5/30/07

Rui Paes (de Pemba) expôe no primeiro Simpósio Internacional de Pintura de Matosinhos.

Pintores tentam captar o espírito do Senhor de Matosinhos.
Por Jorge Marmelo - Publico.pt
Trabalho de Alberto Péssimo, João Ribeiro, José Emídio e Rui Paes pode ser apreciado, ao vivo e até quinta-feira, na Galeria Municipal.
Menos de vinte e quatro horas depois do arranque do primeiro Simpósio Internacional de Pintura, que decorre em Matosinhos até ao próximo dia 31, o pintor José Emídio já tinha duas obras de arte em avançado estado de produção. Não espanta. Emídio é um matosinhense e o único dos quatro participantes na iniciativa que já conhecia Matosinhos, cabendo-lhe, por isso, o papel de anfitrião de Alberto Péssimo, João Ribeiro e Rui Paes, o português radicado em Londres que ficou famoso quando fez as ilustrações do livro infantil Pipas de Massa, da cantora Madonna. Também por jogar em casa, José Emídio optou por contornar o tema proposto pela Câmara de Matosinhos para a iniciativa: o Senhor de Matosinhos, a sua lenda, as tradições e as festividades populares que actualmente têm por palco o centro da cidade, com o seu cortejo de barraquinhas de feira e roulottes de farturas. "Já pintei muitas vezes o Senhor de Matosinhos, vou aproveitar para fazer outras coisas", justifica o pintor. Coincidindo com a realização de uma das maiores romarias do país, o Simpósio Internacional de Pintura decorre, desde a passada quarta-feira, numa das salas da Galeria Municipal de Matosinhos. Por lá têm passado artistas e simples curiosos que querem ver ao vivo o trabalho dos pintores convidados, mas também alunos das escolas do concelho que frequentam os workshops de pintura que acompanham o simpósio, destinados a melhorar a compreensão do fenómeno artístico. "Estou a gostar muitíssimo da experiência", diz Rui Paes. "Fiz as Belas-Artes no Porto, mas não conhecia Matosinhos", reconhece o ilustrador do livro de Madonna. Com a ajuda de um postal ilustrado mostrando um dos altares da Igreja do Senhor de Matosinhos, Paes tenta passar para a tela as volutas barrocas e douradas que decoram do templo. A ideia, explica, é criar uma moldura barroca que enquadre um ícone religioso, estabelecendo uma ligação entre a tradição, a realidade actual dos festejos e o livro que o tornou célebre.
"Explosão de estímulos"
Antes de iniciarem o trabalho, os quatro pintores foram conduzidos num passeio pelos principais pontos patrimoniais do concelho, da Igreja do Senhor de Matosinhos à Casa de Chá da Boa Nova. Uma introdução que Rui Paes considera ter sido "muito boa" e que lhe trouxe à memória a última visita ao edifício que Siza Vieira instalou sobre os rochedos da Boa Nova: "Não ia lá há trinta anos, mas lembro-me que foi ali que percebi que o Siza Vieira é um génio da Arquitectura. Fui à casa de banho e vi aquela luz... Aquilo era magia", recorda. Resultado? O pintor nascido em Moçambique contava aproveitar o simpósio para descansar, mas percebeu imediatamente que tal será impossível. "Há muito dinamismo, uma explosão de estímulos e solicitações. Não vou descansar, mas sair daqui com uma energia nova", diz. Como que para ilustrar o que significa para um pintor o trabalho partilhado, Alberto Péssimo entra nesse instante no improvisado atelier dos quatro artistas. Vem falando alto e traz um saco de supermercado, oferece cerejas e arrasta os restantes pintores para uma fotografia de grupo a la minuta num cavalinho estacionado diante dos paços do concelho. Quando regressa, veste o fato-macaco, estende um pedaço de papel no chão e começa a desenhar com traços rápidos.Pouco habituados ao trabalho em conjunto, os artistas parecem não desgostar da experiência. "O que mais me impressionou foi ver os outros a trabalhar", reconhece o lisboeta João Ribeiro, apontando para o canto onde Péssimo tem já um monte de papéis desenhados, rasgados e pintados, espalhados pelo chão, pelas paredes e por toda a parte, como se um vendaval criativo por ali tivesse passado. "Ele tem uma atitude muito dadaísta", comenta, enquanto vai acrescentando pacientemente as várias camadas de cor que hão-de dar origem à sua obra. "Só daqui a alguns dias se vai ver o resultado", explica.
In "Publico.pt"

PEMBA - Turismo cultural é prioridade.

Intensificar turismo cultural continua a ser nossa prioridade diz Agostinho Ntawale, presidente do município de Pemba .
A cidade de Pemba – orgulhosamente apelidada de berço que acolhe a terceira maior baía do mundo – continua galvanizada no estabelecimento definitivo de um turismo cultural que fará daquela urbe da província de Cabo Delgado, uma janela importante e privilegiada de Moçambique. De acordo com Agostinho Ntawala, presidente do município local, que esteve recentemente na Bolsa do Turismo realizada em Maputo, há muito trabalho que está sendo feito neste momento, particularmente na área da construção de infra-estruturas. “Qualquer nacional ou estrangeiro que queira investir em Pemba, pode fazê-lo, nós estamos abertos”. Neste momento há uma grande azáfama para construção de hotéis, que incluem de cinco estrelas.
Ntawala, em conversa com a nossa Reportagem, evocou como um dos chamaris para chamar a atenção das pessoas sobre o desenvolvimento de Pemba, o Festival de Turismo Cultural da Baía, que se realiza uma vez por ano. “Este evento é o espelho de Cabo Delgado. Se você quer ir à Mueda, ou Nangade, ou outro local da nossa província por alturas desse festival, não precisa de ir lá, porque todo Cabo Delgado vem dar à Pemba”.
Apresentado este panorama, questionamos ao presidente do Município de Pemba se isso significa que a cidade por ele dirigida está de boa saúde.
“Nós estamos bem, porque o turismo não se circunscreve apenas à cidade de Pemba, mas também nas Ilhas. Temos o turismo em que as pessoas têm a oportunidade de se banhar nas águas do mar, temos também fauna bravia no Parque Nacional das Quirimbas que engloba a parte marítima e também a parte continental, onde se podem contemplar animais”.
São projectos inúmeros e ambiciosos abraçados pela equipa de Agostinho Ntawale, que passam por acreditar sobretudo na força do trabalho. “Temos em manga a urbanização da terra para poder viabilizar os projectos de construção para o bem-estar da população. Neste momento estamos numa fase de parcelamento de algumas áreas municipais em que posso afirmar que temos já 400 talhões, para ver se a nossa cidade vai ter uma habitação condigna, aliás esse é o nosso programa. Outro projecto circunscreve-se à viabilização de zonas potenciais para prática de turismo cultural, e lá nós só autorizamos a construção de infra-estruturas turísticas e achamos que podemos combater a pobreza absoluta nesse âmbito, porque as pessoas terão emprego e também, além do emprego, temos aquilo que é a contribuição dos operadores no âmbiuto da e também na agricultura de pequena escala e isso fará com que a cidade de Pemba, nos próximos tempos reduza circunstancialmente pobreza”.
BOLSA DO TURISMO
Uma das estratégias adoptadas por Agostinho Ntawala para a promover a sua cidade, foi vir à Maputo para a Bolsa do Turismo. “Eu vim a Maputo para dizer ao mundo que nós estamos aqui, não viemos na nossa máxima força, mas estamos em grande: trouxemos aqui grupos culturais habitualmente vistos na baía de Pemba, trouxemos uma gastronomia invejável, estamos no mínimo com qualquer coisa como 25 pratos que estão a girar aqui na Bolsa de Turismo, e são pratos típicos de Moçambique, então essa é uma componente muito importante”. Ainda no Bolsa de Turismo foi lançado um CD de uma cantora- revelação chamada Zainabo, que fala das potencialidades da cultura de Cabo Delgado. O nosso trabalho não é confidencial, é público e gostaríamos que qualquer moçambicano, onde estiver, acompanhasse isso”.
Outra estratégia encontrada pela edilidade é a promoção regular de festivais. “Agora capitalizamos o Festival de Turismo Cultural da Baía, que é realizado todos os anos. Isso significa que aqui nós mostramos todo o potencial de Cabo Delgado”.
Em relação ao turismo cultural, o nosso interlocutor, abre espaço para a participação do sector privado.
“Nós temos já processada a autorização de um grupo de investidores que vão construir um hotel Vip e outros hotéis. E pensamos que, de certa maneira, isso vai catalisar o turismo e a dinâmica social, económica e Cultural de Cabo Delgado”.
Esse desenvolvimento projectado passará ainda pela construção de uma auto-estrada que vai ligar a cidade velha à nova – onde estão a ocorrer grandes transformações.
DEPOIS DO FESTIVAL
Após a realização do 2º Festival da Canção e Música Tradicional realizada na cidade de Pemba em 2006, a capital provincial de Cabo Delgado, em termos de desenvolvimento cultural já não será a mesma.
“Pemba mudou muito. Ficámos a saber que afinal podemos fazer maravilhas. Como réplica desse festival nacional, acabámos criando o Festival de Turismo Cultural da Baía, que está a dar um grande sucesso e penso também que a mentalidade das comunidades também mudou, porque eles acham que hoje, afinal de contas podem promover a província de Cabo Delgado através da dança, da canção, através da cestaria, da escultura makonde, então eu julgo que, de facto, o segundo festival da canção tradicional veio, mais uma vez, dar um impulso à província de Cabo Delgado”.
Pemba é também uma cidade de muitos bairros. Qual deles o mais importante, na visão de Ntawale?
“Nós temos o bairro histórico de Paquitiquete, onde qualquer visitante que vai para ali, encontrará a cultura típica da baía de Pemba, mas no seu todo, em todos os bairros a cultura está patente e o grupo que trouxemos a Maputo é do bairro de Ngonane. É um dos melhores de Pemba, por isso o trouxemos aqui. Mas em cada bairro municipal temos grupos culturais que são o orgulho de Pemba e que precisamos de expô-los para todo Moçambique saber o quê que tem por dentro do seu país”.
O SEGUNDO FESTIVAL DO WIMBE
De 28 de Dezembro a 1 de Janeirto de 2008, vai-se realizar o Segundo Festival do Wimbe. Aí é para ver Cabo Delgado por fora. Todo Cabo Delgado estará ali representado nas suas mais variadas vertentes socioeconómica cultural.
“Estamos a criar um ambiente em que a passagem do ano para 2008, Pemba seja o lugar apropriado aqui ao nível desta zona de África. É o primeiro sítio onde se pode ver primeiro o nascer do sol, então tem mais um motivo porque você sempre quer ser o primeiro a ver o sol do primeiro dia do ano de 2008, então o lugar é Pemba.
Pemba é deveras especial. Tem recebido grandes estrelas dos Estados Unidos da América que vão ali. Aterram no nosso aeroporto, e vão para as ilhas, e eu penso que isso faz com que a cidade de Pemba seja um orgulho para o moçambicano. Pemba é procurado no mundo inteiro. O importante agora é que nós todos divulguemos este ouro para que de facto se torne destino invejável.”.
Maputo, Quarta-Feira, 30 de Maio de 2007:: Notícias - ALEXANDRE CHAÚQUE

5/29/07

PEMBA - Atendimento no Hospital !

Carta aberta de Tangu M. Awanaja divulgada no jornal Notícias - Maputo:
Maputo, Terça-Feira, 29 de Maio de 2007:: Notícias
SR. DIRECTOR!
Escrevo pela primeira vez para o maior jornal do país que V. Excia dirige, para abordar alguns problemas que, quanto a mim, constituam perigo, assim como os que lhes afectam directamente. Peço a V. Excia a gentileza de publicar esta pobre carta. Há um problema que afecta maioritariamente os profissionais da Saúde, em serviço no Hospital Provincial de Pemba, na província de Cabo Delgado.
Antes de entrar concretamente no assunto, queria pedir aos caros leitores para que me perdoem com o meu pobre português, aceitando desta feita o conteúdo da carta. O motivo que me leva a escrever para esta página é para pedir a opinião pública acerca desse assunto. Eu gostaria de saber se é possível evitar a morte de um doente, mesmo que esteja em estado de agonia? Se for possível desejaria uma resposta explicativa a qualquer leitor que tiver oportunidade de o fazer.
A propósito dessa pergunta surge o seguinte: No Hospital Provincial de Pemba quando morre um doente constitui um problema grave. Depois de os familiares tomarem conhecimento da morte do parente, estes apresentam uma queixa. É muito frequente haver queixas dos familiares que perdem seus parentes nesta unidade sanitária, mesmo que o doente tenha recebido todos os cuidados hospitalares, quando morre torna-se um problema para os enfermeiros em serviço. Muitas vezes as queixas não são apenas apresentadas à direcção do hospital, mas também são encaminhadas ao mesmo tempo à PIC, onde os funcionários são obrigados a responder um processo-crime como se tratasse de assassinos. Até porque antes de o caso ser averiguado pela direcção de tutela, os profissionais da Saúde começam a responder o caso na PIC.
As queixas apresentadas são feitas muitas vezes por pessoas bem posicionadas, usando as facilidades que o seu estatuto social lhes confere. Quando isso acontece o hospital nem tem tempo de averiguar o caso com cautela porque já foi encaminhado para outras instâncias. Isso para dizer que os familiares da elite não podem morrer neste hospital, pois foram vítimas de mau tratamento. No entanto, os familiares do pé-descalço, os desfavorecidos, não fazem esse tipo de reclamações, eles ficam sensibilizados que a morte é uma coisa inevitável e todos nós esperamos seguir o mesmo caminho.
Eu não quero falar de factos sem base, para dizer que tudo que vem nesta carta é caso verídico. Para vos deixar tão claros vou citar alguns episódios que aconteceram neste hospital. No ano de 2006 duas enfermeiras foram responder a um processo na PIC, por causa da morte do neto de um chefe. Esse caso deve estar a andar nos gabinetes das autoridades judiciais. Em 2007 foram demitidos e despromovidos alguns enfermeiros do Hospital de Pemba acusados de serem culpados na morte do filho de um agente da lei e ordem (autoridade). Apesar de se ter instaurado o processo disciplinar, aguardam para responder em juízo porque o caso já está nas mãos das autoridades judiciais para julgamento. Recentemente está a correr um processo de investigação a propósito da morte de um doente, que vinha transferido de um posto de Saúde que dista 230 quilómetros da cidade de Pemba, numa estrada péssima. Este doente veio a perder a vida na sala de operações durante a intervenção cirúrgica.
FAMILIARES DE PESSOAS DA ELITE
Conforme acabei de referenciar, as queixas sempre acontecem com os familiares de pessoas da elite. Caso concreto desse doente o pai pertence a essa classe, ele em vez de procurar saber junto das autoridades do hospital, entendeu meter queixa directamente às instâncias superiores alegando que o seu doente tinha sido mal atendido, o que resultou na morte do mesmo. As instâncias superiores usando as suas competências ordenaram à Direcção Provincial da Saúde um inquérito de averiguação do caso, para se encontrar o responsável da morte do doente. Até ao momento o processo do doente anda nas gavetas dos chefes para se encontrar o infractor. Meus senhores, quando é que vamos depositar confiança nos nossos profissionais da Saúde?
Em 1999, eu perdi o meu filho recém-nascido em pleno Hospital Central de Maputo, onde existem todos os meios e recursos humanos altamente qualificados. O bebé havia nascido com oito meses e pesava 1,5 quilograma e estava de boa saúde e nem tinha nenhuma patologia. Como norma, o bebé tinha que ficar na incubadora até aos dias estipulados pela equipa médica. Mas acontece que no nono dia ele morre. Quando cheguei ao hospital, deparei-me com essa triste notícia e não fiz outra coisa. Digam-me lá a quem podia imputar a responsabilidade da morte desse filho?
Um outro acontecimento deu-se em 2006, em que o meu sobrinho esteve internado neste hospital de Pemba, na enfermaria de medicina durante duas semanas. No último dia da sua morte ele tinha complicações de respiração e saíam alimentos pelas narinas e essa enfermaria não dispunha de aparelho para chupar sujidade. Quando perguntámos disseram-nos que o aparelho só se encontrava no Banco de Socorros e na maternidade e naquela altura estava em uso. Depois de duas horas de tempo é que se conseguiu o aparelho, já era tarde, o moço acabou morrendo. Nestes termos a quem culpar? Eu, ciente das dificuldades que vivi de perto, escusei-me de acusar as pessoas de morte do meu parente. Para os outros deviam primeiro se inteirar bem dos factos e depois fazer a queixa.
Meus senhores, não se limitem a recorrer a queixas sem se aperceberem das condições que a nossa unidade sanitária de referência possui. Há certos casos que acontecem por falta de meios apropriados para salvar este ou aquele doente. Para tal, merece uma análise profunda para apurar os factos. Eu agora pergunto: será que morrer no hospital é um problema?
Muitas vezes temos acompanhado pelos meios de comunicação social a reportar a morte de alguns dirigentes ou grandes magnatas em grandes hospitais onde existem todos os meios altamente sofisticados, mas nunca ouvimos que os médicos que assistiram esses pacientes foram julgados.
APELO É EXTENSIVO AO NOVO DIRECTOR DO HOSPITAL
Senhor ministro da Saúde é melhor tomar nota desse assunto que parece mesquinho mas é polémico, pois afecta sobremaneira os profissionais da Saúde do Hospital Provincial de Pemba. Um apelo vai para o novo director provincial da Saúde de Cabo Delgado que foi empossado recentemente para que tenha muita atenção a este fenómeno e tenha diálogo com os seus funcionários que andam frustrados. Este apelo é extensivo ao novo director do Hospital Provincial de Pemba para ter cautela na resolução dos problemas ou se inteirar junto dos profissionais que dirige para melhor percepção dos factos. Os funcionários não se querem pronunciar por temerem represálias ou medo de serem expulsos como prometia a antiga directora.
Nos últimos dias, os profissionais da Saúde desta unidade sanitária trabalham com muito medo dos utentes. Para o vosso conhecimento certas pessoas querem assistir de perto seus doentes a serem tratados e querem ainda saber que tipo de medicamento está a ser administrado e para que efeito. Os enfermeiros com o medo de ser mal vistos, eles limitam-se a deixar tudo. É esse cenário que se vive no Hospital Provincial de Pemba. Senhor ministro essa norma de trabalho é praticada em todos os hospitais do país?
Eu apenas sou cidadão comum e nem faço parte da Saúde mas do pouco que presenciei não me quis conter se não escrever esta carta. Não estou a favor dos enfermeiros que atendem mal aos doentes, mas sim quero que algumas pessoas saibam que morrer neste hospital não significa mau atendimento. Quando assim pensamos estamos a desvalorizar os esforços dos médicos, técnicos e enfermeiros. Eu tenho visto o esforço que estes profissionais empreendem mesmo sem meios suficientes fazem algo. Eu penso que o médico, técnico, enfermeiro e até servente têm a missão de salvar vidas. Se formos a fazer análise dos doentes que entram no hospital e melhoram e os que perdem a vida qual seria a maior percentagem?

5/28/07

Ecos do encontro em Fátima dos antigos alunos do Colégio de São Paulo de Porto Amélia.

Somos eternos Jovens !!!
(Para evitar sobreposição de sons, não esqueça de "desligar" o "Rádio Moçambique" no lado direito do menu deste blogue. Fotos de António Coelho , Maria José Costa e Íris Maria.)

Com Amizade para todos os "jovens" da nossa eterna Porto Amélia/Pemba.

Jaime Luis Gabão

Cabo Delgado-Iniciam-se estudos da estrada Montepuez-Balama

Estudos de impacto ambiental decorrem em Cabo Delgado para a construção da estrada Montepuez-Balama.
O governador da província, Lázaro Mathe, disse que as obras vão implicar a movimentação de algumas populações dos sítios por onde a rodovia vai passar. O troço Montepuez-Balama faz parte do grande nó, a estrada Montepuez-Ruaça, que vai ligar o norte da província de Cabo Delgado e Niassa. Segundo a Rádio Moçambique, o Banco de Moçambique, o Banco Africano de Desenvolvimento e o governo japonês assinaram um acordo para a construção da estrada Montepuez-Ruaça, que deverá estar concluída dentro de três anos.
Maputo, Segunda-Feira, 28 de Maio de 2007:: Notícias

5/26/07

PEMBA...sempre Pemba !

Bem longe, continuamos imaginando perto...
Bom fim de semana:

(Para evitar sobreposição de sons, não esqueça de "desligar" o "Rádio Moçambique" no lado direito do menu deste blogue.)

Cabo Delgado - Nem tudo que brilha é ouro...

Produtos fora do prazo:
Há cerca de três semanas a saúde em Cabo Delgado fez uma incursão pela mais famosa casa de hóspedes da actualidade nacional, o “Beach Hotel” onde foi encontrar esta surpresa: produtos fora do prazo.
Levou amostras de cervejas e água tónica para análises laboratoriais que vieram a provar que, na verdade, não se deveriam consumir no dia em que foram servidos aos clientes do cinco-estrelado hotel.
Uma realidade que não deixa sossegados e que nos aconselha a preferir as nossas barracas, onde os produtos são consumidos no dia que chegam, com pouca probabilidade de ficarem armazenados. Lá o grande problema é a higiene.
Há também quem disse uma vez que Robert Mugabe está fora do prazo por causa da crise do seu país, que na semana passada não conseguiu ver nas proporções em que em Moçambique se fala.
Na companhia de mais três moçambicanos, vimos muitos produtos à venda em toda a nossa trajectória, via terrestre, de Mutare até Harare, passando por regiões do interior, entre montanhas. Ficamos chocados pela diferença entre o que ouvimos e o que vimos no Zimbabwe. Serviços, supermercados, estradas, restaurantes e escolas a funcionarem em pleno.
O povo vai-se “lixando” com o que os políticos acham ser uma crise, vendendo os seus produtos ao longo das estradas e no dia 13 deste mês duas carrinhas de matrículas amarelas, cheias de repolho, transpunham a fronteira de Machipanda, na província central de Manica, para fornecimento às instituições sociais (saúde e educação), no interior do nosso país.
Um homem das Alfândegas disse que se tratava de um contrato de fornecimento firmado com alguns sectores sociais das províncias de Sofala e Manica. É verdade!
Há quanto tempo que a produção escolar desapareceu dos centros internatos do meu país, exemplos de Jécua, Iapala, Boroma, Amatongas, entre outros. No Zimbabwe fomos visitar um colégio missionário no interior de Rusepa e ficamos boquiabertos de tanta produção, sobretudo animal para o consumo e venda para a sustentabilidade do centro educacional.
Ficamos impressionados com a organização e os programas educacionais mais virados para a moralização da sociedade. Mas não gostamos das condições de alojamento que contrastam com a dieta que está reservada aos estudantes.
O outro senão que não escapa a qualquer estrangeiro é, na verdade, a quantidade de dinheiro que é necessário para pagar determinada aquisição, de tal jeito que, para pagar um jantar de quatro pessoas no Restaurante Cascais, na mesma avenida onde se localiza o Portugal Restaurant, foi necessário uma máquina de contar notas. Tantas eram, mas que equivaliam no nosso país, a perto de dois mil meticais, que na actualidade podem ser apenas duas.
Esse aborrecimento pode-se transformar em crise, pois é a verdadeira chatice que provoca um mal-estar em quem não está habituado. Há notas a mais, sendo que, algumas nem os mendigos da rua recebem, por saberem que nada valem.
P.S. Nunca tinha visto um povo tão “louco” pelo futebol como o do Niassa em apoio ao seu Futebol Clube de Lichinga. Grita do princípio até ao fim. Bate-se até que se farta. Polícia ou não, desde que seja para apoiar o clube da casa, as normas e tarefas são esquecidas, nem mesmo para deter quem agride outrém e só se recorda dois dias depois que houve quem foi agredido fisicamente até à exaustão.
Pedro Nacuo - Maputo, Sábado, 26 de Maio de 2007:: Notícias

5/25/07

Moçambique - Incêndio - Mais um...

Do Blogue do Carlos Serra - http://www.oficinadesociologia.blogspot.com/
O "O país online" já tem uma referência ao incêndio hoje no Ministério de Agricultura. Destaco três partes que me pareceram significativas e que não vou comentar:
I
"Três pisos do edifício do Ministério da Agricultura foram atingidos por fortes chamas de fogo, por volta das cinco horas da manhã de hoje. A vice-ministra da Agricultura disse que ficaram destruídos o seu gabinete, o do ministro e o departamento de economia, onde estava arquivada toda a informação sobre o Programa da Agricultura (PROAGRI)."
II
"Para debelar as chamas, o Serviço Nacional de Bombeiros, que não conseguiu controlar a situação nos primeiros momentos, contou com o apoio dos Aeroportos de Moçambique, do Porto de Maputo e da Mozal, provando-se a deficiência dos “soldados da paz” no combate a situações do género. Pedimos ajuda quando vimos a dimensão do incêndio, pois a maioria dos nossos meios estão obsoletos”, disse Renato Taveira, porta-voz do Serviço Nacional de Bombeiros."
III
"Entretanto, o coordenador executivo do PROAGRI, Fernando Songane, disse que não haverá perturbações no funcionamento daquele programa, que foi gravemente afectado pelo incêndio, pois, segundo ele, grande parte da sua informação estava no departamento de economia e finanças. “A informação disponível é suficiente para produzir o relatório do fim de semestre”, garantiu Songane, para quem “
esta é a primeira experiência deste calibre”."
posted by Carlos Serra at
5/25/2007 02:39:00 PM

5/24/07

Turismo em Moçambique poderá ter maiores receitas de sempre este ano.

Lisboa, Portugal, 23 Mai - Moçambique espera receber cerca de um milhão de turistas este ano, o maior número das últimas décadas, afirmou terça-feira em Lisboa o vice-ministro do turismo do país, de acordo com a agência noticiosa portuguesa Lusa.Rosário Mualeia adiantou que estes turistas vão contribuir com cerca de 150 milhões de dólares para a economia Moçambique."Temos grandes expectativas de que este ano seja o melhor das últimas décadas no que diz respeito ao número de turistas a visitar Moçambique", disse.Mualeia disse também que o investimento no sector do turismo será de cerca de 250 milhões de dólares este ano, mais 100 milhões do que em 2006.As autoridades moçambicanas lançaram recentemente um pacote de medidas de incentivo para encorajar o investimento no sector do turismo.Rosário Mualeia disse ainda que o número de turistas a visitar Moçambique cresce cerca de 7 por cento todos os anos e que a maioria destes visitantes vêm da África do Sul, Portugal e Suazilândia.A capital do país, Maputo, é um dos destinos mais requisitados. (macauhub)
Veja também:

Moçambique - neocolonialismo chinês ?...

Activista moçambicano alerta para neocolonialismo chinês.
A crescente influência chinesa em África está a tomar contornos de exploração do continente, com o comportamento actual da China a fazer recear abusos futuros, alertou Daniel Ribeiro.
«A tendência dos projectos actuais indica que a China vai seguir o mesmo caminho da Europa, que é a exploração de África e não a ajuda ao continente», disse Daniel Ribeiro, activista ambiental da organização não-governamental moçambicana Justiça Ambiental (JA), à margem de uma conferência em Pequim com o tema A China em África, Desafios e Oportunidades.
«A China representa ainda uma pequena percentagem na economia de Moçambique, mas se continuar neste caminho a relação entre os dois países vai acabar por ser mais uma relação como a que tivemos com Europa e os Estados Unidos», afirmou Daniel Ribeiro, em entrevista à Agência Lusa em Pequim.
O biólogo e membro fundador da JA, disse que Moçambique ainda pode ir a tempo de evitar males maiores e não deixar que a relação com a China se torne num «grande problema».
«Precisamos da boa intenção dos investidores estrangeiros e neste momento a China não está a respeitar isso», disse.
O activista alertou para a necessidade de convencer a China a aprofundar o diálogo com Moçambique na aplicação de projectos de desenvolvimento e convencer Pequim a alinhar os seus objectivos com as metas que os moçambicanos acham adequadas para o país.
«Se não começarmos a fazer pressão agora e a mudar a experiência que temos no presente, a herança da influência chinesa para as futuras gerações de Moçambique não será muito positiva», considerou.
Ribeiro acrescentou que «a componente social e ambiental está mais fraca do que devia estar e este é um problema que deve preocupar Moçambique, que precisa de criar regulamentação para defender as riquezas do país».
O comércio bilateral entre Moçambique e a China atingiu 208 milhões de dólares (154 milhões de euros) em 2006, mais 26 por cento em comparação com 2005.
Nos últimos anos, a China passou de 26º para sexto investidor em Moçambique, com um número crescente de empresas chinesas a entrar em Moçambique, sobretudo na área da construção.
As empresas chinesas estão a construir mais de um terço das estradas de Moçambique, desenvolvendo também projectos na área de infra-estruturas de água e saneamento básico.
Apesar das exportações moçambicanas para a China, na maioria madeira e gergelim, terem crescido 38,1 por cento entre 2004 e 2005, a balança comercial é ainda favorável à China, que exportou em 2005 bens no valor de 71 milhões de euros, importando de Moçambique o equivalente a 59 milhões de euros.
A cooperação entre os dois países, que remonta ao apoio que Pequim concedeu à FRELIMO na luta armada contra a dominação colonial portuguesa, traduz-se em acções de cooperação económica e comercial em áreas como a agricultura, industria mineira, construção de infra-estruturas e formação de recursos humanos.
A China construiu e financiou em Moçambique algumas das mais importantes infra-estruturas da capital, como os edifícios do Parlamento, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Centro de Conferências Joaquim Chissano, tendo Pequim anunciado também o financiamento da construção do futuro estádio nacional do país.
Lusa / SOL

5/23/07

Diversificando - Novos tempos em terras de Vera Cruz...

Com votos de uma boa noite, transcrevo com a devida vénia, do eminente "Blog do Noblat":
Parada de sucesso
Vai tomar... Vai, vai, vai, vai...
Há uma semana que me divirto vendo e revendo o vídeo abaixo e repassando para os amigos. Como estou ficando velho e, por isso, mais conservador, não o ofereci antes para deleite ou reprovação de vocês. Tive medo de ser acusado de baixar o nível, etc e tal.
Mas o vídeo foi objeto, hoje, de reportagens publicadas em jornais considerados sisudos. E está disponível no portal G1. Então, com atraso, lá vai ele. Abaixo, a história do vídeo, segundo o G1.

(Para evitar sobreposição de sons, não esqueça de "desligar" o "Rádio Moçambique" no lado direito do menu deste blogue.)
"Um vizinho mal-humorado deu origem ao mais novo fenômeno do YouTube no Brasil. O vídeo com o refrão "Vai tomar no c*", que já somou mais de 500 mil visitas somadas suas várias versões, nasceu quando a atriz Cris Nicolotti estava em casa com o marido Cacá Bloise e um casal de amigos, há dois anos. As risadas incomodaram um vizinho, que proferiu o palavrão em alto e bom som.
O que poderia ser o começo de uma discussão serviu de inspiração para Cacá, que de imediato pegou seu violão e transformou o xingamento em música. “Eu escrevi um monólogo e tem um esquete humorístico. Foi quando lembrei da música. Perfeito, né? Então eu resolvi colocar ela cantando ''Vai tomar no c*''", diz Cris Nicolotti". Leia mais
aqui.
E, alguns comentários:
Nome: José Luis da Silva Campos - Email - 22/5/2007 - 18:49
Maravilha, Noblat; por que não divulgou antes? Isso é que é catarse pós-moderna...
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Nome: Lauro Dessoy - Email - 22/5/2007 - 18:38
Sensacional, clipe muito propício ao atual momento político. Os eleitores brasileiros poderiam adotar isso como hino para o próximo pleito.
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Nome: João Augusto - Email - 22/5/2007 - 18:35
Este é o momento que estamos todos tomando no c... com tantos escandalos.
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Nome: emanuel rego lima - Email - 22/5/2007 - 17:23
Gostei da melodia. A letra não entendi. Me pareceu uma poesia muito hermetica...
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Apelido: marceloing - 22/5/2007 - 16:00
Taí um bom jingle para as próximas eleições.

5/22/07

2008 - Comemoração dos 50 anos de PEMBA...

Queremos colaborar no desenvolvimento do país - Valige Tauabo, director de Marketing e Relações Públicas da CD em Movimento, a propósito dos 50 anos de Pemba.
A cidade turística de Pemba comemora no próximo ano o quinquagésimo aniversário da sua elevação àquela categoria. E já há uma movimentação nesse sentido. A Associação dos Naturais, Amigos e Simpatizantes de Cabo Delgado (ANASCD), está a projectar uma série de actividades socioculturais, com vista à uma celebração condigna, à dimensão de uma urbe que alberga a terceira maior baía do mundo. Uma cidade que tem no seu roteiro, o turismocultural como marca. A esse programa, os seus organizadores convencionaram chamar CD em Movimento.
Para nos inteirarmos dessas actividades, contactámos Valige Tauabo, director de Marketing e Relações Públicas da ANASCD.
“O CD em Movimento tem como objectivo fundamental participar no desenvolvimento de Cabo Delgado de uma forma geral. Mas quando há comemorações dos aniversários nos municípios, nós temos dado o nosso contributo. E também temos em agenda a participação, de várias formas, na preservação do património sociocultural da província”.
Para os cinquenta anos de Pemba, a CD em Movimento tem um leque de actividades que começaram logo que terminaram as celebrações do 49º aniversário. “Um dos aspectos mais fortes que pretendemos fazer por esta efeméride, é conseguir sensibilizar todos aqueles que são naturais, amigos e simpatizantes da associação para fazerem o seu melhor com vista a projectar a imagem de Pemba, que é uma das mais belas janelas do nosso país, sobretudo no turismo cultural que ali se pratica”.
A Associação dos Naturais, Amigos e Simpatizantes de Cabo Delgado existe desde o ano passado. Perguntámos a Valige Tauabo, como é que tem sido a adesão dos membros naquela colectividade. “Há muita vontade dos naturais, amigos e simpatizantes em aderirem à associação e muitos deles trazem uma diversificação em termos de visão sobre aquilo que deve ser a nossa a província. Todos estão preocupados com uma causa, que é o desenvolvimento da província”.
Como acontece com outras associações similares, os membros influentes desta agremiação estão baseados em Maputo. São esses também que detêm o potencial económico. E, sobre a sincronização da CD em Movimento, quisemos saber de Valige Tauabo, como é que ela é feita. “Esse é um facto, mas nós estamos a traçar o nosso programa de forma a não entrar em choque com aquilo que são os objectivos da província. Nós também fazemos tudo para que colaboremos no programa traçado pelo Governo provincial”.
Sobre os benefícios que uma associação como esta pode trazer, Tauabo tem uma opinião positiva. “Primeiro que tudo, uma associação tem que seguir a luz da lei. Acho que é salutar, porque temos uma participação no desenvolvimento sociocultural das comunidades. Uma associação destas, bem encaminhada, pode ter grande contributo para o desenvolvimento do país. Tentamos estar junto das estruturas governamentais, porque desta forma, pensamos nós, estaremos melhor orientados”. Segundo ainda as palavras do nosso interlocutor, a CD em Movimento adoptou um sistema de trabalho que eles próprios consideram positivo “e aquelas associações que seguirem este modelo só farão ganhar as províncias que lhes acolhem”.
QUEREMOS OPINAR
O aspecto repisado por Valige Tauabo é a necessidade de participar na movimentação do país. “Nós estamos bem claros nos nossos estatutos. Queremos nos inserir na sociedade, queremos participar, queremos opinar, queremos criar instrumentos estratégicos de desenvolvimento e, como porta-vozes da sociedade, queremos também que o Governo sinta que nós podemos, de alguma forma, participar no desenvolvimento global da província e, consequentemente, do país”.
Outro dado, particularmente de extrema importância citado pelo director de Marketing e Relações Públicas, ultrapassa a regra dos estatutos e assume um valor patriótico muito grande. É que Cabo Delgado é o berço da luta armada de libertação nacional. Todos os grupos étnicos de Moçambique estarão ligados por via disso, àquela província. Os antigos combatentes terão, por inerência da história, alguma simpatia ou amizade por Cabo Delgado. Este facto foi recordado quando perguntámos a Tauabo, sobre quem é que podia ser membro desta colectividade. “Todos podem ser membros da associação, daí o termo “amigos e simpatizantes”. Temos muitos amigos e muitos simpatizantes”.
PRESERVAÇÃO CULTURAL
Um dos objectivos perseguidos pelo CD em Movimento é a preservação do património histórico-cultural existente em Cabo Delgado. De acordo com Valige Tauabo, alguma coisa está-se a fazer nesse sentido. “Se formos a olhar àquilo que é o propósito desta associação, nós queremos identificar os problemas que a província enfrenta e possíveis soluções. Queremos promover debates e reflexões colectivas. Promover e intensificar o convívio social. Desenvolver acções com vista à atracção de projectos de desenvolvimento para a província. Promover deslocações turísticas à província. Portanto, olhando para estes objectivos, nós cremos que estaremos a promover o turismo cultural”.
Tauabo acrescenta que a sua associação quer dar um fôlego para que as actividades culturais da província de Cabo Delgado não desapareçam É uma província culturalmente rica. “O tufo e o mapiko são as manifestações mais conhecidas, mas há muito mais do que isso e nós queremos participar, juntamente com as estruturas do Governo vocacionadas, para a preservação desse manancial”.
A promoção de valores e hábitos culturais das populações de Cabo Delgado, incluindo o conhecimento das línguas locais, a culinária e a arte, merecem a atenção da CD em Movimento. “Nós apoiamos acções de pesquisa, compilação e divulgação do nosso património cultural, incluindo a dança, o canto, o teatro, a escultura, a cerâmica, instrumentos musicais, de trabalho e de adorno”.
O ecoturismo constitui uma área promissora para o desenvolvimento da província. O redimensionamento e uso integral das belíssimas praias, incluindo as de Mecúfi, Murebwe, Wimbi, do Arquipélago das Quirimbas, Pangani e Palma, irão abrir as portas de Cabo Delgado para maior contacto com o mundo e assim, valorizando cada vez mais a baía de Pemba, a primeira maior baía de natural de África e a terceira maior do mundo.
“Nesta área, maior atenção deve ser dada ainda ao desenvolvimento e aproveitamento das reservas naturais e zonas de conservação, incluindo locais históricos e de lazer”.
ALEXANDRE CHAÚQUE - Maputo, Terça-Feira, 22 de Maio de 2007:: Notícias

5/21/07

Futebol Clube do Porto Bi-Campeão luso...

Festa de S. João antecipada no Porto com a vitória do Futebol Clube do Porto sobre o Desportivo da Aves, neste Domingo, no estádio do Dragão, com o arrazador resultado de 4-1 favorável ao time do peito de muitos de nós, moçambicanos e portugueses espalhados pelo mundo.
Parabéns ao glorioso Futebol Clube do Porto e a todos os "dragões" que nos lêm.
Página oficial do F. C. do Porto - http://www.fcporto.pt

5/20/07

Pemba na rota das drogas...

One of the biggest drug busts ever in SA.
In one of the biggest drug busts ever in South Africa, the Scorpions have intercepted a key ingredient, worth more than R800-million, used in producing Mandrax.On Friday afternoon, investigators from the Scorpions' KwaZulu Natal outfit transported the dangerous chemical - o-toluidine - to a Midrand chemical company to be destroyed in a safe environment. The chemical was confiscated after entering South Africa via Durban harbour. Chemical experts and the police forensic laboratory confirmed that the 5 tons of o-toluidine was seized in the bust. Scorpions KwaZulu Natal chief investigator Clifford Marion confirmed that the drugs, believed to be destined primarily for the Cape Flats, were planned for countrywide distribution, and that up to 34-million Mandrax tablets could have been produced from the amount of o-toluidine confiscated.
"The modus operandi of the drug syndicates has changed in recent times and they're not bringing in completed drugs anymore," said Marion.Syndicates were now bringing chemicals into the country marked as dye, with the other key ingredients arriving several months later, he said.The chemicals were then put together at clandestine laboratories dotted around the country.Drug labs have been found at smallholdings, farms, garages and flats.The bust is second only to a R1-billion drugs haul the Scorpions netted in 2003 at the Durban port. The Mandrax powder seized in that bust was hidden in drums marked "paint" and was destined for Pemba in Mozambique.At the time, investigators indicated that Chinese syndicates were behind the Mandrax trade in South Africa.But Marion was cautious not to reveal too many details of the latest bust as the Scorpions are continuing their investigation into the syndicate, which he said was operating throughout the country. "We've been investigating this syndicate for a while now, which resulted in this bust. The most important thing for us is that this stuff will not hit the streets," he said.Local authorities have been working in consultation with their overseas colleagues to stem the flow of drugs, which are increasingly being routed via South Africa.
Beauregard Tromp-May 19 2007 at 01:18PM - This article was originally published on page 2 of Saturday Star on May 19, 2007.

Moçambique quer acolher Portugal e Brasil no Mundial de 2010.

TRÊS CENTROS DESPORTIVOS VÃO SER CONSTRUÍDOS.
Moçambique quer albergar as selecções de Portugal e do Brasil no Mundial'2010, o qual irá ter lugar na vizinha África do Sul. Para isso, o vice-ministro do turismo anunciou que vão ser construídos três centros desportivos de nível internacional. "Há movimentações nesse sentido [de levar para Moçambique as selecções lusófonas que se qualifiquem para o Mundial] por parte do Ministério da Juventude e Desportos, que estão a fazer contactos com as federações", garantiu à agência Lusa, Rosário Mualeia, durante a cimeira do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, que teve hoje lugar em Lisboa. "Há abertura de Moçambique no sentido de albergar as selecções e acreditamos que vêm, porque há condições", sublinhou o governante, que salientou a existência de projectos para aeroportos e centros desportivos de nível internacional para as localidades de Cabo Delgado (norte), Manica ou Gaza (centro-sul) e Maputo (sul, a capital, próximo da fronteira com a África do Sul). Os projectos deverão arrancar entre o final deste ano e 2008, de forma a estarem concluídos em 2010, e vão contar também com a participação de investidores privados, com quem o governo moçambicano está em contactos, concluiu Mualeia.
Data: Segunda-feira, 14 Maio de 2007 - 17:58 - Jornal RECORD

5/19/07

Wimbi Beach...

Tentem "aproveitar" à distância...

Bom fim-de-semana !

5/18/07

TEMPLOS E ESPAÇOS SAGRADOS DAS ILHAS DE QUERIMBA - Parte 2.

-->Continuação

- Clique aqui para ler a 1a. Parte
- Clique nas imagens para ampliar.
Autor - Carlos Lopes Bento.
Mais trabalhos de Carlos Lopes Bento aqui:
http://br.geocities.com/quirimbaspemba/

MEMÓRIAS DAS ILHAS DE QUERIMBA.TEMPLOS E ESPAÇOS SAGRADOS DAS ILHAS DE QUERIMBA.
ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.
2- CEMITÉRIOS
Começarei pelos locais de enterramento dos moradores cristãos.
Como já foi salientado um pouco atrás, entre 1796 e 1798 foram feitos vários enterramentos, na Capela do Ibo, debaixo do coro, junto aos bancos, de acordo com o status social.
Para acabar com os danos que tal prática acarretava para a saúde pública, a Carta régia de 14/1/1801[1] proibia o enterramento de cadáveres em templos e igrejas, logo que, para o efeito, fossem construídos cemitérios. Em cumprimento desta disposição real mandava-se levantar um cemitério na ilha do Ibo.
O Governador das Ilhas[2] achava a providência de grande utilidade para as Ilhas em virtude dos templos existentes serem pequenos e existirem apenas dois onde se costumava fazer enterramentos(Quirimba e Ibo). De modo a obviar este inconveniente e cumprir aquela disposição legal, propunha a construção de dois cemitérios, um no Ibo e outro na Quirimba, em pedra e cal e não de madeira, material que exigia reparações anuais e permitia a entrada de animais nocturnos. Perguntava, ao mesmo tempo, quem suportaria as despesas com os materiais, que seriam de elevados montantes.
A resposta do Capitão General[3] era negativa ao determinar que os cemitérios deveriam fazer-se de madeira, o mais rapidamente possível e de maneira a evitar a entrada neles de animais. Por se tratar uma obra de interesse e benefício públicos caberia aos moradores contribuir com materiais e mão-de-obra escrava, uma vez que não haver cabimento para despesas extraordinárias.
Solicitava, ainda, aquela autoridade o envio de dados estatísticos anuais sobre o número de católicos que morriam e se enterravam nas igrejas e se havia probabilidades de aumentar o número de cadáveres de modo a poder "infeccionar os ares e causar epidemias, como acontece nas cidades populosas".
Desconhece-se se tais obras foram ou não concretizadas. Mas a construção de um pequeno cemitério, em 1846, junto à igreja do Ibo, dedicada a São João, pode levar a concluir pela negativa.
Os enterramentos tiveram lugar, primeiro, no interior da capela, depois na igreja e, posteriormente, naquele pequeno cemitério, ainda existente em 1974.
No último quartel do século XIX, mais precisamente em 1889, foi erigido o cemitério de Munawa para cristãos e não cristãos e na sua capela foi benzida em 1892 a imagem do Santo Africano Benedito, protector da gente escravizada.


Fig. XII- Cemitério de Munawa com a sua capela.
Crédito: Carlos Bento. 1972 e 1970.


Fig. XIII- São Benedito
Crédito Carlos Bento. 1970

São Benedito, descendente de escravos provenientes da Etiópia, nasceu em Itália, em 1562 e foi um grande defensor dos oprimidos e escravizados. É um Santo muito querido e popular no Brasil, entre as populações mais desfavorecidas.
A imagem deste Santo, toda pintada de preto, que foi benzida em 20 de Janeiro de 1892, encontrava-se na Capela do Cemitério de Munawa.
Em 1971, para a resguardar de cobiças alheias, foi depositada na Câmara Municipal do Ibo.
No interior do cemitério do Ibo encontravam-se belos jazigos e pedras tumulares, sinal de uma sociedade social e economicamente favorecida.(Fig. XII e XIV)

Fig.- XIV- Jazigo familiar
Crédito: Carlos Lopes Bento. 1970.

No exterior deste cemitério encontramos algumas campas, uma delas com dizeres em escrita oriental, que se julga com datas anteriores a 1889, onde teria havido um cemitério, vedado a madeira, que o tempo consumiu.

Fig. XV. Campas antigas
Crédito: Carlos Bento, 1970.


Fig.- XVI- Uma das campas mais antigas
Crédito: Carlos Bento. 1970
Para além deste cemitério público, e não muito longe dele, encontramos na Ilha do Ibo quatro pequenos cemitérios de família, construídos, no último quartel de século XIX.

Fig. XVII- Cemitério de família com lápide de mármore(Fig. XVIII). 1970
Crédito: Carlos Bento

Fig. XVIII. Lápide. 1970
Crédito: Carlos Bento


Fig. XIX- Cemitério de família 2. 1970
Crédito de Carlos Bento


Fig. XX- Lápide. 1970
Crédito de Carlos Bento


Fig. XXI- Cemitério de família 3. 1970
Crédito de Carlos Bento

Fig. XXII- Cemitério de família 4. 1970
Crédito de Carlos Bento
Para além dos cemitérios cristãos, existiam, ainda, na ilha do Ibo dois cemitérios maometanos e um crematório hindu, dos quais apresentamos imagens.

Fig. XXIII- Cemitério maometano destinado à população rururbana. 1970
Crédito de Carlos Bento

Fig. XXIV- Cemitério maometano destinado aos comerciantes da Vila. 1970
Crédito de Carlos Bento


Fig. XXV- Crematório hindu. 1970
Crédito de Carlos Bento
Numa 3ª parte serão abordados alguns dos problemas levantados à missionação das populações das Ilhas de Cabo Delgado.
Pesquisa e texto de: Carlos Lopes Bento, antropólogo e prof. universitário.
(CONTINUA)
[1]- Idem, Doc. Av. Moç., Cx. 92, Doc. 81 e Códice 1478, fls. 175v a 176v, Carta de 23/2/1802, do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas.
[2]- Idem, Códice 1478, fls. 176v, Carta nº 299, de 23/3/1802, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[3]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 93, Doc. 46 e Códice 1478, fls. 178, Carta de 21/5/1802.

Quem é Carlos Lopes Bento
Carlos Lopes Bento, nasceu em 1933, na aldeia de Mouriscas/Abrantes/Ribatejo/Portugal.
FORMAÇÃO ACADÉMICA
- 4ª classe na Escola Primária de Mouriscas.
- 2º.ano e 5º ano liceais no Colégio Infante de Sagres, em Mouriscas.
- 7º.ano liceal no Instituto de Santo António, em Castelo Branco.
- Doutorado em Ciências Sociais, Especialidade História dos Factos Sociais, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade Técnica de Lisboa.
- Licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo mesmo Instituto.
- Diplomado com o Curso Superior de Administração Ultramarina pelo antigo Instituto Superior de Estudos Ultramarinos.
ACTIVIDADE PROFISSIONAL E CIENTÍFICA
Viveu em Moçambique, por motivos profissionais, de 1961 até l974, onde desempenhou funções na Administração Civil, como Administrador de Concelho e Presidente de Câmara, e realizou pesquisa documental e trabalho de campo entre os povos makhwa de Murrupula e Mogincual, makonde de Mueda e mwani das Ilhas de Querimba e Pemba(Porto Amélia).
Antropólogo, Professor Universitário e Investigador em vários projectos de natureza sócio-politíca e de desenvolvimento em Portugal Continental e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, designadamente, " A Reconversão da Pesca Artesanal, entre os rios Tejo e Sado- AspectosHumanos", comparticipado pela JNICT. Nos últimos anos coordenou o Projecto de I&D «A cozinha Tradicional na área do Pinhal Interior e do Vale do Tejo, num Processo de Mudança – Estudo Exploratório(meados do século xx).
Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, onde exerceu cargos de presidência, nas secções de Etnografia, Antropologia e História e, actualmente, faz parte dos seus Órgãos Directivos, e de vários centros de investigação ligados a África, onde tem apresentado dezenas de Comunicações.
Participação em muitas dezenas de eventos científicos- congressos, seminários, mesas redondas, ...- ligados a temáticas da sua especialidade.
ÁREAS CIENTÍFICAS DE INTERESSE
Actualmente, interessa-se pela Antropologia Africana-ritos de passagem, alimentação e contactos de cultura-, e no domínio da Antropologia Portuguesa pela cultura alimentar tradicional e pelos problemas relacionados com a mudança em comunidades rurais e piscatórias e em organizações empresariais, particularmente, turísticas e hoteleiras.
PUBLICAÇÕES
Entre a múltipla colaboração dispersa por livros e publicações periódicas, realçam-se os seguintes artigos publicados ou em prelo:
- A Póvoa do Varzim e o seu Passado - A sua Comunidade de Pesca no Limiar do Séc. XX (1978);
- Pescadores e Artes de Pesca - Aspectos da Actividade Piscatória nos rios de Lisboa e de Setúbal (1978 e 1979);
- Achegas para o Estudo da Economia Alimentar em Portugal (1979);
- Problemas Eco-Sociais e a Reconversão da Pesca Artesanal ( 1980);
- Práticas costumeiras dos Wamwani do Ibo. A cerimónia da akika ( 1981);
- O Trabalho de Campo na Antropologia e o Desenvolvimento (1982);
- Problemas dos Países em Transição - Algumas considerações sobre a posse e a exploração na terra da Madeira e suas implicações (1982);
- O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve - Achegas para o Estudo do seu Passado(1984);
- A Historiografia e a Antropologia em África (1984):T;
- A Cozinha dos Wamwani das Ilhas de Querimba / Moçambique (1984);
- Moinhos e Azenhas em Mouriscas (1985);
- O casamento (arusi) entre Wamwani das Ilhas Querimba - A escolha da noiva e o pedido do casamento ( 1985);
- As Potencialidades das Fontes Históricas na Pesquisa Antropológica (1986);
- O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve - Achegas para o Estudo do seu Passado. Breves Considerações Finais (1986);
- A Pesca do rio Tejo. Os Avieiros: Que Padrões de Cultura? Que Factores de Mudança Sócio-Cultural? Que Futuro? (1987);
- O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve - Achegas para o Estudo do seu Passado.-Ambiente, Tecnologia e Qualidade de Vida (1988);
- A Posição Geo-Política e Estratégica das Ilhas de Querimba. As Fortificações de Alguns dos seus Portos de Escala (1989);
- La Femme Mwani e la Famille. Étude Quantitatif des Quelques Comportements des Femmas de l’île d’Ibo (1990);
- As Companhas de Ceifeiros Ribatejanos no Alto Alentejo - Uma Forma de Organização Social Extinta(1991);
- O 1º Pré-censo de Moçambique - A Relação Geral de População de 1798 das Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado (1991);
- Uma Experiência de Desenvolvimento Comunitário na Ilha do Ibo/Moçambique entre 1969 e 1972 (1992);
- Os Prazos da Coroa nas Ilhas de Querimba e a sua Importância na Consolidação do Domínio Colonial Português (1997);
- Ambiente, Cultura e Navegação nas Ilhas de Querimba: Embarcações, Marinheiros e Artes de Navegar (1998);
- A Administração Colonial Portuguesa em Moçambique - Um Comando Militar em Mogincual, entre 1886 e 1921 (1999);
- Situação Colonial nas Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado - Senhorios, Mercadores e Escravos (Resumo da Tese de doutoramento) (2000);
- Contactos de Cultura Pós-Gâmica na Costa Oriental de África. O Estudo de um Caso Concreto(2000);
- Quem Defende os Interesses dos Pequenos Agricultores do Alto Ribatejo?(2001);
- A Ilha do Ibo: Gentes e Culturas-Ritos de Passagem (2001);
- Mouriscas: Terra Pobre, Gente Nobre (2002);
- A Antropologia da Alimentação em Portugal. - Um estudo concreto (2003);
- A Cozinha Tradicional na Área do Pinhal e o Desenvolvimento Regional - O Maranho como Prato Emblemático num Processo de Mudança (2003);
- A possessão em Moçambique - O Curandeiro N´kanga entre os Wamwuani do Ibo (1969 -74)(2003);
- As Ilhas de Querimba em Imagens (2004);
- A Antoponímia de Mouriscas, entre 1860 e 1910 (2005).

TEMPLOS E ESPAÇOS SAGRADOS DAS ILHAS DE QUERIMBA.

MEMÓRIAS DAS ILHAS DE QUERIMBA.
TEMPLOS E ESPAÇOS SAGRADOS DAS ILHAS DE QUERIMBA.
ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.
(1ª Parte)
Por Carlos Lopes Bento
Mais trabalhos de Carlos Lopes Bento aqui:
http://br.geocities.com/quirimbaspemba/
Depois de divulgar as fortificações, construídas pelos Portugueses, na ilha do Ibo, passarei, a partir de agora, a debruçar-me sobre os principais templos sagrados edificados nas Ilhas de Querimba e terras firmes.
A Religião, assente em crenças, normas de comportamento e rituais, manifesta-se, exteriormente, através de cultos, por intermédio dos quais os crentes estabelecem uma relação com a Divindade.
Os cultos religiosos, cerimoniais sempre de natureza pública, têm lugar em locais adequados, entre os quais se destacam os edifícios próprios construídos para o efeito, genericamente, denominados templos.
Dos templos religiosos, e a sua distribuição, erigidos nas Ilhas de Querimba e terras adjacentes darei, de seguida, especial relevo, aos templos edificados, nas ilhas de Quirimba e do Ibo, para o culto dos cristãos- igrejas, capelas e cemitérios-, alguns dos quais, com ruínas ainda visíveis ou, ainda, em activos em 1974.
Nestas duas ilhas, que foram capital da capitania-mor das Ilhas Quirimbas, o número cristãos foi, durante centenas de anos, predominante quando comparado com os moradores que professavam as religiões islâmica e de raiz africana.
Segundo a Relação Geral dos Habitantes das Ilhas, de 1798, da população livre, num total de 2909 pessoas, 24,43% era cristã, 21,73%, islâmica e 21,73% seguia princípios religiosos africanos. Na ilha do Ibo a percentagem de cristãos era de 97,96 e a de maometanos de 0,82. O peso dos cristãos estava reflectido no grande número de templos religiosos erigidos na ilha do Ibo.
1- IGREJAS E CAPELAS
Nesta parte setentrional das terras moçambicanas, a evangelização, que havia sido partilhada nesta costa de África entre Jesuítas e Dominicanos[1], ficou sob a responsabilidade da Ordem de São Domingos.
A situação colonial teria sido instituída no 1º quartel do século XVI, após a conquista das Ilhas pelos Portugueses. Depois desta data teriam sido erguidos alguns templos religiosos nas principais ilhas do arquipélago. A construção dos conventos (?), das ilhas de Quisiva(Fig. I), de que se encontram ruínas e de Macaloé atribui-se, não comprovadamente, aos padres jesuítas. Estes religiosos que chegaram a Moçambique, depois de 1560, segundo o historiador da Companhia de Jesus Padre Francisco Rodrigues nunca estiveram a missionar nas Ilhas[2]
[1]- Arquivo Português Oriental, Tomo IV, Vol. II, p. 211, Carta de 83/1617.
[2]- GERARDS, Constantino., Algumas Datas e Factos ..., cit., p.
Fig. I- Ruínas de convento na Ilha de Quisiva. 1970. Crédito Carlos Bento
A primeira igreja, dominicana, referida pela primeira vez em 1530[1] e descrita por Frei João dos Santos, foi edificada "por Diogo Rodrigues Correia, primeiro senhor desta ilha que a deu aos religiosos de São Domingos", a solicitação destes, com terras e palmares com a obrigação de rezarem, semanalmente, duas missas, ficando sufragânea à de Moçambique[2].
O Administrador Episcopal de Moçambique, em 1753[3], chamava a atenção das autoridades régias para o estado de desamparo em que se encontrava a cristandade sob a sua responsabilidade e para os abusos praticados, no seio da comunidade religiosa, tanto por parte dos cristãos, como do clero.
Lamentava, profundamente, a falta de igrejas, de curas e de párocos, verificada desde as Ilhas de Cabo Delgado até Moçambique, onde não existiam mais do que as igrejas das ilhas de Querimba e da Amisa, a desta sem telhas e de paredes arruinadas e, ambas, então, sem pároco ou qualquer outro sacerdote.
A ausência de pároco, nesta altura, ficava a dever-se ao facto dos dois frades que ali residiam terem deixado, com pretextos frívolos originados nas "suas desordens e inconsiderado modo de viver como de ordinário se experimenta fora da disciplina claustral"[4], as respectivas paróquias.
As dificuldades no preenchimento destas seriam uma constante com o decorrer dos tempos.
A capela de São João Baptista criada, novamente, pelo fundador da vila do Ibo, que servia de capela militar, em 1767[5], não tinha capelão, ficando da sua administração incumbido o vigário da Querimba, cuja missão era ministrar os sacramentos aos elementos do Presídio Militar.
O mau estado da igreja de Amisa levaria mais tarde a que o seu pároco fosse residir no Ibo, onde desempenhava as funções de capelão militar, continuando a ir, anualmente, a Amisa para exercer os actos de desobrigação e demais funções[6]. A deterioração constante do edifício e despovoamento do local onde estava erigida levaria a que os párocos aí fossem mais raros.
A partir da última década do século XVIII, a falta de clérigos, a instabilidade política e a falta de segurança como resultado dos ataques dos Franceses, Makhwa e Sakalava, levariam a que, algumas vezes, apenas um vigário, que passava a residir no Ibo, ficasse com a responsabilidade das paróquias da Querimba e Amisa e da capelania do Ibo[7]. Dizia missa, interpoladamente, em cada Domingo, no Ibo e Querimba e ia, quando tal era possível, anualmente, à Amisa. Sempre que adoecia[8] as coisas complicavam-se. Depois do ataque à ilha do Ibo, de 1796 perpetrado pelos corsários franceses, por o capelão ter sido feito prisioneiro e depois assassinado, solicitava-se a sua substituição por outro que, porventura, chegasse da Índia[9].
À escassez de missionários, juntava-se o problema relacionado com a remuneração e sustento, factores decisivos no prestígio e desempenho das suas funções.
A Fazenda Real remunerava, em 1758[10], cada sacerdote em serviço na Colónia com 250 cruzados, por ano, que somados a alguns dízimos, devidos à Igreja, se tornavam insuficientes para as necessidades da paróquia e do seu pároco. Os padres das Ilhas[11], em 1760, recebiam 140 mil réis/ano, ou seja, 350 cruzados. Quanto ao capelão militar do Presídio percebia, em 1787, segundo a respectiva Folha Civil e Eclesiástica, a importância de 300 cruzados.
Na tentativa de alcançar um remédio para este problema de penúria, o Administrador Episcopal de Moçambique dava conta à Rainha de Portugal da situação de muitos párocos, que, explicava, não tinham rendimentos suficientes para seu sustento e explicava as razões:
A igreja não lhe rende coisa alguma. Das igrejas que experimento com esta indigência, pela repugnância que os eclesiásticos têm de os ocupar: a 1ª é de Amisa, uma das igrejas sitas nas ilhas de Cabo Delgado (...) é a última e a mais remota de Moçambique para a parte das ditas Ilhas e como tal a mais solitária e que for costume se diz ter muitos poucos homens de chapéu; e como todos os paroquianos a maioria são cafres ou outros da mesma qualidade que são cristãos enquanto o querem e não são oprimidos, procuram subterfúgios para não enterrarem os seus defuntos na igreja ...[12].
A situação por falta de solução continuava em aberto. O vigário paroquial da igreja de Nossa Senhora do Rosário, da ilha de Querimba e encarregado de toda a cristandade da ilha do Ibo, em virtude dos emolumentos da igreja serem muito ténues e não chegarem para sustento de um pároco, requeria, em 1808[13], para ser provido na capelania do Ibo, cujo cargo estava vago.
Ao solicitar providências ao Soberano, o Bispo de São Tomé, Prelado de Moçambique[14] expunha claramente e de novo o problema:
O Pároco da Ilha de Querimba tem a mesma côngrua de 350 cruzados, paga umas vezes na referida moeda nesta capital, outras em panos na Feitoria daquelas Ilhas e neste 2º caso são 280 panos, isto é, 350 braças de pano grosso que vestem os negros e outros efeitos de que eles usam, que é a moeda com que se compra o necessário. Nada se pode dizer dos seus rendimentos, porque à excepção de uns 120 panos que tem de 2 festividades quando eles se celebram, não percebem, senão, de ano a ano, algumas vezes, de mais tempo, 1 ou 2 ofertas por ocasião de 1 baptizado ou enterro de pessoa de maior distinção. Os outros ou não pagam o que devem ou o fazem em géneros tão insignificantes que não podem entrar em razão de vendas, o que não procede da pobreza em que vivem os habitantes dessas Ilhas. O mesmo se deve dizer da paróquia da Amisa que se acha vaga. Daqui se segue que os Párocos destas 2 freguesias que não têm do seu, não podem subsistir com os rendimentos da sua estola.
As carências continuariam durante todo o século XIX e nos princípios do século XX o Governador voltava a levantar o problema, que, aliás, persistia, embora, sem escravos:
Os padres nas suas pouco rendosas paróquias, longe da tutela dos superiores, utilizam os seus escravos que passam de seus neófitos a serem seu arrimo: colimam, caçam, pescam, carregam-no no andor, transportam madeira para a igreja; cristãos por momentos, breve se tornam aos seus feitiços e superstições[15].
Como já foi salientado, a evangelização desta parte norte de Moçambique pertenceu aos padres dominicanos, que foram responsáveis pela construção dos templos levantados nas Ilhas.
Caber-lhe-ia a missão particular de pregar a devoção de Nossa Senhora do Rosário, não sendo, pois, de estranhar que as paróquias da ilhas de Querimba e da Amisa, de Mocímboa da Praia e a 1ª Confraria criada nas Ilhas, lhe fossem dedicadas.
Depois da reconquista das Ilhas, que teve lugar em 1523, foram edificados vários templos[16], que, de Sul para Norte, seguidamente, se inventariam:
Capela de Santo António, na ilha de M'funvo
Capela de Nossa Senhora da graça, em Arimba
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na ilha de Querimba
Capela de Santo António, na da ilha de Querimba
Igreja de São Luís Gonzaga, na ilha de Querimba(sec. XIX)
Capela/igreja de São João Baptista, na ilha do Ibo
Capela militar de São João Baptista, na ilha do ibo
Capela de família, na ilha do Ibo(séc XIX)
Capela de São Miguel, na ilha de Matemo
Capela de São Domingos, na ilha de Macaloé
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Mocímboa da Praia(sec. XIX)
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na ilha de Amisa
Capela de Santo António, em Mulúri.
Sobre cada um destes templos fornecerei, seguidamente, mais alguns dos seus principais traços
Fig. II- Situação geográfica das Ilhas de Querimba e suas terras firmes.
Crédito: Orlando do Amaral, 1992
[1]- BOCARRO, A., O Livro ..., cit., p. 40.
[2]- NAZARETH, Prelazia de Moçambique, p. 171, que entre as igrejas dominicanas construídas em Moçambique destacava em 1570 a de Nossa Senhora do Rosário de Querimba; CACEGAS, L., História de São Domingos, p. 435.; SANTOS, J., Etiópia ..., cit., Vol. I, p.p. 273 e 274; e BRÁSIO, A., “A Igreja em Moçambique .. “, p. 286.
[3]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 9, Doc. 3, Carta de 20/12/1753.
[4]- Idem, Códice 1310, Carta de 4/8/1753, do Cap. Gen. para o Vice-Rei da Índia.
[5]- Idem, Doc. Av. Moç., Cx. 27, Docs. 134 e 138: Descrição geral de todas as Igrejas de 19/8/1767.
[6]- Idem, Ibid, Cx. 35, Doc. 17, Representação de Janeiro de 1781, do Pároco da Amisa Francisco José Azevedo, enviada para Lisboa por Carta de 25/9/1781 (Cx. 37, Doc. 26).
[7]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 76, Doc. 31, Carta nº 197, de 28/10/1796, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[8]- Idem, Ibid, Cx. 133, Doc. 30, Carta nº 443, de 28/7/1810.
[9]- Idem, Ibid, Cx. 76, Doc. 69, Carta de 16/12/1796, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[10]- Idem, Ibid, Cx. 14, Doc. 34, Carta de 8/8/1758, do Administrador Episcopal para o Reino.
[11]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 22, Doc. 49, Folha Eclesiástica do Pagamento do Soldo, de 7/7/1763, que inclui os vigários da Querimba Frei José Carlos e da Amisa, Frei Manuel Tomás.
[12]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 38, Doc. 8, Carta de 24/9/1781.
[13]- Idem, Ibid, Cx. 123, Doc. 4, Petição de 2/5/1808, feita pelo Padre José Xavier Raposo.
[14]- Idem, Ibid, Cx. 159, Doc. 11, Plano do Estado Actual da Prelazia de Moçambique, p. 4v. O capelão do Presídio mantinha o ordenado de 300 panos/ano (p. 5). A Carta Régia de 13/2/1797, fixou o côngrua anual dos Prelados de Moçambique em 3000 cruzados (Cx. 79, Doc. 20, Carta de 27/11/1797, do Cap. Gen. para o Reino).
[15]- VILHENA, Ernesto., De Tete a Quiloa, cit., p. 46.
[16]- CUNHA, Sebastião, Notícias Históricas ..., cit., p. 16. Este Pároco faz a sua enumeração dos existentes no seu tempo.
CAPELA DE SANTO ANTONIO NA ILHA DE M'FUNVO
A ilha de M´funvo situa-se a sul a ilha de Sancar ou Samucar e a norte de ilha de de Quisiva o Quisiwa. Ver Fig II)
Em 1970, quando o autor deste trabalho esteve nesta ilha os seus habitantes não foram capazes de localizar a Capela. Apenas havia, próximo da praia, um nicho com uma imagem de Santo António, que, aliás, havia sido roubada há pouco tempo, por desconhecidos.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA, DE ARIMBA
Construída nas terras firmes, que serviria, especialmente, a família Morais , residente em Bringano ou Beringano,(Ver situação geográfica na Fig.II) povoação onde estava, provavelmente, localizada. Entre 1796 e 1798 ainda estava em funcionamento. Neste período foi nela enterrado um menor[1].
Do "Inventário dos Bens e Alfaias da Igreja de Querimba", de 8/3/1793, consta: um cálice todo lavrado e oirado com a patena e uma pedra d'ara muito pequena, recolhidas para maior segurança, depois da morte de João Morais (Dezembro de 1792). É muito provável que este notável mestre de campo também aí tenha sido sepultado.
Para além desta capela, há notícia da Capela de Santa Ana[2]. Teriam sido abandonadas por serem desnecessárias "aos filhos da terra porque em religião e bons costumes são virtuosos (...) os cafres"[3] .
Desconhece se ainda existem vestígios desta capela e respectivo cemitério, em princípio, construído no seu interior, onde era costume enterrar os defuntos das famílias mais ilustres da área. É provável que os Sakalava tudo tenham destruído e roubado quando em Agosto, de 1808, por lá passaram.
IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, NA ILHA DE QUERIMBA
Mandada construir pelo primeiro senhorio da ilha, Diogo Rodrigues Correia, cerca de 1530[4], foi oferecida aos padres dominicanos. Era a Igreja Matriz e Paroquial, e os seus vigários de "Vara e Forâneos"[5], cabeça de todos os outros templos levantados nas Ilhas.
A primeira descrição que se dispõe sobre esta Igreja paroquial pertenceu a um dos seus párocos, João dos Santos, autor da Etiópia Oriental(1609):
... uma formosa igreja que é dos religiosos de São Domingos, a qual serve de freguesia, assim desta ilha como as demais que estão nesta costa até Cabo Delgado; e todos os moradores dela são obrigados a vir ouvir missa a esta igreja certos domingos e festas do ano e na quaresma a confessar-se e comungar[6].
Esta igreja reparada em 1780[7], estava nesta data "quase comida pelo mar que lhe batia na porta principal"[8], inconveniente que se poderia resolver com uma estacada de paus, a serem cortados pelos escravos dos moradores.
Em 1793, o pároco da Querimba testemunhava a pobreza da sua igreja e respectiva confraria, não dispondo esta de fundos mais do que 1400 cruzados, dos quais 1000 estavam emprestados a juros e 400 nas mãos de um morador que não pagava juros nem devolvia o capital, dando como penhora 2 casas de laca-laca e 4 palmeiras que nada valiam[9].
Também em 1793, do inventário da fábrica da igreja de Nossa Senhora do Rosário constavam, para além de alguns de prata e de cobre, objectos em madeira, entre os quais duas imagens grandes, uma de Santo António e outra de São Domingos. Além destes objectos existiam livros novos e antigos, de registo de testamentos, de baptizados, casamentos e enterros. Ainda faziam parte do inventário desta paróquia, duas negras, Maria e Domingas, velhas, incapazes, "cujo cativeiro é duvidoso"[10], afirmava-se.
No ano 1796 há a indicação de estarem enterrados, nesta Igreja, vários defuntos, em locais diferenciados - junto dos bancos, cruzeiro, coro, debaixo do coro, no altar e em cova - consoante a sua posição social[11].
Nesta paróquia funcionou, durante quase dois séculos, a confraria de Nossa Senhora do Rosário. Os frades dominicanos logo após a sua instalação em Goa instituíram nesta cidade do Oriente, "uma original confraria de cafres de Nossa Senhora do Rosário, como a de São Domingos[12]. Nas suas pregações faziam grandes admoestações ao povo a favor dos escravos pretos para que os deixassem ir servir na dita Irmandade, pedindo-lhes ainda um tratamento humano.
Estas confrarias, depois disseminadas por todo o Oriente (que englobava então também a África), prestaram valioso contributo para o desenvolvimento do culto público cristão e para além do domínio religioso, ajudaram, economicamente, os mais desfavorecidos.
Na ilha de Moçambique foi instituído o Compromisso dos Irmãos da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, com sede no Convento do Patriarca de São Domingos ali erigido[13], que foi treslado, em 1667, passando a constituir o Compromisso da Irmandade da Virgem de Nossa Senhora do Rosário[14], que funcionava na igreja de Querimba.
[1]- A.H.U., Códice 1488, fls. 4v, Receita do Padre Vigário Estalisnau Torres, de 21/5/1796 a 31/8/1798.
[2]- GIRALDES, C. Cardoso - Memórias sobre a Capitania de Moçambique. A.C. Lisboa, 1810, Manuscrito 17, fls. 7v.
[3] - A.H.U., Códice 1321, Carta de 18/8/1764, do Cap. Gen. para o Reino.
[4]- RESENDE, Pedro, Livro ..., cit., p.p. 432 e segts. e BOCARRO, A, O Livro ..., cit., p. 40.
[5]- CUNHA, Sebastião, op. cit, p. 16.
[6]- Etiópia Oriental, Vol. I, p. 273.
[7]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 38, Doc. 8, de 24/9/1781, cit..
[8]- Idem, Ibid, Cx. 40, Doc. 21, Carta nº 20, de 10/9/1782, do Pároco para o Cap. Gen..
[9]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 40, Doc. 21, Carta nº 20, cit., de 20/9/1782. O devedor era Simão Pinto para quem se solicitava a sua prisão até ao pagamento da dívida.
[10]- A.H.U., Códice 1488, fls. 1 e 2, Inventário datado de 8/3/1793.
[11] Idem, Ibid, fls. 5v, Receita do Vigário, cit., de 21/5/1796 a 31/8/1709. Em 1796 foram sepultados, junto aos bancos, o sargento-mor Manuel António Carrilho, reinol, cujo enterramento custou 56:000 e no altar, Diogo Domingos Baptista, capitão-mor e foreiro da ilha de Querimba, por cujo enterramento se pagou 36:000.
[12]- ROCHA, L., As Confrarias ..., cit., p. 33. No Convento de São Domingos, em Lisboa, em 1496, já existia a Confraria do Rosário para pretos, que exercia uma acção corporativista de grande alcance social e cristão. Ver BRÁSIO, A., Os Pretos em Portugal, p.p. 76 e 77. Este autor também nos fornece as outras localidades portuguesas e brasileiras onde foram estabelecidas confrarias do Rosário para brancos e quando possível para pretos, também em irmandade privativa (p.p. 99 e segts.).
[13]- "Compromissos de Moçambique", In Boletim Oficial, 1894, 13ª Série, nº 3, p.p. 177-195. O 1º Compromisso parece datar de 1602 (LAPA, J., Páginas de Pedra ...).
[14]- A.H.U., Códice 1291, com 10 fls.. Livro que foi numerado por José Carrilho. À Nossa Senhora do Rosário protectora dos pretos juntou-se, nos finais do século XIX, o São Benedito Africano, cuja imagem pintada de escuro encontrada, em 1969, no cemitério de Munawa do Ibo(temos foto) e depois guardada na Câmara da vila. No Brasil os escravos fundavam irmandades como as de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, existindo a primeira, em 1552, em Pernambuco, constituída por negros e índios. Sobre este assunto ver MELO, Idalina, "A Civilização das Américas", p.p. 60 e 61.

Fig. III- Primeira página - A:H:U. Códice 1291.
Era composto por 20 capítulos que continham as normas que regulavam a sua constituição e funcionamento: festa de Nossa Senhora do Rosário no 1º Domingo de Outubro; eleição dos 13 confrades da mesa e seus deveres; direitos e deveres dos irmãos da confraria; procissões do 1º Domingo de cada mês; festa do patriarca de São Domingos; missa por alma dos irmãos falecidos; graças e indulgências; e enterramentos dos irmãos e oficiais da Mesa.
A confraria da Querimba destinava-se, especialmente, a cristãos filhos da terra, mestiços e pretos. Podiam admitir-se alguns reinóis, desde que beneméritos, homens bons e bons cristãos.
Em caso algum se tomavam como irmãos pessoas justiciadas, naiques, galinheiros e alabardeiras, preceito, ao que parece, nem sempre respeitado[1].
Em princípios de 1801[2] a confraria elegia nova mesa, assim constituída: António Francisco Fernandes (presidente, na condição de oferecer à conferência 200 cruzados para a festa da padroeira); Pedro Baptista (procurador); Francisco Xavier Baptista (escrivão); e Calisto de Morais, João Baptista Simões, Francisco Baptista Simões, Nicolau de Meneses, Caetano José, Francisco de Morais (irmãos).
Em 1804[3] a organização da festa de Nossa Senhora do Rosário coube a Caetano José Cordeiro e por não haver novos irmãos na ilha de Querimba a mesa mantinha-se como os do ano anterior. A confraria estava a chegar ao fim por causa dos ataques dos Sakalava, que levariam à mudança de muitos dos seus moradores para o Ibo, terras firmes e ilha de Moçambique.
Terá existido pelo menos até 1806 e da sua mesa fizeram parte moradores de várias ilhas e terras firmes, pertencentes às famílias detentoras do poder político-administrativo e económico.
Também a paróquia da Amisa teve a mesma irmandade.
Poucos anos depois seria esta Igreja, barbaramente, atingida pelos Sakalava, provenientes de Madagáscar.
Os primeiros assaltos da 2ª grande invasão dos Sakalava às Ilhas de Querimba, começaram, nos meados de Agosto de 1808, por Changa[4], passando pela Arimba, com numerosa população escrava, Bringano, ilhas de Quisiva e de M'funvo até atingirem, mortalmente, a ilha de Querimba.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi, totalmente, destruída, em 1808, por aqueles invasores marítimos:
... No dia 1º de Setembro desembarcaram na ilha de Querimba, assolando, roubando, matando, aprisionando tudo o que encontravam, assenhorando-se do batel de Manuel Onofre Pantoja, que estava fundeado no porto da mesma ilha, carregado de cauri, com a maior parte do seu fato, ao qual deitaram fogo e avariaram as embarcações que ali estavam. O dito Pantoja, Caetano José Cordeiro e o padre vigário escaparam da fúria destes bárbaros, à sua vista, no escaler do referido Cordeiro, que se transportou pelo passo que há para este Ibo e chegada à minha presença me narraram o sucedido e que o número de embarcações ou lacas era grande[5].
Para além destes enormes prejuízos, ficaram também despojados dos ornamentos, vasos e imagens sagradas, e de toda a prata da Igreja Paroquial Nossa Senhora do Rosário, material religioso que se encontrava num batel[6], que, para os pôr a salvo, os levaria para Fortaleza de São João Baptista do Ibo.
O Governador das Ilhas atribuiu a responsabilidade desta lamentável perda à falta de diligência e cuidado do Pároco, que tivera o tempo suficiente para os guardar em lugar seguro e preocupava-se com as imagens sagradas roubadas, pois, temia pelo "desacato que estes bárbaros farão nelas"[7].
Até 1816 (6 de Dezembro) esta igreja serviu, várias vezes, como base daqueles piratas do mar[8].
Voltou depois a ser restaurada, mas no fim do século XIX viria a ser substituída por uma nova igreja dedicada a São Luís Gonzaga (Fig.VI).
Desta igreja paroquial chegaram aos nossos dias algumas das suas paredes (Fig. IV.), sepulturas, tanto no seu interior, como exterior, entre as quais se destaca a do 1º Governador e Capitão-Mor Caetano Alberto Júdice (Fig.V ).
[1]- Em 1801 Pedro Baptista, que em 1787 fora naique do Santo Ofício (Cx. 85, Doc. 83, Relação dos Moradores, de 23/11/1787, cit.) fazia parte da mesa da confraria.
[2]- Idem, Códice 1488, fls. 17 e 25.
[3]- Idem, Códice 1478, fls. 26, Reunião de 15/8/1803.
[4]- Idem, Ibid, Cx. 124, Doc. 42, Carta de 20/9/1808 e Códice 1478, fls. 208 e segts.. Ver Carta nº 401, de 10/11/1808 (Cx. 125, Doc. 14) e Carta de 4/12/1808, em que o Cap. Gen. comunica a Lisboa os estragos feitos pelos Sakalava (Cx. 125, Doc. 23). Nesta povoação, sita junto a uma lagoa do mesmo nome, a sul da baía de Pemba, queimaram uma barquinha do baneane Gapalgi, que depois de preso, se escapou. Por este tempo também surgiu a falsa notícia do ataque ao Mossuril pela parte de Condúcia, com grande poder de gente e embarcações, que teriam sido completamente destroçadas por 2 navios portugueses.
[5]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Carta nº 401, de 10/11/1808, também no Códice 1478, fls. 210.
[6]- Propriedade de Manuel Onofre Pantoja.
[7]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Carta nº 414, cit., fls. 213 do Códice 1478.
[8]- Para mais informações sobre ao ataques a esta costa norte de Moçambique consular Cap.X, da minha tese de doutoramento: As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado :
Fig.IV. Ruínas da Igreja de N.S. do Rosário. 1970-Crédito: Carlos Bento
Fig. V- Sepultura de Caetano Júdice. 1970-Crédito: Carlos Bento
CAPELA DE SANTO ANTÓNIO, DA ILHA DE QUERIMBA
Esta capela, levantada junto ao mar, a menos de 2 quilómetros da igreja de Nossa Senhora do Rosário, foi mandada construir, em 1593, por Frei João dos Santos. Dela ainda se encontravam, em 1974, algumas paredes de pé, embora em franca ruína[1].(Fig,VI )
[1]- Tanto as ruínas da igreja de Nossa Senhora do Rosário como desta capela encontram-se referenciadas na Carta Corográfica de Palma Velho, citada no Capítulo I.

Fig.VI- Ruínas da Capela de Stº António. 1970-Crédito: Carlos Bento
IGREJA DE SÃO LUIS GONZAGA, NA ILHA DE QUERIMBA
De acordo com informações fornecidas pelo padre Constantino Gerards coube a D. António Barroso restaurar, em 1892, a paróquia da ilha de Querimba, sob o título São Luís Gonzaga.
Construída à custa dos moradores católicos da ilha do Ibo, a sua primeira pedra foi lançada em 16 de Fevereiro de 1893 e, a nova igreja, benzida em 21 de Junho de 1896.
Esta segunda paróquia de Querimba não alcançou os frutos desejados por falta de fiéis. Eis algumas das razões, segundo o Pe Gerards:
“ Em 1900 veio o governador da prelazia fazer a visita pastoral. No registo das visitas pastorais escreveu: “ ... para se ver o estado de desolação a que chegou esta freguesia, basta dizer-se que, sendo este dia domingo, celebrou o pároco missa às 7 horas da manhã e eu às 8, sem que assistissem mais que o sacristão ... . Nesta ilha só há maometanos asiáticos e pretos sem adeptos ... .”
... . O pároco de Querimba escreveu em 1913: ... a meia dúzia(pouco Mais) de bons católocos que há aqui ... “
“ Em 1923 escreveu o pároco do Ibo, encarregado também da paróquia de Querimba: ... hoje não há gente católica em Querimba ... .”[1]
Em 1969, encontrei o edifício da antiga paróquia em mau estado, que, depois, tornei útil, preparando para ser uma escola.(Fig. XI)
[1]- Algumas Datas e Factos Acerca das Ilhas de Querimba... .p. 5 e 6.

Fig. VII- Edifício em 1969 Edifício em 1972
Pesquisa e texto de: Carlos Lopes Bento, antropólogo e prof. universitário.
CAPELA/IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA, DA ILHA DO IBO
Pedro Resende[1] forneceu a indicação da existência, em 1631, de uma igreja e de um frade na ilha do Ibo. Recorde-se que, por vezes, as armadas que iam para a Índia invernavam nesta ilha e que na 1ª década do século XVII, nela permaneceu um vice-rei da Índia, o que justificava a existência de um templo religioso. Após esta data, apenas depois de fundada a vila do Ibo, voltaram a aparecer informações acerca da capela na dita ilha.
Em 1766, o Capitão General informava as autoridades do Reino de que o 1º Governador e Capitão-Mor, Alberto Caetano Júdice, entre as várias obras realizadas, em 1764, construíra uma pequena igreja[2], que, no ano seguinte, na Descrição Geral de todas as Igrejas, assim paroquiais e conventuais, como capelas curadas da capital de Moçambique e suas conquistas, surgia com a denominação de Capela de São João Baptista e a indicação de que havia sido, novamente, fundada no Ibo.
Esta capela funcionava como capela militar[3], servindo de apoio à guarnição militar até à construção da fortaleza de São João Baptista (1789-1794).
Entre 1796 e 1798[4] foram feitos vários enterramentos na capela do Ibo debaixo do coro, junto aos bancos, de acordo com o status social que cada defunto tivera enquanto vivo. Era a afirmação social dos familiares vivos com a ajuda dos seus mortos.
Para acabar com os danos que tal prática acarretava para a saúde pública, a carta régia de 14/1/1801[5] proibia o enterramento de cadáveres em templos e igrejas, logo que para o efeito fossem construídos cemitérios. Em cumprimento desta disposição real mandava-se levantar um cemitério na ilha do Ibo.
O Governador[6] achava a providência de grande utilidade para as Ilhas em virtude dos templos existentes serem pequenos e existirem apenas dois onde se costumava fazer enterramentos. Afim de obviar este inconveniente e cumprir aquela disposição legal, propunha a construção de dois cemitérios, um no Ibo e outro na Querimba, em pedra e cal e não de madeira, material que exigia reparações anuais e permitia a entrada de animais nocturnos. Perguntava, ao mesmo tempo, quem suportaria as despesas com os materiais, que seriam de elevados montantes.
A resposta do Capitão General[7] era negativa ao determinar que os cemitérios deveriam fazer-se de madeira, o mais rapidamente possível e de maneira a evitar a entrada neles de animais. Por se tratar uma obra de interesse e benefício públicos caberia aos moradores contribuir com materiais e mão-de-obra escrava, uma vez que não haver cabimento para despesas extraordinárias.
Solicitava, ainda, aquela autoridade o envio de dados estatísticos anuais sobre o número de católicos que morriam e se enterravam nas igrejas e se havia probabilidades de aumentar o número de cadáveres de modo a poder "infeccionar os ares e causar epidemias, como acontece nas cidades populosas".
Desconhece-se se tais obras foram ou não concretizadas. Mas a construção de um pequeno cemitério, em 1846, junto à igreja do Ibo, dedicada a São João, pode levar a concluir pela negativa.
Em 1816, com o ataque dos Sakalava, em 21 de Outubro, a capela do Ibo ficou reduzida a cinzas[8]. Depois desta data terá sido aumentada, passando a designar-se por igreja de São João Baptista.

Fig. VIII- Igreja de São João Baptista com cemitério anexo
Crédito: Carlos Bento. 1971
Os enterramentos tiveram lugar, primeiro, no interior da capela, depois na igreja e posteriormente naquele pequeno cemitério, ainda existente em 1974. No último quartel do século XIX, mais precisamente em 1889, foi erigido o cemitério de Munaua para cristãos e não cristãos[9] ( Fig. ) e na sua capela foi benzida em 1892 a imagem do Santo Africano Benedito, pintado de preto (Fig. ). Um caso típico de sincretismo religioso. A igreja de São João Baptista, com muitas alterações na traça, com um recheio de grande valor artístico, constituiria, até 1974, um ex-libris da Vila (Fig. )[10].
Também na "capela militar da capital do Ibo" foi, por provisão de 14/3/1782[11], erigida uma Irmandade do Senhor Santíssimo Sacramento, com um fundo de 600 cruzados. O respectivo compromisso composto por 13 capítulos tem a data de 24/8/1781[12]. O corpo da mesa compunha-se de: 1 presidente, 1 padre (capelão militar ou vigário), 1 procurador, 1 escrivão, 1 tesoureiro e 6 irmãos, que serviriam durante um ano com pureza de coração, zelo e piedade cristã, obrigando-se a abolir todo o capricho e intriga particulares.
A clivagem social também se fazia sentir no seio desta Confraria. A presidência e cargos mais importantes eram desempenhados pelos moradores- filhos do Ibo- que detinham mais poder e prestígio na terra (juiz, vereadores, feitor, oficiais)[13], diferenciação social também presente na morte. Os irmãos e irmãs que falecessem tinham direito a ser acompanhadas desde a porta da sua casa até à sepultura, com opas e tocheiros: presidente 10 tocheiros; procurador, escrivão e tesoureiro 6; e irmãos 4. Nas missas a mandar rezar o presidente tinha direito a 10 e os restantes irmãos a 5[14].
Nos primeiros anos de 1970, a Igreja de São João Baptista, tanto interior como exterior, encontrava-se bem conservada.
CAPELA MILITAR DE SÃO JOÃO BAPTISTA, DA ILHA DO IBO
Fica situada no interior da Fortaleza de São João Baptista. Em 1795, foi aí colocada a imagem daquele Santo[15] e, devidamente, ornamentada com: 1 crucifixo; 1 cálice de prata dourada com pé de estanho; 1 colherinha de prata; 1 patena de prata dourada; 1 missal dourado; 1 pedra d'ara; 2 castiçais de latão, pequenos; 1 caldeirinha com o seu isopo de cobre branco; 2 frontais de damasceno branco e encarnado; entre outros[16].

Fig. IX- Capela de São João Baptista
CAPELA DE FAMÍLIA NA ILHA DO IBO
A prosperidade socioeconómica atingida por algumas famílias da vila do Ibo, como resultado do próspero e clandestino comércio, designadamente, de escravos, permitiu, como modo de mostrar o seu elevado status social, a construção de alguns monumentos religiosos singulares, como capelas e cemitérios de família.
Das capelas chegaram até ao terceiro quartel do século XX aa ruínas de uma capela de família, pertença da família Figueiredo, de origem goesa, local onde foram sepultados alguns dos seus membros.

Fig. X- Capela de família nos subúrbios da Vila
Dos cemitérios de família, em maior número, darei conta mais adiante.
CAPELA DE SÃO MIGUEL, NA ILHA DE MATEMO
Desconhece-se a data da sua fundação, mas em 1796 ainda estava funcional pois nela foi enterrado "um crioulo de Diogo Miguel de Meneses"
[17]. Serviria, especialmente, a família Meneses, a mais prestigiada família da Matemo, de descendência indo-portuguesa.
Nas caminhadas que fez através da ilha, o autor deste trabalho, não viu nem ouviu qualquer referência à localização desta capela. Possivelmente estaria instalada no seu centro norte onde as condições de solos permitem o povoamento. Apenas encontrou, junto da ponta NE, ruínas de alvenaria, que os moradores diziam ser de uma antiga mesquita. Apenas futuras investigações poderão trazer novos dados para esclarecer o assunto.

Fig. XI- Ruínas de capela ou mesquita?
Crédito: Carlos Bento. 1972
CAPELA DE SÃO DOMINGOS, NA ILHA DE MACALOÉ
Segundo informação prestada pelo Padre Sebastião da Cunha que informa ter nela existido a capela de São Domingos, nada mais existe que permita conhecer em concreto a sua fundação e desactivação.
Em 1634, António Bocarro indicava pertencer a Mateus Delgado, que fez nela uma casa assobradada que servia de forte.
As últimas indicações sobre o povoamento da ilha são de 1744 e mesmo nesta data o número de habitantes era insignificante, pois, o foreiro e seus colonos viviam, nas terras firmes, em Pangane e Ongué, mais propícias à actividade agrícola e ao comércio.
O incremento das trocas comerciais, a partir do 2º quartel do século XVIII, a ilha deixaria, de todo, de ser funcional para a actividade comercial e de perder toda a importância como baluarte defensivo e passaria apenas a servir de refúgio aos comerciantes franceses e suaílis(mouros da costa).
É de admitir, pois, que a Capela de São Domingos fosse construída primeiro na ilha e depois transferida para as terras firmes, provavelmente, para a povoação de Pangane, local da nova residência dos foreiros do prazo que manteve sempre, enquanto existiu, a denominação de "Macaloé e sua morimas".
IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, DA ILHA DE AMISA
A sua instalação na ilha de Amisa deve ter tido lugar logo após a chegada dos frades dominicanos às Ilhas. Foi paróquia até 1815, data em que anexada à paróquia da Querimba.
O seu estado de conservação era, em 1753
[18], muito precário, afirmando-se estar descoberta e paredes arruinadas.
Em 1766, entre as necessidades consideradas prementes, estavam o terrado da igreja e a construção de uma cisterna junto dela[19] para fornecer água aos militares do destacamento, sempre muito carente dela e também passando fome por não terem um coxe para poderem passar às terras firmes e aí comprarem mantimentos. Até àquele ano a vida decorria sem grandes sobressaltos na Amisa e sua circunscrição religiosa:
Paroquiavam nesta freguesia Religiosos da Sagrada Ordem dos Pregadores e vendo as contínuas desordens e vários absolutos que experimentavam daquele povo mais cafreal, ainda quando habitavam homens de chapéu, desistiram da dita e entraram os clérigos seculares e só foram dois, que pouco tempo residiram nela. Nesta ainda habitavam seguros na ilha de Amisa, a igreja e as casas paroquiais eram de pedra e cal, persistia nela o comandante e um destacamento militar e todo o povo vivia obediente e sujeito aos seus superiores[20].
No entanto, um acontecimento à primeira vista banal, verificado, nos princípios daquele ano, viria a alterar, profundamente, a vida religiosa dos cristãos da freguesia da Amisa.
Depois de ter naufragado na ilha Longa, em 7/3/1766 e de dar à costa, uma pala de Damão foi saqueada pelos moradores da Amisa. Para castigar esta rebeldia e recuperar o material roubado foi organizada, a partir do Ibo, uma expedição militar, comandada pelo mestre de campo João de Morais, que provocou a fuga dos moradores, que se dispersaram pelo mato, ficando assim arruinados e a terra devoluta.
Face a este evento agregava-se a paróquia da Amisa, à capelania do Ibo, passando o seu pároco a residir na capital dos territórios de Cabo Delgado, pelo que ficou a ilha deserta, a igreja e as casas destruídas[21] e pelo decurso do tempo, tudo veio abaixo, restando as paredes em parte.
Para ajudar a cristandade moradora na parte continental ou terras firmes transferiu-se o templo para as terras firmes. Uma rápida solução, predominantemente, prática, surgiria:
Fabricou-se na terra firme uma pequena barraca de 5 braças de comprido por 2,5 de largo, de madeira, coberta de palha, sem sacristia e cómodo algum e nela está colocada a Imagem de Nossa Senhora do Rosário. Toda comida de muxém no único altar feito de mataca e este também inclinado para uma parte, sem pias baptismal e de água benta. Os ornamentos todos velhos e indecentes, não há razões nem preparos para administrar o sacramento da eucaristia; sem cipio e o pequeno que há está quebrado, não podendo os moradores pela sua pobreza pôr cobro a tudo isto. Não há rendimento da fábrica por que quase todos os que falecem serem enterrados nos cemitérios a este fim erigidos pela dificultosa condução para a Igreja pela distância das suas moradias[22].
Procuravam, em 1781, ainda subterfúgios para enterrarem os defuntos na Igreja[23].
Desta foi roubada, em 1796, uma imagem grande de Nossa Senhora do Rosário supõe-se, por uma tripulação de mouros da costa, que, durante o dia, haviam pedido para entrar na igreja, para conhecerem os seus Santos.
Aconselhava-se, então, para evitar casos semelhantes e sempre que as paróquias não tivessem vigários, a utilização de altares portáteis para assim "não ficarem as imagens sagradas expostas entre bárbaros numa Igreja que, segundo o Capitão José Amado da Cunha viu, é uma intemba com chave de pau ..."[24].
De Moçambique recomendava-se que fossem feitas todas as possíveis diligências para descobrir e segurar o delinquente causador do malefício, ao mesmo tempo que se informava que o vigário da vara iria tomar as providências necessárias para resolver o problema do mau estado da Igreja[25].
Nos princípios de 1797 a imagem ainda andava por mãos alheias, mas algumas esperanças ainda pairavam na mente do Governador: esperava que sendo os roubadores de Quiloa ou Zanzibar a imagem seria restituída[26].
Desconhece-se o resultado final deste caso. Mas tudo leva a crer que jamais tenha sido devolvida a imagem desaparecida. Tempos difíceis que se adivinhavam exigiam outras preocupações: as invasões dos Sakalava, no início do século XIX, que iriam prolongar-se até 1817.
Em 1818, entre as 16 paróquias e 10 coadjutorias da Prelazia de Moçambique, contava-se as paróquias de Querimba e da Amisa e respectivas coadjutorias[27].
CAPELA DE SANTO ANTÓNIO, DE MULÚRI
Na povoação de Mulúri, que fica situada nas terras firmes, fronteiriças à ilha de Amisa, passou a estar sediado o pelotão destacado na parte mais norte do território, antes instalado na própria ilha.
É de admitir que a citada construção provisória da Igreja se situasse em local próximo da capela de Santo António, já, então, existente e destinada a servir os cristãos moradores nas terras firmes.
Estas e outras dúvidas levantadas, anteriormente, só poderão ser esclarecidas em futuras investigações.
Nas terras firmes não foram erigidos mais do que dois templos e mesmo estes de pequena dimensão: um a Sul, em Arimba, outro a Norte, em Mulúri, aliás, em terras muito povoadas, agricolamente ricas e próximas de rotas comerciais. Enquanto em ilhas foram edificadas 3 igrejas e 5 capelas. Era nelas que se concentrava a população cristã de todos os estratos sociais, locais ideais para se sobreviver com escassos recursos financeiros e humanos e diminutas forças militares.
Desconhece se ainda existem vestígios desta capela e respectivo cemitério, em princípio no seu interior onde era costume enterrar os defuntos das famílias mais ilustres da área.
IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, EM MOCÍMBOA DA PRAIA(SEC. XIX)
A geografia dos templos religiosos, que serviriam de lugares de culto aos cristãos das Ilhas, vem mais uma vez confirmar a importância geo-estratégica das diversas ilhas do arquipélago das Quirimbas nos processos de colonização e de aculturação.
Para além destes templos cristãos existiam na Ilha do Ibo várias mesquitas que serviam os moradores que professavam a religião islâmica, predominante, a partir do primeiro quartel do século XIX, devido aos ataques dos Sakalava e ao abandono das Ilhas, por parte de muitos católicos.
À descrição anterior, das principais igrejas e capelas construídas nas Ilhas de Quirimba e terras adjacentes, segue-se a inventariação dos cemitérios dos vários credos religiosos, que, por falta de informação, fica limitada à ilha do Ibo.
[1]- Livro do Estado da Índia ..., cit., p. 440.
[2]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 27, Docs. 134 e 138, Carta de 19/8/1767, cit..
[3]- Idem, Ibid, Cx. 57, Doc. 31, Carta de 14/4/1789, do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas.
[4]- Idem, Códice 1488, fls. 5v e 6, Receita do Vigário, cit..
[5]- Idem, Doc. Av. Moç., Cx. 92, Doc. 81 e Códice 1478, fls. 175v a 176v, Carta de 23/2/1802, do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas.
[6]- Idem, Códice 1478, fls. 176v, Carta nº 299, de 23/3/1802, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[7]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 93, Doc. 46 e Códice 1478, fls. 178, Carta de 21/5/1802.
[8]- Idem, Códice 1478, fls. 248, Carta de 4/12/1816, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. Em algumas datas ...,o Padre Gerards, p. 3, refere ter a Igreja ter sofrido, no século XIX, muitas mudanças e reparações.
[9]- Depois dos meados do século XIX, como prova de afirmação social, surgiam na ilha uma capela (Fig.59)e vários cemitérios de família, que ainda existiam, embora inactivos, em 1974. Na dita capela, apenas com as paredes e sem telhado, encontravam-se algumas sepulturas dos seus proprietários e familiares. Dizia o povo que com elas haviam sido sepultados escravos jovens. Na ilha do Ibo também se encontravam cemitérios de outros credos religiosos (Figs.61,62 e 63), nomeadamente um crematório. Encontravam-se também algumas campas de chineses, que no século passado, vieram apanhar holutúrias (makojojo) que depois de preparadas exportavam para o seu País.
[10]- No interior desta Igreja encontram-se mais de uma dezena de epitáfios, com datas compreendidas entre 1850 e 1897.
[11]- A.H.U., Códice 1486, fls. 86, Carta de 20/5/1782.
[12]- Idem, Ibid, fls. 73. As actas estão registadas neste Códice entre 20/5/1782 e 12/11/1848.
[13]- Entre os tesoureiros indicam-se Nicolau Luís da Graça, Manuel António Carrilho, António Frazão, António Fernandes (Códice 1487, fls. 6, 7, 8 e 11). O Inventário dos ornamentos e objectos da Confraria encontramo-lo no Códice 1488, fls. 99v, datado de 10/2/1846.
[14]- Em 1893 não existia no Ibo qualquer Confraria religiosa, estando as despesas do culto a cargo da Câmara Municipal (SOUSA, Rosário, op. cit., p. 705).
[15]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 72, Doc. 91, Carta de 20/12/1795, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. Segundo CUNHA, Sebastião, op. cit., p. 21, esta capela foi benzida em 23/11/1795 e ficou subordinada à Igreja de Querimba.
[16]- Idem, Códice 1478, fls. 65 e 65v, Carta de 24/12/1795, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[17]- A.H.U., Códice 1478, fls. 4-6, Relação de Receitas de 1796 a 1798, cit..
[18]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 9, Doc. 3, Carta de 20/12/1753, cit..
[19]- Idem, Ibid, Cx. 26, Doc. 95, Carta de 26/6/1766, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen., mandada de Bringano, residência do mestre de campo João de Morais.
[20]- Idem, Ibid, Cx. 35, Doc. 17, Representação de Janeiro de 1781, do vigário da Amisa Padre Francisco José de Azevedo e Carta de 25/9/1781 (Cx. 37, Doc. 26), do Governador Eclesiástico de Moçambique para o Reino.
[21]- Palma Velho na sua Carta Corográfica localiza ruínas e um poço na ponta ocidental da ilha.
[22]- Representação, cit., fls. 1v. Em 1811 o Cap. Gen. informava o Reino (Cx. 135, Doc. 30, Carta de 16/1) que algumas Igrejas de Moçambique se achavam indecentíssimas, cobertas de palha e indignas de se celebrar a Missa.
[23]- Idem, Ibid, Cx. 38, Doc. 8, Carta de 24/9/1781, cit..
[24]- Idem, Ibid, Cx. 75, Doc. 48, Carta nº 178, de 25/9/1796, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. Do Capitão referido falou-se ao abordar-se a Cartografia.
[25]- Idem, Ibid, Cx. 76, Doc. 61, Carta de 7/12/1796, do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas.
[26]- Idem, Ibid, Cx. 77, Doc. 20, Carta nº 206, de 19/1/1797, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
[27]- Idem, Ibid, Cx. 75, Doc. 48, Carta de 13/9/1818, cit..