4/01/09

Buscando no tempo, lá pelo Douro: Manuel Maria de Magalhães - O Primeiro Comandante dos Bombeiros de Peso da Régua.

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Em atenção aos "vareiros" que nos lêm e visitam por esse mundo virtual afora, alguns post's irei trazendo de um outro blogue ("Escritos do Douro") onde se fala do Douro em Portugal, da cidade de Peso da Régua, de sua história e cultura, de personagens que marcam e dão exemplo e de outras coisas mais que não só da "vinha e do vinho do Porto", de Pemba e Moçambique...

Manuel Maria de Magalhães filho de Aires Maria de Magalhães e de Virgínia do Carmo Pereira, nasceu em 21 de Março de 1845, na freguesia de Santa Maria, em Bragança, e faleceu com apenas 47 anos de idade, em 10 de Outubro de 1892, pelas 19.30 horas, em sua casa, na Rua Serpa Pinto, em Peso da Régua, estando o seu corpo sepultado em jazigo de família, no cemitério municipal.

Exerceu as funções de escrivão de direito no Tribunal da Comarca de Peso da Régua. Mas, destacou-se no meio reguense por ter constituído um grupo de cidadão que pretendia constituir no concelho uma organizada Companhia de Bombeiros, com o objectivo de dar melhor utilização à bomba para incêndios, adquirida em 1873, pela Câmara Municipal.

Dando realização a essa necessidade de a Câmara Municipal ter na sociedade civil um grupo organizado de bombeiros, que começavam a aparecer e a organizar-se por todo o país, liderou uma “Comissão Instaladora”, constituída por mais 25 pessoas, que discutiram e aprovaram em Assembleia-geral de 25 de Junho de 1880, os primeiros estatutos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Régua, aprovados por Alvará de 12 de Agosto de 1880 do Governo Civil de Vila Real.

Manuel Maria Magalhães tornou-se o primeiro comandante do primeiro Corpo de Bombeiros existente em Peso da Régua.

Por sua iniciativa e influência, a grande reguense D. Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida por Ferreirinha (1811-1896), uma das personalidades mais marcantes da história do Douro, foi a primeira a assinar o livro destinado à inscrição sócios-contribuintes da Associação.

Manuel Maria de Magalhães, como Comandante da Companhia de Bombeiros, como ao tempo se dizia, iniciou essas funções em 28 de Novembro 1880, data em que a Associação realizou, na casa da extinta Associação Comercial, então na Rua da Boa Vista, os festejos da sua inauguração, cessando-as em Outubro de 1892 (e não em 1904 como vinha a constar), data em que faleceu.

Para o substituir no Comando do Corpo de Bombeiros, os sócios activos elegeram em Assembleia-geral Gaspar Henriques da Silva Monteiro (sócio activo fundador) que, por desentendimentos com os demais sócios fundadores, veio a renunciar ao esse cargo, que a Direcção aceitou na sessão extraordinária realizada em 24 de Novembro de 1892.

Após novas eleições para a escolha do comandante, foi escolhido, desta vez, José Afonso de Oliveira Soares (1863-1939), que havia sido aceite, alguns anos antes, como sócio activo, iniciando essas funções em 3 de Fevereiro de 1893.

Da nossa breve pesquisa não conseguimos recolher mais dados biográficos de Manuel Maria de Magalhães, mesmo tendo em atenção o contributo dado pelo seu bisneto, o nosso amigo Noel de Magalhães, Crachá de Ouro da LBP, que foi durante muitos anos director dedicado da Associação.

Mas, encontramos a acta da Sessão Extraordinária de 10 de Outubro de 1892, realizada precisamente no dia da sua morte. A Direcção reunida, com o seu presidente José Joaquim Pereira dos Santos Soares e restantes directores, Padre Manuel Lacerda Oliveira Borges, Camilo Guedes Castelo Branco, Francisco Ferreira Ribeiro e o 2º Comandante Joaquim de Sousa Pinto, fez nessa noite uma descrição da sua reconhecida grandeza e dos seus feitos, manifestando um sentido de profundo pesar pela sua perda para todos eles e, em especial, para a Associação, que ajudara a fundar e, em último, tendo aprovado alguns actos de carácter público para assinalar com dignidade a sua cerimónia fúnebre.

Reflectindo essa extraordinária acta o genuíno pensamento e os verdadeiros sentimentos dos seus amigos não resistimos em aqui transcreve-la na íntegra:

“Aos dez dias do mês de Outubro de mil oitocentos e noventa e dois, reunida na sala de sessões toda a direcção, substituindo o primeiro comandante o segundo, foi dito pelo presidente que se atrevera a fazer reunião a esta hora, 10 da noite, visto a urgência do caso a tratar. Acabava de lhe ser comunicado o falecimento do mais representante (seja dito sem ofensa para ninguém) sócio desta Associação o primeiro Comandante Manuel Maria de Magalhães.

Com este perda sofreu esta Associação a perda do sócio, à qual devia a sua vida, pois que ninguém desconhecia que fora ao prestigio de Magalhães que esta Associação se fundara e, não só isso, vingara vencer dificuldades, mercê da sua vontade e dos seus esforços.

Cada um dos sócios perdera um amigo, e esta colectividade um chefe que fora um modelo de louvar. Sem expressão com que pudesse dizer muito que a sua alma sentia, propunha que fosse dado conhecimento a todas as associações do país do falecimento do nosso; que fosse lançado em acta um voto de profundo sentimento pela perda sofrida; que se fechasse a Associação por um prazo de oito dias, em sinal de luto; que fosse deposta uma coroa no (….) do falecido, em nome desta Associação; que fossem feitas as despesas do enterramento do mesmo, atentas as circunstâncias em que a família ficava, sendo desnecessário expô-las por serem do conhecimento de todos; e por último que fosse representado por esta Associação a todas as Associações congéneres do país a fim de ser pedido o lugar de escrivão de direito que exercera o finado nesta comarca para o seu filho Alfredo de Magalhães, prestando assim uma última homenagem ao homem que deixe vinculado o seu a uma das instituições mais significativas desta vila.

Não punha à discussão esta proposta: parecia-lhe nem discussão tinha. Foi aprovada por unanimidade. O 2º Comandante pediu para que ficasse consignado nesta acta o seu profundo pesar e o da colectividade que comandava.

O presidente ficou encarregado de fazer a representação a S. Majestade telegraficamente. Não havendo mais a tratar foi encerrada a sessão”.

De acordo com mencionada deliberação verificamos que vieram a ser pagas pela Associação as despesas do “enterro”do Comandante Manuel Maria de Magalhães, que constituíram uma despesa extraordinária, no valor de 75:250 réis, o que esta bem comprovado no magnifico “Relatório de Contas”, apresentado em 21 de Dezembro de 1892, pela Direcção presidida por Camilo Guedes Castelo Branco, onde consta um "voto de profundíssimo sentimento pelo seu óbito”.

Até a presente data foram, pelo menos, consagradas duas singelas homenagens em sua memória. A primeira, aconteceu em 1905, com a realização do 25º aniversário da Associação, sendo colocada uma lápide no seu jazigo, como uma “saudosa lembrança” do Corpo de Bombeiro. A outra foi realizada, em 2006, por ocasião das comemorações do 126º aniversário, ao “baptizar- se” com o seu nome, um moderno veículo de combate a fogos urbanos, adquirido nesse ano.

Em 2005, a actual Direcção da Associação, entendendo que ele continua a ser o principal rosto e o mais importante dos seus fundadores, representando toda a grandeza que ela hoje possui, escolheu uma foto sua, a única que dele conhecemos, mas muito expressiva, para figurar na capa do livro “AHVB de Peso da Régua-125 anos da sua História”, a assinalar os momentos mais significativos da vida da Associação, que deve as suas “origens” ao seu primeiro Comandante Manuel Maria de Magalhães.

Pode dizer-se que este sentir foi logo manifestado, após a sua morte, pelos outros sócios fundadores da Associação ao reconhecerem “que fora ao prestígio de Magalhães que esta Associação se fundara e, não só isso, vingara vencer dificuldades, mercê da sua vontade e dos seus esforços”.
-Peso da Régua, Março de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição Virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!

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