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1/30/14

PEMBA - O DESAFIO: Projecto Escadarias 2014

VERDADE OU FICÇÃO?
PEMBA rumo a um futuro sustentável e de preservação histórica quanto a sua arquitectura e monumentos ?

26 DE AGOSTO DE 2011 - Às Escadarias de Pemba

esse passo lento com que sobes as escadas 
em cada passo 
no que de curto o olhar é pensamento 
distante e raro mas de beleza constante 
em que a particularidade do sonho 
é desembainhado 
quando o moscardo passa

no calor da subida em que cada degrau é um fardo 
em cada passo uma memória 
e a mulher na descida faz chegar ao rosto suado 
vento breve mas certeiro

de que pedras raras são 
esses degraus largos e compridos 
de que pedras raras são

olha para trás 
vê a buganvília 
ainda te recebe na descida

- Inez Andrade Paes
PEMBA - RECORTES 
PEMBA A CAMINHO DA REALIDADE PROMISSORA ?
Clique nas imagens para ampliar:
Pemba - Entrega do Projecto Escadarias em 29JAN2014 
Engº. Alvarinho, Presidente Tagir e Vereador Naba. Courtesy: John Supeta — com Municipio Pemba-Facebook e Manuel Alvarinho. (Municipio de Pemba no FaceBOOK)

12/21/12

Uma história para o Natal - Coríntia a menina dos tecidos

Coríntia é uma menina que vende tecidos muito coloridos no bazar, cada vez que os sacode deixa cair no chão, histórias com muitas cores.

A manhã é de Sol quente.
Aproximou-se da menina um homem alto - porque todos os homens são altos para a menina que ainda é pequena - aproximou-se e pisou num bocado de tecido encarnado. A menina puxou o tecido e pediu que o homem tirasse os pés de cima das Cerejas, mas ele só ali via um tecido encarnado. 

- Quero comprar este tecido - apontando para o tecido encarnado -.

- O das Cerejas? Pergunta a menina.

- Sim o vermelho.

- Não é vermelho, é mais forte, vermelho três vezes forma-se em encarnado e se ficarmos a conversar um pouco mais de certeza ficará pálido vermelho porque o sol alimenta-se das cores dos meus tecidos.

- É por isso que os abanas?

- É por isso e porque assim ao longe quem passa os vê. 

- Quero então um metro de Cerejas. 

- Porque não leva também um metro de Mangas?

- Não, para as mangas já me chega este metro.

- Não digo de vermelho, digo um pouco deste que é quase vermelho mas ainda é laranja de Manga.

- Menina! Vamos lá a perceber, afinal o que é que eu levo?

- Não sei, leva o que quiser, mas se quiser a minha opinião, fazia as mangas a Mangas e o corpo a Cerejas.

- Então dê-me lá um quilo de cada.

E assim a menina vende os seus tecidos e convence todos os compradores a sonhar.

- Inez Andrade Paes*
PUBLICADA POR IAP EM 12:33 - "Contos de fadas não de reis"
* Foi na terra do mar que Inez pôs em primeiro lugar as suas mãos. Daí sairam conchas, algas, pequenos grãos de areia que se introduziam entre os dedos e embora fizessem uma ligeira impressão traziam consigo o nácar dos peixes e o azul do Mar. Foi com estes olhos que Inez se arrelampou com o primeiro pôr do sol, com o primeiro arco iris, com a primeira onda agreste que lhe deitou o mar por cima e lhe deixou sal nos lábios. Foi com estes olhos que Inez viu a terra vermelha, aquela onde até se podiam plantar pedras. Mas foi com estes olhos que Inez recompôs a saudade e mergulhando as mãos na terra adversa, daí tirou tudo, fez compotas, adoçou a família e os amigos, e como se não bastasse, meteu a imaginação pelo meio para criar coisas que aos nossos olhos se tornaram surpreendentes. Foi com estes olhos que Inez abraçou o pasto com a mesma ternura que abraça os poetas, o mesmo amor que abraça a alma. E foi com estes olhos que Inez viu a liberdade dos pássaros e os reproduziu fielmente, para que eles os pássaros pudessem ir para além do vôo, naquilo que os pássaros ensinam as pessoas em trajectórias para além do circulo. E as mãos de Inez estão aqui. No tudo que nos leva ao caminho duma descoberta plena. Por favor Inez não deixes que as tuas mãos saiam do nosso coração. 
- Teresa Roza D’Oliveira - Julho de 2004

Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para os blogues "ForEver PEMBA" e "Escritos do Douro"em Dezembro de 2012. Transcrição com a devida vénia dos blogues da artista plástica, poetisa e escritora natural de Pemba em Moçambique, residente em Portugal, Inez Andrade Paes "Contos de fadas não de reis" e "Coralino" Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

6/07/12

PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA 2013

REGULAMENTO

O GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL DE VÁLEGA (GAC), Associação de Utilidade Pública de âmbito cultural, nos termos do Decreto-lei n.º 460/77, por despacho publicado em DR II Série n.º 174, de 31 de Julho de 1998, em colaboração com várias entidades patrocinadoras, e a Família de Glória de Sant'Anna, organizam o Prémio de Poesia denominado “PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA”, destinado a galardoar o melhor trabalho apresentado no âmbito deste Regulamento.

Prémio -
Prémio no valor de  3.000.00 a ser atribuído ao Autor do melhor livro de Poesia em língua Portuguesa editada no ano corrente.

Elegibilidade -
a) Primeira edição em Portugal e países Lusófonos.
b) Não serão aceites antologias, colectâneas ou trabalhos seleccionados noutras publicações.
c) O livro não pode ser constituído na totalidade por trabalhos seleccionados noutras publicações.
d) O livro terá de incluir poemas inéditos, num mínimo de 80% do total.
e) Um livro editado postumamente será considerado se for publicado no período de um ano após a morte do Poeta.
f) O livro terá de ter pelo menos 32 páginas.
g) Edições de autor e trabalho apresentado directamente pelos poetas não serão considerados.
h) Livros de poesia para crianças também serão considerados.
i) Não serão permitidas petições de qualquer indivíduo ou editor a qualquer membro do júri.
j) A premiação de um Autor não impede que esse seja considerado de novo nos anos seguintes.

Condições -
Qualquer livro seleccionado para o Prémio só será considerado se a editora se comprometer com o seguinte:
a) Contribuir com € 300.00 para publicidade se o livro for seleccionado na lista final.
b) Garantir que um mínimo de 200 cópias desse livro estejam disponíveis em stock, dentro de 20 dias a partir do anúncio da lista final.
c) Sem qualquer obrigatoriedade, fazer todos os possíveis para que os autores dos livros concorrentes estejam disponíveis para a imprensa a partir da data de anúncio da lista final.
d) O valor do prémio estará sujeito aos respectivos impostos, nos termos contemplados na lei.

Inscrições -
a) Os trabalhos podem ser enviados pelos editores no formato pdf, fotocópias ou provas, dactilografadas, ou em forma de livro acabado, já publicado no ano corrente. Seis exemplares, juntamente com um boletim de inscrição por cada título a concorrer.

Enviar a Obra para:
GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL DE VÁLEGA
Rua Professor Domingos Matos, 187
3880-515 VÁLEGA

b) Todas as inscrições serão confidenciais.
c) A data limite das inscrições é 15 de Março de 2013.
d) Nenhum dos exemplares enviados para concurso será devolvido aos editores.

Lista final -
a) A lista final dos livros seleccionados será anunciada a 15 de Abril de 2013.
b) Da lista constarão um máximo de 10 livros no total.
c) Poemas dos livros seleccionados serão publicados no JORNAL DE VÁLEGA e outros órgãos da Imprensa Nacional.
d) Livros submetidos em processo de acabamento deverão ser fornecidos prontos, se forem seleccionados na lista final.

Reprodução de Poemas -
Um máximo de 5 poemas de cada autor constante da lista final poderá ser reproduzido nas press-releases; no site de Glória de Sant'Anna e mensagens distribuídas por email com o propósito de divulgar os livros, a sua leitura ou o Prémio.

Júri -
a) O painel de Júri inclui o Presidente mais quatro elementos.
b) Cada membro do Júri terá o direito de exercer um voto.
c) O Prémio não poderá ser dividido. Os fundos doados não podem ser usados para outros fins do que custos directamente associados ao prémio.
d) O Júri reserva-se o direito de não atribuir o Prémio por razões justificáveis.
e) Os casos omissos serão resolvidos pelo Júri, que é soberano e de cujas decisões não haverá recurso.
f) A decisão final do Júri é irrevogável.
g) A atribuição e entrega do prémio será a 26 de Maio de 2013 em local a anunciar.

(Clique nas imagens para ampliar)
(Dúvidas ou questões adicionais poderão ser esclarecidas por Inez Andrade Paes - inezapaes@gmail.com)

12/27/11

Em memória de D. Naílde

O mar de PEMBA - Imagem de Inez Andrade Paes

ao Jaime e ao Júlio


mar quebras macio
nos areais do Índico
e manso e morno


leva a tua mão a dar
quem te aguarda


é o Senhor


Inez Andrade Paes - "Contos de Fadas Não de Reis", 6 de Dezembro de 2011
Em homenagem à querida e eternamente lembrada Mãe Nair Vieira Soutelinho Ferraz Gabão, nascida em Pereiro de Agrações - Vidago/Chaves em 07/NOV/1925 e que nos deixou neste dia de 06/DEZ/2011, em Aveiro-Portugal. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em  Dezembro de 2011.

7/20/11

CONCERTO DE HOMENAGEM A GLÓRIA DE SANT'ANNA - 2

Transcrição:
Homenagem a Glória de Sant' Anna - Reflexos

Já o deveria ter feito, mas ontem foi-me de todo impossível. Ainda tentei escrever, mas estava demasiado cansado e extasiado pelo domingo excepcional que tive e tivemos.

Sempre participei com a minha CAMERAʇtA IBÉRICA, desculpem-me este "puxar a brasa à minha sardinha", na mais que merecida e justa homenagem à poetisa Glória de Sant'Anna. E foi bom, muito bom, mesmo. Deu para perceber que a música orquestral tocada por 5 instrumentistas de grande valor técnico e musical, é bem aceite, assim como as minhas canções(zecas). A nossa soprano convidada, Jacinta Almeida, é sem sombra de dúvida uma cantora de eleição. Que magnífica interpretação de todas as minhas 5 canções! Obrigado, Jacinta! Aos músicos acompanhantes e integrantes deste novel agrupamento musical, Alfonso Pineda, Amadeu d' Oliveira, Antonio Mateu, Cecília García e Ruben Venegas, só lhes posso agradecer do fundo do meu coração. Parabéns a todos!

E já que estou em maré de agradecimentos, quero deixar os meus parabéns à Câmara Municipal de Ovar pela excelente organização de um evento simples, mas cheio de emoção.

Também tenho de agradecer à família Andrade Paes, irmãs Inez e Andrea e demais amigos e amigas, pela sua participação e colaboração, que sem a sua preciosa ajuda esta homenagem não teria tido nem sido tão calorosa, emocionante e comovente.

Tanto eu como os músicos adorámos estrear-nos em Ovar!

Penso que todos gostaram da nossa actuação, apesar de não ter sido brilhante, ainda que com grandes momentos de virtuosismo e musicalidade raras, não esmoreceu nem escureceu tão importante acontecimento.

Vou e vamos, de certeza que sim, ficar ligados a Ovar de coração, pela gentileza e amabilidade e pelo bem-fazer. Eu já o estava antes, pois a beleza e grandeza da poesia de Glória de Sant'Anna leva o meu imaginário para terras longínquas (Moçambique) onde nunca estive e outras onde estive.

Como não é todos os dias, nem meses, que um compositor tem a oportunidade e o privilégio de apresentar em estreia mundial, unicamente um concerto só com trabalhos seus, só tenho que agradecer a todos que trabalharam para que acontecesse. E que obras, meu Deus! Difíceis, difíceis, difíceis! Grandes músicos!

Grato, sinceramente, pelos livros, Inez e Andrea!

Em meu nome, da minha família e da CAMERAʇtA IBÉRICA, um obrigado muito grande, ENORME, à família Andrade Paes!

Até breve.

Fontes de Imagem e texto: Vasco M. N. Pereira-blogue, Jacinta Almeida - Soprano. A homenagem aconteceu na noite de 3 de Julho de 2011 no Centro de Arte de Ovar-Portugal. Clique na imagem acima para ampliar.
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Homenagem à poetisa Glória Sant’ Anna: Uma noite de poesia e música

No passado domingo, à noite, o Centro de Arte de Ovar foi palco do espetáculo de homenagem à poetisa Glória Sant’Anna. A qualidade marcou a iniciativa, que pretendia reconhecer esta grande poetisa, que nasceu em Lisboa, viveu em Moçambique e passou os últimos anos da sua vida, na terra de seu marido, em Válega.

A ideia desta homenagem partiu do compositor e maestro Vasco Pereira, que após a leitura de um dos livros da homenageada, "Amaranto", criou duas canções, "É o vento" e "Pescador", bem como a obra para um coro a quatro vozes. Vasco Pereira, bem tentou obter por escrito a autorização da poetisa Glória Sant`Anna, mas todas as entidades contactadas acabaram por ignorar os seus pedidos. Posteriormente e depois do seu falecimento, este maestro apresentou o projeto à Câmara Municipal de Ovar e esta deu "luz verde" para que o mesmo avançasse.

O espetáculo de homenagem à poetisa Glória Sant‘Anna foi dividido em duas partes. Na primeira atuou o quinteto "Cameratta Ibérica", que executou quatro arranjos de obras orquestrais de compositores famosos, como, Sabastian Bach e Bela Bartók. - Fernando Souteiro
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'João Semana' - Homenagem à poetisa Glória de Sant’Anna
Glória de Sant’Anna em Ovar – Uma escrita de água e fogo
'João Semana' - Espelho de imagem primeira página
(Clique nas imagens acima para ampliar)

5/10/10

Retalhos: De Porto Amélia a Pemba - Apontamentos de Histórias Perdidas 2...

Outras Histórias perdidas...:
Ex-farmacêutico, ex-polícia, José Alves vive (vivia em Portugal...) em condições desumanas!!!!

DR. JOSÉ ALVES - O Diabo (jornal português) retoma a causa dos espoliados das ex-colónias e aborda mais um caso humano dramático: José Alves, de 88 anos, vive agora os últimos dias da sua vida em condições difíceis. Para trás fica uma história côr-de-rosa de um licenciado em Farmácia por terras de Moçambique:
Da polícia para a Universidade - Na recôndita aldeia de Gondelim, concelho de Penacova, todos o identificam como o «doutor José Alves», devido ao seu passado como farmacêutico. Este idoso, de barba e cabelos brancos em desalinho e unhas enegrecidas, move-se com muita dificuldade, apoiando-se num providencial cajado.

A idade não perdoa. Para ele o tempo passa devagar. Muito devagar. Revela uma lucidez e uma preparação intelectual invulgar para um homem de tão provecta idade. Vive ao abandono e somente a generosidade dos sobrinhos lhe disfarça a fome. Sobrevive com uma parca pensão de 30 contos.

Ele é um dos muitos espoliados das ex-colónias, que, da noite para o dia, ficou com uma mão-cheia de nada. Dir-se-ia que como o deste homem, nascido no período em que a I República dava os primeiros passos, há centenas de casos em Portugal. É possível. Mas cada história é uma história, e a de José Alves reveste-se de peculiaridades.

A pacata Gondelim, nas imediações da Barragem da Raiva, foi a terra que o viu nascer. Afecto à classe dos "pés-descalços" como faz questão de realçar, começou logo aos 5 anos a trabalhar no campo. «Não de sol a sol, mas de estrela a estrela», apressa-se a corrigir. O serviço militar foi cumprido em Vendas Novas. Os estudos ficam para trás sem grande êxito, apesar das otencialidades que todos lhes reconhecem. Concluiu o 2º ano do liceu apenas com a instrução primária cumprida. Entretanto, aceita o desafio de dois colegas e concorre à polícia.

Entusiasmou-se, e mais tarde retomou os estudos. A experiência obtida numa farmácia da terra fá-lo ganhar o gosto por estas matérias. Demanda a «cidade dos estudantes», onde tira o bacharelato em Farmácia, para espanto de muitos que indagavam o que fazia um polícia na universidade. Só posteriormente, com 35 anos e uma distinta média de 15 valores, logra a licenciatura na Universidade do Porto. Inicia o périplo por algumas farmácias do País, primeiramente no Padrão, no centro da cidade do Porto.

Mas o apelo das províncias ultramarinas revelar-se-ia mais forte. Em 1948 instala-se em Moçambique, na cidade de Lourenço Marques, na Farmácia Augusto Nazaré, onde era sócio a título simbólico, porque «a lei assim o obrigava». O despedimento leva-o até ao estabelecimento de João Ferreira dos Santos, na ilha de Moçambique, descoberta por Vasco da Gama em 1498 e onde os portugueses se instalaram em 1506. Reconhece que em três anos de permanência em África arrecadou mais do que nos restantes anos em Portugal. «Só para dar uma idéia, passei de dois para seis contos por mês, o que na altura era significativo.»

Em 1956 atinge a emancipação, quando passa a gerir a única farmácia de Porto Amélia. O facto de ter prescindido de ajudante obrigou-o a uma entrega total ao negócio, trabalhando «24 sobre 24 horas». -Ganhei a independência e deixei-me ficar para ver se ganhava mais algum. Só num mês acumulou 50 contos.

O esboroar do sonho africano - Os dias de tempestade levam-no à cadeia, apesar de ser o primeiro a reconhecer que o «preto moçambicano gostava de ser português». Detido, conviveu com nove pessoas como sardinha em lata, sujeitos a torturas e interrogatórios numa cela à temperatura de 40 graus. As acusações de traidor eram as mais frequentes no tempo de cativeiro, período em que perdeu dez quilos. -Só havia pão e água, e o peixe que serviam era podre e nem os cães o queriam comer, relembra.

Entretanto, dá-se a transferência da prisão provisória de Porto Amélia para o estabelecimento prisional de Machava, em Lourenço Marques. «Não me mataram porque não quiseram», relata, e conta as suas experiências nesta prisão política.

Aos 65 anos regressa a Lisboa, com "alguma roupa e um transístor". Dinheiro nem vê-lo. Antes de ser detido depositou cinco mil contos no consulado português em Moçambique, quantia que nunca mais reaveu. Fala com especial ternura do "canudo da formatura, escrito em latim", que o precipitar dos acontecimentos fizeram com que ficasse esquecido nas quentes terras de África.

Já em Lisboa seria acolhido pela Santa Casa da Misericórdia, onde, ironicamente, declara «não ter visto mostras de muita santidade».

À reforma social, no valor de cinco mil escudos, juntava-se o mesmo montante para a reforma da polícia, na sequência de um decreto-lei da responsabilidade de Mota Pinto, que privilegiaria quem tivesse sido funcionário do Estado. Um dia, na Segurança Social, um zeloso funcionário informou-o de que «não podia ter direito a duas reformas». Resultado: ficou reduzido a uma reforma, do tempo em que foi agente da autoridade. Do período em que foi farmacêutico, só perduram as memórias, porque da compensação social, nem tusto.

Por estes dias dorme num leito tosco e pobre sob quatro paredes sem condições, que, gracejando, denomina como «o palácio do doutor». Confessa que sofre muito com os rigores do Inverno, e o que lhe vale é o ar puro proveniente da imensa mancha de pinhal que o circunda - se calhar o segredo da sua longevidade.

Mais um, dos muitos casos, que continuam a escapar à sensibilidade dos políticos da nossa praça.
Nota da redação do "O Diabo": Indaguei, por várias vias, se o Dr. José Alves ainda seria vivo e soube que ele teria morrido em finais de 2001.

AQUELAS FIGURAS DE PEMBA QUANDO ERA PORTO AMÉLIA... ou saudades daquela "má-lingua" - amigável e no bom sentido - que nos fazia sorrir...! - (Trechos extraídos do Bar da Tininha-Yahoo!"):
Sobre o Dr. José Alves - De: Fernando Gil - Data: Dom Mai 11, 2003 10:55 am - E o WalksWagen a apodrecer em frente à porta da farmácia? Lembram-se? Mas não sei se vocês sabem um pouco da história da vida deste Homem. Ele era polícia em Portugal e, ficando sem pais, ajudou um irmão mais novo a formar-se. Como tantas vezes e infelizmente acontece, quando o irmão se apanhou com "canudo" não mais o quiz ver e contactar. Ele, que só tinha a 4ª classe, encheu-se de brio e em 3 anos, a trabalhar, fez o liceu e entrou na Universidade para Farmácia. Foi assim que, quando acabou o curso, foi ter com o irmão com a passagem para Moçambique e o "canudo de farmacêutico" e tanto se quis isolar que escolheu o lugar mais remoto em Moçambique: Porto Amélia, na altura. Era um bom homem que ajudava muita gente cedendo medicamentos de borla a muitos africanos. Um abraço.
- Fernando Gil.

De: Jorge Alberto Eusébio Carneiro, Data: Dom Mai 11, 2003 12:00 pm - Lembro-me sim que era o José Carrilho, magro de estatura média/alta. Dos frequentadores do Bar para além de todos os nomeados muitos outros como o Cristina (Mário?) (Sagal e algodão-compras??), o Nuro Gani muito amigo da minha familia e de nós em especial e de muitos dos condutores de camião ao serviço da Sagal. Pesquei também nas noites na ponte/cais com o dr. Alves e isto numa altura em que em 57/58 o Governo deu a possibilidade de férias pagas a quem cá estivesse na Universidade e tivesse os Pais em Àfrica; as alternativas então eram ir para o cais no fim da tarde/noite, ir para o Desportivo ou para o Pemba jogar ping-pong. Foi por esses anos que a praia do Wimbe começou a ser mais frequentada; até então era a praia em frente à Sagal e de vez em quando a chamada praia do Palmar que julgo eu era nas cercanias do Wimbe. Bom domingo a todos.
- Jorge Carneiro.

Sobre o Carling do Miéze - De: Antonio Fernandes Coelho - Data: Seg Mai 12, 2003 5:34 am - Assunto: Alemão solitário - De seu nome Carling (é assim que se escreve?) era o maior fornecedor dos saborosos carangueijos nados e criados nos matopes e mangais do Mièze...
Por falar em figuras "típicas" daqueles tempos; quem se lembra daquele que, na loja do Ávila ao lado do Marítimo, recusou comprar umas quantas chávenas porque, segundo ele, tinham a asa do lado esquerdo e lá em casa ninguem era canhoto?
Se não é verdade, pelo menos a história corria... e umas tantas outras do género, atribuidas ao mesmo personagem?
Fica o desafio à vossa memória.
E quem se lembra do pequeno-grande homem, alfaiate, de nome Piera?
Vamos lá a puchar pelos neurónios... e a tirar do baú as recordações que pertencem à infância de todos.
RECORDAR É VIVER!
- António Fernandes Coelho.

Sobre o Dr. José Alves - De: João Manuel C Araujo - Data: Seg Mai 12, 2003 5:52 am - Do Dr. Alves lembro-me de 2 curiosidades:
  1. Uma vez tive uma virose, supostamente depois de ter sido objecto de rigorosas manifestações de irritação por parte de uma cria de Leoa capturada pelo Sr Nunes Vicente (lembram-se dele?). O Dr. Alves, que além de bom coração era conhecido pela sua frontalidade teve o seguinte comentário dirigido à minha Mãe: "Ó minha senhora, isso não é nenhuma virose. É daquelas doenças que periodicamente matam uma data de crianças por aí!". Mas sou mesmo eu que vos estou a escrever...
  2. Conta-se (será talvez lenda) que periódicamente ia ao Banco com um tambor de lata de óleo cheio de notas para fazer depósitos (a curiosidade é o tambor).

Já agora, e prometo continuar brevemente, lembro:

  • A madame Dallman(?) que foi a primeira senhora que vi a conduzir camião e a fumar cachimbo. Se bem me lembro vivia ao lado dos Andrade Pais.
  • Um capataz alemão da plantação do sr. Moreira Longo, de nome Siegert, que tendo adormecido em cima de uma árvore enquanto esperava por um leopardo caiu da árvore quando o leopardo lhe "atirou" com um rugido.
Abraços,
- João Manuel Araújo.

Sobre o Dr. José Alves - De: Antonio Fernandes Coelho - Data: Seg Mai 12, 2003 7:20 am - Falando do Dr. Alves, contava-se ainda a história de uma conhecida e querida figura da "nossa Praça" que um dia lhe foi pedir um creme para as rugas.
O nosso amigo, com ar pensativo, pôs-se a olhar as prateleiras dos medicamentos enquanto cantarolava baixinho:

- "Oh tempo, volta p'ra trás"...

Estava aviada a receita...
- António Fernandes Coelho

De: Jaime Luis Gabão - Data: Seg Mai 12, 2003 10:48 am - Assunto: Re: Alemão solitário - O tal das chávenas... Parece que lembrei... Não seria o famoso Pinto da Cunha ?...
- Jaime Luis Gabão

De: Inez Andrade Paes - Data: Seg Mai 12, 2003 11:53 am - Jaime, era sogra do Sr.Frank também consul da Alemanha que trabalhava na Pillipy. Era a Frau Dalman que nós por sermos amigos dos netos dela a tratávamos por Oma (Avó). Eles viviam mesmo ao nosso lado.
Muitos se devem recordar daquela pequena ponte que ficava no meio da grande avenida que ía ter aos fusileiros e que chamavam de Gravata.
Foi essa Senhora que numa das suas idas para "Pequena Macarara" (a machamba mais pequena ali perto da cidade)e já com um "grão" valente na asa, deitou uma das guardas da ponte abaixo, pois além de fumar muito gostava dos seus Whiskies...
Foi a melhor maneira de fazer ali uma avenida decente.
Mais um abraço,
- Inez Andrade Paes.

De: Antonio Fernandes Coelho - Data: Seg Mai 12, 2003 12:27 pm - Assunto: Recordações - Sim, Jaime, a pessoa em questão na história das chávenas é mesmo essa.
Falava-se ainda de uma sua ida à Capitania do Porto para obtenção de licença para ter o Petromax aceso na varanda. É que, no gozo, o "velho" Patacua, ex-faroleiro, o convencera de que a luz podia induzir os navios em erro... (da casa dele nem o mar se via, embora fosse perto).
Havia histórias fabulosas naquela terra! Basta começar a recordar e é como as cerejas; vêm umas atrás das outras.
Lembram-se de alguém que, à noitinha, junto ao Estádio e escondido no banco trazeiro de um carro, levou com uma chapa de matrícula na tola?
NB: Desculpem mas aqui não há nomes.
- António Fernandes Coelho.

De: Zé Norberto - Data: Seg Mai 12, 2003 1:46 pm - Assunto: Re: Recordações - Eu era muito miúdo, mas falavam tanto das originalidades dele que virou "herói" da minha infância. Devia ter tido qualquer coisa a ver com o carvão. Não foi por isso que vocês, os da geração do Tó Coelho e do Jaime, terão dado carinhosamente a alcunha de Charbonnier ao filho, irmão da Adélia, ou já estarei confuso?
Um dia foi à Niassa Comercial devolver uma máquina de escrever novinha que havia comprado só porque alguém lhe disse que ela dava erros ortográficos!
Um abraço.
- Zé Norberto

De: João Manuel C Araujo - Data: Seg Mai 12, 2003 3:03 pm - Assunto: [Bar da Tininha] Re: Pois... - E doeu que se fartou. Ainda tenho cicatrizes visíveis. Mas o pior estava para vir: quem me tratou foi o inesquecível Dr. Carmo, que não se calou nem 1 segundo enquanto me limpava os cortes.
- João.

De: Antonio Fernandes Coelho - Data: Seg Mai 12, 2003 5:07 pm - Assunto: Recordações - Oh Zé Norberto,
Com pena minha mas estas (maldita falta de acento aqui no teclado de casa) enganado.
O Charbonier era o saudoso Luis Faria (o pai negociava carvão e a malta, pimba: Sai alcunha. Sabes como é...).
Essa da maquina de escrever estava engatilhada mas disparaste tu, tudo bem. Vale na mesma.
Rodam-me na mente mais algumas historietas que irão saindo com o tempo. Saborear devagar sabe melhor.
Quanto a nomes, tem paciência Jaime mas tem que ser com muitos "pesinhos de lã" pois casos ha que são um tanto sensiveis.
Vamos com calma. Voltaremos à chapa na tola. Prometo.
- António Fernandes Coelho.

De: Zé Norberto - Data: Ter Mai 13, 2003 6:13 pm - Assunto: Re: Recordações - Obrigado, Tó Coelho. Bem me parecia que eu estava equivocado sobre qual deles tinha tido o privilégio de ser rebaptizado Charbonier. Ainda bem que a tua memória é mais fiável do que a minha!
Um abraço.
- Zé Norberto.
(Transferência de arquivos do sitio "Pemba/Régua" que será desativado em breve)

5/04/10

Retalhos - De Porto Amélia a Pemba: FAROL MARINGANHA


HISTÓRIA DE PORTO ÀMELIA - FAROL MARINGANHA - IV A GENTE E A SOCIEDADE

A população de Pemba é bastante heterogénea, tendo para lá emi­grado do interior os macuas, os ngonis ou mafites e os macondes.

Do litoral, os nguja do Tanganica, os sacalaves do Madagáscar e os mujojos das Comores. A civilização europeia, particularmente a trazida pelos portugueses é também notória, já que ali a colonização assimilou grande parte da população, mesmo a não mista.

Nas regiões circunvizinhas à cidade de Pemba existiam já antes da ocupação pelos portugueses algumas povoações chefiadas por ré­gulos, sendo o principal o sultão Mugabo, seguido de outros como o Said Ali, Mutica, Macesse e o Mugona.

O Governador de Cabo Delgado que, em em 1857 foi incumbido de ocupar a região e aí formar uma colónia, faz especial referência ao "velho" Mutica que, à excepção dos outros, falava ainda a língua portuguesa e muito contribuirá para o sucesso das negociações.

Fortemente swahilizados estes régulos que se expressavam e escre­viam geralmente em árabe, edificaram sociedades semi-feudais cuja autonomia se manteve ao longo dos tempos, até mesmo hoje, con­tinuando a exercer grande influência e poder no seio da população, cujo principal credo é o maometanismo mesclado de antigas tradições fetichistas como em quase todas as regiões da província.

A estas autoridades de relações amigáveis e até mesmo honestas com outros povos em certas alturas, também não lhes faltaram momentos de agitação e saque.

Já em 1843 o cheique Macesse, que chefiava a região actualmente conhecida por Pemba-Metuge, revolta-se contra a submissão aos portugueses, expulsando a companhia militar portuguesa estacionada num navio à entrada da baía de Pemba. Como corolário do desenrolar destes acontecimentos o cheique Macesse devolve a bandeira por­tuguesa às autoridades coloniais nas mãos do ajudante de Arimba, José F. Carrilho e recusando-se a pagar qualquer espécie de tributo.

Salientam-se também as investidas feitas pelos régulos Mugabo, Said Ali e outros contra caravanas europeias no circuito de Quissanga, obrigando-as a uma rota que levaria a mercadoria antes para Porto Amélia.

Se por um lado isto viria a abrir um caminho para o desenvolvimento de Porto Amélia a finais do século XIX, não menos verdade é que o facto veio a onerar bastante o processo de embarque e desembarque da carga já que Quissanga comunicando mais directamente com o "medo" era o principal porto exportador de então para o comércio e tráfico “ajaua-meto”.

A maior parte dos régulos antes da segunda década do nosso século se submetiam, na cintura de Pemba, ao régulo Mugabo, cujas terras confinavam com as da "coroa do medo", estas chefiadas pelo pode­roso maravi Mualia, ora submetido ora sublevado aos portugueses.

O quadro etnológico da população de Pemba remonta-se principal­mente à fusão do grupo macua com castas muani, penetrados res­pectivamente a partir de Murrébue e Quissanga.

Embora de diferentes origens as populações de Pemba se subordi­navam ao régulo Muária também de origem maravi.

O regulado Muária nasce cerca de inícios dos anos de 1880 quando famílias como Heri e Bachir pertencentes ao mesmo clã atingindo a região do medo avançam em direcção ao litoral pela rota Chiúre/ Mecufi/Murrébue.

De acordo com a "rainha" Muamba Omar Ussofo mais conhecida por Nhanicuto e descendente dos Muária, a dinastia se inicia com um tal Heri l na região de Changa (Murrébue) nas terras do régulo Nampuipui.

À morte de Heri l sucede ao trono Heri II que, para não defrontar o régulo Nampuipui que lhe fizera guerra acusando-o de ocupação ilícita das suas terras e compromisso com os portugueses, foge e refugia-se em Pemba na área da Maringanha. Parte do clã seguiu para Quissanga.

O successor de Heri II foi Remane Bachir que viajando para a África do Sul, como era seu hábito levando consigo voluntários (de acordo com a fonte ) que para lá queriam ir viver, foi chamado para assumir o cargo e é nessa altura adoptado o cognome de "Muária" para o regulado que agora começava.

Muitas vezes se fala de Muária como tendo alguma relação de parentesco, de clã ou mesmo qualquer outra com o regulo Muália, o que é negado por Muamba Ussofo, mas pode sobreviver a ideia de auto-identificação com o poderoso e conterrâneo maravi das terras do medo.

Amad Ali, avô do régulo Remane Bachir, descobre a zona de Marindima em Pemba e mobiliza a sua família e a gente de Changa para a habitar, o que veio a acontecer.

No entanto, fugitivos aos ataques dos ngonis, que lançavam as suas investidas com armas de fogo e azagaias a partir do ponto da colina que cai a pique na região de Marindima, bem como pelo facto de ali não haver água potável, a população deixa a zona e vai fixar-se junto às lagoas de Natite.

É então que Remane Bachir manda limpar as áreas de Nuno e Ingonane para ser habitada colocando lá como chefes dois familiares seus, nomeadamente as rainhas Nhanicuto e Nhacoto.

Enquanto isto o régulo Remane Bachir Muária entrega o Wimbi ao chefe Namacoma e a região compreendida entre o Nanhimbe e Maringanha ao seu irmão capitão-mor Tagir Bachir.

Anra Bachir sucede a Remane no regulado Muária e tendo este morrido fica como sucessor o seu sobrinho Fadili Adi, seguindo-se - lhe o seu irmão Anli Mugola.

Durante o reinado de Anli Mugola, este entregou a zona do Cariacó ao chefe Amada Muária, já na década de 60 do nosso século, que ao ser preso pela Pide é substituído por Abdul Latifo Ncuo.

Para além das já citadas rainhas o Paquitequete teve ao longo dos tempos ate à independência de Moçambique outros chefes, no­meadamente Mussa Amad, Pira Anlaue, Said N’Ttondo, entre outros.

Das relações com as autoridades coloniais que, mesmo antes de ocupar a região mandavam anualmente um encarregado de cobrança do imposto, a velha Omar Ossofo relata que quando chegava tal enviado eram içadas três bandeiras portuguesas: uma na praia junto à ponta Romero, a outra à frente da residência do régulo Remane e a terceira no quintal deste.

A população para não pagar o imposto abandonava as suas casas e internava-se mais para o interior e o funcionário da administração colonial em acto de vingança queimava todas as residências, obri­gando a população a construir alpendres provisórios após a sua retirada.

Em língua macua “marapata” significa alpendre ou algo provisório, alcunha que a população deu ao dito funcionário.

Nessa altura a designação de Pemba limitava-se somente a uma pequena área, próximo à ponta Miranembo, onde o governador colonial Jerónimo Romero havia instalado o "Estabelecimento da Baia" e construído um fortim que a população de Muária usou como refúgio nas razias que os sacalaves levaram a cabo.

Embora fora dos parâmetros deste estudo mas para dar uma ideia mais ampla da distribuição territorial do regulado Muária podemos acrescentar que dados de 1970 indicam que o régulo Ntondo, ocupava em Porto Amélia uma área de 1.042 km2 (Paquitequete), seguido do propriamente chamado Muária em Natite com 264 km2, Namacoma no Wimbi com 504 km2, o Piripiri no Gingone chefiando uma área de 8 km2 e o Nansure do Cariacó a Changa com 230 km2. (3)

Considerando por outro lado que os portugueses recrutavam na região do medo os carregadores para as suas caravanas é óbvio que muitos deles em Pemba se foram fixando, o mesmo sucedendo à gente migrada das regiões costeiras.

Os conflitos tribais que sempre existiram entre ambas as etnias (e para um período mais curto também com os macondes) eram compensados pelas trocas comerciais, sobretudo o contrabando e tráfico de toda a espécie.

Apesar de Pemba ser zona costeira, provida de uma enorme baía, muito pouca gente se dedica hoje à pesca, absorvendo o sector pes­queiro apenas cerca de 200 pescadores (dados de 1987) que em suas casquinhas, lanchas e algumas pequenas embarcações fazem não mais que uma produção anual de 150 toneladas de pescado. É também verdade que a intensiva exploração ao longo dos tempos dentro e ao largo da baía, tornaram os recursos marinhos mais escassos.

De marinho típico é, por aquelas bandas, verem-se, nas vazantes das águas com bastante afluxo no período das marés vivas, mulheres, homens e até mesmo crianças de tenra idade ora cercando peixe muidinho com finas malhas ora apanhando conchas ou moluscos comestíveis.

Tão típico é isto quanto o prazer de encontros amigáveis na praia ao nascer e ao pôr do sol, nem que seja sob o pretexto da necessidade de defecar na praia (por tradição), ali se juntam grupos de pessoas em animadas conversas (e quem sabe não mais?) por várias horas.Grande parte da população dedica-se no entanto à pequena indústria artesanal e a outras ocupações liberais e informais bem como ao comércio, não deixando de praticar um pouco de agricultura para subsistência, com especial incidência no milho, mapira, mandioca e mexoeira.

Pemba, este pequeno satélite e entreposto swahili de tempos remo­tos, conserva ainda suas antigas tradições e hábitos assimilados das gentes do Tanganica. A preferência em artigos do mercado oriental e a quase generalização da língua swahili, embora misturado com o idioma macua e a língua portuguesa, é também realidade.

O “Sungura”, dança importada da Tanzânia, diverte todos os dias e durante toda a noite a população dos bairros periféricos.

Dessa gente não há quem falte, pois aliado ao divertimento algum namorisco poderá, eventualmente, acontecer.

Os três ou quatro conjuntos musicais que actuam em simultâneo nos principais bairros de caniço expressam-se em língua swahili. Os dançarinos os acompanham.

O "mini na kissikia swahili" (eu compreendo swahili) liga uns e outros numa libertação e fruição de mais um dia passado.

As comunidades de maior influência árabe-swahili, muito dedicadas ao comércio com a Tanzânia, localizam-se em ambas as extremida­des: Maringanha ao Sul e o Paquitequete ao Norte.

Contava há poucos anos um velho auxiliar de faroleiro uma interes­sante e peculiar história sobre a origem do nome Maringanha já que a explicação nos conduz a um facto de que a gente de Maunhane jamais viria a esquecer: trata-se da construção de poços de água, um dos mitos de mau agouro ameaçador de morte a quem o construísse.

O facto deu-se após o ciclone de 1914 quando, já reconstruída a povoação de Maunhane, o faroleiro Heliodoro José Carrilho inaugura os poços (por ele próprio mandados construir) gritando o lema: “Muringana?”, que em língua local significa "estão completos?" ao que a população respondia em uníssono "Ti ringana”, que nada mais é do que a confirmação.

Será que por popularização como indicava a fonte e deturpação da expressão "mu ringana" viria a resultar Maringanha?

As cartas no entanto designam de ponta "Maunhane" à região e não é de admirar já que localmente a expressão significa "no sítio dos macacos" dado que em tempos parece ter sido ali o local por eles preferido.

Ainda hoje muitas vezes se vêem macaquitos a vaguear pela Ma­ringanha saltitando por entre o sombreiro das casuarinas e coqueiros junto ao farol como que apreciando as centenas de mulheres que na vazante avançam pelo mar em busca de marisco, o "caril" diário.

Trata-se principalmente da apanha de certas conchas com carne comestível mas pouco ou nada comercializável por se tratar quase de um dever tradicional de toda a mulher e suas crianças procurar moluscos e pequenos crustáceos tanto para seu sustento como até por simples ocupação do tempo e desporto.

Para além da pesca artesanal a população da Maringanha dedica-se também à pequena agricultura bem como à fermentação alcoólica do caju. Aqui a amêndoa deste fruto é no geral consumida quer verde quer torrada depois de seca ou mesmo, em ambos os casos, também utilizados na culinária.

Na outra extremidade de Pemba encontramos o Paquitequete que apesar de desenvolver um forte comércio swahili alberga por outro lado famosos artesãos e gastrónomos ensinados no Ibo e trazidos para ali aquando da transferência da sede da administração da Com­panhia do Niassa.

Ourives trabalhando a prata das moedas portugesas antigas e o ouro das libras estrelinas que ainda vão aparecendo, arrancado às relíquias de algumas poucas “sinharas” (senhoras) ainda vivas apesar de velhinhas, que em seus quintais confeccionam para venda famosos doces, compotas, diversos bolos doces e salgados bem ainda como achares de variado tipo.

O Paquitequete está quase separado da cidade por uma lângua que seca quando a maré vaza mas repleta de água na enchente e, nessas ocasiões, não falta “negociozinho” aos miúdos das casquinhas ganhan­do algumas coroas aos que desejem encurtar o caminho caso estejam em ambas as extremidades já que a ponte se situa quase no extremo sul deste enorme bairro.

O nome de Paquitequete provém da expressão "pá hitequete” que significa por um lado "no sítio do hitequete" ou melhor uma planta que cresce toda emaranhada muito comum ali, por outro é aplicada à característica do próprio bairro com casitas todas muito juntinhas umas das outras formando um autêntico emaranhado.

Engloba ele junto ao mar as áreas de Cofungo na ponta Mepira, seguindo-se em direcção à ponta Romero as zonas conhecidas por Nazimogi, Paquitequete propriamente dito, Cumissete e Cuparata. Há a acrescentar ainda uma casta de mestiços do Ibo que se isolou um pouco mais para a costa a seguir a lângua, dando origem ao bairro da Cumilamba que galga um pouco a parte da escarpa Leste da cidade de Pemba.

Enquanto que na Maringanha a ponta é alcantilada e orlada por um recife de coral que cobre e descobre em Mepira ela è baixa e arenosa caindo a costa a pique sobre o mar.

Nas regiões centrais da península localizam-se os bairros semi-urbanizados de Ingonane, próximo à ponta Romero assim como o de Natite e Cariacó mais a sul onde vivem principalmente os novos artesãos, o pequeno operariado local e os potenciais produtores e negociantes de aguardente e outras bebidas tradicionais, tais como os fermentados de cereais ou farelos.

Estes bairros desenvolvem-se a partir da ponta Romero que é baixa e também orlada por recife de coral que cobre e descobre. Tem praias arenosas mas as ondas são no geral bastante violentas. A ponta Romero antes da ocupação pêlos portugueses era conhecida pelo nome Miranembo.

A tradição reza que ainda no tempo em que a região era floresta cerrada, albergando grandes manadas de elefantes certo dia enfurecidos avançam em direcção ao mar e o mais velho (o chefe) que seguia à frente não foi capaz de estancar na ponta o que o levou a precipitar-se por sobre as águas e dai engolido pelas ondas. De súbito os outros elefantes param e aterrorizados tomam rumo oposto fazendo uma retirada para o interior sem nunca mais por ali aparecerem.

Ora, localmente a expressão “umuiria” significa engolido e “nembo” o vocábulo elefante, ou seja o lugar onde foi engolido o elefante. Naturalmente, segundo a lenda, as duas expressões ter-se-iam fundido dando origem à palavra “umuirianembo”, posteriormente, “miranembo”.

Entre o Cariacó e a Maringanha encontram-se o Wimbe e o Nanhimbe (actual bairro Eduardo Mondlane) dedicando-se à agricultura de su­bsistência e à fermentação alcoólica do caju.

Já no cimo da colina podem-se ver, do levante ao poente, os bairros de Chuiba ou "Planalto dos Cajueiros", Gingone e Muxara, pratica­mente cobertos de cajueiros, e são os que mais comercializam a amêndoa do caju e se dedicam à fermentação alcoólica da respectiva maçã bem como à pequena agricultura.

O rochoso baixo de Nacole a 1,5 milhas para Sueste da Ponta Mepira, projecta ao longo das suas praias de Chibabuara onde, do ponto mais alto da cidade, a colina se faz cair abruptamente.

Outrora um esconderijo de larápios por possuir densa floresta, hoje a sua população é essencialmente constituída por pescadores que, apesar dos rumores de existência de um polvo gigante ali mesmo na baía, essa gente continua fazendo alguma pescaria sem qualquer receio.

No centro da península onde está instalada a cidade de Pemba, ergue-se a zona de cimento desde a Baixa ou "Cidade Velha" junto à qual foram construídas as primeiras casas de alvenaria por facilidades de acesso ao porto, estancando numa planície provida do melhor parque habitacional.

É também nesta zona onde se encontram o Governo e serviços públicos diversos, combinados com uma cadeia de estabelecimentos comerciais bem como um parque infantil onde funciona também uma creche.

O actual porto e ponte cais de Pemba na baixa estão localizados na região meridional da baía a 5 amarras para Sueste da ponta Mepira, com fundo de lodo. O fundeadouro pode alcançar-se a pouco mais de 80 metros, onde se encontra o molhe cais, dado que os fundos se aproximam bastante da terra.

Existem no porto diversas instalações para armazenamento de cargas e para serviços marítimos e aduaneiros. Está também apetrechado com um sistema para a contenção de combustíveis que, através de uma conduta de cerca de um quilómetro, são despejados para os depósitos da Petromoc próximos à povoação de Chibabuara.
- Do Livro "Pemba e sua Gente" de Luis Alvarinho.
EXTRAS - O FAROL DA MARINGANHA

Pudesse eu ligar para (289)824983 ou ir pessoalmente localizar a Rua Actor Nascimento Fernandes, lá para as bandas de Faro, Algarve, na terra de Camões, encontrar Maria dos Anjos Martins e conversarmos hoje sobre o Farol da Maringanha.

Não é por nada. É que no livro que me ofereceu, com o nome Pemba, de contos lusófonos, em retribuição ao meu “Caso de Montepuez”, ela me pôe muito pensativo quando na página 81 fala do faroleiro que sempre guarnecia aquele farol em tempos de sua juventude.

Apresentando-se com o pseudônimo, Angie Paraízo, a nossa escritora, que é natural de Cabo Delgado, apresenta um faroleiro que ficava horas a fio, sentado nos primeiros degraus do farol esperando ver os tentáculos do polvo gigante que emergia silencioso e rápido do fundo das águas do mar. Passava as tardes à espera do seu único amigo, a sua única visita, apesar de saber que ele só vinha ao pôr-do-sol. O velho faroleiro gretado pelo vento e pelo sol, cofió na cabeça de cabelos brancos, pés descalços, olhar perscrutando o mar até ao limite do horizonte.

Ás vezes, conforme Angie Paraízo, o polvo surpreendia o coitado do velho faroleiro, elevando os grandes tentáculos acima do nível do mar, deixando-os deslizar pelas paredes escuras do farol para em seguida rodopiar em espiral provocando agitação nas águas. O velho sorria e agradecia. Estamos perante um maringanha morto e monótono.
:: Júlio Gabão, Jaime L. Gabão e o saudoso Rodrigo Carrilho ::

O que gostaria então de dizer a minha amiga luso-moçambicana, é que no mesmo sítio, estou a dizer, no farol da Maringanha, já não há nada que justifique a solidão de que sofreu o faroleiro. O bairro da Maringanha não tem hipótese de ficar isolado, não há lugar para ser apenas o polvo a brincadeira do faroleiro e não só.Maringanha fica hoje alguns quilómetros mais perto da cidade de Pemba, porque a engenhosidade de mentes particularmente empresariais permitiu queo farol seja não só aquele dispositivo sinaleiro, mas também o nome de um complexo turístico-cultural, enfim, lugar para todo o tipo de lazer, que Pemba há muito precisava.

Aliás, não há mato a partir da praia do Wimbe, a pouco e pouco foram aparecendo lugares de restauro e brincadeiras adultas, sendo que a seguir vem a “Aquilla Romana”, depois temos a sempre trabalhadora Célia, o campismo, etç., etç., salta-se um pouco para permitir que um pequeno bosque ainda continue a viver por razões humanas. É que lá está o cemitério dos hindus, é lá onde se queimam, depois do que estamos no complexo “O Farol”.

É Albertino Cuomo, o cabo-verdiano que agora (há duas semanas) fez o destino obrigatório dos que sabem descansar, claro, com certas posses.

Houve tempos em que aos fins-de-semana tínhamos pessoas a irem a Nampula para se deleitarem com os ambientes quentes do “Xitende” ou “Monteiro Splays” ou ainda nas Quintas Nasa, do Galo e muito recentemente no complexo “O Bambo”. Noutros tempos a gente dirigia-se a Montepuez para usufruir do que “Zavala” proporcionava, hoje não.

Pudesse eu convidar a minha amiga Angie Paraízo para, com ela, com a sua idade, ficar pelo menos trinta minutos no “Farol”, depois iríamos pela costa até noutro complexo pertencente a Chabane Combo, só para ver que o espaço está sendo ocupado, por isso a solidão do faroleiro não mais voltará, pelo menos em Maringanha.
PS - Em tempo: Estiveram cá os “Massucos” do Niassa, para confirmarem que são na verdade os mais-mais da atualidade. Há muito que Pemba precisava de espetáculos de luxo, fora da cassete que se traz e se imita burlando deste modo o público que muito respeito merece. Ficou de parabéns Narciso Gabriel e o seu restaurante Wimbe que trouxeram os “Massucos”, agora traga-nos os “Eyuphuros” e verá.
- Pedro Nacuo - Notícias de 27/09/2002-Texto cedido por Anvar e Inez Andrade Paes.

(Transferência de arquivos do sitio "Pemba" que será desativado em breve)