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3/19/15

RECORDAR É VIVER… Meu Pai JAIME FERRAZ RODRIGUES GABÃO

(clique na imagem para ampliar)

Por Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Embora amasse muito meus pais o certo é que como meus avós maternos vivessem perto, estava, sempre a “fugir” para junto deles.

Ali recebi a minha educação juvenil e recordo com imensa saudade o amor que me dedicavam. Foi com meu avô que conheci o “Clube da Régua” por cima do estabelecimento do saudoso Sr. Zé Pinto.

Levava-me consigo e ainda me lembro que a sua distracção preferida era o “dominó”. Os parceiros eram uns amigos; um, o Sr. Rocha, outro o Sr. Magalhães e às vezes o Padre Aureliano da Costa Pinto, figura de prestígio e que exercia as funções de Conservador do Registo Civil.

Noutras mesas guardo na lembrança de ver os Sr. António Correia (pai do médico e escritor João de Araújo Correia) o Sr. Figueiredo, sogro do Sr. Zé Pinto, Sr. Lourenço Almeida Medeiros, João Bonifácio, Camilo Guedes Castelo Branco e seus filhos António e Jaime Guedes, Dr. José Meireles da Costa Pinto, Joaquim Guedes da Silva, Alberto e Artur Gonçalves Martinho, Domingos Figueiredo, Artur Carvalho, Arnaldo Monteiro e tantos e tantos outros reguenses que eram pessoas muito consideradas na então Vila da Régua.

Eu gostava de “brincar” com as bolas de bilhar e assim me entretinha muitas tardes. Mas meu avô, Luís Maria da Cunha Ilharco, que havia sido Bombeiro, à noite, ia até ao quartel da briosa corporação ou, então, até à Associação Comercial (que era já onde hoje está).

Meu tio, José Vicente Ferreira da Cunha também era um dos parceiros do meu avô, onde também não faltavam os mais novos, como Arnaldo Vicente Ferreira da Cunha, João da Silva Bonifácio Júnior, Gastão Mirandela, Jerónimo Vasques, etc...

Os Doutores Antão de Carvalho, Júlio Vasques, Afonso de Oliveira. Soares, Francisco Leite Pereira, Antão, Alberto e Acácio Lemos, José Avelino (Pai) e José Avelino (Filho) e muitos outros frequentavam, também, alguns daqueles locais. A todos conheci e recordo no meu espírito.

Aos Domingos e Dias Santos meu Avô levava-me sempre à missa à Capela do então Asilo José Vasques Osório. E se estava um dia bonito, na companhia da minha avó, íamos até à Avenida da beira do rio e dávamos a volta, depois, pela Rua das Vareiras.

Aqui residiam minha Avó paterna e duas tias. Meu Avô - Jorge Gabão - já havia falecido. De origem “Vareira”, meus, avós paternos construíram a sua residência naquela rua que, ainda hoje, ali se encontra e onde tenho direito, um dia, a receber uma telha como herança...

Vivia com meus Avós maternos, meu irmão José Luís Ferraz. Ajudava-os muito no seu estabelecimento e era o “menino bonito” dos avós. Este meu irmão foi um dos fundadores do Futebol Clube do Porto e Régua, do Orfeão Reguense e outras colectividades.

Tinha a simpatia geral e com o João de Almeida Morais e Manuel Matos Rodrigues (Né), faziam um “terceto” inseparável. Isto durou até que meu irmão, apenas com 19 anos de idade, veio a falecer com uma tuberculose (nessa altura ainda não havia os recursos aos medicamentos que hoje existem para essa doença).

Foi um desgosto profundo para meus pais e avós e para tantos e tantos dos seus amigos, Meus avós, passado pouco tempo e devido ao desgosto da perda do seu neto tão querido, faleceram ambos e, por coincidência, os dois em 9 de Abril, embora em anos diferentes.

A morte de meu irmão e avós foi a decadência da minha família. Meus pais tiveram de fechar o seu estabelecimento e passaram horas das mais amargas.

Anos mais tarde meu pai conseguiu, já com mais de 50 anos, ser admitido como fiscal da Casa do Douro, onde se manteve até à hora da sua morte (aos 69 anos).

Não posso deixar de recordar quanto meu pai sofreu perante chefes que eram autênticos “ditadores” e não respeitavam, a idade e o passado de quem quer que fosse.

Estávamos numa época em que predominava o despotismo e a vingança pessoal. Meu pobre pai morreu amparado pelos cuidados de minha saudosa mãe, e irmãos; quando já me encontrava fixado em Moçambique.

O que é verdade era que o espírito da família era evidente. País, irmãos, filhos, avós, todos viviam imanados no mesmo amor paternal, coisa que, infelizmente, hoje já não se encontra com facilidade e até deixou de existir em muitos casos...

Notas:
  1. Esta bela crónica de Jaime Ferraz Gabão foi publicada no jornal O Arrais, em 25 de Abril de 1991.
  2. O seu autor fala com sentimento da sua infância e ainda com muito carinho de seus familiares, grandes amigos e algumas figuras ilustres e respeitáveis da sociedade reguense, entre as quais recordou também grandes bombeiros, como os Comandantes Afonso Soares, Camilo Guedes Castelo Branco e Lourenço Medeiros, os Chefes António Guedes e Gastão Mirandela e – para meu desconhecimento - o seu avô Luís Maria da Cunha Ilharco, também bombeiro da Régua, com o qual chegou a frequentar o Quartel, o que se situava na Rua dos Camilos.
- Colaboração de J. A. Almeida para "Escritos do Douro" em Novembro de 2010.

Obs. - Acrescento minha amizade, gratidão e consideração ao Dr. José Alfredo Almeida  por oferecer e me permitir ler esta crónica de meu saudoso Pai Jaime Ferraz Rodrigues Gabão. Como bem diz caro J A Almeida, é um jóia perdida no tempo de uma Régua que já acabou e que deixa saudades... de uma Régua que levou consigo Familiares, Amigos, lugares e cores inesquecíveis, que fazem falta. E que me emocionou diversas vezes enquanto editava o texto e a imagem que ilustra este post. Mas RECORDAR É VIVER... ou RENASCER!  Muito obrigado mesmo ! - Jaime Luis Gabão, 4 de Novembro de 2010.

11/12/11

Carta para o Dr. Camilo de Araújo Correia

Meu saudoso Amigo:

Faço votos para que esta o vá encontrar de modo igual ao que costumava ser enquanto por cá andou: sereno mas acutilante, especulativo mas pragmático, de bem com a vida mas adversário do fingimento.


Agora, em Canelas, não sei como será, mas idealizo o mesmo. A morte não esquece o que foi a vida quando a lembrança se perpetua, não acha? Fui lá uma vez, pousei uma rosafalei consigo, mas não me ligou nada; até pensei que estivesse a mostrar-se amuado por demorar tanto tempo a visitá-lo. Ou, então, estaria muito atento ao que lhe diziam os que estão ao seu lado… Bem - pensei para mim – deve estar por aí a conversar com algum conhecido,  e como não tem relógio esqueceu-se da sua morada. Vim embora porque, mais tarde ou mais cedo, lá chegará a hora de pormos a conversa em dia.


Mas, sabe, imagino-o a escrever crónicas nos jornais do céu, a causticar os anjos armados em santinhos ou santinhas (ainda ninguém descobriu o sexo deles, não é meu amigo?), todos muito puritanos a dar lições de moral e, nas sombras, a concretizar o adágio dos simulados: «Olha  para o que eu digo e não para o que eu faço.» Talvez tenha descoberto por aí daquelas espécimes que olham de alto como quem palita os dentes ou arrota postas de vitela, e a tentação de os apontar seja tanta que não o deixe ficar calado. Para o céu deve ir – sou eu a pensar, claro – muito tipo de gente, pois a misericórdia divina não tem limites. Por cotejo com o que me ensinaram na catequese (belos tempos!), acho que ele deve ser habitado esmagadoramente pelos honestos, os construtores da palavra, os que fogem da falsidade e do descaramento, os que conhecem a grandeza humana e a sua antítese,  os que respeitam o medo mas repelem a cobardia, os que não fantasiam  amar os pobres nem pedem publicidade para a  oferta, os que sabem que a verdadeira fortuna é ter o  essencial que dê dignidade à vida, à vida de todos. Por isso, deve-lhe meter impressão ver aí de tudo como na farmácia. Para desenfastiar já deve ter escrito outro Livro de Andanças, viajante que é dessas terras e caminhos etéreos. Deve ser uma pena não haver aí um Palácio da Loucura para uma reedição de Coimbra Minha… Olhe, vá ouvindo umas anedotas do mano João…
Escrevo-lhe dentro do carro, com o bloco assente no volante, diante do mar, na praia nortenha de que seu Pai mais gostava. Tenho memória recente de corpos na areia, tostando a celulite ou a silicone (uma pessoa já nem sabe). Ao longe, na linha do infinito, um barco, largado de Leixões, afunda-se na vertigem da lonjura. Recordo-me de África; sei-a do outro lado do mundo, resplandecente e imensa, vermelha e abrasadora. Aquele Moçambique para onde fomos em datas diferentes, a Porto Amélia do Paquitequete e dos corais, da casa do Jaime Gabão e da mesa da D. Nair, daquela fraternidade e daquela mágoa de ver o Lança Pires esticado num Unimog,  ele que fora só à Serra  Mapé,  em Macomia,  visitar colegas de escola.


A sua lembrança, meu saudoso amigo, quando lá cheguei, ainda pairava nos exíguos corredores do hospital, nas esplanadas da Jerónimo Romero, nos serões das lendas do algodão da pensão Miramar e nas gentes que lhe conheceram o jeito e a dádiva.


Neste jornal, onde na sua última página escreveu centenas e centenas – sei lá milhares - de crónicas (foi uma pena não ter coligido as principais num volume, como alguns lhe disseram), retratou o esmagamento da savana e a aventura duma caçada, a cumplicidade da temba, o espasmo sanguíneo do pôr-de-sol,  o êxtase dos cheiros e dos sons do mato, a sensualidade da mulher africana, o orgasmo do nascer dos dias e a angústia dos anoiteceres suados.


Consigo aprendi muito do que é a verticalidade e a honradez intelectual, o horror aos sevandijas e aos excessos dos humanos. Aprendi que tanto se pode subir até tocar a platina como descer até nos ferirmos no alumínio…


Mas, perguntará, «este só agora é que me escreve?» Eu digo-lhe: aqui na Régua, terra a que sempre chamou sua apesar de ter nascido na Invicta, andou tudo numa fona por causa de um Congresso de Bombeiros. O José Alfredo Almeida, aquele jovem com um sorriso do tamanho da generosidade, que está, agora, à frente da Associação, tomou a peito a organização, publicou até um livro sobre a História desses homens que dão o corpo ao manifesto – quantos a alma – pela nossa segurança, e tão pouco recebem desta sociedade egoísta, tantas vezes denunciada com a precisão da sua pena. Sabe que foi considerado o melhor acontecimento do género realizado na Pátria? São os que vieram de fora a confirmá-lo sem ciumeiras. Que, diabo, também somos capazes não é?...
Lembrei-me muito de si nesta altura, que, entre 1964 e 1965, foi presidente da sua Direcção, seu médico, director do Vida por Vida e titular da Medalha de Ouro. E tenho – caramba! – saudades de si. Há dias fui à pasta onde guardo as suas cartas - as lembranças que elas me trouxeram! Piadas de gargalhadas cerebrais, ironias tão subtis que sintetizavam a mordacidade total, tolerância de escrita, protestos cúmplices pelo desaforo social, ideias e conselhos de quem conhecia a literatura, as suas gentes e os seus modos…


Cai uma chuva triste, de luto pelo Verão que se foi, parece um choro celestial, um gemido dos deuses desgostosos com este mundo comando pela falta de idoneidade, uma saudade enorme daqueles de quem gostámos e nos deixaram do mundo dos sorrisos. O dr. Camilo nota por aí alguma revolta Divina, algum sentimento de pena por estes terráqueos que já se cansaram de lhes irem ao bolso, assaltados à lei (des)armada, como quem limpa fraldas a meninos?  Diga-LHE para vir cá abaixo pôr ordem nestes Montes Pintados e  nestes Caminhos Velhos e Novos, nestes Assentos e Jurisdições, nestas Sedes e Filiais, nestas Desesperanças e Ódios. E se ELE não vier, que mande um novo Cristo com um cajado na mão para expulsar toda a canalha da Terra. Peça-lhe isso, não se esqueça…


Vou-me despedir, imitando-o nos momentos de emoção: «RAIO!»
 - Novembro de 2011 - M. Nogueira Borges
Memória dos Nossos Bombeiros - Carta  para o Dr. Camilo de Araújo Correia 
Jornal "O Arrais", quinta-Feira, 10 de Novembro de 2011
(Click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)


Texto de M. Nogueira Borges publicado com autorização do autor neste blogue e no semanário regional 'O Arrais" (10/11/2011). Clique  nas imagens acima para ampliar.  2 imagens cedidas pelo Dr. José Alfredo Almeida e editadas para este blogue. Edição de J. L. Gabão para os blogues "Escritos do Douro" e "ForEver PEMBA" em Novembro de 2011. 

8/11/11

Falar sobre os Bombeiros da Régua

Jaime Luis V. F. Gabão

Falar sobre os Bombeiros da Régua não é difícil para as gentes da Régua. Ao longo da vida e do tempo acompanham-nos em um quotidiano repleto de episódios reveladores de abnegação, doação ao semelhante, generosidade desinteressada, modelos de coragem, sacrifício e por aí adiante. Difícil é para quem como eu, nado e criado até aos 9 anos de idade na sempre estimada Peso da Régua e posteriormente emigrou por força do destino e das circunstâncias para lugares distantes que juntam África, Europa e América do Sul, detalhar o caminho grandioso e beneficente para com o povo vareiro, traçado por essa Instituição já centenária em período no qual, sem abandonar espiritualmente as raízes, só vivenciei fatos da Régua por notícias, por cartas e testemunho de meu saudoso Pai, Jaime Ferraz Rodrigues Gabão quando vivo, também por estadias curtas no berço pátrio para colmatar saudades ou ainda por relatos de Amigos.
No entanto, apesar dessa ‘ausência’, dois acontecimentos marcam nitidamente a minha memoria. Um é o ‘grito’ angustiado da sirene instalada no característico ‘quartel antigo’ dos bombeiros, que ecoava tristemente por toda a Régua na minha meninice feliz, chamando os soldados da paz, ‘grito’ quase desesperado, representativo do acontecer de algum drama em algum lugar, como tantos que o Amigo Dr. José Alfredo Almeida vem descrevendo no Escritos do Douro e vou absorvendo-editando aqui pelos trópicos como se na Régua estivesse fisicamente, fruindo deste ‘milagre’ da comunicação e da informação que é a internet e que tanto nos aproxima. De tal forma ficava apavorado e trémulo em minha ingénua meninice, que buscava aconchego nos braços de minha Querida Mãe Nair ao ouvir essa sirene aflitiva, assim ela me contava... E o segundo, refere o dramático e tantas vezes evocado incêndio da Casa Viúva Lopes, já assim descrito por mim: “Na dramática noite do dia 8 de Agosto de 1953 eu estava lá, em frente à estação da Régua, junto ao muro que dá para o rio Douro, a assistir ao dantesco espetáculo. Com seis anos de idade na época, acompanhava meu Pai Jaime Ferraz Rodrigues Gabão. Nunca saiu de minha memória a beleza assustadora e dramática das chamas envolvendo o edifício enorme da Casa Viúva Lopes. Foi experiência que marca minhas lembranças com nitidez impressionante até aos dias de hoje!”. Dessa data e desse espetáculo belo, dantesco e triste emoldurado pelas sombras de uma noite de verão há 58 anos passados, resultou a morte do Bombeiro João Gomes Figueiredo, também conhecido por João dos Óculos e que o  mestre da escrita do Douro, João de Araújo Correia, homenageou em “HISTÓRIA DE UM SONETO” que pode ser lido aqui (Escritos do Douro).

Em outras paragens, os Bombeiros são-no por profissão. Auferem salário e a isso se dedicam inteiramente. Na Régua não, contava-me meu Pai, ainda em Porto Amélia-Moçambique, enquanto redigia as suas ‘Cartas de Longe’ para o ‘Notícias do Douro’ publicadas nos anos 60/70 ou à mesa de nossa casa africana, em refeições com sabor a Douro e Trás-os-Montes, elaboradas pela mão atinada de minha Querida Mãe e compartilhadas por reguenses como meu estimado Irmão Júlio Gabão, o Guedes tipógrafo, o marinheiro de fragata Zagalo, o Major Leite Pereira, ou mais destacados nas letras como o alferes Manuel Coutinho Nogueira Borges, o tenente médico Dr. Camilo de Araújo Correia (filho de João de Araújo Correia, escritores já falecidos). Todos eles, pela guerra colonial de então ou em busca de uma vida melhor, iam parar em terras de Cabo Delgado e em nossa sala de visitas sempre hospitaleira e de portas franqueadas, amenizando saudades em longas conversas dulcificadas e entremeadas por saborosos cálices de Porto e acepipes culinários, nas tardes domingueiras ensolaradas ou anoiteceres quentes de cacimbo africanas.
Pois e como dizia acima, na Régua os bombeiros são-no por amadorismo e doação desinteressada. Uns trabalham no campo, outros são empregados de balcão, outros sapateiros, comerciantes e assim para diante. E, sem proveito material adicional, nas horas vagas ou, quando avocados pela tal sirene, são Bombeiros da Régua e de todos que precisam de socorro e ajuda. Como ininterruptamente aconteceu afinal, quando no antigo e hoje abandonado cinema sentíamos a segurança tranquila da sua presença física durante as projeções, quando as velhas bancadas de madeira do campo de futebol do Peso, nos anos 50, desmoronaram (e eu junto) repletas de adeptos do SC da Régua, quando de plantão para qualquer eventual acidente em corridas de motos realizadas na beira-rio (organizadas também pelo SC da Régua de que meu Pai era diretor), quando o autocarro com estudantes se despenhou da ponte, quando as ainda existentes casas construídas à moda antiga em esqueleto de madeira se incendeiam, quando os pinhais e montes são desgastados pelo fogo do estio, quando alguém submerge no rio Douro ou quando o mesmo rio Douro, corre farto lá de Espanha e estende com indiferença fria suas águas, transformando em leito as ruas e caminhos da Régua, quando algum automóvel se acidenta nas encostas do Marão, quando alguma pessoa adoece e precisa de uma ambulância que o leve à saúde num hospital do Porto ou mais distante até, quando acompanham à última morada pessoa querida, quando e ainda hoje (assim lemos na internet) acodem um barco de turismo avariado, repleto de viajantes admiradores das belezas do recanto fluvial duriense...,  tudo e sempre num comportamento de grandeza e generosidade, sem diferenças sociais, que sobrevém ao longo de nossas vidas desde que, em “1842, a Câmara Municipal do Peso da Régua resolveu enviar um representante à Câmara dos Deputados a solicitar a concessão de uma bomba, para que na vila se pudesse acudir aos incêndios que por cá deflagrassem” e, mais tarde, quando em “28 de Novembro de 1880, nascia a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua ou Real Associação Humanitária, comandada por Manuel Maria de Magalhães”...

E tivesse eu a sabedoria atilada e conhecimento de meu querido, saudoso Pai e de Amigos que pela Régua e arredores pelejam e escrevem, permaneceria horas a fio ‘falando’ sobre os Bombeiros da Régua, contando a ode de seres anônimos, de parentes, de heróis em feitos exemplares, já fenecidos como seres físicos, mas não esquecidos como entes imortais participantes da minha vida, de muitas vidas, da História da Régua e de um dos seus maiores patrimônios, num hoje ininterrupto, estruturado e continuado na pujança de jovens Bombeiros sempre Voluntários.
Portanto, repetirei e para terminar este meu ‘desabafo’ provocado pelo Amigo José Alfredo Almeida, que é para eles e por tudo que representam minha inabalável admiração!
30 de Julho de 2011
Este post também pode ser lido no Blogue "Escritos do Douro"
Texto e edição de Jaime Luis Gabão. Colaboração de imagens do Dr. José Alfredo Almeida para o blogue "Escritos do Douro" em Agosto de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.

Falar sobre os Bombeiros da Régua
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 11 de Agosto de 2011
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5/04/11

Sport Clube da Régua - Conheça o Reguense Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Conheça o Reguense Jaime Ferraz Rodrigues Gabão
As cartas enviadas desde Porto Amélia em Moçambique sobre o Sport Clube da Régua.
Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Nasceu na cidade do Peso da Régua em 13 de Abril de 1924.
Com 68 anos, faleceu a 18 de Junho de 1992, dia do Corpo de Deus, em Lisboa - onde, uns dois meses antes, se submetera a melindrosa intervenção cirúrgica.

Tive a oportunidade de ler algumas cartas, vindas de longe, de uma comoção difícil de esquecer. Voltou a dar vida às ruas velhinhas, de comércios e ofícios, hoje fechados na própria nostalgia dos tempos e costumes que não voltam.  
Jaime Ferraz Gabão era um reguense pelo nascimento e pelo coração, mas de origem vareira. Sempre se orgulhou dessa origem. Viveu a geminação Régua-Ovar como um encontro dentro de si próprio. Seguiu-a do seu canto, pequeno mundo de livros e papéis. A falta de saúde não lhe permitiu assistir às cerimónias oficiais.
Estivesse onde estivesse, o seu coração pulsava pela Régua. São disso eloquente testemunho as HISTÓRIAS DO SPORT CLUBE DA RÉGUA e do NOTÍCIAS DO DOURO.

Jaime Ferraz Gabão foi um jornalista espontâneo. Como tantos outros expoentes do nosso jornalismo, foi homem de formação sem formatura. O sentimento dos jornais, o espírito atento e a experiência, foram fazendo dele o apreciado jornalista que veio a ser.
Nos muitos anos de África, passados em Porto Amélia, foi colaborador de quase todos os jornais moçambicanos, muito especialmente do DIÁRIO de Lourenço Marques. Neles praticou um jornalismo de noticiário oportuno e de inabalável sentimento patriótico. Quando a descolonização lhe desmantelou a vida, ficou a lamentar mais os prejuízos da terra portuguesa, do Atlântico ao Índico, que as suas próprias perdas. Foi em Moçambique um saudoso de Portugal e em Portugal um saudoso de Moçambique.

No seu regresso de África, veio a ser, pouco a pouco, a alma e a sobrevivência do NOTICIAS DO DOURO. Por fim, era ele, com a dedicação dos tipógrafos, a conseguir, em cada semana, um número difícil.
Quando o NOTICIAS DO DOURO sofreu, bruscamente, uma grande mudança de clima,Jaime Ferraz Gabão sentiu um desconforto tão inesperado como injusto. Para se recompor da enorme frustração, não lhe bastava ser correspondente do PRIMEIRO DE JANEIRO e colaborador esporádico do JORNAL DE MATOSINHOS. Precisava de mais espaço no jornalismo regional. Teve-o da magnânima e hospitaleira VOZ DE TRÁS-OS-MONTES e, depois, do ARRAIS. Com inquebrantável assiduidade, colaborou nestes jornais do seu espírito e do seu coração, até às últimas migalhas de saúde.

O Sport Clube da Régua, distinguia-o, desde 1965, como "Sócio de Mérito".
Depois de completar 50 anos de jornalismo, muitas foram as homenagens e distinções merecidas por Jaime Ferraz Gabão: Rotary Clube da Régua, Clube da Caça e Pesca do Alto Douro, Voz de Tráz-os-Montes e Arrais; "Medalha de Mérito Jornalístico" da Câmara Municipal de Peso da Régua e "Louvor pelos relevantes Serviços Prestados à Imprensa Regional" da Presidência do Conselho de Ministros.


- Peso da Régua, Junho de 1992, Camilo de Araújo Correia.*


Conheça algumas das cartas enviadas e publicadas pelo Jornal Notícias do Douro, sobre o SC Régua.
Clique nas imagens acima para ampliar
Transcrito do site - Sport Clube da Régua

Alguém disse: Cruzar a linha não é muito fácil, em especial quando não há vantagens ou ganhos em retorno. É nesta hora que você percebe e entende quem tem consideração, quem reconhece! Minha gratidão imensa ao Dr. José Alfredo Almeida, Amigo sempre presente pela pesquisa dos textos, ao pessoal do Notícias do Douro pela autorização, na pessoa do Dr. Armando Mansilha, salientando também o velho Amigo, funcionário e jornalista Fernando Guedes, que se encarregou de fotocopiar os recortes acima expostos e ao Sport Clube da Régua, a quem meu saudoso Pai ofertou amor e inúmeras horas de dedicação intensa, desinteressadas e permitiu a digitalização-publicação no site do clube. Seu pensamento-coração, mesmo longe, em terras de África (Porto Amélia, hoje Pemba), estavam também no rincão natal. - Jaime Luis Gabão, 4 de Maio de 2011.

5/10/10

De Porto Amélia a Pemba: Apontamentos de Histórias Perdidas...


Nos anos 60 esteve em Porto Amélia um médico de nome Camilo de Araújo Correia que, em 1991, publicou um livro denominado "Livro de Andanças". Desse livro extraímos:

APONTAMENTOS DE HISTÓRIAS PERDIDAS - Quando recordo o tempo de Porto Amélia, muitas vezes me salta na memória o meu amigo Armando Cepêda.

Era um homem largo, inteligente e bondoso. No carão de pugilista a linha dos olhos e a linha da boca traçavam, a miúdo, um sorriso paralelo a deixar transparecer uma acomodada filosofia de vida.

Era casado com D. Maria, senhora absoluta da Pensão Miramar. E digo senhora absoluta porque ali quem mandava era ela. Nem o marido nem os filhos davam a mínima ordem naquela nau de tripulação negra, capaz de todas as preguiças e descuidos. Com dois berros e dois cascudos aquela criadagem indolente andava numa roda viva. D. Maria era uma senhora robusta, de língua solta com sotaque do Porto.

Parecia um salpico, na costa de Moçambique, do pincel genial de Abel Salazar, em momento de inspiração tripeira. Armando Cepêda mandava na sua oficina de reparação de motores de que era especialista em Diesel. A oficina ficava na Rampa, aquela encosta medonha que nem a bordadura de acácias rubras conseguia suavizar. Medonha e obrigatória na ligação da parte alta com a parte baixa de Porto Amélia.

Passei muitas horas naquela oficina entre carcaças da mais diversa maquinaria avariada, à espera que Armando Cepêda lhe restituísse a serventia perdida. E dava gosto ver aqueles dinossauros sair de um sono pesado e regressar ruidosamente à floresta, com uma palmada na anca. Uma palmada que só o meu amigo Cepêda sabia dar.

Conseguíamos conversa entre roncos de motor e marteladas de todos os sons. E tudo servia para dois dedos de conversa, a fazer sede para dois goles de cerveja. Guardo ainda um cinzeiro de pé alto que Armando Cepêda me fez numa pausa do serviço. É a estilização de uma cobra erguida na ponta do rabo a equilibrar meio coco na fúria da cabeça.

Antes e depois de jantar, Armando Cepêda derramava o corpanzil naquelas cadeiras do jardinzinho da pensão à espera de todos os cansaços, de todos os tédios e nostalgias. Recordo ainda o perfume adocicado das magnólias que o calor da noite parecia libertar suavemente.

Os hóspedes vinham chegando, um a um, à roda das cadeiras e a eles se juntavam residentes de Porto Amélia para dois dedos de conversa. Pessoas vindas de toda a parte pelas mais variadas razões, algumas delas muito roladas pelas mais diversas geografias. Comerciantes, agricultores, médicos, funcionários públicos, engenheiros, militares, todos enleados naquele fio de nostalgia tropical que parece igualar todos os homens.

As palavras iam ficando mais espaçadas e moles com o andar daquelas noites suadas. Mas se a conversa caía sobre o mato, Armando Cepêda erguia-se um pouco da posição quase horizontal, para, pouco a pouco, dominar o assunto.

E todos nos erguíamos um pouco também para o ouvir contar histórias de camiões atolados no matope, dos perigos e dos encantos do mato. E de caça. Armando Cepêda não era, digamos, um caçador de safaris. Era caçador solitário, muitas vezes por exigência da esposa, quando a despensa fraquejava. Apertado por ela, Armando Cepêda ia ao mato abater um javali como quem vai ao fundo da capoeira buscar um frango.

Por duas vezes o acompanhei nesta caça de subsistência. A ele e ao Jacinto dos Caminhos de Ferro devo o conhecimento do mato. Sem eles a minha África teria sido pouco mais do que uma África de cidade. Jacinto era uma velha glória do Benfica. Ter sido guarda-redes das primeiras categorias era uma recordação que lhe fazia ainda rebrilhar os olhos. Jacinto era um caçador tão metódico como apaixonado. Dois pisteíros negros, o velho Land Rover, um bom farolim e a arma escolhida para o tipo de caça determinado. E eu, às vezes, graças a Deus! Sim, dou graças a Deus por ter vivido o emocionante espectáculo de andar a esmo pelo mato, com o jeep aos solavancos, farolim a esquadrinhar os espaços mais suspeitos e a surpreender os animais na intimidade da noite.

Inesquecíveis aquelas imbabalas saltitantes e graciosas como bailarinas a fugir ao palco de luz que lhes ofereciamos. E aquela sensação de liberdade plena que se experimenta, ao descansar nas quinandas, ouvindo o crepitar da fogueira e do falajar dos negros contra o silêncioprofundo do céu?Sempre me pareceu que Jacinto, mesmo a mexer na burocracia do seu emprego, tinha os olhos no mato. Tanto que, mal deixava a secretária, caía no quarto a pintar. A pintar o mato; sempre com animais em primeiro plano e, tão recortados, que pareciam postos ali depois do quadro pronto. Não era um bom pintor. As telas eram o seu mato teórico para onde gostava de ir, a qualquer hora. Uma vez, só porque me demorei um pouco mais a ver três gnus a pastar, ofereceu-me o quadro. Na bagunça do regresso, o quadro perdeu-se. E tenho pena. Estaria hoje numa das minhas paredes com as saudades da África a retocá-lo todos os dias.

De uma vez o Jacinto convidou também para a caça o Dr. Manuel Jóia, médico do «Bartolomeu Dias», ancorado na baía de Porto Amélia, em patrulha da costa de Moçambique. Foi o seu baptismo de mato. O grande entusiasmo com tudo o que ia acontecendo redobrou quando, ele próprio, abateu um javali. Entre as seis e as dez da manhã é fácil encontrá-los nas áreas da sua predilecção. Passam como carruagens de um comboio rápido. Jacinto aconselhou:

— Aponte a um dos primeiros... Pode ser que acerte num dos últimos...

E o Manuel Jóia acertou, julgando, a princípio, não ter acertado. O raio do bicho com um rombo na barriga ainda se fartou de correr como se nada fosse com ele! Depois lá caiu como se tivesse caído do comboio.

No «Bartolomeu Dias» os oficiais comeram javali até lhe chegarem com um dedo e festejaram o seu médico como um herói da selva.

Voltemos ao meu amigo Armando Cepêda. Ele era, como já lhes disse, um caçador solitário. Saía antes da madrugada e regressava antes do entardecer. Da segunda vez que fui com ele «à carne» aconteceu uma coisa que me apetece contar.

O sítio escolhido para o abate foi uma velha machamba de milho abandonada, entre Porto Amélia e Mecufi.

— Aqui é um sítio bom por causa dos restos do milho e não há macacos a denunciar a nossa presença com a gritaria — disse o Armando Cepêda, saindo da picada.

Não havia meia hora de sol, quando apareceu um javali do outro lado da pequena veiga que dominávamos completamente de onde nos haviamos instalado. Era um animal relativamente pequeno, a grunhir e a estraçalhar a um e outro lado do focinho temeroso.

Parecia nada recear e, no entanto, toda aquela energia de patas e focinho parava, de vez em quando, como se tivesse havido um curto-circuito. Depois de uns segundos de imobilização total, a fúria do javali restabelecia-se para, daí a pouco, sofrer nova pausa.

— O bicho está desconfiado... eles são muito desconfiados... — disse Armando Cepêda, à boca pequena, sem tirar os olhos do javali.

Como vinha na nossa direcção, a certa altura ficou a uma boa distância de tiro.

— Então?! — perguntei baixinho.
— Quanto mais perto o abatermos, menos custa a arrastar para o jeep...
— Pois é... —  disse, reconhecendo a minha inexperiência.

Armando Cepêda sorriu aquele sorriso de linhas paralelas.

Quando o javali ficou a uns trinta metros, perguntou-me se queria atirar.

— E se falho e não aparece mais nenhum? Não podemos aparecer à D. Maria de mãos a abanar!...
— Deus nos livre!... Ninguém a aturava!...

Soaram dois tiros com intervalo de um segundo. O javali caiu no meio da erva como um saco de batatas.

Com um arame atado às patas de trás e um pau atravessado na outra ponta foi fácil arrastá-lo até ao jeep.

O «mata-bicho» à sombra daquela mangueira isolada no mato rasteiro, ainda hoje me sabe. D. Maria era uma senhora farta. Arranjou-nos um farnel que dava para atravessarmos a África. Fígado de cebolada, meio metro de omelete, carne assada, queijo, muito pão, cerveja e água mineral. Do começar ao palitar, foi uma larga hora a comer. A comer e a contar coisas.

No fim de arrumar a tralha, com o método e a lentidão que o caracterizavam, disse o Armando Cepêda, já todo contente com a ideia:

— Vamos cumprimentar o meu amigo Rosas! É chefe de posto aqui perto. Vai ficar todo contente!

Era realmente ali perto e o senhor Rosas ficou todo contente. Quis logo que nos sentássemos na varanda e foi dizendo:

— Vindes em boa altura! Tenho uma esplêndida carne de búfalo novo; vou já arranjar uns bifes e umas costeletas...
— Para mim, não! — cortei, aflito.
— Ora essa!... Por quê?! — admirou-se o senhor Rosas.
— Desculpe... é que acabámos agora mesmo de comer este mundo e o outro...
— Bem... Bem! — respondeu desalentado, mas logo a berrar lá para dentro:
— Hassan!

Apareceu um negro, a limpar as mãos, a fazer vénias e a sorrir de orelha a orelha.

— Prepara uns bifinhos e umas costeletas daquela carne... com aquele molho... Tu sabes como é!

Hassan sabia como era. Meia hora depois, apareceu na varanda com uma travessa enorme no meio de uma pequena mesa portátil, já posta para três pessoas. O cheiro da carne apanhou-me de surpresa. Era de tal maneiras agradável e penetrante que até as glândulas salivares me doeram!

— Vai uma pontinha, doutor, só para provar? — perguntou-me o senhor Rosas de olhinho irónico.
— Isso cheira pela vida... — consegui dizer em plena vertigem.

A pontinha de carne que o senhor Rosas me pôs no prato «só para provar» foi uma costeleta do tamanho de uma raquete de ping-pong espessa, suculenta e aromática...

A princípio com uma certa cerimónia e depois com uma certa gula lá fui andando pela costeleta fora. Acabei a «raquete» como mandam as regras: pegando-lhe pelo cabo... Quando pousei o osso rapado, diz-me o senhor Rosas com sorriso de vitória:

— Então, doutor, estava boa?

A vitória não foi do senhor Rosas. Foi da África. Daquele sentir tudo de novo, como uma estreia dos sentidos, em cada momento que passava.

Conheci Megama Abdul Kamal muito antes de o vir a encontrar, frequentemente, na Pensão Miramar.

Megama era régulo do Chiure, com influência religiosa numa larga faixa de terreno entre o Rovuma e o Lúrio. Homem abastado, senhor de terras e camiões, era também transportador habitual da grande companhia algodoeira Sagal.

Fui a sua casa a convite do Armando Cepêda, chamado a consertar o motor de um poço. Nas apresentações vi que eram grandes amigos. Julgo que, por isso, Megama me olhou logo com respeito e franqueza, sem duvidosa humildade dos negros daquele tempo.

O motor ficou composto num instante. Nós levámos mais tempo... Megama quis que provássemos de todos os seus petiscos. Seu era também o café, da planta à chávena. A mâozada firme e confiante com que nos despedimos havia de repetir-se, vezes sem conta, por todo o meu tempo de Porto Amélia.

No regresso ao jeep, ouvi falas e risinhos por detrás de uma paliçada. Notando a minha estranheza, Armando Cepêda logo me esclareceu:

— São as mulheres de Megama...

Na cidade, vim a saber pelo Jaime Ferraz que deveriam ser umas sete... Em Porto Amélia o Jaime sabia um pouco de tudo!

Um dia, Megama apareceu no Hospital Militar todo dobrado e cheio de dores. Era uma hérnia estrangulada, há três dias... Os cirurgiões costumam «berrar» com os doentes por virem tão tarde, em evidentes situações de solução cirúrgica. Mas o Dr. Manuel Simões Coelho não berrou. Tratava-se de Megama Abdul Kamal! E por se tratar de tão importante personagem o post-operatório teve aspectos de peregrinação.

Vinham negros de toda a parte, trazidos por aquele fio invisível que é o sentimento religioso, temperado na fé e na obediência.

Com o vai e vem da gentiaga, a vida do hospital acabou por se perturbar. Ao ponto de, pelo terceiro dia, o Simões Coelho me pedir:

— Tu, que és todo amigo do Megama, podes garantir-lhe que está livre de perigo, que tudo vai correr bem... e pedir-lhe que faça constar as suas melhoras, a ver se acaba esse corrilório!...

Assim fiz. Megama compreendeu e actuou muito bem. As visitas acabaram de um dia para o outro. Nem umas só voltou a aparecer! Ainda hoje me espanta o extraordinário poder de comunicação dos negros naquelas lonjuras primitivas, sem rádio, sem telefone e sem correio.

Armando Cepêda era um caso curioso de fotógrafo. Nem amador, nem profissional. Era fotógrafo de ocasião, para ganhar uns cobres suplementares. Essa ocasião surgia quando os indígenas precisavam de retrato para a caderneta. Dava-lhe jeito aproveitar os domingos, que no mato não têm qualquer significado. Era sempre recebido nas aldeias com grandes manifestações de contentamento. Nas pausas da algazarra, fotografava quatro negros de cada vez, sentados numa tábua. Depois, no «estúdio», a tesoura lá os separava. No domingo seguinte, a caminho de outra, passava pela aldeia fotografada e distribuía os retratos. Havia corridinhas e gritos de alegria, com todos a querer ver a cara de cada um no retalhinho de papel.

Um dia houve um pequeno acidente... Toda a gente parecia satisfeita, quando apareceu uma reclamação, já com o jeep a ronronar a partida.

— Patrão!... Patrão!... esta não é do nosso!
— Não é tua?! É tua, sim senhor!! — garantiu Armando Cepêda olhando para o negro e para o retrato.
— Não é!... Não é!... Nosso não tem chapéu!

Armando Cepêda sabia lidar com os negros. O grande respeito e admiração que lhes infundia emanava do seu grande espírito de justiça e bondade. Além disso, era um branco forte, compunha máquinas e matava leões.
:: O saudoso Armando Cepêda (Pai) ::

Não teve a mínima dificuldade em desfazer o equívico. Pôs a mão no ombro do negro e sossegou-o, assim:

— Ah!... o chapéu?... Fui eu que pus. É saguate! (brinde, oferta).

Os olhos do negro rebrilharam com aquela gorjeta inesperada. Depois vieram as palavras de gratidão de uma boca babada de riso:

— Brigado, patrão!... Brigado, patrão!...

E partiu, a misturar-se com os outros. Talvez a fazer-lhes inveja.
- Por Camilo de Araújo Correia, Livro de Andanças.

(Transferência de arquivos do sitio "Pemba/Régua" que será desativado em breve)

5/05/10

Retalhos: De Porto Amélia a Pemba - Memórias a preto e branco...

Entre cidades irmãs (Ovar e Régua) fala-se do construtor de Porto Amélia - Pemba - Afonso Henrique Andrade Paes.
- Transcrição - Jornal João Semana - Ovar - 1 de Junho de 2004.

Achámos curiosa e digna de registo esta referência do Dr. Camilo de Araújo Correia, filho do grande escritor João de Araújo Correia, a um Vareiro que conheceu bem em Porto Amélia, Moçambique, publicada no jornal "O Arrais", da Régua.

“(...) No meu tempo, o grande construtor civil de Porto Amélia era o arquitecto Afonso Henriques de Andrade Paes. Os seus camiões amarelos com grandes letras da cada lado (A.H.A.P.) estavam sempre a passar e repassar.

O encarregado das obras de Andrade Paes era um homem simpático, eficiente e surdo. Para ir ouvindo alguma coisa, usava um aparelho. Um aparelho auditivo de quarenta anos... Constava de uma grande pilha metida no bolso do lado esquerdo do peito e de um fio que, partindo daí, terminava numa oliva introduzida no ouvido. Foi este fio que veio a caracterizar o homem de confiança de Andrade Paes. Entre negros era conhecido por "mucunha narame" (senhor arame).

Porto Amélia... Porto Amélia...”
- Camilo de Araújo Correia ("O Arrais")

O Arquitecto Afonso Henriques Andrade Paes, natural de Válega (da família Soares Paes, comerciantes em Ovar), formado na Escola de Belas Artes do Porto, casado com a escritora Glória de Sant’Ana, nossa ilustre colaboradora, partiu, aos 25 anos, para Moçambique, onde fez trabalhos da sua especialidade em Nampula, cidade que o acolheu por 2 anos e onde fez o seu 1° projecto de construção civil, e em Porto Amélia, para onde partiu, a pedido do Governador, que lhe encomendou um projecto de casas sociais, ali constituindo a sua empresa (A.H.A.P) de Arquitectura, Engenharia e Construção.

Obs.: As cidades de Ovar e Peso da Régua são consideradas "Irmãs"... Existe em Ovar a "rua da Régua" e na Régua a "rua das Vareiras".
*Vareiros(as) são designados os naturais de Ovar.

E é bom lembrar e repetir que as ruas e recantos de Pemba sempre irão "falar" deste seu incansável obreiro...
Muitos durienses viveram e visitaram, quando Moçambique era colónia portuguesa, essa bela cidade, capital da província de Cabo Delgado ao norte de Moçambique. E visitam ainda hoje. Por lá também andou e viveu o saudoso jornalista Jaime Ferraz Rodrigues Gabão... e de lá escrevia as inesquecíveis "Cartas de Longe" para o semanário duriense Notícias do Douro. Tudo isso antes de 1975... Tentando preservar algumas imagens dessa época que já é história, aqui deixamos o endereço do ForEver PEMBA (blogue)  que tenta retratar a Porto Amélia de muitos de nós, portugueses e durienses que a conhecemos com encanto e ajudamos a construir.
- J. L. Gabão


(Transferência de arquivos dos sitios "Peso da Régua/Pemba" que serão desativados em breve. Este post  é reproduzido em simultâneo no blogue "Escritos do Douro")

9/08/09

Encontros com Amália Rodrigues

(Clique na imagem para ampliar. Composição sobre uma imagem original de Compujeramey)

Texto do Dr. Camilo de Araújo Correia, intitulado "Encontros com Amália", publicado no livro "Crónicas do meu Vagar", da Garça Editores - Régua:

O meu fado é o de Coimbra. Lá o ouvi noites sem conta e muitas vezes, em momentos de nostalgia, o vou buscar a uma caixa negra, a troco de uma "bolacha”. Mas vindo de uma caixa negra, com toda a sua pureza electrónica, não é bem fado. Falta-lhe o negrume das capas, o recorte dos beirais no céu estreito, os passos abafados ao fundo da ruela, as janelas a iluminarem-se como corações agradecidos... Falta-lhe a noite. E não há noite que saia de uma caixa negra a troco de uma “bolacha”.

É rica a galeria de cantores do meu tempo de Coim­bra. Alguns nomes se apagaram já. Outros me acompanharão até ao fim da memória. Augusto Camacho, Luís Gois, Alexandre Herculano, Anarolino Fernan­des, Florêncio, Branquinho...

O fado de Coimbra só canta o amor e a saudade, na sua expressão mais pura. E só os homens o podem can­tar. Só eles conhecem bem o cristal da noite.

Nunca o fado de Lisboa me atraiu apaixonadamente. Os dramas de faca e alguidar, as infídelidades e outras airrelias sentimentais, cantadas por homens e mulheres em ambientes fechados, raramente me pareceram sin­ceros. E digo raramente, porque houve sempre duas excepções: Alfredo Marceneiro e Amália Rodrigues.

A voz rude, quase murmurada, de Alfredo Marceneiro sempre me pareceu a própria noite a arrastar-se pelas vielas. Transmitia-nos o doloroso fatalismo dos boémios.

A voz de Amália Rodrigues tinha lonjuras de infinito. Ia longe buscar sentimentos que pareciam de vibração perdida. Chegava a provocar em nós um estranho desejo de sofrer, na feliz expressão de Cesário Verde.

Tive com Amália três encontros. Apesar de fortuítos, ainda hoje os recordo como três baptismos de fado.

Nunca o S. João do Largo do Castelo foi tão animado como em 1947. Amália, a filmar em Coimbra as Capas Negras, apareceu por lá e meteu-se na roda. Quando um calmeirão do alto do palanque, armado no centro, comandou todos ao meio de mãos dadas, a minha mão direita encontrou-se com a mão esquerda de Amália. Ainda a Amália não era a Amália que deveria ser, mas aquele minuto, de mão na sua mão, ainda hoje o sinto como página marcada no meu álbum de vaidades.

A República do Rás Teparta era logo ali, na Rua dos Estudos. Amália, com o seu grupo das filmagens e nós, os mais chegados da república, fomos lá acabar a noite. O riso, o fado e o vinho jorraram de mãos dadas e nunca uma rainha foi tão rainha.

O segundo encontro foi nas festas de Santa Eulália em 1951. Era eu oficial em Elvas, no Batalhão de Caçadores 8. Nós, os nossos camaradas de Lanceiros 1 e meio Alentejo em redor acorremos às festas para ouvir Amália, de nome já a cantar nos cartazes, há muitos dias. Talvez por sobressaírem mais os nossos aplausos e apartes, Amália veio no fim da actuação à nossa mesa passar uns minutos. Como não se usava o beijinho, houve mãozadas e frases de circunstância.

O último encontro com Amália foi no Hospital da Régua, não sei precisar há quantos anos. Cerca de trinta... Mal soube do acidente do marido na estrada do Pinhão, Amália apareceu num pé-de-vento. Com mil perguntas nos olhos me interpelou num corredor. A sua mão nervosa mal se demorou na minha.

Quando Amália nos deixou, voltei a sentir a capa, a farda e a bata para lhe dizer adeus.
- Camilo de Araújo Correia, 23Mar2000 - Cedido gentilmente por J A Almeida para Escritos do Douro e ForEver PEMBA, Set2009.

Outros post's que falam do médico e escritor, Camilo de Araújo Correia, que, no passado ainda recente, amou Pemba:

8/06/09

Buscando no tempo lá pelo Douro: Recordações da visita do Presidente da República General Ramalho Eanes

(Clique na imagem para ampliar)

Em atenção aos "vareiros" que nos lêm e visitam por esse mundo virtual afora, alguns post's irei trazendo de um outro blogue ("Escritos do Douro") onde se fala do Douro em Portugal, da cidade de Peso da Régua, de sua história e cultura, de personagens que marcam e dão exemplo e de outras coisas mais que não só da "vinha e do vinho do Porto", de Pemba e Moçambique...:
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Uma curiosa fotografia de um grande momento na história dos bombeiros da Régua, em que alguns fotógrafos são “apanhados” – ao centro destaca-se o Sr. Noel de Magalhães - a procurarem registar o acontecimento: a apresentação da guarda de honra do corpo activo pelo Comandante Carlos Cardoso dos Santos ao Presidente da Republica General, Ramalho Eanes que, no dia 14 de Setembro de 1980, presidiu à cerimónia da sessão solene do 24.º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, realizado no Peso da Régua.

A organização deste Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses - que se realiza bianualmente para discutir os problemas e os anseios no associativismo e no voluntariado - pelos bombeiros da Régua é já uma das páginas mais brilhantes da história da Associação.

Deve recordar-se que, até aos nossos dias, foi a primeira Associação do distrito de Vila Real a assumir a responsabilidade de organizar uma reunião magna dos bombeiros portugueses. Uma decisão acertada da direcção presidida pelo Dr. Aires Querubim e do Comandante Carlos Cardoso dos Santos que contou com o apoio inexcedível de Rodrigo Félix, um homem que valorizava o passado glorioso dos bombeiros, presidente da direcção da Federação dos Bombeiros do distrito de Vila Real.

Com a realização do Congresso, a Associação e os bombeiros da Régua ganharam notoriedade e reconhecimento no país. Cumprindo e respeitando o espírito dos fundadores, afirmava-se neste momento como pioneira, activa e orgulhosa de um passado cheio de história e de um futuro cheio de ambição, ao comemorar nesse ano o aniversário dos seus 100.º anos de existência.

Os bombeiros portugueses fizeram uma festa na cidade da Régua que ganhou colorido, um movimento anormal e mais animação turística, num tempo em que escasseavam os hotéis, as residenciais e até os restaurantes para receber tantas pessoas. Conhecendo bem algumas das dificuldades da logística, o Presidente da Câmara, o socialista Renato Aguiar, desde o primeiro instante, apoiou e acarinhou com todos os meios possíveis a iniciativa para que o maior número de participantes ficasse pela cidade. Como a capacidade de alojamento era insuficiente o Regimento de Infantaria do Porto emprestou colchões pneumáticos e cobertores para as dormidas.

Os trabalhos do Congresso decorreram na plateia do velho Cine -Teatro Avenida que fica, ali mesmo, nas imediações do Quartel. A Missa Solene foi celebrada pelo Padre Vítor Melícias num altar montado no Largo Comendador Delfim Ferreira, em frente do Palácio da Justiça e teve a participação para os cânticos religiosos do magnifico Coro de Nossa Senhora do Socorro, superiormente dirigido pelo maestro José Armindo. A essa cerimónia religiosa fizeram-se representar todos os corpos de bombeiros nacionais, com os seus homens do comando nas filas da frente, como era o caso do grande Comandante Armando Cardoso Soares, da AHBV do Dafundo.

A população acompanhou e assistiu com bastante entusiasmo e interesse a todas as manifestações públicas dos bombeiros. As ruas da cidade encheram-se de pessoas para verem os desfiles dos soldados da paz e dos seus carros.

Os pormenores mais significativos da visita presidencial foram destacados na revista comemorativa, na crónica “Recordando a visita do Presidente da República General Ramalho Eanes”, assinada pelo saudoso jornalista Jaime Ferraz (foi um grande director do jornal reguense “Noticias do Douro”), que temos a honra de o lembrar:

“Quando o Congresso dos Bombeiros realizados nesta vila, de 10 a 14 de Setembro, tivemos a honra da presença do Primeiro Magistrado da Nação, General Ramalho Eanes que, além de presidir à sessão solene que todos devem estar recordados se realizou no Cine -Teatro Avenida no dia 14-9-80 bem como as outras solenidades, assistiu ao cortejo das corporações, numa tribuna, para o efeito erigida junto ao edifício da Casa dos Douro.


O Presidente da República, além da respectiva comitiva, fez-se acompanhar da sua esposa e sua presença no referido congresso foi umas das principais notas que se podem recordar e enaltecer.

Os bombeiros voluntários da Régua fizeram a respectiva guarda de honra com todo o seu corpo activo formado junto do Quartel, tendo depois o Presidente da República passado revista à Corporação, e felicitado o respectivo Comandante Carlos Cardoso dos Santos, pela forma como soube apresentar-se e que constituiu um dos pontos fulcrais da visita presidencial”.

Para a história, o acontecimento ficará ainda assinalado pelo aniversário dos 50 anos da Liga dos Bombeiros Portugueses. O Presidente da República, compreendendo o significado de tal data, reconheceu na Régua os seus valiosos serviços públicos, ao condecorar o seu estandarte com o Grau de Membro Honorário da Ordem Militar de Cristo.

As conclusões mais importantes do Congresso da Régua - que elegeu o Comandante Manuel de Almeida Manta para Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses - diziam respeito à protecção social ao bombeiro voluntário.

O assunto mereceu séria reflexão e, essa exigência considerada muito importante para a condição dos bombeiros, veio a ser aprovada numa deliberação que determinava para “no mais curto espaço de tempo possível, se elabore, discuta e faça aprovar um Estatuto Social do Bombeiro Voluntário como garante dos direitos e deveres de verdadeiros Soldados da Paz”.


Acontece que esse objectivo só veio a ser alcançado alguns anos mais tarde. Em primeiro lugar, com a criação de um Fundo de Socorro Social destinado ao auxilio imediato dos familiares dos bombeiros acidentados em serviço e à promoção de outras acções sociais, consagrado com a publicação da Portaria nº 237/87, de 28 de Março. E, logo de seguida, foi conseguido o pretendido Estatuto Social do Bombeiro, estatuído pela aprovação da Lei nº 21/87, de 20 de Junho.

A década dos anos 80 trouxe profundas e importantes mudanças para a organização institucional dos bombeiros. São reconhecidas várias reivindicações defendidas pelos bombeiros. O poder politico dá os primeiros sinais positivos ao estabelecer as bases administrativas do sector dos bombeiros com a instituição de um organismo denominado “Serviço Nacional de Bombeiros” (Lei nº10/98, de 10 de Março, o Dec.-Lei nº 212/80, de 9 de Junho e o Dec.-Lei nº418/80, de 29 de Setembro), para a presidência do qual era nomeado o Padre Vítor Melícias.

Algumas dessas transformações passaram nos debates do Congresso da Régua que analisado hoje nessa perspectiva, pode dizer-se que fez história ao marcar a viragem de um novo tempo na afirmação dos bombeiros portugueses, com algumas significativas conquistas. Essa circunstância deve ter contribuído para motivar a comparência de uma grande afluência de delegados – bombeiros e directores - no Cine -Teatro Avenida, para participarem nos trabalhos e intervirem nos debates dos assuntos mais preocupantes.

Não admira que, decorridos 19 anos, este 24.º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, que encerrou com a presença do Ministro da Administração Interna, Dr. Eurico de Melo, esteja vivo na memória de muitos dos seus protagonistas.

Mas, esta fotografia tem outro valor histórico. Ela mostra a fotografar este importante acontecimento, o Sr. Noel de Magalhães, um conhecido e distinto director dos bombeiros da Régua em vários elencos directivos ao longos de várias décadas, bisneto do 1º Comandante Manuel Maria de Magalhães, distinguido com o crachá de Ouro da Liga dos Bombeiros Portugueses, que nasceu em S. João da Pesqueira, em 12 de Outubro de 1921.

É um homem dos bons que deixa o seu nome ligado aos bombeiros da Régua e a “obras de bem fazer”. E, é para nós um artista: um fotografo amador de grande qualidade. Ele lega-nos para a posteridade as suas melhores imagens do nosso Douro, como alguém as definiu, repletas de “pureza e beleza da genuidade humana…sobretudo quando acontece o mistério da fé duriense, ou a transformação do suor em vinho, entre sorrisos dos rapazes e das mulheres, colhendo a novidade, que misturada com a alegria escorreu pelas pernas dos homens, em cada lagarada”.

Conta, na sua vida, 88 anos. Olhando-o de perto, nem parece ter tantos, felizmente! Temos a sorte de o conhecer e de com ele partilhar a amizade dos pequenos momentos do dia a dia. Ficamos eternamente mais ricos com o seu convívio.
Ainda bem… para nós e para os bombeiros da Régua.
- Peso da Régua, Julho de 2009, José Alfredo Almeida.


- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • Memórias dos Bombeiros em Poiares com os Salesianos - Aqui!
  • As vidas que não se esquecem nos Bombeiros - Aqui!
  • Os bombeiros de escritório - Aqui!
  • Bombeiros Semi-Deuses - Aqui!
  • As "madrinhas" dos Bombeiros - Aqui!
  • A benção da Bandeira - Aqui!
  • Comandante Lourenço de Almeida Pinto Medeiros: Fidalgo e Cavaleiro dos Bombeiros da Régua - Aqui!
  • A força do voluntariado nos Bombeiros - Aqui!
  • A visita do Presidente da Républica Américo Tomás - Aqui!
  • Uma formatura dos Bombeiros de 1965 - Aqui!
  • O grande incêndio dos Paços do Concelho da Régua - Aqui!
  • 1º. de Maio de 1911 - Aqui!
  • Homens que caminham para a História dos bombeiros - Aqui!
  • Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses - Aqui!
  • Os bombeiros no velho Cais Fluvial - Aqui!
  • O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui!
  • A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
  • Os Bombeiros no Largo da Estação - Aqui!
  • A Tragédia de Riobom - Aqui!
  • Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui!
  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!