11/14/08

Diversificando - A crise e a irresponsabilidade dos gestores financeiros internacionais...

Primeiro contato (antes da tal crise) - Aplique aqui... ou ali... banco sólido... de primeiro mundo... classificação AAAA ou ++++... não tem risco... pode ficar descansado... suas economias de uma vida de trabalho estão seguras connosco... garantia absoluta... Durma sossegado que vai morrer tranquilo, pode crer!

Segundo contato (no burburinho da tal crise) - E agora meu? Cadê o meu?...

Resposta quase encabulda - Pois é... nós só indicamos as opções... o risco é do investidor... o banco e seus altos e capacitados gerentes financeiros, com alto grau de formação MBA e XYZ, almoçando caviar e ostras, transportados em belas Ferrari's e Lamborghini's não se responsabilizam por nada... os classificadores de risco internacional é que avaliaram mal e nos induziram a vender gato por lebre... Agora aguenta. Vai dar uma curva e aparece por aqui quando a coisa melhorar para tomarmos um cafézinho...

-Aviso: A "cena" acima é ficção e não tem a ver com pessoas ou factos reais. Qualquer semelhança é pura coincidência.

Pois é... Quem mandou ser otário? Ou ambicioso de mais e confiou suas economias a essas verdadeiras "quadrilhas" especializadas em "gerir" fundos, que também cobram altíssimas comissões de intermediação sem correrem risco algum, vivem à "grande e á francesa" embrenhados nas nuances "alavancadas" desse verdadeiro "casino" em que se transformou a economia mundial... E na hora H fogem com "o rabo à seringa" e "lavam as mãos" sem serem incriminados sequer. Nem enjaulados em prisões fétidas por sua leviandade e irresponsabilidade na gestão de recursos de poupadores que neles confiaram e pelas consequências perniciosas que já vão atingindo a população deste mundo globalizado.

Caiu no "conto do vigário"... É essa a realidade. A Islândia entre outro países de maior porte, como Estados Unidos (onde nasceu a crise), etç. é um exemplo claro do "engodo", alavancado desonesta e impunemente pelos tais gestores e classificadores de risco confiáveis(?) que vendem pirita (ouro dos tolos) como sendo algo valioso, produtivo e rentável... É um paízinho gelado lá nos confins da Europa, vivendo à larga e à custa de recursos de poupadores internacionais, canalizados por interesse de instituições ditas confiáveis que inundaram seus poucos bancos geridos politicamente e agora falidos. E, seu governo, irresponsável e incompetente agora dá o calote puro e simples ao mundo internacional de investidores. Classificado e vendido como AAA, descobre-se que nem o último ZZZ do alfabeto merece. Como dificilmente algum dia alguém voltará a colocar por lá suas "poupanças".

Entretanto e pelo que vejo na net, países do G20 reúnem-se sábado em Washington em Cimeira tentando dar os primeiros passos para ultrapassar a crise financeira sem precedentes. Eis o que leio:

"""Os países do G20 realizam, no sábado, em Washington, a primeira de várias cimeiras para discutir a reforma do sistema financeiro, com os Estados Unidos, onde a crise começou, a acolherem uma iniciativa europeia para ultrapassar esta situação sem precedentes.

A cimeira realiza-se precisamente dois meses após a falência do banco de investimento Lemanh Brothers, a 15 de Setembro, que "confirmou" os sinais de crise que já vinham do outro lado do Atlântico desde o início do ano, lançando definitivamente o pânico nos mercados financeiros.

Rapidamente se percebeu que se estava perante uma crise sem precedentes, que partiu do "coração do sistema", os Estados Unidos, mas iria ter repercussões no resto do globo, o que as semanas seguintes se encarregaram de demonstrar.

A resposta norte-americana tardou - apenas a 3 de Outubro a Câmara dos Representantes do Congresso aprovou uma versão reformulada do chamado 'Plano Paulson', o plano de 700 mil milhões de dólares para sanear o sistema financeiro norte-americano através da compra de activos tóxicos - e a Europa criticou a reacção dos Estados Unidos a uma crise global por si criada.

O presidente em exercício da União Europeia, o chefe de Estado francês Nicolas Sarkozy, iniciou então no seu estilo dinâmico uma série de iniciativas tendo em vista uma resposta europeia, começando por acolher a 04 de Outubro em Paris uma reunião dos países europeus do G8 (França, Reino Unido, Alemanha e Itália), onde reivindicou desde logo uma reforma, "o mais depressa possível", das regras do capitalismo financeiro. Uma semana depois, Paris acolheu nova cimeira "inventada" por Sarkozy, desta vez uma reunião ao nível de chefes de Estado e de Governo da Zona Euro, tendo então o presidente francês anunciado que a UE ia pedir aos Estados Unidos a organização de uma cimeira destinada a "refundar o sistema financeiro internacional". "Na Europa, não vamos deixar tudo isto continuar da mesma maneira. Haverá responsáveis que deverão assumir as suas responsabilidades", afirmou então Sarkozy.

A 16 de Outubro nova cimeira, mais uma, desta vez em Bruxelas e a 27, e dois dias depois Sarkozy e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, encontraram-se nos Estados Unidos, em Camp David, com o (ainda) presidente norte-americano George W. Bush, tendo sido então alcançado um acordo sobre a realização de cimeiras internacionais para debater o sistema financeiro. Convicta de que deve ter um papel de liderança na reforma do sistema financeiro internacional, até porque lançou a iniciativa da cimeira de Washington, a UE preparou a sua posição comum, ou o mais comum possível, em nova cimeira extraordinária a 07 de Novembro, em Bruxelas, num encontro de chefes de Estado e de Governo dos 27.

Em Washington, os europeus irão pressionar os países do G20, e principalmente os Estados Unidos, a aprovar até ao início de 2009 medidas concretas para reforma do sistema financeiro internacional."""

E, a nós, comuns mortais, resta-nos só esperar para ver no que tudo isto vai dar e "rezar" para que o calote não seja maior ainda e trágico em suas consequências. E incentivar para que se punam exemplarmente os responsáveis.

11/13/08

Retalhos da História de Cabo Delgado - A ILHA DO IBO.

Dedico este post a meu muito prezado e querido Amigo António Baptista Carrilho.

Situada próximo da ilha Quirimba e com fácil ligação com ela, a ilha do Ibo tem cerca de 10 km de comprimento e cerca de 7 km de largura, sendo muito plana e arborizada.

Na sua parte norte localiza-se a vila do Ibo, o mais importante agregado populacional do arquipélago das Quirimbas.

Gaspar Ferreira Reymão que em princípios do século XVII invernou na ilha do Ibo na sua viagem para a Indía, refere que a ilha tem "uma fortaleza, cercada bastante para se defender dos cafres, que às vezes passam de guerra de baixa mar a pé as ilhas, com muito bom aposento de casas de pedra e cal, capazes para se aposentar nelas a pessoa de um Vice-rei, como esteve Rui Lourenço de Távora com toda a sua casa".(43)

Mais tarde, no ano de 1644, o "regimento e roteiro para virem de Portugal embarcações em direitura à ilha de Ceilão", recomenda que as embarcações "virão a Moçambique refrescar-se, ou ao Ibo, que é melhor, e tem mais água naquele porto, de onde partirão para a Índia nos primeiros dias de Agosto".(44)

Porém, em meados do séc. XVII, apesar de ter "bom aposento de casas de pedra e cal" e de ter "mais água" no seu porto, a ilha do Ibo entrou em acentuada decadência, como de resto aconteceu com as restantes ilhas do arquipélago, num processo em que se conjugaram muitos factores, que correspondem a um duplo abandono: o abandono dos residentes que inseguros e indefesos fugiam das frequentes incursões dos árabes de Zanzibar e Mombaça, mas também o abandono dos portugueses que deixaram de frequentar a região quando alteraram as suas rotas da carreira da Índia para evitarem a hostilidade holandesa no mar.

Adicionalmente, a partir da mesma época, o interesse português estava centrado no Brasil e todas as possessões portuguesas do Índico estiveram sujeitas a um certo tipo de isolamento ou mesmo de abandono.

No entanto, em meados do sé. XVIII, quando o comércio de escravos se tornou uma prática corrente na costa oriental africana, a ilha do Ibo prosperou rapidamente como um dos mais importantes elos dessa lucrativa cadeia dominada pelos mercadores árabes. A hidrografia da região proporcionava boas condições de acesso ao litoral e as ilhas vizinhas garantiam abrigos e fundeadouros seguros e discretos aos traficantes.

A povoação do Ibo cresceu com esse comércio intenso e surgiram novas actividades e novos edifícios, enquanto a sociedade local, que até então era predominantemente macua, foi acrescentada com elementos árabes e indianos, mas também com muitos mestiços e, em menor grau, com portugueses.

Quando em 1752 a reforma pombalina decretou uma nova organização para os territórios ultramarinos portugueses, Moçambique autonomizou-se e foi separado do governo de Goa, passando a ser governado por Francisco de Mello e Castro que, de acordo com as instruções recebidas de Lisboa, determinou que a fortaleza existente no Ibo fosse substituída por uma outra, numa tentativa de levar as posições territoriais portuguesas mais para o Norte.

A nova fortificação foi construída em 1754 e foi baptizada como Forte de S. João Baptista mas, em 1791, foi reconstruida e reforçada na ponta NW da ilha, tendo a forma de uma estrela com muralhas de 16 pés e sem fosso. A protecção da ilha foi ainda assegurada por dois fortins: o fortim de S. José, localizado a SW da ilha e que era artilhado com 9 peças e o fortim de S. António, situado a SE da ilha e que era artilhado com 6 peças.(45)

Com esta proteção fortificada, a ilha do Ibo ficou mais ligada aos interesses portugueses, garantiu alguma autonimia em relação à influência mercantil e cultural árabe, conseguiu resistir às tentativas francesas e holandesas para dela se apossarem e, também, aos assaltos dos sakalavares de Madagáscar que tinham começado a fazer incursões e assaltos naquela área.

No entanto, a autoridade portuguesa do Ibo parece não ter sido suficientemente interessada e eficaz na repressão da escravatura, que terá sido muito importante naquela área até quase ao final do século XIX.

*43 - Gaspar Ferreira Reymão, Op. cit., p. 32.
*44 - Alberto Iria, Op. cit., p. 102.
*45 - Leotte do Rego, Op. cit., p. 89.

O autor:
Adelino Rodrigues da Costa entrou para a Escola Naval em 1962 como cadete do "Curso Oliveira e Carmo", passou à reserva da Armada em 1983 no posto de capitão-tenente e posteriormente à situação de reforma. Entre outras missões navais que desempenhou destaca-se uma comissão de embarque realizada no norte de Moçambique entre 1966 e 1968, onde foi imediato da LGD Cimitarra e comandante das LFP Antares e LFG Dragão.Especializou-se em Artilharia, comandou a LFG Sagitário na Guiné, foi imediato da corveta Honório Barreto, técnico do Instituto Hidrográfico, instrutor de Navegação da Escola Naval, professor de Navegação da Escola Náutica e professor de Economia e Finanças do Instituto Superior naval de Guerra. Nos anos mais recentes foi docente universitário, delegado da Fundação Oriente na Índia e seu representante em Timor Leste. É licenciado em Sociologia (ISCSP), em Economia (ISEG), mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação (ISCTE) e membro da Academia de Marinha.

O livro:
Título - As Ilhas Quirimbas - Uma síntese histórico-naval sobre o arquipélago do norte de Moçambique;Edição - Comissão Cultural da Marinha;Transcrição da publicação "As ilhas Quirimbas de Adelino Rodrigues da Costa, edição da Comissão Cultural da Marinha Portuguesa, 2003 - Capítulo 11, que me foi gentilmente ofertado pelo Querido Amigo A. B. Carrilho em Pinhal Novo, 26/06/2006.

- Do mesmo autor neste blogue:


  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 1 - Aqui!


  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 2 - Aqui!


  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 3 - Aqui!


  • Retalhos da História de CABO DELGADO - O nascimento de Mocimboa da Praia - Aqui!


  • Retalhos da História de CABO DELGADO - Zanzibar e a escravatura nas Quirimbas - Parte 1 - Aqui!


  • Retalhos da História de CABO DELGADO - Zanzibar e a escravatura nas Quirimbas - Parte 2 - Aqui!


  • Retalhos da História de CABO DELGADO - Zanzibar e a escravatura nas Quirimbas - Parte 3 - Aqui!

- Outros post's deste blogue que falam do Ibo e região, com textos e documentos do também historiador e profundo conhecedor do Arquipélago das Quirimbas e de Moçambique, Dr. Carlos Lopes Bento - Aqui e aqui!
- Em breve neste blogue:

  • As Quirimbas em finais do século XIX e a decadência do Ibo.

Crimes da Frelimo em discussão na Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos.

Execuções sumárias da Frelimo chegam a fórum africano.
Queixa contra o Estado moçambicano implica Armando Guebuza.

A participação foi remetida ao Secretariado da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, pela advogada da família Zitha, a Professora Dra. Liesbeth Zegveld, em nome de José Eugêncio Zitha, e do filho deste, o professor universitário, Paceli Zitha, soube-se em Abuja onde decorre a 44.ª Sessão da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.

Maputo (Canal de Moçambique), 12 de Novembro de 2008 - Foi oficialmente aberta segunda-feira última na capital nigeriana, Abuja, a 44ª Sessão Ordinária da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos. Este organismo da União Africana vai discutir, entre outros pontos, uma queixa apresentada contra o Estado moçambicano em nome de José Eugêncio Zitha, e do filho deste, o professor universitário, Paceli Zitha. A queixa foi remetida ao Secretariado da referida Comissão pela advogada da família Zitha, a Professora Dra. Liesbeth Zegveld.

De acordo com a queixa a ser analisada pelos juristas da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, no dia 26 de Outubro de 1974, o então ministro da Administração Interna do Governo de Transição de Moçambique, que funcionou até à proclamação da Independência, e actual presidente da República, Armando Emílio Guebuza, intimou o cidadão José Eugêncio Zitha a participar numa reunião de Grupos Dinamizadores. Ao entrar no recinto onde decorria a reunião, para onde havia sido encaminhado numa viatura militar na companhia de soldados fortemente armados, o cidadão José Eugêncio Zitha foi humilhado e acusado de traição.

Lê-se ainda na queixa que foi “o Sr. Guebuza quem ordenou a detenção” de José Eugêncio Zitha, sem contudo lhe terem sido dadas as razões, nem tão pouco os familiares sido informados ou notificados do caso. Acrescenta a queixa que o cidadão José Eugêncio Zitha deixou repentinamente a Cadeia Judiciária em Maputo sem conhecimento dos familiares. Estes viriam apenas a tomar conhecimento de que o cidadão José Eugêncio Zitha se encontrava sob prisão no Centro de Preparação Político-Militar de Nachingwea, na Tanzânia, através da leitura de um artigo inserido no jornal Tanzania Daily News publicado em Dar es Salam.

O artigo, publicado na edição de 23 de Abril de 1975, dizia que o cidadão José Eugêncio Zitha havia sido apresentado publicamente no decurso dos julgamentos sumários presididos por Samora Machel e em que desempenhou papel de relevo o coronel na reserva, Sérgio Vieira.

Desde essa data, adianta a queixa apresentada à Comissão da União Africana, os familiares de José Eugêncio Zitha não mais tiveram notícias suas.

Na queixa, a advogada Liesbeth Zegveld afirma que os queixosos, nomeadamente José Eugêncio Zitha, e o filho deste, Professor Paceli Zitha, viram violados os seus direitos consagradas nos Artigos 2, 4 5, 6 e 7 da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.

O Artigo 2 refere que “todos os indivíduos deverão ter direito ao usufruto dos direitos e liberdades reconhecidos e garantidos” nessa mesma Carta. O Artigo 4 trata da “inviolabilidade dos seres humanos” e do “direitos dos mesmos à vida e à integridade da sua pessoa”, e no artigo seguinte vem explícito que “todos os indivíduos terão direito ao respeito pela dignidade inerente aos seres humanos e ao reconhecimento do seu estatuto legal”.

O Artigo 7 citado pela advogada dos cidadãos José Eugêncio Zitha e do Professor Paceli Zitha refere em particular “o direito a julgamento dentro de um prazo razoável por um tribunal imparcial.”

Nos julgamentos sumários de Nachingwea compareceram várias centenas de cidadãos moçambicanos presos arbitrariamente ou até mesmo raptados em países estrangeiros, como foram os casos do Reverendo Uria Simango, da Dra. Joana Simeão, de Paulo Gumane, Adelino Gwambe, entre outros. Nenhum deles teve direito a defesa legalmente constituída.

O travesti de justiça encenado pelo coronel na reserva, Sergio Vieira na base militar de Nachingwea, culminaria na execução sumária de muitas das vítimas do processo extrajudicial que em Moçambique assinalaria a inauguração da era da chamada “justiça popular”. (Redacção)

Alguns post's que referem crimes ainda impunes praticados pela Frelimo. A "ficha" é extensa e nada nobre:

  • Moçambique 1980: Operação Produção - Aqui!
  • Campos de reeducação: O silêncio cúmplice da Cavaco e Silva - Aqui!
  • As chicotadas que dividiram e aterrorizaram Moçambique - Aqui!
  • Banco de dados - A. Guebuza: de marxista a empresário - Aqui!

11/11/08

Sete Maravilhas Portuguesas no Mundo - o concurso!

(Imagem original daqui.)

Portugal promove concurso das sete maravilhas além-mar.
Lisboa, 10 nov (Lusa) - Monumentos de origem portuguesa edificados fora de Portugal e classificados como patrimônio da humanidade são o tema para o novo concurso Sete Maravilhas Portuguesas no Mundo.

A votação será por internet e celular, com início em 7 de dezembro.

O resultado do concurso apresentado nesta segunda-feira, na Torre de Belém, em Lisboa, será conhecido em 10 de junho, em uma cerimônia de entrega que será realizada também na capital portuguesa, com o lema "Heróis do mar".

O projeto foi estimulado pelo "êxito alcançado no ano passado com a eleição das Sete Maravilhas de Portugal", disse à Agência Lusa Luís Segadães, que faz parte da organização do concurso.

A partir dos 22 monumentos portugueses espalhados pelo mundo, e classificados como patrimônio da humanidade pela Unesco, serão escolhidos apenas sete.

A lista contém, entre outros, a cidade de Fasil Ghebi, na Etiópia, a ilha de Moçambique, os centros históricos das cidades brasileiras de Salvador, São Luís, Diamantina, Goiás, Olinda e Ouro Preto, o centro histórico de Macau, conventos e igrejas de Goa, na Índia e a cidade velha de Galle e suas fortificações, na ilha de Sri Lanka.

A subdiretora do Instituto de Gestão do Patrimônio Arquitetônico e Arqueológico, Andreia Galvão, anunciou a realização de "uma maratona do conhecimento dirigida às escolas portugueses do ensino básico e secundário, com o objetivo de estimular os mais novos sobre estas maravilhas portuguesas no mundo".

Concorrentes.
Com dez candidaturas, a América lidera a lista.

O brasileiro concorre com os centros históricos de seis cidades e também com o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas (MG).

A oitava candidatura brasileira é apresentada em parceria com a Argentina, pois engloba o conjunto das missões jesuítas dos guaranis.

Do continente sul-americano constam ainda as missões jesuítas de Trinidad do Paraná e Jesus de Tavaranque, no Paraguai, e, no Uruguai, o bairro histórico da Colônia de Sacramento.

África tem sete monumentos, sendo Moçambique a única ex-colônia portuguesa representada, por meio da ilha de Moçambique.

Outros países com "maravilhas portuguesas" são Marrocos (a antiga cidade portuguesa de Mazagão), Gâmbia (ilha James), Gana (fortes e castelo em Volta), Senegal (Ilha Goreia), Tanzânia (ruínas de Kilwa e de Songo Mnara), e Etiópia (cidade de Fasil Ghebi).

Os quatro monumentos situados na Ásia são, além do Centro Histórico de Macau, das igrejas e conventos de Goa, e da cidade velha de Galle e as suas fortalezas, também o sítio arqueológico de Qal'at al-Bahrain, no Emirado do Bahrain.
- Lusa, 10/11/2008.

Miriam Makeba - O último adeus maroto...

A voz forte da África apaixonante e livre partiu... Deixa a luz de seus cânticos, a mensagem de seus versos e a vereda colorida na floresta da esperança, aberta com paixão e luta no coração de seu povo e de todos nós que aprendemos a escutá-la repletos de orgulho e respeito, embevecidos, desde nossa infância africana.

Faço minhas as palavras da IO:

""Um embondeiro contra a intolerância - «OBRIGADA, Jaime!, sabes que uma noite de 2005, na Irlanda, uma americana, numa das ilhas Aran (IRL) cantou-me o seu tema (dela, Miriam) 'Moçambique, a luta continua'? - era uma deusa para nós, os miúdos que sonharam a Independência. E tive a sorte de a ver ao vivo, pois MM fechou a EXPO 98 em Lisboa. Abraço, IO». - foi assim que, a 6 de Abril de 2006, respondi a este ‘post’ do Jaime.

Miriam Makeba morreu ontem a lutar contra a intolerância, o que fez uma vida inteira. À Mamã África, o meu tributo.

Grande lutadora contra o ‘apartheid’, tendo sido proibida de viver na África do Sul (e as suas canções censuradas na rádio) pelo regime racista, Mandela recorda-a assim:

«Her haunting melodies gave voice to the pain of exile and disclocation which she felt for 31 long years. At the same time, her music inspired a powerful sense of hope in all of us».

Mas, defensora dos Direitos Humanos que era, o advento da Liberdade no seu país não a fez parar e ainda esta Primavera esteve na «RD Congo para apoiar as mulheres que sobreviveram a agressões sexuais, famílias afectadas pelo HIV/Sida e outras pessoas vulneráveis na sequência de um clima de paz frágil».

Para quando a Àfrica (e o Mundo) que sonhamos?... Esse continente (e planeta) que hoje prestam a última homenagem a quem cantava, por exemplo, como o Miguel e o Eugénio a recordam nos seus ‘posts’.""

Miriam Makeba 2007


(Evite sobreposição de sons "desligando" a "Rádio Douro.FM". O player localiza-se no menu deste blogue, lado direito.)

  • Miriam Makeba - O adeus maroto... - Aqui!

11/10/08

Diversificando - Terno de Moçambique, do povoado de Fagundes, no município de Santo Antônio do Amparo (MG)...

O título do post pode levar a suposições erradas... Não se trata de digressão artística de moçambicanos por terras de Vera Cruz, mas sim de matéria que acabo de ler na net, a respeito da forte influência que os escravos oriundos de África e Moçambique em anos já distantes, têm na tradição cultural e religiosa do povo brasileiro.
Segundo o "Góias Agora"(Brasil) de hoje:

""Terno de Moçambique (Minas) se apresenta em Goiânia: - Os museus da Imagem e do Som e Zoroastro Artiaga, da Agepel, recebem a visita do terno de Moçambique, do povoado de Fagundes, no município de Santo Antônio do Amparo (MG), na quinta-feira, 13. A recepção, às 16h30, será na porta do Museu Zoroastro Artiaga. Duas horas mais tarde, às 18h30, depois de que terminar o cortejo pela Praça Cívica, será exibido o DVD Cê me dá licença: capitão Julinho e o Congado de Fagundes .
O trabalho está associado ao projeto Registro Audiovisual da Congada de Santa Ifigênia de Niquelândia (GO), a ser realizado pela Rede Goiana de Pesquisa em Performances Culturais – memória e representações da cultura em Goiás, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), em parceria com a Agepel por intermédio do Museu da Imagem e do Som.
O grupo de Minas encena as visitas que os ternos fazem a reis, rainhas e festeiros durante o Reinado/Congado, criando, assim, um ambiente em que a espontaneidade da interpretação dos capitães possa ser, em alguma medida, preservada e a alegria e a emoção da festa compareçam. Essas visitas também, podem propiciar a gestores e técnicos dos órgãos e instituições um contato mais próximo com manifestações cuja preservação, valorização e divulgação constituem a finalidade de parte de suas ações....""" E o texto segue na íntegra aqui!

E o que tem a ver a matéria acima com Moçambique e África? Tudo, como se pode constatar no que continuo transcrevendo com a devida vénia:

""CONGADO: origens e identidade - A identidade do congado, antes de tudo, é brasileira. A partir da África, são 500 anos de história desde a viagem no Atlântico (calunga), a escravidão, as lutas, os reinados e tudo, até hoje. É brasileira a identidade do congado. Os irmãos do rosário estão vivos e sua identidade é dinâmica, mesmo quando pretendem conservar suas tradições, sabedorias e organização. Vejamos: antigamente não existia a Federação dos Congados. No mundo de hoje, as mudanças são grandes. No congado, mudamos algumas coisas para ver se assim fica melhor. Mas, qualquer adaptação necessária há de ser feita pelos próprios congadeiros a partir da tradição e das raízes, a partir da espiritualidade recebida na irmandade. Falamos de uma identidade dinâmica e brasileira. O congado e a "irmandade do rosário dos Homens Pretos" são fruto de muita criatividade desde o princípio. Esta criatividade é de beleza e fé, mas principalmente de necessidade e sobrevivência.

A identidade faz parte do tripé: história, identidade e cultura. As raízes do congado estão na África, principalmente nos povos bantus. Toda identidade tem uma história. Até mesmo a identidade de uma pessoa tem tudo a ver com a história dela desde criança; tudo que ela aprendeu dos pais, da escola, da vida. Uma identidade cultural surge na história de comunidades ou povos. No congado, os antepassados, as almas dos escravos, o fundador da irmandade, reis, rainhas, capitães falecidos são lembrados e reverenciados. A cultura congadeira é fiel aos ancestrais.

Na África, os bantus (mais de 500 povos) formam um grupo lingüístico. O termo "bantu" não significa uma cultura. Muito tempo antes dos portugueses chegarem à África, já havia os povos bantus. Atravessaram as densas florestas do centro da África e, isso demorou séculos. Nessa façanha, misturaram-se com outros povos e venceram outros. Forjaram-se reinados, e uma civilização hieraquizada; não uma única cultura e sim muitas. Explicamos a diversidade cultural dos bantus, pela importância dada aos antepassados. Cada grupo étnico bantu tem seus antepassados como ponto de união. É deles que apreenderam a sabedoria dos provérbios; dos antigos receberam as leis para fazer justiça no caso de uma briga de terras ou entre famílias; é deles que aprenderam a religião, a cura das doenças e os instrumentos musicais e todas as outras coisas da vida. Assim, cada grupo, cada clã, cada povo de bantu tem sua cultura própria. Portanto, existe a civilização bantu na África, o grupo lingüístico bantu e muitas culturas bantu.
... ...

No Censo 2000, 50% dos brasileiros declararam ser afro-descendente. Isso mostra a importância do nosso assunto. Ao falar da identidade das irmandades do rosário em Minas - e que também existem em outros estados, - não podemos esquecer que a grande maioria dos escravos que vieram para o Brasil são de origem bantu. A questão bantu é complexa. Isso observamos, por exemplo, na luta pela valorização da identidade negra no Brasil. Ao afirmar a "negritude", muitos afirmam principalmente valores dos iorubas, jejes, quêtos (no Brasil chamados nagôs). Dizem axé (!) e consultam os búzios para saber qual é seu orixá. Ora, o candomblé é respeitável. Conheço e reverencio seus grandes líderes e admiro os cultos nos ilês. Mas, na busca da identidade do congado, não podemos confundir as coisas. O candombe e o candomblé são diferentes desde a origem. Os nagôs dos candomblés do Brasil vieram de reinados situados ao norte do rio Congo. Os congadeiros do Brasil são bantu-descendentes do Congo, da Angola e do Moçambique, regiões colonizadas por Portugal. Suas origens estão nos reinados localizados principalmente ao sul do rio Congo. Os numerosos povos bantus africanos formam um grupo linguístico. Alguma origem comum percebe-se pelo uso de línguas parecidas. Os bantus também têm em comum vários elementos importantes, como a fé em um só Deus próximo aos humanos (Nzâmbi, Zambiapunga e outros nomes) e a amorosa dedicação devida aos antepassados, sempre presentes. O sistema perverso da escravidão no Brasil colônia, visava desestruturar os grupos étnicos de origem. Para evitar conspirações, os donos de escravos compravam africanos de línguas e origens diversas. Com grande criatividade, os bantos do Brasil partiram para a adaptação, sem poder reconstruir os grupos étnicos originais com os mesmos antepassados. Desde a travessia do mar em navios negreiros, escravos bantus de povos e línguas diferentes criaram uma língua comum, o chamado "português crioulo". Entre si, estes escravos tornavam-se "malungos", companheiros na luta pela sobrevivência, também cultural. Mas foram as irmandades de Nossa Senhora do Rosário (ao menos, desde 1496), que possibilitaram uma sofrida reorganização e a busca da identidade dos bantos, escravos, cristãos, no Brasil. Surgiram grupos de "homens pretos" e de "pardos". Criar é preciso. Muitos dos congados atuais começaram a partir de uma família líder que polarizava a participação de outras. Na grande Belo Horizonte, temos os arturos de Contagem, o Moçambique "Treze de Maio" na Concórdia, o congado do Jatobá e muitos outros que cultivam seus antepassados recentes No congado distinguimos vários grupos: o candombe é o mais antigo e o mais banto; depois vêm moçambique, congada, marujos, caboclinhos, catopês, os cavaleiros de São Jorge. Em Araçuaí (MG) têm os tamborzeiros; lá ninguém fala “congado” e sim “tamborzeiros do rosário”. As irmandades do rosário comprovam que é possível viver no Brasil a diversidade própria e tradicional dos bantos, mantendo viva a memóriada África bantu. Há reinados, "ngomas" (tambores), os antepassados e Deus que é chamado de Zâmbi.
... ...
CHICO REI - Do famoso "Chico Rei", a história oficial não conta muita coisa. Não existem documentos a seu respeito. Há romances que são inventados. Mas, a história de "Chico Rei" é verdadeira na medida em que ela representa coisas acontecidas com muitos negros escravos. Imaginem, no tempo da escravidão que, uma vez por ano, um negro que vai saindo à rua com uma coroa bonita na cabeça e acompanhado por uma guarda de congo, dizendo: “Eu não sou escravo nada! Eu sou é Rei!” Este homem dá uma demonstração de coragem e dignidade! É isso que significa a memória de Chico Rei. Ele representa essa resistência histórica do povo negro do Brasil, essa consciência de dignidade humana, essa memória dos reinados da África. Por isso, Chico Rei tornou-se um personagem tão importante. Olhem, com essas coisas não se brinca. Ninguém pode dizer por si: “Eu quero ser rei Congo também!”. Um rei Congo é escolhido na sua comunidade aos poucos. As lideranças, os capitães, vão observando quem servirá melhor para representar essa dignidade e essa memória da África. Nada vale sair dizendo: “Nós somos reis pela herança, herdeiros dos templários, misteriosa memória das cruzadas na Europa!” Isso aí é uma falta de respeito, um absurdo que não deveria existir.... Pois, a identidade brasileira do congado tem tudo a ver com a memória da África e da escravidão. ... ... ""

O texto é apaixonante e longo. Poderá ser lido por completo aqui!

  • Capitão Terno de Moçambique (imagem Reinado Lamounier-Flickr) - Aqui!
  • Fonte do post acima "CONGADO: origens e identidade" - Aqui!
  • Religiosidade Popular "Vida e Religião dos pobres no Brasil" - Aqui!