9/30/05

Espaço para a arte de Inez Andrade Paes

A Natureza foi sempre refúgio e fonte de inspiração para o ser humano.

Assim escrevem sobre pássaros e Inez Andrade Paes:

Frequentemente, a sua acepção poética compreende um universo de concórdia e equilibrio a que se sobrepõem as representações classícas do Jardim do Paraíso. Uma Arcádia perdida onde, no pastoral e bucólico, se abrem rasgões de presença divina servida por uma ortodoxia pagã.

Nestas representações, as aves - os pássaros - são simbolo capital e têm, por isso, presença abundantemente marcada. Criaturas do espaço, espíritos do vento, as aves substancializam a própria alegoria do Ar. É esse "outro" ser que "fala", que dá voz a uma história - a chave de íntimos segredos. Se a sua ausência não nos traria perplexidade, estimularia certamente a erupção de um lento terror.
No sexto livro de "A Eneida", Vergílio escreveu: "Fácílis descensus Averno. Fácil é descer aos infernos". Averno era, para Vergílio, o portal do Hades. Um lago tão venenoso que os vapores das águas fétidas matariam qualquer pássaro que por sobre ele voasse. A palavra Averno deriva do grego "aorno" na qual "a" é prefixo de negação e "orno" ou "ornis" significa pássaro. O Inferno seria, assim, um lugar sem pássaros.

A presença dos pássaros fascina pela beleza da plumagem e a poesia do voo. São também os pássaros, muitas vezes, símbolo de poder espíritual - a pomba branca do Espírito Santo, a águia de S. Jono de Patmos (ou Zeus), o pavão de Juno, etç. - e de estatuto social - a posse de araras era restrito apanágio da Família Real. Como emblemas da alma, os pássaros assumem, muitas vezes, corporeidade de boas ou más qualidades, propicios ou desagradáveis augúrios.

"O estatuto dos pássaros" é auspicioso - como diria um augure romano. "Auspicioso" vem de duas palavras latinas: "avis" (pássaro) e "spiceri" (ver, observar) e derivou do antigo hábito de prever o resultado de qualquer empreendimento através da observação do canto e voo dos pássaros ou analise de suas entranhas. Esta mesma atividade que nos fará hoje sorrir, fez parte integrante do percurso que levou ao Renascimento Europeu e para o qual contribuíram, pela atenção meticulosa do detalhe e observação directa do mundo natural, dois grandes pintores: Leonardo daVinci (no Sul) e Albrecht Durer (no Norte).

Desde os primeiros diagramas rupestres até ao detalhe analítica do Renascimento, desde o naturalismo do século XVIII e reconciliação entre arte e ciência no século XIX, até ao ênfase do reconhecimento correcto do meio ambiente e sua representação realista no século XX, que os registos pictóricos de aves não deixaram nunca de participar do imaginário universal a que fazem constante e estimulante apelo.

É extraordinariamente refrescante ver agora esta exposição de pintura de pássaros, na qual, como ciclo poético, Inez Andrade Paes sobrepõe o poder de interpretação das referências naturais à objetividade científica mais crua, ao mesmo tempo que se serve dela. O todo com um resultado que se formaliza em elegante equílibrio.

A limpidez da cor usada no tratamento de cada imagem e a delicada aplicação da linha defenidora dos detalhes fundamentais tem, na sua economia de meios, a qualidade dos clássicos. E é esse mesmo aspecto que confere a estas pinturas o seu carácter contemporâneo.

Sebastian Bruy-Hard, Cambridge, Inglaterra, 2001 (In brochura "Pássaros da Península Ibérica" - Museu Múnicipal de Silves - 9 de Novembro a 2 de Dezembro de 2001)
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Inez Andrade Paes é artista plástica natural de Pemba-Moçambique e reside atualmente em Portugal.
Seus quadros procurados e apreciados no mundo da arte guarnecem coleções particulares. Alguns de seus diversos trabalhos podem ser vistos nestes endereços:

9/29/05

É tempo de arte Makonde - NTALUMA


Via: Moçambique Para Todos

Exposição de escultura e pintura do artista moçambicano Ntaluma

Associação de Estudantes Moçambicanos em Portugal
Núcleo de Coimbra (AEMOP/NC)
Rua Padre António Vieira,
Edifício da A. A. C.
3000-315 Coimbra
E-mail: nemoc@ci.uc.pt
Tlf: 933427376/966241600

CONVITE
Vimos por este meio convidar V. Ex.ª a estar presente na inauguração da exposição de escultura e pintura do artista moçambicano Ntaluma, alusiva aos 15 anos de carreira deste e ao 13º aniversário dos Acordos Gerais de Paz e de Reconciliação Nacional, no dia 04 de Outubro de 2005, às 19.00h, no Instituto Português da Juventude, Rua Pedro Monteiro 73, 3000-329 Coimbra.
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Sobre o Artista Ntaluma de Cabo Delgado:
Ntaluma é um escultor moçambicano que nasceu em Nanhagaia, distrito de Nangade, província de Cabo Delgado, Moçambique, no último ano da década de 60, num sábado, com o calor do planalto, onde os homens se assustaram com as gargalhadas das parteiras tradicionais Makondes.
Dando grande felicidade ao seu pai que estava muito ansioso.
Iniciou o seu trabalho de transmitir a sua mensagem através da madeira, em Novembro de 1990, no Museu de Etnologia de Nampula.
Depois de ter recebido os segredos da escultura Makonde, do seu mestre Crisanto Bartolomeu Ambelikola.
Em 1992 chegou a Maputo onde, com um grupo de amigos, fundou a “Favana Grupo de Escultores Makonde”, no parque de campismo de Maputo.
Em 1994 começou a ensinar escultura Makonde a moçambicanos e estrangeiros.
Em 2000, integrou a ASEMA - Associação de Escultores Makonde, que funciona no Museu Nacional de Arte de Moçambique.
Chegou a Portugal em 2002 onde começou a desenvolver com outros artistas, um intercâmbio de sensibilidades artísticas.
Em 2003 assumiu a responsabilidade da escola de escultura da ALDCI – Associação Lusófona para o Desenvolvimento, Cultura e Integração - Portugal, integrada na escola da multi-culturalidade.
Está representado em coleções particulares nos quatro cantos do mundo.
As Origens da arte: Quem não se lembra de alguma vez na vida ter visto uma escultura Makonde, que faz rodopiar as pessoas numa viagem que é de todos nós, numa reafirmação de que a arte está permanentemente nos corações de todas as latitudes.
A humanidade é uma parte da natureza com os seus fenômenos.
Para o escultor, uma imagem não é só um simulacro provido de qualidades vivas, é também uma forma de o homem manifestar o seu imaginário.
Desde a idade da pedra que os nossos antepassados esculpem com as suas mãos, as formas naturais da terra.