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1/22/09

Cólera & cólera em Pemba... Desta vez em Mecúfi!

O que o "Notícias-Maputo" nos conta hoje sobre a "cólera" em Cabo Delgado/Pemba:

""Cabo Delgado: Brigada anti-cólera espancada no distrito costeiro de Mecúfi: Mais uma acção popular contra medidas anti-cólera teve lugar em Cabo Delgado, com o espancamento, há quatro dias, de um enfermeiro do Programa Alargado de Vacinação, um motorista e seis activistas, na região de Ngoma, distrito costeiro de Mecúfi, acusados de estarem a dissiminar a doença, numa altura em que, na capital provincial, Pemba, o número de doentes existentes no Centro de Tratamento da Cólera se elevou para 41, muito embora o de óbitos continue o mesmo (três) desde a eclosão da epidemia a 5 de Janeiro corrente.

O facto foi denunciado na segunda reunião que o Governo provincial convocou na quarta-feira para a avaliação do actual ponto de situação da doença, que neste momento, e segundo as estatísticas actualizadas, teve 177 entradas, sete das quais voltaram ao CTC, 141 altas, para uma taxa de letalidade avaliada em 1,7, havendo até às 7.00 horas daquele dia 41 internados por causa da cólera.

A pedido do médico-chefe provincial, Cesário Augusto, o secretário permanente, que dirigiu a reunião do Governo com todos os intervenientes no combate à colera, entre agentes da Saúde, líderes comunitários e presidentes dos bairros residenciais, para além de confissões religiosas e ONG’s, orientou a Polícia, em Mecúfi, para que esclareça o caso o mais rapidamente possível.

Enquanto isso, de acordo com o médico-chefe provincial, a enfermaria de cólera, constituída por três tendas, queimada por populares no bairro Eduardo Mondlane, na cidade de Pemba, está a ser reconstruída para voltar a funcionar, numa altura em que se suspeita que a qualquer momento o CTC que funciona no Hospital Provincial pode revelar-se exíguo caso a velocidade das entradas não venha a abrandar. Já foram montadas as três tendas e decorre a vedação do local por meio de capim, mas ainda se pensa na sua electrificação.

CRITICADA A APATIA DO CONSELHO MUNCIPAL.
No encontro, os participantes criticaram as reiteradas ausências de representantes do Conselho Municipal nas reuniões que visam debater a cólera, nas quais se avançam medidas de luta contra a doença, mesmo tendo em conta que ela não dá sinais de estar a diminuir.

De acordo com o médico-chefe provincial, apesar de o número de óbitos manter-se, o de entradas deve continuar a preocupar, se bem que há situações em que famiíias inteiras encontram-se hospitalizadas, sendo de concluir que as causas da doença estão longe de ser debeladas.

Intervenientes na ocasião estranharam que tanto na primeira como nesta reunião o Conselho Municipal pautasse pela ausência, estando em causa, por sinal, problemas de saneamento do meio, e pediram que quem de direito obrigasse os titulares do município a nelas participarem.

“Este Conselho Municipal parece que não sabe que estamos a tratar da vida dos municípes que controla. Isso, para além da incompetência que já nos habituou, está outra vez a nos mandar passear numa situação de tamanha aflição”, disse um interveniente.

O secretário-permanente, João Ribáuè, em resposta disse que o Governo provincial também se encontrava agastado com o funcionamento e neste caso com a não colaboração do executivo municipal chefiado por Agostinho Ntauale.

“Se o Conselho Municipal fosse um órgão que se demitisse há muito que teríamos feito isso em relação a este da cidade de Pemba”, disse aquele governante, antes de prometer que em dois dias far-se-á uma reunião em que obrigatoriamente o Conselho Municipal deve estar presente, ao lado da Saúde e o Governo provincial para explicar o que tem vindo a fazer nestes dias.

Da última vez, Agostinho Ntauale foi largamente criticado por ter pautado pela auseência, embora tivesse sido pedida a sua presença. Por extensão, boa parte dos seus presidentes dos bairros igualmente gazetou a reunião, o que intrigou os presentes. Na semana passada o nosso Jornal quis saber do edil o que se passava, ao que nos respondeu que a sua direcção estava representada pelos responsáveis dos bairros presentes.

Na oportunidade, Agostinho Ntauale dissera que a edilidade inclusive havia adoptado um novo horário de recolha de lixo, que terminava às 18.00 horas, justamente por causa da cólera.

Na reunião de quarta-feira, para além da ausência do seu presidente, o número de chefes dos bairros diminuiu ainda mais, mas a cólera continua a actuar, principalmente, nos bairros de Cariacó, Natite e Paquitequete.
- PEDRO NACUO, Maputo, Quinta-Feira, 22 de Janeiro de 2009:: Notícias.

  • Alguns post's deste blogue sobre o tema saúde pública e a epidemia de cólera em Cabo Delgado/Moçambique - Aqui!

1/15/09

HÁ 150 ANOS, EM CABO DELGADO, PREVENIA-SE EPIDEMIA DE COLÉRA ASSIM:

Manchete de hoje: Cólera mata em Cabo Delgado - A província de Cabo Delgado registou até ontem três óbitos vítimas da cólera, confirmada semana passada, depois de terem sido notificadas diarreias agudas desde meados de Dezembro passado. Enquanto isso, em Machaze, Manica, foram confirmados como sendo cólera, os casos de diarreias acompanhadas de vómitos, que provocaram nas últimas 24 horas um óbito... ...(leia a matéria na íntegra aqui - "Notícias-Maputo").

E, enquanto a epidemia de cólera tenta avançar por todo o Moçambique, diz-nos o historiador e colaborador deste blogue, Dr. Carlos Lopes Bento(1):

PROBLEMAS DE ONTEM E DE HOJE: - MEIOS DE PREVENÇÃO CONTRA A EPIDEMIA DE CÓLERA VERIFICADA, HÁ 150 ANOS, EM MOÇAMBIQUE.

No momento em que cólera está, novamente, a ameaçar Moçambique, é pertinente recordar o que passou, no longínquo ano de 1859, e algumas das medidas preventivas tomadas pela Junta de Saúde para combater a epidemia que, então, atingiu não só o distrito da Capital de Moçambique, sedeada na Ilha do mesmo nome, e terras firmes fronteiriças, como também o distrito de Cabo Delgado.

Para prevenir a epidemia e atenuar os seus maléficos efeitos, as Autoridades Coloniais de então, através da Junta de Saúde de Moçambique, tornaram públicas, em 5 de Fevereiro de 1859, importantes medidas:

“INSTRUÇÕES POPULARES ACERCA DOS MEIOS DE PREVENIR A COLERA-MORBUS DE O COMEÇAR A TRATAR ANTES DA CHEGADA DO FACULTATIVO.

A Junta de Saúde da Província de Moçambique faz público o seguinte:

Tendo aparecido na Cidade, desde o dia 3 do corrente, alguns casos do Cólera-Morbus epidémico, e precisando esta doença ser tratada, logo no período da invasão, pela sua tendência a uma marcha rapidamente fatal, a todos interessa tomar conhecimento das seguintes instruções.
1.°- O cólera não é doença contagiosa, não se comunica pelo contacto; pode-se, portanto, sem receio dar às pessoas afectadas todos os cuidados, que o seu estado reclama.

2.°- O cólera propaga-se por infecção, e está provado que a acumulação de indivíduos doentes, ou mesmo sãos, em lugares húmidos, estreitos, mal arejados, faltos de asseio, pode favorecer consideravelmente a intensidade da doença, e a sua propagação pela vizinhança.

3.°- As Autoridades competentes têm providenciado e continuam a trabalhar para tornar efectivos o asseio e limpeza das casas, das ruas, e dos quintais, mas os particulares por interesse próprio da sua família e escravos, devem espontaneamente empregar todos os meios para que a limpeza, principalmente, em seus domicílios seja sempre perfeita.

4.°- Os resfriamentos rápidos, as indigestões, o uso de maus alimentos, são causas determinantes do cólera. Às pessoas abastadas é suficiente lembrar-lhes isto, mas, acerca dos escravos, convém que os senhores velem para que eles fiquem de noite agasalhados e cobertos, e não ao ar livre; que se não deixem esfriar descansando de repente ao ar livre quando acabam de trabalhar ou carregar, e estão cobertos de suor; que não comam logo depois de um trabalho fatigante; e finalmente fazer algum sacrifício para que os alimentos sejam de boa qualidade.

5.°- Durante as epidemias do cólera é preciso dar toda a atenção a qualquer pequeno desarranjo das funções do estômago, e dos intestinos.

Qualquer pessoa afectada de dores do estômago, de cólicas, de diarreias, deverá primeiro que tudo, e posto que os sintomas sejam ligeiros, dar muita atenção à natureza dos seus alimentos, diminuir-lhes a quantidade, ou mesmo pôr-se em dieta, conforme a urgência; devera evitar a fadiga, o frio, a humidade, agasalhar-se, cingir o ventre de flanela, e tomar infusões ligeiras de chá da índia, chá de marcela ou de erva cidreira.

Havendo diarreia é de decidida vantagem o uso( para pessoas adultas) de doze a dezasseis gotas de laudano liquido de Sydenham, para dividir em quatro doses ; e tomar durante o dia em agua açucarada. Para crianças o laudano só deve ser aconselhado por Facultativos.

Estes incómodos das vias digestivas são muitas vezes os sintomas precursores do cólera por isso nunca devem ser desprezados, e da prontidão com que a eles se aplicam os meios fáceis e simples de que falámos, resulta o evitar-se com muita probabilidade um ataque formal da doença.

6.°- Se os conselhos, mais higiénicos do que médios, acima indicados não bastam para fazer parar os desarranjos observados; se a diarreia persiste, se a dor aumenta, e principalmente se sobrevêm vómitos, calafrios, resfriamento dos pés, das mãos, e do corpo em geral, ou se os mesmos sintomas se declaram, repentinamente, sem algum sinal precursor, como aqui na Cidade se tem observado em algumas pessoas, então deve fazer-se o seguinte — deitar imediatamente o doente em uma cama quente entre cobertores de lã; colocar tijolos quentes, sacos de areia quente ou botijas de água quente aos seus pés, pôr-lhe panos quentes sobre o estômago e sobre o ventre; fazer fricções nos membros e à espinha dorsal com sacos de areia quente ou com flanela embebida em licores espirituosos, como álcool, aguardente, álcool-canforado, ou aguardente com pimenta; fazer tomar, de meia em meia hora, ele intervalo ou ainda mais vezes, bebidas quentes tónicas e aromáticas, como chá, marcela, calumba; na epidemia actual, em que o resfriamento caminha rapidamente, tem-se tirado proveito do uso de alguns copos de genebra ou aguardente boa, dados em pequenos intervalos, e acompanhados cada um duma pitada de pimenta redonda; outras pessoas têm dado a pimenta em cozimento quente e bem açucarado, alternado com a genebra ou com o chá de calumba. Ao mesmo tempo põem-se sinapismos nas pernas, nos pés e nos braços para reaver o calor, e evitarem-se todas as causas de resfriamento. Havendo diarreia dão-se pequenos clisteres de agua de arroz, de alteia, ou linhaça, aos quais convirá algumas vezes juntar oito ou dez gotas de laudano (nas pessoas adultas); podem repetir-se os clisteres persistindo a diarreia.

Quando aos sintomas precedentes se juntar dores de cabeça, cãibras nos membros, a persistência ou invasão do frio em uma grande extensão do corpo, se a língua se torna fria, os olhos encovados, a pele azulada na face e nas mãos das pessoas brancas, estes indícios de maior gravidade da doença não devem fazer desprezar o emprego dos meios acima indicados, mas pelo contrario devem obrigar a aplicá-los com mais energia e perseverança até à chegada do Facultativo ou à remessa rápida do doente bem agasalhado para o hospital.

As pessoas que derem os primeiros cuidados não devem desanimar mesmo quando eles pareçam não produzir grande. melhora no estado do doente.

O fim que se tem em vista obter é fazer voltar o calor ao doente, restabelecer a circulação e os movimentos do coração; e algumas vezes só no fim de muito tempo se obtém este resultado. É pois indispensável continuar sem interrupção o emprego dos meios indicados, até que se tenha chegado a reproduzir o calor natural, que é o indício de uma reacção em geral favorável.

Estabelecida a reacção, convém animá-la com bebidas aromáticas ligeiras, se ela se conserva em grau moderado, e combater a diarreia por meio dos emolientes e do laudano, e os vómitos, por meio dos aromáticos e dos ácidos. Se a reacção é exagerada, se se desenvolve grande estado febril, são indicados os emolientes, as bichas e alguma sangria. Mas neste caso convém que o doente ou em casa, ou no hospital seja tratado por Facultativo.

Finalmente, a Junta julga do seu dever declarar que, por enquanto, quase todos os casos se tem dado em pessoas mal alimentadas e mal vestidas; mais uma razão para dar atenção aos preceitos higiénicos; e que desde o dia 4 do corrente se preparou no Hospital Militar uma enfermaria isolada, onde têm sido e continuarão a ser recebidos os indigentes e escravos.

Está-se também providenciando para a abertura de um Hospital provisório, que será aberto ao público se o número de doentes aumentar.
Moçambique, 5 de Fevereiro de 1859.
= António Justino de Faria Leal, Presidente interino.
= Joaquim Franscisco Colaço, Vogal.”

Meses mais tarde, o Governador-Geral João Tavares de Almeida, no discurso que fez, em 3 de Outubro de 1859, por ocasião da abertura da Sessão da Junta Geral da Província de Moçambique, ao abordar o problema da Saúde Pública, prestou sobre o assunto, a seguinte informação:

“No mês de Fevereiro deste ano, manifestou-se nesta Cidade o terrível flagelo do Cólera-morbus. Em poucos dias passou ele ao continente; e tanto em uma, como noutra parte, produziu assoladores estragos, atacando e fazendo numerosas vítimas, sem distinção de idade, nem de sexo, principalmente na classe dos escravos.

Houve sérios receios de que a epidemia se propagasse aos outros Distritos, mas felizmente não sucedeu assim. Somente o distrito de Cabo Delgado, sofreu os terríveis efeitos desta moléstia, desde 16 de Fevereiro até 10 de Abril do corrente ano.

Para maior, desgraça o Distrito não tinha facultativo algum, nem desta Cidade se lhe puderam mandar, porque só se soube a notícia da invasão da epidemia quando já tinha acabado.

Segundo as estatísticas já publicadas, o número de falecimentos durante o período da epidemia foi, nesta Cidade e parte do seu Distrito, de 749 pessoas. Consta porém que a mortalidade foi considerável em Sancul, e na Quintangonha, de cujos lugares não foi possível colher suficientes dados, e esclarecimentos. No lbo a mortalidade não foi menor e consta dos mapas remetidos terem falecido 967 pessoas.

Durante estas criticas circunstâncias que, neste Distrito, duraram até meados de Abril, adoptaram-se todas aquelas medidas que estavam ao alcance da administração, não só para debelar a epidemia, como para evitar que ela se propagasse aos outros Distritos, que a Providencia, felizmente, preservou de tão terrível e destruidor flagelo.

Com esta epidemia alguns proprietários sofreram graves perdas, e é de justiça dizer que todos fizeram em favor dos seus escravos aqueles sacrifícios, que as circunstâncias exigiam, e que a caridade ordenava.

Ao cólera sucederam algumas outras moléstias, que costumam ser o cortejo forçado de quase todas as epidemias de qualquer natureza que sejam e o estado da saúde pública ressentiu-se, por algum tempo, deste grande transtorno das condições higiénicas do país. Finalmente, as moléstias ordinárias do clima continuaram a predominar, com um carácter menos grave, mas com certa intensidade mesmo nesta época do ano, em que quase sempre o número dos atacados das febres diminui sensivelmente.”

Segundo dados publicados no Boletim Oficial, morreram, na Cidade de Moçambique, devido à terrível doença, mais de 700 pessoas, assim distribuídas, por etnias: 47 europeus, 11 asiáticos, 12 naturais, 1 chinês, 35 mujojos, 52 pretos livres, 8 pretos libertos e 541 pretos escravos.

Quanto à Vila do Ibo, faleceram, entre 16 de Março e 26 de Abril de 1859, 962 pessoas, assim distribuídas: 126 livres, 21 libertos e 815 escravos. O dia de maior mortalidade foi o dia 20 de Março, com 60 perdas.(2).

Não se apresenta números relativamente a Fevereiro e parte de Março.

Monte de Caparica-Portugal, 15.1.2009,
Carlos Lopes Bento(1).

(1) - Antropólogo e Professor Universitário.
(2) - Todo o conteúdo do presente texto faz parte de um contexto próprio, que deverá não ser esquecido na sua leitura e interpretação. Toda a informação aqui apresentada foi extraída das minhas fichas de leitura e fará parte de um novo trabalho, em vias de conclusão, sobre as Ilhas e demais terras Cabo Delgado.

  • Outros textos do Dr. Carlos Lopes Bento neste blogue - Aqui!

1/16/09

CÓLERA & CÓLERA EM PEMBA...

Pemba: Populares do bairro Eduardo Mondlane, onde se localiza a praia do Wimbe, na cidade de Pemba, destruíram sábado passado três tendas que haviam sido montadas para o tratamento de cólera, cuja eclosão foi confirmada a partir de 6 de Janeiro corrente, sob a acusação de que por via aquele centro que a doença é pretensamente distribuída pelas autoridades da Saúde. Pelo menos quatro mulheres estão a ser investigadas pela Procuradoria da República, naquele ponto do país, segundo revelou ao “Notícias” Ahamada Momade, adjunto do responsável daquela zona residencial.

Com efeito, segundo a fonte, uma multidão enfurecida destruiu e deitou fogo às tendas, ao mesmo tempo que eram procurados os responsáveis do bairro e da unidade residencial para ajuste de contas, por terem permitido a instalação do centro de tratamento de cólera na zona.

Amisse Bakili e Ahamada Momade tiveram que se refugiar na terceira esquadra da Polícia, que funciona na praia do Wimbe, para evitar que os manifestantes irados lhes molestassem.

“Era muita gente. Primeiro foi à casa do secretário da unidade aos insultos e depois acabou por queimar o centro. O problema está com as autoridades da justiça. Trata-se de má compreensão das pessoas que acham que a cólera é trazida pela Saúde, infelizmente”, disse Ahamada Momade.

O bairro Eduardo Mondlane, segundo dados a que o “Notícias” teve acesso, é o segundo mais afectado pela doença que se arrasta desde Dezembro passado, mas que foi clínica e laboratorialmente confirmada a partir de 6 de Janeiro em curso, tendo causado três óbitos, com 77 doentes cumulativos e 21 internados até às 7 horas de quarta-feira passada.
O director provincial da Saúde, em Cabo Delgado, Mussa Ibraimo Agy, disse que a tendência de alastramento da doença é crescente, pelo que o Governo provincial reuniu-se na quarta-feira com diferentes sensibilidades político-sociais, religiosas e associativas da cidade de Pemba, sob direcção do secretário permanente, João Ribàué.

No encontro foi constatado que a cólera encontrou condições propícias para a sua propagação, designadamente más condições de saneamento da cidade, bairros, nas famílias, sobretudo naquelas que não possuem latrinas, bem como a continuação do fecalismo a céu aberto, prática quase generalizada nas populações junto à costa marítima.

Os bairros de Cariacó, Eduardo Mondlane, Ingonane, Paquitequete, Muxara e Chibuabuari que até ontem tinham casos de cólera. Entretanto, um responsável do bairro de Chiwiba disse terem recebido cloro para o tratamento dos poços e outras fontes de água, mas que não estão a distribuir com medo de represálias dos populares, à semelhança do que aconteceu no bairro vizinho Eduardo Mondlane.

A Saúde, de acordo com Mussa Ibraimo Agy, está a fazer a parte que lhe compete, controlando a epidemia e evitando ao máximo óbitos de quem entra no centro de tratamento da doença, mas está consciente que sem a colaboração de todos nada pode debelá-la.
Soubemos que já foram montados três pontos de controlo de passageiros na cidade de Pemba, no rio Megaruma, limite entre os distritos de Ancuabe e Chiúre, bem como junto a Lúrio, que divide as províncias de Nampula e Cabo Delgado.

As autoridades municipais, por seu turno, segundo o seu Presidente, Agostinho Ntauale, não têm mãos a medir, tendo já instituído um novo horário de recolha de lixo e destruição dos montes acumulados pelos bairros residenciais.
- Pedro Nacuo, Maputo, Sexta-Feira, 16 de Janeiro de 2009, Notícias.

10/09/09

Cólera atinge populações de Cabo Delgado e Moçambique

Cólera mata centena de pessoas no país - Cerca de 150 pessoas perderam a vida vítimas da cólera no país desde Janeiro ao presente mês de Outubro, de um universo de dezanove mil casos diagnosticados no mesmo período. Esta informação foi ontem dada a conhecer na capital moçambicana, Maputo, pelo porta-voz do Ministério da Saúde (MISAU), Leonardo Chavana, no decurso de uma conferência de imprensa, que visava essencialmente dar informações actualizadas sobre os níveis de infecção pela Gripe A no país.

Segundo Chavana, neste momento as autoridades sanitárias estão com as atenções viradas para os distritos de Mocímboa da Praia e Montepuez na província nortenha de Cabo Delgado, zonas onde a doença registou um recrudescimento na semana passada, provocando dois óbitos. Na referida conferência, explicou que na província de Cabo Delgado foram registados na semana passada 163 casos de cólera dos quais 145 no distrito de Montepuez e os restantes 18, no de Mocímboa da Praia. Acrescentou que neste período de temperaturas elevadas, a cólera tem maior campo de actuação, ressalvando que para contrariar a doença os cidadãos moçambicanos devem redobrar esforços no que respeita aos cuidados de higiene. Instado a se pronunciar sobre as principais causas do recrudescimento da cólera naqueles dois pontos da província de Cabo Delgado, apontou factores como a não observância das regras mais elementares de higiene, a fraca disponibilidade da água potável e ainda a existência de pessoas que mesmo sem estarem doentes vivem com o vimbrião da cólera, o que abre espaço para contaminação dos outros em caso de falta de observância dos cuidados de higiene, recomendados pelas autoridades sanitárias.

Falando concretamente sobre os casos de Gripe A no país, o porta-voz do Ministério da Saúde disse que de acordo com a última actualização, as autoridades sanitárias moçambicanas registaram um incremento de casos suspeitos, em cerca de 10, tendo passado de 90 registados até a semana finda para os actuais 100 casos. Disse que os casos confirmados da doença continuam na fase estacionária, uma vez que continuam a ser os 42 registados desde que casos da doença surgiram no país, acrescentando que foi registado mais um caso negativo, passando este tipo de casos de 35 para 36.

Referiu que a província e cidade de Maputo continuam a liderar o número de casos suspeitos da doença, com 20 e 80 casos registados, respectivamente.

Da lista das províncias com registo de casos suspeitos da Gripe A, consta a província de Gaza com dois casos, assim como de Tete e Inhambane, cada uma com o registo de um caso.

Chavana disse ainda que a cidade de Maputo é a única que tem o registo de casos positivos, acrescentando que as autoridades sanitárias do país continuam a redobrar cuidados.
- Bernardo Mbembele, Diário do País, Maputo, 6º feira, 09 de Outubro de 2009- Edição nº 575 Ano III.

4/12/07

Pemba - A cólera avança ?...


Cinco crianças da Aldeia SOS na cidade de Pemba foram ontem internadas no Centro de Tratamento da Cólera (CTC) que funciona no Hospital Provincial de Cabo Delgado, na sequência do surto de diarreias agudas, associadas com a cólera, que desde o passado dia 15 de Março afecta aquele ponto do país e a vila-sede do distrito de Mecúfi. Contudo, não há notícias da ocorrência de mais óbitos, apesar de continuar a registar-se a entrada de mais pacientes, particularmente na capital provincial.
A eclosão do surto das doenças diarreicas associadas à cólera na Aldeia SOS, que alberga fundamentalmente crianças órfãs e vulneráveis, ocorre numa altura em que as autoridades sanitárias locais estão a intensificar as acções de educação para a Saúde sobre as medidas preventivas a tomar, bem como de desinfecção dos poços, reservatórios, sanitários e outros locais de relevo. Como resultado da implementação destas e outras medidas, há uma diminuição do número de casos entrados nos CTC, quando comparado com a situação nos primeiros dias da eclosão do surto, segundo fontes das autoridades sanitárias.
A título de exemplo, Marta Isabel Maurício, directora distrital da Saúde de Mecúfi, disse que nos últimos dias não se registou nenhuma entrada de paciente padecendo de doenças diarreicas. A propósito, explicou que do total de 83 casos registados desde o passado dia 17 de Março nenhum deles foi confirmado como sendo de cólera, estando-se ainda à espera dos resultados das análises laboratoriais.
Em Mecúfi, onde até ontem haviam três doentes internados na enfermaria especializada, o surto das doenças diarreicas associadas à cólera afecta particularmente a aldeia Muindi e o bairro Sassalane, na vila-sede distrital. Para fazer face à situação, o distrito foi reforçado por uma equipa técnica de apoio a partir da Direcção Provincial da Saúde, que, juntamente com as autoridades sanitárias locais, está a fazer intervenções no âmbito comunitário e no CTC, à semelhança do que acontece na cidade de Pemba.
Na sequência do surto, foram registados até ao momento na capital provincial de Cabo Delgado quatro óbitos, de cerca de mil casos notificados, a maior parte dos quais provenientes dos bairros de Cariacó, Paquite, Ingonane, Alto Gingone e Natite, de acordo com fontes das autoridades sanitárias. Na cidade de Pemba, o surto de diarreias agudas, com 11 casos de cólera confirmados, eclodiu no passado dia 15 de Março, com um total de 26 entradas.
Maputo, Quinta-Feira, 12 de Abril de 2007:: Notícias

11/13/07

Epidemia em Cabo Delgado ? - Cólera mata mais 15 pessoas.

Quinze pessoas morreram nas últimas duas semanas vítimas de um surto de cólera na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, e centenas encontram-se internadas devido à epidemia na região, informaram fontes hospitalares.
O médico-chefe da província de Cabo Delgado, Quinhas Fernandes, disse ainda que pelo menos 400 novos casos de cólera foram diagnosticados nas últimas duas semanas naquele ponto do país.
«A cólera é sempre uma situação de emergência. Está ainda sob controlo, mas temos que reforçar as campanhas de prevenção, para evitar que a epidemia se alastre rapidamente».
Desde Janeiro deste ano, foram registados em Cabo Delgado mais de 39 mil casos, contra 44 mil detectados em todo o ano passado, indica um balanço da Saúde em Cabo Delgado.
As más condições de saneamento e a falta de água potável são as principais causas do surto de cólera naquele ponto de Moçambique.
De acordo com Quinhas Fernandes, muitas pessoas em Cabo Delgado tem bebido água dos rios e poços localizados perto de casas de banho.
Teme-se que a situação se deteriore à medida que se aproximar a época das chuvas no país.
Diário Digital / Lusa-13-11-2007 15:24:00

12/15/07

CABO DELGADO - Cólera - 15 mortos nas duas últimas semanas !

Maputo, 14/11 - Quinze pessoas morreram nas últimas duas semanas vítimas de um surto de cólera na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, e centenas encontram-se internadas devido à epidemia na região, informaram fontes hospitalares.
O médico-chefe da província de Cabo Delgado, Quinhas Fernandes, disse ainda que pelo menos 400 novos casos de cólera foram diagnosticados nas últimas duas semanas naquele ponto do país.
"A cólera é sempre uma situação de emergência. Está ainda sob controlo, mas temos que reforçar as campanhas de prevenção, para evitar que a epidemia se alastre rapidamente".
Desde Janeiro deste ano, foram registados em Cabo Delgado mais de 39 mil casos, contra 44 mil detectados em todo o ano passado, indica um balanço da Saúde em Cabo Delgado.
As más condições de saneamento e a falta de água potável são as principais causas do surto de cólera naquele ponto de Moçambique.
De acordo com Quinhas Fernandes, muitas pessoas em Cabo Delgado tem bebido água dos rios e poços localizados perto de casas de banho.
Teme-se que a situação se deteriore à medida que se aproximar a época das chuvas no país.
AngolaPress - 14/12/07.

10/19/09

Na província de Cabo Delgado: Cólera faz 2 óbitos em menos de uma semana

CanalMoz, Ano 1 * N.º 60, Maputo, Segunda-feira, 19 de Outubro de 2009 - (Sede: Av. Samora Machel n.º 11 - Prédio Fonte Azul, 2º Andar, Porta 4, Maputo; email:  canal@tvcabo.co.mz) - Na província de Cabo Delgado Cólera faz 2 óbitos em menos de uma semana - A cólera volta a atacar no país, depois de em Junho o Ministério da Saúde ter desactivado os centros de emergências de atendimento a esta doença. Registaram-se 2 óbitos de um total de 187 pessoas internadas na província de Cabo Delegado. As zonas mais afectadas nesta província são os distritos de Montepuez onde se registaram 166 casos e na Mocimboa da Praia, em que as unidades sanitárias locais registaram 21 casos. A informação foi avançada na sexta-feira última pelo porta-voz do Ministério da Saúde, Leonardo Chavane.

Segundo a mesma fonte a eclosão desta doença nesta província do pais, tem como causa principal, o problemático saneamento do meio, má disponibilização de água e descuidos com higiene individual a que a população desta província está sujeita.

Segundo a fonte, há casos de diarreia principalmente nas zonas rurais, onde as condições de higiene não são bem observadas.

Em Junho foram registados em todo país cerca de 19064 casos e 64 óbitos.

Até final de Junho passado, a província de Zambézia liderava os casos desta epidemia que volta assolar o país um pouco por todo o lado.

Leonardo Chavane, director nacional adjunto da saúde pública, revelou-se indignado porque, segundo ele, na província de Cabo Delgado ainda prevalece receio por parte a população em aceitar ou aderir à sensibilização que se faz sobre a prevenção de cólera. A fonte disse que há um grupo de indivíduos nesta província nortenha que se dedica a desinformar a população e salientou que o mesmo grupo tem inviabilizado a campanha de sensibilização de luta contra cólera.

Tratamento
Para uma primeira fase de tratamento, o Ministério da Saúde diz ter disponíveis medicamentos para tratar 30 mil pacientes com embrião colérico.

Os medicamentos, apenas se encontram nas unidades sanitárias públicas e só podem ser disponibilizados aos doentes mediante uma receita médica autorizada pelo médico, refere o MISAU. (António Frades) 2009-10-19 06:10:00.

4/07/07

PEMBA - Diarreias e cólera fazem quatro óbitos.



Quatro pessoas morreram na cidade de Pemba, na sequência das doenças diarreicas associadas à cólera que desde o passado dia 15 de Março último afectam a capital provincial de Cabo Delgado e o distrito de Mecúfi. Até à última quarta-feira haviam sido notificados 768 casos daquelas enfermidades nos dois pontos, onde, entretanto, foram reactivados os centros de tratamento da cólera e as medidas de mitigação da doença.

A prevalência de doenças diarréicas naqueles dois pontos da província de Cabo Delgado registou o seu agravamento há sensivelmente dois meses, altura em que as autoridades sanitárias decidiram colher amostras para análises laboratoriais. No total, de acordo com Mouzinho Saíde, director nacional de Saúde, foram colhidas e analisadas nas três últimas semanas 22 amostras de água das diferentes fontes de abastecimento do precioso líquido, particularmente na cidade de Pemba.
Do total das amostras colhidas, conforme explicou, 16 revelaram-se impróprias para o consumo humano. Aliás, segundo disse, a eclosão do surto daquelas enfermidades resulta fundamentalmente do agravamento das condições de higiene e saneamento do meio nos dois pontos, situação agravada pelo fraco acatamento das medidas preventivas recomendadas pelas autoridades sanitárias por parte de alguns elementos das comunidades locais.
Para controlar a situação, que, na cidade de Pemba, afecta particularmente os bairros de Cariacó, Paquetequete, Ingonane, Alto Gingone e Natite, o sul de Sassalane e a aldeia Muindi, no distrito de Mecúfi, foram constituídas equipas de profissionais da Saúde e activistas da Cruz Vermelha de Moçambique (CVM) que estão a desenvolver acções de Educação Para a Saúde sobre as medidas preventivas das doenças diarreicas, enfocadas aos mercados.
Outras acções compreendem a desinfecção dos poços de água e reservatórios, dos sanitários e outros locais que sejam de relevo, a proibição da venda ilícita de produtos alimentares e impróprios para o consumo humano, o seguimento dos casos nos domicílios para a desinfecção domiciliária e educação da família, entre outras, conforme assinalou Mouzinho Saíde.
Para o caso do distrito de Mecúfi, que desde a eclosão do surto, no passado dia 17 de Março, notificou 73 casos sem nenhum óbito, este foi reforçado por uma equipa técnica de apoio a partir da Direcção Provincial da Saúde para desenvolverem aquelas acções.
A propósito, o director nacional da Saúde apontou que uma das dificuldades com que se depara o seu sector naqueles dois pontos da província de Cabo Delgado para fazer face à situação relaciona-se com a exiguidade de pessoal, para além de os primeiros registos de Pediatria, Medicina e CTC não ajudarem na localização dos domicílios dos doentes.
Maputo, Sábado, 7 de Abril de 2007:: Notícias

1/11/07

Cabo Delgado prepara-se para eventual surto de cólera.

As autoridades sanitárias em Cabo Delgado estão em alerta máximo face à possibilidade de poder eclodir o surto de cólera.
A medida surge na sequência das fortes chuvas que se registam naquela região do país, tendo sido já reactivados em todos os distritos, as comissões multissectoriais de prevenção e combate à cólera e mobilizados todos os meios de resposta imediata, para o caso de surgimento de qualquer indício que possa levar à eclosão da doença.
Maputo, Quinta-Feira, 11 de Janeiro de 2007:: Notícias

3/22/07

Pemba sofre invasão da água do mar...


Duas capitais provinciais, nomeadamente Beira e Pemba, foram afectadas pelas fortes marés que desde o passado domingo atingem diferentes pontos da costa moçambicana e não só. As águas do mar invadiram casas precárias erguidas ao longo da Praia Nova, na cidade da Beira, e no Bairro de Paquitequete, na baía de Pemba, em Cabo Delgado.
Na capital provincial de Sofala, o facto, que resulta de um fenómeno espacial pouco comum derivado da posição relativa entre o sol, a terra e a lua, registou-se nas manhãs da última terça-feira e ontem, afectando cerca de 1300 famílias, algumas delas obrigadas a abrigarem-se numa pequena escola e nas bermas da rua da marginal.
Relativamente à baía de Pemba, informações colhidas pela nossa reportagem dão conta de que as fortes marés registaram-se na noite de terça-feira e as águas do mar atingiram o Bairro de Paquitequete.
Ontem a Rádio Moçambique noticiou que a ligação entre Marracuene e Macaneta, na província do Maputo, estava interrompida.
Entretanto, na capital do país, mais concretamente no Bairro dos Pescadores, onde o fenómeno se regista desde o passado domingo, há indicação do agravamento da situação e, de acordo com informações facultadas pelo secretário daquela zona residencial, Orlando Machava, foram já afectados mais de 150 agregados familiares.
Segundo ele, a maré alta da noite de terça-feira e madrugada de ontem atingiu mais áreas do bairro e a água do mar ameaçava invadir o Centro Educacional do Chiango, que alberga crianças em situação difícil.
Naquele centro vivem em regime de internato 65 menores que a qualquer momento poderão ser evacuados se a tendência persistir.
Orlando Machava disse que para caso de emergência o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) prometeu disponibilizar pelo menos 20 tendas de campanha para os que ficarem sem abrigo. Num outro desenvolvimento disse que, derivado da situação, as autoridades locais estão preocupadas com a ocorrência de surtos de cólera e/ou de malária, dado o agravamento das condições de saneamento na zona.
Para mitigar uma possível situação de cólera, o Ministério da Saúde disponibilizou ontem algumas quantidades de cloro para o tratamento da água de consumo.
De referir que com a invasão das águas do mar os pouco poços existentes na zona estão inoperacionais, sendo que o abastecimento de água está desde ontem a ser assegurado pelo Corpo de Salvação Pública (bombeiros) e por um privado amigo da zona que ainda ontem forneceu 10 mil litros do precioso líquido, contra quatro mil fornecidos pelos bombeiros.
O Conselho Municipal de Maputo, em coordenação com o Instituto Nacional de Gestão de Calamidade (INGC) e a Cruz Vermelha de Moçambique (CVM), segundo informações em nosso poder, continua a monitorar a situação, tendo tomado medidas para evitar a perda de vidas humanas e minimizar os efeitos das marés.
De referir que o fenómeno foi provocado por um alinhamento perfeito entre o sol, a terra e a lua, provocando perturbações atmosféricas que resultaram na forte agitação das águas do mar. Há notícias segundo as quais outros pontos do mundo se estão a ressentir do fenómeno, sendo que o porto de Durban, na África do Sul, chegou a ter que ser encerrado.
Maputo, Quinta-Feira, 22 de Março de 2007:: Notícias

11/03/08

Moçambique - doença ainda desconhecida deixa 37 mortos em 4 dias.

Segundo a Associated Press e o Jornal de Piracicaba (02/11/08) - Brasil, trinta e sete pessoas morreram em menos de quatro dias numa área rural de Moçambique por causa de uma doença ainda desconhecida que tem a diarréia como um de seus sintomas, informaram autoridades locais neste domingo.

O ministro da Saúde de Moçambique, Ivo Garrido, disse que as autoridades do país africano estudam a possibilidade de se tratar de um surto de cólera, mas as mortes ainda estão sendo investigadas.

De acordo com ele, aparentemente todas as vítimas consumiram água contaminada de um rio na província de Manica, região central de Moçambique.

Pelo menos outras 20 pessoas estão internadas com sintomas parecidos. Moçambique é um dos países mais pobres do mundo e ainda se esforça para reconstruir seus sistemas de saúde e saneamento depois de uma longa guerra civil.

Casos de cólera são bastante comuns no país.

1/04/08

Moçambique, turismo e a ocupação desordenada do litoral de Pemba...

(Clique sobre a imagem para ampliar)
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Moçambique: Receitas do turismo atingem 160 milhões de dólares em 2007
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""""MacauHub - Maputo, Moçambique, 02 Jan/08 - As receitas do turismo em Moçambique em 2007 atingiram 160 milhões de dólares, um aumento de 3 milhões de dólares relativamente ao número de 2006, afirmou terça-feira em Maputo o ministro do turismo, Fernando Sumbana.
O ministro precisou que o número referido diz apenas respeito ao dinheiro gasto por turistas que em 2007 visitaram Moçambique, que deverão ter sido 1,1 milhões, um aumento signficativo face à média de 650 mil turistas em anos anteriores.
“Para além de turistas provenientes da África do Sul, Zimbabwe e outros países da região... ...""""

Acrescento
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É bom que se fale de turismo, que se divulguem Moçambique, suas belezas naturais, que se acentuem receitas crescentes ano a ano.
Moçambique sempre teve vocação turistica, desde os tempos coloniais. Portanto não é novidade.
Tardou demais para acontecer, mas é um início prometedor.
Há que reconhecer, entretanto, com humildade, que o turismo em Moçambique ainda se encontra em estado embrionário, quase rudimentar, muito aquém do potencial que o país possui e carente de bases sólidas de educação ecológica, ambiental que consolidarão e perpetuarão os atrativos naturais que tanto encantam quem visita Moçambique.
O turismo olhado a sério, com profissionalismo, aliado à educação e valorização ambiental, trará benesses para a economia moçambicana desencadeando desenvolvimento, modernização. Conduzido por profissionais do ramo, gerará postos de trabalho, melhorias sociais, etç., etç.
Faz alguns anos que vou acompanhando por afinidade Moçambique - Pemba, razão deste blogue.
Considero Pemba e todo o litoral de Cabo Delgado últimos (entre outros cada dia mais raros) paraísos/refúgios do nosso planeta globalizado, tão fustigado pelo destempero do ser humano na questão ecológica. E por isso merecedores de todo o cuidado, sobretudo por parte dos habitantes locais, maiores favorecidos se souberem zelar e fazer que respeitem este espaço do norte de Moçambique.
Aos poucos, o litoral de Cabo Delgado e seus recantos magníficos vão ficando reconhecidos e cobiçados pelos amantes da natureza, do imenso mar azul de Pemba e do calor dos trópicos. Normalmente vêm para conhecer, julgam e voltam trazendo novos passeantes abonados em euros e dólares úteis para a renovação e criação de infraestruturas turisticas e sociais planejadas, sustentáveis, de futuro e interesse geral da região. Ou que assim deveriam ser.
Pemba cresceu desde que deixou de ser Porto Amélia em 1975.
Tornou-se densa em população de várias origens e países vizinhos, algo cosmopolita, mercado a céu aberto informal, de lixo raramente recolhido em ruas mal conservadas e terrenos vazios, com meia dúzia de comerciantes predominando em algumas empresas mantidas desde o tempo colonial e também de pai para filho, com ruínas que florescem entre predios abandonados uns, sem pintura outros, mas que contam História que poucos escutam.
Paralelamente surgem aqui e ali insuficientes, esporádicas iniciativas e alguns empreendimentos atuais voltados para a sociedade local ou para turistas que aportam ao velho aeroporto e se abrigam de imediato em hoteis/resort´s voltados para o mar, desfrutando comodidades e iguarias amortizadas a preço internacional salgado, indiferentes ou desconhecendo a penúria, mendicância e outras negligências sociais envolvendo uma população numerosa, forçosamente impelida para bairros simples, humildes que vão proliferando, ocupando e ampliando desordenadamente o contorno da cidade de Pemba. Uma Pemba que continua crescendo, crescendo, sem ordem, sem saneamento básico, invadindo as fronteiras da vida da selva que expulsa, se revolta e hostiliza os invasores (caso dos elefantes abatidos por atacarem a população)...
Vêm também notícias preocupantes de que o crescimento urbano intenso e desorganizado à volta desses que deveriam ser redutos ou templos ecológicos sagrados a respeitar, está a descaracterizar, a aniquilar a beleza das praias de Pemba, substituindo o espetáculo da natureza sadia pelo cimento de construções de todo o tipo, muitas inadequadas, sem regras ou respeito a normas de saneamento, padrões urbanisticos adequados, loteadas mercantilmente a particulares e turistas para férias.
As consequências já se vão notando, segundo nos contam: lixo, mendicância, poluição das águas, áreas verdes escassas, cólera, assaltos em plena rua, etç....
Há que despertar a municipalidade da apatia cómoda e complacência perante esse tipo de "progresso" sem planejamento.
Há que educar a população a acarinhar e cuidar da natureza de Pemba.
Esta é a riqueza e o "tesouro-escondido" de Pemba...a tal jóia rara ! Não se pode perder pela irresponsabilidade e ambição.
O turista vem pela beleza natural de Pemba, de seu clima, de sua geografia visualmente despoluida, de seu povo hospitaleiro, de sua História, de sua tradição, folclore, do seu mar azul transparente e límpido... E só continuará chegando a Pemba e arredores se tiver a certeza que tudo isso continuará existindo, preservado, melhorado, sem o constrangimento da brutalidade do concreto firmado no reino encantado das areias brancas da sempre bela praia do Wimbe quase abraçando a Maringanha do velho farol !

5/25/13

O DESERTOR

Saíra de Pargal, com os Pais, ainda o orvalho vestia os montes. Almoçaram em Coimbra, num restaurante para os lados de Santa Clara, com as ruas repletas de capas a caminho do Municipal. Teve vontade de dizer-lhes que ficava ali, que não ia para Quartel nenhum, porque o seu tempo era de fogo e não de cinza.

Engoliu o bife que o estômago pedia numa necessidade animal, mas, lá fora, estava a alegria que lhe saciava todas as fomes. Quando recomeçaram a viagem, qual penitência sem pecado, os ecos estudantis soaram-lhe como um desaforo na imensidão do seu descontentamento.

Aqueles não se localizavam ali, mas na Baixa Portuense, nos Cafés Piolho, Diu ou Estrela, na Cedofeita das meninas das sapatarias ou na Santa Catarina dos discos e do Majestic. Eram, porém, iguais, porque o desafio da liberdade amordaçada não tinha cores nem diferenças.

Durante a viagem, o Pai, apagado funcionário público na Repartição Concelhia, preleccionava sobre o brio e a honra de servir a Pátria. A Mãe, Professora Primária na aldeia da sua nascença, cansada de berrar às impertinências da canalhada, geria o silêncio como se poupasse a voz para a obrigação profissional. De vez em quando, num hífen de abrandamento, lá aconchegava: «Há-de correr tudo bem, meu Filho. Vais ver...», num tom de resignação. Ele ia calado, encostado ao vidro, com o braço apoiado no bordo do assento traseiro, a mão no queixo, olhando lá para fora, a chuva a ameaçar, pensando para si. O que lhe apetecia não o deveria dizer; fora criado numa natural tradição familiar que é, muitas vezes, um filicídio ético mas sempre imaculado, pois nenhum dolo ou aversão cabem no amor do sangue. Filho único, educado em Colégios Jesuíticos e frequência interrompida na Faculdade de Economia do Porto, aprendera que a filiação, mais do que uma circunstância, é uma procedência e uma mercê. Para os Pais, sem bens ao luar ou cofre de segredo, Silvestre fora o seu sonho e a sua razão que, com a soma de ordenados parcos, lhe exemplificavam a generosidade sem preço. Mais que reverência, devia-lhes gratidão que é um afecto dobrado. Abdicara, por eles, de uma deserção aventureira sem data de regresso e o Povo, grosseiro, a atirar-lhes com o ferrete: «Olha os Pais do cagão!»

O jantar, na Ponderosa, foi despachado e silencioso. Compraram um pão de ló húmido, imagem de marca da casa, para lhe adoçar as primeiras horas. Aproximava-se o fim da viagem, Torres Vedras estava perto, e ele até pedia que a estrada não tivesse fim.

À entrada de Mafra, no cruzamento para a Ericeira, recebeu-os uma chuva tão impiedosa, forte e perversa, que nunca mais esqueceu aquela noite de domingo: 11 de Janeiro de 1966. A força da água, com um barulho ensurdecedor, fazia temer pela capota do velho Opel. O nevoeiro, que aquela levantava no Largo da Vila, mal deixava ver os contornos da ostentação de El-Rei D. João V. Só as luzes de dois cafés-restaurantes, do lado contrário, esbatidas pelas montras vaporadas, davam sinal de vida.

Contornaram o terreiro, virando à esquerda na direcção da Porta de Armas, e encostaram na confiança de que a bátega amainasse. Numa porta lateral frinchava uma luz morrediça de velório. Soube que era por ali que teria de entrar quando um táxi se lhes encostou para largar um rapaz de mala na mão. Devia-se apresentar até à meianoite; não tinha vontade nenhuma de se apressar, mas, quando a chuva passou a morrinha, despediu-se dos Pais, pegou na mala, “se tem de ser que seja!“ , correu para a porta, deu-lhe um pontapé, ficou um instante a dizer adeus, e fechou-a com o calcanhar. Deparou-se-lhe, num cheiro de gruta bafienta, uma encenação farsista: do tecto, alto e arqueado, pendiam redes mosquiteiras; no chão, de lajes polidas por muitas botas, grupos de mauzers ensarilhadas com capacetes que vira nos filmes da segunda guerra mundial; pelas paredes escorria uma humidade sórdida, exsudando salitre e desolação. O Sargento que o recebeu tinha uma cara de cera e uma barriga de momo.

Entregou-lhe a guia e o bilhete de identidade, assinou uns papéis e ouviu: «A partir de agora passa a ser o soldado cadete 779 barra 66! Escutou bem o que lhe disse ou esses cabelos tapam-lhe as orelhas?! Ó pá! – virando-se para um soldado - leva aqui o nosso cadete à caserna 8!» Silvestre, sem pronunciar uma letra, olhou-o bem, leu-lhe o nome escrito no dólmen, pegou na mala e seguiu o soldado como um perdigueiro, percorrendo corredores e subindo escadas de catacumba, de luzes tão mortiças que pareciam morrões, enquanto repetia o nome do Sargento até o fixar: Franklim. Quando entrou no dormitório, de beliches alinhados, a varanda estava escancarada e o frio da noite misturava-se com os restos de lixívia. Enfiou o malão debaixo da cama, depois de tirar o pijama, perguntou se alguém se opunha a que fechasse as portadas, pendurou a roupa numa maçaneta do beliche, disse um «Boa noite, malta!», a aparentar desinibição, e deitou-se. Os lençóis tinham a tesura do gelo e o colchão o ruído e o cheiro da palha. O parceiro de cima não parava de se mexer e receou que aquela geringonça de ferro lhe desabasse em cima. Fechou os olhos e as lágrimas salgaram-lhe as olheiras. Desde aquela noite que Silvestre soube que nada, mesmo nada, seria como dantes.

No final de Junho, aprovado no Curso de Oficiais Milicianos, deram-lhe uma bicha de Aspirante e uma guia de marcha para ir, no Regimento de Infantaria 13, em Vila Real, ensinar recrutas com o que aprendera. Antes de partir, foi à Secretaria despedir-se do Sargento Franklim. «Felicidades! », disse-lhe. «Falta o cumprimento militar!», retorquiu Silvestre. Quando o Sargento, de sorriso trocista, lhe bateu a continência, correspondeu cheio de formalismo, deu meia volta e nunca mais lhe veria a cara nos seus anos de forçado.

Entre a Instrução e o toque de ordem o tempo passava célere que, bem vistas as coisas, comandar jovens obedientes e retardados entusiasmava e não crescia tempo para pensamentos reversivos. Depois, entre a Gomes, a Toca da Raposa e o Liceu Camilo Castelo Branco, era o deslizar dos flirts e das banalidades conversadas. Quando a discussão se atrevia por atalhos de mais leituras e contendas de alguma inteireza, o cansaço matava a vontade e desprezava a curiosidade. Silvestre, a pouco e pouco, dando-se conta mas sem fuga possível, engordurou a polidez, deixando-se arrastar para a vulgaridade reinante. Aos fins de semana, tirando aqueles em que a escala de serviço lhe impunha a clausura, metia-se na Cabanelas ou aproveitava a boleia do NSU do Quim, que, de gasolina dividida, não se importava de andar mais dez quilómetros para o deixar à porta de casa. Era a sua vingança. Dormia até lhe apetecer, comia o que a Mãe já sabia que ele gostava, lia o que ficara a meio, pensava e era feliz no silêncio da aldeia, deserta aos domingos. Às segundas feiras acordava de madrugada para, às oito, se apresentar, diante do Comandante da Companhia, com o pelotão alinhado.

Quando já pensava que se tinham esquecido dele, deram-lhe uns galões de Alferes e outra guia de marcha para se apresentar na Amadora, apeadeiro da viagem para Angola.

Esteve lá três meses a formar Companhia, com muita Ordem Unida para cimentar o espírito de corpo, umas sessões de tiro na Fonte da Telha, duas semanas de nomadização na Carregueira, uns crosses à volta da Reboleira e muita vadiagem no Cais do Sodré e pelo dédalo do Bairro Alto. Numa madrugada de Março, a parada encheu-se de Berlietes, atiraram lá para dentro com os trastes que restavam - os maiores já tinha ido, na noite anterior, para os porões do Pátria – e, cheios de café com leite a cheirar a mentol e pães com planta, foram em bando para o embarque.

Em Luanda mandaram-nos para o Grafanil e, ao fim de duas semanas, estava a caminho de Carmona.

Uma poeira vermelha envolvia a coluna que avançava sob um barulheira infernal de motores, os rostos dos homens mascarados por películas de espanto e de medo. Costas com costas, as coronhas das armas apoiadas nos beirais dos bancos corridos, colados às caixas das viaturas, todos sentiam que agora era a sério; os treinos e as teorias estavam enterradas no outro lado do mar. Sem divisas nem galões, despidos de carimbos graduados, o mando e a obediência eram feitos de nomes, conhecimentos antigos e, acima de tudo, de responsabilidades assumidas. Silvestre ia na cabina descoberta de um Unimog, perdido no meio da coluna, farolando o capim e a floresta de mistérios ocultos.

A restolhada das aves e os guinchos dos chimpazés disfarçavam a gelidez vertebral que lhe acrescentava um enjoo de agoniado; estava borrado de medo naquele corredor ocre e verde; olhou para trás e só o Cubano lhe piscou o olho num rosto de menino apreensivo.

Num sopapo, lá à frente – pareceu-lhe ser na cabeça da coluna -, ouve-se um estrondo de terra esventrada, as pernas dos que iam adiante saltaram para as bermas da picada, ele, pulando do assento, fez o mesmo e atulhou-se no meio de corpos em que o terror e o suor se confundiam. As rajadas para o desconhecido cessaram como quem refreia uma precipitação; uma serenidade absurda paralisou o lugar e um acre de pólvora elevou-se do chão. Silvestre não contou as horas que demoraram a reajustar o rebenta-minas, enquanto os enfermeiros cuidavam das pernas dos dois sorteados, nem da penetração na espessura da mata, mais cautelosa que ofensiva. O que Silvestre aprendeu, nessa tarde, foi que só há futuro quando se tem consciência da morte.

Em Março de 1969, novamente em Luanda, iniciou, no Vera Cruz, a viagem de regresso. Surpreendentemente, já nem sabia se ir ou ficar. A saudade do sangue misturava-se com um apelo insólito de aventura, uma paradoxal tentação de abismo, só dubiamente explicada pela rotina da violência e que dominou com as expectativas de uma vida para viver. Para trás ficava um passado que se lhe afigurou desnecessário, de mortos e feridos contabilizados para a estatística da guerra. Safara-se da vergonha desertora e das curvas de um mau fim. Sentia-se aliviado, mas, uma urgência de dúvida entristecia-lhe o olhar. Talvez fosse uma premonição ou um constrangimento de encarar o tal futuro que confiscara na sua intimidade.

No Porto, ainda voltou à Faculdade, mas ele já se deixara vencer pela servidão repetida, o desvanecimento dos olhos vidrados e o sangue coalhado dos corpos mutilados. Diante daquela verdura de generosa rebeldia, sentia-se fora de cena, envelhecido precocemente, invejoso, até, por recusarem o que ele aceitara. Por vezes, tinha vontade de esbofetear aquelas caras de magma que lhe davam a aparência de uma traição; outras, apetecia-lhe pegar num megafone, subir para os estrados e incendiar de malignidade tanta desorganização que criava ídolos de anfiteatros mas dispersava propósitos. Faltava-lhe a frequência do meio que se alimenta do que vem de trás, sem anciloses de experiências diferentes; sentia-se evitado pelos que lhe conheciam a condição como se ele pudesse ser um delator infiltrado em tamanha comunhão libertária.

Quando, numa manhã de Maio, abraçou, diante da porta da Faculdade, o Capitão que comandava a Polícia de Choque, seu amigo guerrilheiro de Angola, percebeu que o seu relógio se atrasara definitivamente. O coro de assobios e impropérios que ouviu, deram-lhe o golpe final. Silvestre entendeu que, mesmo na grandeza solidária, há inocentes agrilhoados.

Foi colaborador desportivo de um Jornal que o mandava, aos domingos de manhã, fazer reportagens de Atletismo e, à tarde, nos fins dos jogos, ouvir aquelas declarações patéticas dos futebolistas e treinadores num ambiente de vapor de água e óleos de aquecer músculos; revisor de provas num Editora especializada em livros vermelhos e publicitário sem jeito para vender detergentes. Concorreu, então, ao totobola bancário,
inscrevendo-se em todos os Bancos da Praça. Bateu, em vão, a algumas portas e gabinetes, de muitos galões em cima dos ombros, a que acedia por interposições de menor graduação. Quando o Pai se convenceu de que a desistência académica não era uma birra, falou com um seu antigo Chefe, agora colocado em Repartição Distrital, irmão de Administrador Financeiro. Ao fim de oito dias, feitos os exames psicotécnicos, entrava, de fato e gravata, no Banco. Silvestre ficou a saber que, num empenho, vale mais a sobriedade certeira do que o alarde disperso.

Deram-lhe uma secretária, um telefone, uma máquina de escrever e puseram-no a fazer débitos de letras. As teclas caíam no papel com tanta força que cortavam os químicos, parecia que tinha chumbo nos dedos. Na Agência, sem grande espaço, localizada numa zona de forte implantação industrial, havia dias em que uma longa fila se estendia, na rua, diante da porta. Quando ajudava ao balcão, o seu sorriso não se esforçava, antes se expandia numa satisfação recém-profissional. Conhecia pessoas e feitios, abastanças e dificuldades, modéstias e soberbas. Era espantoso observar o modo diferente como se lhe dirigiam os endinheirados e os desprovidos. Os primeiros, julgando-se donos do Banco, queriam logo tudo numa truculência de trato que raiava a humilhação; os segundos, como se pedintes dele, exageravam numa candura que o desajeitava. Quantas vezes, sem o distinguir, se achava entronizado de um poder que a gerência de dinheiro alheio intruja. Sentia-se pertença de uma casta respeitável que amarujava a especulação e a carência, simbiose que permite a coroação do mandato, a conjectura de que, além de útil, se é importante.

Um dia, a Luísa tomou-lhe o coração. Vinha de uma Agência de província em que muitas assinaturas eram feitas com a tinta dos carimbos nos dedos e «a menina não se importa de me preencher a livrança que eu mal sei assinar o nome?». Cegou-se com aqueles olhos de tranquilidade, duas evidências cerúleas que lhe lembraram os entardeceres sobre as águas calmas da baía de Luanda, quando, aproveitando todos os motivos, se safava à depressão de lá de cima. Calhou que ela se sentasse na sua frente e tivesse que lhe dar a conhecer as rotinas da função. Os seus olhares, sem cuidados de esconder franquezas, colaram-se na recíproca contemplação: o coup de foudre decidia-lhes as vidas. Encerradas as portas ao público, por entre pressas do fecho da Caixa e o adianto do expediente acumulado, deleitavam-se num jogo de sedução com ela a não conseguir disfarçar um rubor que para, Silvestre, era uma senha de docilidade e uma contra-senha de abrasamento. Começaram por almoçar juntos, ir e vir no mesmo autocarro, escolher os filmes mais condizentes com a paixão em crescendo, enriquecer a Companhia Telefónica com telefonemas de tempo esquecido e as gasolineiras com passeios de fim de semana em que o único rumo era um recato para matar a sede de um ardor sufocante.

Casaram-se, a um sábado de Agosto, numa Igreja Românica mais afamada pelos reptos paroquiais que pela memória das pedras. Cumpriram os lusitanos costumes e as práticas religiosas. Convidaram familiares e amigos de um lado e do outro; transmitiram felicidade – ela de véu e grinalda, ele de gravata de seda e fato preto quase smoking - a quem veio e a quem via; esgotaram-se rolos de fotógrafos; consumiu-se a cascata de marisco nos primeiros cinco minutos da boda; esticaram-se as horas nas apresentações e nas danças de salão. Quando, para lá das janelas, a noite se anunciou, escapuliram-se, legalizados que estavam perante o mundo, e só mudaram de roupas num hotel coimbrão. Viveram no calor da terra e do mar algarvios a realização do sonho, amaram-se até ao tutano e trocaram juras de amor eterno.

Regressaram às lides do Banco como dois guerreiros reconciliados no armistício de uma refrega carnal.

Durante algum tempo compartilharam o mesmo espaço, mas, tiveram que aceitar a transferência de um deles - a Luísa escolheu – para outro poiso, que a simultaneidade conjugal e funcional não era – disse-lhes quem mandava - boa conselheira nas apreciações hierárquicas. Silvestre retirou outro ensinamento: nada vence a frieza da lógica empresarial.

Quando o filho lhes nasceu já tinha nome, escolhido nos conciliábulos da espera: Júlio. Acorreram todas as ascendências e parentelas mais chegadas para palpitarem parecenças e aconselharem procedimentos num entusiasmo que só os nados conseguem juntar. Júlio cresceu, durante os primeiros anos, na alternância de uns avós que competiam na melopeia dos enlevos e lhe disputavam a afeição. Os Pais via-os de manhã sempre cheios de pressa e à noite sempre fartos de cansaço. O quarto, a abarrotar de brinquedos, era um hiato no seu trajecto dividido pelas casas avoengas. Para onde quer que fosse, encontrava sempre um novo mimo como uma aliciação que ele não racionalizava, mas, chantagiava em perrices sempre contentadas.

Chegada a idade escolar foi para um Colégio que o levava e trazia numa carrinha. Por lá andou até os primeiros pêlos lhe despontarem na cara. Exigiu roupas de marca e serviram-nas; pediu moto e teve-a; desejou férias de Páscoa nas discotecas algarvias e foi; pediu vezes sem conta dinheiro e deram-lho, desrespeitou horas de chegada nos sábados da Ribeira, da Foz ou da Via Norte e ninguém se atreveu a lembrá-lo; havia manhãs de domingo em que a cama estava intacta e quando os Pais almoçavam ele ia dormir.

Silvestre, a pouco e pouco, sentiu-se atraiçoado como se uma navalha lhe dilacerasse a boa fé. Virava-se para a mulher a berrar que o tinham estragado, mas, esta, como se um fanatismo lhe impedisse o discernimento, recriminava-o pelo exagero e até fazia por esquecer a falta de umas peças em ouro que nunca mais voltavam à sua cómoda. Silvestre fingia normalidade. Os hábitos de fim de semana, porém, transformaram-se nos dias todos. O Júlio chegava a casa macerado, inquieto, enfermiço, de olhar turvo e longínquo, escudando a recusa de comer com a abundância de um lanche tardio, uma dor de cabeça destemperada, um namoro desfeito, uma necessidade de estar só. Quando o alarme tocou, deram-se conta de que haviam acordado tarde. Da caixa do correio retirou uma carta colegial em que lhe eram comunicadas as repetidas faltas do filho. No dia seguinte, telefonou para a Agência a dizer que estava doente, estava mesmo, e seguiu os passos do Júlio. Desabafou com o Director Escolar as suas perplexidades, aliviou-se um pouco quando lhe confirmou a presença do filho nas aulas, mas, entendeu as palavras entremeadas daquele.

Sentou-se no Café da esquina a observar os passantes e atento ao relógio. O Júlio transpôs os portões no fim da manhã, confundido no turbilhão das correrias e dos risos. Apartado, num grupo de mais três, tinha o ar de quem não pertencia ali. Subitamente, Silvestre viu-se no meio de muitas sirenes e campainhas de que desconhecia o som, gelado e a transpirar como quando o paludismo o prostrou, sem forças, numa cama africana, em delíquio nunca esquecido; julgou-se a correr para o filho, arrancar-lhe aquele cigarro, mas ele continuava colado à cadeira, sem reacção, estupidificado, uma confusão de gritos a rebentar-lhe na cabeça e no peito. Aquele cigarro do filho não era como os que ele fumava, o papel parecia uma tira ressequida, mal embrulhada, e o fumo, que lhe saía da boca e das narinas, meio azulado. Reparou que o grupo se desviou para um esconso do muro, que dava para um descampado de silvas, faziam gestos de trocas, que não conseguiu ver, e metiam as mãos nos bolsos.

Mal a Luísa chegou, ao fim da tarde, comunicou-lhe, depois das explicações do que vira, que iria afrontar o filho. A algazarra foi só dele. Ela, calada e chorosa, o filho, fechado e ausente, ouviram um Silvestre desesperado, que tanto esganiçava o seu ódio à sorte como implorava o amor do Júlio, até se deixar cair no sofá, enrodilhado em pranto. «Pai, quero-me tratar...», balbuciou ele, passados uns instantes, numa naturalidade tão seca que parecia uma decisão antiga, muitas vezes adiada e, finalmente, assumida. Uma interrupção de síncope esmagou a sala; eles incrédulos e mudos, o Júlio de olhos perdidos na alcatifa. O tempo parou dentro daquelas quatro paredes; ouviram-se os estalos da madeira como se os móveis se esticassem; a televisão, de som cortado, mostrava uma bulha de galos. Silvestre, recuperando do sufoco, ganhara uma esperança, mas, perdera a ilusão de que, afinal, tudo fosse mentira. Bem lá no fundo, misturada
com a desconfiança, ele ansiava por uma réstia que lhe mostrasse o seu engano; aquele «Pai, quero-me tratar...» era a confirmação do seu temor.

Recorreram a Médicos amigos e desconhecidos afamados, gastaram o que tinham e empenharam-se para o internar nos Centros mais díspares e caros. Correram para lá durante meses em calvário já encarado numa irremediabilidade. Era como se fossem visitá-lo a uma Cadeia. A Luísa, com o passar dos dias, perdia o seu olhar marinho que umas olheiras, de covas fundas, ajudavam a enegrecer; arranjava-se já não só por
hábito, mas, acima de tudo, para aparentar normalidade. Não gostava que lhe tocassem no assunto e, nos mais chegados, vertia todo o fel do seu infortúnio. Lembrava muito os seus tempos de infância feitos de bonecas de pano que a Mãe lhe fazia nas tardes mortas, dos passeios pelos caminhos da serra e das gargalhadas do Pai. Parecia-lhe que a vida passara depressa, abreviando-lhe a felicidade numa morte anunciada. Sobre Silvestre desabara o peso da cisma, a cólera que lhe consumia as entranhas, o ódio – um
ódio terrível – que lhe sustentava uma gana de desforço. Foi a um acampamento cigano comprar uma pistola e guardou-a por detrás de uma prateleira de livros. Esperaria a hora, o instante que só o Júlio podia ditar: se se erguesse ainda podia perdoar, se a decadência não tivesse solução iria a qualquer covil, dos muitos que já ouvira falar, onde se traficava a mistela, e atiraria sem ver, de olhos fechados, só pedindo que nem um tiro falhasse para não ir para a prisão com remorsos de deixar algum vivo. Faltaram-lhe as palavras, tinha dias em que só lhe apetecia ficar na cama, o pior era que não dormia, de nada lhe serviam os comprimidos que o Psiquiatra lhe receitara, a travesseira encharcava-se de choro como uma baba demencial.

Entre Silvestre e Luísa, sozinhos, numa casa que mais se assemelhava a uma capela mortuária, instalou-se um surdo desencanto que uma inútil troca de acusações fez crescer. Esmiuçavam facilitismos e encobrimentos antigos num passar de culpas mútuas; travavam discussões de uma inaudita violência verbal, sem um arrependimento, como se fossem escapes para os fumos das suas amarguras; às vezes, tentavam salvar a relação que nascera com tanto ardor e felicidade, mas esse esforço era, em si mesmo, já um sinal de termo.

Suportavam-se, cada um à espera que o outro desistisse porta fora, a paixão e o amor eterno estilhaçados nos muros dos seus mutismos. Não se desejavam e as noites eram uma frivolidade penosa. Silvestre nunca pensara que a desgraça de um filho afastasse quem o gerara, fosse possível o desfazer de tantas ilusões, e nenhum futuro – nem mesmo o mais natural e lógico – estivesse certo nos projectos de vida.

Trabalhavam porque o Júlio existia e existiam pela esperança da sua cura.

O telefone da sua secretária tocava tantas vezes ao dia que o seu atendimento se tornara maquinal. Quando reconheceu, do outro lado da linha, a voz do Médico que orientava o Centro onde o filho desintoxicava, estremeceu, pensando que a libertação chegara. Mas não, aumentara o cativeiro: o Júlio fugira, já o haviam procurado, mas, sem êxito. Levantou-se como um furacão, o João gritou-lhe «Olha a carteira!», voltou
atrás, e desapareceu diante da compaixão dos colegas.

Iria ao sítio onde o filho estoirara as mesadas e os acrescentos familiares. Antes, porém, pegaria na arma para solucionar, de vez, a sua alienação. Num dos cruzamentos da longa avenida onde morava, na bicha que aguardava o fim de um semáforo vermelho, viu o Júlio, desfigurado, dobrado, sonâmbulo, mal vestido, um farrapo, a estender a mão às esmolas dos carros. Enlouquecido, vergastado pelo lume da vergonha, esmigalhado nas derradeiras nervuras da sua resistência, arrancou louco, deixando atrás de si um coro de buzinadelas, não viu as cores nem as passadeiras, meteu o carro na garagem, não correspondeu à saudação do vizinho do quarto esquerdo e mandou o elevador para o sétimo frente. Sentou-se no velho sofá que a Mãe lhe oferecera quando fizera trinta anos, onde costumava ler e escrever para o boletim da comissão fabriqueira da sua paróquia aldeã. Não ouvia o eco dos carros, os apitos agressivos, a chiadeira das travagens, o grito lancinante de uma ambulância a querer romper a confusão, a algazarra das crianças no infantário das traseiras do prédio. Não tinha uma lágrima, nem uma lembrança, nem uma vontade, não tinha nada, nem se tinha a si, nem sequer a certeza de que o destino pode ser adiado. Silvestre esqueceu a parabellum, pegou num papel e escreveu: «Não merecia isto. Vou desertar.» Colocou-o na credência do hall de entrada, abriu a janela e deixou-se cair como um pássaro chumbado.


- De M. Nogueira Borges* extraído com autorização do autor de sua obra "O Lagar da Memória". O livro "O Lagar da Memória" foi apresentado  dia 12 de Março último na Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia . Informações para compra aqui. Também pode ler M. Nogueira Borges no blogue "Escritos do Douro". A imagem ilustratrativa acima foi recolhida da internet livre e editada. Clique na imagem com o "rato/mouse" para ampliar.
  • *Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua - Portugal. Faleceu em 27 de Junho de 2012.
Clique  na imagem acima para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Julho de 2012 e em homenagem ao saudoso Amigo MANUEL COUTINHO NOGUEIRA BORGES. Atualização em Maio de 2013 Só é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

3/27/08

África - Falta saneamento básico decente...

O Observador -Ano I-Nº 0180-Maputo-Quinta-feira, 27 de Marçode 2008 - Seis entre dez africanos chafurdam em dejectos humanos por falta de um saneamento decente - Um assunto que muitos preferem evitar, mas nos países em desenvolvimento o acesso a banheiros é uma questão preocupante e que afecta muitas pessoas, de acordo com as Nações Unidas.
Duas entre cinco pessoas não têm acesso a um vaso sanitário e a falta de saneamento básico põe em risco a vida de 2,6 bilhões de pessoas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
“No mundo hoje em dia, são mais de 15 milhões de mortes decorrentes de doenças infecciosas”, declarou David Heyman, sub-diretor-geral da OMS para as doenças transmissíveis. “Se tivéssemos hoje boas condições de saneamento e fornecimento de água aceitável, reduziríamos o número de doenças para dois milhões”. “As pessoas não gostam de falar sobre saneamento”, disse Jon Lane, director-executivo do Conselho de Água e Saneamento, uma organização das Nações Unidas dedicada a melhorar as condições em comunidades carentes.
Em pesquisa feita pelo British Medical Journal, 11 mil profissionais da saúde citaram o saneamento como o mais importante avanço na medicina desde1840.
Segundo Lane, muitos países lidam com esse assunto de maneira equivocada. Muito tempo foi perdido na tentativa de envolver sectores privados com o saneamento. Em África, seis entre 10 pessoas não tem acesso à que as agências consideram “um saneamento decente que separe dejetos humanos do contato humano”. Falta de saneamento básico aumenta não apenas os riscos de doenças como também põe em perigo mulheres e crianças que ‘se expõem a assédio sexual quando evacuam à noite ou em áreas abandonadas’. Entre 1995 e 2004, o acesso a saneamento melhorou para 1,2 bilhão de pessoas. Caso as coisas continuem como estão, ainda haverá 2,4 bilhões de pessoas sem saneamento básico em 2015. “As Nações Unidas têm a responsabilidade de mobilizar ações concretas para que melhorias sejam alcançadas. São necessários investimentos imediatamente”, exigiu o presidente da Equipa de Tarefas-ONU-Água, Pasquale Steduto.
No Peru, 800 milhões foram gastos com um surto de cólera que atingiu o país em 1991 - valor esse muito maior que o necessário para prevenir tal surto novamente.

7/17/09

De Norte a Sul - Moçambique que vi e ouvi!

Existe um outro Moçambique para além do mundo virtual da internet, das redes sociais emergentes minoritárias, elitizadas e por regra mais preocupadas com o "eu" do que com o "nós" ou o "ao redor". Existe o Moçambique das maiorias... das maiorias pobres, sem informação, sem carro de luxo ou griffe da moda, existe o Moçambique da majoritária miséria, da doença, da impossibilidade de frequentar e até sorrir feliz em locais badalados de saraus, restaurantes, praias, piscinas e festas que se vêm ou lêm nas colunas e redutos sociais da bela Maputo ou de qualquer outra cidade moçambicana! E é esse Moçambique majoritário, carente que precisa ser destacado, noticiado, mesmo que não gostem as tais minorias privilegiadas e dominantes:

- No final de uma longa viagem por terras moçambicanas, o coração transborda e escrevo algumas imagens e impressões em flashes breves e rápidos.

“Não há problema” e “está tudo bem” são expressões que ouvi muitas vezes durante quatro semanas. A realidade é bem diferente. Saúde, habitação, má alimentação, pobreza, vias de comunicação, são problemas reais de Moçambique.

O salário mínimo de um trabalhador não qualificado é de 2.200 meticais, equivalente a mais ou menos 57 euros, por mês. Há quem receba 900 e até 500. Ao passo que um litro de leite pode custar 55 meticais, um quilo de arroz do mais barato 14, um livro escolar 570.

Dez horas é o tempo gasto a percorrer os cerca de 400 quilómetros que separam Cuamba de Nampula, em carrinhas com tracção às quatro rodas. Em tempo de chuvas pode demorar muito mais. Para apanhar uma estrada alcatroada é preciso desviar do caminho e fazer mais 100 quilómetros.

Deslocações de avião, só para estrangeiros ou uma minoria de moçambicanos.

A cidade de Cuamba, com 56800 habitantes, não tem uma única estrada alcatroada. Nesta cidade está a funcionar a Faculdade de Agronomia da Universidade Católica de Moçambique. A cidade está situada no distrito com o mesmo nome, na província do Niassa, norte de Moçambique.

Doença do século, como é aqui designada, a Sida mata a eito e deixa muitas crianças órfãs e seropositivas. Mas também a malária e a cólera matam. O hospital ou o centro de saúde, muitas vezes ficam longe e não há dinheiro para os medicamentos.

A maior parte dos alunos para estudar e fazer os trabalhos de casa tem que ir à biblioteca, único sítio onde há livros escolares. Nas aulas só cadernos para tirar apontamentos.

Em Entre-os-Lagos, localidade próxima da fronteira com o Malawi, na escola secundária, os alunos assistem às aulas sentados no chão. Não há cadeiras nem mesas.

Outro grave problema é a má alimentação que dificulta a aprendizagem, para não falar das distâncias que algumas crianças e jovens percorrem a pé para irem à escola. O transporte é caro, mesmo os «chapas», carrinhas de nove lugares sempre superlotadas. Não admira que andem sempre à procura de boleia.

As mulheres, também elas muitas vezes mal alimentadas, carregam tudo às costas e à cabeça. Os filhos, o pote de água, o molho de lenha. Trabalham na machamba, a semear o que a terra dará para comer, se a chuva ajudar. Quantas nunca viram uma agulha ou uma linha para coser a roupa. Muito menos a máquina de costura. Usam a capulana que é um pano que serve para tudo, até para guardar o dinheiro.

Maputo, a capital, onde há muitas diferenças sociais, vive mais de um milhão de pessoas, em 347 quilómetros quadrados. Casas luxuosas, com guardas armados, arame farpado e electrificado, mas ao virar da esquina muito lixo amontoado, muita pobreza, pessoas que vendem artesanato na rua para ganhar a vida.

O missionário da Consolata, padre Artur Marques, que vive há muitos anos em Moçambique e conhece muito bem o país, afirma que já foi muito pior. Nota-se a reconstrução e reabilitação das estruturas da cidade.

Moçambique depende muito da ajuda internacional, mas só cinco a sete por cento do valor dessa ajuda, chega ao seu destino.

Apesar de todas as dificuldades, alegria e boa disposição é o que não falta ao povo moçambicano.

Ainda conseguem cantar depois de seis horas seguidas sentadas na parte de traz de uma carrinha de caixa aberta.
- Ana Paula FÁTIMA MISSIONÁRIA 16-07-2009 • 17:30.

11/26/09

Apesar das ajudas internacionais o número de pobres e dos muito pobres continua a aumentar em Moçambique

ONDE VÃO (OU EM QUE BOLSOS VÃO PARAR) OS MIL MILHÕES DE DÓLARES (667 MILHÕES DE EUROS) EM AJUDAS INTERNACIONAIS DOADAS ANUALMENTE A MOÇAMBIQUE ?

Moçambique - Crescimento económico sem correspondência na diminuição da pobreza. AngolaPress, 26-11-2009-20:57, Lisboa - O crescimento económico em Moçambique não tem correspondência na diminuição da pobreza e apesar das ajudas internacionais o número de pobres e dos muito pobres naquele país continua a aumentar, considerou hoje (quinta-feira) em Lisboa o investigador britânico Joseph Hanlon.

Jornalista e docente em Inglaterra, Joseph Hanlon falou à Lusa à margem da conferência "Pobreza e Paz nos PALOP", organizado pelo Centro de Estudos Africanos do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa, que termina hoje em Lisboa.

Retomando as ideias que expressou no livro intitulado "Há mais bicicletas - mas há Desenvolvimento?", lançado em Julho desde ano em Maputo, Hanlon leu hoje na conferência o texto "No peace without jobs" ("Sem empregos não há paz"), em que desenvolveu o conceito que chamou de "paradoxo moçambicano".

"Apesar da maciça ajuda dos doadores internacionais: mil milhões de dólares anualmente (667 milhões de euros), cada vez há mais pobres, cada vez aumentam mais os índices de pobreza", salientou, acentuando que a redução da pobreza "foi menor do que devia ter sido".

Defensor de mais investimentos na agricultura - "para garantir maior auto-suficiência alimentar e menos êxodo rural" -, Joseph Hanlon lamentou que os doadores internacionais - "que garantem cerca de metade do orçamento de Estado moçambicano" -, continuem a insistir nos investimentos nos sectores sociais.

O problema reside no facto de Moçambique receber mais ajuda externa do que outros países africanos, "correspondendo ao que os doadores lhe dizem para fazer".

Estas "pressões" conduzem àquilo que Hanlon classificou como "armadilhas que a pobreza coloca à paz".

A título de exemplo, recordou dois casos passados no distrito de Montepuez, na província de Cabo Delgado, norte do país.

Primeiro o ocorrido em 2000, em que mais de uma centena de pessoas foi morta em circunstâncias apresentadas como resultado da luta política e, mais recentemente, no passado dia 11, a morte de funcionários do Ministério da Saúde, às mãos de populares, que os acusaram de terem tentado infectá-los com o bacilo da cólera.

A falta de informação está na base deste último episódio que Hanlon caracterizou como "exemplo de mais um caso em que os pobres respondem ao receio de que os ricos os queiram matar".

Num plano mais geral, Joseph Hanlon questiona-se sobre o que "correu mal", em que o aumento da ajuda internacional não foi acompanhado da diminuição do número de pobres.

"Que foi que correu mal? Dos grandes projectos não resultam mais empregos e nem se pode falar em aumento do consumo interno, porque com mais pobres, e como estes não têm dinheiro, não compram nada", sintetizou.