11/14/08

Diversificando - A crise e a irresponsabilidade dos gestores financeiros internacionais...

Primeiro contato (antes da tal crise) - Aplique aqui... ou ali... banco sólido... de primeiro mundo... classificação AAAA ou ++++... não tem risco... pode ficar descansado... suas economias de uma vida de trabalho estão seguras connosco... garantia absoluta... Durma sossegado que vai morrer tranquilo, pode crer!

Segundo contato (no burburinho da tal crise) - E agora meu? Cadê o meu?...

Resposta quase encabulda - Pois é... nós só indicamos as opções... o risco é do investidor... o banco e seus altos e capacitados gerentes financeiros, com alto grau de formação MBA e XYZ, almoçando caviar e ostras, transportados em belas Ferrari's e Lamborghini's não se responsabilizam por nada... os classificadores de risco internacional é que avaliaram mal e nos induziram a vender gato por lebre... Agora aguenta. Vai dar uma curva e aparece por aqui quando a coisa melhorar para tomarmos um cafézinho...

-Aviso: A "cena" acima é ficção e não tem a ver com pessoas ou factos reais. Qualquer semelhança é pura coincidência.

Pois é... Quem mandou ser otário? Ou ambicioso de mais e confiou suas economias a essas verdadeiras "quadrilhas" especializadas em "gerir" fundos, que também cobram altíssimas comissões de intermediação sem correrem risco algum, vivem à "grande e á francesa" embrenhados nas nuances "alavancadas" desse verdadeiro "casino" em que se transformou a economia mundial... E na hora H fogem com "o rabo à seringa" e "lavam as mãos" sem serem incriminados sequer. Nem enjaulados em prisões fétidas por sua leviandade e irresponsabilidade na gestão de recursos de poupadores que neles confiaram e pelas consequências perniciosas que já vão atingindo a população deste mundo globalizado.

Caiu no "conto do vigário"... É essa a realidade. A Islândia entre outro países de maior porte, como Estados Unidos (onde nasceu a crise), etç. é um exemplo claro do "engodo", alavancado desonesta e impunemente pelos tais gestores e classificadores de risco confiáveis(?) que vendem pirita (ouro dos tolos) como sendo algo valioso, produtivo e rentável... É um paízinho gelado lá nos confins da Europa, vivendo à larga e à custa de recursos de poupadores internacionais, canalizados por interesse de instituições ditas confiáveis que inundaram seus poucos bancos geridos politicamente e agora falidos. E, seu governo, irresponsável e incompetente agora dá o calote puro e simples ao mundo internacional de investidores. Classificado e vendido como AAA, descobre-se que nem o último ZZZ do alfabeto merece. Como dificilmente algum dia alguém voltará a colocar por lá suas "poupanças".

Entretanto e pelo que vejo na net, países do G20 reúnem-se sábado em Washington em Cimeira tentando dar os primeiros passos para ultrapassar a crise financeira sem precedentes. Eis o que leio:

"""Os países do G20 realizam, no sábado, em Washington, a primeira de várias cimeiras para discutir a reforma do sistema financeiro, com os Estados Unidos, onde a crise começou, a acolherem uma iniciativa europeia para ultrapassar esta situação sem precedentes.

A cimeira realiza-se precisamente dois meses após a falência do banco de investimento Lemanh Brothers, a 15 de Setembro, que "confirmou" os sinais de crise que já vinham do outro lado do Atlântico desde o início do ano, lançando definitivamente o pânico nos mercados financeiros.

Rapidamente se percebeu que se estava perante uma crise sem precedentes, que partiu do "coração do sistema", os Estados Unidos, mas iria ter repercussões no resto do globo, o que as semanas seguintes se encarregaram de demonstrar.

A resposta norte-americana tardou - apenas a 3 de Outubro a Câmara dos Representantes do Congresso aprovou uma versão reformulada do chamado 'Plano Paulson', o plano de 700 mil milhões de dólares para sanear o sistema financeiro norte-americano através da compra de activos tóxicos - e a Europa criticou a reacção dos Estados Unidos a uma crise global por si criada.

O presidente em exercício da União Europeia, o chefe de Estado francês Nicolas Sarkozy, iniciou então no seu estilo dinâmico uma série de iniciativas tendo em vista uma resposta europeia, começando por acolher a 04 de Outubro em Paris uma reunião dos países europeus do G8 (França, Reino Unido, Alemanha e Itália), onde reivindicou desde logo uma reforma, "o mais depressa possível", das regras do capitalismo financeiro. Uma semana depois, Paris acolheu nova cimeira "inventada" por Sarkozy, desta vez uma reunião ao nível de chefes de Estado e de Governo da Zona Euro, tendo então o presidente francês anunciado que a UE ia pedir aos Estados Unidos a organização de uma cimeira destinada a "refundar o sistema financeiro internacional". "Na Europa, não vamos deixar tudo isto continuar da mesma maneira. Haverá responsáveis que deverão assumir as suas responsabilidades", afirmou então Sarkozy.

A 16 de Outubro nova cimeira, mais uma, desta vez em Bruxelas e a 27, e dois dias depois Sarkozy e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, encontraram-se nos Estados Unidos, em Camp David, com o (ainda) presidente norte-americano George W. Bush, tendo sido então alcançado um acordo sobre a realização de cimeiras internacionais para debater o sistema financeiro. Convicta de que deve ter um papel de liderança na reforma do sistema financeiro internacional, até porque lançou a iniciativa da cimeira de Washington, a UE preparou a sua posição comum, ou o mais comum possível, em nova cimeira extraordinária a 07 de Novembro, em Bruxelas, num encontro de chefes de Estado e de Governo dos 27.

Em Washington, os europeus irão pressionar os países do G20, e principalmente os Estados Unidos, a aprovar até ao início de 2009 medidas concretas para reforma do sistema financeiro internacional."""

E, a nós, comuns mortais, resta-nos só esperar para ver no que tudo isto vai dar e "rezar" para que o calote não seja maior ainda e trágico em suas consequências. E incentivar para que se punam exemplarmente os responsáveis.

11/13/08

Retalhos da História de Cabo Delgado - A ILHA DO IBO.

Dedico este post a meu muito prezado e querido Amigo António Baptista Carrilho.

Situada próximo da ilha Quirimba e com fácil ligação com ela, a ilha do Ibo tem cerca de 10 km de comprimento e cerca de 7 km de largura, sendo muito plana e arborizada.

Na sua parte norte localiza-se a vila do Ibo, o mais importante agregado populacional do arquipélago das Quirimbas.

Gaspar Ferreira Reymão que em princípios do século XVII invernou na ilha do Ibo na sua viagem para a Indía, refere que a ilha tem "uma fortaleza, cercada bastante para se defender dos cafres, que às vezes passam de guerra de baixa mar a pé as ilhas, com muito bom aposento de casas de pedra e cal, capazes para se aposentar nelas a pessoa de um Vice-rei, como esteve Rui Lourenço de Távora com toda a sua casa".(43)

Mais tarde, no ano de 1644, o "regimento e roteiro para virem de Portugal embarcações em direitura à ilha de Ceilão", recomenda que as embarcações "virão a Moçambique refrescar-se, ou ao Ibo, que é melhor, e tem mais água naquele porto, de onde partirão para a Índia nos primeiros dias de Agosto".(44)

Porém, em meados do séc. XVII, apesar de ter "bom aposento de casas de pedra e cal" e de ter "mais água" no seu porto, a ilha do Ibo entrou em acentuada decadência, como de resto aconteceu com as restantes ilhas do arquipélago, num processo em que se conjugaram muitos factores, que correspondem a um duplo abandono: o abandono dos residentes que inseguros e indefesos fugiam das frequentes incursões dos árabes de Zanzibar e Mombaça, mas também o abandono dos portugueses que deixaram de frequentar a região quando alteraram as suas rotas da carreira da Índia para evitarem a hostilidade holandesa no mar.

Adicionalmente, a partir da mesma época, o interesse português estava centrado no Brasil e todas as possessões portuguesas do Índico estiveram sujeitas a um certo tipo de isolamento ou mesmo de abandono.

No entanto, em meados do sé. XVIII, quando o comércio de escravos se tornou uma prática corrente na costa oriental africana, a ilha do Ibo prosperou rapidamente como um dos mais importantes elos dessa lucrativa cadeia dominada pelos mercadores árabes. A hidrografia da região proporcionava boas condições de acesso ao litoral e as ilhas vizinhas garantiam abrigos e fundeadouros seguros e discretos aos traficantes.

A povoação do Ibo cresceu com esse comércio intenso e surgiram novas actividades e novos edifícios, enquanto a sociedade local, que até então era predominantemente macua, foi acrescentada com elementos árabes e indianos, mas também com muitos mestiços e, em menor grau, com portugueses.

Quando em 1752 a reforma pombalina decretou uma nova organização para os territórios ultramarinos portugueses, Moçambique autonomizou-se e foi separado do governo de Goa, passando a ser governado por Francisco de Mello e Castro que, de acordo com as instruções recebidas de Lisboa, determinou que a fortaleza existente no Ibo fosse substituída por uma outra, numa tentativa de levar as posições territoriais portuguesas mais para o Norte.

A nova fortificação foi construída em 1754 e foi baptizada como Forte de S. João Baptista mas, em 1791, foi reconstruida e reforçada na ponta NW da ilha, tendo a forma de uma estrela com muralhas de 16 pés e sem fosso. A protecção da ilha foi ainda assegurada por dois fortins: o fortim de S. José, localizado a SW da ilha e que era artilhado com 9 peças e o fortim de S. António, situado a SE da ilha e que era artilhado com 6 peças.(45)

Com esta proteção fortificada, a ilha do Ibo ficou mais ligada aos interesses portugueses, garantiu alguma autonimia em relação à influência mercantil e cultural árabe, conseguiu resistir às tentativas francesas e holandesas para dela se apossarem e, também, aos assaltos dos sakalavares de Madagáscar que tinham começado a fazer incursões e assaltos naquela área.

No entanto, a autoridade portuguesa do Ibo parece não ter sido suficientemente interessada e eficaz na repressão da escravatura, que terá sido muito importante naquela área até quase ao final do século XIX.

*43 - Gaspar Ferreira Reymão, Op. cit., p. 32.
*44 - Alberto Iria, Op. cit., p. 102.
*45 - Leotte do Rego, Op. cit., p. 89.

O autor:
Adelino Rodrigues da Costa entrou para a Escola Naval em 1962 como cadete do "Curso Oliveira e Carmo", passou à reserva da Armada em 1983 no posto de capitão-tenente e posteriormente à situação de reforma. Entre outras missões navais que desempenhou destaca-se uma comissão de embarque realizada no norte de Moçambique entre 1966 e 1968, onde foi imediato da LGD Cimitarra e comandante das LFP Antares e LFG Dragão.Especializou-se em Artilharia, comandou a LFG Sagitário na Guiné, foi imediato da corveta Honório Barreto, técnico do Instituto Hidrográfico, instrutor de Navegação da Escola Naval, professor de Navegação da Escola Náutica e professor de Economia e Finanças do Instituto Superior naval de Guerra. Nos anos mais recentes foi docente universitário, delegado da Fundação Oriente na Índia e seu representante em Timor Leste. É licenciado em Sociologia (ISCSP), em Economia (ISEG), mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação (ISCTE) e membro da Academia de Marinha.

O livro:
Título - As Ilhas Quirimbas - Uma síntese histórico-naval sobre o arquipélago do norte de Moçambique;Edição - Comissão Cultural da Marinha;Transcrição da publicação "As ilhas Quirimbas de Adelino Rodrigues da Costa, edição da Comissão Cultural da Marinha Portuguesa, 2003 - Capítulo 11, que me foi gentilmente ofertado pelo Querido Amigo A. B. Carrilho em Pinhal Novo, 26/06/2006.

- Do mesmo autor neste blogue:


  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 1 - Aqui!


  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 2 - Aqui!


  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 3 - Aqui!


  • Retalhos da História de CABO DELGADO - O nascimento de Mocimboa da Praia - Aqui!


  • Retalhos da História de CABO DELGADO - Zanzibar e a escravatura nas Quirimbas - Parte 1 - Aqui!


  • Retalhos da História de CABO DELGADO - Zanzibar e a escravatura nas Quirimbas - Parte 2 - Aqui!


  • Retalhos da História de CABO DELGADO - Zanzibar e a escravatura nas Quirimbas - Parte 3 - Aqui!

- Outros post's deste blogue que falam do Ibo e região, com textos e documentos do também historiador e profundo conhecedor do Arquipélago das Quirimbas e de Moçambique, Dr. Carlos Lopes Bento - Aqui e aqui!
- Em breve neste blogue:

  • As Quirimbas em finais do século XIX e a decadência do Ibo.