Onde se retrata com clareza revoltante a anarquia, o desrespeito pela Lei e a corrupção que imperam em Cabo Delgado por parte de quem deveria fazer respeitar essa Lei, quando, entre outros, o tema é MADEIRAS e destruição dos recursos naturais.
É uma vergonha !
É uma vergonha !
Terra amada, terra desmatada: o que acontece às nossas florestas em Cabo Delgado.
É agora a vez de mostrar o que se está a passar em Cabo Delgado a propósito das nossas florestas, feito o percurso pela Zambézia (1 e 2).
É agora a vez de mostrar o que se está a passar em Cabo Delgado a propósito das nossas florestas, feito o percurso pela Zambézia (1 e 2).
Eis uma carta do engenheiro Heike E. Meuser, endereçada ao governador de Cabo Delgado:
"Heike E. Meuser Maputo, 08 de Janeiro 2007
DED, Maputo
V. Excia. O Governador de Cabo DelgadoPemba
Excelentissimo Sr. Governador de Cabo Delgado,
Venho por esse meio informar a V. Excia. dos acontecimentos que nós vivemos enquanto nós, os meus dois filhos de 11 e de 15 anos de idade, eramos como turistos em Cabo Delgado.
No sabado, dia 06 de Janeiro deste ano, meus filhos quiserem fazer um safari para ver os famosos liões e elefantes no Parque National de Quirimba, em Mareja.
Infelizmente, em vez de animais salvagems, eles eram testemunhos de um encontro com dois camiões cheios de madeira preciosa, madeira que foi tirado de maneira ilegal do Parque National de Quirimba.
Não só o facto de ser enfrentado com madeireiros ilegais, também o encontro foi violente, um fiscal de Mareja foi aleijado dos madereiros, aparamente trabalhando por um chines.
Tais acontecimentos não favorecem ao turismo e dão um mal exemplo, ao lado dos efeitos negativos para os fundamentos da natureza moçambicana.
Agradecemos antecipadamente a Vossa atenção
Heike Meuser
Eng. Agr,, Mag. Agr."
Denuncia a quem de direito:
Dia 6 de Janeiro de 2007, às 12h, recebemos informação via radio Motorola que se estava a efectuar o transporte ilegal de madeira num camião.
Às 12:20, enviei um carro, Land Rover com 4 fiscais armados para confiscar a madeira e os mesmos encontraram a um individuo numa motorizada.
Imobilizaram o individuo e respectiva motorizada e levaram a ambos na viatura Land Rover para o posto de Biaque.
Enquanto isso eu Dominik, tambem fui ao local para ver como estava a situação, pois nesse momento eu estava de guia turistico com alguns turistas dos quais dois eram menores.
A 3 km, antes de chegar a Biaque, encontrei um Toyota Corolla escondido que achando que tinham ludubriado aos fiscais que capturaram ao individuo da motorizada decidiram arrancar com a viatura justo no momento que eu estava a chegar e comecei e perseguir o respectivo carro que este parou e dele sairam 2 individuos que eram fiscais fardados e se puseram em fuga mas a população diz que viu 3 pessoas a sairem do carro.
Perguntei ao motorista o que estava a fazer naquele local e disse que estava a comprar castanha.
Dirigimo-nos ao posto e não havia ninguém, só estava um fiscal comunitario.
O Land Rover que estava com os fiscais armados e o individuo da motorizada foram por uma outra estrada a 3km de Macomia, numa aldeia chamada Arrapale para procurar o camião, entraram do mato 3km adiante e encontraram 2 camiões de marca Faw, azul, MNB 98-56 e Faw, branco, MPB 09-69.
Falamos com os motoristas e pedimos os documentos e chaves dos camiões e ficaram 3 fiscais para guardar os camiões que transportavam 32 e 48 touros de pau ferro sem sigla.
Liguei para o Sr. Dias por volta das 15horas, responsavel da fiscalização, informando do ocorrido e pedindo ajuda de Pemba.
Disse que ia mandar um carro do parque e que guardasse os documentos dos camiões, enquanto isso chegaram ao local os senhores Rafael e Majimoto, fiscal do parque nacional e chefe do posto.
Estes começaram a exigir-me os documentos dos camiões, um motorista dum dos camiões começou a agredir me a mim e a minha viatura, tentou levar as chaves do meu Land Rover, a situação tornou-se incontrolavel e tentei sair dali e ele bateu-me com uma pedra no braço enquanto eu estava no interior do carro com os turistas não esquecendo que duas eram menores.
Os fiscais do parque (Rafael e Majimoto), nao interviram nesta contenda e eu disse que ia dar queixa à policia.
Chegados ao posto policial de Ancuabe que está a 40km do local da contenda, liguei para o Sr.Dias a informa-lo do sucedido e ele disse que era para eu deixar os documentos e chaves dos camiões na policia.
Pedi para falar com o comandante mas não estava e falei com o chefe de operacões e pedi um policia armado para voltar a Biaque, nesse momento chegou o Corolla com o operador ilegal mais 2 fiscais, entraram na esquadra e disseram que iam levar o caso para o posto que iam fazer um auto de noticias e aviso de multa.
Avisei aos presentes que o Sr.Dias tinha dado ordens para deixar os documentos e chaves na policia e negaram e entregaram aos operadores ilegais na presença dos fiscais.
Pedi proteção da policia e negaram alegando que teria proteção dos fiscais do parque.
Voltamos para o local onde estavam os camiões, encontramos o Corolla na estrada e os fiscais iam a pé para o mato, oferecemos boleia e negaram.
Chegados a local, levamos os nossos 3 fiscais que tinham ficado a guardar os camiões e começou confusão entre motorista do camião e os fiscais, feriu a um deles, tiraram a motorizada do Land Rover com ajuda da população local, partiu o rádio Motorola que recuperamos e fugimos, quando chegamos a estrada, estacionamos o nosso carro para bloquear o camião que saia para Macomia e eles foram para Biaque, mobilizaram 20 homens para fazer frente ao meu carro e enquanto eles vinham nós faziamos marcha atras e eles acabaram cansados e desisitiram.
Enquanto isso o outro Land Rover levou o ferido e os turistas e eu continuei com as deligencias.
Os camiões por fim foram escoltados por uma viatura do parque que só estava com motorista sem fiscal, o Corolla que ia à frente dos camiões e atràs deles ia um Hilux que tentou bloquear-me mas não conseguiu e eu fiquei atras dos camiões.
Antes do cruzamento a Ancuabe ultrapassei os camiões e fiquei parado a frente para impedir que fossem a selva macua.
Os camiões avançaram em direção a Ancuabe, ultrapassei-os para prevenir a saida para Montepuez, perto da esquadra encontrei ao Hilux que dava boleia à mãe dum fiscal.
Insistimos para meter os camioes no quintal da esquadra de Ancuabe sede e não aceitavam mas por fim aceitaram.
O motorista começou a insultar aos fiscais até que a policia teve que intervir fazendo uso da sua arma.
Abriu-se a investigação e o policia de servico chamou-me de maneira arrogante, pediu-me o Dire e questionou o meu nome Dominik nome de mafioso, pedi para repetir e disse o mesmo.
Pediu o nome dos motoristas dos camiões mas nao pediu-lhe documentos.
Fiz queixa de agressão fisica contra minha pessoa e os meus fiscais e transporte ilegal de madeira, a policia não aceitou a queixa de agressão e disse que só ia tratar do assunto madeira.
A policia entregou um auto de entrega aos agentes do parque, pedimos para ler em voz alta e não aceitou.
Enquanto se faziam as diligencias o Sr. Magimoto, insultou-me, dizendo que eu não sabia nada porque não estava formado em Gorongosa, eu sugeri que ele devia contar os touros, sendo o fiscal e porque os camiões iam ficar na esquadra e ele disse que não era trabalho dele, que eu fosse contar os touros e fui contar.
Quando todos estavam a sair (Fiscais, Motoristas e operador ilegal), este último ameaçou-nos que se nos saissemos da esquadra alguem ia morrer.
Pedimos à policia para mostrar a copia do auto de entrega e a matricula nao correspondia com a do camião.
Pedi o nome de oficial de serviço e recusou-se e dar e essa conversa foi escutada via celular pelo Sr. Nazerali, assessor do parque.
Fomos jantar e apareceu o Director distrital da agricultura para falar comigo e estava acompanhado da esposa e do Comandante da Policia na sua viatura.
Reportei tudo que tinha acontecido, disse que estava desiludido por não ter apoio das autoridades locais e disse que viviamos numa anarquia total e ele disse me que tinha que ter cuidado com o que dizia porque era perigoso.
Por volta da 1:30 da manha os camiões estavam na esquadra, voltei para casa porque dia seguinte tinha que levar os turistas para Pemba porque viajavam.
Às 20.30 do dia 7 de Janeiro de 2007, liguei para o oficial de administracão para saber como estava a situação e ele disse que os camiões tinham saido, quis saber a que horas tinham saido os camiões e nao me facultou essa informação.
Já agora, saiba sobre os 47 contentores de madeira apreendidos há dias no porto de Pemba.
Finalmente, hoje ainda e a propósito do que se passa com as nossas florestas na Zambézia e em Cabo Delgado, escreverei aqui uma carta ao presidente da República:
Carta para o Senhor Presidente da República, Armando Emílio Guebuza
Senhor Presidente,
Senhor Presidente,
Permita-me que lhe escreva esta carta.
Sei que não tem tempo para a ler, mas quero acreditar que alguém lhe dará conhecimento dela.
Senhor Presidente: a nossa terra já exportou escravos, ouro, marfim, madeira, tanta coisa! Como sabe, escrevi nos manuais de História de Moçambique, nos anos 80, como tudo isso se passou.
Agora, Presidente, parece que estamos a regressar aos séculos da pilhagem.
As nossas florestas estão a ser delapidadas.
E floresta, Presidente, é raíz, floresta é o conjunto das nossas raízes, desta terra amada, mas desta terra cada vez mais desmatada.
Presidente: corremos o risco de perdermos as raízes.
Permita-me sugerir-lhe uma coisa: a nomeação imediata de uma comissão de inquérito dirigida pelo decano dos nossos cientistas, Professor Engenheiro Carmo Vaz.
E é tudo, Presidente.
A luta continua.
Carlos Serra
Centro de Estudos Africanos