Apelidado de Ronaldinho, rato detecta minas em Moçambique - Inhambane, Moçambique, 19 jul (Lusa) - Ronaldinho é um dos melhores do mundo naquilo que faz: com quatro patas, olfato apurado e um apetite insaciável por bananas e amendoins, este rato corpulento e de focinho apurado é a nova "estrela" na detecção de minas em Moçambique.
No entanto, tal como o seu homônimo do futebol internacional, Ronaldinho joga em equipe: "atua" junto com Robinho e Nelson, todos treinados por uma organização não-governamental belga (APOPO) para detectar minas através do olfato em Gaza, que confina a sul com a província de Maputo.
Numa manhã quente, Ronaldinho estava com os seus companheiros de equipe no seu "campo de treino", um imenso descampado nos arredores da cidade de Inhambane, no sul de Moçambique, dividido por cordas em seções de 10 metros quadrados, onde vão passar os próximos seis meses.
Foram "acordados" às 6 horas e trazidos de jipe nas enormes caixas individuais de acrílico transparente, onde dormem e onde não falta um bebedouro.
"Moçambique é o primeiro país em que estamos a testar os ratos para apanhar minas", conta Vendeline Emmanuel Shirima, tanzaniano, natural de Morogoro, uma cidade na base do monte Kilimanjaro, que, desde 2003, treina esta insólita equipe de roedores transformados em caçadores de explosivos, previamente treinados na Tanzânia, que nesse ano ajudaram a extrair da terra 25 minas. De uniforme bege, Emmanuel Shirima ajuda os outros treinadores moçambicanos a descarregar as enormes caixas, que transportam debaixo do braço até a área atribuída a cada um dos enormes ratos - "uma vez chegou um gato, parou aí no muro e ficou a assistir. Nem teve coragem de descer", conta Egídio José Guilherme, 35 anos, um dos treinadores moçambicanos dos animais. Aqui chegados, Ronaldinho e os seus companheiros são presos a uma coleira, fixado numa corda amarrada nas extremidades por treinadores que seguram na mão um cacho de bananas e um balde de amendoins - os ratos são trazidos para o campo em jejum para "trabalharem bem", como explica Shirima.
É neste momento, quando Ronaldinho e os seus "companheiros" entram em campo, que a magia acontece: num movimento pendular atentamente vigiado pelos dois treinadores, com a cauda rija e o focinho colado ao chão, em poucos minutos os "grecestomys gambianus" (nome da espécie) detêm-se e escavam incessantemente a terra vermelha no local onde a mina foi colocada, recebendo em troca um pedaço de banana e amendoins.
"Estes ratos costumam cheirar à procura de comida, que normalmente está enterrada no solo, e por isso têm um olfato muito apurado. Mas podem ser ensinados a fazer o que quisermos. Neste caso estão ensinados para cheirar TNT", explica Emmanuel Shirima, acrescentando, orgulhoso: "os sapadores com detectores de metais normalmente demoram seis dias para fazer este quadrado. Estão a ver quantos minutos o rato demorou?".
A fórmula, aparentemente simples, é olhada com ceticismo por muitos: de muitos habitantes locais que passam nas imediações do campo e ainda olham incrédulos para o que vêem, mas também de Alfredo Adamo, natural de Gaza, no sul de Moçambique, um dos treinadores moçambicanos de Ronaldinho e dos seus companheiros.
"Ao princípio foi um pouco estranho. Era difícil acreditar nisso. Sabia que se usavam cães e máquinas para a desminagem, mas nunca ratos. Só depois quando vi o que estava a fazer, o que estava a acontecer na verdade, é que me convenci", confessa este antigo professor de História, que trabalha desde 2003 com a organização não-governamental belga.
Hoje, cinco anos depois, Alfredo Adamo admite: "Antes via os ratos como animais que não deviam existir porque realmente não via nenhuma vantagem neles. Só podia matar os ratos.
Mas depois descobri que podiam ser úteis. Eu sei o que fazem as minas às pessoas".
Mas, Ronaldinho e seus companheiros de equipe cativaram todos os que trabalham neste projeto pioneiro, sobretudo para Lídia Jeremias, 54 anos, a única mulher que trabalhar no grupo, cuja adaptação foi complicada.
"Sim, fiquei assustada ao princípio. Senti vontade de fugir para cima da mesa. São grandes, não são como esses ratos que existem nas casas. Mas não fugi porque eles me disseram que não faziam nada, que eram animais domésticos. Só que não me quero aproximar dos ratos nem nunca lhes fiz festinhas", exclama.
Sentada num dos muros da sede da APOPO, uma pequena moradia azul e branca no centro de Inhambane, Lídia Jeremias não hesita na altura de apontar o animal que prefere ter em casa: "gosto de criar cão".
Fora de casa, no entanto, tudo é diferente: não existe sequer um mapa sólido das áreas minadas durante a guerra civil de 16 anos em que o país esteve mergulhado após a independência. Existem 484 áreas identificadas. Em 2007, 19 pessoas morreram e várias dezenas ficaram feridas em conseqüência da explosão de minas terrestres - em 2006, as minas mataram 23 pessoas e feriram 34.
- O portal da "APOPO" - Aqui!
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