11/21/08

O regresso dos soldados mortos...

A notícia pura e simples, publicada esta manhã de sexta-feira pelo Jornal de Notícias - Porto:

Mortos na guerra colonial resgatados 42 anos depois - S. Miguel do Outeiro enterra restos mortais de dois soldados que lutaram em África. - 00h30m, Teresa Cardoso.

Dois soldados de S. Miguel do Outeiro mortos em combate, em 1966, vão ser finalmente trasladados dos cemitérios de Mueda e Nova Freixo, em Moçambique, para a terra natal. Serão sepultados no dia 14 de Dezembro.

As famílias do 1º Cabo Aníbal Rodrigues dos Santos e do Soldado Ernesto Correia Dias, nascidos e criados em S. Miguel do Outeiro, concelho de Tondela, nem querem acreditar que o "nó" que lhes "aperta" o coração há 42 anos está prestes a "desatar-se".

"Trazer os restos mortais do meu irmão para casa, para a terra onde nasceu, é um sonho que está à beira de concretizar-se. Só é pena que os meus queridos pais já não estejam entre nós para um derradeiro adeus. Morreram com aquele filho, que nunca mais viram, atravessado no peito", diz Franklin Santos, irmão do 1º Cabo Aníbal, com a voz entrecortada pela emoção.

O mesmo sentimento é partilhado por Armando Dias, irmão do Soldado Ernesto Dias, que conta os dias e as horas que faltam para a mãe de ambos, hoje com 87 anos, poder finalmente despedir-se do filho que um dia viu partir para a guerra colonial.

"Éramos cinco. Mas nenhum de nós conseguiu apagar o sofrimento e a saudade dos nossos pais pelo filho que morreu em Moçambique. Agora vamos ter um sítio para pôr flores de saudade", desabafou.

Cerca de três mil militares que morreram em combate ficaram sepultados nas antigas colónias.

Trazer os seus corpos para a terra natal, era um gesto só ao alcance dos ricos. "Até 1968 pediam 13 contos, na moeda antiga, para transladar os restos mortais. Uma fortuna que as famílias mais humildes não podiam suportar", explica Moreira Marques, presidente da Junta de Freguesia de S. Miguel de Outeiro.

A liderar o processo de trasladação, a pedido dos familiares, o autarca admite que essa tarefa custará muitos milhares de euros. Despesa que será assumida pelas famílias, com a ajuda de particulares, Junta de Freguesia, Câmara de Tondela e outras entidades.

Moreira Marques parte para Moçambique a 30 de Novembro. Regressa a 13 de Dezembro com as ossadas dos dois militares, em caixões de chumbo, que serão enterradas pelas 11 horas do dia seguinte, no talhão dos combatentes, no cemitério de S. Miguel do Outeiro.
- In Jornal de Notícias, 21/11/08.

Volte a ler:
  • Combatentes mortos na guerra colonial: ignorados, desconhecidos, desprezados... Aqui!
  • O Desprezo pela História - Cemitério de Pemba-Talhão Militar Português - Aqui!
  • O Desprezo pela História 2 - Cemitério de Pemba - Talhão Militar Português - Sepulturas de Combatentes abandonadas - Aqui!
  • O Desprezo pela História 3 - Cemitério de Pemba - Talhão Militar Português - Sepulturas de Combatentes Portugueses - Aqui!
  • O Desprezo pela História 4 - Cemitério de Pemba - Talhão Militar Português - Sepulturas de Combatentes Portugueses - Aqui!
  • O Desprezo pela História 5 - Cemitério de Pemba - Talhão Militar Português - Sepulturas de Combatentes Portugueses - Aqui!
  • O lado bom e respeitoso da História - Talhão Militar Britânico do Cemitério de Pemba - Aqui!
  • O lado bom e respeitoso da História 2 - Talhão Militar Britânico do Cemitério de Pemba - Aqui!
  • O lado bom e respeitoso da História 3 - Talhão Militar Britânico do Cemitério de Pemba - Aqui!
  • O lado bom e respeitoso da História 4 - Talhão Militar Britânico do Cemitério de Pemba - Aqui!
  • Moçambique - Guerra do Ultramar - Aqui!
  • Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra - Aqui!
  • Portugueses exigem do governo a volta dos restos mortais de seus soldados mortos e abandonados nas ex-colónias... - Aqui!

11/20/08

Coronel de Infantaria do Exército Português Basílio Pina de Oliveira Seguro.

(Clique na imagem para ampliar. Imagem original de propriedade do Dr. Carlos Lopes Bento)

Faleceu na madrugada do dia 19 de Novembro em Portugal uma das figuras mais importantes e atuantes dos últimos anos da então colónia portuguesa de Moçambique, o Coronel de Infantaria do Exército Basílio Pina de Oliveira Seguro, governador do Distrito de Cabo Delgado de 1961 a 1969, sucedendo ao Comandante de Marinha Carlos Alberto Teixeira da Silva.

Regressou a Portugal em 1969 onde passou à reserva com o acontecer do 25 de Abril de 1975, quando exercia a função de governador de Cabo Verde.

A notícia de seu falecimento chegou até mim via e.mail e com o seguinte texto, desconhecendo até ao momento maiores detalhes:

"AMIGO JAIME,

QUERO INFORMÁ-LO QUE O CORONEL BASÍLIO SEGURO FALECEU ESTA MADRUGADA. ATENDENDO A QUE FOI ALGUNS ANOS GOVERNADOR DO DISTRITO E TAMBÉM UM GRANDE AMIGO PENSO QUE HAVERÁ INTERESSE EM COMUNICAR. MUITAS VEZES ME DIZIA QUE TINHA PORTO AMÉLIA NO CORAÇÃO E MUITAS SAUDADES DAS VISITAS AO MATO.
UM ABRAÇO,
- M. E. - 19/11/08.

À Família do Coronel Basílio Seguro, principalmente a sua filha Elvira, colega de muitos de nós dos bancos escolares no então Colégio Liceal de São Paulo, respeitos e pêsames.

11/19/08

Mundo globalizado - Os piratas de volta...

Incrédulos vamos escutando e lendo as notícias do mundo globalizado: Focos crescentes de conflito aqui e ali, perseguições raciais e étnicas acolá, miséria, morte, chacinas, crise, desemprego e a sensação também crescente de que o mal vence o bem nessa massa pesada, violenta de informação permanente, facilitada pelas novas tecnologias e absorvida diáriamente neste planeta onde se assiste plácidamente à inversão de valores, à afirmação do absurdo, à aceitação do anormal, do desonesto, à imposição do irracional como lógico, qual estivessemos em real circo romano lotado de massas populares ensandecidas, contaminadas pela inércia da pobreza, de desinformação, deseducadas, induzidas ao clamor emotivo pelo discurso de "mascates" de palavra fácil, que permitem os derradeiros gladiadores da ética sejam confrontados e devorados pelos leões esfomeados da iniquidade e do mau-caráter.

E de permeio assiste-se agora ao renascer de novos "Capitães Gancho" apetrechados e baseados em palacetes de luxo e ostentação lá pela costa da miserável Somália de povo sofrido, perseguido, esquelético, sem voz.

Com a maior liberdade, revoltante apatia mundial e dos próprios governantes somális (se é que existe governo por lá) sequestram petroleiro gigante saudita com mais de 100 milhões de dólares em carga, navegando fácil e impunemente até porto-pirata sobejamente conhecido e divulgado como paraíso de piratas, confirmando o retrocesso da sociedade globalizada aos tempos da barbárie.

E não fica dificil acreditar nem surpreenderia, pelo que leio, que a base da pirataria somali, o porto de Eyl, logo logo se transforme em concorrida atração turística mundial... A ver vamos!

A notícia, segundo a BBCBrasil:

""O navio saudita com US$ 100 milhões em petróleo que foi seqüestrado por piratas no sábado estaria navegando pela costa da Somália nesta terça-feira, segundo relatos de fontes ligadas à Marinha americana. Acredita-se que ele esteja a caminho do porto de Eyl, onde muitas embarcações seqüestradas ficam ancoradas... ...

... ... O seqüestro do navio Sirius Star é visto como inédito, tanto pelo tamanho da embarcação como pelo local. O navio com 2 milhões de barris de petróleo cru foi seqüestrado a mais de 400 milhas náuticas a partir do porto de Mombassa, no Quênia – longe do "Beco dos Piratas", como é conhecido o trecho onde muitos navios são raptados... ...

... ... Segundo pessoas que visitaram Eyl recentemente ouvidas pela BBC, o porto da cidade mudou muito desde que virou um "centro" da pirataria da Somália.

No último ano, o local deixou de ser uma pequena vila de pescadores para se transformar em um dos pontos mais ricos da Somália.

Apesar de a maioria do dinheiro ganho com pirataria ir para lugares como Dubai e Nairóbi, parte do montante fica na cidade portuária da Somália, onde os jovens que trabalham no ramo são vistos como heróis.

Alguns dos milhões de dólares ganhos com o pagamento de resgates foram gastos na construção de casas luxuosas e na compra de iates.

Há relatos de que os moradores de Eyl estão animados com a notícia do seqüestro do Sirius Star. A tripulação de 25 pessoas – entre sauditas, poloneses e britânicos – deve se juntar a outros 200 reféns que foram seqüestrados no último ano.

Os reféns dos navios são mantidos em boas condições, pois são parte importante na negociação do resgate. Alguns reféns chegaram a ser trocados por milhões de dólares. Em geral, eles são bem tratados na Somália.

Recentemente, alguns restaurantes especiais surgiram em Eyl especializados em atender apenas reféns que não gostam da comida típica somali.
- A notícia na íntegra aqui.

11/14/08

Diversificando - A crise e a irresponsabilidade dos gestores financeiros internacionais...

Primeiro contato (antes da tal crise) - Aplique aqui... ou ali... banco sólido... de primeiro mundo... classificação AAAA ou ++++... não tem risco... pode ficar descansado... suas economias de uma vida de trabalho estão seguras connosco... garantia absoluta... Durma sossegado que vai morrer tranquilo, pode crer!

Segundo contato (no burburinho da tal crise) - E agora meu? Cadê o meu?...

Resposta quase encabulda - Pois é... nós só indicamos as opções... o risco é do investidor... o banco e seus altos e capacitados gerentes financeiros, com alto grau de formação MBA e XYZ, almoçando caviar e ostras, transportados em belas Ferrari's e Lamborghini's não se responsabilizam por nada... os classificadores de risco internacional é que avaliaram mal e nos induziram a vender gato por lebre... Agora aguenta. Vai dar uma curva e aparece por aqui quando a coisa melhorar para tomarmos um cafézinho...

-Aviso: A "cena" acima é ficção e não tem a ver com pessoas ou factos reais. Qualquer semelhança é pura coincidência.

Pois é... Quem mandou ser otário? Ou ambicioso de mais e confiou suas economias a essas verdadeiras "quadrilhas" especializadas em "gerir" fundos, que também cobram altíssimas comissões de intermediação sem correrem risco algum, vivem à "grande e á francesa" embrenhados nas nuances "alavancadas" desse verdadeiro "casino" em que se transformou a economia mundial... E na hora H fogem com "o rabo à seringa" e "lavam as mãos" sem serem incriminados sequer. Nem enjaulados em prisões fétidas por sua leviandade e irresponsabilidade na gestão de recursos de poupadores que neles confiaram e pelas consequências perniciosas que já vão atingindo a população deste mundo globalizado.

Caiu no "conto do vigário"... É essa a realidade. A Islândia entre outro países de maior porte, como Estados Unidos (onde nasceu a crise), etç. é um exemplo claro do "engodo", alavancado desonesta e impunemente pelos tais gestores e classificadores de risco confiáveis(?) que vendem pirita (ouro dos tolos) como sendo algo valioso, produtivo e rentável... É um paízinho gelado lá nos confins da Europa, vivendo à larga e à custa de recursos de poupadores internacionais, canalizados por interesse de instituições ditas confiáveis que inundaram seus poucos bancos geridos politicamente e agora falidos. E, seu governo, irresponsável e incompetente agora dá o calote puro e simples ao mundo internacional de investidores. Classificado e vendido como AAA, descobre-se que nem o último ZZZ do alfabeto merece. Como dificilmente algum dia alguém voltará a colocar por lá suas "poupanças".

Entretanto e pelo que vejo na net, países do G20 reúnem-se sábado em Washington em Cimeira tentando dar os primeiros passos para ultrapassar a crise financeira sem precedentes. Eis o que leio:

"""Os países do G20 realizam, no sábado, em Washington, a primeira de várias cimeiras para discutir a reforma do sistema financeiro, com os Estados Unidos, onde a crise começou, a acolherem uma iniciativa europeia para ultrapassar esta situação sem precedentes.

A cimeira realiza-se precisamente dois meses após a falência do banco de investimento Lemanh Brothers, a 15 de Setembro, que "confirmou" os sinais de crise que já vinham do outro lado do Atlântico desde o início do ano, lançando definitivamente o pânico nos mercados financeiros.

Rapidamente se percebeu que se estava perante uma crise sem precedentes, que partiu do "coração do sistema", os Estados Unidos, mas iria ter repercussões no resto do globo, o que as semanas seguintes se encarregaram de demonstrar.

A resposta norte-americana tardou - apenas a 3 de Outubro a Câmara dos Representantes do Congresso aprovou uma versão reformulada do chamado 'Plano Paulson', o plano de 700 mil milhões de dólares para sanear o sistema financeiro norte-americano através da compra de activos tóxicos - e a Europa criticou a reacção dos Estados Unidos a uma crise global por si criada.

O presidente em exercício da União Europeia, o chefe de Estado francês Nicolas Sarkozy, iniciou então no seu estilo dinâmico uma série de iniciativas tendo em vista uma resposta europeia, começando por acolher a 04 de Outubro em Paris uma reunião dos países europeus do G8 (França, Reino Unido, Alemanha e Itália), onde reivindicou desde logo uma reforma, "o mais depressa possível", das regras do capitalismo financeiro. Uma semana depois, Paris acolheu nova cimeira "inventada" por Sarkozy, desta vez uma reunião ao nível de chefes de Estado e de Governo da Zona Euro, tendo então o presidente francês anunciado que a UE ia pedir aos Estados Unidos a organização de uma cimeira destinada a "refundar o sistema financeiro internacional". "Na Europa, não vamos deixar tudo isto continuar da mesma maneira. Haverá responsáveis que deverão assumir as suas responsabilidades", afirmou então Sarkozy.

A 16 de Outubro nova cimeira, mais uma, desta vez em Bruxelas e a 27, e dois dias depois Sarkozy e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, encontraram-se nos Estados Unidos, em Camp David, com o (ainda) presidente norte-americano George W. Bush, tendo sido então alcançado um acordo sobre a realização de cimeiras internacionais para debater o sistema financeiro. Convicta de que deve ter um papel de liderança na reforma do sistema financeiro internacional, até porque lançou a iniciativa da cimeira de Washington, a UE preparou a sua posição comum, ou o mais comum possível, em nova cimeira extraordinária a 07 de Novembro, em Bruxelas, num encontro de chefes de Estado e de Governo dos 27.

Em Washington, os europeus irão pressionar os países do G20, e principalmente os Estados Unidos, a aprovar até ao início de 2009 medidas concretas para reforma do sistema financeiro internacional."""

E, a nós, comuns mortais, resta-nos só esperar para ver no que tudo isto vai dar e "rezar" para que o calote não seja maior ainda e trágico em suas consequências. E incentivar para que se punam exemplarmente os responsáveis.

11/13/08

Retalhos da História de Cabo Delgado - A ILHA DO IBO.

Dedico este post a meu muito prezado e querido Amigo António Baptista Carrilho.

Situada próximo da ilha Quirimba e com fácil ligação com ela, a ilha do Ibo tem cerca de 10 km de comprimento e cerca de 7 km de largura, sendo muito plana e arborizada.

Na sua parte norte localiza-se a vila do Ibo, o mais importante agregado populacional do arquipélago das Quirimbas.

Gaspar Ferreira Reymão que em princípios do século XVII invernou na ilha do Ibo na sua viagem para a Indía, refere que a ilha tem "uma fortaleza, cercada bastante para se defender dos cafres, que às vezes passam de guerra de baixa mar a pé as ilhas, com muito bom aposento de casas de pedra e cal, capazes para se aposentar nelas a pessoa de um Vice-rei, como esteve Rui Lourenço de Távora com toda a sua casa".(43)

Mais tarde, no ano de 1644, o "regimento e roteiro para virem de Portugal embarcações em direitura à ilha de Ceilão", recomenda que as embarcações "virão a Moçambique refrescar-se, ou ao Ibo, que é melhor, e tem mais água naquele porto, de onde partirão para a Índia nos primeiros dias de Agosto".(44)

Porém, em meados do séc. XVII, apesar de ter "bom aposento de casas de pedra e cal" e de ter "mais água" no seu porto, a ilha do Ibo entrou em acentuada decadência, como de resto aconteceu com as restantes ilhas do arquipélago, num processo em que se conjugaram muitos factores, que correspondem a um duplo abandono: o abandono dos residentes que inseguros e indefesos fugiam das frequentes incursões dos árabes de Zanzibar e Mombaça, mas também o abandono dos portugueses que deixaram de frequentar a região quando alteraram as suas rotas da carreira da Índia para evitarem a hostilidade holandesa no mar.

Adicionalmente, a partir da mesma época, o interesse português estava centrado no Brasil e todas as possessões portuguesas do Índico estiveram sujeitas a um certo tipo de isolamento ou mesmo de abandono.

No entanto, em meados do sé. XVIII, quando o comércio de escravos se tornou uma prática corrente na costa oriental africana, a ilha do Ibo prosperou rapidamente como um dos mais importantes elos dessa lucrativa cadeia dominada pelos mercadores árabes. A hidrografia da região proporcionava boas condições de acesso ao litoral e as ilhas vizinhas garantiam abrigos e fundeadouros seguros e discretos aos traficantes.

A povoação do Ibo cresceu com esse comércio intenso e surgiram novas actividades e novos edifícios, enquanto a sociedade local, que até então era predominantemente macua, foi acrescentada com elementos árabes e indianos, mas também com muitos mestiços e, em menor grau, com portugueses.

Quando em 1752 a reforma pombalina decretou uma nova organização para os territórios ultramarinos portugueses, Moçambique autonomizou-se e foi separado do governo de Goa, passando a ser governado por Francisco de Mello e Castro que, de acordo com as instruções recebidas de Lisboa, determinou que a fortaleza existente no Ibo fosse substituída por uma outra, numa tentativa de levar as posições territoriais portuguesas mais para o Norte.

A nova fortificação foi construída em 1754 e foi baptizada como Forte de S. João Baptista mas, em 1791, foi reconstruida e reforçada na ponta NW da ilha, tendo a forma de uma estrela com muralhas de 16 pés e sem fosso. A protecção da ilha foi ainda assegurada por dois fortins: o fortim de S. José, localizado a SW da ilha e que era artilhado com 9 peças e o fortim de S. António, situado a SE da ilha e que era artilhado com 6 peças.(45)

Com esta proteção fortificada, a ilha do Ibo ficou mais ligada aos interesses portugueses, garantiu alguma autonimia em relação à influência mercantil e cultural árabe, conseguiu resistir às tentativas francesas e holandesas para dela se apossarem e, também, aos assaltos dos sakalavares de Madagáscar que tinham começado a fazer incursões e assaltos naquela área.

No entanto, a autoridade portuguesa do Ibo parece não ter sido suficientemente interessada e eficaz na repressão da escravatura, que terá sido muito importante naquela área até quase ao final do século XIX.

*43 - Gaspar Ferreira Reymão, Op. cit., p. 32.
*44 - Alberto Iria, Op. cit., p. 102.
*45 - Leotte do Rego, Op. cit., p. 89.

O autor:
Adelino Rodrigues da Costa entrou para a Escola Naval em 1962 como cadete do "Curso Oliveira e Carmo", passou à reserva da Armada em 1983 no posto de capitão-tenente e posteriormente à situação de reforma. Entre outras missões navais que desempenhou destaca-se uma comissão de embarque realizada no norte de Moçambique entre 1966 e 1968, onde foi imediato da LGD Cimitarra e comandante das LFP Antares e LFG Dragão.Especializou-se em Artilharia, comandou a LFG Sagitário na Guiné, foi imediato da corveta Honório Barreto, técnico do Instituto Hidrográfico, instrutor de Navegação da Escola Naval, professor de Navegação da Escola Náutica e professor de Economia e Finanças do Instituto Superior naval de Guerra. Nos anos mais recentes foi docente universitário, delegado da Fundação Oriente na Índia e seu representante em Timor Leste. É licenciado em Sociologia (ISCSP), em Economia (ISEG), mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação (ISCTE) e membro da Academia de Marinha.

O livro:
Título - As Ilhas Quirimbas - Uma síntese histórico-naval sobre o arquipélago do norte de Moçambique;Edição - Comissão Cultural da Marinha;Transcrição da publicação "As ilhas Quirimbas de Adelino Rodrigues da Costa, edição da Comissão Cultural da Marinha Portuguesa, 2003 - Capítulo 11, que me foi gentilmente ofertado pelo Querido Amigo A. B. Carrilho em Pinhal Novo, 26/06/2006.

- Do mesmo autor neste blogue:


  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 1 - Aqui!


  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 2 - Aqui!


  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 3 - Aqui!


  • Retalhos da História de CABO DELGADO - O nascimento de Mocimboa da Praia - Aqui!


  • Retalhos da História de CABO DELGADO - Zanzibar e a escravatura nas Quirimbas - Parte 1 - Aqui!


  • Retalhos da História de CABO DELGADO - Zanzibar e a escravatura nas Quirimbas - Parte 2 - Aqui!


  • Retalhos da História de CABO DELGADO - Zanzibar e a escravatura nas Quirimbas - Parte 3 - Aqui!

- Outros post's deste blogue que falam do Ibo e região, com textos e documentos do também historiador e profundo conhecedor do Arquipélago das Quirimbas e de Moçambique, Dr. Carlos Lopes Bento - Aqui e aqui!
- Em breve neste blogue:

  • As Quirimbas em finais do século XIX e a decadência do Ibo.