10/21/07

Guerra Colonial em África - Série documental «A Guerra» - II

(Imagem original daqui)
Transcrevo post do "Instante Fatal" sobre a discutida mas necessária série televisiva "A Guerra" de Joaquim Furtado que a RTP 1 está transmitindo desde o dia 16 de Outubro.
Após imensos anos de tanta "lenda" mal contada às jovens gerações dos povos envolvidos e falsos "mitos" fabricados por conveniências políticas, surge a esperança que a verdade da História Colonial Portuguesa seja reposta com imparcialidade justa, transparente e a confiança de que sejam derrubados do pedestal imerecido, muitos "heróis de barro" auto-proclamados e falsificados.

(A Guerra - Primeiro Episódio - Nota importante: se não conseguir ver o video acima, já que exige boa largura de banda devido a seu "peso" - 163Mb. em 53 m. e 10 s., tente o acesso por aqui)
A verdade inconveniente de Furtado
Não vi todo o programa do Joaquim Furtado sobre a Guerra Colonial.
Do que vi gostei muito.
Parece que foi um sucesso de audiência.
Isto prova que vale a pena fazer televisão com qualidade e não apostar só na fancaría das telenovelas e dos reality- shows.
É evidente que só a RTP tem rede para poder arriscar a pôr no ar, no horário nobre, um programa daqueles.
Numa privada o falhanço de uma experiência destas pode causar muito prejuízo.
Ninguém hoje arrisca.
O programa do Joaquim tem a grande qualidade de ser isento, objectivo.
É jornalismo puro: testemunha sem preconceitos.
As imagens de arquivo são de grande qualidade e vem reforçar a idéia de que na RTP havia uma escola de grandes repórteres, de grandes cameramen, na década de sessenta.
As imagens não são só boas por serem documentos únicos.
Têm qualidade técnica e formal.
A vida nas colônias era uma boa vida e ali dá para percebermos melhor o nosso passado muito mal contado no pós-25.
Aquelas manifestações na baixa contra a guerra, com milhares de pessoas, não podiam ser só encenadas.
Havia ali fervor, autenticidade, idéia de Pátria.
A forma como Holden Roberto (que entretanto morreu) contou o ataque da UPA no Norte de Angola, é brutal em verdade.
Os portugueses foram barbaramente chacinados para darem lugar a ditaduras, mas nada há a fazer contra a avalanche da História.
Sobrevivemos e pode-mo-nos orgulhar do que deixámos em África.
Assim pudéssemos dizer o mesmo do que fizemos em 30 anos de democracia.
Blogue "Instante Fatal"- 17/10/2007

10/20/07

BAÍA DE PEMBA - A mais bela entre as belas...III História e Lendas.

(Clique na imagem para ampliar - Foto retirada do álbum de "Andre M. Pipa")
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A Baía de Pemba
A baía de Pemba, a 13o 00’ Sul e 40o 30’ Este da costa de África, é vulgarmente considerada a terceira maior do mundo, sendo a primeira a de Guanabara no Brasil seguida da de Sidney na Austrália.
As suas águas ondeando tons, ora azuis ora verdes, apresentam-se mansas em dias de bom sol e agradável tempo mas também escarpadas, rugindo de encontro aos rochedos ou regalando pela areia quando os ventos sopram furiosos do Sul.
Este ventos mais conhecidos na região por “kussi” originam, não raras vezes centros depressionários bastante fortes do tipo tropical que arrasam quase por completo a cidade.
O mais antigo temporal que a documentação disponível nos pôde recordar data de 18 de Dezembro de 1904 que causou vários danos assim como levou ao afundamento um pequeno vapor e um iate.
É feita referência nessa altura à falta de faróis ao largo da baía, sendo o único o da ponta Said Ali que, para além de ter somente 6 milhas de alcance e não 9 como indicavam as cartas de então, não era aconselhável aos navios que passassem no alto mar.
Outro grande temporal devasta Pemba em 1914, destruindo pratica­mente todas as habitações e provocando grandes embaraços aos serviços da Companhia.
Estes ciclones assolam de tempos a tempos a região de Pemba, tendo o mais recente ocorrido em 1987.
Em sua extensão a baía de Pemba atinge os valores de 9 milhas de Norte a Sul e 6 de Leste a Oeste, perfazendo um perímetro de 28 a 30 milhas.
Mas não só por isso ela goza de tal fama como também pela pro­fundidade do canal de acesso e do porto, com sondas que variam entre 60-70 metros na entrada e 10-40 na parte média, para atingir os 25 metros no fundeadouro junto ao cais diminuindo em direcção á costa.
A sua entrada é, pois, franca a qualquer tempo e hora, podendo nela penetrar à vontade navios até cerca de 6 metros de calado.
No entanto, devido a alguns perigos isolados formados por rochas e bancos de coral, é necessária a pilotagem para os navios de alto mar.
A boca de entrada a partir da qual é feita a pilotagem é delimitada a Norte pela ponta Said Ali e a Sul pela ponta Romero, havendo actualmente farolins em ambos os lados.
Desaguam na baía alguns pequenos rios sendo o maior o Meridi cuja foz desemboca nas proximidades do baixo Mueve.
A baía de Pemba constitui, sem dúvida, um porto natural bastante seguro e, apesar de tudo, abrigado dos temporais regionais, tendo sido qualificado por Elton - Cônsul britânico em Moçambique a finais de 1890 - como "O melhor desde Lourenço Marques a Zanzibar”.
Alguns autores supõem que a baía de Pemba possa ter tido uma origem vulcânica, baseando-se no facto de ali se encontrar com abundância a "pedra pomes" própria de rocha vulcanizada.
Mas a sua constituição calcária e não basáltica vem a contradizer tal suposição.
Das origens do nome pouco mais se sabe do que as escassas informações recolhidas da tradição oral, algumas das quais baseadas em lendas, e deve tomar-se em consideração que a designação de Pemba para nome da região não foi a única ao longo dos tempos.
Em anos muito recuados da nossa história a baía de Pemba era frequentada apenas por alguns pescadores malgaches e swahilis que em suas pequenas lanchas e pangaios arrecadavam o alimento sem nunca ali se fixarem.
Conta então uma antiga lenda que por essa altura uma de tais embarcações apanhadas por um temporal naufragou tendo como sobrevivente uma mulher que se viu obrigada a procurar algum refúgio nas proximidades da baía.
A mulher importante (“nuno” em língua local ) conseguiu sobreviver e montar ali a sua guarita.
Naturalmente conotada a "Nuno" pelos pescadores como "mensageira divina" demonstrando que a zona poderia ser perfeitamente habitada, ela fê-los seguir o seu exemplo.
Nasce a zona de Nuno pelo qual foi conhecido por longos anos o actual bairro do Paquitequete.
Mais tarde viria a anexar-se a esta designação a expressão “pampira” (no sitio da borracha) em virtude da grande quantidade da árvore da borracha que no local nascia espontaneamente.
A região servida pela baía de Pemba foi também já conhecida por Mambe expressão que pode simultaneamente significar quantidade e longitude.
Embora certos autores relacionem “mambe” à baía de Pemba, a região a que a administração colonial designa por esse nome se situa mais a norte, no distrito de Macomia.
Uma outra tradição oral refere que um europeu, em data também não precisa, proveniente de Zanzibar faz desembarcar na baía os indígenas que o acompanhavam e, estes, vendo-se assaltados por grandes enxames de moscas gritavam dizendo “pembe” que em swahhili significa mosca.
Teria sido mambe, pembe ou outra a origem da expressão "Pemba" no território moçambicano, certo é que ela figura nas primeiras cartas inglesas como "Pembe Bay”.