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8/24/13

Uma figura da História da Ilha e Vila do Ibo: JACOB MAMUDO (Bob)

Jacob Mamudo (Bob), há relativamente pouco tempo falecido (24 de Agosto de 2009), é ilustre filho e parte da história da Ilha do Ibo.
Até 1974, foi membro da Comissão Municipal local à qual prestou colaboração efectiva.
Amigo da terra que o viu nascer, respondeu sempre com prontidão e desinteressadamente, a todos os pedidos de ajuda feitos à época colonial pelas autoridades constituidas no concelho.
Para o recordar-mos, ficam aqui algumas imagens que consideramos documentos para a história da também histórica Ilha do Ibo e de Moçambique:
1970 - Visita de dois estudiosos, drs. Pierre Verin (francês) e Amaro Monteiro, antropólogos, linguístas, professores, pesquisadores da civilização malgaxe e de outras ilhas do Índico à Ilha Quisiva. Esta viagem de estudo acompanhada pelo Dr. Carlos Lopes Bento, administrador do Concelho do Ibo, só foi possível graças ao apoio logístico de Jacob Mamudo (Bob) também na foto.
 
Entrevista de Jacob Mamudo (imagem acima), vogal da Comissão Municipal do Ibo, concedida a 13 de Setembro de 1963 ao correspondente do jornal "Diário de Lourenço Marques" em Cabo Delgado, Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, em consequência da ida de uma representação de Cabo Delgado a Lisboa, recebida pelo Dr. Oliveira Salazar.
A leitura do conteúdo da entrevista mostra calramente a dimensão e sentido da Pátria Portuguesa de então em relação às suas colónias.
(Clique nas imagens acima para ampliar)

Representação da Vila do Ibo, a Lisboa, em 1963 - Na foto está o Jacob Mamudo (Bob) com o estandarte da Vila do Ibo, entre outros participantes da representação de Cabo Delgado.

Histórico  de JACOB MAMUDO mais conhecido por BOB:
- Filiacao: Mamudo Agy Jacob e Luisa Zamith.
- Nasceu em 11/05/1927 na histórica vila do Ibo.

Desde 1959 que esteve a testa da firma comercial fundada no Ibo pelo seu pai em 1919, “Flor do Ibo” de Mamudo Agy Jacob.

Bob jogou a bola pelo Clube Desportivo do Ibo e  a sua actividade comercial incluia a venda de produtos alimentares, representações e agenciamentos de transportes maritimos (Companhia Nacional de Navegação), aéreos (Comag e TTA), banca (BNU - actual CGD), açucareira (Sena Sugar Estates) e também se dedicava à venda de peixe seco, percorria semanalmente, por terra e mar, centenas de quilometros desde o Ibo até Nampula.

Em 1975 mudou-se e transferiu a firma para Pemba, desta vez com maior destaque para venda, representação e distribuição de material de pesca (Equipesca), oleo alimentar e sabão (Companhia Industrial do Monapo) e açucar (Distribuidora Nacional do Açucar).

Devido a sua saude, encerra as actividades comerciais em 2006 e muda-se para Maputo, onde vivem sua filha, irmãs, cunhado e sobrinhos e pode ter melhor assistencia médica. Nesta altura a firma “Flor do Ibo de Mamudo Agy Jacob, Sucessor” devia ser a mais antiga firma comercial Moçambicana no norte ainda em actividade (87 anos).

Entre finais dos anos 80 e principio de 90, Bob e outros conterraneos seus nomeadamente Ernesto Silva (Simba), Candido Manuel Inacio (Kesso), Mussa Alimomade (Magaga), Leopoldino Costa e Jordãp Soares (Joda) todos já falecidos, e Issa Tarmamade  fundam a Associação dos Amigos da Ilha do Ibo (AAIIBO), cujo maior objectivo era de promover e tentar encontrar ou criar oportunidades que possibilitassem o renascer da esperança de desenvolvimento da Ilha do Ibo e neste caso concreto tiveram sempre o apoio dos srs. Antonio Simbine, Governador da Provincia de Cabo Delgado nessa altura e de Magido Ali, então Director da Industria Comercio e Turismo.

Também já se voltava a celebrar o “São Joao Baptista” no Ibo, 24 de Junho, anualmente, e realizavam-se excursões a partir de Pemba.

Anos mais tarde com a nomeação de Jose Pacheco (actual Ministro do Interior de Mocambique) para Governador de Cabo Delgado, a questão do Ibo voltou a ganhar interesse, tendo havido vários encontros entre o Governador Jose Pacheco e Jacob Mamudo para troca de ideias e impressões.

Hoje com os meios de comunicacão e de transportes existentes, ja estão criadas as bases para tornar o Ibo num destino turistico. O Ibo ja não dorme mais.

Em Julho e agosto de 2007, vai pela ultima vez à Europa, Inglaterra visitar o filho, nora e netos e Portugal visitar a filha e netos e tratamentos médicos.

Nessa viagem a Portugal teve o desejo de rever  amigos seus, elaborou uma lista da qual constavam os nomes de Carlos Bento, Carlos Soares, Rosario Dias, Barreira de Sousa e outros que não me lembro.

Infelizmente devido ao seu estado de saude nao concretizou esse desejo.

5/12/07

Ainda sobre o convívio de alunos do Colégio Liceal de São Paulo em Fátima em 19 de Maio próximo.

Diz-me por e-mail Carlos Lopes Bento (antigo Administrador da Ilha do Ibo e autor de trabalhos de inestimável valor sobre as Quirimbas):
""A propósito do próximo Encontro em Fátima e como homenagem a essa tão humana e cristã instituição que ajudou a educar e a instruir muitos dos nossos filhos, lembrando sempre o Padre Valente e os seus exigentes professores, envio uma foto,(10.2.1972) onde está
a minha filha Isabel, actualmente, professora de Geografia na Escola Secundária do Cartaxo.
Para todos os jovens desse tempo, espalhados por esse mundo fora, vai um abraço de muita amizade. - Carlos Lopes Bento

Trabalhos publicados de Carlos Lopes Bento:
http://br.geocities.com/quirimbaspemba/ e aqui.

2/05/12

LEMBRANDO OS ÚLTIMOS ANOS DA ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA NO CONCELHO DO IBO - 1972

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MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL
LEMBRANDO OS ÚLTIMOS ANOS DA ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA NO CONCELHO DO IBO - Ano de 1972
(1969-1974)
Por Carlos Lopes Bento - Doutorado em História dos Factos Socias pelo ISCSP, da U T Lisboa. Antigo presidente da Câmara Municipal do Ibo. Antropólogo. Tesoureiro da S G de Lisboa.
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Poderá também gostar de:

9/08/07

Para a História de Moçambique: Algumas notas sobre os primeiros autarcas de Cabo Delgado.

( Imagem daqui)
Memórias de Cabo Delgado
Ano de 1764: Os Primeiros Autarcas de Cabo Delgado
Para fazer face ao estado de ruína total em que se encontrava o governo civil e económico de Moçambique e doutros portos e, por nesses lugares, não haver, nem quem administrasse na primeira instância a justiça às partes, nem quem tivesse a seu cargo o cuidado do bem comum do povo, no ano de 1761-ano da separação dos governos da Índia e de Moçambique-, determinava-se que, a ilha de Moçambique e os portos e povoações de Quelimane, Sena, Tete, Zumbo, Manica, Sofala, Inhambane e Ilhas de Querimba, fossem erigidas em vilas, sujeitas ao Ouvidor de Moçambique, as quais ficariam a beneficiar de todos os privilégios concedidos às vilas do Reino.
Cabiam às Câmaras, entre outras, as seguintes funções específicas:
· administrar e defender os interesses e a justiça dos povos, e distribui-la, sem distinção de pessoas, a todos os que a tivessem a seu favor, fossem “mouros, gentios, cafres” e outros semelhantes, procurando assegurar a vida, honra e bens de todos os administrados;
· aprovar, alterar e revogar Regimentos e Posturas, que faria respeitar, que regulavam matérias como: conservação e limpeza dos largos públicos e fontes;
· defender a população contra animais nocivos;
· conceder autorizações para pesos e medidas, mercados e vendedores ambulantes;
· passar licenças para construção de novos edifícios;
· fixar de preços de venda de produtos;
· fixar feriados públicos e autorizar procissões religiosas;
· e cuidar do fomento da agricultura e outras actividades.
Embora as ditas Instruções régias fossem datadas de 19/5/1761, as Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado apenas teriam foros de vila, com câmara municipal e tribunal, três anos mais tarde, ou seja em 26 de Maio 1764.
Foi, realmente, nesta data, que teve lugar a nomeação dos oficiais para a Câmara da Vila de S. João do Ibo, a saber:
· Juiz Ordinário-Caetano Alberto Júdice
· Vereador mais velho-Manuel Carrilho
· 2º Vereador-Domingos Diogo Baptista
· 3º Vereador-Domingos de Campos
· Procurador do Concelho-António José de Miranda, que também serviria de Tesoureiro
· Escrivão-João de Meneses
[2]
Foram estes ilustres moradores na ilha do Ibo, os primeiros autarcas do território de Cabo Delgado, nomeados, entre as pessoas mais idóneas, há 243 anos.
Pelo grande interesse desta temática, voltarei, em breve, com “A Câmara das Ilhas de Cabo Delgado. Código de Posturas e alguns dos seus Regulamentos”.
Valerá a pena ler.

[1] Antigo administrador colonial. Foi presidente da C. Municipal do Ibo, entre 1969 e 1972. Antropólogo e prof universitário, continua a ser um dedicado amigo das históricas Ilhas de Querimba, que continua a investigar de maneira sistemática e a divulgar as suas inquestionáveis belezas.
[2]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 24, Doc. 21, Provisão de 26/5/1764.
Mais trabalhos de Carlos Lopes Bento:

Templos e Espaços Sagrados das Ilhas de Querimba:

Quem é o Dr. Carlos Lopes Bento ? aqui

1/14/14

MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL - NOTAS SOBRE ALGUMAS DAS SECULARES MANUFACTURAS DAS ILHAS DE QUERIMBA OU DE CABO DELGADO

- Lisboa, Carlos Lopes Bento, 13 de Janeiro de 2014. Em memória e com saudade, a minha querida Esposa Maria Augusta, que Deus chamou deste Mundo faz hoje 13 meses.
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Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Janeiro de 2014. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

4/23/14

MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL - OBSERVAÇÕES NA BAÍA DE TUNGUE, NO CABO DELGADO E NO RIO ROVUMA, NO ANO DE 1888. UM BREVE RELATO.


- Lisboa, Carlos Lopes Bento, 16 de Abril de 2014.


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    1/16/12

    LEMBRANDO OS ÚLTIMOS ANOS DA ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA NO CONCELHO DO IBO - 1971

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    MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL
    LEMBRANDO OS ÚLTIMOS ANOS DA ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA NO CONCELHO DO IBO - Ano de 1971
    (1969-1974)
    Por Carlos Lopes Bento - Doutorado em História dos Factos Socias pelo ISCSP, da U T Lisboa. Antigo presidente da Câmara Municipal do Ibo. Antropólogo. Tesoureiro da S G de Lisboa.
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    7/22/11

    O Curandeiro N'Kanga entre os Wamwuani do IBO

    Trabalho do Dr. Carlos Lopes Bento* que pretende dar a conhecer parte do profundo saber médico-religioso dos curandeiros na sociedade tradicional mwani da Ilha do Ibo, pertencente ao Arquipélago das Quirimbas em Cabo Delgado - Moçambique, apresentado em 16 de Dezembro de 2003, no Seminário “Perspectiva Antropológica das Práticas e Conceitos Tradicionais de Saúde”, realizado na Sociedade de Geografia de Lisboa, organizado pela Secção de Antropologia da mesma Sociedade.


    (Use as 'ferramentas' disponibilizadas acima pelo 'Issuu' para ampliar e ler).
    Alguns trabalhos do Dr. Carlos Lopes Bento publicados neste blogue
    Link - O Curandeiro N'Kanga entre os Wamwuani do IBO
    • *Carlos Lopes Bento - Doutor em Ciências Sociais, especialidade História dos Factos Sociais, Licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo ISCSP, UTL e professor universitário. Faz parte da Direcção da S.G.Lisboa, desempenhando as funções de tesoureiro. É antropólogo e foi antigo administrador dos concelhos dos Macondes, do Ibo e de Porto Amélia (Pemba) na época colonial. Publicação neste blogue cedida e autorizada pelo autor.

    3/15/12

    LEMBRANDO OS ÚLTIMOS ANOS DA ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA NO CONCELHO DO IBO - 1973

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    MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL
    LEMBRANDO OS ÚLTIMOS ANOS DA ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA NO CONCELHO DO IBO - Ano de 1973
    (1969-1974)
    Por Carlos Lopes Bento - Doutorado em História dos Factos Socias pelo ISCSP, da U T Lisboa. Antigo presidente da Câmara Municipal do Ibo. Antropólogo. Tesoureiro da S G de Lisboa.
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    • LEMBRANDO OS ÚLTIMOS ANOS DA ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA NO CONCELHO DO IBO - 1970
    • LEMBRANDO OS ÚLTIMOS ANOS DA ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA NO CONCELHO DO IBO - 1971
    • LEMBRANDO OS ÚLTIMOS ANOS DA ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA NO CONCELHO DO IBO - 1972

    1/04/12

    LEMBRANDO OS ÚLTIMOS ANOS DA ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA NO CONCELHO DO IBO - 1970

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    MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL
    LEMBRANDO OS ÚLTIMOS ANOS DA ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA NO CONCELHO DO IBO
    (1969-1974)
    Por Carlos Lopes Bento - Doutorado em História dos Factos Socias pelo ISCSP, da U T Lisboa. Antigo presidente da Câmara Municipal do Ibo. Antropólogo. Tesoureiro da S G de Lisboa.

    6/23/12

    MARCOS RELEVANTES DA HISTÓRIA DAS ILHAS DE QUERIMBA OU DE CABO DELGADO - O CASO PARTICULAR DA VILA DE SÃO JOÃO DO IBO

    (Clique na imagem para ampliar - Origem da imagem)

    Contribuição para as comemorações do 251º aniversário da Vila do Ibo (Cabo Delgado – Moçambique), em 24 de Junho de 2012 de autoria do Dr. Carlos Lopes Bento, antigo Administrador do Concelho, Presidente da Câmara Municipal do Ibo, entre 1969 e 1972, antropólogo, professor universitário e Diretor Tesoureiro da Sociedade de Geografia de Lisboa.
    Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Junho de 2012. Só permitida a cópia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos. 

    5/30/12

    Relendo - O Curandeiro N'Kanga entre os Wamwuani do IBO

    Trabalho do Dr. Carlos Lopes Bento* que pretende dar a conhecer parte do profundo saber médico-religioso dos curandeiros na sociedade tradicional mwani da Ilha do Ibo, pertencente ao Arquipélago das Quirimbas em Cabo Delgado - Moçambique, apresentado em 16 de Dezembro de 2003, no Seminário “Perspectiva Antropológica das Práticas e Conceitos Tradicionais de Saúde”, realizado na Sociedade de Geografia de Lisboa, organizado pela Secção de Antropologia da mesma Sociedade.
    (Click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)

    *Carlos Lopes Bento - Doutor em Ciências Sociais, especialidade História dos Factos Sociais, Licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo ISCSP, UTL e professor universitário. Faz parte da Direcção da S.G.Lisboa, desempenhando as funções de tesoureiro. É antropólogo e foi antigo administrador dos concelhos dos Macondes, do Ibo e de Porto Amélia (Pemba) na época colonial. Publicação neste blogue cedida e autorizada pelo autor.
    Alguns trabalhos do Dr. Carlos Lopes Bento publicados neste blogue
    Clique nas imagens acima para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue ForEver PEMBA em Maio de 2012. Todos os direitos reservados. Só é permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

    11/28/08

    Retalhos da História de Cabo Delgado: A Ilha do Ibo - Imprecisões comentadas pelo Dr. Carlos Lopes Bento, parte 4.

    O ForEver Pemba vem publicando há algum tempo com muita satisfação, tentando contribuir para que a verdadeira História de Moçambique seja conhecida com isenção e limpa de cores políticas inconvenientes ou parciais, dividido em post's periódicos, trabalho do Capitão-Tenente da Marinha Portuguesa Adelino Rodrigues da Costa escrito em seu livro "As Ilhas Quirimbas - Uma síntese histórico-naval sobre o arquipélago do norte de Moçambique", edição da Comissão Cultural da Marinha Portuguesa.

    O último post de 13/11/08, "Retalhos da História de Cabo Delgado: A Ilha do Ibo." mereceu por parte do Dr. Carlos Lopes Bento, antropólogo e prof. universitário, profundo conhecedor do Arquipélago das Quirimbas além de Amigo e colaborador deste blogue radicado em Lisboa, o seguinte complemento que visa somar informações e continuamos daqui:

    PARA A HISTÓRIA DAS FORTIFICAÇÕES DE CABO DELGADO, MOÇAMBIQUE
    Por Carlos Lopes Bento(Antropólogo e professor universitário)

    Continuando...
    ... ...haver a preocupação de confirmar ou desmentir os factos que serviram de base aos seus trabalhos, aceitando-os sem grandes cuidados de crítica e de análise, como verdadeiros.
    Estes são alguns dos dados, produto de uma investigação aprofundada sobre as fortificações da Ilhas de Querimba, sujeitos a alterações sempre que novas pesquisas os infirmem.
    Julgo que está justificada a sua divulgação.

    BIBLIOGRAFIA
    ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO
    * Códice 1310 - Registo de Instruções (...) e de todas as cartas e mais papéis de serviço que este governo escreveu para os portos de Sena, Quelimane, Sofala, Inhambane, Ilhas de Cabo Delgado e Goa (1753-1756), p.p. 135 e segts..
    * Códice 1312 - Sinopse das nomeações e promoções da Administração Civil e Militar (1753-1761).
    * Códice 1321 - Copiador de Cartas (1760-1767).
    * Códice 1322 - Copiador de Cartas (1760-1778).
    * Códice 1352 - Registo dos termos de posse, cartas e ordens do Cap. Gen. de Moç. para o Cap.-Mor das Ilhas (1768-1796).
    * Códice 1355 - Registo de portarias, patentes, provisões, cartas de sesmaria, alvarás e alguns treslados de bandos.
    * Códice 1427 - Registo de correspondência com as Ilhas de Cabo Delgado (1828-1848), p.p. 161.
    * Códice 1474 - Registo do termo de criação da Alfândega e Alvará dos direitos da mesma.
    * Códice 1475 - Livro dos registos oficiais do feitor das Ilhas de Cabo Delgado e Balanço Anual da sua receita e despesa (1787-1810), p.p. 170.
    * Códice 1477 - Registo do Regimento da Alfândega e de correspondência oficial (1785-1817).
    * Códice 1478 - Registo de correspondência oficial do Cap. Gen. de Moç. enviada aos capitães comandantes das Ilhas de Cabo Delgado (1786-1821), p.p. 170.
    * Documentação Avulsa de Moçambique - 2ª Secção


    Manuscrita
    Nº 513 - Plano e perfil da Fortaleza que o IIImº e Exmo. Snr. Governador, Capitão General de Mossambique, António Manuel de Melo e Castro, mandou fazer na Ilha do Ibo, Capital das de Cabo Delgado, que dezenhou por ordem do mesmo Snr. o Cappitão da Primeira Companhia de Granadeiros da Praça de Mossambique António José Teixeira Tigre (c. 1791).
    Nas 524-525 - Planta do forte velho da Ilha do Oybo, Capital das de Cabo Delgado/Planta A (tem legenda, c. 1791).
    Nº 560 - Planta/Da Fortaleza/De São João da Ilha/do Oibo, com Legenda/levantada em Maio de 1817/Pelo Capitão de Artilharia/António Francisco/de Paula e Hollanda Cavalcanti. [Petipé de] 30 braças [e de] "30 pés"; D. 367x236; MS; Color; Av.


    Impressa
    Nº 181 - Planta do Forte Velho da Ilha do Ibo, Capital de Cabo Delgado. 0,245x0,390, colorida. Ver Ofício do Governador António Manuel de Melo e Castro, datado de Moçambique, 22/8/1791. Enc. VIII.
    Nº 183 - Planta da Fortaleza de São João da Ilha do Ibo. Levantada em 1817, pelo Capitão de Artilharia António Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti. 0,368x0,495, colorida.
    Nº 184 - Planta da Fortaleza de São João do Ibo das Ilhas de Cabo Delgado. Tirada em 6/7/1831 e oferecida à Correcção do Governador e Capitão General da Capitania de Moçambique Paulo José Miguel de Brito. 0,330x0,330.

    NOUTROS ARQUIVOS E BIBLIOTECAS
    BOCARRO, António - "Descrição das Ilhas de Querimba". In Fortalezas Portuguesas de África, B.N., Códice 11057, fls. 12 e 13.
    BOTELHO, José Justino Teixeira - "O Naturalista Manuel da Silva e as suas Excursões Científicas a Moçambique nos Fins do Século XVIII". In Separata do Boletim da Segunda Classe da Academia das Ciências de Lisboa. Coimbra, 1927.
    - "A Primeira Carta Orgânica de Moçambique". In Boletim da Academia das Ciências de Lisboa. Lisboa, Nova Série, Vol. I, 1929-1930, Outubro, p.p. 24-32.
    - História Militar e Política dos Portugueses em Moçambique, da Descoberta a 1833. Lisboa, Centro Tipográfico Colonial, 1834, 2 Vols..
    GALVÃO, Henrique e SELVAGEM, Carlos - Império Ultramarino Português - Monografia do Império. Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1953, Vol. IV, p. 440.
    MONTEIRO, Fernando Amaro e VERIN, Pierre - "Sites et Monuments de Madagascaret de l'Océan Indian - Notes sur Ibo, Ville du Mozambique attaquée par les Sakalava". In Bulletin de Madagascar, Octobre/Novembre, 1970, nas 293 e 294, p.p. 187-189, mapa e foto.
    REGO, Jaime Daniel Leote do - Guia de Navegação do Canal de Moçambique. Lisboa, I.N., 1904.
    REIMÃO, Gaspar Ferreira - Roteiro da Navegação e Carreiras da Índia, com os seus Caminhos, e Derrotas, Sinais ... (25/3/1600), tirado do que escreveu Vicente Rodrigues e Diogo Afonso, pilotos antigos, agora novamente acrescentado, por Gaspar Ferreira Reimão ... piloto-mor destes Reinos de Portugal. Lisboa, B.N., Códice 1333, 1612 e A.G.C., 2ª Edição, Códice 1939.
    SOUSA, A. Gomes e - "As Ilhas Quirimbas". In B.S.E.M., Ano XXIX, nº 122, Maio/Junho, 1960, p.p. 127-478.
    TORRES, José de Castelo Branco Ribeiro - "Resenha Histórica do Regulado da Arimba". In Moçambique - Documentário Trimestral, nº 5, 1936, p.p. 123-127.
    - "As Ilhas de Quirimba". In Moçambique - Documentário Trimestral, nº 12, Outubro/Dezembro, 1937, p.p. 107-111.
    - "Os Portugueses e as Ilhas de Querimba". In Moçambique - Documentário Trimestral, nº 15, Julho/Setembro, 1938, p.p. 71-85.
    Moçambique- Documentário Trimestral, nº 8, Outubro/Dezembro, 1963, p.p. 83-88.
    REGO, Jaime Daniel Leote do - Guia de Navegação do Canal de Moçambique. Lisboa, I.N., 1904.
    VERIN, Pierre - "Observations Preliminaires sur les Sites du Mozambique".In AZANIA, Vol. V, Dar-es-Salam, Azania, 1970, p.p. 184-188, 1 mapa.

    1/11/07

    FORTIFICAÇÕES MILITARES DA ILHA DO IBO (parte 3).

    Pelo interesse cultural, histórico, pelo valor intelectual do autor (Carlos Lopes Bento) e porque faz parte de Cabo Delgado, transcrevo continuando o "post" de 24/Novembro/2006FORTIFICAÇÕES MILITARES NA ILHA DO IBO, MOÇAMBIQUE
    O FORTE DE SANTO ANTÓNIOPor Carlos Lopes Bento[1] - [1]- Administrador do concelho do Ibo, entre 1969 e 1972, doutorado em Ciências Sociais pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade Técnica de Lisboa,. Antropólogo e Prof. Universitário. Na continuação do trabalho anterior que teve como objecto a Fortaleza de São João Baptista, ocupar-me-ei, hoje, da última fortificação construída pelos Portugueses, na ilha do Ibo:


    O FORTE DE SANTO ANTÓNIO
    Situado a SSE da Vila, o reduto (em Kimwani rituto por corruptela) de Santo António[1],sito na extremidade da Vila e perto da praia, está assente em pedra corálica, possuindo uma construção idêntica às duas outras fortificações.
    De forma quase quadrada, mede 16,75 metros de frente e 17,35 metros de fundo, rondando a altura da muralha 1,93 metros e o parapeito 1,43 metros. No centro do forte eleva-se um baluarte com a altura de 3,5 metros, com as dimensões de 7,58 metros de frente e 7,64 metros de fundo. Deste local, onde estava um mastro destinado a içar a bandeira real, se avistavam as embarcações a grande distância e se transmitiam as ocorrências, através de sinais, à residência do Governador.

    Fig I. - O Forte de S. António, com mastro, em 1929.
    Crédito: Santos Rufino, Álbum nº8.

    A sua construção e funções.Na opinião do novo Governador das Ilhas José António Caldas, que tomou posse em 2/6/1816, as alterações efectuadas no fortim de São José pareciam não ter resolvido o problema da defesa da Capital do território, sedeada na Ilha do Ibo, que continuava a ser nula "porque a fortaleza que aqui está não defende nem a entrada do porto nem a terra, apenas pode servir para recolher uma pequena parte de indivíduos da Vila".
    De modo a minorar este grave problema e acalmar os moradores em pânico, sempre receosos de novos ataques por parte dos sakalava, aquela autoridade mandou construir, numa primeira fase, para protecção da povoação do Ibo, "três redutos de estacas e faxina, com artilharia, que cruzam os fogos de um a outro e com a fortaleza e para esse efeito tirou da fortaleza 12 peças para as guarnecer e evitar os acontecimentos de 1808 em que tudo ficou reduzido a cinzas e nem a Igreja escapou"[2].
    Não satisfeito com este novo sistema de defesa, por ser muito frágil, o Governador optou por tornar a sua construção mais sólida e definitiva.
    Como a segurança da Vila dependia de estar fortificado o passo em que se fez o reduto de Santo António, que era de estacas e de faxina[3], congemina um novo plano e informa o Capitão General ter consultado os habitantes da Vila, propondo-lhe que seria de grande utilidade e respeito fazer-se ali um forte de pedra e cal.
    Por a Fazenda Real não dispor de verbas, nem tão pouco haver autorização para a realização desta obra, a mesma população aprovou, prontamente, a diligência "concorrendo todos para esta obra"[4], que teve início imediatamente. A pedra talhada utilizada na dita obra veio de uma casa que se fez demolir, e que, no passado, havia servido de cadeia pública da Vila[5].
    A escolha da sua forma quadrada foi justificada pelo facto de ter de "defender 3 lados e outro também se precisa caso tenhamos a infelicidade do inimigo por algum descuido poder entrar"[6]. Esta pequena fortificação constituiria, nas palavras do Governador, uma flecha no intervalo da fortaleza e do forte que permitiria uma boa defesa para a ilha do Ibo, sem receio de poderem entrar os Sakalava[7].
    A nova construção foi sancionada por Moçambique que incita o Governador José António Caldas que a planificou e mandou executar, "a concluir a obra no tempo de seu Governo para glória sua e benefício público, pois sua Magestade não deixará de remunerar este serviço"[8].
    Em estado de adiantamento nos princípios do ano de 1819, viria a ser dada como acabada, nos meados desse mesmo ano, quando o dito Governador[9] terminou a sua primeira comissão.
    Ainda que custeada a construção pela população ficaram por liquidar 843 cruzados em dinheiro e 40 alqueires de milho gastos no pagamento de pedreiros e serventes cativos, produto proveniente do rendimento da Alfândega, não remetido a Moçambique, mas, ilegalmente, depositado, por ordem do Governador, na mão de um particular, com o consentimento do respectivo Juiz[10]. Foi tudo o que se encontrou relativamente ao custo do forte de Santo António.
    No frontispício deste pequeno forte encontra-se uma lápide cujos dizeres: "MANDADO FAZER EM 1847 POR T. V. N. FERRARI, GOV. DESTAS ILHAS", não estão de acordo com a realidade e terão induzido em erro muitos dos estudiosos(Teixeira Botelho, Gomes e Sousa, Ribeiro Torres, Leote de Rego, Amaro Monteiro e Pierre Verin, entre outros) que lhe dedicaram alguma atenção[11]. Em 1847 ter-se-ia procedido a grandes reparações, mas não à sua construção de raiz, realizada 30 anos antes, aproveitando-se o Governador Ferrari do facto para se glorificar e perpetuar a sua memória.
    As discrepâncias de datas constatadas, relativamente às três fortificações construídas na ilha do Ibo, devem-se, principalmente, à falta de consulta, sistemática, das principais fontes documentais fidedignas( primárias e secundárias) e, ainda, ao facto de nem sempre haver a preocupação de confirmar ou desmentir os factos que serviram de base aos seus trabalhos, aceitando-os como verdadeiros e sem grandes cuidados de crítica e de análise.

    Fig.II- O forte em 1972.
    Crédito: Carlos Bento

    A manutenção em estado razoável destas três obras fortificadas da ilha do Ibo continuava a preocupar as autoridades do Ibo, chegando mesmo a propor-se[12] que ao ajudante da Praça de São João deveria caber também as funções de conservador dos outros dois fortes.
    As três fortificações acabadas de examinar, voltadas, essencialmente, para desenvolver e defender os interesses de Coroa portuguesa e dos seus representantes em Moçambique e, ainda, dos moradores das Ilhas pertencentes a uma classe social privilegiada, viriam, simultaneamente, a influenciar as estruturas sócio-culturais das várias formações sociais em contacto.
    Pela primeira vez surgiram, na Ilha do Ibo, obras públicas, com carácter definitivo, que exigiam mão-de-obra diferenciada e abundante, trabalho assalariado, livre e escravo, que, viria a ter repercussões, quer a nível da sociedade escravocrata, quer da comunidade aldeã e das suas estruturas políticas, económicas e sociais, provocando novas clivagens sociais, novas formas de relacionamento e novas solidariedade sociais.
    Contudo, face a novos condicionalismos geopolíticos, foram as mesmas, pouco a pouco, perdendo as principais funções, anteriormente referenciadas, que estiveram na base da sua edificação, passando a desempenhar outras como resultado da imposição de novas estruturas político-administrativas.
    Embora com outras funções, estes bastiões da secular presença portuguesa não deixaram, no entanto, dadas as suas deficiências de construção, de continuar a criar consecutivos problemas de conservação, exigindo, para se manterem de pé, constantes reparações, nem sempre realizadas a tempo, e avultadas despesas poucas vezes disponíveis.
    Como reconhecimento da sua grande importância na defesa e consolidação do domínio português nas Ilhas e terras adjacentes, constantemente ameaçado por forças inimigas que delas se queriam apoderar e pelo papel que desempenharam em relação ao restante espaço territorial moçambicano, as autoridades coloniais portuguesas, consideraram-nas, por Portaria de 3/4/1943, monumentos nacionais, deixando-as, à data da independência de Moçambique, em bom estado de conservação, constituindo já, então, importantes factores de atracção turística[13].
    Durante os seus anos de existência, estes pontos fortificados da ilha do Ibo constituíram, conforme as circunstâncias, tanto de locais de defesa e protecção, no caso de ataques inimigos, como de instrumentos de coacção e de repressão, especialmente, dos elementos da população mais rebeldes à presença portuguesa e aos seus objectivos, valores e símbolos, considerados, ao tempo, como de imposição legítima e de reconhecimento internacional.
    Actualmente, são obras militarmente insignificantes. Ainda que tenham perdido as suas primitivas funções, elas constituem complexos de cultura indispensáveis para compreender a evolução sócio-cultural das múltiplas comunidades humanas que se originaram, desenvolveram e transformaram numa vasta área, que se estende do Cabo da Boa Esperança até ao Oriente.
    São um património cultural pertença de todos os cidadãos do Mundo, que é necessário conservar e doar às futuras gerações da Humanidade[14].
    Serão, futuramente, de extraordinária importância no desenvolvimento turístico das Ilhas, que se avizinha e começa, no presente, a ser uma realidade palpável
    Os meus sinceros agradecimentos ao grande amigo Jaime Luís Gabão pelo trabalho gráfico, que muito valorizou a presente análise e pela sua publicação.
    Continuarei com o património construído, de carácter sagrado, levantado pela administração colonial portuguesa, especialmente, nas ilhas do Ibo de Querimba.


    BIBLIOGRAFIACartografia manuscrita do AHU
    Nº 513 - Plano e perfil da Fortaleza que o IIImº e Exmo. Snr. Governador, Capitão General de Mossambique, António Manuel de Melo e Castro, mandou fazer na Ilha do Ibo, Capital das de Cabo Delgado, que dezenhou por ordem do mesmo Snr. o Cappitão da Primeira Companhia de Granadeiros da Praça de Mossambique António José Teixeira Tigre (c. 1791).
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    Nº 561 - Planta/de Hüa parte da Costa/da Capitania de Cabo Delgado/Na África Oriental, compreendendo uma parte da costa de Querimba e a/Ilha do Oibo, da dita Capitania, cõ/a Discripção da sua barra tirada em Mayo/de 1817 pelo Capitão de Artilharia António/Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti (com legenda, D. 778x610mm, Color, Av).
    Nº 566 - Planta da Fortaleza de São João do Ibo das Ilhas de Cabo Delgado, tirada em 6 de Julho de 1831/oferecida a correcção do IIImº e Exmo. Snr. José Miguel de Brito Governador e Capitão General/da Capitania de Moçambique. Petipé de 32 paços, de 24 polegadas cada hum"; D. 450x388 mm; MS; Av.


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    Nº 183 - Planta da Fortaleza de São João da Ilha do Ibo. Levantada em 1817, pelo Capitão de Artilharia António Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti. 0,368x0,495, colorida.
    Nº 184 - Planta da Fortaleza de São João do Ibo das Ilhas de Cabo Delgado. Tirada em 6/7/1831 e oferecida à Correcção do Governador e Capitão General da Capitania de Moçambique Paulo José Miguel de Brito. 0,330x0,330. Av.
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    Dicionários e Enciclopédias


    A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. XIII.


    Na NETBENTO, CARLOS Lopes,
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    Situação Colonial, Resistências e Mudanças(1742-1822)
    Memórias das Ilhas de Querimba. Transformações no Bairro Rururbano da Ilha do Ibo(1969-1972):
    Mogincual, suas Terras e Gentes
    Achegas Para a sua Etno-Socio-Historia:
    [1]- A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. XIII, p. 452, apresenta uma figura deste forte com a denominação de "Forte de São João Baptista".
    [2]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 151, Doc. 101, Carta nº 541, de 3/12/1816, do Cap. das Ilhas José António Caldas para o Cap. Gen..
    [3]- Idem, Códice 1478, fls. 268v, Carta de 11/3/1818, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. Nesta data estavam aí instaladas 7 peças de artilharia.
    [4]- Idem, Ibid, Cx. 160, Doc. 42, Carta nº 584, de 9/11/1818, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen., também no Códice 1478, fls. 276. Nesta data a obra já estava principiada e já tinha cheios os alicerces de 2 cortinas.
    [5]- Idem, Ibid, Cx. 160, Doc. 42, Carta nº 612, de 10/11/1819, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [6]- Idem, Ibid, Carta nº 584, cit...
    [7]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 161, Doc. 74, Carta nº 601, de 20/2/1819, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.
    [8]- Idem, Códice 1478, Carta de 5/12/1818, fls. 278, do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas.
    [9]- Idem, Doc. Av. Moç., Cx. 160, Doc. 42, Carta nº 612, cit. e Códice 1485, fls. 39 e 40.
    [10]- Idem, Ibid, Carta nº 612, cit. e Cx. 168, Doc. 4, Carta nº 309, de 5/3/1820, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [11]- Inclusive o autor deste trabalho que aceitou, durante a sua estada no Ibo, os factos sem os submeter a comprovação.
    [12]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 162, Doc. 8, Carta nº 600, de 9/3/1819, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. Propõe-se então para tal desempenho o sargento da companhia.
    [13]- Durante a sua estadia nas Ilhas, o autor deste trabalho constatou que as referidas fortificações, pela sua imponência e beleza, constituíam para as muitas centenas de estrangeiros que as visitavam motivos históricos-culturais de grande admiração.
    [14]- Para mais informação consultar o cap. VIII da minha tese de doutoramento.

    11/24/06

    FORTIFICAÇÕES MILITARES DA ILHA DO IBO (parte 2).

    Pelo interesse cultural, histórico, pelo valor intelectual do autor e porque faz parte de Cabo Delgado, transcrevo continuando o "post" de 23/Agosto/2006:
    MEMÓRIAS DAS ILHAS DE QUERIMBA.
    FORTIFICAÇÕES MILITARES NA ILHA DO IBO, MOÇAMBIQUE.
    A FORTALEZA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DO IBO.
    Por Carlos Lopes Bento[1]
    Mais trabalhos de Carlos Lopes Bento aqui:
    Na continuação do trabalho anterior que teve como objecto o Fortim de S. José, ocupar-me-ei, hoje, da maior fortificação construídas pelos Portugueses na ilha do Ibo: A fortaleza de S. João Baptista.
    A sua total ruína verificada por volta de 1885, e as fracas possibilidades de defesa que oferecia o fortim de São José, como consequência da sua má e irregular construção e implantação em terreno arenoso impróprio e das despesas avultadas exigidas para a sua restauração, aconselhavam a "fazer-se antes outro forte novo em terreno melhor para segurança da mesma construção como vantajoso para a defesa dessa Ilha e sua barra do que reparar-se a ruína do velho (...) V.M. proporá a construção de um novo forte no sítio vantajoso ..."[2]. No entanto, anos mais tarde, num novo contexto geo-político, o velho forte, viria a ser reactivado.
    De acordo com os objectivos traçados, o Governador das Ilhas escolheu o local, desenhou a planta[3] e propôs a construção de uma fortaleza em forma de pentágono regular, com as oficinas que devia conter (Fig. I). Esta figura geométrica era a mais vantajosa por ser a que:
    -melhor se acomodava ao terreno;
    -ficava menos dispendiosa à Fazenda Real;
    -defendia os edifícios a construir no seu interior;
    -permitia uma posterior ampliação; e
    -protegia a Vila de "qualquer ataque de Mouros ou Macuas, que é o inimigo com quem presentemente nos defrontamos", para além de recuperar o comércio "nas mãos dos Mouros da Costa e usurpado pelos de Quiloa, Pate, Mombaça e Zanzibar"[4] e dos Europeus, especialmente, dos Franceses.
    Fig. I. Planta pentagonal; original e foto de 1972, de Carlos Bento (clique na imagem para ampliar).

    Autores como Pierre Verin e Amaro Monteiro estabelecem uma ligação directa entre a construção desta fortaleza e as incursões dos Sakalava[5] que tiveram lugar nas costas de África a partir de 1785 e, nas Ilhas de Querimba, desde de 1800. É possível que a presença destes povos de Madagascar contribuísse para acelerar o processo, mas, de acordo com as evidências factuais atrás apresentadas, dificilmente, se poderá compreender que constituísse o principal factor responsável.
    Entre as obras a construir no seu interior contava-se quartéis com 27 palmos, que permitiriam abrigar 120 praças e os seus oficiais e sargentos.
    A cisterna ou poço que deveria ser construída no seu interior, como era habitual, e havia sido recomendado por Moçambique, não foi incluída na planta então traçada "por se poder fazer fora um depósito para as águas da chuva, a pouca distância do forte, no lugar que pretendo abrir uma pedreira na qual pode ser que apareça água nativa, mas quando não apareça, sempre a cavidade que se fizer pode servir para cisterna que se fará (...) e se lhe pode encaminhar as águas dos terrados dos edifícios do mesmo forte e não é defeito grave ficar fora a água sendo em distância de tiro de mosquete, como insinua Mrs. Blon (...) e Cavaleiro de Ville"[6].
    Esta informação do Governador das Ilhas é clara e esclarecedora e vem acabar com certas dúvidas levantadas por alguns estudiosos portugueses que se têm debruçado sobre este assunto e procurado, sem êxito, no interior desta obra defensiva a cisterna para abastecimento de água. Recordam-se, entre outros, os historiadores Alberto Iria e Alexandre Lobato que, nas visitas à mesma fortificação, afirmavam estarem convictos da existência de tal reservatório, sendo necessário encetar pesquisas no local para a encontrar.
    Tarefa que, na verdade, não seria fácil, pois em sua substituição, construiu-se um poço, a cerca de 80 metros da fortaleza, ainda existente em 1974, para o qual, no período dos ataques dos Sakalava e com receio da sua água, considerada, então, a melhor da ilha, ser envenenada pelo inimigo, se recomendava a construção de 2 muros, com 2 palmos de largura e 10 de altura[7], que fariam a sua ligação com a dita fortaleza, que via assim aumentar a sua segurança e defesa. Não existem vestígios visíveis destes muros, sendo bem provável, dada a continuação das pressões dos piratas malgaxes, que tivessem sido construídos. Também é pouco provável que alguns estejam enterrados, considerando a pouca espessura do solo e ser frequente o aproveitamento da pedra de obras arruinadas em novas edificações. Mas a última palavra caberá à Arqueologia.
    A envergadura e a importância de uma construção como esta exigiam um conjunto de trabalhos preliminares indispensáveis ao seu bom andamento e completo êxito. Para além da necessidade de pessoal especializado a recrutar em Moçambique e de serventes a contratar nas Ilhas e do respectivo pagamento e alimentação, mandou-se, localmente, extrair e talhar pedra de coral, cortar paus de mangal e outras madeiras, e fabricar cal. Para suportar todos estes empreendimentos seriam necessárias avultadas despesas, bem difíceis de obter considerando o estado decadente das finanças de Moçambique. Para ultrapassar estas dificuldades imaginou-se um processo expedito e fácil, cujos lucros permitiriam custear, em 50%, o total das despesas a realizar[8]. Bastaria para o efeito pagar o pessoal a fato, mantimento e bebida, aos quais seria atribuído um valor muito acima do seu preço de custo.
    As obras principiaram em 25/5/1789[9] com a ajuda de oficiais, cabouqueiros e serventes, vindos de Moçambique e de "serventes e gente de picareta que eram soldados, adimos ou cafres forros, e escravos de alguns moradores e do dito Comandante Tigre"[10], fazendo-se o seu pagamento em milho, aguardente, fato e dinheiro. E estavam em vias de conclusão nos finais de 1794[11], embora existam 2 lápides (réplicas) situadas sobre a porta de armas( Ver Fig II) e sobre o túnel de entrada, que apontam para data diferente. Na primeira pode ler-se: "Sendo Governador e Capitão General deste Estado o IIImo. e Exmo. Snr. António Manuel de Melo e Castro se fez esta fortaleza no ano de 1791", enquanto que na segunda: "O Capitão de Granadeiros António José Teixeira Tigre comandando estas Ilhas fez esta fortaleza no ano de 1791"

    Fig II.- Réplica da lápide colocada por cima da porta principal. Foto 1972, de Carlos Bento (clique na imagem para ampliar).

    Razões, manifestas e latentes, de ordem pessoal, profissional e política estarão estado na base deste desencontro de datas.
    Os originais das lápides encontravam-se no Museu Histórico e Militar de Lourenço Marques, hoje Maputo, inventariados sob os nas 262 e 265, respectivamente[12].
    Esta fortaleza, dedicada a São João Baptista, padroeiro da ilha do Ibo, foi construída em pedra talhada, extraída localmente[13], tendo no seu interior sido erguida uma capela militar ( Fig.III ) que, depois de ali ser colocada a imagem daquele Santo[14], foi, convenientemente, ornamentada[15].

    Fig. III. Capela militar de S. João Baptista (Clique na imagem para ampliar).

    Para além da pedra talhada, técnica já utilizada nesta costa de África, quando da chegada dos Portugueses e que teria sido difundida pelos imigrantes persas e shirazianos, também os terraços foram construídos com materiais da terra de acordo com os padrões de construção praticados pelo povo suaíli, sendo utilizados os barrotes de mangal e laca-laca vindos, por barco, da Arimba[16] e a cal fabricada na ilha do Ibo[17].
    Na impossibilidade de os recrutar localmente, onde, segundo as palavras do Governador das Ilhas[18] moravam apenas um único carpinteiro branco, menos mau se não fosse achacado e preguiçoso e um serralheiro que, além de quebrado, era achacado e cheio de usagra, deslocaram-se da ilha de Moçambique, para o Ibo vários mestres e oficiais mecânicos, alguns dos quais cativos.
    Da relação dos oficiais a embarcar para trabalharem nas obras da fortaleza do Ibo[19], constava 8 indivíduos com jornas previamente fixadas[20] de acordo com a sua classificação profissional.
    A discriminação salarial existente fazia-se com base na diferenciação social estabelecida entre trabalhadores livres e trabalhadores escravos, no caso concreto, os dois pedreiros, um de condição livre com um salário de $500 e o outro, de condição escrava, com menos 100 réis por dia.
    Exceptuando a proveniente da ilha de Moçambique, que representava uma pequeníssima percentagem em relação à sua totalidade, a mão-de-obra utilizada nesta fortaleza foi recrutada localmente, tanto na ilha do Ibo como nas outras ilhas, especialmente, nas mais próximas como Matemo e Quirimba
    Apesar da pesquisa documental exaustiva realizada, apenas foi possível encontrar dois documentos relativos a salários pagos, os quais devem pertencer ao processo de contas justificativo das despesas com a mesma obra, possivelmente, arquivado inadequadamente, perdido ou destruído. Referimo-nos ao “Resumo das férias vencidas nas obras reais da fortaleza de São João Baptista de 25 de Maio a 30 de Setembro” e ao “ Mapa geral de toda a despesa realizada nas obras reais da fortificação de São João Baptista relativas ao período entre 25 de Maio e 31 de Dezembro de 1789” [21].
    O pagamento dos salários foi feito em: cachaça, milho, fato e dinheiro.
    A análise dos dois documentos permite e ajuda-nos a conhecer aspectos sócio-culturais significativos da construção desta obra defensiva, seja, entre outros, alguns nomes de trabalhadores, local de recrutamento, condição social, religião, categoria profissional, salários diários e dias de trabalho prestados.
    No que toca ao resumo de férias, verifica-se que a quase totalidade dos nomes e apelidos dos oficiais e serventes eram de origem portuguesa, facto que confirma a utilização, especialmente, de gente forra, verificando-se a existência de alguns nomes próprios avulsos, isto é, sem sobrenome ou apelido. Apenas aparecem dois nomes, supomos, de origem mwani. Por outro lado, surgem apelidos ligados à origem étnica de trabalhador, às circunstâncias do seu nascimento ou à sua profissão.
    Ainda que tivessem, obrigatoriamente, um nome próprio de matriz portuguesa, mas sem sobrenome ou apelido, dado no acto do baptismo cristão, os trabalhadores de condição escrava, pelo seu elevado número( 108 cafres e 106 bichos), não eram identificados individual e nominalmente.
    Os jornais, como já foi referenciado, eram pagos em efeitos (milho e cachaça) e em fato e dinheiro, tendo 28,4% dos trabalhadores recebido estes e 71,6% apenas alimentação e bebida.
    Não existia uniformidade na distribuição do milho e da cachaça. Enquanto a alimentação, com excepção de um, foi fornecida a todos os trabalhadores, o mesmo já não acontecia com o fornecimento de aguardente, que não contemplava uma grande parte deles, designadamente, os serventes, talvez, devido à sua condição servil. As quantidades distribuídas, diariamente, apontam de um modo geral, para 1 canegal de milho[22] e, para os que bebiam, um copo de aguardente, fornecidos ao preço unitário de 50 réis para cada produto.
    A retribuição de uma parte do salário em milho e bebidas, e o pagamento em fato traziam óptimos lucros à Fazenda Real. Afirmava o Governador das Ilhas que
    "O milho era comprado à razão de 3 alqueires por 4 cruzados e foi dado à razão de 3 por 6 cruzados, em que sua Magestade lucra 50%, para além do acréscimo da medida, pois foi comprado por um alqueire de 40 porcelanas e vendido aos trabalhadores por outro de 32; a cachaça foi dada aos oficiais à razão de 3 cruzados o frasco custando nessa Capital menos de 2, lucra sua Magestade 50%; o fato foi dado aqui pelo preço da Feitoria, em que sua Magestade lucra também 25% pelo menos"[23].
    Também os produtos da terra eram mais baratos na capital das Ilhas do que na ilha de Moçambique - muitos deles eram provenientes delas - o que justifica os diferenciais de preços indicados para os salários. O milho custava nas Ilhas 400 réis o alqueire contra 600 réis em Moçambique e a aguardente do Brasil era comprada a 600 réis o frasco[24].
    As dificuldades de trocos "para satisfazer aos jornaleiros os quebrados dos seus vencimentos"[25], causaram alguns problemas e para os ultrapassar foi reclamada, a Moçambique, a remessa de 3 ou 4 cruzados de moedas de bazaruco ou 15 até 20 maços de velório grosso.
    No período considerado os 299 trabalhadores prestaram 4022 dias de trabalho que custaram ao erário público um total de 620$400, assim distribuído: 1691 copos de bebida no valor de 84$550; 3529 canegais de milho no montante de 171$745; cifrando-se em 364$375 o fato e o dinheiro vencidos.
    Encontra-se uma variação significativa entre oficiais e serventes não escravos e serventes escravos quanto ao número de dias de trabalho prestados entre 25 de Maio e 30 de Setembro.
    Enquanto os primeiros, num total de 85, forneceram no mesmo período e em média por trabalhador 34,2 dias, os segundos, que quase triplicavam, essa relação baixa para 5,2 dias. A explicação para este fenómeno encontra-se na estrutura e funcionamento da própria sociedade, onde os escravos tinham obrigações específicas para com os seus senhores e proprietários, quer na agricultura, caça, pesca ou comércio, quer no serviço doméstico e, apenas, quando livres dessas tarefas, poderiam ser cedidos para as obras reais.
    Enquanto novos factos não vieram desmentir esta realidade há que não enfatizar demasiado a utilização da mão-de-obra escrava na construção desta fortaleza.
    Para além das despesas com mão-de-obra há a considerar as feitas com o material necessário gasto e utilizado nas mesmas obras. No período referenciado, foram consumidas 13 arrobas e 17 arráteis de ferro, 12 arráteis de aço e 4 arrobas de cairo e usadas uma grande variedade de ferramentas, sejam alavancas, marrões, picaretas, cunhas, palmetas, esquadros, pás, enxadas, machados, serras sortidas, enxós, verrumas, martelos, formões, bigornas, fornos, limas, malhos, tarrachas, tenazes, brocas, diamantes, foles e algaratises[26], sendo de 153 a totalidade das ferramentas utilizadas[27].
    Por insuficiência de evidências factuais não há possibilidades de calcular, com inteira precisão, o custo total da fortaleza de São João Baptista. Também um cálculo aproximado, com base nos dados existentes acabados de analisar e nos anos de duração das obras, não é tarefa fácil, tendo em atenção um conjunto de factores imprevisíveis, que teriam afectado o ritmo normal das obras e de se encontram poucos registos. Há indicações seguras que, passados 4 anos após o seu início, a fortaleza estava com as paredes levantadas e na fase de enchimento, mas com dificuldades em pedra e cal, susceptíveis de paralisar as ditas obras[28].Se o ritmo das obras continuasse como o verificado em 1789 e a relação entre oficiais e serventes não sofresse desvios significativos, seria de admitir que, nos 6 anos de construção, as despesas totais poderiam atingir entre os 12 a 15 000$000, importância que deve ser considerada pouco significativa para a dimensão e complexidade da obra.
    A contribuição e participação dos diferentes estratos sociais da população local na construção da fortaleza foi variável. Ao contrário dos foreiros que não prestaram o “ajuntório” esperado pelas autoridades locais, "a gente forra do Ibo" ofereceu valiosa colaboração às obras reais, trabalhando nelas com muito afinco. Outra ajuda valiosa foi dada pelo Governador das Ilhas expressa nas palavras do seu superior hierárquico:
    Concorreu com os seus escravos para o serviço de arrancar pedra sem levar jornais alguns e fazendo com os demais trabalhadores que os vencem, os lucrarem justamente sem perderem tempo, inutilmente, para o que assiste, diariamente, a fazê-los trabalhar e, no fim de cada semana, à conferência das suas férias vencidas, para que nem estes, nem a Fazenda Real possam ser prejudicados[29].
    Esta meritória acção do Governador viria a ser contraditada e a posta em causa numa carta de um morador das Ilhas escrita a solicitação do Capitão General:
    ... a respeito da Fortaleza que V. Senhoria me fala isto melhor seria para uma devassa, porque eu não acho capacidade de contar tudo quanto nela acontecia; o que sei é que cada burro ganhava dez tostões por dia e os seus cafres burros um tostão cada um, isto é notório a todos do serviço que eles faziam. É o que posso informar V. Srª[30].
    As suspeitas contra aquela autoridade seriam confirmadas e tornaram-se realidade quando a Junta da Fazenda de Moçambique se recusou a visar as contas do feitor das Ilhas, por apresentarem irregularidades e ilegalidades de vária ordem, algumas das quais ligadas à apresentação das folhas de férias, relativas às obras da fortaleza, de que, em vez das próprias folhas, foram enviados resumos. Este procedimento levantava sérias dúvidas que era necessário esclarecer através das estruturas estabelecidas. No cumprimento das suas funções de zelador da ordem e da legalidade, o Capitão General, como atrás se referiu, mandou que fosse esclarecida a verdade através de uma Devassa, solicitando para o efeito a inquirição de "testemunhas verídicas que possam dar razão aos seus depoimentos"[31].
    Dos dois quesitos a que os inquiridos deveriam responder, o primeiro pretendia apurar a verdade "sobre a realidade das supraditas férias, averiguando se com efeito trabalharam nas Obras Reais todos os obreiros que tiveram vencimento nelas; a quem pertenciam os escravos trabalhadores; e se pelo trabalho de animais se contavam e quantos jornais de homens"[32].
    Recorda-se que para instrução do processo foi nomeado o Governador das Ilhas por o juiz ordinário ser também o feitor visado e para escrivão um oficial de patente. Iniciado em 20 de Maio de 1796, foram chamadas a depor 22 testemunhas.
    Os autos mostram ter ficado provado que o Governador Tigre empregava grande número dos seus escravos nas obras, que venciam férias diferentes. Uns, os escravos ladinos, que faziam algum milando, os castigava mandando-os trabalhar de picareta, ao preço de 3 tostões por dia (300 réis). Outros, os cafres, de 25 a 30, e negros, em número de 40, que mandava comprar à Macuana, Ilhas e suas morimas[33], os tinha de assistência à fortaleza, vencendo 1 tostão por dia. Também os seus cativos ladinos venciam jornais pelo trabalho de irem buscar lenha, todas as tardes, ao mato para consumo da sua habitação. Para além da utilização dos escravos, empregava nas obras 4 burros, sua pertença[34] que venciam 40 tostões por dia (10 cada), o que correspondia ao trabalho de 10 negros.
    Os factos demonstram que nem sempre as autoridades tiveram em vista o interesse do Rei e dos povos que estavam sob a sua autoridade, aproveitando-se do exercício do poder para colher rendosos benefícios pessoais[35].
    A fortaleza, mal acabada de concluir, devido às deficientes condições de construção e às impiediosas invernadas, foi dada como arruinada. A primeira derrocada surgia na invernada de 1798[36], seguindo-se outras, sucessivamente, nos anos seguintes.
    Logo se reclamou a verba necessária para a sua reconstrução, que tardou e a concedida era insuficiente para suportar as pesadas despesas, indispensáveis à sua funcionalidade.
    Em 1802, o estado geral da fortaleza era desanimador e de completa ruína, tendo então sido feitas pequenas reparações e solicitadas a Moçambique providências[37] para solucionar tão grave problema.
    As pressões e os sucessivos e destruidores ataques dos Sakalava, iniciados em 1800[38], aumentaram a inquietação e o mal-estar dos moradores e das autoridades do território.
    Em o cumprimento de ordens emanadas do Reino (Carta régia de 6/4/1805) e de Moçambique (Carta de 5/4/1805), são convocados todos os colonos das Ilhas com a finalidade de colaborarem na subscrição pública aberta pelo Senado da Câmara, cujos fundos se destinariam ao conserto geral da fortaleza, já em curso.
    Atendendo à notória pobreza dos seus habitantes, as ofertas tiveram um valor diminuto, arrecadando-se 1309 cruzados, para além do serviço pessoal oferecido por muitos daqueles que não dispunham de fundos. Foram 44 os ofertantes, cabendo as maiores dádivas ao Governador, com 150 cruzados, aos vogais da Câmara, com 80, ao mestre de campo, com 60, ao capitão-mor, com 50, oferecendo os restantes quantias entre 10 e 30 cruzados[39]. Os quantitativos doados reflectiam, claramente, a estratificação social existente e a posição social que cada um ocupava no seio da sociedade colonial.
    Para aumentar a defesa e a segurança da Vila e da população propõe-se a construção, junto à praia, de 2 pequenos muros com 20 passos de comprimento, onde se poderiam acolher, amparados pela artilharia, mais de 1 500 pessoas[40].
    As obras e a subscrição pública realizadas não resolveram os problemas da conservação da mesma fortaleza que, nos anos seguintes, continuou especada, caindo algum dos seus terraços[41], chegando a capela de São João Baptista a servir de armazém.
    Da vistoria realizada pelo juiz ordinário, feitor e escrivão da Fazenda Real, aos seus quartéis constatou-se a completa ruína de todo o complexo e sendo avaliadas as reparações necessárias em 2 000 cruzados, para cal, madeira, obreiros e alimentação para os cativos[42] dos moradores.
    Ao construir-se esta fortaleza tinha-se pensado nos ataques dos inimigos vindos do mar, não se imaginando que um dia seria necessária também a defesa das ameaças provenientes da própria ilha do Ibo.
    Aconteceria com os Sakalava que, por terra, tentaram, mais de uma vez, tomá-la de assalto. Com receio de novas investidas foi construído um fosso junto e em volta deste bastião defensivo[43] que seria desnecessário por, pouco tempo depois de ser levantado, terem terminado, definitivamente, os ataques daqueles piratas do mar. Também se mandaram limpar os terrenos anexos às duas fortificações e derrubar palhotas e quintais de laca-laca que se encontravam perto da fortaleza[44], que impediam uma visão correcta da Vila.
    Demorando a NO da Vila do Ibo, assenta em rocha firme, junto ao mar, mede 3,80 metros de altura e 1,36 metros de parapeito e cada uma das 5 estrelas do pentágono tem 50 metros de extensão. A sua área total é de 6400 metros quadrados.
    Nos anos finais da sua construção[45], a "nova fortaleza", juntamente, com o "forte velho" dispunham das seguintes peças de artilharia: 2 de calibre 2; 6 de cal. 3; 3 de cal. 4; 1 de cal. 6; 8 de cal. 8; 2 de cal. 9; e 1 de cal. 12; num total de 23. Como pertenciam ao "forte velho" 10 peças restavam para a Fortaleza de São João Baptista 13, algumas delas em mau estado por já terem sido usadas em navios.
    Em 1810 estava equipada artilharia de vários calibres[46] constantes do QUADRO VIII-C.
    Nos meados do século XIX estava guarnecida com 15 peças de artilharia, de ferro e 2 de bronze[47] e no início do último quartel da mesma centúria tinha montadas 13 peças de ferro e 1 de bronze[48].
    Nos últimos anos do regime colonial português serviu de prisão política e de local de tortura e de morte(Fig.IV).

    Fig. IV- Fortaleza servindo de prisão politica. Foto de Carlos Bento de 1971 (Clique na imagem para ampliar)

    No futuro constituirá uma excelente oportunidade para o desenvolvimento do turismo da ilha do Ibo e demais ilhas do arquipélago das Illhas de Querimba ou de Cabo Delgado.
    [1]- Administrador do concelho do Ibo, entre 1969 e 1972, doutor em Ciências Sociais pelo ISCSPda UTL e Prof. Universitário.
    [2]- A.H.U., Códice 1478, Carta de 2/5/1789, do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas.
    [3]- Idem, Doc. Av. Moç., Cx. 63, Doc. 17, Carta de 20/5/1792, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen., em que se dá conta que foi encarregado de tirar plantas da fortaleza nova e da Ilha do Ibo, o Capitão Carlos José dos Reis e Gama, plantas que não se encontraram.
    [4]- Idem, Ibid, Cx. 58, Doc. 36, Carta de 17/7/1789, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [5]- VERIN, 1972, op. cit., p. 81 e MONTEIRO, F. Amaro e VERIN, Pierre, "Sites e Monuments de Madagascar et de l'Ocean Indien", In Bulletin de Madagascar, Oct.-Nov., 1970, p. 294.
    [6]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Carta de 30/5/1792, cit..
    [7]- Idem, Códice 1478, Carta de 12/11/1808, fls. 215v, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [8]- A.H.U., Códice 1478, Carta de 17/7/1789, cit..
    [9]- Idem, Ibid, Cx. 58, Doc. 31, Mapa Geral de toda a defesa realizada de 25 de Maio a 28 de Dezembro de 1789, remetido a Moçambique com a Carta de 16/7/1789 e Cx.59, Doc. 54, Carta de 6/10/1789 que enviou a Relação de Oficiais e Serventes.
    [10]- Idem, Ibid, Cx. 74, Doc. 7, Carta de 9/5/1789, do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas e Autos de Inquirição de Testemunhas.
    [11]- Idem, Ibid, Cx. 70, Doc. 10, Carta de 14/1/1795, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen., afirmando nela que as obras estavam quase prontas e a tropa para lá se mudou. Ver também Cx. 67, Doc. 71, Carta de 27/5/1794, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen. , em que se dão indicações sobre as obras em curso. Em 1798, dois dos pedreiros gentios regressavam definitivamente a Moçambique (Cx. 80, Doc. 42, Carta nº 241, de 23/2/1798). Nesta data também dois pedreiros fugidos de Moçambique são tirados aos Mouros da Costa e foram enviados para a Amisa.
    [12]-. Ver OLIVEIRA, Octávio Rosa, Boletim da Sociedade de Estudos, Vol. XXXV, nas 114-145, 1965, fls. 222.
    [13]- A.H.U., Idem, Cx. 58, Doc. 37, Carta de 17/7/1789, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. Estes factos desmentem as afirmações dos que defendem ter vindo a pedra do Reino, servindo de lastro aos navios. Talvez uma pequena parte.
    [14]- Idem, Ibid, Cx. 72, Doc. 91, Carta de 20/12/1795, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [15]- Idem, Códice 1478, fls. 65 e 65v, Carta de 24/12/1795 de Moçambique que inclusa manda a Relação dos ornamentos que vão para a dita capela, a referenciar no próximo capítulo.
    [16]- A.H.U., Doc. Av. Moç, Cx. 66, Doc. 9, Balanço da Feitoria do Ibo, de 31/12/1793.
    [17]- Idem, Ibid, Cx. 58, Doc. 37, Carta de 17/7/1789, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [18]- A.H.U., Doc Av. Moç., Cx. 57, Doc. 16, Carta para o Cap. Gen., datada de 20/2/1789.
    [19]- A.H.U., Códice 1478, fls. 30v, Carta de Serviço de 11/5/1789, do Cap. Gen.. Os cativos eram propriedade particular. Uma parte destes trabalhadores chegou ao Ibo em 6/10/1789 (Cx. 59, Doc. 56).
    [20]- Os salários praticados na ilha de Moçambique, com excepção dos cabouqueiros (400 réis), eram mais elevados: oficiais de carpinteiro, pedreiro ou de ferreiro $500 e outros oficias e serventes $200. Ver os preços dos viveres, efeitos e mão-de-obra na Capital do Estado, na Relação do Almoçatil de Moçambique, de 29/7/1794 (Doc. Av. Moç., Cx. 68, Doc. 40).
    [21] - Ver AHU Doc Av. Moç., Cx 59, Doc.54, de 5/10/1789 e Cx. 58, Doc. 31, sem data, que aparece, incorrectamnte, com a correspondência de 16/7/1789.
    [22]- Lembra-se que esta medida valia 1/15,999 do alqueire, isto é, 1 alqueire valia cerca de 16 canegais. Para os cereais 1 panja, igual a 1,5 alqueires de Portugal, equivalia a 12 canegais e a 6 panos.
    [23]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 59, Doc. 58, Carta de 12/10/1789, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. A porcelana era uma medida já referida ao tratar-se dos "Meios de Pagamento".
    [24]- Idem, Ibid, citada Relação de Preços.
    [25]- Idem, Ibid, Cx. 59, Doc. 61, Carta de 17/10/1789, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [26]- Tubos de ferro fundido, por onde passa o ar que vai para o fole na forja do ferreiro.
    [27]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 58, Doc. 17, Carta de 11/7/1789, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. Este material relacionado não aparece contabilizado.
    [28]- Idem, Ibid, Cx. 65, Doc. 23, Carta nº 101, de 7/10/1793, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [29]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 65, Doc. 45, Folha de Serviços do Governador António José Teixeira Tigre.
    [30]- Idem, Ibid, Cx. 60, Doc. 1, de Janeiro de 1790 de Manuel António Carrilho Juiz das Ilhas para o Ouvidor de Moçambique. Os asininos eram frequentes nas Ilhas e neste caso particular terão servido para transporte de materiais, especialmente, pedra e cal, do local da preparação para a obra e de entulho para a mesma.
    [31]- Idem, Ibid, Cx. 74, Doc. 7, Carta do Cap. Gen. para o Cap. das Ilhas, datada de 9/5/1796. O Feitor era Nicolau Luís da Graça.
    [32]- Ao outro quesito já se referiu quando se tratou do comércio dos franceses e da escravatura.
    [33]- Há uma testemunha que afirma ter, o dito Governador, 150 escravos sua propriedade, no período entre a chegada ao Ibo e a sua venda aos Franceses ou remessa para Moçambique. Alguns eram de etnia makhwa e ajawa ou yao.
    [34]- Possuía 16 ou 17 burros que mandou comprar à ilha de Pate.
    [35]- Uma das testemunhas ouvira dizer que o Capitão General afirmava que quem quisesse aprender a ganhar dinheiro perguntasse ao Governador Tigre, que era um mestre na matéria.
    [36]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 81, Doc. 28, Carta nº 246, de 6/6/1798, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [37]- Idem, Códice 1478, Carta de 26/2/1802, fls. 173, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [38]- Nesta data, como foi assinalado no princípio do presente capítulo, propunha-se a construção de um reduto com 4 peças de artilharia na ilha de Amisa (Cx. 58, Doc. 11, Carta nº 266, de 13/2, cit.).
    [39]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 114, Doc. 51, Carta nº 352, de 30/1/1806, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen.. A Relação dos Ofertantes tem a data de 1/12/1805.
    [40]- Idem, Códice 1478, Carta de 12/11/1808, fls. 215v, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [41]- Idem, Doc. Av. Moç., Cx. 134, Docs. 1 e 2, Carta de 23/2/1813 e Cx. 144, Doc. 55, Carta de 11/6/1813, e Códice 1478, Carta de 12/3/1814, fls. 236v, todas do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [42]- Idem Ibid, Cx. 168, Doc. 4, Carta nº 309, de 5/3/1820, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [43]- Idem, Ibid, Cx. 153, Doc. 86, Carta de 14/6/1817, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [44]- A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 134, Doc. 34, Carta nº 434, de 17/11/1810, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [45]- Idem, Ibid, Cx. 66, Doc. 35, Relação das Peças de Artilharia existente em 30/1/1794. Ver também o Balanço da Feitoria de 31/12/1794, Cx. 66, Doc. 9 e Cx. 76, Doc. 5, Carta nº 180, de 1/10/1796, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [46]- Idem, Ibid, Cx. 133, Doc. 48, Carta nº 440, de 31/7/1810, do Cap. das Ilhas para o Cap. Gen..
    [47]- ROMERO, J., op. cit., p. 10, que VILHENA, E., op. cit., p. 212, refere.
    [48]- MENESES,J., op. cit., p. 177.