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5/14/10

De Porto Amélia a Pemba: Família Andrade Paes

Já alguma vez arrancou uma planta útil da terra? Não o faça. Eu sei o que sente uma planta arrancada sem culpa do seu chão. Glória de Sant'Anna - poetisa do mar azul de Pemba, Amaranto.

GLÓRIA DE SANT'ANNA - O silêncio intimo das coisas. No Moçambique que precedeu a independência, a qual teve lugar em 25 de Junho de 1975, muita coisa aconteceu, como não é sabido de toda a gente. Na realidade, não é sabido de quase ninguém, exceto de uns poucos (e não todos) que lá viveram. Muito se tem escrito, sobretudo no pelouro em que impera o "discurso político", acerca do que foi ou não foi o chamado período colonial português. Seja dito de passagem que mais se tem falado do que acertado. É com lindos sentimentos que se faz má literatura, disse-o um dia Gide, irritando Claudel, e é também com angélicas intenções que se trai, frequentemente, os mandatos da história. Não deixa sobretudo de ser curiosa a fácil boa consciência de quem, no chamado Portugal continental, bem mais se aproveitou (e prosperou) com a exploração colonial do que tantos que pelo ultramar tristemente se alienaram, pobre e honradamente viveram e, para o fim, alucinadamente se desintegraram. De gente séria, pobre e perplexa ( e não só da outra), está a história de Moçambique também cheia, como não é do conhecimento confortável de algumas consciências bastante poluídas, que depois facilmente se reconciliaram consigo próprias, por vias mais ou menos expeditas...
Com a publicação, em 1961, em Moçambique, do livro de poemas "Livro de Água", laureado com o premio Camilo Pessanha, confirmava-se, para alguns, e revelava-se, para muitos outros, um dos nomes mais importantes da poesia portuguesa, em Moçambique, e um dos poetas mais notáveis, em língua portuguesa, dos últimos vinte e cinco anos: Glória de Sant'Anna.
Para o leitor da antiga "metrópole", um livro em língua portuguesa, publicado em Moçambique, Angola ou também em Cabo Verde, era, por assim dizer, um livro "perdido". Os nomes de Rui Knopfli, Sebastião Alba, Glória de Sant'Anna, Lourenço de Carvalho e, até certo ponto, mesmo o de João Pedro Grabato Dias, entre outros, nada ou quase nada significavam para o leitor confinado, como diria Jorge de Sena, entre o Chiado e a Rua Ferreira Borges... Não se sabia muito bem quem eram, o que faziam, o que pensavam... E o fato de estarem a viver "lá" era já, em principio, um motivo de apreensão. ...
Glória de Sant'Anna foi, para Moçambique, um produto de importação. Nascida em Lisboa, em 26 de maio de 1925, concluiu o curso complementar de Letras no Colégio de Odivelas, casou em 1949 e, dois anos depois, partiu para aquela colônia portuguesa onde fixou residência, em Nampula. Em 1953 mudou-se, com sua família, para Porto Amélia (hoje Pemba), onde permaneceu, frente à vasta baía, quase até ao regresso definitivo a Portugal, em Dezembro de 1974 (os dois últimos anos passou-os a poetisa em Vila Pery)... O "seu chão" fora Pemba, o mar, a água, o "vento de prata/manso, manso". O "mar calmo e estranho" tornara-se a presença fraterna, terapêutica, ameaçadora, tranquila, lisa, ominosa, às vezes trágica-densa, sempre vigilante. E os momentos passados à sua beira exprimiam a dignidade de momentos "translúcidos e antigos".
Arrancada deste chão onde se encontrava "inteira", o exílio em que, ironicamente, se traduziu o regresso à pátria teve consequências traumáticas. ... Isto é, durante cerca de quatro anos, nada produziu.
Em Portugal, de Norte para Sul e do Sul para Norte, entre Ovar e o Algarve, tentando reencontrar o rumo que não havia (o mar, que é bom "porque é concreto", ficara para trás), Glória de Sant'Anna foi sobrevivendo ao rés de um desespero nem sempre inteiramente dominado. ... Durante vários anos arredada do "seu" mar, que era em Pemba, e da "sua" escrita, que dele se alimentara, Glória de Sant'Anna fixou-se finalmente em Ovar: - "Atualmente, na minha condição de aposentada, reparto o tempo pela casa e pela família e ajudo o meu marido num gabinete de arquitectura e obras, que abriu perto daqui".
A obra de Glória de Sant'Anna, na sua concentração e densidade, na sua liquidez secreta e cheia de pudor, na sua misteriosa claridade, na sua "mortal" e dominada angústia, consta essencialmente de sete livros publicados, seis de poesia (Distância, 1951; Música Ausente, 1954; Livro de Água, 1961; Poemas do Tempo Agreste, 1964; Um Denso Azul Silêncio, 1965 e Desde que o Mundo e 32 poemas de Intervalo, 1972) e um de crônicas (...Do Tempo Inútil, 1975). Além destes o volume agora editado (1984) inclui 4 livros inéditos: A Escuna Angra (1966-68); Cancioneiro Incompleto (temas de guerra em Moçambique, 1961-71); Gritoacanto (1970-74 e Cantares de Interpretação (1968-73). O resto é trabalho disperso por revistas e jornais: Diário Popular, Guardian (Lourenço Marques), Itinerário (L. M.) Diário de Moçambique (Beira) Noticias (L.M.), Tribuna (L.M.), Sul (Brasil) e Caliban (L.M.).
Glória de Sant'Anna tornou-se quase desde o seu "aparecimento" discreto, uma das vozes mais geralmente reverenciadas, no panorama literário de Moçambique. Mas aquilo a que poderíamos, sem exagero, chamar a sua "glória", nada teve de ruidoso. A autora do Livro de Água foi sempre um personagem de um pudor e "retiro" exemplares, na feira intelectual que, em Moçambique, como em todo o lado, tinha os seus profissionais da promoção e da acrobacia. "Serei tão secreta/como o tecido da água" afirmará ela, num dos seus poemas. De fato, toda a sua obra, de um extremo ao outro, é um alongado programa de homenagem à nobreza do "silêncio" e do "falar pouco"...
... Dizia um grande escritor deste século que sofria por causa dos homens a quem se não dá o lugar que merecem. E acrescentava haver nas letras francesas de hoje alguns exemplos dessa injustiça, por omissão. Há nas letras portuguesas de hoje também alguns exemplos disso. Glória de Sant'Anna é um deles, mas não é caso único. Entre os escritores que a ressaca da descolonização trouxe até estas paragens, há uma boa meia dúzia a pedir que os publiquem, os estudem e os divulguem. Constitui para mim uma honra e um privilégio esta tentativa de procurar a autora dos Poemas do Tempo Agreste "completa dentro desta pura água", para a dar a conhecer a um público distraído, mas eventualmente capaz de lhe reconhecer a estatura. Honra idêntica me daria poder fazê-lo por outros. O silêncio que sobre eles pesa, um silêncio morto, não é por certo o fecundo e "denso azul silêncio" que irriga e impregna o claro e enigmático discurso poético de Glória de Sant'Anna.
- EUGÉNIO LISBOA - Londres, Dezembro 1983/Janeiro 1984 - transcrito do Livro Amaranto.

GLÓRIA DE SANT'ANNA - uma poética de mar e silêncio! O silêncio funda um outro discurso, que não o comum; entretanto, é linguagem de grande teor significativo (STEINER, 1988, p. 73). Mar, silêncio e solidão atravessam a obra poética de Glória de Sant'Anna, cuja linguagem flui numa liquidez profunda, articulada por uma semântica aquática e abissal, que busca apreender os mistérios da alma humana. Por ter nascido em Lisboa e por ser sua poesia de cunho predominantemente universal, versando sobre temas existenciais, a poesia de Glória de Sant'Anna, durante algum tempo, não foi considerada como pertencente ao patrimônio literário moçambicano, embora grande parte de seus poemas tenha sido produzida durante os vinte e três anos vividos por ela em Moçambique. Consideramos esse critério bastante discutível, pois apenas leva em consideração a pátria de nascimento da autora, ignorando os pactos afetivos de identificação tecidos durante sua longa vivência em terras africanas.
Em 1951, recém-casada, Glória mudou-se para Nampula, cidade moçambicana onde viveu até 1953, ocasião em que se transferiu para Porto Amélia, hoje Pemba, outra cidade do litoral moçambicano.
Seus primeiros livros foram publicados nessa época: Distância (1951) e Música Ausente (1954). Nessas obras, é clara a desterritorialização do sujeito poético, cuja face, sobre o azul vogando (SANT'ANNA, 1988, p.47) se revela perdida, refletindo a imagem da própria identidade fraturada que não se reconhecia ainda nas paisagens africanas. Com o coração inteiro/no fundo do oceano (op. cit., p.35 ), o eu-poético tem consciência de seu naufrágio interior. Mergulha, então, nas marítimas águas do exílio, e, através de uma linguagem poética reflexiva, procura alguns pontos de ancoragem com as fronteiras diluídas da pátria distante.
Nos dois primeiros livros de Glória, domina uma semântica de vaguidão. As reminiscências da voz lírica se encontram esmaecidas, sem nenhum referencial, a não ser o oceano de prata que se esvai em longínquos horizontes e se configura, ainda, como um território vazio de memórias, conforme denunciam os versos do poema Música Ausente: Na minha lembrança batem águas de vidro/de um mar sem sentido.(op. cit., p.53).
Nas composições poéticas dessa fase, amargura, degredo e solidão aprisionam o sujeito lírico, que, sem uma fisionomia definida, se fecha em sua interioridade, à procura de elos emotivos capazes de equilibrarem sua subjetividade cindida entre duas pátrias.
É, pela contemplação do mar de Pemba e pelo exercício da poesia, que consegue alento para ultrapassar o desenraizamento provocado pela saída da terra natal para viver em terras alheias.
À medida que se contempla existencialmente no espelho das marítimas águas, o sujeito poético vai se encontrando e, naturalmente, começa a incluir em seus versos novas paisagens e pessoas. Do âmago das palavras emanam, então, emoções fraternas em relação ao povo moçambicano: Que importa seres meu irmão noutro país? (op.cit., p.56) indaga-se o sujeito lírico, com o coração já se abrindo aos novos horizontes.
Cartografias geográficas, culturais e humanas de Moçambique vão, aos poucos, integrando o imaginário literário da poesia de Glória de Sant'Anna, que, lentamente, passa a captar os ritmos e batuques africanos (Poema Batuque, op. cit. 63), como também as danças das negras à beira-mar:

Negrinha faceira,
dentro da água cálida,
quem olhará
tua graça?

Ou quem verá teu riso
esparso
entre uma onda translúcida
e um sargaço?

(...)
Os teus pés estão sobre os búzios claros
e vazios,
e há música e sol
em teus ouvidos.

Mas quem passa, deixando pegadas na areia,
não olha para ti, negrinha faceira.
(SANT'ANNA, 1988, p.62 )

Afirmando-se por um ethos existencial e humano, a poética de Glória, com imensa sensibilidade e delicadeza de sentimentos, também critica os preconceitos raciais presentes em Moçambique; só que o faz de forma suave, velada e sutil.
Contemporâneos da chamada poesia da moçambicanidade, seus poemas de Música Ausente (1954) e do Livro de Água (publicado em 1961, mas com poemas escritos na década de 50), embora não se utilizem do estilo veemente com que, por exemplo, Noêmia de Souza e José Craveirinha celebraram, nos anos 50, os valores autenticamente moçambicanos, também cantam as belezas africanas :

(Do fundo do tempo a negra se curva
sobre a inquieta água
e sobre seu cesto redondo
de palha entrançada.

Por dentro da tarde a negra se curva
no horizonte fechado,
o seu gesto é ancestral
e cansado).
(SANT'ANNA, 1988, p. 63)

Laureada com o prêmio Camilo Pessanha, em 1961, por seu Livro de Água, Glória de Sant'Anna tornou-se reconhecida literariamente.
Continuou a escrever nos anos 60 e 70, e sua obra se manteve fiel à linha existencial por que optou desde o início de sua trajetória poética. Embora acompanhasse as mudanças sociais por que passava a sociedade moçambicana, a poesia de Glória, nos anos de guerra a que ela chamou de 'tempos agrestes', não enveredou pelo ethos militante e revolucionário que dominou o panorama literário de Moçambique nesse período. Apesar de muitos de seus poemas terem denunciado os malefícios dessa época de lutas e violências, sua poética fez a opção pelo silêncio e pela metáfora, alinhando-se, por isso, ao lado dos poetas do Grupo Caliban, como Rui Knopfli, Sebastião Alba, entre outros, que, para driblarem a censura e repressão, enveredaram por caminhos poéticos universalistas e existenciais, sem, contudo, deixarem de problematizar as questões sociais.
O trabalho poético é às vezes acusado de ignorar ou suspender a praxis. Na verdade, é uma suspensão momentânea e, bem pesadas as coisas, uma suspensão aparente. Projetando na consciência do leitor imagens do mundo e do homem muito mais vivas e reais do que as forjadas pelas ideologias, o poema acende o desejo de uma outra existência, mais livre e mais bela(...), pela qual vale a pena lutar . (BOSI, 1983, p.192).
Em tempos desumanos, de brutalidade e jugo totalitário, há poetas que ultrapassam os ângulos limitados de políticas panfletárias, não tomando partido direto e radical, embora criticando as arbitrariedades do poder. É o caso de Glória de Sant'Anna e dos poetas de Caliban, que captaram a angústia das possíveis e cruéis injustiças, denunciando o sem sentido da força e ressaltando a importância do existir humano. O silêncio, nos versos desses poetas, fala, expressa a recusa do apenas circunstancial e político. Penetra os espaços abissais da própria poesia, buscando a expressão do puro, do indelével, dos sentimentos mais recônditos da alma humana universalmente concebida. Essa poesia foi, nos tempos de combate, considerada por alguns mais sectários como reacionária. Hoje, entretanto, não mais é vista assim, pois muitos críticos literários contemporâneos sabem que a saudade de tempos que parecem mais humanos nunca é reacionária.
(...) Reacionária é a justificação do mal em qualquer tempo.
Reacionário é o olhar cúmplice da opressão. Mas o que move os sentimentos e aquece o gesto ritual é, sempre, um valor: a comunhão com a natureza, com os homens,(...) com a totalidade. (BOSI, 1983, p.153)
Os poetas de Caliban denunciaram as desumanidades da guerra e mostraram a necessidade de recuperar valores existenciais mais profundos. Glória de Sant'Anna, em muitos de seus poemas escritos de 1964-1974, criticou o sem sentido da guerra que, para ela, igualou os soldados revolucionários e os cipaios (SANT'ANNA, Amaranto, p.164, p. 176). Comoveu-se com as mortes, chorou com a chuva sobre o rosto do cadáver do negrinho estirado no chão (op. cit. p. 99 e p.100), acumpliciando-se com as mães negras que perderam seus filhos nas lutas. E, como mulher, se identificou às negras, celebrando o sentimento universal da maternidade:

Olho-te : és negra.
Olhas-me: sou branca.

Mas sorrimos as duas
na tarde que se adeanta.

Tu sabes e eu sei:
o que ergue altivamente o meu vestido
e o que soergue a tua capulana,
é a mesma carga humana.

Quando soar a hora
determinada, crua, dolorosa
de conceder ao mundo o mistério da vida,
seremos tão iguais, tão verdadeiras,
tão míseras, tão fortes,
E tão perto da morte...
(SANT'ANNA, 1988, p. 119)

Nos poemas onde Glória denuncia a urgência de sangue exigida pela guerra, o mar se faz ausente. A voz lírica se tece da angústia de um silêncio diferente, porque forjado por medos e atrocidades. Um silêncio de ciprestes, esquifes e espadas cegas. Um silêncio de anulação da arte e da vida.
No poema Sexto do livro Cancioneiro Incompleto (temas da guerra em Moçambique, 1961-1971), de Glória de Sant'Anna, o sujeito poético condena a violência que destruiu os macondes, cujas esculturas celebra :

(...)
(cada figura crescia de suas mãos negras
como se brotasse da sua própria fina pele
solta para a claridade e portadora
de igual agreste impulso
e em seu rosto
e em suas pupilas alagadas
era o mesmo secreto tempo de amar)

Hoje o pesado e oculto pau preto
jaz dentro da ausência
pleno de irreconhecíveis figuras
que perpassam iguais às da nossa memória(...)
(SANT'ANNA, 1988, p. 167-168)

Por entre sons de canhões e agrestes perplexidades diante da morte de pessoas inocentes, a poesia de Glória capta também a suavidade do mar , o canto dos negros e os tã-tãs dos tambores moçambicanos (Op. cit., p.201). Por entre os silêncios de lucidez crítica, seus versos assumem a consciência do fazer estético e, em meio às lacunas da denúncia explícita da opressão, teoriza sobre sua própria arte poética:

Um poema é sempre
uma qualquer angústia que transborda.

(E eu posso cantá-lo de amor
posso cantá-lo de ódio
posso cantá-lo de roda...)

Um poema é sempre
como um rebento novo que se desdobra.

(E eu posso cantá-lo ao sol
posso cantá-lo de água
posso cantá-lo de sombra...)

Um poema é sempre
como uma lágrima que se solta.

(E eu posso cantá-lo como quiser:
há sempre uma palavra que me esconda...)
(SANT'ANNA, 1988, p. 97 )

Metalinguagem, sensibilidade e silêncio levam a voz lírica a profundas reflexões sobre a sua textualidade poética que, de grito a canto, se reconhece mar, vento, som, melodia. O oceano traz as correntes submersas da memória. Mudanças atmosféricas marcam o ritmo introspectivo das lembranças e das catarses históricas.
Alterações cromáticas, luminosas e sonoras trazem o vento para dentro dos poemas como símbolo da transformação do eu-lírico, o qual busca, agora, apreender a expressão de belezas e angústias indizíveis: de sangue salgado se vestem estas minhas palavras e é sangue e sal o que escrevo e mágoa (SANT'ANNA, 1988, p.229).
Mar, tecido de mortos e vivos, magma da memória ultrajada, cuja liquidez salgada purifica as lembranças e as palavras. Mar, reservatório de mágoas e sangues acumulados que só se fazem expurgados pelas águas da própria poesia. Mar, mergulho abissal na interioridade mítica universal e reencontro com as raízes profundas de identidades submersas: 'Porque sempre o mar: / é isso / os mortos, as algas, as marés, os vivos' (SANT'ANNA, 1988, p.202)
A poética de Glória de Sant'Anna , como a poesia de Rimbaud, de Hölderlin, de Cecília Meireles, mergulha no silêncio e na musicalidade da linguagem, no 'mar absoluto' da própria poesia.
Captando a melodia cósmica das palavras, apreende a emoção do inexprimível, os sentidos profundos do existir humano universal:

Eu naveguei pelo interior de um longo rio humano de tempos diversos onde também há sangue vegetal, buscando o que acabei por encontrar a imensa angústia que se reparte.
Sobre isso escrevo.
Mas cuidado : a música da palavra é um casulo de seda. Só dobando-os com olhos atentos se chega à verdade, à solidão ansiosa e disponível.
No entanto, que cada um faça a sua leitura.
(SANT'ANNA, 1988, poema da contracapa)

É uma poesia que faz opção pelo silêncio. Um silêncio, cujo significado 'fala' mais que o de poemas explicitamente engajados com o real histórico, pois é tramado pela densidade de emoções e sentimentos despertados por situações várias: de beleza, de ternura, de ódio, de dor, de medo , de angústia, de saudade.
Quando a autora, em 1974, teve de regressar a Portugal, o retorno à pátria se converteu para ela num segundo exílio.
Arrancada do mar de Pemba de que se alimentara por longo tempo, a poetisa ficou vários anos sem conseguir escrever, agora, num silêncio concreto, sem palavras. Ao recuperar a linguagem, mergulhou de novo no mar, em cujas águas, transformadas em canto, passaram a ressoar memórias, por intermédio das quais a voz lírica se reconheceu livre e inteira : eis-me solta de todas as amarras da canga a que forcei o pensamento de novo imersa nessa pura água em que me identifico e apresento (SANT'ANNA, 1988, p. 289).
Mar e silêncio, na obra de Glória, passam a conotar depuração. Depuração de sentimentos e emoções que não se traduzem em linguagem comum, mas que se revelam na expressão indizível das metamorfoses da própria poesia:

A essência das coisas é senti-las
tão densas e tão claras,
que não possam conter-se por completo
nas palavras.

A essência das coisas é nutri-las
tão de alegria e mágoa,
que o silêncio se ajuste à sua forma
sem mais nada.
(SANT'ANNA, 1988, p. 126)

Mar, música e silêncio fluem na sacralidade poética instaurada pelo discurso de Glória de Sant'Anna, para quem a literatura, acima de ideologias, de partidos, de nacionalidades, de etnias ou de gêneros, assume um compromisso maior com os valores humanos e com a essência universal da arte e da própria criação poética.
- CARMEN LUCIA TINDÓ RIBEIRO SECCO, Doutora em Letras Vernáculas e Profª. de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BOSI, Alfredo. O Ser e o tempo da poesia. SP: Cultrix, 1983.
SANT'ANNA, Glória de. Amaranto: poesias 1951-1983. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda,1988.
STEINER, George. Linguagem e silêncio : ensaios sobre a crise da palavra. SP: Cia das Letras, 1988.
Brasil, 2 de Junho de 2009 - O tempo, dilapida implacável, inclemente nossas referências... Fica a saudade para alimentar o horizonte do hoje. Do "ForEver PEMBA" e do "São Paulo o Colégio" transcrevo:

Partiu esta madrugada nossa Querida Professora, Amiga e Poetisa, Glória de Sant'Anna. A notícia veio até mim por este pequeno e simples texto:

"... É com profunda dor, que te venho anunciar o falecimento da nossa Mãe. Morreu às 4 horas da madrugada do dia de hoje..."

Não é fácil falar ou comentar quando o coração está apertado, amargurado com mais esta passagem da vida que envolve e atinge um ser humano de valor sentimental imensurável para muitos de nós que aprendemos a caminhar na vida pela força e ensinamentos recebidos de suas delicadas mãos sempre dadas às nossas, desde os tempos da infância.
Só consigo dizer que jamais esquecerei seu olhar terno, suave, sua voz tranquila, meiga mas firme e de palavras inteligentes, doces, sempre doces, repletas de poesia e sabedoria...
Jamais deixarei de a considerar minha Querida Professora, quase uma segunda Mãe...
Jamais deixarei de a considerar a minha Querida e Eterna Poetisa do Mar Azul de Pemba...
E é com lágrimas nos olhos, com imensa tristeza, com uma tremenda saudade que não tem fim, que, aqui de longe, a revejo no meu imaginário no meu último abraço, no meu último adeus terreno, ciente que a reencontrarei sempre em meus sonhos e na poesia de todos os entardeceres que aprendi a descobrir com a beleza de seus versos e com a generosidade que emanava de seu coração de poetisa, professora e Mãe.
Que a beleza e força espiritual de D. Glória (como sempre e carinhosamente por nós era chamada), que são eternas, nos inspire a todos, seus Amigos, assim como a seus Filhos e Familiares, a superar a saudade que fica!
- J. L. Gabão, 02 de Junho de 2009.

Dedico este "post" e tudo que divulgo e tentarei continuar a divulgar sobre esta querida e notável personalidade, a minha paciente professora de inglês (Glória de Sant'Anna) quando seu aluno do Colégio de São Paulo e da Escola Comercial Jerônimo Romero em Porto Amélia, hoje Pemba, na década de 60.
    (Transferência de arquivos do sitio "Pemba/Régua" que foi desativado.)
    Continua...

    1/17/10

    Exposição de Rui Paes - Ausência e Desejo.



    Clique na imagem para ampliar e ler melhor. Rui Andrade Paes é natural de Pemba e filho da Poetisa Glória de Sant'Anna. A exposição inicia-se em 22 de Janeiro de 2010 pelas 22h00 e ficará até 24 de Fevereiro na ÁRVORE - Copperativa de Atividades Artísticas, CRL, na Rua Azevedo Albuquerque, 1 - 4050 076 Porto - Portugal; Telefone 351 222 076 010; Fax 351 222 076 019; geral@arvorecoop.pt - http://www.arvorecoop.pt; Horário - Seg. a sexta - 09h30 às 20h00; Sab. 15h00 às 19h00.

    Simultaneamente à inauguração da exposição será apresentado o livro Gritoacanto (poesia) de Glória de Sant’Anna com breve nota elegíaca de Rui Paes e texto de Eugénio Lisboa.
    •  Rui Paes nasceu em Moçambique/Pemba em 1957.
      Concluiu o curso de Artes Plásticas – Pintura, da Escola Superior de Belas-Artes do Porto, em 1981 e foi Prémio Revelação Arús em 1982.
      Em 1988 concluiu o Mestrado em Pintura no Royal College Of Art – M.A. (RCA), como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e da Beal Foundation, Boston (EUA).
      Para além do trabalho de atelier, colaborou no teatro e tem executado pintura mural em várias partes do mundo.
      Em 2005 ilustrou o livro infantil “Pipas de Massa” de Madonna (Publicações D. Quixote).
      Em 2008 foi o criador da ideia, Comissário Geral e co-organizador, com a Cooperativa Árvore, da exposição “[Olhar Picasso] Picasso e a Arte Portuguesa do Séc. XX”, na Galeria Arade da Câmara Municipal de Portimão.

    9/12/08

    Rui Andrade Paes e a exposição "OLHAR PICASSO".

    Foi inaugurada em 24 de Agosto, na nova Galeria do Arade, no Parque de Feiras e Exposições de Portimão - Algarve a primeira mostra dedicada a Picasso, "Olhar Picasso - Picasso e a Arte Portuguesa do Séc XX", que é comissariada pelo artista plástico natural de Pemba, Rui Andrade Paes.
    Ficará aberta ao público até ao próximo dia 19 de Outubro, em Portimão, reunindo originais do artista espanhol, entre quadros, litografias, desenhos e fotografias, mas também fotografias de Lee Miller, mulher de Roland Penrose, biógrafo de Picasso, recentemente motivo de exposição no Museu Picasso em Barcelona. Outras obras de inúmeros artistas portugueses complementam a mostra.
    No dia da inauguração, Rui Andrade Paes deu entrevista à rádio AlvorFM que poderá ser escutada aqui:





























    (Clique no ">" para escutar a entrevista de Rui Andrade Paes. Evite sobreposição de sons "desligando" a rádio "ForEver PEMBA.FM". O player localiza-se no menu deste blogue, lado direito.)

    “Olhar Picasso”-De 24 de Agosto a 19 de Outubro.
    · Preço: 5,00 € - Gratuito para estudantes
    · Horários:
    - 24 de Agosto a 14 de Setembro das 15h00 às 23h00
    - 15 de Setembro a 19 de Outubro das 10h00 às 18h00
    · Galeria do Arade – Parque de Feiras e Exposições – Portimão. Informações adicionais para a Comunicação Social: - Margarida Pereira - LPM Comunicação - Tel. 218 508 110 :: Tlm. 961 334 957.
    - E-mail: margaridapereira@lpmcom.pt
    - Ed. Lisboa Oriente, Av. Infante D. Henrique, 333 H - Escritório 49, 1800-282 Lisboa.
    - http://www.lpmcom.pt/ .

    8/22/08

    Exposição OLHAR PICASSO é inaugurada no Algarve-Portimão.

    (Clique na imagem para ampliar)
    .
    Acontece no dia 24 de Agosto, na nova Galeria do Arade, no Parque de Feiras e Exposições de Portimão - Algarve e é comissariada pelo artista plástico natural de Pemba, Rui Andrade Paes:
    .
    Pela primeira vez no Algarve.
    Exposição dedicada a Picasso é inaugurada em Portimão.
    .
    A exposição “Olhar Picasso” é inaugurada no dia 24 de Agosto, na Galeria do Arade, no Parque de Feiras e Exposições de Portimão, numa iniciativa da Câmara Municipal desta cidade.
    Esta é a primeira exposição que se realiza no Algarve dedicada a Picasso e assinala a abertura da Galeria do Arade, um novo espaço cultural de 1.400 metros quadrados, junto ao Portimão Arena.
    “Olhar Picasso” está dividida em três áreas: uma, com pinturas, cerâmicas, litografias e desenhos originais do artista espanhol; “Lee Miller & Picasso” com fotografias da autoria de Lee Miller, mulher de Sir Roland Penrose, o biógrafo mais importante de Picasso; e “Picasso e a Arte Portuguesa do Século XX”, com 100 obras de artistas portugueses influenciados pela arte picassianao.
    A inegável influência de Picasso na Arte Portuguesa do século XX junta nesta mostra obras dos maiores génios da pintura nacional: Almada Negreiros (1893-1970), Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918), Mário Eloy (1900-1951), Santa-Rita Pintor (1889-1918), Artur Bual (1926-1999), Júlio Pomar, Júlio Resende, Mário Cesariny (1923-2006), Vieira da Silva (1908-1992), Graça Morais, José Emídio, Alberto Péssimo, Rui Paes, Alcino Soutinho, Álvaro Siza e Jorge de Oliveira, entre outros.
    A exposição das obras engloba três períodos distintos: até aos anos 50, dos anos 50 aos anos 80, e dos anos 80 à actualidade. Os textos dos catálogos são da autoria dos críticos e historiadores de arte Rui-Mário Gonçalves, José Luís Porfírio e Laura Castro.
    “Lee Miller & Picasso” é a primeira exposição individual da fotógrafa em Portugal, e representa o período da vida do artista entre 1936 e 1970. Nesta selecção de imagens, exposta recentemente no Museu Picasso, em Barcelona, são retratados momentos únicos da vida de Picasso, dos seus amigos, amantes e companheiros, captados em situações de intimidade especiais.
    Picasso foi o artista mais produtivo da sua época. O génio, sinónimo de modernidade artística, manifestou-se em várias vertentes: do desenho à gravura, da escultura à cerâmica e, principalmente, através da pintura.
    A exposição é comissariada pelo pintor e ilustrador Rui Paes, que colaborou no último livro infantil de Madonna, “Pipas de Massa”, editado em 2005 e traduzido em 40 línguas.
    Para os mais novos, “Olhar Picasso” inclui, ainda, o espaço lúdico “À descoberta de Picasso”, no qual cada criança pode adquirir novos conhecimentos e experiências através da pintura.
    “Olhar Picasso” está patente até 19 de Outubro e tem a coordenação e montagem da Árvore, cooperativa de actividades artísticas com uma extensa experiência neste tipo de projectos.
    .
    “Olhar Picasso”
    · De 24 de Agosto a 19 de Outubro.
    · Preço: 5,00 € - Gratuito para estudantes
    · Horários:
    - 24 de Agosto a 14 de Setembro das 15h00 às 23h00
    - 15 de Setembro a 19 de Outubro das 10h00 às 18h00
    · Galeria do Arade – Parque de Feiras e Exposições – Portimão
    . Informações adicionais para a Comunicação Social: - Margarida Pereira - LPM Comunicação - Tel. 218 508 110 :: Tlm. 961 334 957.
    -Ed. Lisboa Oriente, Av. Infante D. Henrique, 333 H - Escritório 49, 1800-282 Lisboa.

    6/01/08

    Baía de Pemba - A mais bela entre as belas...

    (Imagem original daqui. Clique na imagem para ampliar)
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    Não é novidade. Mas é de justiça!
    Repito o tema e transcrevo na íntegra do DN de hoje:
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    A baía de Pemba é bela !
    A baía de Pemba, situada na província de Cabo Delgado, passou a integrar o restrito clube das mais belas baías do mundo, um projecto nascido em 1997 e que visa preservar e promover internacionalmente espaços de grande beleza na ligação entre a terra e o mar.
    Pemba é a terceira maior baía do mundo, mais de 40 km de extensão, numa área de quase 150 km2 de superfície diversa, com estuários e mangais, superada, apenas, pelas baías de Guanabara (Brasil) e Sydney (Austrália).
    Antiga zona de Porto Amélia, na época colonial, foi atingida pela primeira vaga colonial portuguesa em 1857 (um grupo de 60 colonos minhotos, embarcados no Tejo no navio Angra, uma das referências históricas nas terras de macuas, macondes e muanis) quando ali chegou liderada por um tenente da armada, Romero de seu nome, ainda hoje referenciado na ponta sul da boca de entrada da baía, tendo a oposta o nome do interlocutor dele na época, o régulo Said Ali.
    De Pemba é, também, Rui Andrade Paes, pintor, famoso desde o momento em que assinou as gravuras de Pipas de Massa, um livro infantil de Madonna, e da terra onde nasceu e cresceu guarda o fascínio "por anatomias e texturas", fixado "nos animais da tradição africana, que caminham e falam com consciência humana", e reconhece que ali, em Pemba, a luz lhe ensinou "a clareza das coisas". Ficou, para sempre, "com mente europeia e coração africano", e não são raras as referências a esse ilustre filho da baía de Pemba.
    Silva Barros-Diário de Notícias OnLine - 01/06/08
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    Alguns post's anteriores deste blogue sobre o a bela Baía de Pemba:
    • BAÍA DE PEMBA - A mais bela entre as belas... 1 - 11OUT2007 - Aqui !
    • BAÍA DE PEMBA - A mais bela entre as belas... 2 - 11OUT2007 - Aqui !
    • BAÍA DE PEMBA - A mais bela entre as belas... 3 - 11OUT2007 - Aqui !
    • BAÍA DE PEMBA - A mais bela entre as belas... 4 - 11OUT2007 - Aqui !
    • BAÍA DE PEMBA - A mais bela entre as belas...5 - 11OUT2007 - Aqui !
    • BAÍA DE PEMBA - A mais bela entre as belas II - 18OUT2007 - Aqui !
    • BAÍA DE PEMBA - A mais bela entre as belas III- Histórias e lendas - 20OUT2007 - Aqui !
    • Ecos da Imprensa Moçambicana - Pemba e o turismo... - 28ABR2008 - Aqui !
    • Ecos da Imprensa Moçambicana - Nunca é demais repetir... - 29ABR2008 - Aqui !

    Algumas páginas virtuais da Família Andrade Paes:

    • Glória de Sant'Anna - a poetisa do mar azul de Pemba - Aqui !
    • A Arte de Inez Andrade Paes - Aqui !
    • Pássaros de Inez Andrade Paes - Aqui !
    • Inez Andrade Paes - Pintura - Palavras - Fotografia - Aqui !

    9/07/07

    Rui Paes (de Pemba) entrevistado pelo Expresso.

    Rui Paes: pinto, como e durmo
    Rui Paes, o pintor que ilustou um livro infantil de Madonna, fala de si, da sua vida e do seu trabalho:
    Rui Paes estava sentado no chão da Galeria Municipal de Matosinhos, às voltas com um banco de madeira. «É como a Paixão de Cristo», sorriu. Dos pregos saía uma tinta avermelhada. «Isto interessa-me: a nossa inabilidade para o sangue», acrescentou. É este, então, o português que ilustrou o livro de Madonna. No I Simpósio Internacional de Pintura, realizado em Matosinhos, Rui Paes crucificava um banco de madeira. A entrevista começou ao contrário: foi o pintor que se atreveu ao diálogo. Esta foi a resposta à pergunta que não houve: Faço pintura mural e, porque tem de ser, procuro que as formas sejam correctas, ou, mais importante, que se adaptem ao espaço arquitectónico, porque senão a ilusão não funciona, contradiz-se e desfaz o efeito. A disciplina mental é importante. A exactidão tem uma disciplina mental. Utiliza um sistema que não é um sistema fixo, único, mas que se adapta às circunstâncias, como agora aqui, em Matosinhos. Eu vinha com uma ideia: a de que Matosinhos era uma cidade de pescadores, e tinha criado uma imagem em relação a essa ideia. Mas quando cheguei cá alterei completamente tudo, porque preferi começar a absorver aquilo que me foi dito, aquilo que vi e aquilo que percebi e transportar isso para a pintura. Em vez de forçar o meu tema e sobrepor a esse tema uma coisa extemporânea, decidi alterar a ordem: deixar que a cidade me dissesse o que quis dizer e que eu pusesse na tela aquilo que ela me quisesse dizer.
    E o que é que a cidade lhe disse, até agora?
    Imensas coisas. Fiquei espantado com a quantidade de lendas, com a religiosidade do sítio!
    Como é que surgiu a ideia deste banco que estava a decorar? Disse-me que tinha a ver com a nossa inabilidade para o sangue.
    Em Inglaterra, onde vivo, a religião oficial é mais despojada, com uma imagética muito mais despojada do que a nossa. Eles têm pavor àquelas imagens da tortura, àquela fase em que Cristo é sentenciado e castigado. Essas imagens não aparecem muito nas igrejas protestantes, também porque são muito mais austeras, muito mais limpas - em Inglaterra, sobretudo. Esse foi um dos aspectos que sempre me interessou muito na religião: o aspecto gráfico do sofrimento. E o sofrimento pode ser físico, emocional, intelectual. Somos quatro pintores, no encontro em Matosinhos e a cada um foi oferecido um banco pequenino de pinho para decorarmos. (Ainda por cima pinho, que é a ideia da madeira da cruz... embora eu não saiba qual foi a madeira usada na crucificação.) Eu gostei muito da Igreja do Senhor de Matosinhos. Gosto muito da arte do período barroco e, quando me foi sugerido que decorasse o banco, que o pintasse, não pude deixar de pensar nisso, no corpo branco de Cristo depois de torturado, depois de chicoteado. Esta é uma imagem que faz parte da pintura clássica. Achei que o banco só podia ser aquilo: símbolo mesmo da Paixão de Cristo e da entrega do pintor, da entrega do artista ao seu trabalho, que também é total.
    Em que medida é que relaciona a Paixão de Cristo e essa entrega à arte? Não tem a ver com o sofrimento pelos outros...
    Não, não, pelos outros nunca. É sempre por nós próprios, pelo nosso trabalho. Mas é o exercício de uma solidão absoluta. A pintura é o exercício da extrema solidão. E eu gosto de estar sozinho comigo, foi-me dada essa grande dádiva. O meu trabalho é o meu companheiro, e eu estou bem com ele. Fecho-me no ateliê e esqueço-me.
    Como é a sua vida em Londres?
    Divido o meu tempo entre Londres e o campo. Tenho um ateliê em Londres e um ateliê ao pé de Cambridge, onde passo muito tempo. Mas é uma vida assim: pinto, como e durmo. Hoje, faço muito menos jardinagem. Tenho andado desligado das plantas. Mas lá ponho umas camélias de vez em quando. É uma vida muito tranquila.
    Ainda continua a pintura mural, a intervenção nos castelos?
    Agora vou fazer um projecto com um colega inglês para um cliente de Munique. Inclui elementos de arquitectura e escultura de um castelo que o cliente tem, mas isto é para uma casa de cidade. Ele quer trazer para a cidade aspectos de paisagem, arquitectura e escultura da outra propriedade do campo, e o trabalho vai ser baseado nesse tema. De resto, tenho andado à volta do livro que estou a fazer para o São Carlos ver caixa e a desenvolver também ideias à volta de um cavalo que me apareceu há 20 anos, um cavalinho que encontrei em França, em Aix-en-Provence.
    Conte-nos melhor essa história do cavalo.
    Numa viagem que fiz, há 20 anos, apareceu-me um cavalinho branco no chão, numa ponte, e eu guardei-o sempre. Um dia, reencontrei-o e disse: isto está a querer dizer-me qualquer coisa. É um trabalho pessoal, uma brincadeira que estou a fazer e que me está a divertir muito. É este o projecto em que estou envolvido em termos de pintura de cavalete: desenvolver uma imagem ligada a conceitos, a palavras... É mais um jogo de língua e actividade. As palavras que estão escritas na tela definem a acção do cavalo. Elas não estão escritas foneticamente correctas, mas soam como a ideia que quero passar. Apetece-me brincar com os ingleses! Eu gosto muito de línguas. Gosto muito da língua inglesa, conheço-a bem, é irresistível. Gosto das palavras. Não leio tanto como gostaria. Escrevo algumas coisas. Não sou um estranho às palavras, mas acho que as palavras têm de ser as palavras exactas.
    Que diferença sente entre pintar uma tela e pintar um interior, um muro?
    É um bocado como a ilustração. As pessoas não entendem que um pintor é um pintor. Um pintor pinta. Pode fazer ilustrações para um livro, pode fazer pintura mural, pode fazer pintura de tela, pode fazer o que quiser. O que ele teve foi anos - seja de vida, seja de aprendizagem académica - que foram desenvolvidos à volta da pintura, do trabalho com tinta, com a expressão plástica. Por isso, eu estou a pintar sempre. Um músico e um pintor, nesse aspecto, não são muito diferentes. Um músico pode ser um intérprete e pode ser um compositor. O pintor também. Quando estou a ilustrar um livro, estou a seguir um guião, a interpretar um tema que me é oferecido, e estou a tentar alargar o espectro simbólico, significativo, do tema. Estou a interpretar, como um violinista poderá interpretar uma peça. Quando estou em frente a um cavalete, estou a compor. Mas continuo a trabalhar na mesma área.
    É a diferença entre trabalhar uma imagem que é sua ou uma imagem de outra pessoa?
    Que me é fornecida pelas palavras de outra pessoa. Se for o caso da pintura mural, é uma questão de orquestração. O pintor é um orquestrador. Eu orquestro quando faço pintura mural, porque tenho de incluir elementos que me são sugeridos, que me são exigidos, alguns. Tem de ter este aspecto, tem de ter aquele, não gosto de macacos, não faça um macaco a sorrir porque mete impressão...
    No caso do livro da Madonna, o macaco foi uma das razões do encontro. Ouvi uma história que envolvia um macaco, a Madonna e o Rui Paes...
    Sim, sim. [risos] A Madonna chegou a mim por causa de um castelo na Noruega, mas sobretudo por causa dos macacos que eu lá pintei. Quando me fizeram a proposta de pintar o «hall» de entrada, achei que, pelos elementos que a sala apresentava, o mais bonito era fazer uma coisa à chinesa do século XVIII, mas divertida. Quis fazer uma «singerie», uma macaquice. Os editores viram aquele trabalho no «New York Times» e pensaram: isto é uma possibilidade. Fizeram-me uma proposta, e eu fiquei muito interessado com o projecto. Quando a história chegou, pareceu-me difícil, mas li, reli e comecei a percebê-la. Emocionou-me, porque definia bem como é possível ser-se generoso, e entreguei-me ao projecto.
    Como reagiu o seu filho quando lhe contou a novidade? Gostava de saber como é que se chega a casa e se diz que se vai ilustrar um livro da Madonna.
    Eu pedi-lhe que ele adivinhasse. Disse-lhe que ia trabalhar com uma cantora mais da minha geração... Ele acertou à terceira.
    Já o tinha em muito boa conta.
    Ele é muito sóbrio. Ficou contente, mas é uma pessoa muito sóbria. Eu estava no Rio de Janeiro quando recebi a notícia de que a Madonna tinha dado o OK e devo dizer que dei pulos. Estava sozinho no quarto de hotel e fiz aquelas coisas que só se vêem nos filmes.
    Nos filmes salta-se em cima da cama...
    Exactamente! [risos]
    Chegou a conhecer a Madonna?
    Sim, mais tarde. Falámos ao telefone e na apresentação do livro apresentámo-nos um ao outro. Ela é uma mulher lindíssima, não tem nada a ver com as fotografias. Ao vivo, é uma pessoa muito bonita e tem uma aura muito boa, projecta uma luz clara.
    Em que lugar é que se encontra hoje? De regresso ao figurativo?
    Eu nunca deixei de pintar figurativo. Mesmo quando pintava as grandes telas vermelhas. Quando saí de Portugal, o meu processo de criação tornou-se cada vez mais limpo, mais despojado, mais austero. Quando tive oportunidade de, pela primeira vez na vida, pintar oito a dez horas, no mestrado, isso deixou-me inquieto. O projecto definiu-se a si próprio, mas foi um projecto de limpeza, ligado a uma certa espiritualidade. O despojamento da pintura indicava o processo do meu próprio despojamento. Passei os primeiros meses no Royal College a mandar embora do meu pensamento as pessoas que interferiam, as vozes que interferiam. Foi mesmo um processo de limpar.
    Mas essas vozes...
    Eram vozes portuguesas.
    Tinham a ver com os mestres, com a sombra de outros criadores, ou eram vozes pessoais?
    Era toda a gente. Quis libertar-me das interferências: limpar, coar, polir, até poder estar só comigo. Os primeiros meses do mestrado foram feitos assim, e a pintura acompanhou tudo isso. Acabei por pintar grandes áreas com contentores vazios dentro delas. Foi mesmo um processo de limpeza, de limpeza espiritual, emocional.
    Lembra-se de como era antes de pintar? Lembra-se do processo?
    A primeira pintura a sério que fiz foi quando tinha sete ou oito anos. Foi o Deus nas nuvens do Rafael, a guache. Havia um livro escolar que na contracapa tinha uma pintura cuja parte superior era Deus e as nuvens com dois anjinhos. Eu gostava tanto daquilo, e era assim que eu queria pintar!
    Com essa pureza?
    Assim, tão bem! [risos]
    In- Expresso - Entrevista de Filipa Leal, Fotografia de Bruno Barbosa
    Rui Paes nasceu em Moçambique (Pemba), em 1957. Terminou o Curso de Artes Plásticas da ESBAP em 1981. Em 1982 recebeu o Prémio Revelação Arús. Fez o mestrado em Pintura no Royal College of Arts como bolseiro da Gulbenkian. Foi premiado com uma bolsa da Beal Foundation, de Boston. Em 1990 realizou cinco Retratos Monumentais para os cenários de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, no Bayliss Theatre, em Londres. Tem executado pintura mural na Alemanha, Egipto, França, Inglaterra, Líbano, Noruega e Portugal. Vive e trabalha em Londres. Foi um dos convidados do I Simpósio Internacional de Pintura de Matosinhos. Ilustrou o livro infantil de Madonna Pipas de Massa e ultima as ilustrações para o livro O Fantasma Trezmelenas, de Alice Vieira, onde se conta às crianças a história do Teatro São Carlos.
    Rui Paes no ForEver PEMBA - aqui-2 , aqui-3 , aqui-4 , aqui-5 , aqui-6 , aqui-7 , aqui-8 , aqui-9, aqui-10, aqui -11 e aqui-12

    7/10/07

    Rui Paes em foco...

    Íntimo
    Rui Paes
    50 anos
    pintor
    Eu não me importava de ser uma cidade esquecida ou um rio exacto. Preferia ser um rio exacto, que tem mais a ver com a maneira como trabalho, com o meu processo. É mais uma disciplina mental do que uma exactidão. A exactidão tem uma disciplina mental.
    A pintura é o exercício da extrema solidão. Eu gosto de estar sozinho comigo, foi-me dada essa grande dádiva. O meu trabalho é o meu companheiro. Fecho-me no atelier e esqueço-me. As pessoas não entendem que um pintor é um pintor. Um pintor pinta. Pode fazer ilustrações para um livro, pode fazer pintura mural, pode fazer pintura de tela, pode fazer o que quiser. Por isso eu estou a pintar sempre. Um músico e um pintor, nesse aspecto, não são muito diferentes. Um músico pode ser um intérprete e pode ser um compositor. O pintor também. A pintura mural é uma questão de orquestração. O pintor é um orquestrador.
    A Madonna chegou a mim por causa de um castelo na Noruega e dos macacos que eu lá pintei. Os editores viram o meu trabalho no «New York Times» e pensaram: isto é uma possibilidade. Estava no Rio de Janeiro quando recebi a notícia de que ela tinha dado o OK final ao projecto e devo dizer que dei pulos. Estava sozinho no quarto de hotel e fiz aquelas coisas que só se vêem nos filmes.
    Sempre me interessou o aspecto gráfico do sofrimento, na religião. Em Matosinhos pediram-me que decorasse um banco de pinho e eu não pude deixar de pensar nisso, no corpo branco de Cristo depois de torturado, depois de chicoteado. O banco só podia ser aquilo: símbolo mesmo da Paixão de Cristo e da entrega do pintor ao seu trabalho, que é total.
    Reajo à Academia Contemporânea. Acho que a arte contemporânea está de tal modo institucionalizada que é uma nova Academia. Em Portugal, só o contemporâneo é que conta. Temos que nos abrir mais às diferentes formas de expressão. Trabalha-se muito no óbvio. O óbvio é o seguro, é o que dá a segurança absoluta. Correm-se poucos riscos.
    Divido o meu tempo entre Londres e o campo. Gosto de estar em Portugal. Os meus amigos continuam leais.
    Ilustrou o livro infantil da Madonna «Pipas de Massa» e participou no I Simpósio Internacional de Pintura de Matosinhos.
    In -
    Expresso (Edição 1810 de 07.07.2007):Texto de Filipa Leal ;Fotografia de Bruno Soares.
    Rui Paes no ForEver PEMBA- Aqui , aqui-2 , aqui-3 , aqui-4 , aqui-5 , aqui-6 , aqui-7 , aqui-8 , aqui-9 e aqui-10.

    5/30/07

    Rui Paes (de Pemba) expôe no primeiro Simpósio Internacional de Pintura de Matosinhos.

    Pintores tentam captar o espírito do Senhor de Matosinhos.
    Por Jorge Marmelo - Publico.pt
    Trabalho de Alberto Péssimo, João Ribeiro, José Emídio e Rui Paes pode ser apreciado, ao vivo e até quinta-feira, na Galeria Municipal.
    Menos de vinte e quatro horas depois do arranque do primeiro Simpósio Internacional de Pintura, que decorre em Matosinhos até ao próximo dia 31, o pintor José Emídio já tinha duas obras de arte em avançado estado de produção. Não espanta. Emídio é um matosinhense e o único dos quatro participantes na iniciativa que já conhecia Matosinhos, cabendo-lhe, por isso, o papel de anfitrião de Alberto Péssimo, João Ribeiro e Rui Paes, o português radicado em Londres que ficou famoso quando fez as ilustrações do livro infantil Pipas de Massa, da cantora Madonna. Também por jogar em casa, José Emídio optou por contornar o tema proposto pela Câmara de Matosinhos para a iniciativa: o Senhor de Matosinhos, a sua lenda, as tradições e as festividades populares que actualmente têm por palco o centro da cidade, com o seu cortejo de barraquinhas de feira e roulottes de farturas. "Já pintei muitas vezes o Senhor de Matosinhos, vou aproveitar para fazer outras coisas", justifica o pintor. Coincidindo com a realização de uma das maiores romarias do país, o Simpósio Internacional de Pintura decorre, desde a passada quarta-feira, numa das salas da Galeria Municipal de Matosinhos. Por lá têm passado artistas e simples curiosos que querem ver ao vivo o trabalho dos pintores convidados, mas também alunos das escolas do concelho que frequentam os workshops de pintura que acompanham o simpósio, destinados a melhorar a compreensão do fenómeno artístico. "Estou a gostar muitíssimo da experiência", diz Rui Paes. "Fiz as Belas-Artes no Porto, mas não conhecia Matosinhos", reconhece o ilustrador do livro de Madonna. Com a ajuda de um postal ilustrado mostrando um dos altares da Igreja do Senhor de Matosinhos, Paes tenta passar para a tela as volutas barrocas e douradas que decoram do templo. A ideia, explica, é criar uma moldura barroca que enquadre um ícone religioso, estabelecendo uma ligação entre a tradição, a realidade actual dos festejos e o livro que o tornou célebre.
    "Explosão de estímulos"
    Antes de iniciarem o trabalho, os quatro pintores foram conduzidos num passeio pelos principais pontos patrimoniais do concelho, da Igreja do Senhor de Matosinhos à Casa de Chá da Boa Nova. Uma introdução que Rui Paes considera ter sido "muito boa" e que lhe trouxe à memória a última visita ao edifício que Siza Vieira instalou sobre os rochedos da Boa Nova: "Não ia lá há trinta anos, mas lembro-me que foi ali que percebi que o Siza Vieira é um génio da Arquitectura. Fui à casa de banho e vi aquela luz... Aquilo era magia", recorda. Resultado? O pintor nascido em Moçambique contava aproveitar o simpósio para descansar, mas percebeu imediatamente que tal será impossível. "Há muito dinamismo, uma explosão de estímulos e solicitações. Não vou descansar, mas sair daqui com uma energia nova", diz. Como que para ilustrar o que significa para um pintor o trabalho partilhado, Alberto Péssimo entra nesse instante no improvisado atelier dos quatro artistas. Vem falando alto e traz um saco de supermercado, oferece cerejas e arrasta os restantes pintores para uma fotografia de grupo a la minuta num cavalinho estacionado diante dos paços do concelho. Quando regressa, veste o fato-macaco, estende um pedaço de papel no chão e começa a desenhar com traços rápidos.Pouco habituados ao trabalho em conjunto, os artistas parecem não desgostar da experiência. "O que mais me impressionou foi ver os outros a trabalhar", reconhece o lisboeta João Ribeiro, apontando para o canto onde Péssimo tem já um monte de papéis desenhados, rasgados e pintados, espalhados pelo chão, pelas paredes e por toda a parte, como se um vendaval criativo por ali tivesse passado. "Ele tem uma atitude muito dadaísta", comenta, enquanto vai acrescentando pacientemente as várias camadas de cor que hão-de dar origem à sua obra. "Só daqui a alguns dias se vai ver o resultado", explica.
    In "Publico.pt"

    4/10/07

    Desde Porto Amélia: A Avó "Jóia"...


    Tributo
    Durante 24 anos, foi a 9 de Abril que lhe cantei os parabéns. À Avó Jóia, como lhe chamavam os netos - e as crianças não mentem. - É a Pessoa de que mais me orgulho de descender.

    Mulher, num mundo de homens. Melhor (como já aqui contei), Mulher inteira, apesar do mundo para os homens que a lei da ditadura protegia. Agradeço, mais uma vez, esta fotografia ao jovem oficial que cumprimenta a minha avó materna na então Porto Amélia. Chama-se Fernando Gil, o ‘macua’, como é conhecido na net.
    Continuamos na capital de Cabo Delgado, em 1971, segundo depreendo do ficheiro que a Inez me passou, no dia em que, tão espantadas como maravilhadas, descobrimos que havia uma certa Amiga comum... para a Inez e para o Rui, contou-me ela, a Professora (de Desenho) Adelaide Maltez* foi peça importante no caminho de Artistas que hoje são. Já agora falta dizer que, lá no canto ao fundo da mesa onde a Sub-Directora da Escola Comercial Jerónimo Romero discursa, estão os pais dos manos Andrade Paes - a Professora de Inglês era nem mais nem menos do que a enorme Poeta Glória de Sant’Anna. * nome de baptismo, foi, também T.R. e, depois, Bastos de casamento(s).
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    Adelaide Marques Maltez, 9 de Abril de 1908 - 19 de Janeiro de 1981.
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    adenda: acabo de me lembrar que, nesta escola (JR), tinha a alcunha de 'mariposa' por, incansável, andar sempre de um lado para o outro - e se não for só este o motivo, os ex-alunos que corrijam.
    Transcrito do "Chuinga L. "
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    - Meu recado para a IO -...crescemos, amadurecemos, continuamos sensíveis ao passado na então Porto Amélia... Assim, foi fácil, comemorando através do teu "ChuingaL.", emocionar-me ao rever a "Mestra" que esculpiu a personalidade de muitos de nós com o cinzel de seu terno coração e a habilidade de seu sorriso transigente.
    Nunca a esqueceremos e também aqui permanecerá (se me permites) enquanto durar o ForEver PEMBA !
    Jaime

    3/05/07

    RUI PAES...de Pemba - Próxima exposição.


    Na trilha de sucesso de Rui Andrade Paes, informamos, para Maio próximo:
    Tues 8th May – Sat 19th May - The Teatre Chipping Norton
    2 Spring Street - Chipping Norton
    Oxfordshire, OX7 5NL

    RUI PAES M.A. (RCA) An exhibition of the original watercolours for the book “Lotsa de Casha” by Madonna.
    Rui Paes, a Portuguese artist, was born in Mozambique (Pemba) and now lives in London and Suffolk.
    Lotsa de Casha is his first illustrated children’s book and he is currently working on a book for the Portuguese opera house, Sao Carlos, in Lisbon.
    Lotsa de Casha was the fifth of five books written for children by Madonna, and has been published in 40 languages and 110 countries.