Esta coisa dos grandes eventos continua a ser pretexto para descanso dos governos e responsáveis políticos, deles se desviando a atenção. É por isso que me rio sempre quando se fala do tempo da outra senhora e do exercício da política com base na trilogia de Fátima, futebol e fado. Como se hoje não se passasse o mesmo. Como vem aí o Euro e anda tudo com a cabeça no ar, nem se dá devida atenção a factos bem importantes e que tanto nos envergonham. A propósito, no mundo do futebol, duas situações deixaram-me absolutamente revoltado pelo completo desprezo dos princípios e valores que devem nortear um comportamento digno. Um ilustre, será que é, português, a quem todos tecem loas e promovem à divindade, em pleno acto público de divulgação mundial, com o maior desplante e descaramento, não hesitou em renegar a língua da sua nacionalidade, Eu até aceitaria, com dificuldade, a justificação usada pelo senhor de que naquele acto apenas utilizaria a língua do país onde se encontrava e que lhe dá trabalho pago a peso de ouro. Mas o que se passou depois em que permitiu exprimir-se noutra língua esquecendo a sua anterior argumentação, deixou-me esclarecido. Não se pode deixar de considerar aquele acto como um enxovalho ao país e à língua daquele senhor, por ele perpetrado e a que os órgãos de comunicação social dos diversos países não deixaram de dar ênfase, como se pôde verificar. E, mais uma vez, fomos alvo da chacota de inúmeros jornalistas estrangeiros, de novo contribuindo para que Portugal e os portugueses sejam tratados com soberba e sobranceria. Cá dentro, qual foi a reacção? Zero. Como o senhor é gente importante, não se corra o risco de beliscar a sua fina sensibilidade. Fosse com qualquer outro e haveria de pagar com língua de palmo. Se até nós próprios nos permitimos este tipo de comportamento, como havemos de fazer com que nos respeitem lá fora? Não há pois que estranhar a resposta do mundo do futebol. A UEFA decidiu suspender o FC Porto das competições europeias. Não vou discutir se o Porto praticou ou não as infracções por que foi condenado. Tão pouco a má estratégia de não ter recorrido, reconhecendo e aceitando a decisão. O que me importa é o facto de uma instituição portuguesa ter merecido do organismo europeu que gere o futebol um tratamento com diferenciação negativa face a casos idênticos. Na verdade, relevante neste caso é que a UEFA decidiu aplicar um regulamento ao clube português que não existia à data dos factos objecto da sanção interna. Erro jurídico. Mais, aplicou o regulamento, condenou o clube, sem que igual prática tenha assumido em casos anteriores que envolveram outras agremiações de países diferentes. Porquê? Fácil a resposta. Porque somos pequenos e não temos dimensão nem peso para fazer valer as nossas posições, facto que até é ajudado pela circunstância de quem tem algum poder e protagonismo, não os usar na defesa dos valores nacionais. Claro que também podemos vislumbrar os interesses económicos e políticos dos lobbys que imperam no futebol europeu. Mas não é só. Se fosse um clube inglês, italiano, alemão, francês, acham que teria o mesmo destino? Esta decisão é aviltante e deve merecer dos portugueses, sem excepção, repúdio e protesto, seja de que forma for, esquecendo-se as clubites agudas e as capelinhas de devoção. Permito-me esta sugestão. Por mim vou já ver quem são os patrocinadores e sponsors da UEFA e ficam já a saber que dessas marcas mais nada comprarei e vou pô-las na lista negra da minha divulgação. É a minha forma de protesto. Pode ser pequena mas não cedo na minha dignidade. Sou mais português e nem por isso sou menos benfiquista.
Albano Loureiro - Advogado
O Primeiro de Janeiro de 06/06/08
*O autor é advogado e nascido em Porto Amélia/Pemba, filho dos antigos residentes Sr. Loureiro do A. Teixeira e da Professora D. Ana Alcina, sobrinha do Administrador do posto de Metuge (na época colonial), próximo a Bandar e à Companhia Agricola de Muaguide, Fernandes Pinto.Escreve periódicamente para jornal diário "O Primeiro de Janeiro" - Porto, a coluna Opinião.
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Textos anteriores de Albano Loureiro reproduzidos neste blogue:
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