2/09/08

Banco de Dados - Armando Guebuza: de marxista a empresário...

Para que se anote e, segundo Sabrina Hassanali do "Correio da Manhã" de hoje - 09/02/2008:
Ministro 24-20’.
É assim que muitos portugueses o recordam.
Quando assumiu a pasta da Administração Interna, no primeiro governo pós-independência liderado por Samora Machel, uma das suas primeiras medidas foi a expulsão de portugueses.
Ordenou-lhes que abandonassem a terra em que nasceram ou que adoptaram como sua em apenas 24 horas e juntassem todos os pertences acumulados durante uma vida de trabalho nuns parcos 20 quilos de bagagem.
Hoje, enquanto presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza parece ter substituído o radicalismo feroz do passado pelo pragmatismo e acolhe bem, inclusivamente, o regresso daqueles que partiram forçados porque afinal uma nação emergente precisa de todos para crescer e sair da lista dos mais pobres.
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A ordem de expulsão de portugueses não foi a única mancha no seu vasto currículo político.
Pertencente ao núcleo duro do partido, convenceu o moderado presidente Machel a adoptar políticas radicais, de má memória para muitos moçambicanos.
Foi o caso do impopular programa ‘Operação Produção’, que consistia em enviar desempregados das áreas urbanas e os que eram apanhados sem documentos em rusgas nocturnas para zonas rurais no Norte do país, onde nasceu.
A maioria dos que foram integrados neste polémico programa nunca chegaria a regressar e muitos viriam a morrer de fome.
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‘GUEBUSINESS’
Quando o regime renunciou ao marxismo-leninismo para abraçar a economia de mercado e o multipartidarismo, Guebuza enterrou o passado marxista e mergulhou no mundo dos negócios tornando-se um empresário de sucesso.
A lista de negócios em que se tem envolvido é tão longa – desde turismo à construção civil, passando por importações-exportações, gráfica e até imprensa – que ganhou a alcunha de ‘Guebusiness’.
Os seus críticos afirmam que se tornou no maior representante do capitalismo emergente e questionam o seu enriquecimento.
Numa entrevista, quando lhe perguntaram como o tinha conseguido, respondeu orgulhoso: “Ganhei dinheiro com a criação de patos.”
Os seus negócios não o afastaram da carreira política.
Em 2002 conseguiu ser eleito secretário-geral do partido, abrindo caminho para a ambicionada candidatura à presidência.
Quando assumiu a chefia de Estado, em 2005, prometeu continuar com a política económica do seu antecessor e combater a pobreza, a corrupção, a criminalidade e a burocracia.
Três anos volvidos ainda pouco conseguiu cumprir do que prometeu.
É inquestionável que tem implementado reformas e que reforçou a recuperação económica, atraindo novos investimentos.
Conseguiu também uma taxa de crescimento extraordinária que lhe tem valido louvores de instituições financeiras internacionais.
Mas especialistas alertam que este megacrescimento económico assenta demasiado em megaprojectos, que não têm grande impacto social e pouco contribuem para reduzir a pobreza.
De acordo com a ONU, 40% dos moçambicanos vivem com menos do equivalente a um dólar por dia.
E esta situação tem gerado tensões sociais, como os recentes protestos contra o aumento dos transportes.
O combate à corrupção também não está a correr muito bem.
Ela persiste nas instituições e nem um caso foi levado à Justiça, cuja saúde inspira igualmente cuidados.
Guebuza tem um árduo trabalho pela frente, mas há que lhe dar o crédito de ter sabido ser o garante da democracia e também da estabilidade, crucial para os investidores.
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LÍDER SINDICAL
Filho de um enfermeiro, Armando Emílio Guebuza nasceu em Murrupula, na província de Nampula, a 20 de Janeiro de 1943 (65 anos).
Cedo se envolveu na política.
Aos 20 anos era presidente do sindicato estudantil criado por Eduardo Mondlane, líder da independência, e juntou-se à Frelimo.
No ano seguinte foi estudar para a Ucrânia.
Ocupou altos cargos governamentais antes de assumir a chefia de Estado, em 2005.
É casado e tem quatro filhos.
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MAIS SORRIDENTE
Armando Guebuza tem sido muitas vezes criticado pelos seus conterrâneos por ser taciturno e demasiado formal no contacto com o povo.
De facto, não era muito fácil vê-lo distribuir sorrisos.
Mas os mais atentos têm vindo a notar uma mudança que, segundo algumas fontes bem informadas, se deve a conselheiros apostados em fazer passar uma imagem afável do presidente moçambicano.
Note-se que a sua mulher, Maria da Luz, é, em contrapartida, uma pessoa comunicativa e de trato simpático. Características que a têm ajudado na campanha contra a sida, em que se tem empenhado activamente.
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APOIO TOTAL AO INVESTIMENTO CHINÊS
O maciço investimento chinês em África, incluindo Moçambique, tem suscitado preocupações não só por parte dos moçambicanos, como também por parte dos parceiros ocidentais, incluindo o maior deles, a UE.
A questão chegou a ser levantada na cimeira UE-África, que decorreu no ano passado em Lisboa e, nessa altura, o presidente moçambicano deixou claro que o investimento chinês continuará a ser bem acolhido e que os africanos sabem o que fazem.
“Vejo África como continente independente, maduro e responsável. Assim sendo, quando África entra em negociações e faz acordos com outras entidades, fá-lo enquanto um parceiro maduro”, declarou.
A China tem investimentos de Norte a Sul de Moçambique em áreas como a construção e a reconstrução de infra-estruturas, exploração de minerais, como cobre e carvão, ou a produção de alumínio.
Recentemente, a imprensa local denunciou abusos cometidos por empresas chinesas, nomeadamente o abate ilegal de madeira no Norte do país.

Cabo Delgado - Tráfico humano ocorre perante a apatia das autoridades moçambicanas...2

Segundo o Pedro Nacuo no Notícias - Maputo desta manhã de sábado:
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No penúltimo dia do mês passado, a imprensa foi convocada para uma conferência, na Rua de Chai, linha divisória entre os bairros de Natite e de Cariacó, na cidade de Pemba, onde se localiza a sede provincial da Renamo.
Na véspera já sabíamos do que se iria tratar, nomeadamente a apresentação de uma pessoa que havia sido supostamente raptada por desconhecidos.
Este facto, com condimentos e requintes que estariam a abonar a versão de que ainda se registava o desaparecimento de pessoas no norte da província de Cabo Delgado, no seguimento de uma denúncia feita pelo mesmo partido no ano passado, mobilizou muito rapidamente os jornalistas, sem aquela “gazeta” de alguns colegas que tivessem conhecimento do sucedido.
É que, se diga em abono da verdade, naquela sede colhem-se muitas vezes boas verdades!
No ano passado, com efeito, insistentemente a Renamo havia falado desse fenómeno e o Governo, também insistentemente, a negar, mas aquele a negar de que tinha sido a Renamo a saber primeiro e a denunciar.
Passaram exactamente seis meses, veio depois o Executivo, disfarçadamente a dar razão à Renamo.
Era verdade, havia mortes estranhas, desaparecimento de pessoas para fins obscuros, havia crimes macabros sobre os quais até hoje ninguém sabe dizer nada em relação às suas motivações.
O provérbio macua, segundo o qual “muathó kaniípa inahco mili” (o leão não ruge em duas montanhas), simplesmente porque da segunda já está próximo de si, pelo que convém acautelar-se, parece ter pegado desta feita.
Momade Hamade, que no dia 29 de Janeiro foi presente a jornalistas, por muitas vezes foi infeliz na tentativa de sustentar o seu rapto, na vila de Mocímboa da Praia, numa noite de luar, por homens desconhecidos que o levaram a uma viatura, que normalmente circula por lá, que depois o levou a um acampamento situado entre aquele distrito e Palma, perto da costa.
Hamade viu no acampamento cerca de 20 pessoas, entre as quais meninas e jovens, havia dois brancos, guardas que se comunicavam com gestos, dois o faziam na língua de Camões, mas com um sotaque shangana, de quem ouviu que naquela noite se estava à espera de um helicóptero, pois a missão havia sido cumprida.
Os brancos que estariam a dirigir o acampamento tinham um telefone portátil, grande, com uma antena e perguntaram a Hamade se tinha em mente um número de um familiar com quem quisesse falar pela última vez.
Ele respondeu positivamente.
Ligaram para o tio do homem raptado, Hamade conversou com o tio e terá depois sentido que de facto estava na boca de quem não o haveria de devolver nunca.
Mentiu que queria satisfazer alguma necessidade biológica, foi autorizado, sem ser vigiado pelos guardas que ali haviam e consegue escapulir-se indo percorrer, de novo a mata até que, dia seguinte, se fez, de novo à vila de Mocímboa da Praia onde se apresenta ao comandante da Polícia a quem conta a história da sua efémera, mas horrível odisseia. O chefe dos polícias é que terá sido negligente, pois só disse ao homem que da próxima que visse a viatura que dizia ter-lhe raptado ligasse para o seu telemóvel. Passou-lhe o número.
Jovem, estatura mediana, com traços psicológicos que sugerem tratar-se de quem andou o suficiente na região norte, Momade Hamade deveria, a seguir, responder às perguntas dos jornalistas, a tremerem de sangue quente profissional por terem conhecido uma “bomba”, a partir de um homem concreto que acabava de escapar de um rapto certo.
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Primeira pergunta: se conseguiu, numa situação de aflição, lembrar-se do número do telefone do tio, com que falou para se despedir, usando um aparelho grande, com antena, pertencente aos brancos, pode-nos dizer o nome dele e repetir o número, por favor, já em liberdade, entre pessoas que conhece.
Resposta: o número... mas não me lembro bem, mas é 58911 e ele chama-se Ussene Assamo.
Cá entre nós e interiormente: esse número não existe, nem na telefonia fixa, nem em qualquer outro país, muito menos um telemóvel de que se diz estar em Mocímboa da Praia.
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Segunda pergunta: donde és e onde vives na Mocímboa da Praia?
Resposta: Estou na Mocímboa da Praia há dois anos, antes vivera em Nacala e sou daqui de Pemba, aqui, perto do mercado, neste Bairro de Namutequelíua.
Cá entre nós e interiormente: esta cara é por demais desconhecida, e uma pessoa que diz ser natural de Pemba, acha que o bairro que fica perto do mercado de Mbanguia se chama Namutequelíua... então estamos em Nampula!
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Terceira pergunta: O comandante distrital, segundo diz, passou-lhe um número para usar quando visse de novo a viatura que lhe raptou.
Qual é o número do comandante em Mocímboa da Praia?
Resposta: O número deixei no papel por ele passado, que está na calça que tinha usado nesse dia.
Nós outros acabamos por aí.
Há vezes que a preguiça (será?) nos aconselha a terminar por algum ponto, sobretudo depois que descobrimos que as questões-chave não estão a ser satisfeitas.
Arruma-se e vai-se à procura de outros assuntos. Até que haja novos desenvolvimentos.
Novos desenvolvimentos são: que o próprio tio já está, conforme fontes oficiais, a confessar a manipulação. Com que fins, não se sabe, mas sabe-se, isso sim, que a notícia deixou alguns investidores, sobretudo ligados à prospecção de petróleo na região, atrapalhados e outros tiveram que, às correrias, regressar onde achavam que estariam seguros.
Que o suposto rapto desestabilizou, não haja dúvidas.
Esperamos por novos desenvolvimentos.
Pedro Nacuo
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