que a maior parte dos países não conseguirá cumprir as chamadas Metas do Milênio até 2015.
As oito metas foram fixadas em 2000 por 191 países da ONU. As diferentes nações se comprometeram a implementar até 2015 medidas como pôr fim à fome e a miséria, fornecer educação básica e de qualidade para todos, reduzir a mortalidade infantil, combater a Aids, a malária e outras doenças e promover a qualidade de vida e o respeito ao meio ambiente.
Bruno Garcez da BBC Brasil em Washington - 08 de abril, 2008 - 17h08 GMT (14h08 Brasília).

3/28/08

A Amazónia, os biocombustíveis e o meio ambiente...

(Imagens originais daqui e daqui)
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Repito o que já afirmei em post anterior sobre biocombustíveis:
Estão na moda!
Muito se fala, confabula em todos os níveis intelectuais e até nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Apontam-se com imensos benefícios e poucas contra-indicações.
Apresentam-se como a salvação do planeta, milagreiros na geração de empregos, incentivadores do mundo industrial, preponderantes na gestão do aquecimento global.
Eufóricos, governantes viram arautos entusiasmados destas novas fontes de energia.
Justificam até a volta da energia nuclear e passam por cima do terrível acidente de Chernobil ocorrido dia 26 de abril de 1986 na Ucrânia.
Moçambique não foge a este emergente e entusiasmado fenómeno globalizado.
Entretanto, não esqueçamos por favor os aspectos ecológicos consequentes, ressaltados por ambientalistas conscientes.
Consciência é o mínimo que se exige.
Nossos filhos e netos agradecem, pois é este o único planeta que lhes deixaremos.
Gotael
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Para ler e refletir:
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Brasil vive efeito destrutivo dos biocombustíveis, diz Time.
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Bruno Garcez da BBC Brasil em Washington - 27 de março, 2008 - 20h27 GMT - A mais recente edição da revista Time afirma, em reportagem que ilustra a sua capa, que o Brasil oferece um exemplo "vívido da dinâmica destrutiva dos biocombustíveis".
A reportagem, intitulada "O Mito da Energia Limpa", afirma que políticos e grandes empresas estimulam bicombustíveis como alternativas ao petróleo, mas isso está provocando uma alta do preço de alimentos, intensificando o aquecimento global e fazendo o contribuinte pagar a conta.
A reportagem afirma que o desmatamento na Amazônia está sendo acelerado por uma "fonte improvável: os biocombustíveis".
De acordo com o texto, "uma explosão da demanda por combustíveis agrícolas tem provocado uma alta recorde do preço mundial de colheitas, o que tem causado uma expansão dramática da agricultura brasileira, que está invadindo a Amazônia em um ritmo alarmante".
A reportagem diz que apenas uma pequena fração da floresta vem sendo usada para o plantio da cana-de-açúcar que gera o etanol brasileiro, mas acrescenta que o desmatamento resulta de uma "reação em cadeia tão vasta que chega a ser sutil".
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Efeito em cadeia.
E
sse efeito em cadeia, de acordo com a Time, tem início nos Estados Unidos, com o cultivo do milho usado para a fabricação da versão americana do etanol.
Segundo a revista, os fazendeiros americanos estão destinando um quinto do milho que cultivam para a produção de etanol, o que obriga os produtores de soja dos Estados Unidos a trocarem sua colheita tradicional pela do milho.
Essa transição vem fazendo com que fazendeiros de soja no Brasil expandam seus terrenos de cultivo, tomando áreas antes destinadas a pastos de gado. E obrigando produtores de gado a levarem suas fazendas para a Amazônia.
O artigo afirma que "é injusto pedir a países em desenvolvimento que deixem de desenvolver regiões sem dar qualquer compensação".
Mas acrescenta que, mesmo com incentivos financeiros suficientes para manter a Amazônia intacta, os elevados preços de commodities estimulariam o desmatamento em outras partes do mundo.
  • Alguns post´s anteriores sobre "biocombustíveis" - Aqui !

3/19/08

China - A destruição do meio ambiente no "paraíso" do desenvolvimento económico e da "liberdade"...

Mais de 750 mil chineses morrem anualmente por causa da poluição do ar.
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O "Observador" Nº 0173 - Maputo - Terça-feira 18 de Março de 2008 - Por ano, 750 mil pessoas morrem prematuramente na China por causa da poluição do ar, de acordo com dados do Banco Mundial. O país asiático é o mais populoso do mundo, com cerca de 1,3 bilhão de habitantes. Só a capital, Pequim, responde por 17,2 milhões das pessoas e uma boa parcela da estatística de mortalidade. A cidade que abrigará a Olimpíada em Agosto deste ano é a que tem o ar mais poluído da Ásia, segundo o Banco de Desenvolvimento Asiático. Lá, em média, o índice de qualidade do ar chega próximo dos 142 microgramas de partículas por metro cúbico de poeira de poluição, quase três vezes o limite máximo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera seguro (50). Em dias isolados de 2006, ano da pesquisa, o índice chegou a 300, com pedidos para que a população não saísse de casa. Esses dados são o principal motivo para a polémica instaurada às vésperas dos Jogos na China, que culminou com o anúncio do fundista Haile Gebrselassie, desistindo de participar da maratona, prova da qual é o recordista mundial. “A poluição na China é uma ameaça à minha saúde e seria difícil para mim correr 42 km na minha actual condição”, justificou Gebrselassie, que, como uma parcela dos atletas, sofre de asma. Antes da desistência oficial do corredor etíope, Estados Unidos e Inglaterra avisaram que estavam pensando em fazer os seus atletas utilizarem máscaras até minutos antes do início das provas. Até o Comité Olímpico Internacional (COI) acenou com a possibilidade de transferir as corridas mais longas ao ar livre - no caso a própria maratona e as longas competições de ciclismo de rua - dependendo da qualidade do ar no dia.

3/03/08

Moçambique, turismo e a ocupação desordenada do litoral de Pemba...III

(Clique na imagem para ampliar. Imagem original daqui)
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Sobre a ocupação desordenada e irresponsável do litoral de Pemba, os "alertas" vêm sendo feitos já hà alguma tempo. Será que os escutam ?...
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Do livro “O MAR QUE TOCA EM TI” escrito e publicado por Inez Andrade Paes em 2006:

Dia de Natal.
Um dia como os outros, talvez mais sereno que o anterior. As ondas também calmas convidam a chegar à água.
A manhã passou como habitualmente com a companhia das crianças e de alguns jovens. Antes da hora de maior calor surgem com mais ventos e ondas no Mar, no passeio que vem dar à casa dois homens.
Um que trabalha na recepção e um jornalista da rádio local.
- Podemos fazer-lhe uma entrevista?
- Sim!?
- Estamos a entrevistar todos os estrangeiros que vieram para passar esta época connosco e saber o que estão a achar de Pemba.
- Eu não sou estrangeira. Nasci em Pemba e tenho muito gosto em falar da minha terra e de vos dizer o que acho depois de anos de ausência.
O jornalista ainda hesitou em fazer-me a entrevista, porque era só para estrangeiros, mas ligou na mesma o microfone. Esta poderia ser sempre incluída noutro programa.

- Falei da beleza do Mar da forma como cada um de nós olha para ele e transmite a sua voz. Do recorte da praia que foi alterado, para um recorte protuberante e enriquecido só para uma minoria, devastado para aqueles que só dali vivem. A barreira de coral que meticulosamente vai perdendo o seu bordado, impedindo-a de fazer o seu trabalho. O Mar entra agora com mais fúria, uma fúria preventiva a mostrar um alerta urgente.
Venho de longe mas aqui pertenço. Venho de longe o Mar me chamou para dar som a vozes adormecidas a olhares perdidos e desencantados. Moralmente me obrigo e pela voz do Mar o faço.-

A entrevista foi dada.
O jornalista curiosamente tinha o mesmo nome que o de minha Mãe, fora ela que tinha inaugurado aquele emissor. O Emissor Regional de Cabo Delgado.
Não consegui ouvir a entrevista que foi transmitida duas vezes em dias separados. Soube-o mais tarde já na capital, mas consegui ouvir o som do martelo com ponta de borracha que batia nas placas de metal cada vez que se fazia uma pausa de programa ou principiava ou acabava a emissão. Como fez rir e sorrir e voltar a rir o seu som a tocar na memória tão presente.

Vejo-os ir. O jornalista com o gravador à tiracolo com os fios do microfone a tombar de lado e o recepcionista com seu olhar cativante e simpático. Tinha feito parte da promessa ao Mar...
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Inez Andrade Paes, natural de Pemba - Moçambique e residente em Portugal é também, além de poetisa, artista plástica e escritora.
Alguns de seus trabalhos podem ser apreciados na net aqui:

2/28/08

Moçambique, turismo e a ocupação desordenada do litoral de Pemba...II

(Imagem original daqui. Clique sobre a mesma para ampliar)
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Em Janeiro deste ano, dia 4, disse aqui que algo vai mal quando se pensa e age em relação a turismo e progresso na cidade de Pemba, seu litoral e à própria cidade em si.
Leio agora no melhor e consequente blog luso-moçambicano - Ma-Schamba, a justificada insurreição verbal do JPT perante o contra-senso arquitetural que por lá vai acontecendo... e, conhecedor além de amante da sempre bela Pemba, aqui coloco, contaminado pela revolta, o texto integral do referido JPT:
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O FIM DA PRAIA DO WIMBE
Qual The Artist Formerly Known as Prince, mas não como se crisálida, que não será de borboletas o futuro feito. Sim, dentro de pouco poderemos falar sobre The Beach Formerly Known as Wimbe.
Praia ícone em Moçambique, um pouco pela beleza natural, amena enseada olhando a baía de Pemba, mesmo ladeando-lhe a barra. Englobando aquela meia-dúzia de praias mais célebres desde o tempo colonial, talvez não tanto pela sua excelência - que partilham com tantos outros recantos da costa - mas pela antiguidade das suas infraestruturas turísticas: Tofo, Ponta do Ouro, Bilene, Zalala, Fernão Veloso. E o Wimbe, claro.
Ainda assim o Wimbe tem uma excelência única, exactamente o aconchego, a baía como horizonte, a (ainda) pacatez sob o arvoredo.
Memórias a manter, a guardar, agora que tudo isso mudará. Tive o “privilégio” de ver o novo projecto turístico para a praia, que gente ufana me mostrou, dessas crentes no progresso e isso, desenvolvimento turístico chamam-lhe e até acreditam. Na praia! exactamente na praia, no seio do arvoredo protector (a sul do Nautilus, para quem conhece) vão espetar um hotel, a deslizar para a água.
Este será uma construção da Vovó Donalda e do Tio Patinhas, puro Walt Disney. Tem a forma de um barco, como se paquete. Honestamente julguei que estivessem a brincar quando me mostraram as coloridas fotocópias. “Mas quem é que faz uma merda destas?” - perguntei, malcriadíssimo, ainda surpreeendido pois acreditava já ter visto tudo o que é possível nisto do campeonato do mau-gosto dos arquitectos em Moçambique (a colecção de cromos Sommerschield B - Bairro do Triunfo seria um must como programa cómico num sítio onde se saiba soletrar b-o-m-g-o-s-t-o). “Investidores moçambicanos“, dizem-me com orgulho, até nacionalista, ainda que ali um pouco desapontado dada a minha truculência, “arquitecto indiano … da Índia“.
Um arquitecto indiano aqui arribado para brincar ao Huguinho, Zezinho e Luisinho. Uns investidores moçambicanos a derrubarem o arvoredo protector, a alteraram a enseada, a assumirem a linha de água. Em suma, uma aliança internacional para foder o Wimbe. Será só cupidez e ignorância? Ou é mesmo má-vontade demencial?
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E acrescento - É JPT! Bem reportado… Está na hora de dar um basta nessa falsa onda de progresso que levará inevitávelmente à destruição dos últimos redutos ecológicos que ainda sobrevivem neste decadente planeta. Aqui “de longe” já venho observando essa verdadeira e demente estupidez que também ocorre em Cabo Delgado faz algum tempo…e até me atrevi a “denunciar” no ForEver PEMBA, alertado pelas imagens fotográficas que recebo da “apesar de tudo” sempre bela e estimada Pemba. Mas parece-me que o alheamento generalizado da população simples, como a “ganância” pura, egoísta, vaidosa de determinados empresários e também de cidadãos mais “abonados” dessa região, desvinculada de qualquer preceito ecológico, torna-os convenientemente cegos, preocupados mais com o saldo crescente de suas poupanças bancárias e seus privilégios do que com o próprio País Moçambique e os cuidados que a cidade precisa e merece. Estes - Moçambique e Pemba - que se danem! E “cada um por si”…como se usa dizer por aqui.
Mas, cá entre nós e se a inteligência se sobrepuzer à "esperteza", acho melhor abraçar o parecer do Amigo e Professor Carlos Lopes Bento, profundo conhecedor desse Cabo Delgado e seu mar azul: "...basta só cuidar do ambiente e não matar a galinha de ovos de ouro ainda com grandes potencialidades." ...ou a bela praia do Wimbe como pressagia o sempre lido JPT!
  • O blog Ma-Schamba aqui !

1/04/08

Moçambique, turismo e a ocupação desordenada do litoral de Pemba...

(Clique sobre a imagem para ampliar)
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Moçambique: Receitas do turismo atingem 160 milhões de dólares em 2007
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""""MacauHub - Maputo, Moçambique, 02 Jan/08 - As receitas do turismo em Moçambique em 2007 atingiram 160 milhões de dólares, um aumento de 3 milhões de dólares relativamente ao número de 2006, afirmou terça-feira em Maputo o ministro do turismo, Fernando Sumbana.
O ministro precisou que o número referido diz apenas respeito ao dinheiro gasto por turistas que em 2007 visitaram Moçambique, que deverão ter sido 1,1 milhões, um aumento signficativo face à média de 650 mil turistas em anos anteriores.
“Para além de turistas provenientes da África do Sul, Zimbabwe e outros países da região... ...""""

Acrescento
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É bom que se fale de turismo, que se divulguem Moçambique, suas belezas naturais, que se acentuem receitas crescentes ano a ano.
Moçambique sempre teve vocação turistica, desde os tempos coloniais. Portanto não é novidade.
Tardou demais para acontecer, mas é um início prometedor.
Há que reconhecer, entretanto, com humildade, que o turismo em Moçambique ainda se encontra em estado embrionário, quase rudimentar, muito aquém do potencial que o país possui e carente de bases sólidas de educação ecológica, ambiental que consolidarão e perpetuarão os atrativos naturais que tanto encantam quem visita Moçambique.
O turismo olhado a sério, com profissionalismo, aliado à educação e valorização ambiental, trará benesses para a economia moçambicana desencadeando desenvolvimento, modernização. Conduzido por profissionais do ramo, gerará postos de trabalho, melhorias sociais, etç., etç.
Faz alguns anos que vou acompanhando por afinidade Moçambique - Pemba, razão deste blogue.
Considero Pemba e todo o litoral de Cabo Delgado últimos (entre outros cada dia mais raros) paraísos/refúgios do nosso planeta globalizado, tão fustigado pelo destempero do ser humano na questão ecológica. E por isso merecedores de todo o cuidado, sobretudo por parte dos habitantes locais, maiores favorecidos se souberem zelar e fazer que respeitem este espaço do norte de Moçambique.
Aos poucos, o litoral de Cabo Delgado e seus recantos magníficos vão ficando reconhecidos e cobiçados pelos amantes da natureza, do imenso mar azul de Pemba e do calor dos trópicos. Normalmente vêm para conhecer, julgam e voltam trazendo novos passeantes abonados em euros e dólares úteis para a renovação e criação de infraestruturas turisticas e sociais planejadas, sustentáveis, de futuro e interesse geral da região. Ou que assim deveriam ser.
Pemba cresceu desde que deixou de ser Porto Amélia em 1975.
Tornou-se densa em população de várias origens e países vizinhos, algo cosmopolita, mercado a céu aberto informal, de lixo raramente recolhido em ruas mal conservadas e terrenos vazios, com meia dúzia de comerciantes predominando em algumas empresas mantidas desde o tempo colonial e também de pai para filho, com ruínas que florescem entre predios abandonados uns, sem pintura outros, mas que contam História que poucos escutam.
Paralelamente surgem aqui e ali insuficientes, esporádicas iniciativas e alguns empreendimentos atuais voltados para a sociedade local ou para turistas que aportam ao velho aeroporto e se abrigam de imediato em hoteis/resort´s voltados para o mar, desfrutando comodidades e iguarias amortizadas a preço internacional salgado, indiferentes ou desconhecendo a penúria, mendicância e outras negligências sociais envolvendo uma população numerosa, forçosamente impelida para bairros simples, humildes que vão proliferando, ocupando e ampliando desordenadamente o contorno da cidade de Pemba. Uma Pemba que continua crescendo, crescendo, sem ordem, sem saneamento básico, invadindo as fronteiras da vida da selva que expulsa, se revolta e hostiliza os invasores (caso dos elefantes abatidos por atacarem a população)...
Vêm também notícias preocupantes de que o crescimento urbano intenso e desorganizado à volta desses que deveriam ser redutos ou templos ecológicos sagrados a respeitar, está a descaracterizar, a aniquilar a beleza das praias de Pemba, substituindo o espetáculo da natureza sadia pelo cimento de construções de todo o tipo, muitas inadequadas, sem regras ou respeito a normas de saneamento, padrões urbanisticos adequados, loteadas mercantilmente a particulares e turistas para férias.
As consequências já se vão notando, segundo nos contam: lixo, mendicância, poluição das águas, áreas verdes escassas, cólera, assaltos em plena rua, etç....
Há que despertar a municipalidade da apatia cómoda e complacência perante esse tipo de "progresso" sem planejamento.
Há que educar a população a acarinhar e cuidar da natureza de Pemba.
Esta é a riqueza e o "tesouro-escondido" de Pemba...a tal jóia rara ! Não se pode perder pela irresponsabilidade e ambição.
O turista vem pela beleza natural de Pemba, de seu clima, de sua geografia visualmente despoluida, de seu povo hospitaleiro, de sua História, de sua tradição, folclore, do seu mar azul transparente e límpido... E só continuará chegando a Pemba e arredores se tiver a certeza que tudo isso continuará existindo, preservado, melhorado, sem o constrangimento da brutalidade do concreto firmado no reino encantado das areias brancas da sempre bela praia do Wimbe quase abraçando a Maringanha do velho farol !

12/21/07

Recado a Moçambique: Não colecione pilhas velhas em casa...O bom exemplo vem de Portugal.

«Não faça criação de pilhas velhas em casa»
Esta é a principal mensagem da nova campanha da Ecopilhas, entidade gestora responsável por gerir a recolha, triagem e reciclagem de pilhas e acumuladores que passa na televisão portuguesa.
Produzido e realizado pela Lowe & Partners Portugal, o novo spot retrata a despedida daquele que será o último dia de uma pilha que acaba sendo tratada como um bicho de estimação que morreu.
Não acumular pilhas e baterias usadas em casa é, portanto, a mensagem principal que o novo spot da Ecopilhas pretende fazer passar junto dos consumidores que, por qualquer razão, ainda as guardam durante anos no fundo de gavetas e armários, apesar de inúteis.
As pilhas e baterias velhas acumuladas em casa podem e devem ser recicladas.
Trata-se de uma campanha não de mudança de hábitos mas de reforço de novos hábitos.
Estreou esta semana na TV portuguesa (dia 19/12).
Mas aplica-se a outros Países, como por exemplo, Moçambique.
Veja o spot aqui:

(Para evitar sobreposição de sons, não esqueça de "desligar" a "Last.FM" no lado direito do menu deste blogue.) Fontes "Ecopilhas" & "BluBus"

12/06/07

Pemba - A praia do Wimbe ameaçada...

(Imagem daqui)
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A Praia do Wimbe corre riscos
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A Praia de Wimbe, na província de Cabo Delgado, está perante ameaça de poder vir a sofrer problemas de natureza ecológica, segundo alerta em comunicado de imprensa recebido na nossa Redacção, Christian Zeininger, Director da Faculdade de Gestão de Turismo e Informática da Universidade Católica de Moçambique, que abriu as suas portas em Pemba no ano 2002.
O comunicado observa que apesar das iniciativas de colocar Pemba como a terceira maior baia na lista das 100 praias mais belas do mundo, a Praia de Wimbe pode enfrentar em poucos anos dificuldades da natureza ecológica, devido a descarga descontrolada das águas sujas e das quantidades de lixo produzida pela população crescente.
“A contaminação já hoje é visível com as algas e o lixo a aumentar na praia”, diz Christian Zeininger, Director da Faculdade de Gestão de Turismo e Informática da Universidade Católica de Moçambique, citado pelo comunicado.
E, acrescenta, “com as grandes intenções na área de turismo não se pode esperar com a sensibilização e o envolvimento da população local como parte integrada nos desenvolvimentos turísticos”.
A fonte refere que a Faculdade de Gestão de Turismo e Informática da UCM, em Pemba, está neste momento a preparar os seus primeiros setenta e um graduados em Licenciatura de Gestão de Turismo e deseja-se, que os trabalhos de pesquisa elaborados pelos estudantes podem dar algumas pistas para endereçar melhor as questões da participação das comunidades para o seu benefício e os seus deveres.
No entanto, salienta que o tema não acaba somente em produzir estudos.
Cada parceiro tem uma responsabilidade de agir com uma visão de proteger e conservar os “nossos” recursos.
É neste âmbito que a UCM está actualmente a construir 12 casas para professores de estilo “lodge”, usando materiais locais, nomeadamente pedras, areia, madeira e macuti e instalar uma solução de saneamento biológico em consultoria com o ECOSAN, uma iniciativa em colaboração com a Universidade Técnica de Viena, Áustria.
O AUTARCA - 05.12.2007 - Fonte "Moçambique Para Todos"

11/19/07

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O Amigo da Água, com o subprojeto Universidade Azul, desenvolve atividades para o envolvimento da comunidade acadêmica nas questões ambientais, de forma a incentivar a produção de conhecimento em torno da temática, bem como sensibilizar os universitários para a cultura do "saber cuidar". A partir da promoção de seminários, palestras e outras iniciativas, o Universidade Azul estimula o protagonismo dos universitários e do corpo docente, sempre na perspectiva da ecologia integral....
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