6/02/07

PEMBA - SUA GENTE, MITOS E A HISTÓRIA - Parte 1

Sobre Luis Alvarinho, autor de "PEMBA, Sua gente, mitos e a história - 1850 a 1960" diz-nos a poetisa Glória de Sant'Anna (extraído das páginas de Porto Amélia/Pemba):
""20/06/2002 - Estando em preparação um livro de crónicas em que esta será incluída, envio-a como homenagem ao Luís Alvarinho - Glória de Sant'Anna :
Moçambique – Cabo Delgado
A Escuna Angra é um marco histórico navegando o mar no reinado de D. Pedro V, para as terras de Cabo Delgado ao norte de Moçambique.
Comandada por Jerónimo Romero, 1º tenente da Armada, leva consigo sessenta colonos que irão fundar a colónia agrícola de Pemba, em 1857.
Mãos amigas fizeram chegar até mim um livro sóbrio que relata o facto.
Baseia-se ele essencialmente na adenda à memória descritiva de Jerónimo Romero, e na recolha da tradição oral de toda a região que abraça a baía de Pemba.
É seu autor Luís Alvarinho nascido em Pemba em 1959. (1)
Este jovem que na sua meninice por certo correu pela orla das ondas, colheu búzios na praia do Wimbe, bebeu sumo dos cajus, trincou maçanicas e jambalão: e na sua juventude se sentou frente aos microfones do Emissor Regional de Cabo Delgado, cativado pela magia e o poder da Rádio: este jovem, também ele elemento de mudanças políticas, inicia com o livro "PEMBA, SUA GENTE, MITOS E A HISTÒRIA – 1850 / 1960", datado de 1991, um caminho de pesquisa etnográfica e política das terras de Cabo Delgado – Pemba – nos séculos XIX e XX.
Da recolha oral conta o autor uma terna história que transcrevo:
" em anos muito recuados da nossa história a baía de Pemba era frequentada apenas por alguns pescadores malgaches e swailis que em suas pequenas lanchas e pangaios arrecadavam o alimento sem nunca ali se fixarem.
Conta então uma antiga lenda que por essa altura uma de tais embarcações apanhada por um temporal naufragou tendo como sobrevivente uma mulher que se viu obrigada a procurar algum refúgio nas proximidades da baía.
A mulher importante ( NUNO em língua local ) conseguiu sobreviver e montar aí a sua guarita.
Naturalmente conotada a NUNO pelos pescadores como "mensageira divina" demonstrando que a zona poderia ser perfeitamente habitada, ela fê-los seguir o seu exemplo."
Esta obra com a qual me congratulo, não apenas pelo valor que tem, é uma pedra angular no espaço das letras moçambicanas.
Como o próprio autor diz em nota introdutória, "este trabalho não tem pretenções de um rigor histórico, como talvez se possa interpretar. A pesquisa histórica com certa sistematização poderá, isso sim, permitir identificar as raízes do local e da sua gente...
A principal motivação para este empreendimento, foi precisamente a de preservar a tradição oral de Pemba, já bastante perdida."
(1) – Foi meu aluno no ensino secundário e faleceu alguns anos depois de ter escrito este livro histórico a que se refere esta crónica. -
Glória de Sant'anna

PEMBA - SUA GENTE, MITOS E A HISTÓRIA
NOTA INTRODUTÓRIA
Este trabalho não tem pretensões de um de rigor histórico como talvez se possa interpretar. A pesquisa histórica com certa sistema­tização poderá, isso sim, permitir identificar as raízes do local e da sua gente, afinal a intenção essencial deste estudo.A principal motivação para este empreendimento, foi precisamente a de preservar a tradição oral de Pemba, já bastante perdida.É assim que, a par de fontes históricas comprováveis, como por exemplo as notas em citação, documentação avulsa do Arquivo Histórico de Moçambique, dados de vários números do Boletim Oficial e Boletim da Companhia do Niassa nem sempre citados para não cansar o leitor, o texto inclui variada informação oral cuja veracidade histórica se torna difícil comprovar mas que duma maneira ou de outra acaba fazendo parte da vida e do sentir da gente de Pemba.Mesmo na sua simplicidade esta obra só foi possível com o apoio do Arquivo Histórico de Moçambique, do Conselho Executivo da Cidade de Pemba, seus responsáveis e várias pessoas individuais de que não menciono nomes pretendendo evitar omitir alguém de muitos que me ajudaram.Muito grato estou aos meus irmãos que me acompanharam nesta caminhada.
Luís Carrilho Alvarinho - Maio, 1991

I
EIS, PEMBA!
A turística cidade de Pemba, ao noroeste da costa de Moçambique, encontra-se implantada na península meridional de uma das mais belas baías do mundo - PEMBA - e estende-se ao longo de uma colina que se eleva gradualmente até ao chamado "Planalto dos Cajueiros". Maravilhosas praias a orlam roubando-lhe grande parte da costa que, ora deixa penetrar francamente as águas do mar sobre uma areia branca e fina ora as faz estancar em rochas, já bem batidas, mas de uma magnífica beleza natural. Da Maringanha ao Paquitequete se pode experimentar o cheiro a maresia quando os ventos carregados de iodo vêm do mar ou deliciar o perfume aromático arrancado às resinas e essências dos maciços florestais quando eles do interior sopram em direcção ao litoral. Outrora com densa vegetação e floresta cerrada onde só animais selvagens viviam, a cidade de Pemba é hoje habitada por cerca de 80.000 pessoas e visitada anualmente por mais de um milhar de turis­tas. É delimitada a Norte pela ponta Mepira e a Sul pela ponta Maunhane, ocupando uma área de 142 km2. O embrião que veio dar origem à actual cidade de Pemba, data de 1857, como parcela da “Colónia 8 de Dezembro", fundada por Jerónimo Romero e dissolvida cinco anos depois por diversos problemas de organização e adaptação dos colonos. A princípios da década de 1890 um indivíduo de origem malgache funda a noroeste do actual bairro de Paquitequete um povoado conhecido pelo nome de “Muenha Amade”. A Companhia do Niassa instala, por sua vez em 1897 nas proximi­dades dessa povoação um posto militar para no ano seguinte criar o Concelho de Pemba com sede na povoação de “Pampira”, nome por que também era conhecida a região. Por portaria do Ministério da Marinha e Ultramar de 22 de Novembro de 1899 e proposta do Conselho da Administração da Companhia do Niassa, Pemba ou Pampira passa a denominar-se "Porto Amélia" em homenagem à última rainha de Portugal D. Amélia de Bragança. Dada a sua importância como porto exportador e às facilidades no trato do comércio do sertão a Companhia do Niassa transfere em 1902 de Ibo para Porto Amélia a sede da sua administração. Extinguindo em 1929 a companhia majestática, a administração colonial portuguesa manda rectificar a planta de Porto Amélia com vista a organizar ali uma nova povoação, decidindo no entanto manter-lhe o nome. Em 1932 passa ter a povoação de Porto Amélia uma Câmara Mu­nicipal, cujo foral lhe foi concedido 11 anos depois. Porto Amélia ascende a vila por portaria de 19 de Dezembro de 1934 e é elevada à categoria de cidade em 1958 pelo Decreto-lei de 18 de Outubro do Governo Geral da Província. A escassos meses da independência de Moçambique a cidade de Porto Amélia volta a denominar-se Pemba, por ordem do Presidente Samora Machel.
(Continua)

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