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10/18/13

18 de Outubro - DIA DA CIDADE DE PEMBA

''Extr. da publicação PEMBA, SUA GENTE, MITOS E A HISTÓRIA-1850 a 1960, de Luis Alvarinho, que também se baseou em documentação do Arquivo Hist. de Moçambique, B.O. e Boletim da C. do Niassa, entre outros:

- O embrião que veio dar origem à actual cidade de Pemba, data de 1857, como parcela da Colónia 8 de Dezembro, fundada por Jerónimo Romero e dissolvida 5 anos depois por diversos problemas de organização e adaptação dos colonos
  • - Porto Amélia ascende a vila por portaria de 19 de Dezembro de 1934.
  • - É elevada à categoria de cidade em 1958 pelo decreto-lei de 18 de Outubro-G.G. da Província.''
PEMBA DE ONTEM E DE HOJE
Por Carlos Lopes Bento para o ForEver PEMBA
 
Ao comemorar-se mais um aniversário da elevação de Pemba a cidade, aproveito a ocasião para saudar todos os seus habitantes e respectivas autoridades e visualizar algumas imagens do meu Album, que lembram um pouco da História recente desta bela urbe, do norte de Moçambique.
 



Para a cidade de Pemba e suas Gentes votos de um futuro próspero e pacífico.
- Portugal, Lisboa, 18 de Outubro de 2009, Carlos Lopes Bento.
Dia da Cidade de PEMBA
LEMBRANDO A CIDADE DE PORTO AMÉLIA/PEMBA E A POETISA GLÓRIA DE SANT’ANA
Pemba - Wikipédia
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E O HOJE DE PEMBA, em 18 de Outubro de 2013:
Aniversário de uma cidade surpreendida! - Noticias OnLine - (Na ótica de Pedro Nacuo)

"""A situação com que a cidade de Pemba é obrigada a coabitar não estava nas previsões de quase todos urbanistas, gestores públicos, incluindo os actores das diferentes áreas político-sociais, cultural e económico, razão porque hoje não é exagero dizer que esta cidade, aos 55 anos de idade, sente-se positivamente surpreendida com cada vez maior demanda, visando satisfazer os apetites que o desenvolvimento económico, por via das descobertas dos recursos naturais, mais a Norte, impõe.

Mesmo localizando-se há cerca de 500 quilómetros de Palma, o epicentro das descobertas de hidrocarbonetos, principalmente o gás, a cidade de Pemba, vive no seu dia-a-dia, o frenesim que uma indústria desse quilate exige, por conta do facto de, até aqui, ser a principal base logística de todas as operações das multinacionais em actividade, tanto em terra como no alto-mar.

Tagir Ássimo Carimo, presidente do Conselho Municipal de Pemba, eleito intervalarmente e que pretende concorrer para as eleições autárquicas do próximo mês, diz que a comemoração dos 55 anos, sobretudo por esta razão, deve servir de momento de reflexão do que será a capital de Cabo Delgado nos próximos 10 a 15 anos.

“As soluções não devem ser encontradas hoje, é o que costumo dizer aos meus colegas, mas deviam tê-lo sido Ontem. Estamos perante evidências às quais devemos simplesmente corresponder, para não defraudarmos as expectativas” diz.

Ainda que se fale da criação de condições logísticas em Palma, incluindo um porto, nada indica que a cidade de Pemba possa vir a ser dispensada a favor do eventual recurso àquele ou outros locais desta província.

Pemba tem um porto marítimo com capacidade de manuseamento de carga de 200.000 toneladas/ano, um aeródromo com ligações directas para Nairobi, Dar-es-Salaam e Joanesburgo e aqui operam cinco bancos e duas agências de crédito.

A baía de Pemba, poderá continuar por muito tempo ainda, a atrair turistas, pois para além de acolher um dos melhores portos da África Austral, oferecendo um amplo ancoradouro que pode ser demandado a qualquer hora, as suas águas são cristalinas sem par, tornando-se num chamariz para os diferentes apetites turísticos de quem vem das outras latitudes.

Ela mede cerca de 10 quilómetros no sentido Norte-Sul e cerca de 11.5 quilómetros Este-Oeste e tem na parte terrestre espaço que hoje é ocupado por 10 bairros e duas unidades residenciais, habitados por 141.316 habitantes, se tivermos fé nos dados do último censo populacional.

Tranquila, como lhe é tradicional, a cidade de Pemba tem encontrado dificuldades de os seus habitantes abraçarem as oportunidades que se oferecem, decorrentes das anteriormente propaladas descobertas dos recursos naturais, mais a Norte da província, justamente porque os seus habitantes ficaram literalmente surpreendidos, mesmo na formação dos seus residentes.

As contas que se fazem actualmente, falam numa força de trabalho de 77.668 pessoas, das quais 42.9% são mulheres, e 57,1% de homens e desse total, 72.5% são empregados e 25% sem emprego, uma carga a não menosprezar, tendo em conta que depois vão engrossar o sector informal, que representa 31,9%, para depois a agricultura e pesca ficar com 19.8 porcento.

É dentro deste quadro que passam os 55 anos de elevação de categoria de cidade, da antiga Porto Amélia, o que ocorreu a 18 de Outubro de 1958 e a edilidade em jeito de balanco, acha que tudo o que foi planificado, à luz do manifesto eleitoral, está a ser realizado, sendo que maior parte foi concluído.

UMA PEQUENA PONTE QUE MARCOU…
O bairro Josina Machel, mas que os populares chamam-no Noviane, nasceu da teimosia dos pembenses face aos rigores de ordenação territorial que eram impostos, que obrigavam que algumas zonas consideradas inóspitas ou reserva de Estado não fossem ocupadas.

A teimosia levou a que, à forca, os citadinos residentes noutros bairros invadissem tais zonas, onde avulta o Chibuabuari e Noviane (Josina Machel), permanentemente alagadiços, íngremes e apertadíssimos. A edilidade, depois que Assubugy Meagy, que foi o primeiro presidente eleito para o município de Pemba, deu lugar a Agostinho Ntauale, cedeu completamente, tendo, inclusive, a autorização da sua ocupação sido um cavalo-de-batalha para as eleições que conduziram este último ao cargo.

Os ocupantes, porém, vinham das suas casas, noutros bairros, onde deixavam novos inquilinos, no advento da “febre” de aluguer de casas para diferentes fins, incluindo, aqueles resultantes do nascimento de muitos serviços na cidade e universidades que chamaram a Pemba, estudantes e docentes que antes não viviam nesta autarquia.

Consumada a ocupação, nada mais restava ao município, do que assistir a um rápido e crescente avolumar de necessidades a satisfazer para os munícipes ali residentes, desde o abastecimento de água, energia eléctrica e outras facilidades, já em pé de igualdade com aqueles que, tendo entendido a medida proibitiva, não quiseram desafiar a autoridade municipal.

Na verdade, tanto Noviane (Josina Machel) quanto Chibuabuari, pertencem ao bairro de Cariacó, razão porque passou a ostentar o estatuto de mais populoso, mais de 47.000 habitantes, suplantando Natite, que até fins da década 90, era o que mais pessoas acomodava.

Nessa sua nova qualidade, Noviane enfrentava, entretanto, um dilema, de travessia de um riacho no seu interior que se havia transformado no maior entrave para que os seus residentes não fizessem a sua vida normalmente. Passou a ser a lamentação de primeiro plano, sempre que alguém das estruturas provinciais ou municipais reunisse com a população daquela área residencial, até que Tagir Ássimo Carimo, toma as rédeas da municipalidade.

No conjunto de infraestruturas e estradas urbanas concluídas, consta, pois a ponte que liga os bairros de Cariacó e a Unidade Josina Machel, inaugurada com pompa que a ansiedade justificava, no dia 20 de Setembro deste ano.

Foram igualmente construídos, no resto da cidade, os mercados dos bairros de Muxara, Mahate e Ingonane, já entregues às estruturas locais para a sua operacionalização, o mesmo que aconteceu em relação às sedes administrativas de Mahate e Maringanha.

Mas ainda há infra-estruturas em construção, nomeadamente, a sede administrativa do bairro de Paquitequete, do posto de saúde do bairro de Alto-Gingone e da Escola Secundária de Amizade Sino-moçambicana, nesta mesma zona habitacional.

Está, por outro lado, em construção uma estrada de terra batida, considerada via rápida, de 5 quilómetros, partindo dos escritórios da ANE (Administração Nacional de Estradas) ao bairro de Chiuba, bem assim foi iniciada a pavimentação em pedra argamassada a rua CI 034.

A LINGUAGEM DAS RECEITAS E A SUA APLICAÇÃO
O nosso jornal teve acesso aos balancetes que se referem às receitas do município, onde deparou com o facto de que houve uma auto responsabilização de colectar 55.525.720,00 MT, pelo menos até Junho do corrente ano, do que resultou um sobre cumprimento em 14%, pois a colecta foi de 62.898,341,95 Meticais.

O fundo de Investimento de Iniciativa Autárquica foi executado em 73 porcento, o de compensação em 71, de estradas em 46 porcento, de combate à pobreza em 99 porcento e do Programa de Desenvolvimento Autárquico,em 64 porcento.

Está-se, com as baixas no fundo de estradas e PDA, perante um grau de cumprimento fixado nos 83 porcento. Especificamente, no que toca ao fundo de redução da pobreza urbana, o município de Pemba, nestes últimos dois anos, recebeu um financiamento no valor de 18.799.948, 21 Meticais, designadamente, para 269 projectos, em 2012 e 201, no presente ano, abrangendo ao todo 469 munícipes, dos quais, 326 homens e 144 mulheres. Os reembolsos dos valores inscritos no fundo de redução da pobreza urbana, situa-se em 52 porcento.

Desde 2011, os 253 projectos financiados, na agricultura, comércio, pecuária, pequena indústria, prestação de serviços, turismo, pesca, entre outras actividades económicas, beneficiando a  182 homens, 71 mulheres(adultos), 61 jovens e 4 associações,  criaram 396 postos de trabalho.

A CAPULANA VEIO COLORIR MAIS A FESTA DA CIDADE
Havia  pouca crença numa festa visível, por ocasião da passagem dos 55 anos da cidade de Pemba, provavelmente, devido ao facto de tudo estar a ser feito em preparação do pleito que a 20 de Novembro próximo, vai chamar os cidadãos para se pronunciarem à boca das urnas sobre o seu destino, escolhendo quem lhes pode dirigir nos próximos cinco anos.

Por outro lado, a preparação da festa esteve fechada no edifício do município e nas sedes administrativas dos bairros, criando um vão a meio, que deixou cidadãos não informados sobre o que iria acontecer desta vez, no dia de Pemba.

Afinal, havia um programa, o que vai ser cumprido por esta ocasião, que não foge muito ao habitual, no que toca à parte oficial da comemoração, mas cheio de muito entretenimento e desporto, como seja, torneios de vólei de praia, canoagem, feira de artesanato, de Gastronomia, espectáculos musicais com artistas locais, entre outras actividades.

Cada um dos 10 bairros de Pemba, terá uma oportunidade de subir ao palco e apresentar o que terá preparado em termos culturais e recreativos por ocasião dos 55- aniversário da cidade.

Porém, o facto de se ter escolhido a cidade de Pemba, como o palco do festival internacional da Capulana, veio dar outro alento à festa de Pemba, que se preparou para participar e ganhar, conforme afiança Tagir Carimo.

“ Nós vamos participar com um desfile fabuloso. Tivemos nos bairros 12 equipas de inscrição de participantes. É verdade que somos apenas hospedeiros do festival, pois não somos os organizadores, mas não queremos deixar os nossos créditos em mãos alheias” assegura o presidente do município de Pemba.

Para a fonte, não há nada a inventar, se bem que a capulana é a forma comumente usada pelas mulheres da baia de Pemba, razão porque não vê a dificuldade de se atingir o número de 15.000 mulheres trajadas de capulana, que se prevê no desfile que fará o festival.

“ Se só o bairro de Cariacó sair com as suas mulheres de capulana, sem falar dos outros, atingiremos o recorde”."""

Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA". Atualização em Outubro de 2013. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

6/13/13

PARA A HISTÓRIA DE CABO DELGADO COLONIAL - A REALIDADE GEOGRÁFICA E SOCIOECONÓMICA DA BAÍA DE TUNGUE DEPOIS DO SEU REGRESSO AO DOMÍNIO DE MOÇAMBIQUE (1886)

O meu último apontamento publicado no FOREVER PEMBA, teve, como temática, a tomada da baia de Tungue, pelas tropas moçambicanas, há muito, ilegalmente, na posse do sultanato de Zanzibar e o papel heróico de dois voluntários da Vila do Ibo. Voltarei, hoje, a escrever sobre a baía de Tungue, mas, agora, para dar a conhecer “um relatório habilmente feito por um inteligente funccionário que andou há pouco na bahia de Tungue, … .” .

Trata-se de Constâncio José de Brito, escrivão verificador da alfândega do Ibo que fora nomeado para fazer uma visita de trabalho aos postos fiscais de Mucimbôa e baía de Tungue. Saíu do Ibo, a bordo do cuter Sagres, a 5 de Novembro de 1886, tendo chegado ao primeiro local a 10. Conhecidas as principais necessidades do posto fiscal de Mucimbôa, navegou, à vela, no mesmo cuter, no dia 14, para a baía de Tungue, onde chegou pelas quatro da tarde do mesmo dia... ... ""

- Outros trabalhos do historiador Carlos Lopes Bento neste blogue.
- O Dr. Carlos Lopes Bento no Google.
- PARA  A  HISTÓRIA  DE CABO DELGADO COLONIAL - GENTE HERÓICA  DA VILA  DO IBO QUE MERECE SER  HOMENAGEADA - Por Carlos Lopes Bento.
- PARA A HISTÓRIA DE CABO DELGADO COLONIAL - A REALIDADE GEOGRÁFICA E SOCIOECONÓMICA DA BAÍA DE TUNGUE DEPOIS DO SEU REGRESSO AO DOMÍNIO DE MOÇAMBIQUE (1886):
Clique nas imagens para ampliar. Colaboração de texto e imagens do historiador Dr. Carlos Lopes Bento. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Junho de 2013. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

5/06/10

Retalhos: De Porto Amélia a Pemba - História, o farol da Maringanhana e...

Porque pouco se tem contado a respeito, aqui deixo detalhes que nos falam da história de Porto Amélia/Pemba, do Farol da Maringanha, da origem de seu nome e do feroleiro Heliodoro José Carrilho: ... ...IV - A GENTE E A SOCIEDADE - A população de Pemba é bastante heterogénea, tendo para lá emi­grado do interior os macuas, os ngonis ou mafites e os macondes. Do litoral, os nguja do Tanganica, os sacalaves do Madagáscar e os mujojos das Comores. A civilização europeia, particularmente a trazida pelos portugueses é também notória, já que ali a colonização assimilou grande parte da população, mesmo a não mista. Nas regiões circunvizinhas à cidade de Pemba existiam já antes da ocupação pelos portugueses algumas povoações chefiadas por ré­gulos, sendo o principal o sultão Mugabo, seguido de outros como o Said Ali, Mutica, Macesse e o Mugona. O Governador de Cabo Delgado que, em em 1857 foi incumbido de ocupar a região e aí formar uma colónia, faz especial referência ao "velho" Mutica que, à excepção dos outros, falava ainda a língua portuguesa e muito contribuirá para o sucesso das negociações.

Fortemente swahilizados estes régulos que se expressavam e escre­viam geralmente em árabe, edificaram sociedades semi-feudais cuja autonomia se manteve ao longo dos tempos, até mesmo hoje, con­tinuando a exercer grande influência e poder no seio da população, cujo principal credo é o maometanismo mesclado de antigas tradições fetichistas como em quase todas as regiões da província.

A estas autoridades de relações amigáveis e até mesmo honestas com outros povos em certas alturas, também não lhes faltaram momentos de agitação e saque.

Já em 1843 o cheique Macesse, que chefiava a região actualmente conhecida por Pemba-Metuge, revolta-se contra a submissão aos portugueses, expulsando a companhia militar portuguesa estacionada num navio à entrada da baía de Pemba. Como corolário do desenrolar destes acontecimentos o cheique Macesse devolve a bandeira por­tuguesa às autoridades coloniais nas mãos do ajudante de Arimba, José F. Carrilho e recusando-se a pagar qualquer espécie de tributo.

Salientam-se também as investidas feitas pelos régulos Mugabo, Said Ali e outros contra caravanas europeias no circuito de Quissanga, obrigando-as a uma rota que levaria a mercadoria antes para Porto Amélia.

Se por um lado isto viria a abrir um caminho para o desenvolvimento de Porto Amélia a finais do século XIX, não menos verdade é que o facto veio a onerar bastante o processo de embarque e desembarque da carga já que Quissanga comunicando mais directamente com o "medo" era o principal porto exportador de então para o comércio e tráfico “ajaua-meto”.

A maior parte dos régulos antes da segunda década do nosso século se submetiam, na cintura de Pemba, ao régulo Mugabo, cujas terras confinavam com as da "coroa do medo", estas chefiadas pelo pode­roso maravi Mualia, ora submetido ora sublevado aos portugueses.

O quadro etnológico da população de Pemba remonta-se principal­mente à fusão do grupo macua com castas muani, penetrados res­pectivamente a partir de Murrébue e Quissanga.

Embora de diferentes origens as populações de Pemba se subordi­navam ao régulo Muária também de origem maravi.

O regulado Muária nasce cerca de inícios dos anos de 1880 quando famílias como Heri e Bachir pertencentes ao mesmo clã atingindo a região do medo avançam em direcção ao litoral pela rota Chiúre/ Mecufi/Murrébue.

De acordo com a "rainha" Muamba Omar Ussofo mais conhecida por Nhanicuto e descendente dos Muária, a dinastia se inicia com um tal Heri l na região de Changa (Murrébue) nas terras do régulo Nampuipui.

À morte de Heri l sucede ao trono Heri II que, para não defrontar o régulo Nampuipui que lhe fizera guerra acusando-o de ocupação ilícita das suas terras e compromisso com os portugueses, foge e refugia-se em Pemba na área da Maringanha. Parte do clã seguiu para Quissanga.

O successor de Heri II foi Remane Bachir que viajando para a África do Sul, como era seu hábito levando consigo voluntários (de acordo com a fonte ) que para lá queriam ir viver, foi chamado para assumir o cargo e é nessa altura adoptado o cognome de "Muária" para o regulado que agora começava.

Muitas vezes se fala de Muária como tendo alguma relação de parentesco, de clã ou mesmo qualquer outra com o regulo Muália, o que é negado por Muamba Ussofo, mas pode sobreviver a ideia de auto-identificação com o poderoso e conterrâneo maravi das terras do medo.

Amad Ali, avô do régulo Remane Bachir, descobre a zona de Marindima em Pemba e mobiliza a sua família e a gente de Changa para a habitar, o que veio a acontecer.

No entanto, fugitivos aos ataques dos ngonis, que lançavam as suas investidas com armas de fogo e azagaias a partir do ponto da colina que cai a pique na região de Marindima, bem como pelo facto de ali não haver água potável, a população deixa a zona e vai fixar-se junto às lagoas de Natite.

É então que Remane Bachir manda limpar as áreas de Nuno e Ingonane para ser habitada colocando lá como chefes dois familiares seus, nomeadamente as rainhas Nhanicuto e Nhacoto.

Enquanto isto o régulo Remane Bachir Muária entrega o Wimbi ao chefe Namacoma e a região compreendida entre o Nanhimbe e Maringanha ao seu irmão capitão-mor Tagir Bachir.

Anra Bachir sucede a Remane no regulado Muária e tendo este morrido fica como sucessor o seu sobrinho Fadili Adi, seguindo-se - lhe o seu irmão Anli Mugola.

Durante o reinado de Anli Mugola, este entregou a zona do Cariacó ao chefe Amada Muária, já na década de 60 do nosso século, que ao ser preso pela Pide é substituído por Abdul Latifo Ncuo.

Para além das já citadas rainhas o Paquitequete teve ao longo dos tempos ate à independência de Moçambique outros chefes, no­meadamente Mussa Amad, Pira Anlaue, Said N’Ttondo, entre outros.

Das relações com as autoridades coloniais que, mesmo antes de ocupar a região mandavam anualmente um encarregado de cobrança do imposto, a velha Omar Ossofo relata que quando chegava tal enviado eram içadas três bandeiras portuguesas: uma na praia junto à ponta Romero, a outra à frente da residência do régulo Remane e a terceira no quintal deste.

A população para não pagar o imposto abandonava as suas casas e internava-se mais para o interior e o funcionário da administração colonial em acto de vingança queimava todas as residências, obri­gando a população a construir alpendres provisórios após a sua retirada.

Em língua macua “marapata” significa alpendre ou algo provisório, alcunha que a população deu ao dito funcionário.

Nessa altura a designação de Pemba limitava-se somente a uma pequena área, próximo à ponta Miranembo, onde o governador colonial Jerónimo Romero havia instalado o "Estabelecimento da Baia" e construído um fortim que a população de Muária usou como refúgio nas razias que os sacalaves levaram a cabo.

Embora fora dos parâmetros deste estudo mas para dar uma ideia mais ampla da distribuição territorial do regulado Muária podemos acrescentar que dados de 1970 indicam que o régulo Ntondo, ocupava em Porto Amélia uma área de 1.042 km2 (Paquitequete), seguido do propriamente chamado Muária em Natite com 264 km2, Namacoma no Wimbi com 504 km2, o Piripiri no Gingone chefiando uma área de 8 km2 e o Nansure do Cariacó a Changa com 230 km2. (3)

Considerando por outro lado que os portugueses recrutavam na região do medo os carregadores para as suas caravanas é óbvio que muitos deles em Pemba se foram fixando, o mesmo sucedendo à gente migrada das regiões costeiras.

Os conflitos tribais que sempre existiram entre ambas as etnias (e para um período mais curto também com os macondes) eram compensados pelas trocas comerciais, sobretudo o contrabando e tráfico de toda a espécie.

Apesar de Pemba ser zona costeira, provida de uma enorme baía, muito pouca gente se dedica hoje à pesca, absorvendo o sector pes­queiro apenas cerca de 200 pescadores (dados de 1987) que em suas casquinhas, lanchas e algumas pequenas embarcações fazem não mais que uma produção anual de 150 toneladas de pescado. É também verdade que a intensiva exploração ao longo dos tempos dentro e ao largo da baía, tornaram os recursos marinhos mais escassos.

De marinho típico é, por aquelas bandas, verem-se, nas vazantes das águas com bastante afluxo no período das marés vivas, mulheres, homens e até mesmo crianças de tenra idade ora cercando peixe muidinho com finas malhas ora apanhando conchas ou moluscos comestíveis.

Tão típico é isto quanto o prazer de encontros amigáveis na praia ao nascer e ao pôr do sol, nem que seja sob o pretexto da necessidade de defecar na praia (por tradição), ali se juntam grupos de pessoas em animadas conversas (e quem sabe não mais?) por várias horas.

Grande parte da população dedica-se no entanto à pequena indústria artesanal e a outras ocupações liberais e informais bem como ao comércio, não deixando de praticar um pouco de agricultura para subsistência, com especial incidência no milho, mapira, mandioca e mexoeira.

O comércio ambulante vem ganhando dimensões cada vez maiores e os mercados provêm essencialmente do tráfico swahili com quem qualquer negociante mantém fortes laços.

Pemba, este pequeno satélite e entreposto swahili de tempos remo­tos, conserva ainda suas antigas tradições e hábitos assimilados das gentes do Tanganica. A preferência em artigos do mercado oriental e a quase generalização da língua swahili, embora misturado com o idioma macua e a língua portuguesa, é também realidade.

O “Sungura”, dança importada da Tanzânia, diverte todos os dias e durante toda a noite a população dos bairros periféricos.

Dessa gente não há quem falte, pois aliado ao divertimento algum namorisco poderá, eventualmente, acontecer.

Os três ou quatro conjuntos musicais que actuam em simultâneo nos principais bairros de caniço expressam-se em língua swahili. Os dançarinos os acompanham.

O "mini na kissikia swahili" (eu compreendo swahili) liga uns e outros numa libertação e fruição de mais um dia passado.

As comunidades de maior influência árabe-swahili, muito dedicadas ao comércio com a Tanzânia, localizam-se em ambas as extremida­des: Maringanha ao Sul e o Paquitequete ao Norte.

Contava há poucos anos um velho auxiliar de faroleiro uma interes­sante e peculiar história sobre a origem do nome Maringanha já que a explicação nos conduz a um facto de que a gente de Maunhane jamais viria a esquecer: trata-se da construção de poços de água, um dos mitos de mau agouro ameaçador de morte a quem o construísse.

O facto deu-se após o ciclone de 1914 quando, já reconstruída a povoação de Maunhane, o faroleiro Heliodoro José Carrilho inaugura os poços (por ele próprio mandados construir) gritando o lema: “Muringana?”, que em língua local significa "estão completos?" ao que a população respondia em uníssono "Ti ringana”, que nada mais é do que a confirmação.

Será que por popularização como indicava a fonte e deturpação da expressão "mu ringana" viria a resultar Maringanha?

As cartas no entanto designam de ponta "Maunhane" à região e não é de admirar já que localmente a expressão significa "no sítio dos macacos" dado que em tempos parece ter sido ali o local por eles preferido.

Ainda hoje muitas vezes se vêem macaquitos a vaguear pela Ma­ringanha saltitando por entre o sombreiro das casuarinas e coqueiros junto ao farol como que apreciando as centenas de mulheres que na vazante avançam pelo mar em busca de marisco, o "caril" diário.

Trata-se principalmente da apanha de certas conchas com carne comestível mas pouco ou nada comercializável por se tratar quase de um dever tradicional de toda a mulher e suas crianças procurar moluscos e pequenos crustáceos tanto para seu sustento como até por simples ocupação do tempo e desporto.

Para além da pesca artesanal a população da Maringanha dedica-se também à pequena agricultura bem como à fermentação alcoólica do caju. Aqui a amêndoa deste fruto é no geral consumida quer verde quer torrada depois de seca ou mesmo, em ambos os casos, também utilizados na culinária.

Na outra extremidade de Pemba encontramos o Paquitequete que apesar de desenvolver um forte comércio swahili alberga por outro lado famosos artesãos e gastrónomos ensinados no Ibo e trazidos para ali aquando da transferência da sede da administração da Com­panhia do Niassa.

Ourives trabalhando a prata das moedas portugesas antigas e o ouro das libras estrelinas que ainda vão aparecendo, arrancado às relíquias de algumas poucas “sinharas” (senhoras) ainda vivas apesar de velhinhas, que em seus quintais confeccionam para venda famosos doces, compotas, diversos bolos doces e salgados bem ainda como achares de variado tipo.

O Paquitequete está quase separado da cidade por uma lângua que seca quando a maré vaza mas repleta de água na enchente e, nessas ocasiões, não falta “negociozinho” aos miúdos das casquinhas ganhan­do algumas coroas aos que desejem encurtar o caminho caso estejam em ambas as extremidades já que a ponte se situa quase no extremo sul deste enorme bairro.

O nome de Paquitequete provém da expressão "pá hitequete” que significa por um lado "no sítio do hitequete" ou melhor uma planta que cresce toda emaranhada muito comum ali, por outro é aplicada à característica do próprio bairro com casitas todas muito juntinhas umas das outras formando um autêntico emaranhado.

Engloba ele junto ao mar as áreas de Cofungo na ponta Mepira, seguindo-se em direcção à ponta Romero as zonas conhecidas por Nazimogi, Paquitequete propriamente dito, Cumissete e Cuparata. Há a acrescentar ainda uma casta de mestiços do Ibo que se isolou um pouco mais para a costa a seguir a lângua, dando origem ao bairro da Cumilamba que galga um pouco a parte da escarpa Leste da cidade de Pemba.

Enquanto que na Maringanha a ponta é alcantilada e orlada por um recife de coral que cobre e descobre em Mepira ela è baixa e arenosa caindo a costa a pique sobre o mar.

Nas regiões centrais da península localizam-se os bairros semi-urbanizados de Ingonane, próximo à ponta Romero assim como o de Natite e Cariacó mais a sul onde vivem principalmente os novos artesãos, o pequeno operariado local e os potenciais produtores e negociantes de aguardente e outras bebidas tradicionais, tais como os fermentados de cereais ou farelos.

Estes bairros desenvolvem-se a partir da ponta Romero que é baixa e também orlada por recife de coral que cobre e descobre. Tem praias arenosas mas as ondas são no geral bastante violentas. A ponta Romero antes da ocupação pêlos portugueses era conhecida pelo nome Miranembo.

A tradição reza que ainda no tempo em que a região era floresta cerrada, albergando grandes manadas de elefantes certo dia enfurecidos avançam em direcção ao mar e o mais velho (o chefe) que seguia à frente não foi capaz de estancar na ponta o que o levou a precipitar-se por sobre as águas e dai engolido pelas ondas. De súbito os outros elefantes param e aterrorizados tomam rumo oposto fazendo uma retirada para o interior sem nunca mais por ali aparecerem.

Ora, localmente a expressão “umuiria” significa engolido e “nembo” o vocábulo elefante, ou seja o lugar onde foi engolido o elefante. Naturalmente, segundo a lenda, as duas expressões ter-se-iam fundido dando origem à palavra “umuirianembo”, posteriormente, “miranembo”.

Entre o Cariacó e a Maringanha encontram-se o Wimbe e o Nanhimbe (actual bairro Eduardo Mondlane) dedicando-se à agricultura de su­bsistência e à fermentação alcoólica do caju.

Já no cimo da colina podem-se ver, do levante ao poente, os bairros de Chuiba ou "Planalto dos Cajueiros", Gingone e Muxara, pratica­mente cobertos de cajueiros, e são os que mais comercializam a amêndoa do caju e se dedicam à fermentação alcoólica da respectiva maçã bem como à pequena agricultura.

O rochoso baixo de Nacole a 1,5 milhas para Sueste da Ponta Mepira, projecta ao longo das suas praias de Chibabuara onde, do ponto mais alto da cidade, a colina se faz cair abruptamente.

Outrora um esconderijo de larápios por possuir densa floresta, hoje a sua população é essencialmente constituída por pescadores que, apesar dos rumores de existência de um polvo gigante ali mesmo na baía, essa gente continua fazendo alguma pescaria sem qualquer receio.

No centro da península onde está instalada a cidade de Pemba, ergue-se a zona de cimento desde a Baixa ou "Cidade Velha" junto à qual foram construídas as primeiras casas de alvenaria por facilidades de acesso ao porto, estancando numa planície provida do melhor parque habitacional.

É também nesta zona onde se encontram o Governo e serviços públicos diversos, combinados com uma cadeia de estabelecimentos comerciais bem como um parque infantil onde funciona também uma creche.

O actual porto e ponte cais de Pemba na baixa estão localizados na região meridional da baía a 5 amarras para Sueste da ponta Mepira, com fundo de lodo. O fundeadouro pode alcançar-se a pouco mais de 80 metros, onde se encontra o molhe cais, dado que os fundos se aproximam bastante da terra.

Existem no porto diversas instalações para armazenamento de cargas e para serviços marítimos e aduaneiros. Está também apetrechado com um sistema para a contenção de combustíveis que, através de uma conduta de cerca de um quilómetro, são despejados para os depósitos da Petromoc próximos à povoação de Chibabuara.
- Do Livro "Pemba e sua Gente" de Luis Alvarinho. Sugestão de Armando Silva - Cascais - Portugal.

(Transferência de arquivos do sitio "Pemba" que será desativado em breve)

5/04/10

Retalhos - De Porto Amélia a Pemba - História

A baía de Pemba, a 13º00’ Sul e 40º30’ Este da costa de África, é vulgarmente considerada a terceira maior do mundo, sendo a primeira a de Guanabara no Brasil seguida da de Sidney na Austrália.

As suas águas ondeando tons, ora azuis ora verdes, apresentam-se mansas em dias de bom sol e agradável tempo mas também escarpadas, rugindo de encontro aos rochedos ou regalando pela areia quando os ventos sopram furiosos do Sul.

Este ventos mais conhecidos na região por “kussi” originam, não raras vezes centros depressionários bastante fortes do tipo tropical que arrasam quase por completo a cidade.
O mais antigo temporal que a documentação disponível nos pôde recordar data de 18 de Dezembro de 1904 que causou vários danos assim como levou ao afundamento um pequeno vapor e um iate. É feita referência nessa altura à falta de faróis ao largo da baía, sendo o único o da ponta Said Ali que, para além de ter somente 6 milhas de alcance e não 9 como indicavam as cartas de então, não era aconselhável aos navios que passassem no alto mar.

Outro grande temporal devasta Pemba em 1914, destruindo pratica­mente todas as habitações e provocando grandes embaraços aos serviços da Companhia. (1)

Estes ciclones assolam de tempos a tempos a região de Pemba, tendo o mais recente ocorrido em 1987.

Em sua extensão a baía de Pemba atinge os valores de 9 milhas de Norte a Sul e 6 de Leste a Oeste, perfazendo um perímetro de 28 a 30 milhas.
Mas não só por isso ela goza de tal fama como também pela pro­fundidade do canal de acesso e do porto, com sondas que variam entre 60-70 metros na entrada e 10-40 na parte média, para atingir os 25 metros no fundeadouro junto ao cais diminuindo em direcção á costa.

A sua entrada é, pois, franca a qualquer tempo e hora, podendo nela penetrar à vontade navios até cerca de 6 metros de calado. No entanto, devido a alguns perigos isolados formados por rochas e bancos de coral, é necessária a pilotagem para os navios de alto mar.
A boca de entrada a partir da qual é feita a pilotagem é delimitada a Norte pela ponta Said Ali e a Sul pela ponta Romero, havendo actualmente farolins em ambos os lados.

Desaguam na baía alguns pequenos rios sendo o maior o Meridi cuja foz desemboca nas proximidades do baixo Mueve.

A baía de Pemba constitui, sem dúvida, um porto natural bastante seguro e, apesar de tudo, abrigado dos temporais regionais, tendo sido qualificado por Elton - Cônsul britânico em Moçambique a finais de 1890 - como "O melhor desde Lourenço Marques a Zanzibar”.
Alguns autores supõem que a baía de Pemba possa ter tido uma origem vulcânica, baseando-se no facto de ali se encontrar com abundância a "pedra pomes" própria de rocha vulcanizada. Mas a sua constituição calcária e não basáltica vem a contradizer tal suposição.

Das origens do nome pouco mais se sabe do que as escassas informações recolhidas da tradição oral, algumas das quais baseadas em lendas, e deve tomar-se em consideração que a designação de Pemba para nome da região não foi a única ao longo dos tempos.

Em anos muito recuados da nossa história a baía de Pemba era frequentada apenas por alguns pescadores malgaches e swahilis que em suas pequenas lanchas e pangaios arrecadavam o alimento sem nunca ali se fixarem.

Conta então uma antiga lenda que por essa altura uma de tais embarcações apanhadas por um temporal naufragou tendo como sobrevivente uma mulher que se viu obrigada a procurar algum refúgio nas proximidades da baía.

A mulher importante (“nuno” em língua local ) conseguiu sobreviver e montar ali a sua guarita. Naturalmente conotada a "Nuno" pelos pescadores como "mensageira divina" demonstrando que a zona poderia ser perfeitamente habitada, ela fê-los seguir o seu exemplo.
Nasce a zona de Nuno pelo qual foi conhecido por longos anos o actual bairro do Paquitequete. Mais tarde viria a anexar-se a esta designação a expressão “pampira” (no sitio da borracha) em virtude da grande quantidade da árvore da borracha que no local nascia espontaneamente.

A região servida pela baía de Pemba foi também já conhecida por Mambe expressão que pode simultaneamente significar quantidade e longitude.

Embora certos autores relacionem “mambe” à baía de Pemba, a região a que a administração colonial designa por esse nome se situa mais a norte, no distrito de Macomia.

Uma outra tradição oral refere que um europeu, em data também não precisa, proveniente de Zanzibar faz desembarcar na baía os indígenas que o acompanhavam e, estes, vendo-se assaltados por grandes enxames de moscas gritavam dizendo “pembe” que em swahhili significa mosca.

Teria sido mambe, pembe ou outra a origem da expressão "Pemba" no território moçambicano (2), certo é que ela figura nas primeiras cartas inglesas como "Pembe Bay”.
- Clique nas imagens acima para ampliar.
 VII - A ocupação colonial definitiva

Abandonada a região de Pemba pelos portugueses, e mais tarde praticamente pelos povos macuas da regedoria Muária, alguns baneanes e mouros ocuparam-na nos finais da década de 1880 sob a chefia de um tal malgache chamado “Muenhe Amade”, fundador da povoação do mesmo nome em Pampira.

Instituída a Companhia do Niassa esta manda, 4 anos mais tarde, ocupar a baía, tomando em consideração o então notável desenvol­vimento comercial dos territórios a Sul de Quissanga bem como a necessidade de controlar o comércio do sertão.

Por outro lado, porque o posto militar criado em Pemba há mais de um ano havia permitido um clima de boas relações com os régulos e consideradas garantidas as condições de segurança, é instituído o Concelho de Pemba com sede na povoação de Pampira.

Assim o comandante do posto militar de Pemba é nomeado chefe do Concelho em acumulação com as anteriores funções.

Projectara a companhia magestática a construção de uma linha férrea que ligasse Pemba ao Niassa no intuito de monopolizar o tráfico de Tanganica /Niassalândia:

"O caminho de ferro de Pemba ao Niassa chamará a meio caminho a mercadoria que for descendo pela boca de Chire, inclusive a que, por ventura proceda da própria bacia do Congo. Hoje que à nossa com­panhia foram concedidos os territórios, será pratica­da a ligação ferroviária do lago com a excelente baía de Pemba, realizando-se assim não só um desideratum da moderna civilização mas também o caminho que será o único e incontestado para o grande co­mércio da África" (12).

Esperava-se que Pemba pudesse ser o porto para o abastecimento do carvão do Medo e do Itule, bem como madeira, metais, nomea­damente o ferro e o cobre e ainda o marfim entre outros artigos originários de zonas do interior.

Para o lisonjeio de Coutinho (13):

"... a explêndida baia de Pemba - está entre aqueles dois empórios comerciais (Zanzibar e Moçambique) em excepcionais condições geográficas numas cir­cunstâncias tais que aproveitadas convenientemen­te, lhe chamarão o que lhe pertence de direito, e pertence de facto o exclusivo do tráfico do Tanganica-Niassalândia”.

Por outro lado, Pemba a um dia das Comores poderia daí receber a borracha, a cera, a copal, a urzela, o marfim e peles.

É ainda a finais do século passado, mais concretamente em 1899 que a companhia do Niassa contrata Gilbom Spilsbury (delegado do Conselho da Administração da Companhia) para uma expedição militar para avaliar as possibilidades de desenvolvimento dos territórios de Cabo Delgado e Niassa mas o facto de se pretender atingir zonas mais para o interior Pemba foi nesse projecto relevada para segundo plano.

Porque se pretendia reabilitar o processo de desenvolvimento de Pemba num momento em que a povoação estava ameaçada ao isolamento devido ao internamento de comerciantes e indígenas no interior para fugir à alçada da autoridade colonial (14) ela é inicialmente considerada terra de terceira ordem e são dispensados de direitos e emolumentos de portos aos vapores que para ali fazem carreiras regulares, nos primeiros anos do nosso século.

Também na primeira década de 1900 é criada em Porto Amélia no ano de 1908 uma escola de sexo masculino denominada "António Centeno” nome de um Administrador de Companhia em Portugal, no qual logo se matricularam 14 alunos dos quais 2 europeus, 1 branco natural, 6 mestiços e 5 negros. (15)

Dados estatísticos da população de Porto Amélia em 1908 indicam haver nessa altura 18.604 habitantes, sendo 18.498 negros, 50 asiá­ticos, 26 europeus e 17 brancos naturais. (16)

Em 1909 é ocupado todo o concelho de Porto Amélia.

A finais de 1917 desembarca em Porto Amélia uma expedição militar inglesa para colaborar com o exército português na luta contra os alemães no decurso da primeira Guerra Mundial.

Foi esta expedição que, aproveitando as condições da lagoa existente na planície de Natite, colocou uma bomba de água e um pequeno sistema de abastecimento de água canalizado.

Como memória dos militares ingleses tombados durante a 1ª Guerra Mundial, ainda hoje se pode ver no cemitério de Pemba uma zona com as suas sepulturas que o governo de Sua Magestade Britânica mandava visitar periodicamente, deslocando navios de guerra com oficiais que no local procediam às cerimónias na presença do capelão do Navio. Este cemitério particular esteve durante longos anos à responsabilidade de Carlos Delgado da Silva.

Pelo Decreto nº 16.757 de 20 de abril de 1929, foram retirados à Companhia do Niassa os poderes de administração dos territórios concedidos em 1894, tomando o Estado posse dos mesmos a 27 de Outubro do mesmo ano. Foi assim restabelecido o Distrito de Cabo Delgado, na Província do Niassa com sede em Porto Amélia, deixando assim esta povoação de estar agregada ao Distrito de Niassa.

Para o período a que nos referimos duas reclassificações sucessivas para o terreno de Porto Amélia têm lugar na sequência da restrutu­ração que se inicia em 1930. A primeira verifica-se a 11 de Janeiro desse mesmo ano classificando-a em 1ª ordem e a outra em Agosto seguinte descendo-a para 2ª alegadamente por se encontrar tal como o Ibo criada à data da passagem dos territórios para a administração portuguesa com aquela ordem.

Em 1936 é aprovada a planta de modificação da vila de "Porto Amélia, Concelho e Distrito do mesmo nome, província do Niassa" (17), constituída inicialmente por 232 talhões para em 1941 entrar em vigor uma portaria delimitando a zona urbana e a suburbana.

Um bairro económico constituído por 16 blocos de aproximadamente 50/80 metros é criado no Cariacó em Porto Amélia no ano de 1943.

Ainda nesse mesmo ano e tomando em conta a necessidade de autonomizar o município da vila e dotá-la de poderes mais amplos em vista do desenvolvimento local é concedido o foral de Porto Amélia.

Em 1953 determinou o Secretário Provincial, Eng. Pinto Teixeira, em nome do Governador Geral, comandante Gabriel Teixeira empreender a construção de um cais acostável para navios de grande porte, obra que viria a ser inaugurada a 26 de Janeiro de 1957 com a acostagem inaugural do paquete "Angola".

Foi só com a materialização desta obra que Porto Amélia inicia a sua arrancada ao desenvolvimento. Assim constata-se que o movimento de mercadorias eleva-se de cerca de 40 mil para 48 mil toneladas aproximadamente.

A Vila de Porto Amélia é elevada à categoria de cidade a 18 de Outubro de 1958.

Contudo o desenvolvimento esperado talvez nunca tenha passado de sonhos e pequenas iniciativas. Um jovem da cidade em 1971 desa­bafava numa entrevista a um jornal:

"... É pena Porto Amélia ser muitas vezes esquecida, pois se podia fazer mais por ela e só os seus ver­dadeiros habitantes é que a podem desenvolver e engrandecer, mas nenhum deles é Onassis ou Rockfeller” (18).

Pemba... A solidão da sua simplicidade parece tão natural quanto a sua beleza e destino à sorte do acaso...
- Luis Alvarinho.

Sobre Luis Alvarinho -  20/06/2002 - Estando em preparação um livro de crónicas em que esta será incluída, envio-a como homenagem ao Luís Alvarinho - Glória de Sant'Anna.

Moçambique – Cabo Delgado - A Escuna Angra é um marco histórico navegando o mar no reinado de D. Pedro V, para as terras de Cabo Delgado ao norte de Moçambique. Comandada por Jerónimo Romero, 1º tenente da Armada, leva consigo sessenta colonos que irão fundar a colónia agrícola de Pemba, em 1857.

Mãos amigas fizeram chegar até mim um livro sóbrio que relata o facto.

Baseia-se ele essencialmente na adenda à memória descritiva de Jerónimo Romero, e na recolha da tradição oral de toda a região que abraça a baía de Pemba.

É seu autor Luís Alvarinho nascido em Pemba em 1959. (1)

Este jovem que na sua meninice por certo correu pela orla das ondas, colheu búzios na praia do Wimbe, bebeu sumo dos cajus, trincou maçanicas e jambalão: e na sua juventude se sentou frente aos microfones do Emissor Regional de Cabo Delgado, cativado pela magia e o poder da Rádio: este jovem, também ele elemento de mudanças políticas, inicia com o livro "PEMBA, SUA GENTE, MITOS E A HISTÒRIA – 1850 / 1960", datado de 1991, um caminho de pesquisa etnográfica e política das terras de Cabo Delgado – Pemba – nos séculos XIX e XX.

Da recolha oral conta o autor uma terna história que transcrevo:

" em anos muito recuados da nossa história a baía de Pemba era frequentada apenas por alguns pescadores malgaches e swailis que em suas pequenas lanchas e pangaios arrecadavam o alimento sem nunca ali se fixarem.

Conta então uma antiga lenda que por essa altura uma de tais embarcações apanhada por um temporal naufragou tendo como sobrevivente uma mulher que se viu obrigada a procurar algum refúgio nas proximidades da baía.

A mulher importante ( NUNO em língua local ) conseguiu sobreviver e montar aí a sua guarita.

Naturalmente conotada a NUNO pelos pescadores como "mensageira divina" demonstrando que a zona poderia ser perfeitamente habitada, ela fê-los seguir o seu exemplo."

Esta obra com a qual me congratulo, não apenas pelo valor que tem, é uma pedra angular no espaço das letras moçambicanas.

Como o próprio autor diz em nota introdutória, "este trabalho não tem pretenções de um rigor histórico, como talvez se possa interpretar. A pesquisa histórica com certa sistematização poderá, isso sim, permitir identificar as raízes do local e da sua gente...

A principal motivação para este empreendimento, foi precisamente a de preservar a tradição oral de Pemba, já bastante perdida."

(1) – Foi meu aluno no ensino secundário e faleceu alguns anos depois de ter escrito este livro histórico a que se refere esta crónica. - Glória de Sant'Anna .

(Transferência de arquivos do sitio "Pemba" que será desativado em breve)

Retalhos - De Porto Amélia a Pemba: FAROL MARINGANHA


HISTÓRIA DE PORTO ÀMELIA - FAROL MARINGANHA - IV A GENTE E A SOCIEDADE

A população de Pemba é bastante heterogénea, tendo para lá emi­grado do interior os macuas, os ngonis ou mafites e os macondes.

Do litoral, os nguja do Tanganica, os sacalaves do Madagáscar e os mujojos das Comores. A civilização europeia, particularmente a trazida pelos portugueses é também notória, já que ali a colonização assimilou grande parte da população, mesmo a não mista.

Nas regiões circunvizinhas à cidade de Pemba existiam já antes da ocupação pelos portugueses algumas povoações chefiadas por ré­gulos, sendo o principal o sultão Mugabo, seguido de outros como o Said Ali, Mutica, Macesse e o Mugona.

O Governador de Cabo Delgado que, em em 1857 foi incumbido de ocupar a região e aí formar uma colónia, faz especial referência ao "velho" Mutica que, à excepção dos outros, falava ainda a língua portuguesa e muito contribuirá para o sucesso das negociações.

Fortemente swahilizados estes régulos que se expressavam e escre­viam geralmente em árabe, edificaram sociedades semi-feudais cuja autonomia se manteve ao longo dos tempos, até mesmo hoje, con­tinuando a exercer grande influência e poder no seio da população, cujo principal credo é o maometanismo mesclado de antigas tradições fetichistas como em quase todas as regiões da província.

A estas autoridades de relações amigáveis e até mesmo honestas com outros povos em certas alturas, também não lhes faltaram momentos de agitação e saque.

Já em 1843 o cheique Macesse, que chefiava a região actualmente conhecida por Pemba-Metuge, revolta-se contra a submissão aos portugueses, expulsando a companhia militar portuguesa estacionada num navio à entrada da baía de Pemba. Como corolário do desenrolar destes acontecimentos o cheique Macesse devolve a bandeira por­tuguesa às autoridades coloniais nas mãos do ajudante de Arimba, José F. Carrilho e recusando-se a pagar qualquer espécie de tributo.

Salientam-se também as investidas feitas pelos régulos Mugabo, Said Ali e outros contra caravanas europeias no circuito de Quissanga, obrigando-as a uma rota que levaria a mercadoria antes para Porto Amélia.

Se por um lado isto viria a abrir um caminho para o desenvolvimento de Porto Amélia a finais do século XIX, não menos verdade é que o facto veio a onerar bastante o processo de embarque e desembarque da carga já que Quissanga comunicando mais directamente com o "medo" era o principal porto exportador de então para o comércio e tráfico “ajaua-meto”.

A maior parte dos régulos antes da segunda década do nosso século se submetiam, na cintura de Pemba, ao régulo Mugabo, cujas terras confinavam com as da "coroa do medo", estas chefiadas pelo pode­roso maravi Mualia, ora submetido ora sublevado aos portugueses.

O quadro etnológico da população de Pemba remonta-se principal­mente à fusão do grupo macua com castas muani, penetrados res­pectivamente a partir de Murrébue e Quissanga.

Embora de diferentes origens as populações de Pemba se subordi­navam ao régulo Muária também de origem maravi.

O regulado Muária nasce cerca de inícios dos anos de 1880 quando famílias como Heri e Bachir pertencentes ao mesmo clã atingindo a região do medo avançam em direcção ao litoral pela rota Chiúre/ Mecufi/Murrébue.

De acordo com a "rainha" Muamba Omar Ussofo mais conhecida por Nhanicuto e descendente dos Muária, a dinastia se inicia com um tal Heri l na região de Changa (Murrébue) nas terras do régulo Nampuipui.

À morte de Heri l sucede ao trono Heri II que, para não defrontar o régulo Nampuipui que lhe fizera guerra acusando-o de ocupação ilícita das suas terras e compromisso com os portugueses, foge e refugia-se em Pemba na área da Maringanha. Parte do clã seguiu para Quissanga.

O successor de Heri II foi Remane Bachir que viajando para a África do Sul, como era seu hábito levando consigo voluntários (de acordo com a fonte ) que para lá queriam ir viver, foi chamado para assumir o cargo e é nessa altura adoptado o cognome de "Muária" para o regulado que agora começava.

Muitas vezes se fala de Muária como tendo alguma relação de parentesco, de clã ou mesmo qualquer outra com o regulo Muália, o que é negado por Muamba Ussofo, mas pode sobreviver a ideia de auto-identificação com o poderoso e conterrâneo maravi das terras do medo.

Amad Ali, avô do régulo Remane Bachir, descobre a zona de Marindima em Pemba e mobiliza a sua família e a gente de Changa para a habitar, o que veio a acontecer.

No entanto, fugitivos aos ataques dos ngonis, que lançavam as suas investidas com armas de fogo e azagaias a partir do ponto da colina que cai a pique na região de Marindima, bem como pelo facto de ali não haver água potável, a população deixa a zona e vai fixar-se junto às lagoas de Natite.

É então que Remane Bachir manda limpar as áreas de Nuno e Ingonane para ser habitada colocando lá como chefes dois familiares seus, nomeadamente as rainhas Nhanicuto e Nhacoto.

Enquanto isto o régulo Remane Bachir Muária entrega o Wimbi ao chefe Namacoma e a região compreendida entre o Nanhimbe e Maringanha ao seu irmão capitão-mor Tagir Bachir.

Anra Bachir sucede a Remane no regulado Muária e tendo este morrido fica como sucessor o seu sobrinho Fadili Adi, seguindo-se - lhe o seu irmão Anli Mugola.

Durante o reinado de Anli Mugola, este entregou a zona do Cariacó ao chefe Amada Muária, já na década de 60 do nosso século, que ao ser preso pela Pide é substituído por Abdul Latifo Ncuo.

Para além das já citadas rainhas o Paquitequete teve ao longo dos tempos ate à independência de Moçambique outros chefes, no­meadamente Mussa Amad, Pira Anlaue, Said N’Ttondo, entre outros.

Das relações com as autoridades coloniais que, mesmo antes de ocupar a região mandavam anualmente um encarregado de cobrança do imposto, a velha Omar Ossofo relata que quando chegava tal enviado eram içadas três bandeiras portuguesas: uma na praia junto à ponta Romero, a outra à frente da residência do régulo Remane e a terceira no quintal deste.

A população para não pagar o imposto abandonava as suas casas e internava-se mais para o interior e o funcionário da administração colonial em acto de vingança queimava todas as residências, obri­gando a população a construir alpendres provisórios após a sua retirada.

Em língua macua “marapata” significa alpendre ou algo provisório, alcunha que a população deu ao dito funcionário.

Nessa altura a designação de Pemba limitava-se somente a uma pequena área, próximo à ponta Miranembo, onde o governador colonial Jerónimo Romero havia instalado o "Estabelecimento da Baia" e construído um fortim que a população de Muária usou como refúgio nas razias que os sacalaves levaram a cabo.

Embora fora dos parâmetros deste estudo mas para dar uma ideia mais ampla da distribuição territorial do regulado Muária podemos acrescentar que dados de 1970 indicam que o régulo Ntondo, ocupava em Porto Amélia uma área de 1.042 km2 (Paquitequete), seguido do propriamente chamado Muária em Natite com 264 km2, Namacoma no Wimbi com 504 km2, o Piripiri no Gingone chefiando uma área de 8 km2 e o Nansure do Cariacó a Changa com 230 km2. (3)

Considerando por outro lado que os portugueses recrutavam na região do medo os carregadores para as suas caravanas é óbvio que muitos deles em Pemba se foram fixando, o mesmo sucedendo à gente migrada das regiões costeiras.

Os conflitos tribais que sempre existiram entre ambas as etnias (e para um período mais curto também com os macondes) eram compensados pelas trocas comerciais, sobretudo o contrabando e tráfico de toda a espécie.

Apesar de Pemba ser zona costeira, provida de uma enorme baía, muito pouca gente se dedica hoje à pesca, absorvendo o sector pes­queiro apenas cerca de 200 pescadores (dados de 1987) que em suas casquinhas, lanchas e algumas pequenas embarcações fazem não mais que uma produção anual de 150 toneladas de pescado. É também verdade que a intensiva exploração ao longo dos tempos dentro e ao largo da baía, tornaram os recursos marinhos mais escassos.

De marinho típico é, por aquelas bandas, verem-se, nas vazantes das águas com bastante afluxo no período das marés vivas, mulheres, homens e até mesmo crianças de tenra idade ora cercando peixe muidinho com finas malhas ora apanhando conchas ou moluscos comestíveis.

Tão típico é isto quanto o prazer de encontros amigáveis na praia ao nascer e ao pôr do sol, nem que seja sob o pretexto da necessidade de defecar na praia (por tradição), ali se juntam grupos de pessoas em animadas conversas (e quem sabe não mais?) por várias horas.Grande parte da população dedica-se no entanto à pequena indústria artesanal e a outras ocupações liberais e informais bem como ao comércio, não deixando de praticar um pouco de agricultura para subsistência, com especial incidência no milho, mapira, mandioca e mexoeira.

Pemba, este pequeno satélite e entreposto swahili de tempos remo­tos, conserva ainda suas antigas tradições e hábitos assimilados das gentes do Tanganica. A preferência em artigos do mercado oriental e a quase generalização da língua swahili, embora misturado com o idioma macua e a língua portuguesa, é também realidade.

O “Sungura”, dança importada da Tanzânia, diverte todos os dias e durante toda a noite a população dos bairros periféricos.

Dessa gente não há quem falte, pois aliado ao divertimento algum namorisco poderá, eventualmente, acontecer.

Os três ou quatro conjuntos musicais que actuam em simultâneo nos principais bairros de caniço expressam-se em língua swahili. Os dançarinos os acompanham.

O "mini na kissikia swahili" (eu compreendo swahili) liga uns e outros numa libertação e fruição de mais um dia passado.

As comunidades de maior influência árabe-swahili, muito dedicadas ao comércio com a Tanzânia, localizam-se em ambas as extremida­des: Maringanha ao Sul e o Paquitequete ao Norte.

Contava há poucos anos um velho auxiliar de faroleiro uma interes­sante e peculiar história sobre a origem do nome Maringanha já que a explicação nos conduz a um facto de que a gente de Maunhane jamais viria a esquecer: trata-se da construção de poços de água, um dos mitos de mau agouro ameaçador de morte a quem o construísse.

O facto deu-se após o ciclone de 1914 quando, já reconstruída a povoação de Maunhane, o faroleiro Heliodoro José Carrilho inaugura os poços (por ele próprio mandados construir) gritando o lema: “Muringana?”, que em língua local significa "estão completos?" ao que a população respondia em uníssono "Ti ringana”, que nada mais é do que a confirmação.

Será que por popularização como indicava a fonte e deturpação da expressão "mu ringana" viria a resultar Maringanha?

As cartas no entanto designam de ponta "Maunhane" à região e não é de admirar já que localmente a expressão significa "no sítio dos macacos" dado que em tempos parece ter sido ali o local por eles preferido.

Ainda hoje muitas vezes se vêem macaquitos a vaguear pela Ma­ringanha saltitando por entre o sombreiro das casuarinas e coqueiros junto ao farol como que apreciando as centenas de mulheres que na vazante avançam pelo mar em busca de marisco, o "caril" diário.

Trata-se principalmente da apanha de certas conchas com carne comestível mas pouco ou nada comercializável por se tratar quase de um dever tradicional de toda a mulher e suas crianças procurar moluscos e pequenos crustáceos tanto para seu sustento como até por simples ocupação do tempo e desporto.

Para além da pesca artesanal a população da Maringanha dedica-se também à pequena agricultura bem como à fermentação alcoólica do caju. Aqui a amêndoa deste fruto é no geral consumida quer verde quer torrada depois de seca ou mesmo, em ambos os casos, também utilizados na culinária.

Na outra extremidade de Pemba encontramos o Paquitequete que apesar de desenvolver um forte comércio swahili alberga por outro lado famosos artesãos e gastrónomos ensinados no Ibo e trazidos para ali aquando da transferência da sede da administração da Com­panhia do Niassa.

Ourives trabalhando a prata das moedas portugesas antigas e o ouro das libras estrelinas que ainda vão aparecendo, arrancado às relíquias de algumas poucas “sinharas” (senhoras) ainda vivas apesar de velhinhas, que em seus quintais confeccionam para venda famosos doces, compotas, diversos bolos doces e salgados bem ainda como achares de variado tipo.

O Paquitequete está quase separado da cidade por uma lângua que seca quando a maré vaza mas repleta de água na enchente e, nessas ocasiões, não falta “negociozinho” aos miúdos das casquinhas ganhan­do algumas coroas aos que desejem encurtar o caminho caso estejam em ambas as extremidades já que a ponte se situa quase no extremo sul deste enorme bairro.

O nome de Paquitequete provém da expressão "pá hitequete” que significa por um lado "no sítio do hitequete" ou melhor uma planta que cresce toda emaranhada muito comum ali, por outro é aplicada à característica do próprio bairro com casitas todas muito juntinhas umas das outras formando um autêntico emaranhado.

Engloba ele junto ao mar as áreas de Cofungo na ponta Mepira, seguindo-se em direcção à ponta Romero as zonas conhecidas por Nazimogi, Paquitequete propriamente dito, Cumissete e Cuparata. Há a acrescentar ainda uma casta de mestiços do Ibo que se isolou um pouco mais para a costa a seguir a lângua, dando origem ao bairro da Cumilamba que galga um pouco a parte da escarpa Leste da cidade de Pemba.

Enquanto que na Maringanha a ponta é alcantilada e orlada por um recife de coral que cobre e descobre em Mepira ela è baixa e arenosa caindo a costa a pique sobre o mar.

Nas regiões centrais da península localizam-se os bairros semi-urbanizados de Ingonane, próximo à ponta Romero assim como o de Natite e Cariacó mais a sul onde vivem principalmente os novos artesãos, o pequeno operariado local e os potenciais produtores e negociantes de aguardente e outras bebidas tradicionais, tais como os fermentados de cereais ou farelos.

Estes bairros desenvolvem-se a partir da ponta Romero que é baixa e também orlada por recife de coral que cobre e descobre. Tem praias arenosas mas as ondas são no geral bastante violentas. A ponta Romero antes da ocupação pêlos portugueses era conhecida pelo nome Miranembo.

A tradição reza que ainda no tempo em que a região era floresta cerrada, albergando grandes manadas de elefantes certo dia enfurecidos avançam em direcção ao mar e o mais velho (o chefe) que seguia à frente não foi capaz de estancar na ponta o que o levou a precipitar-se por sobre as águas e dai engolido pelas ondas. De súbito os outros elefantes param e aterrorizados tomam rumo oposto fazendo uma retirada para o interior sem nunca mais por ali aparecerem.

Ora, localmente a expressão “umuiria” significa engolido e “nembo” o vocábulo elefante, ou seja o lugar onde foi engolido o elefante. Naturalmente, segundo a lenda, as duas expressões ter-se-iam fundido dando origem à palavra “umuirianembo”, posteriormente, “miranembo”.

Entre o Cariacó e a Maringanha encontram-se o Wimbe e o Nanhimbe (actual bairro Eduardo Mondlane) dedicando-se à agricultura de su­bsistência e à fermentação alcoólica do caju.

Já no cimo da colina podem-se ver, do levante ao poente, os bairros de Chuiba ou "Planalto dos Cajueiros", Gingone e Muxara, pratica­mente cobertos de cajueiros, e são os que mais comercializam a amêndoa do caju e se dedicam à fermentação alcoólica da respectiva maçã bem como à pequena agricultura.

O rochoso baixo de Nacole a 1,5 milhas para Sueste da Ponta Mepira, projecta ao longo das suas praias de Chibabuara onde, do ponto mais alto da cidade, a colina se faz cair abruptamente.

Outrora um esconderijo de larápios por possuir densa floresta, hoje a sua população é essencialmente constituída por pescadores que, apesar dos rumores de existência de um polvo gigante ali mesmo na baía, essa gente continua fazendo alguma pescaria sem qualquer receio.

No centro da península onde está instalada a cidade de Pemba, ergue-se a zona de cimento desde a Baixa ou "Cidade Velha" junto à qual foram construídas as primeiras casas de alvenaria por facilidades de acesso ao porto, estancando numa planície provida do melhor parque habitacional.

É também nesta zona onde se encontram o Governo e serviços públicos diversos, combinados com uma cadeia de estabelecimentos comerciais bem como um parque infantil onde funciona também uma creche.

O actual porto e ponte cais de Pemba na baixa estão localizados na região meridional da baía a 5 amarras para Sueste da ponta Mepira, com fundo de lodo. O fundeadouro pode alcançar-se a pouco mais de 80 metros, onde se encontra o molhe cais, dado que os fundos se aproximam bastante da terra.

Existem no porto diversas instalações para armazenamento de cargas e para serviços marítimos e aduaneiros. Está também apetrechado com um sistema para a contenção de combustíveis que, através de uma conduta de cerca de um quilómetro, são despejados para os depósitos da Petromoc próximos à povoação de Chibabuara.
- Do Livro "Pemba e sua Gente" de Luis Alvarinho.
EXTRAS - O FAROL DA MARINGANHA

Pudesse eu ligar para (289)824983 ou ir pessoalmente localizar a Rua Actor Nascimento Fernandes, lá para as bandas de Faro, Algarve, na terra de Camões, encontrar Maria dos Anjos Martins e conversarmos hoje sobre o Farol da Maringanha.

Não é por nada. É que no livro que me ofereceu, com o nome Pemba, de contos lusófonos, em retribuição ao meu “Caso de Montepuez”, ela me pôe muito pensativo quando na página 81 fala do faroleiro que sempre guarnecia aquele farol em tempos de sua juventude.

Apresentando-se com o pseudônimo, Angie Paraízo, a nossa escritora, que é natural de Cabo Delgado, apresenta um faroleiro que ficava horas a fio, sentado nos primeiros degraus do farol esperando ver os tentáculos do polvo gigante que emergia silencioso e rápido do fundo das águas do mar. Passava as tardes à espera do seu único amigo, a sua única visita, apesar de saber que ele só vinha ao pôr-do-sol. O velho faroleiro gretado pelo vento e pelo sol, cofió na cabeça de cabelos brancos, pés descalços, olhar perscrutando o mar até ao limite do horizonte.

Ás vezes, conforme Angie Paraízo, o polvo surpreendia o coitado do velho faroleiro, elevando os grandes tentáculos acima do nível do mar, deixando-os deslizar pelas paredes escuras do farol para em seguida rodopiar em espiral provocando agitação nas águas. O velho sorria e agradecia. Estamos perante um maringanha morto e monótono.
:: Júlio Gabão, Jaime L. Gabão e o saudoso Rodrigo Carrilho ::

O que gostaria então de dizer a minha amiga luso-moçambicana, é que no mesmo sítio, estou a dizer, no farol da Maringanha, já não há nada que justifique a solidão de que sofreu o faroleiro. O bairro da Maringanha não tem hipótese de ficar isolado, não há lugar para ser apenas o polvo a brincadeira do faroleiro e não só.Maringanha fica hoje alguns quilómetros mais perto da cidade de Pemba, porque a engenhosidade de mentes particularmente empresariais permitiu queo farol seja não só aquele dispositivo sinaleiro, mas também o nome de um complexo turístico-cultural, enfim, lugar para todo o tipo de lazer, que Pemba há muito precisava.

Aliás, não há mato a partir da praia do Wimbe, a pouco e pouco foram aparecendo lugares de restauro e brincadeiras adultas, sendo que a seguir vem a “Aquilla Romana”, depois temos a sempre trabalhadora Célia, o campismo, etç., etç., salta-se um pouco para permitir que um pequeno bosque ainda continue a viver por razões humanas. É que lá está o cemitério dos hindus, é lá onde se queimam, depois do que estamos no complexo “O Farol”.

É Albertino Cuomo, o cabo-verdiano que agora (há duas semanas) fez o destino obrigatório dos que sabem descansar, claro, com certas posses.

Houve tempos em que aos fins-de-semana tínhamos pessoas a irem a Nampula para se deleitarem com os ambientes quentes do “Xitende” ou “Monteiro Splays” ou ainda nas Quintas Nasa, do Galo e muito recentemente no complexo “O Bambo”. Noutros tempos a gente dirigia-se a Montepuez para usufruir do que “Zavala” proporcionava, hoje não.

Pudesse eu convidar a minha amiga Angie Paraízo para, com ela, com a sua idade, ficar pelo menos trinta minutos no “Farol”, depois iríamos pela costa até noutro complexo pertencente a Chabane Combo, só para ver que o espaço está sendo ocupado, por isso a solidão do faroleiro não mais voltará, pelo menos em Maringanha.
PS - Em tempo: Estiveram cá os “Massucos” do Niassa, para confirmarem que são na verdade os mais-mais da atualidade. Há muito que Pemba precisava de espetáculos de luxo, fora da cassete que se traz e se imita burlando deste modo o público que muito respeito merece. Ficou de parabéns Narciso Gabriel e o seu restaurante Wimbe que trouxeram os “Massucos”, agora traga-nos os “Eyuphuros” e verá.
- Pedro Nacuo - Notícias de 27/09/2002-Texto cedido por Anvar e Inez Andrade Paes.

(Transferência de arquivos do sitio "Pemba" que será desativado em breve)