De Angola recordando Pemba ou mais uma "crónica" do Miguel S. em seu "Agora ComDestino" (ex-SemDestino):
parte 1
Era puto quando cheguei a Pemba, naquela que foi a minha primeira grande aventura por terras d'África.
No início do ano de 1995 ainda se viviam tempos de uma estabilidade relativa no norte, após décadas de guerra, criando um ambiente único para quem do continente apenas conhecia o Kruger, na passagem de ano de 1991 para 1992, na desenvolvidíssima África do Sul de De Klerk já no período de transição pós fim do Apartheid, umas [ainda possíveis] voltas a pé por Small Street e área envolvente, as hoje abandonadas SunTowers e a magnífica viagem de Joanesburgo à entrada do Kruger passando por Pretória.
Férias idílicas de uma África que vai rareando.
Quem conheceu o hinterland há uns anos atrás, nota bem a diferença: Suazilândia, Malawi e Zimbabwe para citar três exemplos de países que decaíram significativamente por razões diversas.
Na altura Moçambique representava uma grande aventura, sobretudo quando o destino não era Maputo.
Na altura Moçambique representava uma grande aventura, sobretudo quando o destino não era Maputo.
Um teste de resistência para todos nós, putos e kotas.
Para a malta da minha idade, a geração perestroika/glasnost, Moçambique, entre outros motivos, representava a possibilidade única de poder viver presencialmente a mudança de um regime marxista-leninista com economia planificada para uma democracia com economia de mercado, era a oportunidade única de poder viver as mais diversas alterações sociais/institucionais/organizacionais e outros -ais, cheirar um pouco do nosso passado ainda e sempre bem visível, viver os primeiros passos de um país a renascer das cinzas após a ONUMOZ.
(27/05/2005)
parte 2
Em Maputo a recepção costumeira para quem chegava pela primeira vez.
Fiquei naquele verão moçambicano na casa do M. e da R., com o puto e o doberman.
Tudo novo e interessante.
Sem tempo para mais pois trataram de me meter no avião para Pemba na tarde seguinte.
Ainda entusiasmado, entrei no avião em Maputo e fui observando todos os detalhes que o vôo me permitia observar.
A descolagem com uma vista interessante sobre Maputo, o recorte da costa, as tripulantes com penteados arrojados e passageiros com características tão díspares, a escala em Nampula e, finalmente, a magnífica Pemba já ao fim do dia.
Sala pequena e temperatura ao nível de uma sauna a das chegadas com as malas a serem atiradas à mão para o "tapete".
A romaria costumeira da cidade, quase ilha, rumo ao aeroporto para ver quem chegava e quem partia nos dois vôos semanais. Infalível.
Naquele dia fomos jantar ao Nautilus, o melhor sítio que lá havia.
Naquele dia fomos jantar ao Nautilus, o melhor sítio que lá havia.
Um bife de marlin na companhia do U. e do C., com o Carlos H. da Lomaco na mesa ao lado (quem diria?).
As imagens nocturnas da cidade eram algo desoladoras e acabaram por ser confirmadas na manhã seguinte quando o U. andou comigo pela cidade. "Vamos ver a cidade?", perguntou-me logo pela manhã ao que anuí com interesse pois estava cheio de curiosidade.
Abalámos estrada fora em direcção ao centro, na única estrada que dava acesso à cidade.
Do Alto Gingone, onde estávamos baseados, até à cidade distavam uns 4 ou 5 km de uma estrada larga com 4 faixas.
Do lado esquerdo o aeroporto, do lado direito a casa da namorada oficial do C., mais à frente do lado esquerdo as ruínas de qualquer coisa e as de um avião que se tinha despenhado havia uns anos, até que à entrada da cidade o quartel à esquerda, os armazéns do Osman Yacub, a Toyota dos animadíssimos "gordos" (já não me lembro do nome), o take-away mais famoso à esquerda depois da curva, a liquorstore, a LAM, a rotunda com o cinema ao ar livre em pedra do lado direito, em frente a "feira" e, do outro lado da rua, o Hotel Cabo Delgado.
Rua acima, a zona comercial de Pemba, com o supermercado do lado direito, a loja do Faria do lado esquerdo, mais acima pequenas lojas onde se vendiam algumas iguarias e coisas de pequena monta com muitas capulanas à mistura.
Nunca mais me esqueço da pequena livraria no canto do largo dessa avenida, por detrás do prédio da Geologia e Minas onde morava o Abdul Ibrahimo Pingalsi, e da cara do empregado quando comprei todos os livros que lá estavam: relíquias de outros tempos ao preço da chuva. Desde Mia Couto a Gulamo Khan, Lina Magaia e Eduardo White, entre outros, levei tudo. Até livros em português feitos pelos soviéticos [eram dessa altura, da URSS].
Do lado direito a Manica do Narciso e da sua grande mulher [literalmente], as vivendas e o palácio do governador para depois chegarmos ao miradouro no cimo da avenida e a grandiosa baía de Pemba.
Fomos por ali abaixo, um jardim, a Administração Municipal do lado direito, mais abaixo o BCM e a casa dos Neru com os seus BMW naquelas estradas... o mercado municipal, à direita e depois a rua principal da baixa com o tasco do Santos, o Niassa Comercial do Claudino e a sua máquina de calcular mecânica à manivela e mais umas lojecas com muitas capulanas.
Virámos ao fundo da rua, passando por detrás da baixa e observando o bairro à esquerda conhecido por Paquite cheio de tanzanianos e, quanto a mim, igualmente de mwanis.
É algo perigoso, disse-me o U. Confesso que andei por lá muitas vezes.
Mais à frente o Ruela à esquerda, subimos a picada que dava a volta a parte da cidade junto ao mar, com as instalações da TDM do lado direito, as dos fuzas abandonadas até chegarmos à zona dos "maus cheiros" antes da rotunda que dava acesso ao Meia-Via.
Em menos de meia-hora demos a volta à cidade.
Em menos de meia-hora demos a volta à cidade.
Fiquei medianamente aterrorizado ficando este sentimento esbatido pela magnífica praia do Wimbe.
E do que mais tarde vim a conhecer, mesmo o C. um caso difícil...
Yono.
Miguel S.
(01/06/2005)
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Aguardemos então a parte 3 e seguintes, assim volte o 'guerreiro' do descanso !
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