8/09/08

Mundo Lusofono: "Magalhães", um computador pouco português! - Parte 2.

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Apresentado com pompa e circunstância em Portugal, o laptop "Magalhães" é produto totalmente idealizado pela Intel como mostramos aqui no primeiro dia de Agosto corrente. Mas o assunto, interessante pelas perspectivas que abre no sentido de diminuir o fosso digital existente nos países emergentes onde incluimos e lembramos Moçambique, continua em foco como lemos há pouco no "TecnoPolis":
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O Magalhães e o negócio dos computadores baratos.
Passando em revista as três semanas em que este blogue esteve parado, não há dúvidas de que o grande acontecimento tecnológico em Portugal foi a apresentação do Magalhães - um computador portátil de baixo custo, destinado a crianças entre os seis e os dez anos.
Como já foi esmiuçado em alguns blogues, o Magalhães é uma adaptação, montada em Portugal, do Classmate PC, um pequeno computador portátil que a Intel desenvolveu para vender em países sub-desenvolvidos (aqueles que a empresa vê como “mercados emergentes”) - um facto que os responsáveis pelo projecto não fizeram questão de sublinhar e que parte dos media ignorou.
O assunto tem dado que escrever na blogosfera: aqui, aqui e aqui, por exemplo.
Em Outubro, o vice-presidente da Intel John E. Davies, responsável pelo programa World Ahead (o programa que distribui os Classmate PC) esteve em Portugal para assinar um memorando com o governo português para equipar com chips Intel os computadores do e-escola.
O tema dos portáteis de baixo custo - e do Magalhães em particular - merece ser retomado. Até lá, deixo o artigo resultante da entrevista ao executivo da Intel, originalmente publicado no suplemento Digital:
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O negócio de vender computadores aos pobres.
Para que precisam os agricultores em áreas remotas da China de um computador? Uma resposta é: precisam de acesso à informação para conseguir uma melhor qualidade de vida. Outra: porque as grandes empresas não querem deixar fugir as oportunidades de negócio nos mercados emergentes.
A China, como muitos países asiáticos, africanos e sul-americanos, está na mira dos fabricantes de tecnologia, que querem chegar aos que ainda estão no lado negro do fosso digital.
Um dos grandes nomes internacionais que tem apostado na informatização dos países em vias de desenvolvimento é a Intel. A maior fabricante mundial de processadores mantém o programa World Ahead, que actua em 40 países e visa informatizar os milhões de pessoas a quem a tecnologia da informação ainda não chegou. E não se trata apenas de países em desenvolvimento. O World Ahead também estabelece parcerias com governos de países “tecnologicamente maduros”, para que as tecnologias de informação cheguem a faixas normalmente info-excluídas, como é o caso dos idosos.
Da instalação de Internet sem fios a parcerias para a criação de computadores ultra-baratos, passando pelo treino de professores e apoio a escolas - é assim que a Intel se tem posicionado nos mercados dos países mais pobres. Uma postura que quase parece de caridade, mas que “é negócio”, explicou sem hesitar o vice-presidente da companhia e responsável pelo World Ahead, John E. Davies, numa entrevista ao Digital.
O executivo da multinacional americana esteve esta semana em Portugal para assinar um memorando com o Governo. O acordo formalizou a integração de tecnologia recente da marca nos portáteis de baixo preço que estão a ser distribuídos pelo executivo a alunos e professores, ao abrigo do Plano Tecnológico.
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Portáteis baratos.
O World Ahead investe anualmente milhões em acções de inclusão digital. Mas nem por isso deixa de ser “rentável”, nota Davies (que se escusou a avançar números). Neste campo, a estratégia da Intel passa “não por dar o peixe, mas por ensinar a pescar”. E, pode-se acrescentar, por vender as canas de pesca.
Um dos projectos mais conhecidos da Intel na área do impulso à informatização é o Classmate, um computador portátil, barato e concebido para crianças, que é vendido ao governos interessados. O modelo é semelhante ao “portátil de 100 dólares”, da iniciativa One Laptop Per Child (OLPC), cujo mentor, Nicholas Negroponte, chegou a acusar a Intel de estar a competir de forma injusta. Contudo, segundo Davies, há 1200 milhões de crianças em idade escolar cujos países podem estar interessados neste tipo de equipamento: “Há espaço para mais do que um.”
A Intel acabou até por se juntar recentemente à iniciativa de Negroponte, cujos computadores são equipados com processadores da rival AMD. Mais uma vez, Davies não esconde o objectivo da multinacional: vender a sua tecnologia. Davies acredita que a Intel vai acabar por conseguir desenvolver um processador com as características necessárias para equipar os “portáteis de 100 dólares” - nomeadamente, um muito reduzido consumo de energia.
A Intel equipa ainda o modelo de computador sem monitor (tem que ser ligado a uma televisão) que a Lenovo está a distribuir na China e os ultra-portáteis Asus, computadores baratos e destinados, por exemplo, a estudantes universitários com poucos rendimentos.
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A tecnologia liberta.
Uma das críticas frequentes aos projectos que pretendem diminuir o fosso digital é que as populações de muitos países têm muitos outros problemas por resolver - carências alimentares, a falta de escolas ou de um sistema de saúde adequado.
O vice-presidente da Intel, John E. Davies, defende, contudo, que o acesso a computadores e à Internet são importantes para a melhoria da qualidade de vida das populações: “Se não lhes dermos tecnologia, eles ficam aprisionados. [A Internet] consegue tirá-los do seu meio”, argumenta, recordando o episódio de uma aldeia egípcia onde a instalação de computadores e Internet pela Intel ajudou a encontrar soluções novas para questões locais, como um problema de saneamento.
Por outro lado, a informática não tem que ser pensada nos moldes dos países desenvolvidos, diz Davies. Na China rural, por exemplo, não é necessário um computador por pessoa. “Se calhar, basta um por aldeia”, o suficiente para um agricultor pesquisar o preço das colheitas que produz e não ser enganado quando as for vender.

ECOS DO BRASIL - FLAVIA VIVENDO EM COMA...Porquê tarda a Justiça?

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Através das inovadoras tecnologias de informação que nos levam aos quatro recantos do mundo com a rapidez exigida pela globalização, parte desse mesmo mundo segue inebriada, deslumbrada os mais caros Jogos Olímpicos de sempre. Ostentação e imodéstia estão sendo incorporados à beleza e ao nobre espírito olímpico para afirmar poder e arrogância, exacerbar nacionalismos e justificar a míngua em direitos individuais, humanos, o desrespeito à natureza, a inexistência de liberdade, de opinião no território China aonde existe um Tibete opresso e povo acabrunhado, forçado a sorrir em confins insubordinados e enfastiados do despotismo comunista.
Porém, é bom despertar dessa euforia fabricada, colocar os pés na terra que nos abriga, já que o planeta continua a girar e a produzir consequências e incoerências que contradizem tudo aquilo que tais espetáculos de milhões e milhões de dólares em custo, propagados por interesses comerciais e pela benevolente e tantas vezes parcial mídia, tentam fazer-nos esquecer ou jogar para debaixo do tapete como de reles pó se tratasse...
Alertado por amigos e companheiros desta magnífica e livre blogosfera (que já não o é na China & simpatizantes) tomei conhecimento do drama da jovem brasileira FLAVIA, em coma vigil desde Janeiro de 1998 como consequência de deficiente equipamento causador do acidente que a incapacitou para a vida normal desde aquela data. E aqui deixo, tentando ajudar e divulgar, o caso invulgar (ou nem tanto lamentávelmente), a injustiça que se comete e amplia o sofrimento de seus Pais e familiares.
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..."Este Blog, criado em Janeiro de 2007, é dedicado à minha filha Flavia, em coma vigil há dez anos e sua luta pela vida, desde que teve seus cabelos sugados pelo sistema de sucção da piscina do prédio onde morávamos em Moema - São Paulo. O que aqui escrevo, é o relato verídico dos fatos desde o acidente, ocorrido em 06.01.1998, até os dias de hoje. É um alerta sobre o perigo existente em ralos de piscinas. É um protesto contra a lentidão da justiça brasileira."
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Mais adiante:
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..."Tão longe e tão perto: a filha ali, ao lado, alheia, parada, inconsciente enquanto a vida continua a produzir histórias alegres, tristes, indiferentes na engrenagem pontual dos dias. São 10 anos ou 126 meses ou mais de 3,8 mil dias sem falar, saber o que ocorre à sua volta, expressar carinho, praticar atos voluntários. É a metade de sua existência de 20 anos: de criança, entrou na adolescência, na juventude submersa num mundo à parte, impenetrável. “Tantas coisas você perdeu nestes 10 anos, um tempo que não dá para recuperar”, escreveu Odele Souza para a filha Flávia, em coma vígil, no Dia das Mães, postada no blog que alerta serem corriqueiros acidentes como o que ocorreu com a garota. Fotos da menina linda, alegre, brincando de bailarina condensam aqueles poucos anos de vida bem, saudável, tirada em poucos segundos por falta de oxigenação no cérebro, no dia 6 de janeiro de 1998, num acidente inimaginável na piscina no condomínio Jardim da Juriti, onde morava em São Paulo.
O ralo sugou seus cabelos e a deixou sem capacidade de interagir com o meio e as pessoas, mas com as funções orgânicas preservadas. Dorme, acorda, abre e fecha os olhos (daí o nome coma vígil), aparenta reagir a estímulos, se alimenta por sondas. Do ponto de vista da neurologia, um quadro considerado irreversível. Nem mesmo o despertar do polonês Jan Grzebski no ano passado, depois de ter vivido 19 anos em coma, ou de outros casos que aparecem sinalizam alguma possibilidade de mudança. “Quanto mais tempo demora em estado de coma, menos chances de reverter o quadro”, diz o médico Josaphat Vilela de Moraes, chefe da clínica de neurocirurgia do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), de Belo Horizonte."
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Corre, na Justiça do Brasil, processo moroso tentando responsabilizar e cobrar reparos pela imprevisão e negligência que causaram tanto dano à vida da jovem Flávia. Assim, continuo a transcrever:
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"Os réus do processo pelo acidente causado à Flavia são :
- JACUZZI DO BRASIL – fabricante que vendeu o ralo sem orientação técnica quanto à correta relação de proporção entre o equipamento de sucção e o tamanho da piscina onde foi instalado...
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- CONDOMÍNIO JARDIM DA JURITI - Av. Juriti, 541 - Moema - São Paulo.
Substituiu - sem orientação técnica - o equipamento de sucção da piscina. O motor de potência de 0,50 cavalos foi substituído por outro de 1,50 cavalos com potência superior em 78% o que deixou o equipamento superdimensionado e fora dos padrões de segurança, conforme perícia técnica anexada aos autos do processo de Flavia.
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- AGF BRASIL SEGUROS – Seguradora do Condomínio.
Não pagou, quando por mim solicitada, o seguro de responsabilidade civil existente no condomínio, vindo a fazê-lo 1 ano e 11 meses após, mediante ordem judicial mas sem juros nem correção monetária.
Há quase dez anos, dei entrada na Justiça Paulista no processo de indenização por perdas e danos morais pelo acidente causado à Flavia. Há quase dez anos, luto na justiça pela condenação dos culpados. Até hoje os réus seguem impunes, e Flavia, já com 20 anos, segue vivendo sem a proteção que deveria - de imediato - lhe ter sido dada pela justiça que de tão lenta se torna uma justiça injusta.
Durante esses todos esses anos de batalha judicial, o processo de Flavia teve dois julgamentos. Em ambos nos foram concedidas indenizações de valores irrizórios, ínfimos, podendo mesmo serem considerados aviltantes, tendo em vista as gravíssimas sequelas que este acidente - causado por negligência de terceiros - deixou em Flavia. (*) Em novo e último recurso solicito à justiça, - agora em Brasília - indenização de valor adequado à gravidade deste acidente, para que Flavia possa ser cuidada - pelo resto de sua vida - com os recursos de que necessita para ter uma sobrevida digna. Há mais de um ano, o processo de Flavia teve autorização da justiça paulista para ser julgado em Brasília, em última instância. Há mais de três meses, essa decisão saiu publicada no Diário Oficial de São Paulo. Somente dia 14 de Julho de 2008, o processo de Flavia saiu do Tribunal de Justiça de São Paulo rumo ao Superior Tribunal de Justiça em Brasília. E lá, não sabemos por quantos anos ainda permanecerá."... ...
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Este é um caso entre inúmeros outros casos e injustiças. E não só no belo Brasil!
Por isso brindemos, festejemos com luz e côr os milhões gastos em espetáculos olímpicos e quejandos. Mas não nos esqueçamos de brindar também aos milhões de dólares que não são gastos em favor duma Justiça eficiente, das indefesas Flavias do nosso quotidiano, dos injustiçados, dos perseguidos e dos Tibetes oprimidos do mundo inteiro. Ou não será tudo uma questão de prioridades não estabelecidas e parca solidariedade nos jogos olímpicos da vida?
  • Flavia Vivendo em Coma - Aqui!
  • O selo para colocar no seu blogue ou página na net, convocando para a Blogagem Coletiva para Flavia programada para 15 de Setembro próximo:

Blogagem Colectiva para Flávia em 9/Set/2008