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10/31/08

Retalhos da História de CABO DELGADO - Zanzibar e a escravatura nas Quirimbas - Parte 2

(Continuação daqui.)

Oficialmente, Portugal já proibira em 1761 a importação de escravos no reino e nas Ilhas e, na época em que o tráfico se acentuou na costa oriental africana, o poder português no oceano ìndico declinava, pelo que não havia condições nem meios para controlar essa atividade, já proíbida pela legislação portuguesa de 1836.

No segundo quartel do século XIX, depois de ultrapassada a prolongada crise por que passara o país com as invasões francesas e a guerra civil, o governo português passou a enviar navios militares para Moçambique com a missão específica de reprimir o tráfico da escravatura e, frequentemente, as autoridades moçambicanas armaram navios apresados que utilizaram no combate ao tráfico.

O combate ao tráfico da escravatura intensificou-se então, com particular incidência nas zonas de Angoche e ilha de Moçambique, mas também na área do arquipélago das Quirimbas, como se verifica por alguns registos mais acessíveis.

A corveta Relâmpago, por exemplo, que antes era a barca brasileira Maria da Glória que fora apresada em 1840 por ser negreira, apreendeu no ano seguinte em Lourenço Marques o brigue D. Manuel de Portugal e o patcho Paquete da Madeira, por serem negreiros.(54)

Também o brigue Caçador Africano, que provávelmente era um negreiro apresado nesse ano de 1841, permaneceu na costa moçambicana entre 1841 e 1844 com a missão de perseguir o tráfico de escravos.(55)

O brigue D. João de Castro(56) chegou a Moçambique em Setembro de 1841 e permaneceu regularmente na costa moçambicana até 1855, empenhado na repressão do tráfico da escravatura e em outras missões, tendo apresado em 1842 na área de Quelimane a barca brasileira Inês, por ser negreira.

Em 26 de Julho de 1845 fundeou "entre as ilhas Quirimbas e terra firme", perto de um brigue suspeito de se empregar no tráfico de escravos. "Um oficial enviado a bordo verificou que o navio, além de estar abandonado, dispunha o necessário para o transporte de escravos, a saber: caldeira, grande número de par de machos, mais de 200 pipas de água e muito mantimento".(57)

O comandante mandou que um oficial de 14 praças dele tomasse posse. Não existiam a bordo nem papéis, nem bandeiras e, no porão, foi encontrado um letreiro dourado com o nome de Montevideo, pelo que se presumiu que o navio era brasileiro. Na madrugada seguinte, o comandante mandou dois escaleres apreender as embarcações do negreiro que se achavam em terra. Os negreiros defenderam-se a tiro, pelo que o oficial regressou a bordo sem trazer a lancha do brigue, porque se achava muito arruinada.

Em Março de 1847 o brigue D. João de Castro apresou o brigue americano Commerce of Providence por andar no tráfico negreiro entre Quelimane e Moçambique e, em Novembro, apresou em Angoche o brigue americano Magoum.

Em Setembro de 1843 o brigue Conde de Vila Flor saíu de Lisboa para Moçambique sob o comando do 1º tenente Pedro Loureiro Pinho, a fim de ser integrado na Estação Naval e ser utilizado na repressão do tráfico, nos termos do tratado de 3 de Julho de 1842 para a completa abolição da escravatura.(58)

Em Agosto de 1845 saiu para o Ibo e depois para a baia de Pemba, onde capturou três pangaios por suspeita de serem negreiros, além de diverso armamento.

No dia 9 de Agosto, um dos pangaios capturados que fora baptizado com o nome de Pemba, largou com 24 homens sob o comando do 2º tenente Jerónimo Romero, "a correr os portos do Norte em que se suspeitava haver barcos no tráfico de escravos".

O Pemba regressou à baía de Pemba no dia 1 de Outubro, entregando "157 dentes de marfim com o peso de 85 arrobas e 25 arráteis".(59)

No dia 24 de Novembro, na baía de Pemba, largaram duas lanchas do navio, comandadas pelo 2º Romero e pelo guarda-marinha António Maria Guedes.

Quinze minutos depois de desembarcarem e começou imediatamente um tiroteio, de que resultou a morte de um grumete. No dia seguinte, o brigue Conde de Vila Flor e o brigue inglês Mutine que chegara à baía, fundearam junto à praia onde se fizera o desembarque do dia anterior.

Alguns dias depois, no dia 9 de Dezembro, com o brigue Conde de Vila Flor fundeado no Ibo, saíram 3 lanchas com uma força militar para a ilha Matemo, regressando algumas horas depois com 51 escravos. No dia 11 de Dezembro, o 2º tenente Romero desembarcou "para tomar o governo das ilhas de Cabo Delgado, por ordem do governador-geral".

No dia 19 de Janeiro de 1846 o 2º tenente Romero saiu do Ibo com 30 homens em duas lanchas para "averiguar se existiam escravos na ponta Pangane e ilha de Macaloe", conforme informações que recebera. (60)

Em 28 de Novembro de 1846 o bergantim Tejo cruzava a costa e "tomou um pangaio suspeito de traficar em escravos, fundeado no Ibo no mesmo dia"(61), enquanto a escuna Infante D. Henrique apresou um negreiro sardo nas proximidades de Angoche.

Outro navios, como por exemplo as escunas 4 de Abril e Voador, assim como a corveta Infanta Regente, estiveram envolvidas na repressão do tráfico da escravatura em Moçambique por volta de 1850.
--> Continua...

*54 - António Marques Esparteiro, Trés Séculos no Mar, Vol. XV, p. 82.
*55 - António Marques Esparteiro, Op. cit., Vol. XIX, p. 94.
*56 - O brigue D, João de Castro foi construído em Damão em 1841 e, inicialmente, chamava-se Gentil Libertador. Em Agosto de 1841 partiu para Moçambique comandado pelo 2º tenente Jerónimo Romero.
*57 - António Marques Esparteiro, Op. cit., Vol XIX, p. 96.
*58 - António Marques Esparteiro, Op. cit., Vol XIX, p. 25.
*59 - António Marques Esparteiro, Op. cit., Vol XIX, p. 28.
*60 - António Marques Esparteiro, Op. cit., Vol XIX, p. 29.
*61 - António Marques Esparteiro, Op. cit., Vol XVIII, p. 143.

O autor:
Adelino Rodrigues da Costa entrou para a Escola Naval em 1962 como cadete do "Curso Oliveira e Carmo", passou à reserva da Armada em 1983 no posto de capitão-tenente e posteriormente à situação de reforma. Entre outras missões navais que desempenhou destaca-se uma comissão de embarque realizada no norte de Moçambique entre 1966 e 1968, onde foi imediato da LGD Cimitarra e comandante das LFP Antares e LFG Dragão.Especializou-se em Artilharia, comandou a LFG Sagitário na Guiné, foi imediato da corveta Honório Barreto, técnico do Instituto Hidrográfico, instrutor de Navegação da Escola Naval, professor de Navegação da Escola Náutica e professor de Economia e Finanças do Instituto Superior naval de Guerra. Nos anos mais recentes foi docente universitário, delegado da Fundação Oriente na Índia e seu representante em Timor Leste. É licenciado em Sociologia (ISCSP), em Economia (ISEG), mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação (ISCTE) e membro da Academia de Marinha.

O livro:
Título - As Ilhas Quirimbas - Uma síntese histórico-naval sobre o arquipélago do norte de Moçambique;Edição - Comissão Cultural da Marinha;Transcrição da publicação "As ilhas Quirimbas de Adelino Rodrigues da Costa, edição da Comissão Cultural da Marinha Portuguesa, 2003 - Capítulo 11, que me foi gentilmente ofertado pelo Querido Amigo A. B. Carrilho em Pinhal Novo, 26/06/2006.

- Do mesmo autor neste blogue:

  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 1 - Aqui!
  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 2 - Aqui!
  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 3 - Aqui!
  • Retalhos da História de CABO DELGADO - O nascimento de Mocimboa da Praia - Aqui!
  • Retalhos da História de CABO DELGADO - Zanzibar e a escravatura nas Quirimbas - Parte 1 - Aqui!

- Em breve neste blogue:

  • A Ilha do Ibo;
  • As Quirimbas em finais do século XIX e a decadência do Ibo.

8/22/07

A bela e o monstro - Turismo agrava custo de vida da população de Pemba.

Maputo-Segunda-feira 20 de Agosto de 2007, a TribunaFAX N°531-O custo de vida, na Baía de Pemba, capital de Cabo Delgado, está cada vez mais elevado, tornando-a numa das cidades mais cara do País, senão a mais cara, com os munícipes a apontar o dedo acusador ao sector turístico, que, neste momento, está a dominar o mercado local.
Os preços praticados na maioria dos estabelecimentos comerciais, casas de lazer, mesmo no mercado informal, chegam a se tornar o dobro e/ou triplo do praticado noutras capitais províncias, incluindo a Capital, com a alta de preços a abranger todo tipo de produtos, locais e importados.
A Baia de Pemba é rica em mariscos, com peixe de varias espécies, camarão, lula, até lagostas. Contudo, estes recursos, apenas, são consumidos por pessoas de maior poder financeiro, como são os casos de dirigentes e turistas, com os nativos a viverem de sobras.
“Você pode ir à praia para comprar peixe directamente aos pescadores, mas os preços são altos. Eles sabem que se você não comprar, há quem pode, os turistas, que, a qualquer preço, adquirem. Por isso, contribuem, grandemente, para o aumento do custo de vida”, desabafou
P. José, funcionário do Aparelho de Estado.
“Os preços dos produtos, sobretudo, no mercado informal, são variáveis. Nos estabelecimentos comerciais são razoáveis, visto existirem fiscalizações regulares”, disse, frisando que “quando o cliente se apresenta de carro ou de mota, o preço sobe, mas quando vai a pé, o mesmo desce. As pessoas aliam o facto de Pemba ser uma cidade turística para alimentar oportunismo e especulações nos preços dos produtos”.
Como alternativa, grande parte dos munícipes vêem-se obrigados a fazer compras na chamada Capital do Norte, Cidade de Nampula, que dista a mais de 410 quilómetros de estrada, num percurso de, sensivelmente, seis horas de tempo.
“Mesmo em Nampula, a vida é
cara, mas é relativamente melhor, em relação a Pemba”, disse, ajuntando que os operadores comerciais deveriam ter em mente, que para além de turistas, existem populações desfavorecidas, que dormem sem que tenham comido, “grande parte dos munícipes têm baixa renda. Eles não deviam avaliar o preço em função do cliente, como tem acontecido”.
T. Jemuce disse estar a pouco menos de três meses a trabalhar numa instituição pública, transferido de Maputo, sendo natural da província de Sofala. A primeira constatação que teve foi a alta de preços praticados no mercado local. A sustentar a afirmação, frisou que um electrodoméstico chega a custar o triplo do preço que custa em Maputo.
“Uma geleira que custa pouco mais de 6 mil meticais em Maputo, em Pemba está a 17 mil meticais. Preferi mandar vir a minha geleira e outros electro-domésticos de Maputo para cá,
pagando apenas cerca de 6 mil meticais que pagar 17 mil”, conta.
Frisou que, apesar de estar há pouco tempo, na Baía de Pemba, prefere fazer suas compras na Cidade de Nampula.
“É longe, mas é preferível”.
NN

10/24/07

O TURBILHÃO LENDÁRIO - Uma prosa acontecida em Pemba !

(Aqui, imagem de autoria do artista gráfico italiano Piero "Ingonane" que residiu em Pemba de 1989 a 1999)
Nada de melhor nos terá acontecido, naquele ano, do que as nossas férias na baia de Pemba, no norte do país.
Eu e o mano Beto haviamos passado de classe e o kôta prometera, logo nos primeiros dias do ano, umas férias na casa do avô Omar, em Paquitequete .
Assim que ficamos de férias na escola partimos de Maputo para Pemba, de autocarro, na companhia da tia Awa que viera nos buscar à capital.
A viagem fora cansativa mas, ao mesmo tempo, divertida, desde o terminal do TSL, na Avenida das FPLM , até ao controle de Pemba, no bairro de Mahate.
Dali partimos de táxi com destino a casa do avô Omar, no bairro de Paquite, como os pembenses lhe chamam, onde ficariamos quinze dias a gozarmos as férias por entre o marulhar das ondas do Índico.
Enquanto nos dirigíamos para a cidade, que distava uns quilómetros, o taxista ia-nos amostrando a paisagem dominada, principalmente, por embondeiros e algumas árvores menos frondosas e arbustos vulgares.
Do Alto-Gingone, um bairro periférico do aeroporto local, vimos a “esteira” azul do mar deitada manjestosamente ao longo da baia, parecendo um enorme anzol feito de água.
Mas, para o lado direito da estrada que nos conduzia, emergia uma nova cidade próxima da faixa de areia branca que ladeia quase toda a cidade: era a famosa praia do Wimbe, um enorme potencial turístico da região norte do país.
No entanto, pouco tempo depois desembocámos na cidade e passámos pela artéria principal do bairro de cimento.
Enquanto o carro deslizava na estrada asfaltada, vimos de longe os bairros de Cariacó, Natite e Ingonane e, mais tarde, rumamos pela marginal até ao bairro costeiro de Paquitequete, na zona de Kumilamba, onde o táxi parou em frente da casa de um dos vizinhos do avô; descemos, caminhando depois por uma rua estreita que nos levou direitos ao destino.
Ao chegarmos, fomos recebidos com alegria e, dos familiares e vizinhos, recebemos apertos efusivos de mão, à moda dos makimuanes.
Sentado na esteira de palha, na companhia do mano Beto e de outros garotos curiosos que se aproximaram ao chegarmos, pus-me a contemplar a casa que era feita de pau-a-pique, rebocada com matope e coberta de macuti .
O quintal era de bambú suportado por diversas estacas sólidas provenientes de Ulonto, lá na outra margem da cidade.
Depois de todo o cerimonial que um visitante merece, não aguentei mais: ergui-me da esteira e fui para a frente da casa, onde fiquei olhando para o mar azul e ouvindo o som das ondas misturado com o som dos búzios.
Durante muito tempo fiquei ali imóvel e boquiaberto, vendo ao longe pequenas embarcações à vela, pescadores puxando redes carregadas de peixe, barcos a motor transportando passageiros para o Ibo, Mocimboa da Praia, Quirimbas e outros pontos da Província.
Depois de um tempo, deitei o olhar para a margem onde me encontrava e fiquei apreciando a beleza das ondas e assistindo ao espectáculo dos carangueijos que, espantados pelo marulhar das ondas, fugiam em debandada ao encontro dos seus esconderijos que raramente falhavam.
Entretanto, a minha tranquilidade naquele sítio não tardou a chegar ao fim.
Um garoto aproximou-se interrompendo a minha concentração na observação da natureza e, com uma ponta de timidez, informou-me:
- Precisam de ti.
- De mim? – Interroguei-o sem desviar o olhar do mar.
- Sim.
- Aonde?
- Lá no quintal.
- E quem precisa de mim? – Quis eu saber, olhando os seus olhos.
- Avô Omar. – Replicou ele, desviando o olhar.
- Voltou?
- Sim. – Sorriu. – Faz um tempo.
Saí dali e fui até ao quintal. “escoltado” pelo miúdo, que não parava de me lançar olhares furtivos, e, ao chegar, saudei o avô e fiquei conversando com ele desde o rpincípio da tarde até ao anoitecer.
Passados alguns dias e após termos pedido autorização ao avô, eu e mano Beto, e outros garotos do bairro, fomos à praia brincar.
Era sábado; a praia estava repleta de banhista e os pescadores ainda não tinham voltado do mar.
Ficámos na margem apanhando búzios, construíndo castelos de areia, perseguindo caranguejos, brincando com garrafas-azuis e ajudando os pescadores a puxar as redes e a tirar da água os pequenos barcos à vela.
Foi neste dia que ouvi dos nossos novos amigos a lenda do turbilhão Nunumuana, que fica a algumas milhas da Baía de Pemba.
Fiquei curioso e ao mesmo tempo cheio de medo.
Naquele dia não saí de noite para ver o mar sob o luar e muito menos para contar quantos segundos passam entre o acender alternado dos faróis das rochas de Ingonane e Ulonto.
Um certo dia, estando eu na companhia do avô Omar a pescar na zona portuária da baía, interroguei-o acerca da veracidade da misteriosa lenda que corria de boca em boca entre os garotos pembenses.
Ele garantiu-me a veracidade da história e prometeu contar-me tudo, noutro dia, porque a história era longa e complicada.
Os dias foram passando, um atrás do outro, e todas as noites ouvíamos histórias diversas contadas pelo avô, mas, curiosamente, o kôta não se lembrava de contar a história do turbilhão.
Nisto, numa certa noite de luar, décimo terceiro dia da nossa estada em Pemba, a curiosidade obrigou-me a pressioná-lo a contar a história prometida, pelo que o velho me respondeu:
- Tudo bem. Eu vou contar, já que insistes tanto.
Acendeu um tabaco, fumou em silêncio com o olhar perdido num ponto indefinido, como se estivesse a pensar em algo guardado nas profundezas da sua memória, sorriu perceptívelmente fazendo animar a sua face sulcada de profundas rugas e, por fim, começou a narrar a história.
- Reza a lenda que foi há muitos anos, muitos anos mesmo – Repetiu com firmeza, a ponto de acordar o mano Beto que já apanhara uma soneca. – que um barco transportando uma terrível curandeira e seus ajudantes naufragou, numa zona a algumas milhas da nossa costa, e o naufrágio matou todos os ocupantes.
- Ninguém se salvou? – Quis eu saber, curioso.
- Ninguém! – Disse, meneando a cabeça e pegando, ao lado do tronco onde estava sentado, numa “ exportação ” de nipa , que de seguida levou aos lábios, e bebeu um golo pelo gargalo.
Depois de pousar a garrafa no chão, avivou a fogueira que ardia no centro da roda humana, feita de miúdos do bairro ávidos de ouvir histórias antigas transmitidas oralmente de geração em geração, e em seguida continuou:
- Daí, os náufragos transformaram-se em fantasmas ferozes, a ponto de consiguirem, com a ajuda de um turbilhão acompanhado de ventos tempestuosos, imobilizar um navio enorme. A partir daquele dia, todos os peixes da baía passaram a ser deles e, quem pescasse à noite, era frequente deparar-se com fantasmas recolhendo redes e libertando peixes das redes e dos anzóis. Foi nessa época que o peixe, o alimento principal dos nativos, começou a escassear e os pescadores passaram a morrer em massa, vítimas de misteriosos ventos fortes.
Estremeci, escutei o som do mar e olhei em redor do quintal iluminado pela lua que derramava a sua luz sobre todos os bairros da cidade.
Depois, apurei os ouvidos e fiquei ouvindo a história que o avô contava, gesticulando e falando num tom de voz carregado de uma miscelânia de emoção e terror.
- Então, os nativos da baía reuniram-se para resolver o problema e, para tal, chamaram o curandeiro Amisse que, com a ajuda dos ancestrais, conseguiu falar com a curandeira náufraga. Durante o diálogo ela proibiu a pesca nocturna, o uso da rede de malha fina, e o derramamento de líquidos estranhos nas águas e, além disto, ordenou que todos os barcos que passassem pela zona do turbilhão atirassem para o mar alimentos diversos, de preferência carne fresca, como forma de pagar tributo pelos peixes apanhados na baía. Estes alimentos serviam para alimentar os peixes nas profundezas do mar, para melhor se reproduzirem e crescerem saudáveis.
O kôta tossiu três vezes interrompendo a locução; bebeu um trago da sua “primeirinha”, e prosseguiu:
- Quem não obedecesse ao que Nunumuana dissera, uma gigantesca massa de água que se revolve rapidamente cobri-lo-ia imediatamente e, se se tratasse de um barco naufragaria, e os seus ocupantes transformar-se-iam em fantasmas imortais e, depois, ocupar-se-iam de vigiar o mar e impôr a ordem quando se julgasse conveniente.
O velho fez uma pausa.
Puxou do tabaco enrolado num pedaço de papel de caqui, e aspirou voluptosamente o fumo que invadiu temporariamente o espaço da roda feito pelos miúdos que o escutavam com paciência e manifesto interesse.
Depois, enterrou na areia a ponta acesa do cigarro e logo voltou ao fio da história:
- Na verdade, após a cerimónia com o curandeiro, toda a gente passou a respeitar e a cumprir rigorosamente o que Nunumuana dissera e, em consequência disso, os peixes multiplicaram-se na baía, as mortes dos pescadores diminuíram drasticamente, e os nativos e outros habitantes passaram a viver felizes.
O Kôta calou-se e fez-se um silêncio absoluto durante o qual pude ouvi-lo a ressonar como um contrabaixo desafinado.
Olhei para os garotos à minha volta, vi que ainda se achavam atentos como mochos e, por fim, tossi propositadamente.
O velho assustou-se, acendeu novamente o tabaco que havia enterrado na areia e libertou uma grande fumaça que o fez tossir vezes sem conta.
Após um tempo bebeu de uma só vez a sua “ primeirinha ”, entoou em Kimuane uma canção sobre a lenda e, por fim, ergueu-se e começou a dançar enquanto o acompanhavamos em côro, batendo palmas.
Dois dias depois, eu e o mano Beto tomámos o autocarro de volta para Maputo, onde chegámos ao terceiro dia.
Passada uma semana, um impulso não me deixava e, consequentemente, impeliu-me a escrever estas linhas como forma de imortalizar a lenda e dar a conhecer a toda gente como os pembenses passaram a valorizar e a preservar o mar e os seus recursos.
O Turbilhão Lendário por Francisco Absalão - In Blocos OnLine
  • Biografia de Francisco Absalão segundo o "Blocos On Line" - O nome artístico é: Allman Ndyoko. Nasceu em 11 de Abril de 1977 em Pemba, província de Cabo Delgado -Moçambique. Residência actual: Maputo.

12/10/08

Retalhos da História de Cabo Delgado: Breves notas sobre a população do Distrito de Cabo Delgado em 1858.

Por Carlos Lopes Bento (1)

No ano em que Pemba, (antiga Porto Amélia) está a comemorar os seus 50 anos de elevação a cidade, entendi, como forma de lhe prestar homenagem, bem como a todos aqueles que, de algum modo, contribuíram, através dos anos, para o seu engrandecimento, trazer a público alguns dados sobre a população, que há 150 anos povoava o distrito de Cabo Delgado e como se distribuía geograficamente.

Segundo a informação fornecida pelo então Governador interino João da Cunha Carvalho, relativa ao ano de 1858, o distrito estava dividido em sete Capitanias, a saber:
Estas sete capitanias, duas insulares- Ibo e Querimba- e cinco situadas, junto à costa marítima, em terras firmes ou continentais, de que faziam parte 34 núcleos populacionais, eram habitadas por 23 361 pessoas, distribuídas por 9.776 fogos, das quais 11.996 eram do sexo masculino e 11 365 do sexo feminino. Este total de população incluía: “indígenas, livres e libertos, europeus, asiáticos e escravos”. Com excepção da do Ibo, nas restantes Capitania existia como autoridades locais: 1 capitão-mor, 1 sargento-mor e 1 cabo das terras, que era o chefe de polícia.

As capitanias mais povoadas eram a de Quissanga, com 8.749 habitantes e a do Ibo, com 5.448.

Situavam-se próximas uma da outra, sendo a primeira a principal porta entrada e de saída do comércio da Vila do Ibo.

Estas duas povoações tinham mais do dobro da população total do distrito, seguindo-se a de Mocimboa situada mais a norte.

A capitania mais a sul e mais próxima da baía de Pemba era a de Arimba, situada a sul da de Querimba.

Geograficamente, de sul para norte, existiam as capitanias de: Arimba, Querimba, Ibo, Quissanga, Olumbua, Pangane e Mocimboa. Daqui se deduz que, então, o Distrito de Cabo Delgado tinha como limites: a norte, Mocimboa e a sul, Arimba. Para além deles, encontravam-se as “Terras sujeitas ao governo de Régulos”:

- A norte, tínhamos, defronte da ponta denominada Cabo Delgado, a povoação de Tungue, um pouco a norte da baía do mesmo nome, que era habitada por Suaílis e Mujojos, dependentes politicamente do Sultão de Tungue, Amade Sultane.

- A sul, situava-se a baia de Pemba em redor da qual dominavam os régulos Said-Aly, Mugabo, Motica e Mazeze, entre outros, estendendo-se a jurisdição deste até ao rio Lúrio, limite sul do território do distrito de Cabo Delgado.

Quanto à origem étnica e religião da população, as informações fornecidas em 1858, apenas, se referem às ilhas do Ibo e de Querimba: Na primeira estavam incluídos: 11 europeus, 3 filhos de Goa, 23 gentios entre batiás e baneanes e na segunda, 3 europeus.

Anos antes, em 1855, o governador Jerómino Romero, - responsável pela instalação da Colónia Agrícola de Pemba, verificada a partir de 1857, na sua obra “Memória Acerca do Distrito de Cabo Delgado” - fornece-nos alguma informação sobre a população, livre e escrava, do seu Distrito, que incluía cristãos, mouros, baneanes e batiás.

Numa simples análise dos dados fornecidos em 1855 e 1858 verifica-se uma grande diferença nas frequências relativas à totalidade da população do Distrito, que, num diminuto espaço de tempo, passou de 6.607 para 23.361 habitantes. Ela deverá estar relacionada com a aplicação da Portaria nº 315, de 15.10.1855, que estabeleceu o Registo Civil em Moçambique, determinando “a inscrição de todos os habitantes da cada circunscrição administrativa e se note com toda a regularidade o movimento da população de todos os pontos de vista”. No seu artº 1º determinava-se que:

“Todo o chefe de família formulará, segundo um modelo que deverá ir receber da autoridade, uma relação nominal de todas as pessoas, de qualquer condição que sejam, das quais se compuser a sua família, no dia 31 de Dezembro do corrente ano, designando a sua respectiva idade, religião, estado, ocupação, &, como irá mencionado no mesmo modelo, a qual relação entregará à competente autoridade no dia 1º de Janeiro de 1856, ou nos dias imediatos segundo a distância a que estiver a sua morada”.

Aqui deixo estas breves notas para que as gerações mais novas, de Moçambique e de Portugal, conheçam mais alguns dos traços da sua História comum.
(1)- Prof. univ. e antropólogo.

  • Post's deste blogue sobre "Retalhos da História de Cabo Delgado" onde se incluem trabalhos do Prof. Carlos Lopes Bento, entre outros - Aqui!

1/18/10

MEMÓRIAS DE CABO DELGADO - A Ilha do Ibo historicamente maltratada - II


Continuação:

Também é distorcida e contraditória a afirmação de que “em 1834 chegaram à ilha os primeiros portugueses, na sua maior parte, professores e funcionários”(…) e o “ aumento da população Mwani, no Ibo e em todo o litoral deveu-se ao apogeu da expansão comercial estrangeira que remonta a finais do século XVII e princípios do século XVIII, como resultado da proliferação, em larga escala, do tráfego de escravos, para o qual contribuíram as Ilhas do Arquipélago das Quirimbas e, sobretudo, a Ilha do Ibo e de Quisiva, onde foram montados entrepostos comerciais do chamado negócio negro, assim como à presença massiva dos portugueses entre os séculos XVIII e XIX, depois que a Colónia Ultramarina de Moçambique passou a ser administrada através da Companhia Majestática do Niassa”.

E antes de 1834 não chegaram portugueses à Ilha do Ibo? E a presença massiva de portugueses no século XVIII?

Algumas linhas sobre as vicissitudes do povoamento das Ilhas de Querimba poderão ajudar a desmistificar estas fantasiosas informações.

Um dos mais significativos e sérios obstáculos levantados à concretização dos desígnios dos Portugueses nas novas conquistas, nomeadamente, nas Ilhas de Querimba, foi, sem dúvida alguma, o problema relacionado com a colonização e suas vertentes demográfica e económico-social. Tornava-se indispensável colonizar, povoar, realizar uma ocupação produtiva, nas palavras de Josué de Castro, transformar as possibilidades geográficas em realidades geográficas , com a ajuda de grupos humanos vindos de outras terras. Mas este complexo problema exigia recursos humanos, cujas disponibilidades escasseavam tanto a nível de quantidade como de qualidade, necessários para consolidar a conquista política, promover e expandir a fé de Cristo e incrementar a exploração económica. A população portuguesa do Reino apresentava uma expressão diminuta para poder atender, simultaneamente, as exigências de povoamento das imensas terras, sob o domínio português, espalhadas por esse Mundo fora: Brasil, Índia, Angola, Moçambique,... Nesta perspectiva, qualquer projecto para o povoamento das Ilhas, pelas reduzidas dimensões e importância geo-estratégica destas, relativamente à ilha de Moçambique ou aos Rios de Sena, tinha, à partida, menos viabilidade de concretização. Mesmo assim não deixaram de ser elaborados projectos para solução do problema do despovoamento das Ilhas, da responsabilidade das autoridades de Moçambique, que, como os restantes propostos para pontos nevrálgicos de Moçambique, tiveram sempre como resposta o esquecimento ou o constante adiamento.

Durante o século XVI, segundo indicações de Frei João dos Santos, o fluxo migratório tinha origem no Reino, mas com a escassez da sua população face às múltiplas exigências da colonização pluricontinental, essa fonte seria complementada e, com o decorrer do tempo, reforçada com gente provinda do Oriente.

A análise de alguns testemunhos chegados até aos nossos dias - mestiçagem, ruínas de antigos edifícios e documentos escritos - demonstra terem as Ilhas sido povoadas, pelo menos durante o século XVI e parte do XVII, por Portugueses, numa primeira fase, vindos do Reino (os denominados reinóis) e, posteriormente, da Índia.

Em 1609 estavam povoadas 18 ilhas do arquipélago das Quirimbas, número significativo, nunca mais atingido. Por volta de 1630 a população portuguesa casada calculava-se entre 30 a 40 pessoas.

Dessa longínqua e áurea época há referências ou vestígios de edificações portuguesas em diversas ilhas: uma igreja , na Amisa; uma fortaleza e um convento, em Macaloé; uma igreja e uma capela, em Querimba; um convento e cisternas, no coral, em Quisiva. Para além dos símbolos religiosos referidos, os Portugueses construíram as capelas de Santo António, em Mulúri e M'funvo; de São Domingos, em Macaloé; de São Miguel, em Matemo; de Nossa Senhora da Graça, em Bringano; e Santa Ana, em Arimba. Teriam sido abandonadas por serem desnecessárias "aos filhos da terra porque em religião e bons costumes são virtuosos (...) os cafres".

Depois destas indicações, surgia anos mais tarde, a Relação de 1776, em que, pela primeira vez, se encontram sistematizadas as naturalidades dos moradores das Ilhas, mas ainda limitadas aos cristãos. A distribuição dessas naturalidades, por idades, mostram que uma maioria significativa dos moradores era natural das Ilhas, ou seja, 88,99% havia nascido nelas e apenas 11,11% vieram ao mundo em terras diferentes, uma próximas, outras distantes, nomeadamente, ilha de Moçambique, Reino (todos de Lisboa, excepto um, que nascera no Porto) e possessões portuguesas da Índia. A maior percentagem pertencia aos naturais do Reino, provavelmente, militares cujas idades se coadunavam com o desempenho destas funções.

A descrição das terras de Cabo Delgado pertencentes à Coroa, de 26/11/1801, integrada nas Tábuas estatísticas, elaboradas, em 1807, pela Capitania Geral de Moçambique e remetidas a Lisboa, indicava que das 28 ilhas que compunham as terras de Cabo Delgado, não considerando ilhéus, apenas quatro eram habitadas, a de Fumbo, Querimba, onde estava a paróquia, a do Ibo, onde se sediava a residência dos Governadores e a de Matemo, acrescentando:

"...As ilhas que foram habitadas e presentemente se acham desabitadas são a Amisa, que foi antigamente paróquia e residência dos Governadores, Tucomage, Longue, Queriamimbi, Quifuque, Mutundo, Xanga, Munho, Minge, Macaloé, Inhate, Quifula, Mutundulo, Quisiva e Quipaco. As ilhas que foram sempre desabitadas são Insunhe, Jumba, Tembuzi, Querianhunhe, chamada ilha dos Pássaros, Mejumbi, chamada ilha dos Mastros, Quissanga, Queriauni, chamada ilha das Rolas, Samucar e Quilaluia".

Em todas as ilhas habitadas e depois desabitadas, os vestígios de presença humana era, ainda, visível através das "ruínas dos edifícios antigos de casas de pedra e cal que houveram".

Também a Relação das Ilhas, datada de 1817, para além das ilhas então povoadas e despovoadas, indica os vestígios existentes, demonstrativos de terem algumas delas já sido povoadas, algumas com vestígios de intenso povoamento, como as da Amisa, Macaloé, Matemo, Querimba e Quisiva.

Nogueira de Andrade ao descrever as Ilhas, em 1789, argumenta poderem "as Ilhas sustentar grandemente mais de 500 famílias de que elas muito carecem. Então o seu despovoamento era uma realidade:

(...). Foram (...) bem povoadas, tiveram bons edifícios de pedra e cal e agora jazem na mais lamentável ruína e abatimento originado pelas repetidas invasões que os arábicos lhe fizeram, roubando, matando e destruindo quanto ali havia, de modo, que todos os moradores as desertaram, passando-se uns a Moçambique e outros para Goa e alguns outros fizeram as suas residências nos matos aonde acabaram a vida. Ficaram pois estas Ilhas despovoadas de brancos... .

As autoridades coloniais portuguesas de modo a atenuar a presença incómoda e prejudicial de outros europeus, especialmente, franceses, verificada a partir do 1º quartel do século XVIII, em Moçambique, mas, especialmente, nas Ilhas, começaram a preocupar-se com o problema do seu povoamento, então, deveras escasso, e a sensibilizar o Reino para a sua solução.

Confirmando notícias alarmantes anteriores, remetidas de Moçambique para a Índia, sobre o estado caótico das terras do norte da baía de Pemba, as mais altas autoridades portuguesas, na costa oriental de África, viriam a propor, depois da separação político-administrativa daquelas duas possessões, um conjunto de medidas capazes de ultrapassar tão grave problema como era o da ocupação humana das Ilhas, crucial para a sua manutenção sob o domínio português.

No âmbito desta perspectiva, seriam submetidos à Corte, em Lisboa, em 1753 e 1758, dois projectos de colonização, que previam a vinda, para as Ilhas, de povoadores do Reino e de Macau.

Na primeira proposta, o Capitão General afirmava, sem rodeios, estarem as Ilhas, algumas de bastante grandeza, em total desamparo, encontrando-se umas desertas e outras povoadas de gente moura e cafre, havendo, apenas, alguns cristãos da terra e em todas 5 portugueses.

Esta situação contrastava com outras bem distintas e diferentes, existentes num passado não muito distante, caracterizada por aquela autoridade superior.

"... Não havendo muitos anos que ainda havia nelas algumas casas ricas e muitas de suficiência e grandeza e hoje não há mais do que ruínas".

Pretendia-se, para além da conservação e desenvolvimento do comércio, restabelecer o tipo de povoamento, europeu ou indiano, existente no século XVI, que mais garantias políticas oferecia à presença portuguesa.

Consideradas frutíferas, desde que cultivadas e povoadas, poderiam albergar pelo menos 50 famílias, pelas quais seriam divididas as melhores ilhas.

As terras a distribuir seriam aquelas que já estavam repartidas pelos poucos moradores que nelas viviam, e muitas delas abandonadas.

De realçar algumas preocupações da parte dos detentores do poder político, relativamente, aos colonos que, implicitamente, estavam relacionadas com o êxito desejável do projecto.

Para além da ajuda económica, dá-se especial atenção ao trabalho físico a prestar por europeus nas zonas tropicais Este bem intencionado projecto não foi levado à prática e anos mais tarde, outro responsável pelos destinos de Moçambique, depois de reformulado, voltaria a apresentá-lo e a submetê-lo ao veredicto régio. Agora com um âmbito mais vasto, em que as Ilhas eram apenas uma das partes.

As propostas apresentadas eram claras e os resultados a alcançar com a sua execução eram precisos:

"Os Rios de Sena, Sofala, Inhambane, Ilhas de Querimba e esta de Moçambique estão totalmente sem moradores e como um dos meios porque se deve procurar o aumento das terras é de gentes que as povoem, V.M. se sirva de mandar dar providência a concorrência delas, para que sendo numeroso o concurso e estabelecimento de habitadores, o seja por consequência vantajosa a utilidade de V.M.".

Este governante consciente das dificuldades e limitações demográficas do Reino, tão enfraquecido de homens, para fornecer colonos às várias conquistas e depois de convenientemente informado, viria a propor a Ásia- Macau e Bombaim- como alternativa à Europa, como fornecedora de povoadores e um ponto de partida de um novo fluxo migratório.

Nesta opção teve-se em consideração a preponderância de factores, como: a mais fácil aclimatação de gente já adaptada às condições naturais das regiões quentes e húmidas; as dificuldades relacionadas com a demografia do Reino; e as maiores despesas com o transporte de colonos deste provenientes.

O projecto mantinha todas as condições oferecidas, atrás referenciadas, quanto às despesas com o sustento e transporte e à distribuição de terras. Apenas se acentuava a necessidade desta já estar concluída à data da chegada dos novos povoadores. Para além das terras da coroa vagas, considerar-se-iam também as que estavam na posse de senhorios, todos apelidados de mercenários, que pelo poder que elas lhe conferiam, eram considerados "orgulhosos, desobedientes e dissolutos".

Apesar do Conselho Ultramarino ser da opinião de que se tratava de uma providência acertada e da maior conveniência, a proposta, mais viável de que a anterior e tal como ela, não se materializou.

Muitas terão sido as razões para que tal sucedesse. Ainda que não expressas, algumas delas estariam relacionadas com a posse da terra. Qualquer dos projectos implicava a redistribuição de terras já emprazadas, muitas delas a eclesiásticos ( dominicanos) e outras pessoas de grande prestígio e grande influência na ribalta política. Punham em jogo interesses, suficientemente, poderosos para fazer cair por terra qualquer bem intencionado e funcional projecto de povoamento e colonização.

A situação provocada pela falta de gente não melhoraria e a comprová-lo estão os sucessivos testemunhos que os poderes públicos deixariam expressos em vários documentos oficiais. A pouca existente, ia abandonando as Ilhas, tornando-as agrestes e desertas , embora se reclamasse a el-rei "habitantes, sem escrúpulos do clima, pois gozam de um ar excelente" destinados à agricultura, e famílias para desenvolver o comércio, "pois sem gente não pode haver trato de qualidade".

Os governantes representantes da soberania portuguesa defendiam, então, "que a indigência em que estavam os seus habitantes pouco progresso poderão fazer, muito principalmente, por falta de população portuguesa ... . ".

Nos finais do século XVIII, antes do início dos ataques perpetrados por corsários franceses, Sakalava de Madagascar e Makhwa, a situação nas Ilhas era deveras deplorável, encontrando-se "totalmente despovoadas de habitantes e algum que nelas existem são pobríssimos, miseráveis e que, ainda que suprirem as primeiras necessidades, não têm posses para o fazer".

Com os sucessivos ataques e saques que sofreram, por acção daqueles povos, no voltar do século e nos anos seguintes, as Ilhas e as suas terras firmes iriam, por um lado, ficar "cada vez mais desertas por não haver sujeitos para se estabelecerem" , apesar da disponibilidade de raparigas e viúvas que não se casavam por falta de homens, a qual deveria ser colmatada pela vinda de "alguns sujeitos capazes" quando houvesse oportunidade. Por outro lado, "baldias sem estabelecimento algum" por muitos dos seus habitantes, uns terem "sido levados pelos Sakalava e outros desertado para o interior do sertão vivendo como cafres" para não serem prisioneiros e depois vendidos como escravos. Status quo ainda constatado uma década depois das últimas incursões e se prolongaria por todo o século XIX.

Com a instalação da Colónia Europeia da Baía de Pemba, em 1857 chegaram a Cabo Delgado algumas dezenas de Portugueses. Mas por falta de uma gestão adequada foi sol de pouca dura.

Em 1858 a população de Cabo Delgado, fornecida pelo Gov. interino, João da Cunha Carvalho era a seguinte:


  1. Neste total de habitantes “entram indígenas, livres e libertos, europeus, asiáticos e escravos”.
  2. Na população da ilha do Ibo estavam incluídos: 11 europeus, 3 filhos de Goa, 23 gentios entre batiás e baneanes.
  3. Na Querimba habitavam 3 europeus.
Eram, então, já poucos os Portugueses a viver em Cabo Delgado.

Anos mais tarde, no seu Relatório de 1787-1888, o governador de Cabo Delgado, Francisco Moura, dava conta da população do Distrito:

Compõe-se o distrito de 29 ilhas, das quais apenas são habi¬tadas, permanentemente, as de Quirimba, Matemo, Fumbo e Ibo, e de toda a costa compreendida entre o extremo sul da baia de Lúrio e Cabo Delgado na extensão aproximada de 325 quilómetros.
A vila do Ibo contém uns 130 fogos, além das palhotas, e uma população de 2.500 almas.
A população das ilhas e do litoral do distrito é de 60:000 a 70:000 almas, na qual se compreendem 21 europeus. sendo 16 portugueses, 3 ingleses e 2 franceses ; e 148 asiáticos, sendo 37 súditos portugueses e 111 ingleses.

Apenas viviam no Distrito 37 Portugueses.

No ano seguinte, o Governador João M. G. Amorim, adiantava no seu Relatório que:

(…). Dos registos da secretaria conclui-se que a população europeia se compute de 25 indivíduos, dos quais 20 são portugueses e 5 estrangeiros, e a população asiática, de 113, dos quais 30 portugueses e 83 estrangeiros; suponho porém que a população asiática é superior, e que varia constantemente no continente sem que o governador possa ter disso exacto conhecimento, devido igualmente á falta já apontada.

A escassez de Portugueses continuava. Apenas 20 da Europa.

A administração dos territórios de Cabo Delgado passou, na última década do século XIX, do Estado para a Companhia do Niassa, situação que se manteve até 1929, data em regressou à situação anterior.

São conhecidas as dificuldades imposta por Lisboa na deslocação da população metropolitana para as suas Colónias, designadamente, Moçambique. É fictícia a ideia de que, alguma vez, houve uma presença massiva de Portugueses nas terras moçambicanas.

Aqui deixo alguma informação, totalmente, descomprometida de quaisquer conveniências patrióticas ou políticas, cuja finalidade principal é a de contribuir para construção da verdadeira História sobre a presença portuguesa em Moçambique, pertença tanto dos Moçambicanos como dos Portugueses.

Acredito que os responsáveis pelos textos, entidades respeitáveis, que originaram estas breves notas, cujos nomes me dispenso de mencionar, saberão reconhecer e rectificar os erros apontados, de modo a não continuarem a distorcer a realidade dos factos e a não prejudicarem o desenvolvimento do turismo nas terras de Cabo Delgado.
Fim - Por Carlos Lopes Bento.
  • O autor, Dr. Carlos Lopes Bento, antigo administrador dos concelhos dos Macondes Ibo e Porto Amélia (actualmente Pemba) é doutorado, em Ciências Sociais e Políticas, especialidade História dos Factos Sociais e licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo I.S.C.S.P., da Universidade Técnica de Lisboa. Foi professor coordenador do Instituto Superior Politécnico Internacional e professor catedrático convidado, da Universidade Internacional. Interessa-se pela Antropologia Africana- Moçambique e pela Antropologia Portuguesa, domínios do turismo e do comportamento organizacional. Faz investigação no domínio da cultura alimentar- Culinária tradicional. É sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, fazendo parte da sua Direcção e de algumas das suas Comissões e Secções!
  • Outros trabalhos do Dr. Carlos Lopes Bento neste blogue e anexos!
  • Porto Amélia/Pemba - distrito do Ibo!
  • Panorâmio - Photo of Ilha do Ibo!

12/06/07

Pemba - A praia do Wimbe ameaçada...

(Imagem daqui)
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A Praia do Wimbe corre riscos
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A Praia de Wimbe, na província de Cabo Delgado, está perante ameaça de poder vir a sofrer problemas de natureza ecológica, segundo alerta em comunicado de imprensa recebido na nossa Redacção, Christian Zeininger, Director da Faculdade de Gestão de Turismo e Informática da Universidade Católica de Moçambique, que abriu as suas portas em Pemba no ano 2002.
O comunicado observa que apesar das iniciativas de colocar Pemba como a terceira maior baia na lista das 100 praias mais belas do mundo, a Praia de Wimbe pode enfrentar em poucos anos dificuldades da natureza ecológica, devido a descarga descontrolada das águas sujas e das quantidades de lixo produzida pela população crescente.
“A contaminação já hoje é visível com as algas e o lixo a aumentar na praia”, diz Christian Zeininger, Director da Faculdade de Gestão de Turismo e Informática da Universidade Católica de Moçambique, citado pelo comunicado.
E, acrescenta, “com as grandes intenções na área de turismo não se pode esperar com a sensibilização e o envolvimento da população local como parte integrada nos desenvolvimentos turísticos”.
A fonte refere que a Faculdade de Gestão de Turismo e Informática da UCM, em Pemba, está neste momento a preparar os seus primeiros setenta e um graduados em Licenciatura de Gestão de Turismo e deseja-se, que os trabalhos de pesquisa elaborados pelos estudantes podem dar algumas pistas para endereçar melhor as questões da participação das comunidades para o seu benefício e os seus deveres.
No entanto, salienta que o tema não acaba somente em produzir estudos.
Cada parceiro tem uma responsabilidade de agir com uma visão de proteger e conservar os “nossos” recursos.
É neste âmbito que a UCM está actualmente a construir 12 casas para professores de estilo “lodge”, usando materiais locais, nomeadamente pedras, areia, madeira e macuti e instalar uma solução de saneamento biológico em consultoria com o ECOSAN, uma iniciativa em colaboração com a Universidade Técnica de Viena, Áustria.
O AUTARCA - 05.12.2007 - Fonte "Moçambique Para Todos"

4/01/10

O FALSO ALARME - Um conto de Allman Ndyoko

:: Allman Ndyoco pode ser lido em "Contos e Poesias do Índico" ::
 
Estavámos no longínquo ano de 1984, se a memória não me induz ao erro. Quino, Chiquito, Bacar, Saíde e Aidar haviam passado toda manhã no recinto do Jardim Infantil, próximo ao Estádio Municipal, brincando “pega – pega” e pulando habilmente nos ramos das numerosas amendoeiras que assomavam naquele pequeno mundo infantil. Brincavam incansavelmente com a ânsia de matar o tempo para assistir a grande partida de futebol entre a Associação Desportiva de Pemba e Textáfrica, equipa fabril do planalto de Manica. Era uma partida importante do Campeonato Nacional de Futebol, e isto provava-se pela chegada massiva de adeptos de todos quadrantes da baia, no recinto desportivo. Nos três principais portões do estádio eram visíveis bichas infindáveis de adeptos que entravam para o interior, a maioria com receptores colados ao ouvido. Era o tempo em que o futebol constituia o passatempo predilecto do pembenses.

Desceram das árvores. Em silêncio pularam o muro do jardim e pararam no passeio para traçar a estratégia de entrada, enquanto o sol decaía vagarosamente enchendo de brilho as cores castanha e vermelha da terra. As equipas defrontantes ainda não tinham descido ao pelado, mas a enchente era demasiada de tal ordem que, para qualquer incáuto, parecia o jogo ter iniciado.

- Vamos tentar a sorte. – Disse Quino enfiado num fato-macaco de jeans encardido. – Cada um de nós deverá pedir boleia alguém mais velho com bilhete de acesso ao estádio.

- Para isso devemos distribuír-nos nos três portões do estádio. – Observou Bacar, filho de árbitro Bacar Tarupa.

- Penso que sim, apesar de tu não precisares disso por seu pai ser árbitro. – Retorquiu Quino rindo-se de lado e ocultando a boca, em sinal de gozo.

- O facto do meu pai ser árbitro penso que não quer dizer nada, porque, por exemplo agora, não posso entrar no estádio porque ele já está dentro do campo. – Contra-atacou Bacar sorrindo.

- Mas os porteiros todos te conhecem até de cheiro. – Disse Chiquito brincalhão.

Riram todos satisfeitos. Depois de breves instantes de silêncio, Bacar, cabisbaixo e pensativo, disse:

- Tenho uma opinião importante e ideias interessantes para resolvermos o problema que nos preocupa. Não podemos tentar a sorte no portão três, porque está lá o carasco nhê Ibrahimo, inimigo da criançada em dias de futebol. E se nos portões um e dois não tivermos sucesso, temos quatro saídas à nossa disposição.

- Quais? – Quiseram saber os amigos em coro.

- Muito simples! – Bacar fez um suspense que durou breves instantes. – Podemos ver o jogo apartir do terraço do prédio da LAM ou dos galhos das árvores mais altas emergidas em volta do estádio; pulando o muro do estádio do lado mais baixo ou aguardando até ao período dos últimos trinta minutos que normalmente servem para a abertura dos portões para facilitar a saída atempada e ordenada dos adeptos.

As propostas foram analisadas rapidamente. No final, reavivando a esperança da malta, Aidar disse:

- Penso que nhê Ibrahimo já não é problema para agente. Ele deve-me alguns favores...

O pronunciamento do Aidar suscitou uma enorme curiosidade que podia-se ler nos olhos brilhantes de cada um. E com uma expressão corporal de quem cobra pormenores, ficaram alí, naquele momento, devorando-o e com vontade imensurável de pegá-lo pelo colarinho da camisa até vomitar o inígma. Porém, nada disso foi necessário, pois, os gestos inofensivos, mas expressivos, da malta venceram o momento enigmático.

- Durante as noites da semana passada, o nhê Ibrahimo serviu-se de mim para chamar sua amante que é minha vizinha.

- Já estou a ver quem é! – Rematou Chiquito em jeito de brincadeira.

A malta riu-se.

- A ideia é extraordinária! – Disse Quino acariciando levemente o queixo liso com os dedos polegar e indicador da mão esquerda. – E não há nada melhor que pensar e...
- Realizarrr...! – Acudiram-o os amigos em coro.
- Mãos à obra! – Gritou Saíde fazendo uma vénia grotesca com um braço apontado ao estádio.

Sairam do passeio às corridas com a esperança de ver-se no interior do campo. Enquanto corriam ao encontro da fila de adeptos e simples espectadores do portão três, na entrada da bancada de sombra a equipa da casa ia entrando e descendo aos balneários no meio de um ambiente de festa e encorajamento, caracterizado por assobios e apláusos desordenados dos adeptos. Nisto, alcançaram a fila. Desrespeitando à sequência estabelecida e abusando ingenuamente a confiança imaginária do nhê Ibrahimo, emergiram agarradinhos e em fila indiana defronte do portão com os olhos prenhe de esperança. Nhê Ibrahimo reconheceu imediatamente o seu pequeno confidente. Com a mão erguida e em forma de facão, separou-o dos demais amigos. Aidar reclamou imobilizando-se e fazendo uma careta de protesto. O protesto foi imediatamente aceite e a malta viu-se, finalmente, no interior do estádio.

O jogo tinha começado e a equipa da casa contra-atacava com vigorosidade chegando a alcançar diversas vezes a grande área adversária, mas sem sucesso. Todavia, a ausadia de alcançar a baliza adversária alimentava aos adeptos de Pemba a esperança de uma possível victória e a atitude da equipa prosseguiu até um quarto do fim da segunda parte da partida, quando subitamente um adepto da equipa Pembense, advinhando uma possível derrota para a sua equipa, aproximou-se à baliza do guarda-redes Zé Luís e, apontando algo nas malhas, saiu desesperadamente gritando em macua:

- “Inhanca”, “inhanca”, “inhanca”... – amuleto, amuleto, amuleto...

A noticia correu as bancadas com velocidade de uma ave de rapina; Em escassos instantes o pelado foi invadido por uma legião de adeptos furiosos que interrompeu a partida imediatamente e escorraçou os jogadores da Textáfrica à pedrada. A fúria dos adeptos Pembenses, que achavam que o amuleto descoberto impedia-lhes de ganhar a partida, foi tão forte de tal modo que o corpo policial, destacado para garantir a segurança e tranquilidade públicas no local do jogo, viu-se incapaz de suster as acções dos furiosos.

No entanto, os jogadores visitantes conseguiram, milagrosamente, abandonar o recinto desportivo e para escapar-se das investidas dos furiosos, procuraram alcançar o Hotel Cabo Delgado, que dista alguns metros do estádio, correndo em debandada. Por sorte, ninguém feriu-se gravamente, mas a situação criou um grande susto aos visitantes.

Na verdade, o que o adepto boateiro vira era um pequeno rolo de linha preta com algumas agulhas que um dos trabalhadores do estádio perdera, na manhã daquele dia, quando montava as redes das balizas. Todavia, o incidente fez correr rios de tinta na imprensa nacional e foi veemente repudiado nos mais diversos meios de comunicação social. E, de lá para cá, como resultado do trabalho da imprensa e do bom senso dos populares, jamais voltou a suceder algo de género no pelado do município da terceira baia mais linda do mundo; Mas o sucedido naquele ano ainda habita o imaginário do povo, principalmente, dos mais velhos e serve de exemplo para os mais novos perpetuarem a boa convivência dentro dos campos de jogos.
- Allman Ndyoko, 21/03/2010.

6/13/13

PARA A HISTÓRIA DE CABO DELGADO COLONIAL - A REALIDADE GEOGRÁFICA E SOCIOECONÓMICA DA BAÍA DE TUNGUE DEPOIS DO SEU REGRESSO AO DOMÍNIO DE MOÇAMBIQUE (1886)

O meu último apontamento publicado no FOREVER PEMBA, teve, como temática, a tomada da baia de Tungue, pelas tropas moçambicanas, há muito, ilegalmente, na posse do sultanato de Zanzibar e o papel heróico de dois voluntários da Vila do Ibo. Voltarei, hoje, a escrever sobre a baía de Tungue, mas, agora, para dar a conhecer “um relatório habilmente feito por um inteligente funccionário que andou há pouco na bahia de Tungue, … .” .

Trata-se de Constâncio José de Brito, escrivão verificador da alfândega do Ibo que fora nomeado para fazer uma visita de trabalho aos postos fiscais de Mucimbôa e baía de Tungue. Saíu do Ibo, a bordo do cuter Sagres, a 5 de Novembro de 1886, tendo chegado ao primeiro local a 10. Conhecidas as principais necessidades do posto fiscal de Mucimbôa, navegou, à vela, no mesmo cuter, no dia 14, para a baía de Tungue, onde chegou pelas quatro da tarde do mesmo dia... ... ""

- Outros trabalhos do historiador Carlos Lopes Bento neste blogue.
- O Dr. Carlos Lopes Bento no Google.
- PARA  A  HISTÓRIA  DE CABO DELGADO COLONIAL - GENTE HERÓICA  DA VILA  DO IBO QUE MERECE SER  HOMENAGEADA - Por Carlos Lopes Bento.
- PARA A HISTÓRIA DE CABO DELGADO COLONIAL - A REALIDADE GEOGRÁFICA E SOCIOECONÓMICA DA BAÍA DE TUNGUE DEPOIS DO SEU REGRESSO AO DOMÍNIO DE MOÇAMBIQUE (1886):
Clique nas imagens para ampliar. Colaboração de texto e imagens do historiador Dr. Carlos Lopes Bento. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Junho de 2013. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.