1/13/08

Cabo Delgado - O perigo da manipulação popular...ou quando os políticos usam o povo.

( Imagem daqui)
.
O perigo da manipulação
Crónica de Pedro Nacuo - sábado, 12 de janeiro de 2008:: Notícias - Há-de ser a quinta ou sexta vez que aqui falámos de quem fala em nome do povo, mentindo às toneladas, metendo na boca desse sempre necessário e quase invisível fenómeno, quando a ambição se torna desmedida, o POVO!
Não é por acaso que se trata de uma designação com raízes políticas, para se referir às pessoas.
E povo acaba sendo um termo a usar sempre que nos descobrimos insignificantes para determinadas aventuras.
É o povo que gosta de um determinado dirigente, é o povo que não quer isto e aquilo assim como é o povo que quis fosse representado por quem o representa, ainda que em poucas vezes razoavelmente, mas muitas vezes mediocremente.
E é usando o povo que os nossos dirigentes são todos os dias enganados.
São enganados que são da total estima do povo, esse que dizem que faz ofertas aos seus dirigentes: galinhas, cabritos, cabeças de vaca, objectos de arte, etc.
Diz-se que é o povo que está a oferecer.
Nenhum governador disse ao Presidente da República ou outro dignatário hierarquicamente superior que a oferta foi maquinada por si e nalguns casos custou a força para obrigar o povo a dar.
Ninguém já disse que noutros casos eles mesmos tiveram que comprar para oferecerem-no em nome do povo.
Os políticos são facilmente enganáveis, não sei porquê!
E assim quando descem aos distritos, os governadores são “vítimas” do mesmo tratamento pelos administradores e outros funcionários subalternos, tudo em nome do povo.
Qualquer dia receberão (se ainda não aconteceu) um produto roubado ao povo para serem oferecidos em nome do mesmo.
Ora, em Quissanga, num comício popular orientado pelo governador provincial, levantam-se intervenientes que disseram que estavam a gostar do novo administrador.
Estavam a falar em nome dos outros, do povo.
Que era um dirigente que se algum dia tivessem que mexe-lo fosse apenas para subir de cadeira.
Ou é administrador de Quissanga ou sobe para qualquer coisa como director provincial de outra coisa, ou governador, ou outra coisa ainda superior.
Isso meteu-se na boca do povo.
Disseram, em nome do povo, que uma viatura para o senhor administrador, é pouco.
Justificaram que quando ela está com o secretário permanente, o administrador fica sem meio para locomoção.
Certo! Então o povo estava a pedir mais uma viatura para o administrador.
Esse povo!!!
Entretanto, aqui perto dos jornalistas alguém da audiência quer saber quem é que estava a falar, pois não se tratava duma cara facilmente identificável.
Até se queria saber donde tinha vindo, primeiro pela forma como falou em nome do povo, segundo, simplesmente porque parecia uma pessoa desconhecida.
Em Palma, muito já se disse.
O administrador distrital pós no programa do governador a visita a uma pensão na vila, construída recentemente, numa sede distrital onde não havia nenhum lugar de hospedagem.
Bravo!
Quando se quis saber de quem é a pensão, a resposta não se fez esperar: do senhor administrador, aliás, da esposa do senhor administrador.
Ficou mais intransparente do que opaco ou translúcido.
E o povo veio ao comício denunciar um comboio de desmandos do chefe máximo do distrito.
E o outro povo, este constituído por sete a oito pessoas, no mesmo comício, disse tudo de bom do administrador: que tinha feito uma pensão, trouxera uma parabólica para ver televisão, a água voltara a jorrar e a energia eléctrica havia, igualmente, regressado ao convívio de gente média da sede do distrito.
O povo de Palma virou povos!
Todos os presentes viram-se complicados a ponto de o governador mandar impor disciplina, porque quando um povo falava o outro povo contradizia em voz alta, de forma claramente indisciplinada.
Saímos sem saber de que povo se tratava.
Vieram as acusações mútuas de terem sido contratados para falar.
Eliseu Machava (a experiência manda...) tinha que cair numa acertada medida: mandar ir perceber!
Para tanto, enviou os seus homens de competência técnica e investigativa reconhecida para trazer algo que se aproxime à verdade, entre tudo o que um povo disse, o outro povo desmentiu e aquilo que se disse do povo nos relatórios e mensagens.
Estamos à espera do relatório.
Em Nangade, sempre que se fala da aproximação de uma visita importante há um agente económico que prepara pessoas para irem depor contra alguns sectores de actividade, bastas vezes, a Migração, as Alfândegas, a Guarda-Fronteira e a Polícia da República de Moçambique.
São instituições incómodas para o caso de Nangade, sobretudo para quem, sendo agente económico, pretende exercer a actividade, aparentemente para o benefício do povo, mas sem pagar os impostos e taxas correspondentes, que na verdade são para o benefício desse mesmo povo.
Disseram-nos que até paga a quem vai falar.
E quem fala, fá-lo em nome do povo, porque é ao povo que se pede que fale.
E assim os comícios animam, há muitos aplausos, gritos estridentes, acabando por se ficar com a sensação de uma boa reunião onde o povo se expressou a contento.
O agente económico, bem conhecido, até vai ao comício controlar os seus mandados, a ver se colocaram os pontos como queria, normalmente que enfraquecem as instituições, principalmente quando a resposta do chefe for de condenar as pretensas atitudes dos agentes do estado.
P.S. - E aí está o cúmulo da instrumentalização: em Nangade um cego levantou-se para dizer ao governador que andava muito decepcionado com a educação pois que ultimamente via (de ver) alunos sujos e rotos a irem para a escola, onde encontravam os professores aprumados, asseados e todos com batas limpas.
E para ele a educação não está a funcionar bem porque também não ensina os alunos a ficarem limpos.

1/11/08

SAÚDE em Portugal - Como não é a digníssima Mãe deles que precisa do serviço de urgências hospitalares...IV

O drama ou tragédia que vivem milhares de portugueses atingidos com o encerramento das "urgências hospitalares" é danoso, preocupante e desperta sentimento de revolta para com os "artífices" de tal requalificação desastrosa de serviços de saúde em Portugal.
As notícias vão chegando via net e falam até em situação desesperante.
O "Portugal Diário" (edição eletrónica) em reportagem de Anadia a Vila Real, onde o senhor António Correia de Campos arremeteu em força com o encerramento de urgências sem antes providenciar alternativas, diz que "a população fala em situação «desesperante», não entende as razões da mudança e já não sabe a quem recorrer em caso de emergência."
E continua: "O desabafo foi lançado por um grupo de pessoas que aguardava pacientemente pelo familiar junto às urgências do Hospital de Vila Real.
Vindos de Chaves, tiveram de percorrer 60 quilómetros para resolver uma emergência, quando tinham à distância de 20 quilómetros, em Verín, um serviço que poderia resolver-lhes o problema:
«Se no Alentejo vão a Badajoz, nós também deveríamos aproveitar e ir a Espanha».
A requalificação dos serviços de urgência em Portugal está a causar polémica, com o ministro Correia de Campos a seguir as indicações dos peritos e os doentes a sentirem o seu impacto sem que haja uma real comunicação com as populações.
No terreno, sente-se apenas a reacção e não a acção.
Sabe-se o que vai fechar, não se conhecem as alternativas.
À porta das antigas urgências, como acontece em Peso da Régua ou Anadia, surge agora um aviso: em caso de urgência ligue para 808 24 24 24 (linha Saúde 24) ou 112.
Na realidade, as pessoas queixam-se, necessáriamente pela falta de informação, talvez pela falta de habituação, quase sempre pelas longas deslocações, pelo cansaço acumulado.
O Hospital de Vila Real acaba por ser um exemplo de aglutinação, pois passa a receber cada vez mais pacientes.
Numa noite, que não precisa de ser muito agitada, é usual ver chegar ambulâncias de sítios tão díspares como Chaves, Santa Marta de Penaguião, Alijó ou Lamego... ..."(e o restante da reportagem continua aqui).
.
E eu acrescento:
Em suma, boa reportagem expondo a realidade.
Entretanto vem a público muita conversa-fiada por parte de "responsáveis" que tentam simplificar e justificar esta tragédia lusa como se fosse possível "cobrir o sol com uma peneira".
De minha parte repito aqui a vivência dolorosa de familiares em Portugal que, por e-mail, detalham a realidade lamentável acontecida em Vila Real-emergência há poucos dias:
.
""""Todos temos de reclamar, de falar até que nos ouçam !!!!
Conto o que se passou dia 4 de Janeiro último, no hospital de Vila Real:
- Por volta das 18h30 da tarde a nossa Mãe sentiu-se mal em casa na Régua.
- Liguei de imediato para o 112 e eles demoraram cerca de 10 minutos.
- Os bombeiros que atenderam ao chamado perderam imenso tempo à procura do equipamento médico para emergências que não encontravam e que teriam de usar com a nossa doente...Falta de hábito ?... Depois telefonaram, porque a isso são obrigados, não sei para quem, a questionar para onde levar a paciente. Mais tempo perdido e eu desesperada a desatinar...Decidem então que vai para o Hospital de Vila Real.
- Deu entrada às 20horas. Uma hora e meia após o pedido de "socorro emergêncial".
- Quando chegou ao hospital não tinha maca para ficar já que o mesmo hospital estava a "estourar pelas custuras".
- Como os bombeiros não a podiam deixar no chão tiveram que aguardar que liberassem uma maca para a deitar. O que aconteceu um longa hora depois quando voltaram à Regua para atender outras emergências.
- A Mãe deu entrada no hospital como caso urgente mas, até ser vista por um enfermeiro quando deveria ser atendida por um médico, demorou mais de uma hora. Nessa noite malfadada do dia 4 de janeiro chegavam constantemente ambulâncias de todas as partes e o hospital "explodia" de doentes.
- Por volta das 22 horas (três horas e meia depois que chamei os serviços de emergência) finalmente é vista por um médico que manda fazer alguns exames.
- Às 23 horas (quatro horas e meia depois que chamei os serviços de emergência) faz os exames ao sangue. Mais tarde um raio x. E a espera na sala da urgência era horrível com montes de pessoas doentes. A maior parte idosos... Não imagina o corredor repleto doentes a passar mal. No ar um cheiro forte, enjoativo que me fez sentir mal.
- Entretanto a espera continuava... De tempos em tempo perguntavamos o que se passava com nossa Mãe e ninguém dizia nada. Só que tinhamos que aguardar.
- O tempo passou e cerca das 04h30 da madrugada (dez horas depois que chamei os serviços de emergência) o segurança veio informar que a nossa Mãe doente tinha de ficar "internada" para observação, naquele corredor de hospital sem condições e a abarrotar de doentes.
Nesse tempo todo de espera não apareceu um médico para nos informar o que se passava com nossa Mãe. Só a boa-vontade de um leigo em saúde - o segurança - é que esclareceu por dó, algumas de nossas interrogações.
- Na manhã de sábado, dia 5, às 9h00 (quatorze horas e meia depois que chamei os serviços de emergência) fomos informados pelo hospital que a Mãe tivera alta e, quando lá cheguei para indagar ao médico o mal que a acometera não o localizaram. Não consegui falar com ele. Um enfermeiro, a meu pedido, pegou os papéis que estavam sobre a Mãe e informou lacónicamente que teria sido um mal súbito...!!!
...Traumatizante. Deus permita não tenha de usar a "emergência" tão cedo.""""
.
Necessários mais comentários ?
É este o "retrato" do atual sistema de saúde em Portugal.
Não dá para ficar calado.
Magoa, revolta, preocupa.
Entre outras coisas é muita falta de respeito para com o cidadão comum, limitado económicamente e dependente desses serviços públicos sociais. Porque, repito, se fosse a digníssima Mãe do senhor Sócrates ou de outro ministro, não passaria certamente, como a Mãe cidadã anónima e comum passou, por uma qualquer emergência hospitalar fria, desprovida de condições de atendimento e de bem cuidar dos doentes, distante de sua casa, neste Portugal interiorano...!
.
Post's anteriores:
  • SAÚDE em Portugal - Como não é a digníssima Mãe deles que precisa do serviço de urgências hospitalares... - Parte 1 !
  • SAÚDE em Portugal - Como não é a digníssima Mãe deles que precisa do serviço de urgências hospitalares... - Parte 2 !
  • SAÚDE em Portugal - Como não é a digníssima Mãe deles que precisa do serviço de urgências hospitalares... - Parte 33 !

Leia também:

  • Requalificação das urgências ainda por cumprir - aqui !
  • O que fazer em caso de emergência ? - aqui !
  • Ministro não cumpre plano para as urgências. - aqui !
  • Algumas imagens - aqui !