6/05/07

Conjunto Académico João Paulo

Já o haviamos mencionado por altura do falecimento do João Paulo em 23 de Abril passado.
E surge agora mais um trabalho do "Malhanga" que reaviva momentos e sons com esse conjunto marcante de nossa juventude em Moçambique - Porto Amélia:
Leiam, recordem e escutem aqui:
O Conjunto Académico João Paulo começou no Liceu Jaime Moniz, na Ilha da Madeira, nos primeiros anos da década de 60. Em 1964 deslocaram-se ao continente obtendo grande sucesso no Teatro Monumental e no programa "TV Clube".
Em 1964 foi editado o primeiro disco do grupo, um EP (formato mais vulgar na época com 3 ou 4 canções) com os temas "La Mamma", "Hello Dolly", "Eu Tão Só" ("Et Pourtant") e "Ma Vie". Venceram o Prémio de Imprensa Especial de 1964, entregue no dia 3 de Abril de 1965.
O segundo EP inclui os temas "It´s Over", "Se Mi Vuoi Lasciare", "Chove" e "Greenback Dollar". No início eram sete elementos, a partir deste disco, o grupo passa a ser constituído por: João Paulo (teclas), Rui Brazão, (guitarra ritmo), Ângelo Moura (baixo), José Gualberto (bateria), Carlos Alberto (guitarra, autor da maioria dos inéditos do grupo) e Sérgio Borges (vocalista e autor das letras dos originais e de algumas versões).
O EP "+1Disco=4 Sucessos" inclui os temas "Se Piangi Se Ridi", "Nunca Mais" (uma versão de "You've Lost That Lovin Feelin'"), "Hully Gully do Montanhês" e "Oh Dis Marie".
É editado novo EP com os temas "Capri C´est Fini", "Milena (a da Praia)", "Diz-lhe" e "Non Son Degno Di Te".
Sérgio Borges fica em 2º lugar no Festival RTP da Canção de 1966 com "Nunca Direi Adeus". O grupo edita o EP "Eurovisão" com os temas "Balada A Uma Rapariga Triste", "Ciao", "Nunca Direi Adeus" e "Ele e Ela" (tema de Madalena Iglésias que representou Portugal no Eurofestival desse ano).
Ainda em 1966 é editado o álbum ”Conjunto Académico João Paulo no Teatro Monumental“, um dos poucos lançamentos nacionais neste formato ainda a dar os primeiros passos.
Os Eps "L'Amour Est Bleu" ("L'Amour Est Bleu", "Puppet On A String", "I Hate These Moments" e "Sombras") e ”Poema de um Homem Só“ ("Poema De Um Homem Só", "Monday Monday", "Oasis" e "When A Man Loves A Woman") são os registos seguintes.
Novo EP com os temas "Sue-Lin A Minha Chinesa", "Cosa Vuoi Da Me", "Kilimandjaro" e "Quando Nasce O Amor".
É editado o EP "O Louco" com os temas "O Louco", "Si Lo So", "Tu E Eu" (versão de "Happy Together") e "I Just Don't Know What To Do With Myself".
"A Shadow Rounds The Tomorrow Sounds" é o último disco desta fase pois estão parados durante algum tempo devido à mobilização dos seus elementos para a Guerra Colonial.
Colaboram com a cantora Vickie num single com os temas "Who Have Nothing" e "Try A Little Tenderness".
Sérgio Borges vence o Festival RTP da Canção de 1970 com "Onde Vais Rio Que Eu Canto". A solo lança ainda um outro single com versões de "Canção de Madrugar" e "Corre Nina", outros dos temas que mais se destacaram nesse Festival.
O grupo passa a denominar-se Sérgio Borges e O Conjunto João Paulo. É editado o disco "Meu Corpo É Minha Seiva".
Entram para o grupo os ex-Quinteto Académico+2 Adrien (bateria) e Zé Manel (saxofone).
Lançam um EP que incluía ”Lavrador“, adaptação do tema ”Aguarela Portuguesa“ de Zeca do Rock. Os outros temas deste disco são "Serei um Dia o Mar", "Estrada Branca" e "Paul da Serra".
O último disco do grupo, editado em 1972, foi um EP com os temas "Nascer" (Birth), "Champs Elysées", "O Salto" e "A Uma Gina".
Em 1981 é editada uma colectânea do grupo num dos volumes da "Antologia da Música Popular Portuguesa".
Em 1993, a EMI-VC lançou a compilação "Os Grandes Êxitos do Conjunto Académico João Paulo", primeiria edição em cd dos trabalhos do grupo, com os temas "EuTão Só (et pourtant)", "Capri c'est Fini", "Ma Vie", "Se Mi Vuoi Lasciare", "Hully Gully do Montanhês", "Se Piangi, Se Ridi", "Non Son Degno Di Te", "Milena (a da Praia)", "Ciao", "Nunca Direi Adeus", "Stasera Pago Lo", "L'Amour Est Blue", "Cosa Vuoi Da Me", "Kilimandjaro", "Onde Vais Rio Que Eu Canto", "Canção de Madrugar" e "Corre Nina".
A colecção Caravela, editada em 1996 pela EMI, sob o lema "Os Maiores Artistas Ao Melhor Preço! - Grandes Êxitos Em Gravações Originais", inclui discos dedicados a nomes como Sheiks, Quarteto 1111 e Conjunto Académico João Paulo mesmo que em edições mais pobres.
João Paulo Agrela, membro do agrupamento musical Conjunto Académico
João Paulo, morreu no dia 23 de Abril de 2007.
Fonte: Wikipédia e http://www.malhanga.com/JP-videos/
Bom trabalho, Malhanga !

6/02/07

PEMBA - SUA GENTE, MITOS E A HISTÓRIA - Parte 1

Sobre Luis Alvarinho, autor de "PEMBA, Sua gente, mitos e a história - 1850 a 1960" diz-nos a poetisa Glória de Sant'Anna (extraído das páginas de Porto Amélia/Pemba):
""20/06/2002 - Estando em preparação um livro de crónicas em que esta será incluída, envio-a como homenagem ao Luís Alvarinho - Glória de Sant'Anna :
Moçambique – Cabo Delgado
A Escuna Angra é um marco histórico navegando o mar no reinado de D. Pedro V, para as terras de Cabo Delgado ao norte de Moçambique.
Comandada por Jerónimo Romero, 1º tenente da Armada, leva consigo sessenta colonos que irão fundar a colónia agrícola de Pemba, em 1857.
Mãos amigas fizeram chegar até mim um livro sóbrio que relata o facto.
Baseia-se ele essencialmente na adenda à memória descritiva de Jerónimo Romero, e na recolha da tradição oral de toda a região que abraça a baía de Pemba.
É seu autor Luís Alvarinho nascido em Pemba em 1959. (1)
Este jovem que na sua meninice por certo correu pela orla das ondas, colheu búzios na praia do Wimbe, bebeu sumo dos cajus, trincou maçanicas e jambalão: e na sua juventude se sentou frente aos microfones do Emissor Regional de Cabo Delgado, cativado pela magia e o poder da Rádio: este jovem, também ele elemento de mudanças políticas, inicia com o livro "PEMBA, SUA GENTE, MITOS E A HISTÒRIA – 1850 / 1960", datado de 1991, um caminho de pesquisa etnográfica e política das terras de Cabo Delgado – Pemba – nos séculos XIX e XX.
Da recolha oral conta o autor uma terna história que transcrevo:
" em anos muito recuados da nossa história a baía de Pemba era frequentada apenas por alguns pescadores malgaches e swailis que em suas pequenas lanchas e pangaios arrecadavam o alimento sem nunca ali se fixarem.
Conta então uma antiga lenda que por essa altura uma de tais embarcações apanhada por um temporal naufragou tendo como sobrevivente uma mulher que se viu obrigada a procurar algum refúgio nas proximidades da baía.
A mulher importante ( NUNO em língua local ) conseguiu sobreviver e montar aí a sua guarita.
Naturalmente conotada a NUNO pelos pescadores como "mensageira divina" demonstrando que a zona poderia ser perfeitamente habitada, ela fê-los seguir o seu exemplo."
Esta obra com a qual me congratulo, não apenas pelo valor que tem, é uma pedra angular no espaço das letras moçambicanas.
Como o próprio autor diz em nota introdutória, "este trabalho não tem pretenções de um rigor histórico, como talvez se possa interpretar. A pesquisa histórica com certa sistematização poderá, isso sim, permitir identificar as raízes do local e da sua gente...
A principal motivação para este empreendimento, foi precisamente a de preservar a tradição oral de Pemba, já bastante perdida."
(1) – Foi meu aluno no ensino secundário e faleceu alguns anos depois de ter escrito este livro histórico a que se refere esta crónica. -
Glória de Sant'anna

PEMBA - SUA GENTE, MITOS E A HISTÓRIA
NOTA INTRODUTÓRIA
Este trabalho não tem pretensões de um de rigor histórico como talvez se possa interpretar. A pesquisa histórica com certa sistema­tização poderá, isso sim, permitir identificar as raízes do local e da sua gente, afinal a intenção essencial deste estudo.A principal motivação para este empreendimento, foi precisamente a de preservar a tradição oral de Pemba, já bastante perdida.É assim que, a par de fontes históricas comprováveis, como por exemplo as notas em citação, documentação avulsa do Arquivo Histórico de Moçambique, dados de vários números do Boletim Oficial e Boletim da Companhia do Niassa nem sempre citados para não cansar o leitor, o texto inclui variada informação oral cuja veracidade histórica se torna difícil comprovar mas que duma maneira ou de outra acaba fazendo parte da vida e do sentir da gente de Pemba.Mesmo na sua simplicidade esta obra só foi possível com o apoio do Arquivo Histórico de Moçambique, do Conselho Executivo da Cidade de Pemba, seus responsáveis e várias pessoas individuais de que não menciono nomes pretendendo evitar omitir alguém de muitos que me ajudaram.Muito grato estou aos meus irmãos que me acompanharam nesta caminhada.
Luís Carrilho Alvarinho - Maio, 1991

I
EIS, PEMBA!
A turística cidade de Pemba, ao noroeste da costa de Moçambique, encontra-se implantada na península meridional de uma das mais belas baías do mundo - PEMBA - e estende-se ao longo de uma colina que se eleva gradualmente até ao chamado "Planalto dos Cajueiros". Maravilhosas praias a orlam roubando-lhe grande parte da costa que, ora deixa penetrar francamente as águas do mar sobre uma areia branca e fina ora as faz estancar em rochas, já bem batidas, mas de uma magnífica beleza natural. Da Maringanha ao Paquitequete se pode experimentar o cheiro a maresia quando os ventos carregados de iodo vêm do mar ou deliciar o perfume aromático arrancado às resinas e essências dos maciços florestais quando eles do interior sopram em direcção ao litoral. Outrora com densa vegetação e floresta cerrada onde só animais selvagens viviam, a cidade de Pemba é hoje habitada por cerca de 80.000 pessoas e visitada anualmente por mais de um milhar de turis­tas. É delimitada a Norte pela ponta Mepira e a Sul pela ponta Maunhane, ocupando uma área de 142 km2. O embrião que veio dar origem à actual cidade de Pemba, data de 1857, como parcela da “Colónia 8 de Dezembro", fundada por Jerónimo Romero e dissolvida cinco anos depois por diversos problemas de organização e adaptação dos colonos. A princípios da década de 1890 um indivíduo de origem malgache funda a noroeste do actual bairro de Paquitequete um povoado conhecido pelo nome de “Muenha Amade”. A Companhia do Niassa instala, por sua vez em 1897 nas proximi­dades dessa povoação um posto militar para no ano seguinte criar o Concelho de Pemba com sede na povoação de “Pampira”, nome por que também era conhecida a região. Por portaria do Ministério da Marinha e Ultramar de 22 de Novembro de 1899 e proposta do Conselho da Administração da Companhia do Niassa, Pemba ou Pampira passa a denominar-se "Porto Amélia" em homenagem à última rainha de Portugal D. Amélia de Bragança. Dada a sua importância como porto exportador e às facilidades no trato do comércio do sertão a Companhia do Niassa transfere em 1902 de Ibo para Porto Amélia a sede da sua administração. Extinguindo em 1929 a companhia majestática, a administração colonial portuguesa manda rectificar a planta de Porto Amélia com vista a organizar ali uma nova povoação, decidindo no entanto manter-lhe o nome. Em 1932 passa ter a povoação de Porto Amélia uma Câmara Mu­nicipal, cujo foral lhe foi concedido 11 anos depois. Porto Amélia ascende a vila por portaria de 19 de Dezembro de 1934 e é elevada à categoria de cidade em 1958 pelo Decreto-lei de 18 de Outubro do Governo Geral da Província. A escassos meses da independência de Moçambique a cidade de Porto Amélia volta a denominar-se Pemba, por ordem do Presidente Samora Machel.
(Continua)