10/30/07

CAMILO DE ARAÚJO CORREIA - O escritor e médico do Douro que viveu também Pemba, partiu hoje !

A vida acontece entremeada de alegrias, surpresas de todo o teor e desgostos a que costumo chamar de "pontapés"... Hoje recebi mais um, bem forte, doloroso porque "partiu" um AMIGO... AMIGO que, pela distância física, nem permitiu a permuta de um último abraço de despedida !
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A notícia chegou assim, bem simples:
""Lamento trasmitir esta infeliz noticia.
Faleceu o nosso grande Amigo Dr. Camilo.
Já transmiti à Fillha os sentimentos em nome da nossa Família...
Faleceu no Porto, e está a caminho da casa mortuária do Peso da Régua.
Será sepultado amanhã em Canelas.
Logo à noite vamos ao seu velório.""
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Para os leitores do blogue e Amigos que o recordam do tempo de Porto Amélia, onde foi diretor do Hospital Militar nos anos 60, aqui deixo link's que permitem a leitura de alguns de seus textos. Transcrevo assim um de seus "Apontamentos de Histórias Perdidas".
Descansa em paz Dr. Camilo de Araújo Correa (nasceu em 1925 na cidade do Porto mas viveu na Régua desde os três anos de idade) .
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Quando recordo o tempo de Porto Amélia, muitas vezes me salta na memória o meu amigo Armando Cepêda.
Era um homem largo, inteligente e bondoso. No carão de pugilista a linha dos olhos e a linha da boca traçavam, a miúdo, um sorriso paralelo a deixar transparecer uma acomodada filosofia de vida.
Era casado com D. Maria, senhora absoluta da Pensão Miramar. E digo senhora absoluta porque ali quem mandava era ela. Nem o marido nem os filhos davam a mínima ordem naquela nau de tripulação negra, capaz de todas as preguiças e descuidos. Com dois berros e dois cascudos aquela criadagem indolente andava numa roda viva. D. Maria era uma senhora robusta, de língua solta com sotaque do Porto.
Parecia um salpico, na costa de Moçambique, do pincel genial de Abel Salazar, em momento de inspiração tripeira. Armando Cepêda mandava na sua oficina de reparação de motores de que era especialista em Diesel. A oficina ficava na Rampa, aquela encosta medonha que nem a bordadura de acácias rubras conseguia suavizar. Medonha e obrigatória na ligação da parte alta com a parte baixa de Porto Amélia.
Passei muitas horas naquela oficina entre carcaças da mais diversa maquinaria avariada, à espera que Armando Cepêda lhe restituísse a serventia perdida. E dava gosto ver aqueles dinossauros sair de um sono pesado e regressar ruidosamente à floresta, com uma palmada na anca. Uma palmada que só o meu amigo Cepêda sabia dar.
Conseguíamos conversa entre roncos de motor e marteladas de todos os sons. E tudo servia para dois dedos de conversa, a fazer sede para dois goles de cerveja. Guardo ainda um cinzeiro de pé alto que Armando Cepêda me fez numa pausa do serviço. É a estilização de uma cobra erguida na ponta do rabo a equilibrar meio coco na fúria da cabeça.
Antes e depois de jantar, Armando Cepêda derramava o corpanzil naquelas cadeiras do jardinzinho da pensão à espera de todos os cansaços, de todos os tédios e nostalgias. Recordo ainda o perfume adocicado das magnólias que o calor da noite parecia libertar suavemente.
Os hóspedes vinham chegando, um a um, à roda das cadeiras e a eles se juntavam residentes de Porto Amélia para dois dedos de conversa. Pessoas vindas de toda a parte pelas mais variadas razões, algumas delas muito roladas pelas mais diversas geografias. Comerciantes, agricultores, médicos, funcionários públicos, engenheiros, militares, todos enleados naquele fio de nostalgia tropical que parece igualar todos os homens.
As palavras iam ficando mais espaçadas e moles com o andar daquelas noites suadas. Mas se a conversa caía sobre o mato, Armando Cepêda erguia-se um pouco da posição quase horizontal, para, pouco a pouco, dominar o assunto.
E todos nos erguíamos um pouco também para o ouvir contar histórias de camiões atolados no matope, dos perigos e dos encantos do mato. E de caça. Armando Cepêda não era, digamos, um caçador de safaris. Era caçador solitário, muitas vezes por exigência da esposa, quando a despensa fraquejava. Apertado por ela, Armando Cepêda ia ao mato abater um javali como quem vai ao fundo da capoeira buscar um frango.
Por duas vezes o acompanhei nesta caça de subsistência. A ele e ao Jacinto dos Caminhos de Ferro devo o conhecimento do mato. Sem eles a minha África teria sido pouco mais do que uma África de cidade. Jacinto era uma velha glória do Benfica. Ter sido guarda-redes das primeiras categorias era uma recordação que lhe fazia ainda rebrilhar os olhos. Jacinto era um caçador tão metódico como apaixonado. Dois pisteíros negros, o velho Land Rover, um bom farolim e a arma escolhida para o tipo de caça determinado. E eu, às vezes, graças a Deus! Sim, dou graças a Deus por ter vivido o emocionante espectáculo de andar a esmo pelo mato, com o jeep aos solavancos, farolim a esquadrinhar os espaços mais suspeitos e a surpreender os animais na intimidade da noite.
Inesquecíveis aquelas imbabalas saltitantes e graciosas como bailarinas a fugir ao palco de luz que lhes ofereciamos. E aquela sensação de liberdade plena que se experimenta, ao descansar nas quinandas, ouvindo o crepitar da fogueira e do falajar dos negros contra o silêncioprofundo do céu?Sempre me pareceu que Jacinto, mesmo a mexer na burocracia do seu emprego, tinha os olhos no mato. Tanto que, mal deixava a secretária, caía no quarto a pintar. A pintar o mato; sempre com animais em primeiro plano e, tão recortados, que pareciam postos ali depois do quadro pronto. Não era um bom pintor. As telas eram o seu mato teórico para onde gostava de ir, a qualquer hora. Uma vez, só porque me demorei um pouco mais a ver três gnus a pastar, ofereceu-me o quadro. Na bagunça do regresso, o quadro perdeu-se. E tenho pena. Estaria hoje numa das minhas paredes com as saudades da África a retocá-lo todos os dias.
De uma vez o Jacinto convidou também para a caça o Dr. Manuel Jóia, médico do «Bartolomeu Dias», ancorado na baía de Porto Amélia, em patrulha da costa de Moçambique. Foi o seu baptismo de mato. O grande entusiasmo com tudo o que ia acontecendo redobrou quando, ele próprio, abateu um javali. Entre as seis e as dez da manhã é fácil encontrá-los nas áreas da sua predilecção. Passam como carruagens de um comboio rápido. Jacinto aconselhou:
— Aponte a um dos primeiros... Pode ser que acerte num dos últimos...
E o Manuel Jóia acertou, julgando, a princípio, não ter acertado. O raio do bicho com um rombo na barriga ainda se fartou de correr como se nada fosse com ele! Depois lá caiu como se tivesse caído do comboio.
No «Bartolomeu Dias» os oficiais comeram javali até lhe chegarem com um dedo e festejaram o seu médico como um herói da selva.
Voltemos ao meu amigo Armando Cepêda. Ele era, como já lhes disse, um caçador solitário. Saía antes da madrugada e regressava antes do entardecer. Da segunda vez que fui com ele «à carne» aconteceu uma coisa que me apetece contar.
O sítio escolhido para o abate foi uma velha machamba de milho abandonada, entre Porto Amélia e Mecufi.
— Aqui é um sítio bom por causa dos restos do milho e não há macacos a denunciar a nossa presença com a gritaria — disse o Armando Cepêda, saindo da picada.
Não havia meia hora de sol, quando apareceu um javali do outro lado da pequena veiga que dominávamos completamente de onde nos haviamos instalado. Era um animal relativamente pequeno, a grunhir e a estraçalhar a um e outro lado do focinho temeroso.
Parecia nada recear e, no entanto, toda aquela energia de patas e focinho parava, de vez em quando, como se tivesse havido um curto-circuito. Depois de uns segundos de imobilização total, a fúria do javali restabelecia-se para, daí a pouco, sofrer nova pausa.
— O bicho está desconfiado... eles são muito desconfiados... — disse Armando Cepêda, à boca pequena, sem tirar os olhos do javali.
Como vinha na nossa direcção, a certa altura ficou a uma boa distância de tiro.
—Então?!—perguntei baixinho.
— Quanto mais perto o abatermos, menos custa a arrastar para o jeep...
— Pois é... — disse, reconhecendo a minha inexperiência.
Armando Cepêda sorriu aquele sorriso de linhas paralelas.
Quando o javali ficou a uns trinta metros, perguntou-me se queria atirar.
— E se falho e não aparece mais nenhum? Não podemos aparecer à D. Maria de mãos a abanar!...
— Deus nos livre!... Ninguém a aturava!...
Soaram dois tiros com intervalo de um segundo. O javali caiu no meio da erva como um saco de batatas.
Com um arame atado às patas de trás e um pau atravessado na outra ponta foi fácil arrastá-lo até ao jeep.
O «mata-bicho» à sombra daquela mangueira isolada no mato rasteiro, ainda hoje me sabe. D. Maria era uma senhora farta. Arranjou-nos um farnel que dava para atravessarmos a África. Fígado de cebolada, meio metro de omelete, carne assada, queijo, muito pão, cerveja e água mineral. Do começar ao palitar, foi uma larga hora a comer. A comer e a contar coisas.
No fim de arrumar a tralha, com o método e a lentidão que o caracterizavam, disse o Armando Cepêda, já todo contente com a ideia:
— Vamos cumprimentar o meu amigo Rosas! É chefe de posto aqui perto. Vai ficar todo contente!
Era realmente ali perto e o senhor Rosas ficou todo contente. Quis logo que nos sentássemos na varanda e foi dizendo:
— Vindes em boa altura! Tenho uma esplêndida carne de búfalo novo; vou já arranjar uns bifes e umas costeletas...
— Para mim, não! — cortei, aflito.
— Ora essa!... Por quê?! — admirou-se o senhor Rosas.
— Desculpe... é que acabámos agora mesmo de comer este mundo e o outro...
—Bem... Bem!—respondeu desalentado, mas logo a berrar lá para dentro:
— Hassan!
Apareceu um negro, a limpar as mãos, a fazer vénias e a sorrir de orelha a orelha.
— Prepara uns bifinhos e umas costeletas daquela carne... com aquele molho... Tu sabes como é!
Hassan sabia como era. Meia hora depois, apareceu na varanda com uma travessa enorme no meio de uma pequena mesa portátil, já posta para três pessoas. O cheiro da carne apanhou-me de surpresa. Era de tal maneiras agradável e penetrante que até as glândulas salivares me doeram!
— Vai uma pontinha, doutor, só para provar? — perguntou-me o senhor Rosas de olhinho irónico.
— Isso cheira pela vida... — consegui dizer em plena vertigem.
A pontinha de carne que o senhor Rosas me pôs no prato «só para provar» foi uma costeleta do tamanho de uma raquete de ping-pong espessa, suculenta e aromática...
A princípio com uma certa cerimónia e depois com uma certa gula lá fui andando pela costeleta fora. Acabei a «raquete» como mandam as regras: pegando-lhe pelo cabo... Quando pousei o osso rapado, diz-me o senhor Rosas com sorriso de vitória:
— Então, doutor, estava boa?
A vitória não foi do senhor Rosas. Foi da África. Daquele sentir tudo de novo, como uma estreia dos sentidos, em cada momento que passava.
Conheci Megama Abdul Kamal muito antes de o vir a encontrar, frequentemente, na Pensão Miramar. Megama era régulo do Chiure, com influência religiosa numa larga faixa de terreno entre o Rovuma e o Lúrio. Homem abastado, senhor de terras e camiões, era também transportador habitual da grande companhia algodoeira Sagal.
Fui a sua casa a convite do Armando Cepêda, chamado a consertar o motor de um poço. Nas apresentações vi que eram grandes amigos. Julgo que, por isso, Megama me olhou logo com respeito e franqueza, sem duvidosa humildade dos negros daquele tempo.
O motor ficou composto num instante. Nós levámos mais tempo... Megama quis que provássemos de todos os seus petiscos. Seu era também o café, da planta à chávena. A mâozada firme e confiante com que nos despedimos havia de repetir-se, vezes sem conta, por todo o meu tempo de Porto Amélia.
No regresso ao jeep, ouvi falas e risinhos por detrás de uma paliçada.Notando a minha estranheza, Armando Cepêda logo me esclareceu:
— São as mulheres de Megama...
Na cidade, vim a saber pelo Jaime Ferraz que deveriam ser umas sete... Em Porto Amélia o Jaime sabia um pouco de tudo!
Um dia, Megama apareceu no Hospital Militar todo dobrado e cheio de dores. Era uma hérnia estrangulada, há três dias... Os cirurgiões costumam «berrar» com os doentes por virem tão tarde, em evidentes situações de solução cirúrgica. Mas o Dr. Manuel Simões Coelho não berrou. Tratava-se de Megama Abdul Kamal! E por se tratar de tão importante personagem o post-operatório teve aspectos de pereqrinação.
Vinham negros de toda a parte, trazidos por aquele fio invisível que é o sentimento religioso, temperado na fé e na obediência.
Com o vai e vem da gentiaga, a vida do hospital acabou por se perturbar. Ao ponto de, pelo terceiro dia, o Simões Coelho me pedir:
— Tu, que és todo amigo do Megama, podes garantir-lhe que está livre de perigo, que tudo vai correr bem...e pedir-lhe que faça constar as suas melhoras, a ver se acaba esse corrilório!...
Assim fiz. Megama compreendeu e actuou muito bem. As visitas acabaram de um dia para o outro. Nem umas só voltou a aparecer! Ainda hoje me espanta o extraordinário poder de comunicação dos negros naquelas lonjuras primitivas, sem rádio, sem telefone e sem correio.
Armando Cepêda era um caso curioso de fotógrafo. Nem amador, nem profissional. Era fotógrafo de ocasião, para ganhar uns cobres suplementares. Essa ocasião surgia quando os indígenas precisavam de retrato para a caderneta. Dava-lhe jeito aproveitar os domingos, que no mato não têm qualquer significado. Era sempre recebido nas aldeias com grandes manifestações de contentamento. Nas pausas da algazarra, fotografava quatro negros de cada vez, sentados numa tábua. Depois, no «estúdio», a tesoura lá os separava. No domingo seguinte, a caminho de outra, passava pela aldeia fotografada e distribuía os retratos. Havia corridinhas e gritos de alegria, com todos a querer ver a cara de cada um no retalhinho de papel.
Um dia houve um pequeno acidente... Toda a gente parecia satisfeita, quando apareceu uma reclamação, já com o jeep a ronronar a partida.
— Patrão!... Patrão!... esta não é do nosso!
— Não é tua?! É tua, sim senhor!! — garantiu Armando Cepêda olhando para o negro e para o retrato.
—Não é!... Não é!... Nosso não tem chapéu!
Armando Cepêda sabia lidar com os negros. O grande respeito e admiração que lhes infundia emanava do seu grande espírito de justiça e bondade. Além disso, era um branco forte, compunha máquinas e matava leões.
Não teve a mínima dificuldade em desfazer o equívico. Pôs a mão no ombro do negro e sossegou-o, assim:
— Ah!... o chapéu?... Fui eu que pus. É saguate! (brinde, oferta)
Os olhos do negro rebrilharam com aquela gorjeta inesperada. Depois vieram as palavras de gratidão de uma boca babada de riso:
— Brigado, patrão!... Brigado, patrão!...
E partiu, a misturar-se com os outros. Talvez a fazer-lhes inveja.
Camilo de Araújo Correia - Livro de Andanças.
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O calor está chegando aos trópicos...
Com ele vem o canto das cigarras.
Mas hoje, seu som parece-me mais triste !
Jaime Luis Gabão

Diversificando - Novidades do mundo virtual: HULU !

Um "prato cheio" para quem se interessa por vídeo e imagem:
Gigantes da midia lançam site de videos que concorre com o YouTube.
Via Blue Bus - Entrou no ar ontem Hulu, serviço de video online da NBC Universal e da News Corp.
Está operando ainda restrito a convidados.
O site, que já foi chamado na midia de 'YouTube-killer', reune conteudo de programas de TV e filmes das duas empresas fundadoras e também de duas novas parceiras, a Sony Pictures e a MGM.
Ontem, estavam disponiveis 90 series como 'Heroes', 'Os Simpsons' e 'Miami Vice', alem de 10 filmes.
O conteudo é gratis - o serviço é baseado em publicidade.
Noticia da Reuters. 30/10

10/29/07

MEMÓRIAS DE CABO DELGADO-ACHEGAS PARA O ESTUDO DO MUNICIPALISMO EM MOÇAMBIQUE-IV

...Continuando daqui - parte 1, parte 2 e parte 3.

A CÂMARA DA ILHAS DE CABO DELGADO.
POSTURAS E REGULAMENTOS
Por Carlos Lopes Bento[1]
2ª PARTE
O CÓDIGO DE POSTURAS DA CÂMARA MUNICIPAL DE CABO DELGADO DE 1887
Foi em de 8 de Julho do longínquo ano de 1887, que a Câmara Municipal do Distrito de Cabo Delgado, com sede na ilha do Ibo elaborou o seu Código de Posturas[2], que viria ser aprovado pela Portaria nº 21, do Governo-Geral de Moçambique, de 8 de Julho do mesmo ano.
Faziam dele parte 58 artigos que regulavam as seguintes matérias:
  • Da limpeza e segurança da vila (artºs. 1º a 21º)
  • Dos animais (artºs. 22º e 23º)
  • Dos fornos de cal (artº. 24º)
  • Dos açougues (artºs. 25º e 26º)
  • Dos pesos e medidas (artºs. 28º e 29º)
  • Das licenças (artºs. 30º a 35º)
  • Das multas (artºs. 36º a 53º)
  • Disposições gerais (artºs. 54º a 58º)

Realçamos, seguidamente, alguns dos seus traços mais relevantes deste já secular Código de Posturas:

Na vila do Ibo:
Os proprietários ou seus procuradores, bem como os inquilinos, de casas eram obrigados a:

  • A caiar, de dois em dois anos, entre 1 de Junho e 31 de Agosto, as paredes exteriores das suas casas, não podendo, para o efeito, utilizar cores inteiramente brancas. Quando arrendadas e o trabalho fosse feito pelos inquilinos, as despesas seriam por conta dos seus proprietários;
  • pintar, de três em três anos, no mesmo período, as portas, janelas e grades de suas casas e dependências;
  • terem limpos os quintais, os pátios e testadas das casas que habitarem e os quintais adjacentes, bem como os terrenos que possuírem ou administrarem;
  • construir e reparar os passeios das testadas de suas casas, conforme o alinhamento e largura determinada pela Câmara;
  • demolir os prédios que ameaçassem ruína, no prazo fixado pela Câmara, devendo os materiais das demolições, quando não aplicados para nova construção no local, ser removidos no prazo fixado pela Câmara;
  • formar diante do prédio a construir, reconstruir, demolir ou reparar e em todo o cumprimento, um resguardo de madeira ou de caniço para ir arrumando os materiais, o mesmo deve ter aquele que levantar andaimes para caiação, pinturas ou outras obras;
  • fechar os quintais com muros de tijolos ou alvenaria ou qualquer outra forma que a Câmara entendesse razoável, devendo os que então tivessem os quintais fechados com caniço, dar cumprimento a esta determinação;
  • usar materiais adequados nas coberturas de suas casas(telhas), continuando a ser toleradas as coberturas de palha.

Todas as palhotas seriam numeradas, devendo ter a altura conveniente e bem visível o seu número em branco sobre tabuleta preta de 2 decímetros de comprimento e 1 de largo. Uma vez atribuído o número os seus donos seriam obrigados a contribuir para os cofres do Município com o imposto de 200 réis anuais, por cada uma palhota.

A todos os habitantes era proibido:

  • o despejo de entulho, lixo e outras imundícies em qualquer rua ou lugar público, devendo tais objectos ser lançados ao mar ou nos sítios apropriados fixados pela Câmara em Edital;
  • tirar terra ou areia nas ruas do logradouro público e fora deste só permitido em recintos fechados ou nos que a Câmara indicasse;
  • ter dentro da Vila depósitos de cauril, sendo permitido em local afastado: além da rua 27 de Julho e Munaua;
  • o transporte de vasos de despejo pelos ruas e lugares públicos da Vila quando não forem dentro de caixas fechadas, devendo esse transporte verificar-se antes da 7 horas da manhã e depois do pôr-do-sol;
  • fazer transitar pelas ruas a descoberto qualquer animal morto e enterrá-lo ou abandoná-lo fora do sítio determinado pela Câmara para esse fim;
  • ter a secar em qualquer sítio da Vila peixe, carne ou couros;
  • ter em suas casas ou armazéns mais de três quilos de pólvora;
  • estender roupa, velas, cabos, mantimento, fazendas, marfim ou outro qualquer pejamento nas ruas ou outro logradouro público;
  • fazer qualquer lavagem próximo aos poços ou praticar actos imundos fora dos lugares que a Câmara determinar;
  • a lavagem de roupa nas praças, ruas, ou travessas;
  • ter dentro da Vila currais de gado suíno ou qualquer outro que seja prejudicial à saúde pública ou à segurança individual, sendo, no entanto, permitidos os currais em local afastado como no bairro de Munaua e além da rua 27 de Julho;
  • tirar para a rua ou deixar pastar na Vila quaisquer animais que possam prejudicar a segurança individual, a salubridade ou a conservação de arvoredos municipais, não ficando abrangido nesta disposição o gado que saísse para as pastagens acompanhado dos seus guardas, devendo, em tais casos, transitar pela praia da Belavista, Munaua e rua 27 de Julho e nunca pelas principais ruas da Vila[3];
  • construir fornos de cal na ponta da areia, sendo a esplanada do forte de Stº António o local adequado para o efeito, pagando os interessados uma licença de 4$500 réis por cada forno;
  • abater para consumo público quaisquer rés de gado vacum ou suíno sem que fosse, previamente, inspeccionada pelo Delegado de Saúde e favorável a sua opinião.

Já então havia preocupações com a defesa do ambiente e com a saúde pública.
Das licenças obrigatórias na Vila e outras Povoações do distrito de Cabo Delgado:
Todos os comerciantes com estabelecimento na Vila do Ibo, baía de Pemba, Arimba, Bringano, Querimba, Quissanga, Memba, Olumbua, Ingoane, Pangane, Mucojo, Quiterajo, Mocímboa e baía de Tungue eram obrigados o obter uma licença da Câmara, que poderia ter a validade de 3 aos 12 meses. Verifica-se que, nos finais do século XIX, os comerciantes tinham estabelecimentos em 14 localidades diferentes: 12 em povoações do litoral e apenas 2 em ilhas(Ibo e Querimba), não se constatando nenhuma, não só para o interior do continente como também para sul da baía de Pemba, embora essa parte do território fosse, anualmente, atravessada por dezenas de caravanas comerciais vindas do sul do Niassa. A ocupação definitiva dos territórios de Cabo Delgado só viria a ter lugar a partir dos finais do século XIX e início do século XX.

Os alvarás das licenças comercias eram divididos em seis classes:

  • 1ª classe
    Abrangia os negociantes de grosso trato, fosse qual fosse o género de comércio. Pagavam anualmente 60$000 réis;
  • 2ª classe
    Incluía os negociantes de pequeno trato e casas que importem para venda a retalho. Custo de licença 40$000 réis por ano;
  • 3ª classe
    Integrava os estabelecimentos com lojas abertas no continente. Pagavam em cada ano 25$000;
  • 4ª classe
    Incluía os comerciantes que vendiam produtos comprados no continente e ainda os que transaccionavam bebidas destiladas ou fermentadas em mui pequena escala. A licença custava anualmente 12$000 réis;
  • 5ª classe
    Estavam aqui incluídos os vendedores ambulantes. Pagavam anualmente 6$000 réis;
  • 6ª classe
    Nesta última classe eram incluídos todos aqueles que se dedicassem à venda de bebidas cafreais tais como sura, sumo de caju, pombe, etc. A licença a pagar anualmente era de 3$000 réis.

Todos as pessoas que vendessem unicamente géneros da sua cultura, sem acção de manipulação, estavam isentos de licença.
Eram ainda necessárias licenças para:

  • construção, reconstrução ou aumento de prédio, pagando-se pela respectiva licença: 3$000 réis pelos prédios de pedra e 1$500 pelos de madeira;
  • construção de lanchas, botes ou outras embarcações para carga ou recreio na Vila ou no continente, pagando-se pela licença 2$000 réis sendo lancha ou outra embarcação de capacidade maior e 1$200 sendo bote;
  • a realização de batuques, pagando-se a partir das 10 horas da noite a importância de 2$000 réis. Eram expressamente proibidos os batuques de muali/uari “ festa esta só própria a selvagens (...), atentado contra a civilização e moralidade”[4].
  • dar tiros de pólvora seca, em festas e lugares públicos, desde as 8 das manhã às 8 da noite. A licença para o efeito custava 2$000 réis, que passaria a ser 4$000 para o período das 8 da noite às 8 da manhã.
  • Todo o individuo encontrado em algum lugar público da Vila no estado de embriaguez ou em desordem ou que ofendesse a moral pública trabalharia 3 dias no serviço municipal, recebendo 30 réis por dia para o sustento ou pagaria para a Câmara 1$500 réis.

O Código previa um conjunto de multas para todos aqueles que não cumprissem os seus preceitos.

(Continuará em breve)

[1] -Antigo administrador colonial. Foi presidente da C. Municipal do Ibo, entre 1969 e 1972. Antropólogo e prof. universitário, continua a ser um dedicado amigo das históricas Ilhas de Querimba, que continua a investigar de maneira sistemática e a divulgar as suas inquestionáveis belezas.
[2] Publicado no Boletim Oficial de Moçambique nº29, de 16.7.1887, p.316 e 317.
[3] Já em 1856 a Câmara havia proibido a circulação destes animais pela Vila. Informação de GERARD, Padre Constantino, Algumas datas e Factos Acerca das Ilhas de Quirimba.
[4] Em Outubro e Novembro de de 1879, os capitães-mores de Quirimba e das Terras firmes eram censurados por ter permitido, nas suas terras, este batuque, que havia sido proibido por uma Postura municipal de 20.2.1869.

Templos e Espaços Sagrados das Ilhas de Querimba:

Quem é o Dr. Carlos Lopes Bento ? aqui.
Mais trabalhos de Carlos Lopes Bento em http://br.geocities.com/quirimbaspemba/.

10/27/07

Ronda pela net - RETORNADOS: DRAMA OU EPOPÉIA INACABADA ?

Um tema que envolve milhares de portugueses que até hoje não encontraram a reposição de seu património construido e forçadamente deixado em África aquando da tal "descolonização exemplar" e que tem sido, simplesmente ou quase, ignorado com petulantes e cinicos desaforo e omissão pelos diversos governos lusos pós 25 de Abril de 1975.
Tema constrangedor que deverá continuar a ser debatido pela sociedade portuguesa, mormente pelos injustamente penalizados mas batalhadores e empreendedores "retornados", com insistência, inconformismo e rebeldia justificadas.

Ronda pela net - Ainda sobre ÉTICA EM MOÇAMBIQUE.

Dois portais indicados por leitores do blogue, que gostariamos de ver prosperar pelo valor cultural, social e didático de seu conteúdo:

Colocaremos por aqui, sites, blogs e fotologs que valham a pena ser acessados.
Mandem sugestões para gotaelbr@yahoo.com.br .

Pemba: Professor obriga alunos a construír casa.

Um professor da Escola Secundária 16 de Junho, na cidade de Pemba, está a construir a sua residência usando como mão-de-obra dos seus alunos num acto que deixa revoltados os pais dos estudantes que contaram a história ao “Notícias”.
Conhecido simplesmente por Dalove, o professor de língua inglesa, serve-se, durante os fins-de-semana, dos seus alunos para transportar areia e outros materiais de construção com os quais pretende erguer a sua casa.
Para confirmar os factos, a nossa reportagem deslocou-se ao local onde foi encontrar os alunos em pleno trabalho de transporte de areia, em sacos de cinquenta quilogramas, que é extraída a meio quilómetro do bairro de Novine, onde está a ser erguida a casa.
“Somos das turmas 3 e 4 da oitava classe, mas também conhecemos colegas de outras salas no período da manhã que têm vindo fazer esse trabalho”, informam os alunos.
Acrescentaram que aceitam fazer esse trabalho, sem conhecimento dos pais, convictos que daí pode resultar um benefício em forma de aproveitamento escolar.
“Ele promete-nos notas, mas noutros casos ameaça-nos com faltas disciplinares quando não comparecemos para fazer o trabalho dele, daí a nossa presença”, justificaram.
Facto caricato é que no terreno onde decorrem as actividades não se encontra sequer nenhuma aluna do sexo femenino, situação interpretada pelos rapazes com um acto de discriminação.
Contactado o professor Dalove não desmentiu nem confirmou os factos, tendo declinado pronunciar-se com alguma profundidade sobre o caso, alegadando que só poderia falar na presença do seu director.
“Eu gostaria de falar na presença do meu director ou da direcção da escola” disse, prometendo, em seguida, que iria buscar o responsável máximo da instituição, só que debalde, porque nunca mais voltou e foram infrutíferas as nossas tentativas de o localizar telefonicamente.
Entretanto, o director da “16 de Junho”, Jone Nanguida afirmou que acabava de tomar conhecimento dos factos connosco e lamentou que tal estivesse a acontecer nos termos em que os alunos contam dizendo de seguida, que se a história for real uma acção disciplinar será movida contra o professor.
Maputo, Sábado, 27 de Outubro de 2007:: Notícias

Planeta TERRA - Mais uma vez os biocombustíveis !

Brasil - Etanol é ameaça ao cerrado, afirma relatório da ONU.
Um relatório divulgado nesta quinta-feira pelo Programa de Meio Ambiente da ONU afirma que o cultivo de lavouras para a produção de etanol representa uma ameaça à biodiversidade do cerrado brasileiro.
Segundo o relatório Panorama do Meio Ambiente Global, "o Brasil espera dobrar a produção de etanol, um biocombustível 'moderno', nas próximas duas décadas".
"Para produzir matéria-prima vegetal suficiente para alcançar esses objetivos, a área cultivada está crescendo rapidamente", acrescenta o documento. "O crescimento das fazendas coloca em risco regiões ecológicas inteiras, como o cerrado."
Em outra parte do documento, a ONU diz que "com o possível aumento da exportação de etanol de países como o Brasil para a Europa, os Estados Unidos e o Japão, está aumentando a preocupação quanto à sustentabilidade de uma produção de biomassa em larga escala".
De acordo com o relatório, esse temor se deve principalmente "ao fato de a terra disponível, além das reservas de biodiversidade, ter que ser dividida para diversos usos, como a produção de alimentos e de vegetais para a produção de energia".
O relatório, de 572 páginas, traça um cenário abrangente das mudanças no meio ambiente desde 1987 e detalha problemas que afetam a água, a atmosfera, a terra e a biodiversidade da Terra.
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Amazônia
A situação do Brasil é destaque em vários pontos do relatório, que analisa o programa de biocombustíveis do país, as mudanças no uso da terra nos últimos anos e o gerenciamento sustentável de florestas.
Embora destaque como aspecto positivo a exploração sustentável da floresta por pequenos proprietários de terra da Amazônia, usado como "parâmetro para políticas de desenvolvimento e financiamento de iniciativas semelhantes de gerenciamento de recursos naturais", o relatório diz que o Brasil ainda enfrenta o problema do desmatamento.
"Cerca de 66% da perda global de florestas, entre 2000 e 2005, ocorreu na América Latina, região que possui 23% da cobertura mundial", diz o documento. "A América do Sul sofreu a maior devastação líquida (quase 43 mil km²/ano), da qual 73% ocorreu no Brasil."
"O desflorestamento na região é responsável por cerca de 48,3% das emissões globais de CO2 relacionadas ao uso da terra, com quase metade disso vindo do desflorestamento no Brasil, particularmente na Bacia Amazônica", acrescenta o texto.
O relatório da ONU também destaca o problema da degradação da terra no Brasil e aponta situações "preocupantes" no sudeste do país e nos pampas.
O cultivo extensivo de certas lavouras também é citado com uma ameaça à diversidade do planeta. Um exemplo usado pelo relatório do programa de Meio Ambiente da ONU é o aumento das áreas destinadas ao plantio de soja no Brasil.
In - BBCBrasil.com - 25 de outubro, 2007

10/26/07

PEMBA recebe mais um vôo internacional.

A companhia aérea sul-africana Interlink Airlines escala hoje, pelas 13.50 horas, o aeródromo de Pemba, no seu vôo inaugural, conforme deu a conhecer a Kaskazini, Serviços Turísticos, na capital de Cabo Delgado.
A fonte disse, por outro lado, que o voo será directo, partindo de Kruger Park, na África do Sul, com destino a Pemba. A companhia sul-africana vai operar, em princípio, com um Boeing 737, que pode acomodar um total de 85 passageiros, sendo que o voo doméstico partirá do aeroporto Oliver Tambo, em Joanesburgo, vai escalar Mpumalanga, próximo de Nelspruit por um período de 40 minutos, para permitir que os passageiros façam o desalfandegamento e processo de migração, antes que faça a viagem directa para Pemba.
A fonte diz que no primeiro mês, o avião permanecerá em Pemba até domingo, data em que regressará ao território sul-africano, via Kruger Park.
Maputo, Sexta-Feira, 26 de Outubro de 2007:: Notícias

Diversificando - Vacas geram energia para laptop na Índia.

Vivendo e aprendendo:
O projeto Um Laptop Por Criança (OLPC) está experimentando uma nova fonte de força para seus computadores de baixo custo: vacas.
Um grupo está finalizando o design do gerador movido a vacas.
O objetivo é desenvolver uma fonte de energia barata que possa ser utilizado em vilas indianas.
"Temos planos de colocar um dínamo de um velho Fiat e ligá-lo em um sistema de correias e polias movido a gado", escreveu Arjun Sarwal, em uma mensagem do dia 21 de outubro em um dos posts da lista de discussão do grupo.
Trabalhando em uma vila perto de Mumbai, Sarwal disse que o grupo considerou usar a energia solar, mas a qualidade perto da cidade é baixa.
Também não havia vento ou água corrente suficientes por perto para servir como fonte de energia.
O custo de um motor a gasolina é alto demais.
"Mas a vila tem muito gado sendo utilizado nos campos. Então decidimos fazer algo em torno disso", escreveu Sarwal.
O dínamo utilizado no sistema foi retirado de um carro Fiat e é comum em táxis de Mumbai, portanto muito barato e abundante.
As informações são da InfoWorld.
Quinta, 25 de outubro de 2007, 15h38-Redação Terra.

Um conto Macua...

Morreu pelo conselho
Havia um homem chamado Kitheliwa que tinha dois sobrinhos.
Certo dia levou-os à caça.
Andando pelo mato, viram um buraco num murro-muxé.
O buraco era de um animalzinho chamado Niphire*.
Como eram 5 horas da tarde, o tio resolveu que deviam dormir ali no mato para, a coberto da noite, poderem matar o niphire.
No lugar onde iam dormir acenderam fogo e combinaram:
- Cada um que acordar primeiro deve entrar no buraco do niphire.
Mas o animal tinha dois buracos lá por dentro da sua casa, pois o buraco de niphire é grande e uma pessoa entra até uma distância de cinco passos.
O tio dos rapazes começou a aconselhá-los, dizendo:
- Quando ouvirem o barulho do niphire a vir lá do fundo do buraco, zagaiem-no logo, porque ele é muito esperto. Se ele disser "Ai! Já me mataram!" dai-lhe outra zagaiada.
Tudo ficou combinado.
Pensando terem sido os primeiros a acordar, os dois sobrinhos resolveram ir ver o niphire.
Não sabiam que o tio já estava lá no buraco.
Os dois rapazes ouviram barulho a sair do buraco e, seguindo os conselhos recebidos do tio e pensando que era o niphire, zagaiaram o tio.
Quando o tio disse:
- Ai! Já me mataram! - Zagaiaram-no outra vez, seguindo os conselhos do tio.
Depois disseram:
- Vamos acordar o nosso tio! Já matámos o niphire*.
Não sabiam que tinham matado o tio e foram para o lugar onde tinha dormido o tio e não o encontraram.
Reacenderam a fogueira e encontraram, no buraco do niphire, o tio morto.
Logo um dos irmãos disse:
- O nosso tio morreu pelo conselho.
Tive anakitheliwa akhwile ikano saya (Os conselhos falsos vêm em prejuízo de quem os dá).
Glossário:
*Niphire: Rinoceronte
.
Tradução em dialeto macua:
Akwale Ikano Saya
Ahihkala mulopwana mnosa aihamiwa Kitheliwa, ahikhalana asisulwawé anli.
Nihikunimosa ahakuxa arówanaka otakhwani oxaya.
Yethaka mutakhwane yahona mwithé, musulo wa muruni mwithi olé wari wamwaynama onihaniwa Niphire.
Yethaka ywora thanu, samkaripi, vano atataya amiravo ale, yahilavula órupa.
Otakhwani wira ohiyu eriyani emwive Niphire.
Nto, niporo nle narowaya órrupa, yahinsela moro.
Nto yahiwahana:
- Khula nmosa onrowa ovenya ohona evolowa omwithine wa Niphire.
Masi Niphire ahikhalano mithe mili mulina, nto, mwithe wa Niphire onihkala mutokwéne, ophyerya ovolowa muthu emenlene.
Atataya amiravo ale, yahipatthuya wa vaha mirruku eriki: mwaiwa oruma wa niphire muhina wamuithe nmuive mána niphire mulavilavi.owo ahima:wira ai, mokiva!
Mutthikhe nivaka nikina:
- Awo khiwiwanane nto asisuwawe mulopwna ole, khupuwela orowa oweha niphire, nto ehisuwelaka wira atataya arinmwithine.
Masi amiravo awo yahiwa ekukuru-ekukuru ekhumaka omwithini wa niphire ettarihaka ikano yahimeriwaya, yupuwelaka ka wira niphire, yahahoma atataya, nto atataya, khwira:
- Ai mokiva! – Khuahima tho emara yanenli ettharihaka ikano satataya.
Nave atataya, ekhhwiyene, nmosa ahira murowé mwawense atata, wira:
- Nomwima niphire. Nto, khiyasuwela wira yawivale atataya.
A miravó ali mmosa ahirowa oweha hipuró narrupaya Atataya, nto khuhaowiwanya.
Masi amiravo ale yahipatthiha moro khwapanya atataya ekhwiye.
Nananoru muhimawe khwira!
Atatihu akhwanle miruku saya.
Walá ikano saya.
Tive anakitheliwa akhwiye ikano saya.
In - Boletim do Centro de Lingua Portuguesa - Instituto Camões - Nampula - Nov/Dez 1999 - Recolha de Edgar P. Augusto.

10/25/07

Diversificando - Lisboa: O relógio do Arco renasce.

Conta a Marise Araujo (do BlueBus), lá de Lisboa:
Toda cidade que se preza tem o seu relógio de plantão.
Lisboa, a antiga Olissipo, que de acordo com a lenda foi fundada pelo grego Ulisses, também tem o seu e fica ali no centro, bem em cima dos arcos da rua Augusta, para quem quiser ver foto. Depois de um longo período em silêncio, desde ontem as badaladas do Relógio do Arco já podem voltar a ser ouvidas por todos que ali passam, depois de uma obra de recuperação e restauro que levou 148 dias - 3 552 horas, 213 120 minutos - e que devolveu à cidade um dos seus principais patrimônios.
...e continua contando:
Outra que está marcando a atualidade, é que a nova edição do jornal espanhol El País, lançada agora, vem totalmente reformulada e com uma nova fonte - o Majerit, criada pelo português Mário Feliciano, o mesmo autor do tipo de letra utilizado pelo Diário de Notícias daqui - “Queremos um jornal em que o texto seja central, mas que haja um espaço muito maior do que agora para a informação visual, gráfica e infográfica”, dizem os responsáveis.
Sinal dos tempos…
Todas da Marise para o BlueBus aqui !

10/24/07

Moçambique em busca da ÉTICA.

É de destacar...e dar continuidade:

O que é?
É
uma organização não governamental sem fins lucrativos, criada em Maputo a 22 de Agosto de 2001, com o objectivo de promover e fortalecer a integridade, a transparência, a probidade e o interesse público, através da defesa de valores éticos.
.
Porquê foi fundada?
Como resultado do processo de liberalização económica que teve lugar em Moçambique nos finais dos anos 80, a década de 90 foi marcada por um aumento significativo e preocupante de casos de corrupção a nível da administração pública e privada.
Esta situação levou a que importantes recursos do país fossem drenados por corruptos sem escrúpulos, muitas vezes sem a necessária tomada de medidas punitivas por parte das autoridades competentes.
Emergiu assim a necessidade de a sociedade civil se organizar por forma a contribuir para instituição de uma boa governação, transparência e negócios limpos.
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MISSÃO
Capacitar as pessoas com conhecimentos apropriados sobre comportamentos éticos como prevenir e combater a corrupção.
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Fundadores
Ética Moçambique foi fundada por um grupo de cidadãos com considerável experiência de liderança em diferentes domínios da esfera social, económica, académica, religiosa, judicial e política.
Também participaram na fundação da Ética Moçambique instituições de âmbito sócial e económicas de direito privado.
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Membros fundadores:
  • Abdul Carimo Mahomed Issá
  • Artemiza Franco
  • Brazão Mazula
  • Xehe Cássimo David
  • Graça Machel
  • Dom Dinis Sengulane
  • Jorge Soeiro
  • José Norberto Carrilho
  • Lourenço do Rosário
  • Maria Alice Mabota
  • Mário Ussene
  • Miguel de Brito
  • Salimo Abdula
  • Salomão Moyana
  • ACB - Associação Comercial da Beira
  • ACM - Associação Comercial de Moçambique
  • ACIZA - Associação Comercial e Industrial da Zambézia
  • FDC - Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade
  • DHD - Direitos Humanos e Desenvolvimento
  • LDH - Liga dos Direitos Humanos
  • ISPU - Instituto Superior Politécnico e Universitário

O TURBILHÃO LENDÁRIO - Uma prosa acontecida em Pemba !

(Aqui, imagem de autoria do artista gráfico italiano Piero "Ingonane" que residiu em Pemba de 1989 a 1999)
Nada de melhor nos terá acontecido, naquele ano, do que as nossas férias na baia de Pemba, no norte do país.
Eu e o mano Beto haviamos passado de classe e o kôta prometera, logo nos primeiros dias do ano, umas férias na casa do avô Omar, em Paquitequete .
Assim que ficamos de férias na escola partimos de Maputo para Pemba, de autocarro, na companhia da tia Awa que viera nos buscar à capital.
A viagem fora cansativa mas, ao mesmo tempo, divertida, desde o terminal do TSL, na Avenida das FPLM , até ao controle de Pemba, no bairro de Mahate.
Dali partimos de táxi com destino a casa do avô Omar, no bairro de Paquite, como os pembenses lhe chamam, onde ficariamos quinze dias a gozarmos as férias por entre o marulhar das ondas do Índico.
Enquanto nos dirigíamos para a cidade, que distava uns quilómetros, o taxista ia-nos amostrando a paisagem dominada, principalmente, por embondeiros e algumas árvores menos frondosas e arbustos vulgares.
Do Alto-Gingone, um bairro periférico do aeroporto local, vimos a “esteira” azul do mar deitada manjestosamente ao longo da baia, parecendo um enorme anzol feito de água.
Mas, para o lado direito da estrada que nos conduzia, emergia uma nova cidade próxima da faixa de areia branca que ladeia quase toda a cidade: era a famosa praia do Wimbe, um enorme potencial turístico da região norte do país.
No entanto, pouco tempo depois desembocámos na cidade e passámos pela artéria principal do bairro de cimento.
Enquanto o carro deslizava na estrada asfaltada, vimos de longe os bairros de Cariacó, Natite e Ingonane e, mais tarde, rumamos pela marginal até ao bairro costeiro de Paquitequete, na zona de Kumilamba, onde o táxi parou em frente da casa de um dos vizinhos do avô; descemos, caminhando depois por uma rua estreita que nos levou direitos ao destino.
Ao chegarmos, fomos recebidos com alegria e, dos familiares e vizinhos, recebemos apertos efusivos de mão, à moda dos makimuanes.
Sentado na esteira de palha, na companhia do mano Beto e de outros garotos curiosos que se aproximaram ao chegarmos, pus-me a contemplar a casa que era feita de pau-a-pique, rebocada com matope e coberta de macuti .
O quintal era de bambú suportado por diversas estacas sólidas provenientes de Ulonto, lá na outra margem da cidade.
Depois de todo o cerimonial que um visitante merece, não aguentei mais: ergui-me da esteira e fui para a frente da casa, onde fiquei olhando para o mar azul e ouvindo o som das ondas misturado com o som dos búzios.
Durante muito tempo fiquei ali imóvel e boquiaberto, vendo ao longe pequenas embarcações à vela, pescadores puxando redes carregadas de peixe, barcos a motor transportando passageiros para o Ibo, Mocimboa da Praia, Quirimbas e outros pontos da Província.
Depois de um tempo, deitei o olhar para a margem onde me encontrava e fiquei apreciando a beleza das ondas e assistindo ao espectáculo dos carangueijos que, espantados pelo marulhar das ondas, fugiam em debandada ao encontro dos seus esconderijos que raramente falhavam.
Entretanto, a minha tranquilidade naquele sítio não tardou a chegar ao fim.
Um garoto aproximou-se interrompendo a minha concentração na observação da natureza e, com uma ponta de timidez, informou-me:
- Precisam de ti.
- De mim? – Interroguei-o sem desviar o olhar do mar.
- Sim.
- Aonde?
- Lá no quintal.
- E quem precisa de mim? – Quis eu saber, olhando os seus olhos.
- Avô Omar. – Replicou ele, desviando o olhar.
- Voltou?
- Sim. – Sorriu. – Faz um tempo.
Saí dali e fui até ao quintal. “escoltado” pelo miúdo, que não parava de me lançar olhares furtivos, e, ao chegar, saudei o avô e fiquei conversando com ele desde o rpincípio da tarde até ao anoitecer.
Passados alguns dias e após termos pedido autorização ao avô, eu e mano Beto, e outros garotos do bairro, fomos à praia brincar.
Era sábado; a praia estava repleta de banhista e os pescadores ainda não tinham voltado do mar.
Ficámos na margem apanhando búzios, construíndo castelos de areia, perseguindo caranguejos, brincando com garrafas-azuis e ajudando os pescadores a puxar as redes e a tirar da água os pequenos barcos à vela.
Foi neste dia que ouvi dos nossos novos amigos a lenda do turbilhão Nunumuana, que fica a algumas milhas da Baía de Pemba.
Fiquei curioso e ao mesmo tempo cheio de medo.
Naquele dia não saí de noite para ver o mar sob o luar e muito menos para contar quantos segundos passam entre o acender alternado dos faróis das rochas de Ingonane e Ulonto.
Um certo dia, estando eu na companhia do avô Omar a pescar na zona portuária da baía, interroguei-o acerca da veracidade da misteriosa lenda que corria de boca em boca entre os garotos pembenses.
Ele garantiu-me a veracidade da história e prometeu contar-me tudo, noutro dia, porque a história era longa e complicada.
Os dias foram passando, um atrás do outro, e todas as noites ouvíamos histórias diversas contadas pelo avô, mas, curiosamente, o kôta não se lembrava de contar a história do turbilhão.
Nisto, numa certa noite de luar, décimo terceiro dia da nossa estada em Pemba, a curiosidade obrigou-me a pressioná-lo a contar a história prometida, pelo que o velho me respondeu:
- Tudo bem. Eu vou contar, já que insistes tanto.
Acendeu um tabaco, fumou em silêncio com o olhar perdido num ponto indefinido, como se estivesse a pensar em algo guardado nas profundezas da sua memória, sorriu perceptívelmente fazendo animar a sua face sulcada de profundas rugas e, por fim, começou a narrar a história.
- Reza a lenda que foi há muitos anos, muitos anos mesmo – Repetiu com firmeza, a ponto de acordar o mano Beto que já apanhara uma soneca. – que um barco transportando uma terrível curandeira e seus ajudantes naufragou, numa zona a algumas milhas da nossa costa, e o naufrágio matou todos os ocupantes.
- Ninguém se salvou? – Quis eu saber, curioso.
- Ninguém! – Disse, meneando a cabeça e pegando, ao lado do tronco onde estava sentado, numa “ exportação ” de nipa , que de seguida levou aos lábios, e bebeu um golo pelo gargalo.
Depois de pousar a garrafa no chão, avivou a fogueira que ardia no centro da roda humana, feita de miúdos do bairro ávidos de ouvir histórias antigas transmitidas oralmente de geração em geração, e em seguida continuou:
- Daí, os náufragos transformaram-se em fantasmas ferozes, a ponto de consiguirem, com a ajuda de um turbilhão acompanhado de ventos tempestuosos, imobilizar um navio enorme. A partir daquele dia, todos os peixes da baía passaram a ser deles e, quem pescasse à noite, era frequente deparar-se com fantasmas recolhendo redes e libertando peixes das redes e dos anzóis. Foi nessa época que o peixe, o alimento principal dos nativos, começou a escassear e os pescadores passaram a morrer em massa, vítimas de misteriosos ventos fortes.
Estremeci, escutei o som do mar e olhei em redor do quintal iluminado pela lua que derramava a sua luz sobre todos os bairros da cidade.
Depois, apurei os ouvidos e fiquei ouvindo a história que o avô contava, gesticulando e falando num tom de voz carregado de uma miscelânia de emoção e terror.
- Então, os nativos da baía reuniram-se para resolver o problema e, para tal, chamaram o curandeiro Amisse que, com a ajuda dos ancestrais, conseguiu falar com a curandeira náufraga. Durante o diálogo ela proibiu a pesca nocturna, o uso da rede de malha fina, e o derramamento de líquidos estranhos nas águas e, além disto, ordenou que todos os barcos que passassem pela zona do turbilhão atirassem para o mar alimentos diversos, de preferência carne fresca, como forma de pagar tributo pelos peixes apanhados na baía. Estes alimentos serviam para alimentar os peixes nas profundezas do mar, para melhor se reproduzirem e crescerem saudáveis.
O kôta tossiu três vezes interrompendo a locução; bebeu um trago da sua “primeirinha”, e prosseguiu:
- Quem não obedecesse ao que Nunumuana dissera, uma gigantesca massa de água que se revolve rapidamente cobri-lo-ia imediatamente e, se se tratasse de um barco naufragaria, e os seus ocupantes transformar-se-iam em fantasmas imortais e, depois, ocupar-se-iam de vigiar o mar e impôr a ordem quando se julgasse conveniente.
O velho fez uma pausa.
Puxou do tabaco enrolado num pedaço de papel de caqui, e aspirou voluptosamente o fumo que invadiu temporariamente o espaço da roda feito pelos miúdos que o escutavam com paciência e manifesto interesse.
Depois, enterrou na areia a ponta acesa do cigarro e logo voltou ao fio da história:
- Na verdade, após a cerimónia com o curandeiro, toda a gente passou a respeitar e a cumprir rigorosamente o que Nunumuana dissera e, em consequência disso, os peixes multiplicaram-se na baía, as mortes dos pescadores diminuíram drasticamente, e os nativos e outros habitantes passaram a viver felizes.
O Kôta calou-se e fez-se um silêncio absoluto durante o qual pude ouvi-lo a ressonar como um contrabaixo desafinado.
Olhei para os garotos à minha volta, vi que ainda se achavam atentos como mochos e, por fim, tossi propositadamente.
O velho assustou-se, acendeu novamente o tabaco que havia enterrado na areia e libertou uma grande fumaça que o fez tossir vezes sem conta.
Após um tempo bebeu de uma só vez a sua “ primeirinha ”, entoou em Kimuane uma canção sobre a lenda e, por fim, ergueu-se e começou a dançar enquanto o acompanhavamos em côro, batendo palmas.
Dois dias depois, eu e o mano Beto tomámos o autocarro de volta para Maputo, onde chegámos ao terceiro dia.
Passada uma semana, um impulso não me deixava e, consequentemente, impeliu-me a escrever estas linhas como forma de imortalizar a lenda e dar a conhecer a toda gente como os pembenses passaram a valorizar e a preservar o mar e os seus recursos.
O Turbilhão Lendário por Francisco Absalão - In Blocos OnLine
  • Biografia de Francisco Absalão segundo o "Blocos On Line" - O nome artístico é: Allman Ndyoko. Nasceu em 11 de Abril de 1977 em Pemba, província de Cabo Delgado -Moçambique. Residência actual: Maputo.

Ronda pela net - Prêmio Pulitzer: reconhecido oficialmente.

As fotografias que abalaram o mundo: "firing squad in iran".
Esta fotografia, distribuida pela agência UPI em 1980, recebeu o Prêmio Pulitzer sem que a identidade do seu autor fosse conhecida.
Obtida em 27 de Agosto de 1979, retrata o fuzilamento de homens de etnia curda por soldados do regime teocrata iraniano liderado pelo Ayatollah Khomeini, no início da Revolução Iraniana que depôs o Xá Reza Palevhi.
Desde a sua publicação nada mais se soube sobre o autor desta foto que correu mundo, transformando-se no primeiro símbolo do terror imposto pelo fanatismo religioso.
Longos anos volvidos o Wall Street Journal descobriu finalmente a identidade do seu autor, Jahangir Razmi, um repórter fotográfico iraniano do jornal Ettela'at, que obteve, do juiz que condenou à morte os curdos, autorização para fotografar as execuções .
É esse conjunto de vinte e sete imagens que Razmi ciosamente guardou e a história pormenorizada dos acontecimentos que rodearam a sua realização e publicação que o Wall Street Journal trouxe finalmente ao convivio da verdade.
No ano passado Jahangir Razmi foi reconhecido oficialmente como o autor da fotografia "Firing Squad in Iran", e pôde finalmente receber o Pulitzer Prize for Spot News Photography de 1980 a que tinha direito.

10/23/07

Ronda pela net - A Arte de Fotografar...

(Clique na imagem para ampliar - Foto de André Brito - Porto)
A perfeição e beleza produzida em imagens pelos artistas da fotografia que compõem esta galeria virtual com origem em Portugal, não necessita de palavras...Só de contemplação !
Indispensável de ver aqui !

10/21/07

Guerra Colonial em África - Série documental «A Guerra» - II

(Imagem original daqui)
Transcrevo post do "Instante Fatal" sobre a discutida mas necessária série televisiva "A Guerra" de Joaquim Furtado que a RTP 1 está transmitindo desde o dia 16 de Outubro.
Após imensos anos de tanta "lenda" mal contada às jovens gerações dos povos envolvidos e falsos "mitos" fabricados por conveniências políticas, surge a esperança que a verdade da História Colonial Portuguesa seja reposta com imparcialidade justa, transparente e a confiança de que sejam derrubados do pedestal imerecido, muitos "heróis de barro" auto-proclamados e falsificados.

(A Guerra - Primeiro Episódio - Nota importante: se não conseguir ver o video acima, já que exige boa largura de banda devido a seu "peso" - 163Mb. em 53 m. e 10 s., tente o acesso por aqui)
A verdade inconveniente de Furtado
Não vi todo o programa do Joaquim Furtado sobre a Guerra Colonial.
Do que vi gostei muito.
Parece que foi um sucesso de audiência.
Isto prova que vale a pena fazer televisão com qualidade e não apostar só na fancaría das telenovelas e dos reality- shows.
É evidente que só a RTP tem rede para poder arriscar a pôr no ar, no horário nobre, um programa daqueles.
Numa privada o falhanço de uma experiência destas pode causar muito prejuízo.
Ninguém hoje arrisca.
O programa do Joaquim tem a grande qualidade de ser isento, objectivo.
É jornalismo puro: testemunha sem preconceitos.
As imagens de arquivo são de grande qualidade e vem reforçar a idéia de que na RTP havia uma escola de grandes repórteres, de grandes cameramen, na década de sessenta.
As imagens não são só boas por serem documentos únicos.
Têm qualidade técnica e formal.
A vida nas colônias era uma boa vida e ali dá para percebermos melhor o nosso passado muito mal contado no pós-25.
Aquelas manifestações na baixa contra a guerra, com milhares de pessoas, não podiam ser só encenadas.
Havia ali fervor, autenticidade, idéia de Pátria.
A forma como Holden Roberto (que entretanto morreu) contou o ataque da UPA no Norte de Angola, é brutal em verdade.
Os portugueses foram barbaramente chacinados para darem lugar a ditaduras, mas nada há a fazer contra a avalanche da História.
Sobrevivemos e pode-mo-nos orgulhar do que deixámos em África.
Assim pudéssemos dizer o mesmo do que fizemos em 30 anos de democracia.
Blogue "Instante Fatal"- 17/10/2007

10/20/07

BAÍA DE PEMBA - A mais bela entre as belas...III História e Lendas.

(Clique na imagem para ampliar - Foto retirada do álbum de "Andre M. Pipa")
.
A Baía de Pemba
A baía de Pemba, a 13o 00’ Sul e 40o 30’ Este da costa de África, é vulgarmente considerada a terceira maior do mundo, sendo a primeira a de Guanabara no Brasil seguida da de Sidney na Austrália.
As suas águas ondeando tons, ora azuis ora verdes, apresentam-se mansas em dias de bom sol e agradável tempo mas também escarpadas, rugindo de encontro aos rochedos ou regalando pela areia quando os ventos sopram furiosos do Sul.
Este ventos mais conhecidos na região por “kussi” originam, não raras vezes centros depressionários bastante fortes do tipo tropical que arrasam quase por completo a cidade.
O mais antigo temporal que a documentação disponível nos pôde recordar data de 18 de Dezembro de 1904 que causou vários danos assim como levou ao afundamento um pequeno vapor e um iate.
É feita referência nessa altura à falta de faróis ao largo da baía, sendo o único o da ponta Said Ali que, para além de ter somente 6 milhas de alcance e não 9 como indicavam as cartas de então, não era aconselhável aos navios que passassem no alto mar.
Outro grande temporal devasta Pemba em 1914, destruindo pratica­mente todas as habitações e provocando grandes embaraços aos serviços da Companhia.
Estes ciclones assolam de tempos a tempos a região de Pemba, tendo o mais recente ocorrido em 1987.
Em sua extensão a baía de Pemba atinge os valores de 9 milhas de Norte a Sul e 6 de Leste a Oeste, perfazendo um perímetro de 28 a 30 milhas.
Mas não só por isso ela goza de tal fama como também pela pro­fundidade do canal de acesso e do porto, com sondas que variam entre 60-70 metros na entrada e 10-40 na parte média, para atingir os 25 metros no fundeadouro junto ao cais diminuindo em direcção á costa.
A sua entrada é, pois, franca a qualquer tempo e hora, podendo nela penetrar à vontade navios até cerca de 6 metros de calado.
No entanto, devido a alguns perigos isolados formados por rochas e bancos de coral, é necessária a pilotagem para os navios de alto mar.
A boca de entrada a partir da qual é feita a pilotagem é delimitada a Norte pela ponta Said Ali e a Sul pela ponta Romero, havendo actualmente farolins em ambos os lados.
Desaguam na baía alguns pequenos rios sendo o maior o Meridi cuja foz desemboca nas proximidades do baixo Mueve.
A baía de Pemba constitui, sem dúvida, um porto natural bastante seguro e, apesar de tudo, abrigado dos temporais regionais, tendo sido qualificado por Elton - Cônsul britânico em Moçambique a finais de 1890 - como "O melhor desde Lourenço Marques a Zanzibar”.
Alguns autores supõem que a baía de Pemba possa ter tido uma origem vulcânica, baseando-se no facto de ali se encontrar com abundância a "pedra pomes" própria de rocha vulcanizada.
Mas a sua constituição calcária e não basáltica vem a contradizer tal suposição.
Das origens do nome pouco mais se sabe do que as escassas informações recolhidas da tradição oral, algumas das quais baseadas em lendas, e deve tomar-se em consideração que a designação de Pemba para nome da região não foi a única ao longo dos tempos.
Em anos muito recuados da nossa história a baía de Pemba era frequentada apenas por alguns pescadores malgaches e swahilis que em suas pequenas lanchas e pangaios arrecadavam o alimento sem nunca ali se fixarem.
Conta então uma antiga lenda que por essa altura uma de tais embarcações apanhadas por um temporal naufragou tendo como sobrevivente uma mulher que se viu obrigada a procurar algum refúgio nas proximidades da baía.
A mulher importante (“nuno” em língua local ) conseguiu sobreviver e montar ali a sua guarita.
Naturalmente conotada a "Nuno" pelos pescadores como "mensageira divina" demonstrando que a zona poderia ser perfeitamente habitada, ela fê-los seguir o seu exemplo.
Nasce a zona de Nuno pelo qual foi conhecido por longos anos o actual bairro do Paquitequete.
Mais tarde viria a anexar-se a esta designação a expressão “pampira” (no sitio da borracha) em virtude da grande quantidade da árvore da borracha que no local nascia espontaneamente.
A região servida pela baía de Pemba foi também já conhecida por Mambe expressão que pode simultaneamente significar quantidade e longitude.
Embora certos autores relacionem “mambe” à baía de Pemba, a região a que a administração colonial designa por esse nome se situa mais a norte, no distrito de Macomia.
Uma outra tradição oral refere que um europeu, em data também não precisa, proveniente de Zanzibar faz desembarcar na baía os indígenas que o acompanhavam e, estes, vendo-se assaltados por grandes enxames de moscas gritavam dizendo “pembe” que em swahhili significa mosca.
Teria sido mambe, pembe ou outra a origem da expressão "Pemba" no território moçambicano, certo é que ela figura nas primeiras cartas inglesas como "Pembe Bay”.

10/19/07

Ronda pela net - A África que encanta crianças...

(Imagem original daqui)
Os mistérios e mitos da "agreste" África vão sendo desvendados, expostos cada vez mais neste mundo mágico da informação que é a net e, com o conhecimento, vai acontecendo a transformação gradual do antipático, do inóspito e violento em charme, em poesia, em beleza e até em novidade e encanto para o mundo que a desconhece e até para as crianças.
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Do jornal "Estado de São Paulo"-Brasil, Quinta-feira, 11 de Outubro de 2007:
África que encanta crianças
Editoras enfim descobrem o tom certo, sem ser superficial ou didático e sem resvalar no preconceito, para divulgar o melhor da cultura africana em livros infantis.
Beth Néspoli
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Sabe como se pronuncia leão em swahili, uma das línguas faladas na África?
- Simba!
- Ah! Por isso o nome do leão no famoso filme da Disney?
A descoberta agrada a crianças e a adultos e vem das páginas do livro infantil Um Safári na Tanzânia, que acaba de ser lançado pela editora SM.
Num país mestiço como o nosso, que tem na África uma matriz cultural importante na formação da identidade nacional, tal publicação é relevante, bem-vinda e deveria estar em todas as bibliotecas públicas.
Embora mais presente nos últimos cinco anos, esse tipo de livro infantil ainda pode ser considerado novidade no mercado editorial.
Mesmo os muito pequenos, que ainda não sabem ler, podem se encantar com as ilustrações de Julia Cairns para o texto de Laurie Krebs, em Um Safári na Tanzânia, que, de forma lúdica, ensina a contar, usando o olhar de um grupo de crianças que passeia pela savana.
Eles vêem javalis, gnus, hipopótamos e leões, sempre em grupo, em número crescente.
No fim do volume, uma espécie de posfácio didático, eficiente e atrativo traz o nome em swahili dos animais vistos pelas crianças, um mapa que localiza a Tanzânia no continente africano e um texto curto sobre o país e o povo Masai que habita a região que faz fronteira com o Quênia.
Outro lançamento infantil da SM é Yemanjá.
A autora, Carolina Cunha, profunda conhecedora da cultura iorubá, escreveu seu primeiro livro para crianças em 2002, Aguemon, também com temática africana, que, editado pela Martins Fontes, foi indicado para o Prêmio Jabuti.
Nas páginas de Yemanjá, o leitor encontra glossário que explica termos como ifá (oráculo iorubá) e ebó (oferenda aos deuses).
De certa forma, Carolina Cunha tenta dar às crianças de hoje algo que ela própria sentiu falta na infância.
Baiana, menina branca de classe média, ela conseguiu que os pais trouxessem da Inglaterra o brinquedo pedido: um bebê negro.
“Não tinha boneca negra em Salvador, só de pano, não é absurdo? Vivendo na Bahia, era inevitável que eu entrasse em contato com a religiosidade de raiz africana. Lembro-me da empregada lá de casa que toda noite de quarta-feira se arrumava, linda, para ir a um ritual que era cercado de mistério. Eu ficava muito curiosa, mas não entendia direito.”
Agora ela não só entende como compartilha essa compreensão, de forma poética e simples, com crianças brasileiras em seus livros.
Envolver o leitor mirim com lendas e mitos da cultura africana certamente é um filão editorial já descoberto.
Por isso mesmo, é preciso tomar cuidado.
Há o risco de simples superficialidade ou, pior ainda, da falsa arte, da historinha inventada unicamente com fins didáticos que, ao fim, não tem potência nenhuma.
Muito interessantes, nesse sentido, são as histórias assinadas por autores africanos.
Pelo menos nas conferidas pelo Estado, nada é explicitamente didático com relação à cultura negra.
Assim é, por exemplo, O Que Tem na Panela, Jamela?, também da SM.
Niki Daly, o autor, nasceu na Cidade do Cabo, na África do Sul.
E o que dizer de um infantil do premiado moçambicano Mia Couto?
Pois ele é um dos autores da coleção Mama África, da editora Língua Geral, que tem entre seus autores outro escritor de renome, José Eduardo Agualusa.
E eles são tão bons escrevendo para crianças quanto para adultos?
A resposta é um sonoro sim, a julgar por O Beijo da Palavrinha, de Mia Couto, e O Filho do Vento, de Agualusa.
“Entender a existência de diferentes visões de mundo é passo fundamental para combater intolerância e preconceito”, diz Dolores Prades, da editora SM.
Se é na infância que mais se aprende, livros agora não faltam.

10/18/07

ANIVERSÁRIO DE PEMBA.

(Imagem daqui)
Pemba completa hoje 49 anos
A cidade de Pemba completa hoje 49 anos desde que foi elevada a esta categoria, em 1958, por Decreto-Lei de 18 de Outubro do Governo-Geral da então Província Ultramarina de Moçambique, depois de em 1934 ter ascendido à categoria de vila, por Portaria de 19 de Dezembro.
Do programa previsto para as comemorações conta-se o lançamento das festividades das “bodas de ouro”, a assinalar no próximo ano, cuja preparação, segundo a edilidade, deve começar hoje, para que a celebração venha a condizer com a idade da cidade.
Em termos recreativos pouca movimentação está programada, facto que está a ser criticado pelos munícipes, habituados a viver festivais de canto e dança e música em momentos como este.
Maputo, Quinta-Feira, 18 de Outubro de 2007:: Notícias
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Um pouco sobre a história de Pemba:
Em Maio de 1897 a Companhia Colonial determinou ao capitão José Augusto Soares da Costa Cabral para proceder à implantação de um povoado na baía de Pemba – assim as populações nomeavam a região.Passaria a ser a capital dos territórios da companhia majestática.
Lendo-se a documentação daquele tempo, o primeiro estudo de construção de um colonato na Baía havia sido já planejada pelo antigo governador colonial, em 1858. Entretanto, o comércio que se fazia nas margens da Baía se desenvolveu imenso, com as populações locais e com as caravanas que vinham do interior. Em 1897 a companhia majestática construiu um Posto Militar perto da povoação "Muenha Amada" que se localizava a noroeste do hoje Bairro do Paquitequete.Essa região era apelidada "Pampira". E com esse nome passou a chamar-se a povoação junto do Posto Militar abrangendo também a "Muenha Amada".Quando o povoado começou a ser traçado, fala-se, na História de Cabo Delgado e Niassa, do Dr Medeiros, que "Começaram logo a seguir os pedidos de arrendamento e de aforamento de talhões.Proibiam-se as construções que não fossem de alvenaria e que não obedecessem a certas regras.A Companhia extorquiu as terras aos habitantes do local, classificando-as de 1ª Classe para efeitos de concessão. Gerou-se com isso uma onda de especulação em torno dos terrenos, por intermédio a maioria das vezes dos empregados da Companhia, tanto em Pemba como no interior, e foram de tamanha ordem que o Estado Português, ao recuperar a administração em 1929 tinha, entre outras, uma pretensa concessão em Pemba que compreendia quase toda a povoação, incluindo o cemitério público"."Abertos os primeiros estabelecimentos comerciais, foi criado em 13 de Outubro de 1899 um posto fiscal. Pela Portaria do Ministério português da Marinha e Ultramar, de 22 de Novembro de 1899, e proposta do Conselho de Administração da Companhia, Pampira passou a denominar-se Porto Amélia, em homenagem à última rainha de Portugal".
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A Companhia majestática.
O distrito militar de Cabo Delgado, na administração colonial, foi encerrado em 1891. O território compreendido entre o rio Rovuma e o rio Lúrio foi então concedido por Lisboa a uma Companhia majestática que passou a ter poderes soberanos sobre a região.A Companhia tinha exclusividade da coleta do imposto, o monopólio dos direitos alfandegários, da transação de terras, o direito de subconcessionar e de exercer atividades comerciais e industriais, agrícolas e mineiras.Os funcionários coloniais, crioulos e mestiços na sua maior parte, passaram a constituir o grosso dos funcionários médios e inferiores da Companhia e também a servir no seu corpo de milícias.Foi assim um capitão ao serviço da Companhia, José Augusto Soares da Costa Cabral, quem foi encarregado de implantar a povoação na baía de Pemba que está na origem da atual cidade capital da província de Cabo Delgado, no Moçambique independente.
Transcrição daqui.

Mais sobre PEMBA:

O que conta o "blogueiro" Miguel (lá de Angola) em seu não continuado "Agora Com Destino", sobre sua passagem por Pemba: