2/23/10

A "linguagem secreta" dos elefantes...

Segundo a BBC-Brasil, os elefantes têm uma "linguagem secreta" que os homens estão tentando decifrar. Será que conseguem?...

- Pesquisadores do zoológico de San Diego, na Califórnia, estão estudando o que chamam de "linguagem secreta" dos elefantes.

Os pesquisadores estão monitorando formas de comunicação entre os animais que não podem ser captadas pelo ouvido humano.

Muitos dos sons emitidos pelos elefantes ocupam frequências inaudíveis para nós.

Na pesquisa que está sendo conduzida no Zoológico de San Diego, microfones sensíveis a essas baixas frequências e aparelhos de localização via satélite foram acoplados a oito elefantes fêmeas.

Assista à reportagem:

In - BBC-Brasil, 22/02/2010.

2/12/10

Em nome da Pátria - Portugal, o Ultramar e a Guerra Justa


O Tenente-Coronel, piloto Aviador, Comandante de Linha e Mestre em Estratégia, João José Brandão Ferreira é um dos autores militares que merece palmas por não se enfeudar ao espírito corporativista da geração que renegou os seus deveres e traiu o juramento que fez em relação à guerra do Ultramar.

Ainda está por escrever a História do golpe militar que de cobardes fez heróis e de golpistas fez mitos que começam, agora, a desdizer-se, uns aos outros, em obras de saldo que se inspiram umas nas outras, não para cada qual aperfeiçoar a verdade, mas para se defenderem das recíprocas acusações e contradições que se avolumam e que daqui a cem ou duzentos anos, quando já não existirem o medo e o complexo, vão reduzir-se ao oportunismo primário. Poucos serão aqueles que ainda não escreveram o seu testemunho sobre a Guerra do Ultramar. Uma das provas do que deixamos dito é a contradição crescente, por cada mais um protagonista que surge no mercado. Nenhuma bate certo, porque a essência do golpe foi a revolta dos capitães do quadro contra uma lei que saiu e que dava oportunidade aos milicianos de continuarem, querendo, a prestar serviço. Essa possibilidade amedrontou os militares profissionais que temiam a concorrência dos milicianos. Retardavam as promoções, interferiam na antiguidade, nas comissões de serviço, nas condecorações, nos proventos. Salvar o povo, foi o pretexto. Mas não o motivo primeiro. Que a guerra do ultramar teria que ter um fim, é inegável. Mas mais o desejavam os milicianos e os filhos do povo que nada tinham a ver com a guerra do que aqueles que, sabendo dela, acorriam à Academia militar e se preparavam para a enfrentar, profissionalmente.

As montras das livrarias estão hoje cheias dessas resmas de papel, porque todos reclamam uma heroicidade que só resultou em sucesso, porque a opinião pública não percebeu os intentos da revolução. Hoje, friamente, pode concluir-se por essa evidência.

Entretanto chegou-nos um volume de 600 páginas do Tenente-Coronel Brandão Ferreira, que é uma honrosa excepção. Preocupou-se ele em explicar o modo como se processaram as últimas campanhas militares ultramarinas, entre 1954 e 1975. Está longe de ser consensual na sociedade portuguesa. Bem pelo contrário, tem-na dividido profunda e transversalmente. Por isso começam a ser horas de encontrar consensos baseados na correcta interpretação dos factos históricos e nas verdadeiras intenções dos principais protagonistas do momento.

«Tudo não terá passado de uma «grande traição»? A pergunta pertence ao ilustre militar que acrescenta: «falamos de questões incontornáveis no panorama da história contemporânea portuguesa, aqui abordadas de um modo muito pouco ortodoxo em relação às ideias que a «história oficial» nos apresenta».

O autor começa por explicar a sua motivação: «decidi enveredar pela «carreira das armas» quando terminei o antigo 5º ano, no Liceu de Oeiras. Estávamos no ano de 1969. Preparei-me e entrei para a Academia Militar, em 20 de Outubro de 1971. Foi aí que o 25 de Abril me apanhou...

Nunca me conformei com a perda das nossas províncias ultramarinas, que na altura representavam cerca de 95% do território nacional e 65% da população portuguesa. Sobretudo pela forma iníqua e desastrosa como tudo se processou, já para não falar dos indecorosos comportamentos políticos e militares que então se registaram. Mais: até hoje, nunca houve a coragem de se assumir isso, nem de retirar as respectivas consequências. Em seguida, assisti ao desmantelamento de umas magníficas Forças Armadas que chegaram a dispor de 220 mil homens espalhados por quatro continentes e outros tantos oceanos. Motivado por todas estas perplexidades, decidi estudar o que se tinha passado, bem como a verdadeira razão que estava por trás dos acontecimentos.

O objecto deste livro é a justiça da guerra e o direito de fazê-la». O autor cita Melo Antunes que «pouco antes de morrer acabou por reconhecer que se tinha tratado de uma tragédia». E também Almeida Santos que, publicou uma obra onde declara «reconhecer que toda uma série de coisas que tinham corrido mal - «obviamente por causa dos militares, que não quiseram combater mais». Por outro lado, os combatentes começaram por ser execrados e condenados por lutarem numa guerra «imperialista», ao serviço dos «colonialistas» e de um «governo fascista». «Cerca de um milhão de homens ficou arrumado nas prateleiras do esquecimento e da ignomínia. Exaltaram-se desertores». E Brandão Ferreira é mais claro: «Este livro pretende demonstrar que Portugal fez uma guerra justa e, além disso, tinha toda a razão do seu lado!»

Adriano Moreira, afirma no Prefácio que nos Estados Unidos, em 1971, se verificou uma manifestação da sociedade civil contra o envolvimento do país na Guerra do Vietname. E que entre 19 e 24 de Abril desse ano, mais de 500 mil pessoas convergiram para Washington com o propósito de convencer a Administração a mudar de rumo. Os veteranos, os mutilados daquela guerra, deitaram fora as suas medalhas, cansados e arrependidos de terem participado nela. Não foi o aparelho militar que forçou o governo, mas o cansaço da sociedade civil. «Em Portugal, pelo contrário, foi uma decisão militar que colocou um ponto final na guerra», mas por razões paradoxais: eles tinham escolhido a profissão da armas. Tiveram de ser chamados, em reforço, aqueles que nada tinham a ver com essa profissão. Ora, em vez de serem os milicianos e os soldados em geral, a revoltar-se, deu-se o contrário: com medo de serem prejudicados nos direitos, os profissionais traíram os seus deveres. E aqueles que foram em seu socorro, provando ser tão bons como eles, foram traídos, perseguidos e enxovalhados.

Este livro é a voz dessa ignomínia.
- Peso da Régua, Barroso da Fonte, Dr. - bf@ecb.hopto.org - In Notícias do Douro, 12/02/10

2/09/10

Pemba nua e crua... XXIV

Continuação:

As magníficas praias próximas a PEMBA:
(Clique nas imagens para ampliar)

Agradecendo ao V. D. a amável partilha destas imagens, encerramos com este post a série de "Imagens de uma PEMBA que não está nos guias turísticos"... ou imagens de uma PEMBA bela, injustiçada pela incompetência, degradada quando a responsabilidade sai da alçada da própria natureza, sempre competente e pujante, passando para as mãos da sociedade moçambicana contemporânea, que a ignora e despreza.

Que estas imagens simples e esta série de post's sirvam pelo menos de advertência, de alerta e despertem consciências.

O futuro estável de um Moçambique que ansiamos ecológicamente correto está em jogo. E, não o fazemos ou dedicamos a nós, mas sim aos jovens do Moçambique de hoje e do "século XXI".

Aioé !

(Clique na imagem para ampliar)

Trago nos olhos a lonjura das savanas e no coração a saudade da inocência.
Tenho o cérebro a estalar de memórias das picadas vermelhas e nas mãos o cheiro do capim.
Repercutem-se-me na alma os ruídos das noites de vigia e sua-me o corpo pela angustia do não-regresso.
Olho o mar.
É grande, sem tamanho, os rigores do fim do dia a chorarem no horizonte.
Não tem estradas que me levem à terra morena e já não há Niassas nem Impérios que acompanhem os peixes voadores.
Da terra morena vêm-me notícias de fome a de guerra como castigo imposto por homens que lutaram só por si.
O mar não traz os sons de África, nem a fragrância das queimadas ao entardecer.
Não há lassidão - só lixo - na quietude das areias desertas, e um desapego de víola cigana que geme (ou grita?) para os lados do acampamento onde se fazem cestos com os vimes da solidão.
Do lado de cá ao mar não há tembas de pó com embondeiros crucificados.
Nem veredas de acácias rubras ou coqueiros de brincos dourados.
Não há crianças de sorrisos brancos e olhos doces.
Nem seduções de batuques em terreiros de flores.
Nem descobertas de frutos, palhotas de bambu ou almadias com peixes prateados.
Não há velhos, com cabelos de arame farpado, fumando a liamba do esquecimento, nem velhas de cigarro ao contrário, guardando a cinza como um borralho contra o frio.
Nem sequer o silêncio das horas sem relógio e raparigas estilhaçando, por entre dentes de raízes da selva, o riso do encantamento.
África de insondáveis mistérios, terra de fogo e céu de mar, desejos (in)satisfeitos no veludo sensual dos corpos, na virgindade da natureza-primeira, nos apelos distantes do frêmito e da racionalização enlouquecida.
Manhãs nascidas num espanto tão súbito que o dia chega a parecer uma constância sem penumbra, uma orgia de calor e de suor num mundo de carne despida.
Do lado de cá do mar não há musas africanas cozinhando a mandioca nas brasas da paciência.
Nem batinas brancas evangelizando as primaveras da inocência.
Nem um sol a morrer como se a vida abraçasse a morte num beijo de eternidade.
Não há, não há mesmo, a melancolia das folhas da selva anunciando - como gotas condensadas num vento funerário - a chegada da reclusão do fim da tarde.
Aioé! Amigos que deixaram os sonhos nos caminhos vermelhos do sangue, os braços desfeitos nas minas da traição.
Aioé! Embondeiros de Cabo Delgado, palmares da Zambézia, negras de corpo afeito às noites dos remorsos brancos, batuques de febres enfeitiçadas.
África: Aioé!
- Porto, 03/07/04, M. Nogueira Borges - "Miradouro"
  • Outros textos de Manuel Coutinho Nogueira Borges neste blogue!