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9/12/09

HIV/SIDA: MAU ATENDIMENTO NO HOSPITAL PROVINCIAL DE PEMBA!

Com apoio das organizações Movimento de Acesso ao Tratamento em Moçambique (MATRAM) e Comunidade Sant’Egidio, várias associações de pessoas vivendo com HIV e Sida entregaram nesta sexta-feira, 11 de Setembro, à Direcção Provincial de Saúde de Cabo Delgado, um documento com relatos de mau atendimento de pacientes no Hospital Provincial de Pemba.

Conforme o documento, Cassamo - paciente que não quis identificar seu apelido - denuncia que o pessoal de saúde está a divulgar o seu estado serológico para outros doentes daquela unidade.

Mariamo contou que já não recebe serviços de aconselhamento, o que o motivava na aderência ao tratamento; e Júlia criticou o facto de chegar numa consulta e não ser atendida porque os trabalhadores da saúde não encontraram seu processo clínico.

A activista Ana Muhai, do programa DREAM, da Comunidade Sant’Egídio, acredita que todos esses problemas são decorrências directas do encerramento dos Hospitais de Dia.

“Está a ser dolorosa esta atitude do Governo. Conheço muitos seropositivos que chegaram a ficar um mês sem tomar antiretrovirais depois que isso ocorreu”, lamentou.

Criados em 2003, com o intuito de proporcionar um atendimento especializado aos seropositivos, os Hospitais de Dia não faziam internações, apenas atendimentos de rotina, quase sempre relacionados ao início ou à manutenção do tratamento contra a Sida.

Entretanto, por um decreto do Ministro da Saúde, Paulo Ivo Garrido, os Hospitais de Dia foram encerrados recentente, com o propósito de descentralizar o tratamento antiretroviral.

A ideia, segundo o chefe da pasta da Saúde, é que o tratamento seja feito nos hospitais gerais, de modo a garantir um atendimento uniforme e mais abrangente.

Mas por enquanto, de acordo com várias pessoas vivendo com HIV e Sida, como as das associações Esperança de Vida, Ajuda ao Próximo, Mawazo, Karibo, Kaeria, Wiwana, entre outras de Cabo Delgado e de todo país, não está a acontecer.

Cabo Delgado, segundo as estimativas da Ronda de Vigilância Epidemiológica do HIV referente a 2007, tem uma prevalência do HIV de 10 por cento entre as mulheres grávidas.

A prevalência nacional, entre as mulheres grávidas, é de 16 por cento, enquanto nos adultos de ambos os sexos é de aproximadamente 14 por cento.

Redacção da Agência de Notícias de Resposta ao SIDA. DICAS DE ENTREVISTA - Ana Muhai http://www.santegidio.org/; MATRAM - Tel.: 21 400147 e.mail - matram@tvcabo.co.mz

Fontes:

Acrescento: E agora Sr. Ivo Garrido? E agora Sr. Guebuza? E agora, ilustres governantes de Moçambique? Teorizar é fácil... Mas da teoria à prática a distância é abissal. E as consequências em sofrimento e vidas humanas perdidas, castigadas injustificada e inútilmente, também!

8/14/09

Agência de Notícias da AIDS lança portal em Moçambique

Amiga diz-me via net: "Aqui em Lichinga as pessoas morrem como tordos. Expectativa de vida = 33 anos".

Leio no novo portal lançado em Moçambique da Agência de Notícias de Resposta ao SIDA: "O Governo acabou com os Hospitais de Dia sem nos auscultar. Não somos cabritos que eles podem mudar de pasto - Júlio Mujojo, secretário nacional RENSIDA".

A doença continua ampliando tentáculos por todo o Moçambique. A população mais atingida, por ser maioria pobre também em recursos de informação e combate, não dispôe de meios para se expressar e protestar a nível internacional. E sofre calada, conformada, "morrendo como tordos" ou "cabritos abandonados no pasto"...

O alheamento das autoridades moçambicanas é notório e chocante. Preocupam-se mais com as próximas eleições e a perpetuação do rentável "poder". E a "novela da vida" dramática de milhares de moçambicanos que sonham viver mais de 33 anos e ainda, com a verdadeira, almejada e nunca alcançada indepêndência, vai continuando num quotidiano onde se "criam" factos e notícias "auspiciosas" que poderão render ou comprar "votos" nessa "novela" sem-fim...

Chegou em boa hora esse portal. Que seja independente, útil e tão cáustico para com os responsáveis (ou irresponsáveis) pela saúde do cidadão moçambicano, como o é essa maldosa ou maldita SIDA para com o povo humilde e pobre!


  • Agência de Notícias de Resposta ao SIDA - Aqui!


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7/08/09

Ecos da imprensa Moçambicana: Perto de 15OO doentes abandonam tratamento...

Cerca de mil e quinhentos pacientes infectados pelo Sindroma de Imunodeficiência Adquirida, SIDA, na província de Nampula, abandonaram o tratamento antiretroviral que vinham usufruindo, segundo estatísticas do sector da Saúde relativos ao intervalo entre o ano de 2007 a esta parte, período em que foram testados positivos pouco mais de dezassete mil pacientes num universo de 58.785 suspeitos de viver com o vírus do HIV ao nível das unidades sanitárias locais.

O sector da Saúde naquela parcela do país que esteve reunido em mais um conselho coordenador provincial debruçou-se em torno das acções levadas a cabo no sentido de conter os níveis de infecção pela chamada doença do século e concluiu que 599 pacientes que sofriam infectados pelo HIV/Sida morreram no período em análise.

No entanto, do universo de pacientes vivendo com o HIV/Sida ao nível da província e que abandonaram o tratamento antiretroviral, 434 retomaram voluntariamente ao uso da terapia para debelar os efeitos daquela doença de transmissão sexual.

O abandono pelos pacientes da terapia contra os efeitos do HIV/Sida em Nampula é interpretado pelo sector da Saúde como estando ligado a dificuldades de acesso a alimentos com nutrientes que possam fazer face aos efeitos colaterais dos antiretrovirais, aliada às longas distâncias que têm que percorrer para atingir a unidade sanitária mais próxima, estimada actualmente em 25 quilómetros contra o dobro em 2005.

No entanto, a Saúde naquela parcela considera que as transferências constantes de um distrito para o outro dos técnicos do sector com treinamento para administração dos antiretrovirais são factores que estimulam o abandono do tratamento. É que os pacientes sentem quebrado o segredo do seu estado serológico em relação ao HIV/Sida quando de tempos em tempos tem que lidar com um outro profissional da Saúde para administração dos anti-rectrovirais.

O sector da saúde recomendou no referido encontro o abandono desta estratégica, adicionalmente reforçar o seu quadro de pessoal dos distritos com psicólogos para que possam jogar um papel motivador junto dos pacientes no concernente à pertinência do uso da terapia antiretroviral.

Os distritos que têm merecido uma atenção especial dos programas de prevenção e combate ao HIV/Sida por parte do sector da Saúde em Nampula são de Eráti, Meconta, Malema, alem de Nacala-Porto, Ribáuè incluindo a cidade de Nampula, que tem uma taxa de incidência da doença superior a media da província.

Flávio Wate Director Provincial da Saúde em Nampula, precisou que a pandemia do HIV/SIDA afecta seriamente a força onde os funcionários do seu sector não são uma excepção. Acrescentou que o seu sector vai reforçar as acções de divulgação das medidas preventivas contra aquela doença mortífera, privilegiando os grupos vulneráveis. A taxa de incidência do HIV/SIDA em Nampula é de oito por cento, numa população estimada em quatro milhões de habitantes.
- Maputo, Quarta-Feira, 8 de Julho de 2009:: Notícias.

6/23/09

Ronda pela imprensa moçambicana em vésperas de eleições: Guebuza "vira o disco e toca o mesmo" !

Guebuza repete o mesmo discurso do passado e dos “sucessos”: [António Frangoulis e António Niquece, ambos deputados pela Frelimo, concordam que o informe ontem apresentado pelo chefe do Estado no Parlamento, é repetição do que o Governo foi dizer aquando das respostas às perguntas dos deputados, e justificam que não podia ser informe diferente, pois “ele é o chefe do mesmo governo”.]; [A Renamo boicotou o informe do chefe do Estado, justificando que “Guebuza e o seu partido estão a combater o diálogo democrático no país”, por isso “a Renamo não coabita com pessoas que a princípio excluem os demais partidos democráticos”.]

Maputo (Canal de Moçambique) – Armando Guebuza despediu-se ontem do Parlamento. Esteve na Assembleia a prestar o seu último informe sobre o estado geral da Nação e não disse nada de novo. Repetiu o que os ministros do seu governo estiveram a dizer aos representantes do Povo na última sessão de perguntas ao Governo.

A informação de Armando Guebuza, que para além de chefe de Estado é também presidente do Partido Frelimo, foi essencialmente uma repetição dos discursos que apregoam “sucessos alcançados pelo executivo sob sua liderança”, os mesmos que vêem sendo propalados desde o início de Abril do presente ano, quando o governo tornou público o balanço de meio-termo do presente quinquénio que afinal de contas termina já daqui a meses dado que estão já agendadas para 28 de Outubro as 4.ªas Eleições Gerais (Presidenciais e Legislativas) que desta vez decorrerão em paralelo com as 1.ªs Eleições para as Assembleias Provinciais.

Guebuza não disse mais nada para além do que tem sido propalado pelos seus ministros em todas ocasiões que têm a oportunidade de falar ao público. O que ontem o chefe do Estado fez também não foi mais do que o resumo do que foi dito pelos seus ministros nos dias 3 e 4 de Junho corrente quando estes foram ao parlamento responder às perguntas dos deputados sobre o grau de cumprimento do plano quinquenal do governo.

Sobre os célebres “7 milhões”: Sobre os já muito falados “7 milhões” o chefe de Estado repetiu o jargão que já se tornou useiro e vezeiro. “Com os sete milhões iniciámos uma mudança de paradigma de desenvolvimento, onde o beneficiado passou a ter o papel de protagonista neste processo”, disse Armando Guebuza. Referiu-se igualmente aos sucessos alcançados com a locação dos “célebres” 7 milhões aos distritos e repetiu o discurso de êxitos: “emergência de pequenos empresários locais de agro processamento...; início de prestação de mais serviços a nível do distrito; aumento de produção, da produtividade e de áreas de cultivo...”. Não fez qualquer menção aos protestos que em presidências abertas lhe têm sido dados a conhecer, pelos oradores em comícios, sobre o uso dos tais sete milhões anuais que já por mais de uma ano consecutivo andam a ser distribuídos pelos 128 distritos do país.

Abastecimento de água: Sobre água o presidente da República disse que “a taxa de cobertura em abastecimento nas zonas rurais subiu de 40%, em 2004, para 52%, em 2008”.

Adversidades: Como obstáculos enfrentados pelo País durante o mandato em que ele é guia
os destinos da nação, Armando Guebuza falou da “crise de petróleo, subida do preço dos cereais, actual crise financeira”, actos de xenofobia na Africa do Sul,” no plano externo. Enumerou depois as “calamidades naturais cíclicas, queimadas descontroladas, explosão do paiol de Mahlazine”, como sendo os obstáculos internos que travaram o desenvolvimento do país.

Para não variar, ressalvou que apesar dos constrangimentos não houve crise: “...implementámos medidas intersectoriais que resultaram na mitigação dos efeitos dessas perturbações e crises”.

Na Educação fala de quantidade e não de qualidade: Guebuza falou entretanto do aumento de número das escolas do ensino geral. Segundo ele foi de cerca de 10 mil, em 2004, para 12 mil em 2008. Acrescentou que aumentou o número de ingressos: de cerca de 4 milhões, em 2004, para 5 milhões, em 2008. Falou ainda dos 7 mil profissionais graduados em escolas de ensino técnico profissional até 2008, contra cerca de 4 mil graduados até 2004; aumento de 17 instituições de ensino superior de 2004 para 38 instituições da mesma categoria de ensino em 2008. Foi assim que o chefe do Estado abordou o actual estado da educação no país, sem tocar na componente qualidade que é largamente e assumidamente tida como “péssima” pelos cidadãos deste país.

Saúde: No sector da saúde, Guebuza reclamou sucesso no combate à malária, tuberculose, eliminação da lepra, pronta resposta às altas taxas de infecções das populações pelo HIV/Sida. “Pela primeira vez nos últimos 20 anos, o número de casos de malária e de mortes por esta doença registou uma redução progressiva”, disse.

Na mesma tónica de reclamar sucessos alcançados durante a sua governação, Guebuza falou do equilíbrio de género, assistência social aos necessitados, agricultura, combate à criminalidade, corrupção, medidas de profissionalização da administração pública, transportes, comunicações, cultura, desporto...

Repetiu o que o governo disse: António Frangoulis e António Niquice, ambos deputados da Frelimo, disseram ao «Canal de Moçambique» estarem satisfeitos com a exaustividade do informe do ontem prestado pelo Chefe do Estado, tendo concordado, no entanto, que o mesmo “não diferiu, no essencial, do que foi dito pelos membros do Conselho de Ministros” quando entre 3 e 4 de Junho corrente foram ao Parlamento responder às perguntas dos deputados.

“Visto que ele é chefe do Governo, não podia dizer algo muito diferente em relação ao que foi dito pelo governo quando esteve cá” para responder às perguntas dos deputados, disse Frangoulis quando questionado pelo «Canal de Moçambique» se encontrava diferença entre o informe do presidente da República e o balanço feito no Parlamento pelo governo há 20 dias.

“Na essência não há diferença, afinal o governo fez o balanço do quinquénio e o chefe do Estado também fez o mesmo, com a diferença dele (Guebuza) ter falado de tudo”, enquanto “os ministros cada um falou da sua área”, disse António Niquice, também deputado pela Frelimo, quando lhe colocámos a mesma questão.

“Não coabitamos com alguém que nos exclui”: Esta foi a justificação dada pelo porta-voz da Bancada da Renamo-União Eleitoral, José Manteigas, quando questionado pelo «Canal de Moçambique» sobre as razões que levaram a sua bancada a faltar à sessão plenária de ontem na AR que se destinou exclusivamente a ouvir o informe de presidente da República.

“A bancada parlamentar da Frelimo recusa sempre as nossas propostas. A bancada da Frelimo nunca quis dialogar com a Renamo, sempre recorre à maioria para esmagar as nossas opiniões, e o líder máximo desta bancada é o senhor Guebuza. O Aparelho de Estado está tomado e partidarizado e o promotor de tudo isto é o senhor Guebuza. Guebuza e seu partido estão a matar o diálogo político no País. Só serve o que a Frelimo diz, por isso decidimos não nos fizemos presentes ao seu informe, pois não queremos coabitar com pessoas que a princípio nos excluem”, disse José Manteiga explicando ao nosso jornal as razões que fizeram com que a Renamo-UE boicotasse o último informe do chefe do Estado à nação.

O próximo informe à nação será proferido pelo presidente que for eleito a 28 de Outubro/2009.
- Borges Nhamirre, Canal de Moçambique-Ano 4 - N.º 847 Maputo, Terça-feira, 23 de Junho de 2009.

5/25/09

PEMBA e a luta contra o Hiv/Sida nas madrassas

Madrassas começam a discutir prevenção de HIV/SIDA com alunos - Pemba, 25 Maio 2009 (PlusNews) - É hora da oração na madrassa Nur, em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, na costa norte do país. Crianças e adolescentes com idades entre oito e 20 anos se dividem em grupos de meninas e meninos para rezar. Na lousa, versos do Alcorão escritos em árabe e uma seriedade que não se vê nas salas de aula comuns.

As madrassas são escolas islâmicas, onde alunos são educados sobre o islamismo e aprendem a se portar segundo o Alcorão na sociedade, na família e nos relacionamentos. Na madrassa Nur, no entanto, essa educação não para aí. Em determinados sábados, quando os 120 alunos dos dois períodos podem se reunir no mesmo horário, o jovem malimo [professor] Mitilage Rashid fala sobre HIV e SIDA, adaptando as informações segundo a idade das crianças.

Rashid foi um dos malimos que em 2008 receberam formação sobre HIV do Conselho Islâmico, em parceria com outras organizações. Na formação, ele, com 30 outros professores, aprenderam mais sobre a epidemia e como ensinar os alunos. Mas o tema não era novidade para ele.

“Nós, muçulmanos, já fomos alertados no Alcorão sobre essa doença, que quando os actos sexuais fossem cometidos de qualquer maneira, sem compromisso, haveria uma doença sem cura.”

A inclusão do HIV/SIDA nos currículos das madrassas é uma inovação bem-vinda no rígido sistema educacional. Embora algumas madrassas ainda proíbam o assunto, malimos de escolas como Nur entenderam a importância de se abordar a epidemia num país cuja seroprevalência nacional é de 16 por cento.

No contexto do Alcorão - A mensagem sobre HIV nas madrassas, no entanto, é bem diferente da passada nas escolas regulares. Segundo o sheikh Mohammed Abdulai Cheba, director das 54 madrassas de Cabo Delgado, a mensagem é transmitida em duas partes: a primeira deixa claro que o HIV é um castigo divino; a segunda reforça a ideia de que a única forma de prevenção é a abstinência e a fidelidade.

“As pessoas fazem sexo ilegalmente, mas isso é um erro muito grande, porque é fora da autorização da família. Se querem fazer esse acto, eles devem preparar todos os requisitos: casar, aproximar as famílias e legalizar aquela vida que vai levar”, explica. Nas madrassas, os alunos não questionam tais ensinamentos.

“O Profeta falou que se as pessoas fizessem coisas que Alá não gosta, haveria uma doença sem cura. É uma forma de castigo”, repete Darisse Muarabo, 19 anos, aluno da quinta classe da madrassa e décima classe na escola regular.

O estudante Kadafi Joaquim leva as lições da madrassa ao pé da letra. Aos 18 anos, ele se mantém longe das raparigas – namorar, só se for para casar.

“Temos que ouvir o Profeta e nos afastarmos das moças antes do casamento, porque é pecado”, diz.

Ao defender a abstinência e a fidelidade, preservativos são automaticamente excluídos da discussão, porque, na opinião dos malimos, podem levar os alunos ao sexo. Haram (ilícito, em árabe) é o termo usado para descrevê-los.

“Quando confiamos na camisinha, ao invés de ter medo, o aluno vai querer fazer o adultério. Ele não terá mais medo de praticar o sexo”, explica Rashid.

Cheba vai além: “Todos os livros celestiais condenam o uso de camisinha. Quando o líder diz às crianças que têm que usar camisinha, ele está a autorizá-las a usar e a pecar.”

Joaquim explica a lógica da perspectiva dos adolescentes: “O rato não pode ver o amendoim, senão vai querer comer. Se você carregar preservativo no bolso, vai começar a pensar em coisas.”

Para os malimos, associar o HIV a comportamentos ilícitos não estimula o preconceito ou a discriminação. “Quando aparece um castigo ele é para toda gente, não só para quem cometeu o acto”, explica o sheikh Cheba. “Se uma pessoa está doente, muçulmana ou não, ela merece conselho e nós apoiamos, moralmente e materialmente.”

Nem todos os alunos, porém, parecem entender dessa forma. “Eu não conheço ninguém seropositivo, mas se conhecesse, eu iria me afastar”, disse Ausse Said, 17 anos, que cursa a quarta classe da madrassa Nur.

Enquanto isso, na escola - Adamo Selemani Daúdo, professor e activista da Geração Biz, projecto conjunto do governo de Moçambique com ONGs como Pathfinder International sobre saúde sexual e reprodutiva para adolescentes e jovens, critica a forma como o HIV, e o sexo em geral, é abordado nas madrassas.

“Religião e ciência quase não se dão, uma contradiz a outra. Mas eu, como professor, sempre aconselho os alunos no uso do preservativo”, diz. “Nas madrassas eles defendem o não-uso do preservativo para praticar a fidelidade, mas hoje não existe fidelidade em Moçambique.”

Muçulmano, casado e pai de dois filhos pequenos, Daúdo diz que usa camisinha nas relações extra-maritais “porque hoje em dia não há confiança. Nem mesmo as próprias muçulmanas são fiéis. Eu uso para a minha própria segurança.”

O jovem professor dá aulas de história na Escola Secundária Fraternidade, mantida pela comunidade islâmica e que fica ao lado da Africa Muslim, uma das mesquitas mais conservadoras de Pemba. Também faz palestras sobre saúde sexual. “Eu digo aos alunos que o preservativo é uma questão individual”, defende. “Não se pode falar dele como sendo um pecado, porque o preservativo é uma questão de segurança, proteção.”

A escola dispõe de uma sala batizada de Canto do Aconselhamento, onde alunos podem esclarecer dúvidas ou pegar preservativos. Segundo ele, muitos rapazes que frequentam as madrassas vão até lá em busca de preservativos. Tímidas, as meninas geralmente não aparecem.

“Não estamos a incentivar o sexo, mas a ajudar o jovem na prevenção”, diz Daúdo.

Ajira Abdul Razak, uma extrovertida rapariga de 20 anos, defende a educação sexual como ela é dada nas escolas regulares, “porque não é realista esperar que o jovem seja abstinente e fiel”. Para ela, os jovens precisam de informações práticas, mesmo que decidam não usá-las. Ela fala por experiência própria. Mãe de um menino de um ano e meio, Ajira frequentava uma madrassa onde não recebeu nenhum tipo de orientação sobre HIV. Na escola, aprendia sobre saúde sexual e participava de palestras sobre a epidemia. Mesmo com todo o conhecimento, ela dispensava a camisinha nas relações sexuais com o namorado. Ficou grávida e quase foi expulsa de casa pelo pai quando anunciou a notícia, principalmente por ser a única filha. Teve o bebé, que agora fica aos cuidados de sua mãe enquanto ela está na escola.
- PlusNews - Notícias e análises sobre HIV e Sida, 25/05/2009.
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5/19/09

Eu sou de Pemba, tenho 30 anos e sou divorciada. Tenho uma filha de sete anos...

(Clique na imagem para ampliar. Imagem original daqui e daqui)

Eu sou de Pemba, tenho 30 anos e sou divorciada. Tenho uma filha de sete anos. Demorou muito para eu descobrir que tinha o HIV. Comecei a ficar doente em 2004 e fiquei um ano e meio com febres, tudo doía. As pernas não me ajudavam, eu já não andava. Estava sempre com manchas no corpo, comichão nos braços e nas pernas.

Na época eu era casada com um tanzaniano. Tive duas filhas e as duas morreram com menos de dois anos. Eu fazia pré-natal, mas não acusava nada. Fiquei um ano hospitalizada, mas ninguém nunca dizia o que havia de errado comigo. Eu pedia, exigia, implorava e nada.

Voltei da Tanzânia para Moçambique. Meus tios me receberam e cuidaram de mim. Comecei a receber tratamento no hospital e quem me atendeu foi um médico tanzaniano. Perguntei para ele se poderia ser HIV e ele disse que não, que ele ia me tratar e eu ia sarar. Acho que o teste voltou positivo, mas ele não queria me dizer.

No meio tempo eu também fazia tratamentos tradicionais. Minha família já tinha perdido as esperanças. Um dia uma prima sugeriu: “Mana, tem uma doença que faz o teste, era bom que fôssemos lá no hospital de dia. Pode ser que não seja, mas vamos tentar.”

Quando me disseram que eu era positiva, não acreditei. Eu já tinha ouvido falar o que era HIV, mas pensava “Isso não pode acontecer”. Naquele dia, um paciente no hospital me disse: “Não te sintas triste, eu também estou a fazer tratamento. Vais ficar bem.”

Não faço idéia de como fui infectada, mas meu marido era negociante, ele tinha outras mulheres durante as viagens. Quando descobri que era seropositiva nós já estávamos separados. Eu mesma pedi: “Não quero te privar. Estou doente e não sei até quando fico assim. Enquanto eu não sei o que eu tenho, eu te liberto.”

Comecei a fazer o tratamento. Em três meses eu me sentia a recuperar. Passei a ter uma apetite forte de comida. Me sentia bem. No hospital, um enfermeiro me falou de uma associação de pessoas vivendo com HIV chamada Kaheria (“Você não dizia?...” na língua macúa), para eu não ficar isolada. Fui, inscrevi-me, dediquei-me e passei a ajudar outras pessoas. Virei activista.

Preciso me sentir mais firme antes. As pessoas têm muita confiança em mim e me pedem para ajudar em várias situações. Sei, por exemplo, de um casal em que os dois são seropositivos, mas um não sabe da condição do outro. Os dois vieram me contar, mas não têm coragem de dizer para o parceiro.

Numa outra ocasião, a esposa escondeu os remédios do marido, porque desconfiava que os comprimidos não eram para dor de estômago, como ele dizia. Ela queria que ele ficasse aflito e contasse a verdade para ela. Ela não sabia que ele tinha o vírus, mas eu aconselhei que ela devolvesse os remédios, porque se ele morresse, ela seria cúmplice.

Em outro caso, havia um pastor que ia se juntar com uma moça, mas ele não sabia que ela era seropositiva. Ela escondia os remédios no plástico de calcinhas. Um dia ele apanhou os remédios, que reconheceu porque um amigo havia morrido de SIDA. A moça mentiu: “Não são meus, são da Patrícia”. Ela foi correndo até minha casa, me contou a história e pediu que eu fingisse ir até a casa dela buscar os remédios. Quando cheguei lá, o pastor tinha jogado os remédios na latrina, porque achou que fossem meus. Ele me pediu desculpas.

Como activista, eu tenho preparo para conversar com as pessoas. Quando alguém me traz uma situação assim, eu sempre posso mostrar qual o caminho. Apesar disso, eu mesma ainda não tive coragem de abrir minha condição para todos. Já apareci na televisão falando sobre o trabalho como activista na Kaheria. Sou uma figura pública, leio mensagens para motivar as pessoas para fazer o teste voluntário, mas as pessoas não sabem que eu sou seropositiva. Apenas algumas poucas pessoas sabem, e elas não me discriminam. Outras não acreditam, dizem “Ela é gorda e bonita, não é verdade”. Mas mesmo assim ainda não acho que está na hora de me revelar: preciso me sentir mais firme antes. Mas acredito que eu seja alguém que está a contribuir com a sociedade.
- Pemba, Maio 2009, Patrícia - PlusNews.

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  • MOÇAMBIQUE: Quase um em cada cinco funcionários públicos tem o HIV - Aqui!
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  • Portal HIV/SIDA Moçambique (sem atualização desde Abril de 2007, o que se lamenta) - Aqui!
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  • Campanha Francesa contra AIDS - Aqui!
  • Síndrome da imunodeficiência adquirida - Wikipédia - Aqui!

"Passando" por Chiúre anotei...

Energia da EDM chega a Chiúre - O distrito de Chiúre, em Cabo Delgado, passa a partir de hoje, a estar integrado à rede nacional de energia da Electricidade de Moçambique (EDM), no âmbito da execução da segunda fase do projecto de electrificação da província de Cabo Delgado, que vem sendo implementado há três anos.

O Presidente da República, Armando Guebuza, que cumpre precisamente em Chiúre a última etapa da sua presidência aberta a Cabo Delgado, irá proceder à inauguração do novo sistema de fornecimento da electricidade àquele distrito a sul da província. O projecto da EDM para electrificar Cabo Delgado compreende a construção de subestações e de linhas de transporte de alta, média e baixa tensão, entre outras condicionantes para que a província seja provida de energia da rede nacional. Com efeito, foram investidos 10,75 milhões de dólares norte-americanos, maioritariamente disponibilizados pelo Banco Árabe para o Desenvolvimento Económico de África (BADEA).

Tal como na maioria das regiões do país ainda não ligados à rede da EDM, o distrito de Chiúre vinha sendo provido de electricidade por um grupo gerador a diesel, o que se tornava oneroso para o Estado e demais consumidores. A energia chega ali a partir da subestação de Metoro, construída no vizinho distrito de Ancuabe e transportada numa linha de média tensão de 32 quilómetros, mais outros 11,33 de média e baixa tensão. Foram montados 106 candeeiros de iluminação pública e projecta-se 220 novas ligações.

Entretanto, o Presidente Armando Guebuza termina hoje a sua visita aberta à província de Cabo Delgado depois de trabalhar sucessivamente nos distritos de Metuge, Palma, Meluco e Ancuabe, onde trabalhou com as autoridades locais e manteve encontros directos com a população, que em comícios colocou as suas preocupações ao Chefe do Estado.

Ontem, em Ancuabe, Armando Guebuza defendeu que a diversidade e a unidade nacional são uma importante arma no combate à pobreza, evocando como exemplo a figura de Eduardo Mondlane, primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Dirigindo-se à população, o Guebuza referiu que Mondlane “ensinou-nos que Moçambique tem muitas tribos, muitas regiões e muitas raças. Mas todas essas diferenças apenas nos enriquecem e nos tornam mais capazes de enfrentar os perigos da vida e não só isso”.

Desde que iniciou as suas visitas abertas aos distritos, Guebuza faz questão, segundo o enviado da AIM, de dedicar todas as ofertas recebidas das populações às crianças órfãs e vulneráveis, bem como às pessoas infectadas com o vírus do HIV/SIDA e que se encontram muito debilitadas para trabalhar e garantir o seu próprio sustento.

Guebuza tem recorrido ainda, nos encontros com a população, às suas frases favoritas, afirmando que “a pobreza que estamos a enfrentar não é um castigo de Deus. Não é um castigo divino”.
Por isso explicou que o Governo moçambicano concedeu sete milhões de meticais (Fundo de Investimento de Iniciativas Locais, FIIL) a cada um dos 128 distritos existentes em Moçambique para permitir que, ao nível dos distritos, as populações tentem procurar soluções para acabar com a pobreza, bem como aqueles que impedem o desenvolvimento. - Maputo, Terça-Feira, 19 de Maio de 2009:: Notícias.

5/11/09

Miguel Munguambe: Em Moçambique é o melhor em jornalismo ambiental

:: PARABÉNS MIGUEL MUNGUAMBE ::

O jornalista Miguel Munguambe, do semanário "Público", foi anunciado, sexta-feira última, como melhor jornalista em "Jornalimo Ambiental", ao ocupar o primeiro lugar nesta categoria. Existem mais duas categorias, a ligada à matéria do HIV/SIDA, cujo primeiro lugar foi atribuído ao jornalista do semanário "Domingo", André Matola, e a ligada categoria a segurança no trabalho que, infelizmente, não teve concorrentes.

O singular, pelo menos para o cenário Moçambicano, é que o considerado melhor jornalista em "Jornalismo Ambiental" neste prémio promovido pelo MISA-Moçambique, com apoio da Mozal na presente edição, até à pouco tempo ocupava-se como polidor de sapatos no hotel Rovuma, na capital do país, ao mesmo tempo que escrevia para o jornal "MediaFax".

Os resultados do concurso que contou com 16 trabalhos e que culminou com a distinção daquele jornalista, também conhecido como "engraxador de sapatos", atualmente jornalista e sub-chefe de redação do semanário "Público", foram tornados públicos sexta-feira última numa cerimónia de gala bastante concorrida na capital moçambicana.

Ao concurso o galardoado apresentou um conjunto de artigos que tinham como título "negócio de lixo gera renda aos mais desfavorecidos", trabalho este apurado pelo júri que integrou três especialista no ramo, nomeadamente Celestino Vaz e Bento Baloi(vogais) e Carol da Essen(presidente), os dois primeiros docentes de jornalismo da U. Eduardo Mondlane.

No seu trabalho, Miguel Munguambe disserta sobre a dimensão do negócio dos resíduos sólidos e a sua contribuição para a renda das camadas mais desfavorecidas da população, chegando a considerar que, nalguns casos, a prática gera, em termos de receitas, valores que superam o salário mínimo de um funcionário do estado.

Na investigação realizada na periferia da cidade de Maputo, onde o negócio é altamente concorrido, concluiu que um vendedor de lixo, recolhendo sacos e bacias plásticas, metais, garrafas, entre outros objetos produz em média diária uma receita estimada em cerca de 150 meticais. Com este valor, o jornalista determinou que o rendimento médio mensal de um vendedor de lixo é de 4,5 mil meticais, receita duas vezes maior que o salário pago ao funcionário do estado de escalão mais baixo, na altura estimado em 1.942 meticais.

Ainda, na esteira deste concurso jornalistico foram apurados para a segunda posição nas categorias "HIV/SIDA e Meio Ambiente", os jornalistas Arsénio Manhice e Leonildo Balango, respectivamente. O primeiro é do jornal "Notícias" e o outro do "Diário de Moçambique".
- Dados recolhidos do jornal "Diário Independente" em Maputo, 11/05/2009.

1/27/09

HIV-SIDA - Moçambique: Triste história de Natal...

É uma triste mas real história de Natal:
Sem identificação, mas com HIV - Moçambique, Beira, 27 Janeiro 2009 - Andar sem bilhete de identidade (BI) se tornou factor de risco para o HIV entre as raparigas da cidade da Beira, na província de Sofala-Moçambique. Agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) têm abusado de sua autoridade para extorquir dinheiro e exigir sexo em troca de liberdade de moças que não apresentem os seus bilhetes de identidade ou passaportes. Segundo as vítimas, moçambicanas e estrangeiras, principalmente zimbabueanas, o acto sexual é desprotegido, aumentando as chances de infecção pelo HIV.

Foi o que aconteceu com Carolina Johane*, 26 anos, que diz ter contraído o vírus numa relação desprotegida com um agente da polícia em troca de liberdade, na noite de Natal de 2006.

No trajecto da igreja até a sua casa, no bairro de Chipangara, Johane e outras pessoas foram paradas por dois polícias, que exigiram os bilhetes de identidade. Os que não tinham identificação, inclusive Johane, foram levados até a 5ª Esquadra. “Mas antes disso, um dos polícias me disse em voz baixa: uma mão lava a outra”, conta.

Por medo de dormir na esquadra e depois ser expulsa de casa, porque não havia avisado a seus pais que iria à igreja, Johane ofereceu aos polícias 50 meticais (US$ 2). “Eles recusaram, alegando que não eram corruptos. Ameaçaram processar judicialmente por tentar corrompê-los, o que deixou-me com medo”, diz.

Depois de algumas horas, as outras pessoas foram soltas, menos Johane. “Comecei a chorar, implorando fazer tudo que desejassem para soltarem-me. Eis que um dos agentes perguntou-me se tencionava manter relação sexual com ele em troca da liberdade”, revela.

“Não tive escolha.”

Depois de cinco meses, o seu namorado, na altura na província de Inhambane, pediu que ela preparasse alguns documentos e fizesse o teste de HIV para uma candidatura a um emprego numa organização não-governamental. “Aí descobri que era seropositiva. Concluí logo que fui infectada pelo polícia, visto que sete meses atrás eu e o meu namorado tínhamos feito o teste de HIV antes de ele viajar e o resultado havia sido negativo”, diz.

Interessante e sem BI.
Essa rotina era familiar para Alfredo Chimaze*, polícia há 15 anos e afecto na 4ª Esquadra, na Munhava, o bairro periférico mais populoso na cidade da Beira.

Chimaze, 39 anos, é seropositivo e faz tratamento antiretroviral. Ele acredita ter contraído o HIV numa relação sexual com uma rapariga que deteve por falta de bilhete de identidade, no bairro da Muchatazina, nos arredores da Beira.

“Quando interceptava-se uma mulher sem BI que achássemos interessante nos patrulhamentos nocturnos, nós a persuadíamos a transar com um de nós em troca de liberdade”, conta.

“Elas, por temer dormir na cela, aceitavam o nosso pedido.”

Segundo Chimaze, eles enganavam as mulheres dizendo que elas seriam indiciadas por trabalharem como “isca de larápios” e responderiam em tribunal, onde seriam condenadas entre seis a oito meses de prisão. Porém, depois que um de seus colegas contraiu sífilis e chitaio (perda, no dialecto Sena) [doença tradicional transmitida sexualmente, ligada a um rito de purificação, e que causa dor nos pulmões, cansaço e dores de cabeça], Chimaze resolveu mudar.

Três meses depois da sua decisão, a notícia: a sua mulher havia sido diagnosticada com o HIV numa consulta pré-natal. Foi aí que ele soube que era seropositivo.

“Quando a minha esposa disse-me não duvidei, porque comecei a recordar aquilo que eu fazia”, diz.

O seu filho também nasceu com o vírus. “Eu ignorava os perigos que corria ao praticar esse acto, tendo em conta que uma equipa da saúde vem ao meu posto de trabalho mensalmente fazer palestras sobre ITS e HIV”, lamenta.

Moçambique tem uma seroprevalência de 16,2 por cento numa população de pouco mais de 20 milhões de habitantes. Beira, segunda maior cidade depois de Maputo, é a capital de Sofala, província com 1,6 milhões de habitantes e 26 por cento de seroprevalência.

Medo da discriminação e do desemprego.
Representantes do comando provincial da PRM na província de Sofala dizem não ter conhecimento da prática. Segundo Mateus Mazive, chefe da secção de imprensa da instituição, não há registo de denúncias populares acusando agentes da polícia de exigirem relações sexuais de mulheres sem BI em troca de liberdade.

“Andar sem BI não é crime, mas é um dever da cidadania. Se está a acontecer isto, pedimos que a população denuncie este mau hábito para que os infractores sejam penalizados pelo crime que estão a cometer”, afirma.

Dados oficiais mostram que há 93 policiais seropositivos na província de Sofala, todos em terapia antiretroviral e recipientes de um bónus de 30 por cento do salário para a aquisição de cesta alimentar, que ajuda com o tratamento.

Porém, Massada Elias João, coordenador do núcleo de prevenção de HIV/SIDA no comando provincial da PRM em Sofala, acredita que os números sejam mais altos, se for levado em conta o efectivo da polícia na região, que ele não tem autorização para divulgar.

“Acredito que haja mais polícias seropositivos na corporação que tencionam anunciar o seu estado de saúde, mas acham que fazendo isso poderão ser discriminados ou perder o emprego”, diz.

O núcleo de prevenção de HIV/SIDA no comando provincial da PRM em Sofala foi criado em 2000 pelo Ministério do Interior para sensibilizar funcionários da polícia. Segundo João, o núcleo conta com pouco mais de 100 educadores de pares, que semanalmente realizam palestras e sessões de vídeo para a prevenção do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis. “Temos vindo a sensibilizar os nossos colegas para usarem correctamente o preservativo e levar as suas famílias para fazer o teste”, destaca.
- *Nome fictício jc/am/ll - PlusNews África Portuguese Service, 27/01/09.

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1/15/09

HIV-SIDA: Videogames ajudam o combate da epidemia em África.

Complementando post's anteriores sobre a epidemia de HIV/SIDA em Moçambique/África e acreditando que uma das armas mais eficazes para a combater é a informação, acabo de ler no blogue "Notícias do Velho", recheado de novidades sobre o mundo das novas tecnologias ligadas á informática, que surgiu em teste na cidade de Nairobi-Quénia, junto a comunidades de jovens, um videogame didático e preventivo dessa malvada doença dizimadora de vidas.
Esperando desperte atenções também em Moçambique, onde o flagelo preocupa, na íntegra e com a devida vénia ao "Notícias do Velho", transcrevo:

""Segundo esta nota da Popular Science, a Warner Brothers Interactive, em parceria com a iniciativa HIV Free Generation estão desenvolvendo um videogame que trata da prevenção a AIDS na África.

O jogo, chamado "Pamoja Mtaani", ou sua versão em Inglês "Together in the Hood", está sendo desenvolvido pela seríssima e competente Virtual Heroes, e está em fase de testes em alguns centros de juventude em Nairobi, capital do Quênia.
Não encontrei muitas informações sobre o jogo, além de que é um jogo multiplayer e que acompanha a vida de cinco personagens, que cumprem missões importantes. Os personagens podem ser conhecidos, através de animações bem legais, no site da iniciativa HIV Free Generation.

Ai vai um dos personagens do jogo - Lefty:
Fonte: Popular Science.""
(Evite sobreposição de sons "desligando" o player em funcionamento que se localiza no menu deste blogue, lado direito.)

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1/14/09

HIV-SIDA: Brasileiros em Moçambique acreditam que ‘Agência Aids’ trará impacto às ações de comunicação daquele país...

(Clique na imagem para ampliar)

Entrevistados pela Agência de Notícias da Aids, os brasileiros que trabalham em Moçambique Josué Lima, diretor da ICAP, e Elaine Teixeira, coordenadora do Psicossocial da MSF, afirmaram que a criação de um serviço de apoio aos jornalistas moçambicanos poderá trazer um forte impacto nas ações de comunicação deste país, quebrando o tabu de alguns temas relacionados ao sexo na mídia e dando voz às pessoas vivendo com HIV.

O mesmo idioma e a grande experiência no combate da Aids fizeram do Brasil um dos principais aliados de Moçambique na resposta desta epidemia.

Desde 1997, quando profissionais de saúde moçambicanos vieram oficialmente pela primeira vez ao Brasil para um treinamento sobre prevenção do HIV entre jovens, mulheres e trabalhadoras do sexo, intensificaram-se as relações dos dois países nesta área.

Em 2003, o Governo brasileiro passou a enviar medicamentos anti-retrovirais para dezenas de moçambicanos vivendo com Aids e recentemente, em visita oficial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou o compromisso na instalação de uma fábrica de anti-retrovirais até 2010 naquele país africano.

Nesses anos de estreita parceria, vários brasileiros foram trabalhar em Moçambique nas áreas médica e social.

A Agência de Notícias da Aids conversou com dois deles sobre a importância da criação, em Moçambique, de um serviço de apoio aos jornalistas especializado em HIV.

Josué Lima é diretor nacional da ICAP, sigla em inglês para Central Internacional para Cuidados e Tratamento da Aids, da Universidade de Columbia. Instituição que apóia o governo em grande parte dos tratamentos anti-retrovirais realizados no país. Para ele, quanto mais profissionais de comunicação tiverem conhecimentos adequados sobre o HIV e mais sensíveis forem a todas as correlações advindas desse assunto, mais as pessoas vivendo com HIV e expostas estarão bem cuidadas.

“Fico muito feliz em saber que logo teremos uma Agência de Notícias da Sida em Moçambique”, comentou. “Há mais de 23 anos no Brasil e fora do nosso país, aprendi logo a força e o impacto que as ações de comunicação bem conduzidas e orientadas podem ter em qualquer atividade voltada a essa questão”, justificou.

Em Moçambique, segundo Lima, os desafios nas diversas áreas relacionadas à Aids são inúmeros e em especial na comunicação.

“Há muito que se fazer, mas, obrigatoriamente, tudo precisa ser feito com o máximo de criatividade e respeito ao contexto de um país africano que fala a língua portuguesa e diversas outras línguas locais”, observa.

“As diferenças sócio-culturais e regionais aliadas a poucos recursos disponíveis exigem que as estratégias sejam muito bem elaboradas, implementadas e adaptadas à realidade local”, acrescentou o médico.

Elaine Teixeira é coordenadora do Psicossocial da organização Médicos Sem Fronteira (MSF) – Suíça, em Moçambique. Ela atua em atividades de educação para o tratamento e prevenção do HIV e Aids. Segundo a psicóloga, uma agência de notícias sobre Aids em Moçambique vai ajudar a minimizar a discriminação através de uma mídia mais livre de tabus perante a temática do sexo.

“Seria uma excelente oportunidade para se começar a falar mais abertamente sobre saúde sexual, práticas culturais sexuais e sobre as diferenças de gênero, fazendo relação com a prevalência no país, assumindo que a maioria das infecções se dá através da via sexual”, comentou.

Teixeira acredita que este serviço dará ainda mais voz às associações de pessoas vivendo com HIV e Aids (PVHA).

“De maneira direta apoiaria o fortalecimento da pessoa que vive com HIV e sua participação aos poucos na planificação do programa de Aids do país.

As associações de PVHA não estão bem organizadas ainda em Moçambique, falta ação, ativismo, não têm participação no programa e na resposta à epidemia, e não percebem a importância do seu papel na resposta a esta epidemia”, opinou.

Para uma população de aproximadamente 20 milhões, Moçambique tem uma prevalência do HIV estimada em 16% entre as pessoas sexualmente ativas. No Brasil, essa estimativa é de 0.7%.

A fundação, em Moçambique, de um serviço de ajuda aos jornalistas especializado em HIV será uma parceria da Agência de Notícias da Aids e do MISA (Media Institute of Southern Africa) – Moçambique, com apoio do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e Aids (UNAIDS) do Brasil e de Moçambique, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Programa Nacional de DST/Aids, por meio do Centro Internacional de Cooperação Técnica (CICT).
- Lucas Bonanno para Agência de Notícias da AIDS, 12/1/2009 - 18h10.

Leia também:

  • Brasil-Moçambique: Parceria entre os dois países irá viabilizar a fundação de uma agência noticiosa sobre HIV/Aids naquele país africano - Aqui!
  • ‘Agência Aids’ em Moçambique: Uma aliada do movimento social, dizem ativistas daquele país - Aqui!
  • Diversos post's deste blogue sobre HIV/SIDA em Moçambique e África - Aqui!

12/02/08

A tragédia da Sida/Aids em Moçambique.

Maputo- O Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, considerou, segunda-feira, dia 1, uma "tragédia" o índice de contaminação por HIV no país, incitando os moçambicanos a agirem "a uma velocidade superior à propagação das infecções", para vencer a doença.

"Estamos perante uma tragédia de grandes proporções", disse Guebuza, discursando no lançamento da nova estratégia de aceleração da prevenção da infecção HIV, vírus que provoca a Sida/Aids.

Dados, divulgados por ocasião do Dia Mundial de Combate à Sida/Aids, dão conta que aproximadamente 16 por cento da população moçambicana, entre os 15 e 49 anos, está infectada. Pelo menos 6 por cento das mulheres grávidas moçambicanas estão contaminadas, tornando Moçambique num dos dez países mais atingidos no mundo.

Mas, para o chefe de Estado moçambicano, o país tem registado avanços no combate à Sida, nomeadamente na transmissão vertical, ou seja, na prevenção da transmissão da infecção do HIV da mãe para filho.

"Queremos exortar os nossos compatriotas a aderirem, em massa, aos serviços de aconselhamento e de testagem voluntária que têm estado a conhecer expansão pelo nosso país", apelou. "Quanto mais cedo for detectado o vírus, maiores serão as probabilidades de sucesso do tratamento anti-retroviral. Apresentar-se nas unidades sanitárias muito tarde, com acentuada debilidade imunológica, só frustra o empenho e o investimento de quem quer ajuda com o tratamento", defendeu.

Guebuza exortou igualmente cada um dos moçambicanos a despertar as suas "virtudes de líder" para levar mais compatriotas a assumirem que "há já no país exemplos de boas práticas que podem ser replicados". "A liderança, no contexto deste lema, deve-nos levar a compenetrarmo-nos do facto de que, não havendo cura ainda para este flagelo humano, ele só poderá ser vencido se assumirmos comportamentos e atitudes que nos afastem da possibilidade de nos infectarmos, ou de podermos infectar ou condicionar que outras pessoas se infectem", disse. "A liderança continua a ser a arma mais barata, disponível e ao alcance de todos nós", mas, "a vitória sobre esta tragédia está ao nosso alcance", disse.
- In "África21 Digital".

Outros post's deste blogue a respeito de HIV/SIDA:

  • Moçambique - HIV/SIDA: o flagelo que deve ser discutido e informado - Aqui!
  • Elvira Howana - O direito à vida - Aqui!
  • Diversificando: HIV/SIDA - Nunca é demais falar... - Aqui!
  • Moçambique: para ex-refugiados seropositivos, a luta continua... - Aqui!
  • Bispo de Moçambique acusa europeus de infectar camisinhas com HIV - Aqui!
  • Moçambique: A SIDA vista através das lentes das câmeras - Aqui!
  • PEMBA: Fátima, o sheik e a mesquita... - Aqui!

11/11/08

Miriam Makeba - O último adeus maroto...

A voz forte da África apaixonante e livre partiu... Deixa a luz de seus cânticos, a mensagem de seus versos e a vereda colorida na floresta da esperança, aberta com paixão e luta no coração de seu povo e de todos nós que aprendemos a escutá-la repletos de orgulho e respeito, embevecidos, desde nossa infância africana.

Faço minhas as palavras da IO:

""Um embondeiro contra a intolerância - «OBRIGADA, Jaime!, sabes que uma noite de 2005, na Irlanda, uma americana, numa das ilhas Aran (IRL) cantou-me o seu tema (dela, Miriam) 'Moçambique, a luta continua'? - era uma deusa para nós, os miúdos que sonharam a Independência. E tive a sorte de a ver ao vivo, pois MM fechou a EXPO 98 em Lisboa. Abraço, IO». - foi assim que, a 6 de Abril de 2006, respondi a este ‘post’ do Jaime.

Miriam Makeba morreu ontem a lutar contra a intolerância, o que fez uma vida inteira. À Mamã África, o meu tributo.

Grande lutadora contra o ‘apartheid’, tendo sido proibida de viver na África do Sul (e as suas canções censuradas na rádio) pelo regime racista, Mandela recorda-a assim:

«Her haunting melodies gave voice to the pain of exile and disclocation which she felt for 31 long years. At the same time, her music inspired a powerful sense of hope in all of us».

Mas, defensora dos Direitos Humanos que era, o advento da Liberdade no seu país não a fez parar e ainda esta Primavera esteve na «RD Congo para apoiar as mulheres que sobreviveram a agressões sexuais, famílias afectadas pelo HIV/Sida e outras pessoas vulneráveis na sequência de um clima de paz frágil».

Para quando a Àfrica (e o Mundo) que sonhamos?... Esse continente (e planeta) que hoje prestam a última homenagem a quem cantava, por exemplo, como o Miguel e o Eugénio a recordam nos seus ‘posts’.""

Miriam Makeba 2007


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  • Miriam Makeba - O adeus maroto... - Aqui!

11/08/08

África do Sul/SIDA - Mbeki responsabilizado por 330 mil mortes!

Cheguei a ler que esse senhor considerava a Sida/Hiv folclore, manobra de oposicionistas a seu governo e intentona internacional.

Para felicidade e longevidade do povo sul-africano está "aposentado" do poder.

E, segundo consta, não deixou saudades.

Como não deixarão "alguns" dos que ainda por aí andam falando baboseira a todo o instante em discursos inflamados e populistas.

Coisas assim costumam acontecer quando o poder cai nas mãos de quem prima pela ausência de conhecimento, vulgo ignorância ou estupidez e, ainda para cúmulo, é mal assessorado!

Do RTPNotícias de hà momentos, transcrevo:

Joanesburgo, 08 Nov (Lusa) - Activistas sul-africanos de defesa dos direitos dos seropositivos querem que o ex-presidente Thabo Mbeki e a sua então ministra da Saúde respondam na justiça pelas mortes desnecessárias de 330 mil pacientes entre 2000 e 2005.

Os referidos activistas batem-se há longos anos pelo direito ao tratamento com anti-retrovirais dos doentes em instituições públicas.

Zachie Achmat, presidente da organização não-governamental Treatment Action Campaign (TAC), que recebeu vários prémios internacionais pela sua luta contra as políticas do ex-chefe do Estado e do governo sul-africano, disse ontem que "Mbeki tem as mãos manchadas de sangue" e deveria ser alvo de um processo perante uma comissão judicial independente.

Conhecido pelas suas posições pouco ortodoxas relativamente ao HIV/Sida, Mbeki passou os 9 anos dos seus dois mandatos como presidente a negar a ligação directa entre o HIV e a Sida, subscrevendo uma série de teses dos chamados "cientistas dissidentes" e resistindo à introdução no sistema público de saúde dos tratamentos com anti-retrovirais (ARV`s).

A sua ministra da Saúde, Manto Tshabalala-Msimang, subscreveu sempre as posições do ex-presidente, tendo classificado em várias ocasiões os ARV`s como "venenos" e defendido publicamente que os seropositivos deveriam ingerir doses diárias de batatas africana, alho, beterraba, azeite e outros produtos naturais, em vez de ARV`s para combater o vírus que os aflige.
Um estudo publicado em 20 de Outubro pela Escola de Saúde Pública de Harvard, e assinado pelo professor Pride Chigwedere, conclui que 330 mil seropositivos perderam a vida entre 2000 e 2005, em resultado da ausência de programas de tratamento com anti-retrovirais na África do Sul, decorrente da negação sistemática do presidente e da sua ministra da Saúde relativamente ao HIV/SIDA.

O estudo conclui também que naquele período 35 mil crianças nasceram infectadas pelo HIV porque o governo proibia o tratamento das mães com drogas destinadas especificamente a travar a infecção de mães para filhos, designadamente o Nevirapine, que é utilizado em praticamente todo o mundo.

Zachie Achmat e o TAC - que processaram judicialmente várias vezes os governos de Mbeki para que fossem forçados a disponibilizar ARV`s nos hospitais públicos - pediram ao actual governo do presidente Kgalema Motlanthe que convoque Mbeki e Tsbalala-Msimang para que sejam questionados sobre as suas políticas e os seus resultados.

Os activistas desejam que Mbeki se explique também perante a Comissão da Verdade e Reconciliação (TRC), defendendo que "é necessário fazer justiça àqueles que morreram em resultado das poíticas de Mbeki".

"Esta é a razão pela qual o TAC defendia desde há muito a demissão do presidente Mbeki pelo seu partido, o ANC, por ele ter as mãos manchadas de sangue", disse hoje Achmat.

"Este estudo da Harvard demonstra claramente aquilo que o TAC vem defendendo há muito: que há uma ligação directa entre muitos milhares de mortes e a negação do ex-presidente face à SIDA", concluiu o presidente do TAC.

François Venter, que lidera a Unidade de Saúde Reprodutiva e de Pesquisa do HIV na Universidade de Witwatersrand, Joanesburgo, afirma que o estudo aponta para "uma vergonhosa falta de liderança" do antigo presidente, ao mesmo tempo que se regozija com o facto do novo governo ter nomeado Barbara Hogan, uma respeitada especialista que considera ser "uma líder inspiradora", para a pasta da Saúde.

Quando Mbeki foi afastado da Presidência e da chefia do governo, em Setembro último, o ex-presidente americano Jimmy Carter declarou "não nutrir qualquer simpatia para com ele (Mbeki)".

Carter revelou então que o ex-chefe do Estado sul-africano recusou há uns anos, na sua presença e de Bill Gates, generosos fundos da Fundação Carter para adquirir ARV`s para pacientes sul-africanos com o argumento de que "a SIDA foi uma invenção do Ocidente para exterminar africanos" e que "os ARV`s são uma forma de gerar lucros à custa dos africanos e dos países em desenvolvimento em geral".
- Lusa - 08/11/08, 12:50:01.

9/16/08

O que falam de Moçambique: França estuda aumentar cooperação com Moçambique! - Uns vão...outros voltam...

Através da Agência Francesa para o Desenvolvimento (AFD), a França investiu, entre 2001 e 2007, cerca de 176,4 milhões de euros, sendo um dos principais parceiros de cooperação com Moçambique...
... ... Bruno Leclerc considerou que do apoio prestado pelo seu país aos diversos sectores, as províncias de Maputo, Inhambane e Cabo Delgado beneficiaram da maior parte dos investimentos realizados, com 42.6 milhões, 30 milhões e 22.2 milhões de euros, respectivamente.No ano passado, a AFD concedeu cerca de 15 milhões de euros em financiamentos para o sector da Saúde, mais concretamente para a área de assistência técnica, reabilitação de infra-estruturas, apoio ao combate ao HIV/SIDA, bem como para a protecção do meio ambiente e abastecimento de água. A França também está envolvida em outros projectos de desenvolvimento, destacando-se o financiamento ao projecto do Parque Nacional das Quirimbas, cujo objectivo é a criação de condições para uma gestão económica, social e ecologicamente sustentável, a fim de beneficiar, em primeiro lugar, as populações locais. No global, os franceses deverão investir no parque cerca de 5, 265 milhões de euros... ...
  • Leia a reportagem em texto integral - Aqui!

7/08/08

Luz e esperança no horizonte dos desfavorecidos - Os milagres do microcrédito no norte de Moçambique.

(Clique na imagem para ampliar. Imagem original daqui.)
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06.07.2008, António Marujo, em Pemba - Os projectos de microcrédito promovidos pela rede Aga Khan no norte de Moçambique permitem reparar sapatos para vender em segunda mão, trazer água a crianças que andavam quilómetros para a obter. Algumas destas coisas fazem-se com uma centena de euros apenas.
Primeira de uma série de reportagens que publicaremos ao longo desta semana.
Na Ilha do Ibo, perto de Pemba, norte de Moçambique, Ancha, 30 anos e uma filha de 14, é uma das 15 mulheres da Associação de Floristas, criada com apoio de microcrédito.
Está a lavar e secar folhas de mangueira para os arranjos que se tornarão colares, bolsas, coroas. É a vida mais florida?
"Não tinha rádio, na minha casa, já tenho; não tinha brincos e já comprei. Há muitas coisas que estou a comprar. Primeiro comprei brinco, estou a comprar pratos."
O financiamento pedido por Saraiva Morossene Saguate, 40 anos, foi "um aleluia" na vida dele. Saguate trabalha em Pemba, nos serviços de emigração, mas o salário não chegava para a família - que inclui sobrinhos.
"Os meus filhos estudam na base disto aqui" e aponta para uma moagem que montou num barracão ao lado de casa.
Momade Buana tem um problema numa das pernas que não lhe permitia andar muito. Com 45 anos, já quase não podia trabalhar: a bicicleta, comprada com um pequeno financiamento, permite-lhe agora ir todos os dias para a fortaleza construída pelos portugueses na ilha do Ibo, em 1791. Com outros 24 colegas da Associação Fortaleza, faz peças em prata. E já teve bónus: "Comprei um rádio, um relógio."
Alifa Bakar, 42 anos, ri mais do que fala. É vendedora de bebidas e capulanas, de novo em Pemba. Ao lado dos panos coloridos, admite que, sem o empréstimo, não poderia ter os três filhos a estudar.
Irage Amisse, 38 anos, tem quatro filhos cujos estudos são garantidos pelo negócio da sua mercearia que, à noite, vira bar e discoteca. E há ainda os sapatos lavados e vendidos em segunda mão de Assime Chale, os desejos de Rahim Bangy ou o olhar perspicaz de Carlos Matiquite.
Há pequenos nadas que podem trazer toda a esperança do mundo a algumas vidas. Na província de Cabo Delgado, que faz fronteira com a Tanzânia, a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento tem operado essa transformação através de duas das suas agências. Em Pemba, isso é feito pela Agência Aga Khan para o Microcrédito, na ilha do Ibo a responsabilidade é da Fundação Aga Khan. No caso da agência, são 400 mil dólares (mais de 250 mil euros) distribuídos em pequenos financiamentos, que têm permitido a criação de pequenos negócios.
Empréstimo de 170 euros - A mudança, para Amisse Chale, 34 anos, já é grande. É vendedor de sapatos em segunda mão no mercado do bairro Natite, no centro de Pemba, definido por algumas ruas de edifícios em tijolo e cimento. Fora dali, predominam os bairros de palhotas, vários deles com vista para a larga baía de Pemba. Na cidade, vivem cerca de 160 mil habitantes. Casado, com três filhos, Amisse Chale vendia calçado na rua. Agora, o cliente pode circular entre as prateleiras e escolher diferentes modelos de sandálias, sapatilhas, chinelos ou sapatos. Como novos: "Vêm sujos, de nem saber que marca é. Começamos por lavar. Depois de lavar é que distinguimos o preço: esse é de 500, 600..."
Pediu emprestados seis mil meticais (à volta de 170 euros) e com isso comprou um espaço para uma barraca no mercado.
"Pedi, paguei, já pedi um segundo empréstimo de dez mil e um terceiro de mais nove mil; agora estou a pensar num novo empréstimo de 20 mil para criação de galinhas, pintos. Assim estou avançando com a minha vida."
Amisse já deu emprego a seis pessoas, a quem paga perto de 90 euros. O dinheiro ainda chega para que a mulher, com 27 anos, possa completar o 12º ano.
No bairro Cariocó, a moagem de Saraiva Saguate permite-lhe sustentar um pouco melhor os nove filhos e sobrinhos - ficou a tomar conta deles quando um irmão morreu. Um vizinho acaba de chegar com um saco de 30 quilos de milho para moer. Pagará 30 meticais. Se fosse comprado e moído por Saguate, o milho custaria entre oito a dez meticais o quilo. "O milho tem procura, porque é o nosso pão." Hoje, por ser domingo, é o filho que coloca os grãos na máquina para a "farinhação". Durante a semana, três empregados a dois mil meticais cada garantem o serviço.
A casa de Saguate são duas, com um pátio no meio, onde há mangueiras, bananeiras e cocos - para consumo próprio, às vezes para vender. Algum lixo, um sofá velho num dos terraços térreos. A moagem está colocada num pequeno anexo.
Saguate quer comprar agora uma máquina de descasque de arroz e outra de pilar o milho. Irá bater de novo à porta do microcrédito. A primeira vez que ouviu falar do programa "foi um aleluia". Ganha oito mil meticais (230 euros) no emprego, pouco mais que um salário mínimo. Pediu dez mil. "Consigo pagar e tenho ficado com alguns trocos."
Carlos Matiquite, 29 anos, é o supervisor do programa, a trabalhar com o microcrédito há quatro anos. E, nesta curta visita, já percebeu que tem que ter cautelas especiais na concessão de um novo empréstimo a Saraiva Saguate. Para garantir que o dinheiro é aplicado para desenvolver a actividade e não apenas em comida para a família extensa.
"É por essas razões que se fazem muitas conversas com os mutuários, antes de conceder os empréstimos, para avaliar quando custa a máquina, que água e luz se pode gastar, quanto se pode ganhar", diz Rahim Bangy, responsável pelo programa de microcrédito de Pemba.
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Banco rural.
Rahim Bangy tem um desejo: "Quero ver Pemba cheia de placas." Depois de ter deixado o cargo de director-geral numa empresa em Luanda, em Janeiro de 2006, Rahim está muito contente com a experiência. Apesar da realidade que o cerca: o analfabetismo de 70 a 80 por cento da população, dez por cento de gente infectada pelo HIV/sida na província (a nível nacional, chega aos 16 por cento), um salário mínimo inferior a 50 euros.
Mesmo assim, a decisão de trocar a baía de Luanda pela de Pemba "foi provavelmente a melhor opção" que Rahim tomou nos últimos anos, diz.
"Como muçulmano ismaili, é um orgulho trabalhar para a rede. É estar mais perto dos ideais traçados por sua alteza [o Aga Khan, líder espiritual dos ismailis] das suas linhas orientadoras, da ética e de poder fazer a diferença no dia-a-dia. Também cresci e fico feliz por assistir à evolução de centenas de pessoas que hoje vivem melhor e sonham com mais.
"Rahim é um dos 35 muçulmanos ismailis de Pemba - na comunidade religiosa é o kamadia saheb, segundo ministro de culto. Cabo Delgado, província que tem Pemba como capital, é dominado pelo islão sunita, como todo o norte do país. Mas o microcrédito não olha à cor religiosa.
- Continua acima... - (extraído de PÚBLICO.pt - 06.07.2008 via Moçambique Para Todos.)

4/22/08

Moçambique - HIV/SIDA o flagelo que deve ser discutido e informado...

Praga dos tempos modernos que massacra o mundo e os povos mais humildes e desinformados. Busca-se uma cura que ainda não surgiu, mas avanços têm sido feitos que amenizam e podem até controlar a evolução da moléstia, o que, complementado com prevenção, educação e informação dificulta seu progresso e a contaminação. Moçambique é um dos países que muito tem sofrido com essa doença. Milhares de moçambicanos têm perecido e milhares ainda morrerão por causa desse vírus malvado. Mas, felizmente, algo vem sendo feito tentando sustar o avanço da doença. Talvez com alguma timidez ou pouca exposição, mas está aí e deve ser divulgado:
(Para evitar sobreposição de sons, não esqueça de "desligar" a rádio "ForEver PEMBA.FM" no lado direito do menu deste blogue.)
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"No nosso país, como em outros países da África Austral, o impacto do HIV/SIDA é multisectorial, não poupando nenhum sector. Este impacto resulta num ciclo vicioso que no fim se manifesta na pobreza e subdesenvolvimento. A pobreza aumenta a vulnerabilidade à infecção pelo HIV e a fraca capacidade de resposta aos seus efeitos. Por outro lado, o HIV/SIDA tem efeitos negativos que interferem em todas as esferas do desenvolvimento, criando mais pobreza. Sem desenvolvimento sustentável não é possível combater eficazmente o HIV/SIDA e com o HIV/SIDA não pode haver desenvolvimento sustentável. O reconhecimento de que a problemática do HIV/SIDA não é apenas um assunto de saúde, mas sim um problema de desenvolvimento e que tem implicações em todos os sectores e níveis, faz com que seja necessário adoptar estratégias multissectoriais e a todos os níveis para melhor responder às implicações da pandemia do HIV/SIDA. Estas estratégias precisam de ter uma boa coordenação e interdependência a nível nacional como a nível internacional. A implementação destas estratégias deve sempre ter em vista a integração de acções de prevenção e mitigação do HIV/SIDA em todos os sectores já existentes, e não a criação de novos sectores específicos para o HIV/SIDA. Para isso é preciso que todos os sectores e níveis actuem de forma coordenada e colaborativa para prevenir e reduzir a ocorrência de novas infecções e prevenir e reduzir os impactos resultantes das infecções já ocorridas."
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Mais:
Nova abordagem do HIV/SIDA para deficientes em Moçambique.
Maputo, Moçambique (PANA) - Organizações não Governamentais moçambicanas vão lançar, esta semana, uma nova abordagem que presta uma atenção especial ao rumo das pessoas deficientes na luta contra o HIV/Sida, noticiou terça-feira a Agência de Informação de Moçambique (AIM) citando um comunicado do Fórum das Associações Moçambicanas para Pessoas Deficientes (FAMOD).O FAMOD indicando que as pessoas deficientes são estigmatizadas e têm, por conseguinte, menos oportunidades de se casar, declarando que elas, devido a esta situação, têm tendência a ter mais do que um parceiro sexual e relações sexuais instáveis.De acordo com o fórum, as mulheres e crianças deficientes são mais expostas à violação e têm pouco ou nenhum acesso a serviços de saúde de qualidade e a informações sobre o HIV/Sida.De acordo com estatísticas de 2007 sobre a prevalência do HIV em Moçambique, pelo menos 324 mil pessoas deficientes são igualmente seropositivas.Estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que cerca de dois milhões de pessoas em Moçambique são deficientes até a um certo grau e as organizações que trabalham com elas afirmam que os deficientes são excluídos dos programas de luta contra a pandemia da sida.O FAMOD, em parceria com a ONG europeia Handicap International e outros parceiros, previu um seminário esta semana para lançar a Campanha Africana sobre as Pessoas Deficientes e o HIV/Sida.O objectivo deste seminário é divulgar as directivas da Campanha Africana sobre as Pessoas Deficientes e o HIV/Sida em Moçambique e fazer tomar consciência aos dirigentes políticos e ao público da vulnerabilidade das pessoas deficientes face à pandemia.A reunião tem igualmente por objectivo assegurar um melhor acesso à despistagem do HIV, a uma assistência médica e ao tratamento para as pessoas deficientes.A Campanha Africana é coordenada pelo Secretariado da Década Africana (1999-2009) para as Pessoas Deficientes e pela Handicap International.
Maputo - 04/03/2008 - PanaPress.
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Seropositividade em grávidas aumenta em Cabo Delgado.
Mais de mil mulheres grávidas, das 17 mil submetidas a testes de HIV/SIDA no primeiro trimestre deste ano na província de Cabo Delgado, tiveram resultados positivos.
O chefe da Repartição da Saúde na Comunidade em Cabo Delgado, Francisco Paulo, disse que em igual período do ano passado tinham sido diagnosticados mais de 640 casos da doença em mulheres grávidas. Francisco Paulo exortou a população para maior adesão aos testes de HIV para o controlo do seu estado, especialmente para mulheres grávidas, responsáveis pelo estado de saúde dos seus filhos.
Maputo, Terça-Feira, 22 de Abril de 2008:: Notícias

3/10/08

ELVIRA HOWANA - Direito à vida !

MAPUTO, 10 Março 2008 (PlusNews) - A moçambicana Elvira Howana vai casar este ano. Na igreja, como manda a religião. No seu caso, o casamento tem um sabor especial. Howana foi diagnosticada seropositiva em 2004, quando perdeu o marido para a SIDA. Sem medo da discriminação, ela abriu sua condição diante da igreja, da sua comunidade. “Mas muitos acham que a SIDA é doença de quem teve uma vida má. Eu nunca me ´espalhei´, mas as pessoas nunca deixam de te olhar mal. Não acho que seja castigo de Deus”, disse. Hoje, com o apoio dos três filhos e do noivo, compartilha sua experiência com outros seropositivos, inclusive dentro da igreja, que mantém um grupo de 15 mulheres que vivem com HIV. O casamento – na igreja, ela faz questão de ressaltar – lembra Howana de que para ela, a SIDA foi um novo começo: de esperança, relacionamentos e amor.
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Mais sobre Howana e seu namorado:
Meu nome é Elvira Howana, tenho 43 anos e três filhos. Sou viúva há quatro anos e vivo no bairro de Congoloto, a 15 km da cidade de Maputo. Descobri que era seropositiva em 2004. Meu marido já estava bem doente há cinco anos, com malária e febre todos os dias. Eu também não estava muito bem. Quando fomos ao curandeiro, ele nos disse que eram maus espíritos. Resolvemos ir ao hospital e eles nos mandaram ao Gabinete de Aconselhamento e Testagem Voluntária. Eu fiz o teste, mas tinha certeza que daria negativo. Quando voltou positivo, eu discuti com a médica. Eu achava que a SIDA era uma doença de prostitutas e eu não era prostituta. Andei sete km sem me aperceber pensando no diagnóstico. Meu marido começou a tomar antiretrovirais imediatamente. As pessoas vinham na minha casa fazer orações, mas ninguém sabia o que ele tinha. Ele morreu seis meses depois. Eu já era membro da igreja presbiteriana naquela época. Contei à pastora Felicidade que era seropositiva e ela me encorajou a falar da minha situação na igreja. Contei diante da assembléia que eu tinha HIV, que meu marido tinha morrido de SIDA. As pessoas não acreditaram, porque eu parecia saudável. Lógico que houve comentários. Muitos acham que a SIDA é doença de quem andou muito em relação aos homens, de quem teve uma má vida. Eu nunca me “espalhei”, por isso não acho que seja um castigo de Deus. Mas as pessoas nunca deixam de te olhar mal.
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Solidariedade entre mulheres:
Hoje eu sou activista na associação Wansati Pfuka (expressão em shangana, que significa “Desperta, Mulher”), da Igreja Presbiteriana de Moçambique. A associação foi fundada em 2006 e tem actualmente 15 mulheres seropositivas. Como activista eu acho que a mulher é muito discriminada, porque quando o marido ou a família descobre que ela é seropositiva ela perde tudo, incluindo o lar. O problema é que, ao contrário dos homens, as mulheres se discriminam entre si: uma fala mal da outra, aponta, começa a fazer fofocas, o que aumenta o preconceito. Nós, mulheres seropositivas, temos que quebrar o silêncio. Pessoalmente, não admito a discriminação e costumo antecipar nas palestras que sou seropositiva. As pessoas discriminam quando se é insegura e se tem vergonha do seu estado de saúde. Como activista, na igreja faço palestras a outras mulheres, procurando sempre relacionar a SIDA com a Bíblia, de modo a fazer-lhes entender que os que acreditarem em Jesus terão a salvação. Na associação, sensibilizamos os jovens da igreja a apostar na abstinência sexual. Mas fora da igreja, aconselho os jovens a usar o preservativo porque sei que na realidade não há fidelidade entre eles. Hoje eu estou noiva. Conheci meu companheiro no hospital-dia e vamos casar em breve. Ele é seropositivo e já está na segunda linha de tratamento. Foi ele que me deu mais coragem. Eu tinha medo de começar o tratamento porque corriam boatos de que os ARVs podem matar. Ele me disse que o ARV não matava, que bastava saber tomar. Hoje nós dois estamos bem. É bem mais fácil quando você vive com alguém que sabe da sua situação. Ele quer viver, eu também. Meus filhos também sabem. Eles me recordam de que eu preciso tomar os comprimidos para não haver desequilíbrio no tratamento. Agora sou uma mulher motivada e participo em muitos eventos como activista. Era a única moçambicana a representar os seropositivos do país na Primeira Conferência Global sobre Mulheres e HIV em Julho de 2007 no Quénia. Aprendi muito da vida positiva e essa experiência transmito a outros seropositivos.

2/13/08

Liberdade de Imprensa em Moçambique - Manifestações de 5 de Fevereiro confirmam a existência de censura nos media moçambicanos.

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As manifestações populares havidas na passada terça-feira, 5 de Fevereiro de 2008, nas cidades de Maputo e Matola, não só trouxeram um pesado fardo para a economia do país como também mostraram quão forte é ainda o controlo governamental sobre os órgãos de comunicação social públicos e privados.
A cobertura dos incidentes foi muito condicionada.
O MISA-Moçambique e o Centro de Integridade Pública estiveram atentos à forma como os incidentes foram reportados pelos diversos órgãos de comunicação social e, com base em observação directa e recurso a entrevistas com jornalistas e editores, apurámos o seguinte:
• Logo nas primeiras horas da manhã, a STV começou a reportar a revolta popular com directos a partir dos locais em que a violência era mais notória. Por volta das 9.30 horas, este canal trazia algumas incidências, ajudando muitos cidadãos a se precaveram. Mas os directos da STV foram bruscamente interrompidos por volta das 10 horas, tendo o canal passado a transmitir uma telenovela;
• No canal público, a TVM, ao longo da manhã, as revoltas não foram notícia. Ao invés de informar sobre os acontecimentos, a TVM transmitia reportagens sobre o CAN (Taça das Nações Africanas em futebol);
• No seu Jornal da Tarde dessa terça-feira, a TVM não dedicou um minuto sequer às manifestações, que haviam iniciado cedo pela manhã, embora alguns repórteres daquela estação pública se tivessem feito à rua com o propósito de documentarem o que estava a acontecer;
• À noite, no Telejornal, quando os telespectadores esperavam que o canal público trouxesse um retrato detalhado dos acontecimentos, a TVM abordou o assunto de uma forma marginal, negligenciando o facto de que, no domínio da informação, aquele era um assunto de inquestionável destaque;
• Segundo apurámos, um veterano jornalista da TVM hoje fora da Chefia da Redacção terá recebido “ordens superiores” para vigiar “conteúdos noticiosos subversivos”;
• Na Rádio Moçambique (RM), repórteres que se encontravam em vários pontos das cidades de Maputo e Matola foram obrigados, na tarde daquela terça-feira, a interromper as reportagens em directo que vinham fazendo desde as primeiras horas e instruídos a recolherem à Redacção, supostamente como forma de se evitar um alegado “efeito dominó” dos acontecimentos;
• No decurso do Jornal da Manhã de terça-feira, o jornalista Emílio Manhique anunciou que, no seu talk show denominado “Café da Manhã” do dia seguinte, quarta-feira, teria como convidado o sociólogo Carlos Serra, para fazer comentários sobre as manifestações populares. Mas, ao princípio da tarde do mesmo dia, Serra recebeu uma chamada da RM, através da qual foi informado que o o convite tinha sido cancelado “por ordens superiores”. Na quarta, no lugar de o Café da Manhã debater os incidentes do dia anterior, o tema de destaque foi o HIV/Sida. Isto levou a que muitos ouvintes da RM telefonassem para a estação manifestando-se decepcionados com rádio pública, dado que o assunto do momento eram as manifestações;
• O Jornal Notícias, que tem como um dos accionistas principais o Banco de Moçambique, também não escapou a este esforçou de omitir as evidência. Logo que se aperceberam da revolta, os executivos editoriais do jornal destacaram várias equipas de reportagem para a rua, mas as peças produzidas foram editadas numa perspectiva de escamotear a realidade. No dia seguinte, o jornal apresentava textos onde se destacavam frases do tipo “…quando populares e oportunistas se manifestaram de forma violenta, a pretexto de protestarem contra a subida das tarifas dos semi-colectivos…”, e “…entre pequenos exércitos de desempregados e gente de conduta duvidosa…”, etc, etc. Estes e outros factos mostram que a cobertura noticiosa de acontecimentos sensíveis continua a ser alvo de controlo governamental, privando a opinião pública de ter acesso a informação. No caso vertente, a informação sobre o que estava a acontecer em vários pontos do Grande Maputo era vital para que os cidadãos desprevenidos tomassem conhecimento dos lugares onde a revolta era mais violenta, evitando assim se exporem a riscos. Por outro lado, muitos populares prestaram declarações a jornalistas, mas elas não foram transmitidas, vendo assim a sua liberdade de se expressarem mutilada. Estas marcas de censura são perniciosas para a sociedade moçambicana. No caso da TVM, a mão do Governo no controlo editorial mostra que a noção de serviço público com que a estação opera não significa colocá-la ao serviço do povo (e dos contribuintes) , informando com isenção e rigor. Estes condicionalismos a que o trabalho dos jornalistas está sujeito traduz-se numa clara violação à Constituição da República de Moçambique (CRM), nomeadamente no seu artigo 48º, que versa sobre Liberdades de Expressão e Informação, e à Lei de Imprensa (Lei 18/91 de 10 de Agosto). A Constituição é clara quando refere que “todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, bem como o direito à informação” e que “o exercício da liberdade de expressão, que compreende nomeadamente a faculdade de divulgar o próprio pensamento por todos os meios legais, e o exercício do direito à informação, não podem ser limitados por censura”. O relato dos actos da revolta da passada terça-feira era do interesse público, pois a mesma afectou negativamente vários sectores da sociedade moçambicana, tanto mais que na mesma ocasião que a revolta percorria as ruas do Grande Maputo, a comunicação por telemóvel tornou-se, estranhamente, difícil ou mesmo impossível. A forma como alguns órgãos de comunicação social se portaram, omitindo uma revolta evidente ou escamoteando a sua dimensão e as suas causas, sugere um cada vez maior controlo governamental sobre o sector. Esta governamentalização actua no sentido contrário ao plasmado na Constituição da República e na Lei de Imprensa, nomeadamente porque coarcta o acesso à informação. Avaliações recentes, como o espelha o Relatório de 2006 do MISA-Moçambique sobre Liberdade de Imprensa publicado no ano passado, mostram um crescente aumento da vigia das autoridades do Estado sobre os media, destacando-se a censura, o que em estado a deteriorar o ambiente de trabalho dos jornalistas.
O MISA-Moçambique e o CIP apelam a quem de direito para que se não intrometa no trabalho dos jornalistas e dos seus órgãos de comunicação social, por tal se traduzir em violação crassa à CRM e à Lei de Imprensa.
Maputo, 10 de Fevereiro de 2008
MISA-Moçambique e CIP
"Newspapers are owned by individuals and corporations, but freedom of the press belongs to the people",Anon
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Ericino de Salema
MISA-Mozambique
Information and Research Officer
Telephone:+258-21-302833
Facsmile:+258-21-302842
PriCell:+258-82-3200770
Mobile: +258-82-7992520
In - Misa Moçambique e Moçambique Para Todos
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Só nos resta acrescentar - LAMENTÁVEL, porque denigre a apregoada "democracia" moçambicana. E nos faz recordar o saudoso jornalista Carlos Cardoso e sua coragem indomável, atreita a qualquer submissão aos "poderosos" e a vaidades pessoais tão em uso na mídia impressa e virtual.
Não deixou, aparente e infelizmente, legatários de seu vasto, didático manual "O que é ser jornalista" ! Só algumas anêmicas tentativas de "plágio"...