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4/23/08

Conflito homem/animal em Cabo Delgado: Se um elefante africano incomoda muita gente, um ser humano incomoda muito mais!

Acabo de ler na edição digital do Notícias-Maputo que criculará esta manhã em Moçambique:
Conflito homem/animal em Cabo Delgado-Intensificam-se medidas para o seu estancamento.
Estão a multiplicar-se em Cabo Delgado, esforços visando minorar os efeitos decorrentes do conflito já declarado entre o homem e a fauna bravia, da qual se destaca o elefante. Tanto as autoridades da Agricultura como do Parque Nacional das Quirimbas pretendem, a breve trecho, lograr uma saída airosa que não prejudique nem as populações, por via da perca das suas vidas e destruição dos seus bens, entre os quais, as machambas, nem a necessidade de preservação.O conflito atingiu níveis em que o Governo provincial entende tratar-se de um assunto transversal, tocando a quase a totalidade dos sectores, sendo obrigatório que todos lutem por encontrar soluções, pelo que as propostas de medidas práticas vem as catadupas.
Na verdade, segundo o director provincial da Agricultura, em Cabo Delgado, Oliveira Amimo, não constitui dúvida para ninguém que a vida humana é a prioridade número um para todo o cidadão moçambicano, sendo por isso que deve ser protegida de todas as formas e sem reservas.
“A província de Cabo Delgado tem sido alvo e palco de conflitos cada vez mais crescentes, entre o homem e a fauna bravia, nos quais, infelizmente são várias as vidas humanas que são perdidas, sem falarmos dos avultados bens que são destruídos pelos animais, destacando-se o elefante, leão, crocodilos e os macacos”... ...
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E continua o articulista mais à frente:
...É no quadro dos esforços em curso visando diminuir o impacto que o conflito tem na sociedade, que decorreu recentemente um curso de caçadores comunitários(?), envolvendo 48 elementos, à razão de três por distrito, que já vinham com algum conhecimento da actividade.
A ideia foi que os caçadores fossem formados não para irem matar, no sentido linear do termo, mas como agentes integrantes da gestão dos recursos naturais, capazes de analisar a gravidade dos conflitos no terreno, que tenham alguma noção sobre a Lei de Floresta e Fauna Bravia, comportamentos dos animais considerados problemáticos, métodos de afugentamento de animais bravios, técnicas de abate, entre outras.
Dirigido pelo conhecido caçador profissional, o português, Manuel Carona, o curso terminou com aulas práticas de carreira de tiro e um trabalho de campo, tendo sido o distrito de Palma escolhido, onde está em curso um conflito corporizado por uma praga de leões que atacam as pessoas.
Manuel Carona, em resposta ao nosso jornal, negou que a formação daquela quantidade de caçadores significasse uma ameaça que acabaria com o extermínio da fauna, que deve ser conservada à luz dos objectivos do governo, porque úteis para o desenvolvimento das próprias comunidades e do país em geral... ... (leia o texto integral aqui !)
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Em resumo e lendo o texto, entende-se que, as autoridades responsáveis em Cabo Delgado, depois de apresentarem os elefantes e outros animais como inimigos perigosos para o ser humano agirão, como afirmam com um tom beatificante, quase piedoso, para não dizer cínico:
- “ Por isso, para matar um elefante, por exemplo, só depois de ter a certeza de que se trata do animal problemático do grupo, digamos, muitas vezes chefe, e também termos a certeza de que ao atirar o matamos sem falha. Porque se matamos um que não era o chefe do grupo nem problemático, eles voltarão a fazer as mesmas coisas, com a sua estrutura ainda intacta. Se atiramos contra um elefante e não o matamos, ele fica com a bala no corpo e torna-se cada vez mais inimigo do homem e destrói tudo o que estiver à sua frente. Digamos, está zangado com todos”.
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Pois é!...Que acredite quem quiser! E acrescento:
Pesquisando na net, por convicção formada afirmo, se um elefante incomoda muita gente, um ser humano incomoda muito mais.
Quase 23 mil elefantes foram exterminados por caçadores clandestinos no ano de 2006.
A estimativa baseia-se na apreensão de 27 mil quilos de marfim em agosto de 2006, que segundo especialistas de mercado, constituem apenas 10% do contrabando feito naquele ano.
Enquanto especialistas se preocupam com uma possível extinção de algumas espécies, países como China, Japão e Singapura estimulam o mercado negro de dentes de elefante, fazendo demandas cada vez maiores de marfim – a serem transformados em jóias e "hankos", uma espécie de carimbo comum no Leste Asiático.
A extração de marfim foi considerada ilegal em 1989, quando um tratado da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou boicote ao comércio de dentes de elefantes. O autor do estudo que analisa a atual situação dos elefantes na África, Samuel Wasser, da Universidade de Washington, diz que está preocupado:
"Nos oito anos que precederam o tratado, metade da população dos elefantes africanos já tinha sido aniquilada. Agora o estado é crítico, porque eles são poucos e a caça está aumentando. Para piorar, a população esqueceu do assunto".
Wasser se refere ao alarde que as organizações ambientais e especialistas fizeram nos anos 80, que incentivou o boicote.
Segundo o estudo de Wasser, o boicote foi efetivo nos primeiros anos, principalmente porque as nações ricas financiavam o policiamento das áreas e a apreensão de caçadores clandestinos. Mas nos anos que se seguiram, os fundos foram sendo cortados e os países interessados em marfim foram encontrando brechas no tratado.
Resultado: hoje, o contrabando de dentes de elefantes é comparado ao tráfico de drogas na Ásia.
E se a venda do marfim é proibida na África, fora do país ela não é. Chegando no Japão ou na China, ele é legalmente comercializado – os dois países conquistaram o direito de se tornarem "parceiros no comércio de marfim". Dados do estudo de Wasser também apontam que os contrabandos têm outro destino além da Ásia: os Estados Unidos. (Isadora Marinho)
O ser humano entretanto, reproduz-se de maneira absolutamente desordenada e ocupa de modo destrutivo e rápido todo o espaço à nossa volta que, como sabemos, é limitado e finito.
Há sim que responsabilizar e colocar nos eixos a população humana, que está destruindo o planeta muito mais rápido que milhares de manadas de elefantes.
Quem sabe, como li algures, delatando o extermínio dos elefantes nos lembremos e preocupemos com o extermínio de nosso próprio planeta!
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Para terminar:
Memória de elefante.
E se um dia a natureza pedir contas por todas as maldades que lhe fazemos?
Esta pergunta já inspirou livros e filmes de terror. Mas há muito que deixou de ser ficção: há elefantes que não perdoam, não esquecem e se vingam.
George Tergat estava a sair da escola quando viu uma manada de elefantes entrar pela aldeia. Eram animais jovens. Atacavam as casas, reduzindo-as a um monte de palha e adobe. As pessoas fugiam, gritando. Também ele correu. Pareceu-lhe – tinha quase a certeza – que um pequeno paquiderme corria na sua direcção e, até, que o perseguia. Todavia, como era hábil, conseguiu esquivar-se. No refúgio, lembrou-se dos tempos em que acompanhava o pai nas caçadas: Depois de matar um elefante, retiravam-lhe o marfim, a carne, os ossos, a pele e até o pêlo.
Estariam os paquidermes a vingar-se?
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A revolta dos elefantes.
Uma equipa de cientistas e biólogos de vários países estuda o comportamento dos elefantes no Quénia. Observaram que os que não estiveram em contacto com os humanos durante décadas são tolerantes e sociáveis. Quanto aos exemplares de comportamento agressivo, descobriram que eram órfãos e que os pais foram mortos por caçadores. Concluíram, então, que os elefantes sofrem de «stress» pós-traumático por assistirem ao extermínio dos parentes ou de outros membros da manada.
Todavia, o que mais os maravilhou foi a constatação de que os elefantes se lembram de quem fez o mal e não perdoam. «Conhecidos por terem boa memória, os elefantes guardam recordações e, no caso de serem más, não perdoam e podem vingar-se», concluem os investigadores no estudo que publicaram na revista norte-americana «New Scientist».
Os cientistas suspeitam, mesmo, que esse sentimento de rancor e desconfiança em relação à raça humana se transmite de geração em geração.
A revolta dos elefantes também acontece noutro país africano, o Uganda, e os ataques destes animais repetem-se na Índia, pelo mesmo motivo.
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Predador sem piedade.
Os humanos são criminosos que deixam pistas. Provas arqueológicas confirmam que a extinção dos elefantes se deve à caça praticada pelos humanos e não por alterações do clima.
Há um milhão de anos, os paquidermes movimentavam-se por todo o globo. Mas, quando os humanos migraram de África para povoar o resto do mundo, caçaram os elefantes até à extinção na Europa, América e Oceânia.
As provas do crime foram estudadas pelo arqueólogo norte-americano Todd Surovell e pelos seus colegas. Visitaram 41 locais arqueológicos nos cinco continentes. Os vestígios encontrados vão desde 1,8 milhões de anos até há dez mil anos. E mostram que elefantes e humanos viveram juntos nos mesmos locais e que só estes últimos sobrevivem na Terra inteira.
Actualmente, restam entre 30 e 50 mil elefantes na Ásia, dos quais 20 mil na Índia, e 250 mil nas zonas tropicais de África, sobretudo no Uganda, Tanzânia e Quénia. Neste último, o número de paquidermes diminuiu de 167 mil em 1970 para 16 mil em 1989. Em 1990, o comércio do marfim foi proibido e, desde então, o número destes animais elevou-se a 25 mil.
In "Audácia - Revista eletrónica"
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3/04/08

A chacina dos elefantes está legalizada na Républica da África do Sul...

(Clique na imagem para ampliar. Imagem original daqui)
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É ! Na vizinha África do Sul está práticamente aberta a "temporada de chacina" dos elefantes.
A pretexto dos inconvenientes gerados pela superpopulação oficializa-se o assassinato puro e simples destes animais quando, actualmente, todas as espécies de elefantes são considerados como espécies em perigo de extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN).
Se a "moda" pega, quem sabe um dia destes e a ensejo dos problemas ocasionados pelo ser humano ao planeta terra, ecológicamente falando, em consequência também da crescente superpopulação humana na Ásia, África, América do Sul ou em qualquer país do terceiro mundo, não aparecerá algum governo liderado por ditadorzeco populista oficializando e ditando o mesmo procedimento para com o ser humano?... Imaginem a "manchete":
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- O governo tal anunciará amanhã que permitirá o sacrifício de seres humanos a partir de tal mês... Segundo o ministro fulano de tal, o sacrifício é necessário para controlar a população de seres humanos e reduzir o impacto destruidor à natureza que o mesmo ser humano vem causando com sua falta de educação ecológica, ambição, egoísmo... ... ... e aí por diante !
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Afinal, a distância conceitual e de procedimento é curta.
Pois aqui transcrevo como lembrete, a aberrante "notícia" sobre o assunto, produzida no diário Notícias-Maputo de de 29Fev2008:
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""AMBIENTE - RAS abate elefantes
O governo sul-africano anunciou na última segunda-feira que permitirá o sacrifício de elefantes no país a partir de 1º de Maio. Segundo o ministro do Ambiente e Turismo da África do Sul, Marthinus Van Schalkwyk, o sacrifício é necessário para controlar a população de elefantes no país.
Esta será a primeira vez que o governo permitirá a matança dos animais desde que o sacrifício foi proibido, em 1995. Há estimativas de que o número de elefantes aumentou de 8 mil para 20 mil animais desde o fim dos sacrifícios.
No comunicado, o ministro afirmou ainda que a prática será permitida apenas em último caso e que o governo adotará outras técnicas para o controle da população de elefantes, como o uso de contraceptivos e o transporte de animais para áreas menos habitadas.
De acordo com Van Schalkwyk, o sacrifício será adotado apenas depois de várias considerações "com todas as opiniões consultadas", afirmou.
A população que reside em regiões próximas de onde vivem os elefantes reclamam que os animais são perigosos, comem as frutas e competem com os humanos para beber água.
No comunicado desta segunda-feira, o governo sul-africano afirmou que está ciente de que a decisão vai causar "emoções fortes" e despertar a oposição de ativistas de direitos dos animais.
Apesar disso, o ministro afirmou que "o equilíbrio da biodiversidade e as pessoas que vivem próximas dos elefantes" também precisam ser consideradas.
A ONG de direitos dos animais Animal Rights Africa afirmou que os elefantes têm habilidades cognitivas bem desenvolvidas e são alertas sobre o espaço. "Quanto mais parecidos conosco precisam ser os elefantes para que matá-los seja considerado assassinato?", questionou a ONG em um comunicado divulgado antes do anúncio do governo.""
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Finalizo que seria de bom tom e como exemplo educativo para novas gerações buscar, para o equilíbrio da natureza, social e outros, alternativas pacíficas, sem violência nem abate puro e simples de qualquer ser vivo. Tais alternativas são possíveis assim exista sensibilidade, boa-vontade e apego ao planeta-terra. E, aliadas à ciencia moderna podem equilibrar o convívio elefante-homem e... homem-homem.
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11/09/12

O massacre dos elefantes em MAREJA - QUIRIMBAS

Transcrição de @Verdade - A FACE AMARGA DA RESERVA DE MAREJA

Escrito por Hélder Xavier   
Quinta, 25 Outubro 2012 15:28
Com apenas duas armas de fogo manuais e seis munições, um grupo de 10 guardas florestais vive uma cruzada solitária para proteger os elefantes de um massacre sem precedentes, protagonizado por caçadores furtivos forte e sofisticadamente armados na Reserva de Mareja, no Parque Nacional das Quirimbas, em Cabo Delgado. Todas as semanas, pelo menos, dois animais são abatidos, dos quais são retiradas as pontas de marfim, que são posteriormente vendidas no mercado negro. A batalha acontece aos olhos das autoridades governamentais e policiais locais que, por conforto e cumplicidade, não agem.

A sensivelmente duas horas e meia da capital provincial de Cabo Delgado, cidade de Pemba, localiza-se Mareja, um projecto ecoturístico de conservação e gestão de recursos naturais dentro do Parque Nacional das Quirimbas (PNQ) desenvolvido pelo alemão Dominik Beissel e abraçado pela comunidade local.

A região é isolada, sobretudo na época chuvosa, e a população leva uma vida recatada. O quotidiano é monótono, até porque a energia eléctrica e a água canalizada ainda não chegaram àquela localidade. Apesar disso, os habitantes, que sobrevivem exclusivamente da agricultura, continuam a viver normalmente, além de se mostrarem hospitaleiros em relação aos visitantes.

Quando se caminha pela mata adentro, por momentos, temos a sensação de estarmos a entrar numa outra dimensão, por assim dizer. Porém, esporadicamente, o silêncio é interrompido pelos macacos que pulam de galho em galho. A zona é uma reserva e nela é possível encontrar quatro dos “big five”, nomeadamente leões, leopardos, búfalos e elefantes.

O lugar é (aparentemente) tranquilo e bonito. Mas a tranquilidade e a exuberância do local não escondem uma actividade que tem vindo a ganhar proporções gigantescas nos últimos dias no interior daquela reserva, em particular, e do parque, em geral: o massacre de elefantes. Os ossos espalhados ao longo do caminho que leva até a Mareja denunciam a prática da caça ilegal.

Quase todas as semanas, pelo menos dois animais são abatidos pelos caçadores furtivos fortemente armados. No passado mês de Agosto, dois elefantes foram mortos e, em Setembro, quatro. “Nestes dois meses, foram abatidos oito elefantes nesta reserva e o número tem vindo a crescer. Em 2011, no mesmo período, registámos mais de 10 casos”, informou um dos guardas florestais do parque.

O pior massacre de elefantes aconteceu no mês de Outubro do ano passado (2011), em que apenas numa semana foram mortos pouco mais de 10 animais. Os furtivos atiram indiscriminadamente, até porque o que interessa são as pontas de marfim, não importando a idade do animal. Eles usam armas de fogo automáticas do tipo AKM, calibre 365, rádios de comunicação e materiais de caça sofisticados, além disso, possuem helicópteros.

Os guardas florestais, tanto os que são apoiados pelo projecto de Mareja assim como os do PNQ, não dispõem de meios à altura para parar a acção do grupo naquela região, onde, no melhor estilo dos cowboys norte-americanos, fala mais alto quem tem o argumento de uma arma de fogo.

Ao contrário dos caçadores furtivos, o grupo de 10 guardas florestais apoiado pelo projecto de protecção de elefantes do alemão Dominik tem apenas duas armas de fogo manuais, meia dúzia de munições e algumas facas e catanas. Mensalmente, ganham menos de dois mil meticais pelo trabalho de fiscalização. Durante os três dias (e noites) de patrulha, cada pessoa tem direito a menos de 200 gramas de arroz e uma lata de sardinha.

“Não conheço os caçadores furtivos, mas sei que eles andam armados”, afirmou Amade Cause, guarda florestal há três anos na Reserva de Mareja, e acrescentou: “nós só andamos com uma faca e não podemos fazer nada”. O Parque Nacional das Quirimbas conta com uma brigada de fiscalização constituída por apenas quatro guardas florestais armados e dois comunitários, apesar de o local ocupar uma área de 7.500 quilómetros quadrados, abrangendo ecossistemas marinhos e terrestres.

As autoridades fazem vista grossa
Semanalmente, o número de elefantes mortos cresce de forma alarmante. Ou seja, a cada semana que passa a acção dos caçadores furtivos tende a intensificar- se, colocando a nu a incapacidade de reacção das equipas de guardas florestais. As zonas mais críticas são Mareja e Meloco.

Nos dias 6 e 9 de Setembro último, na Reserva de Mareja, por volta das 6h30 da manhã, ouviu-se o ruído de um tiro e, de seguida, uma rajada de metralhadora. Os guardas florestais foram atrás para controlar a situação e, quando chegaram às proximidades do local do massacre, limitaram-se a assistir aos caçadores furtivos a retirarem as pontas de marfim.

“Não tivemos como agir porque eles estavam muito bem armados e qualquer reacção nossa seria fatal para todos nós”, disse Amade Cause, um dos fiscais que presenciou o acontecimento, tendo de imediato sido informadas as estruturas policiais e do PNQ. Tem sido assim todas as semanas.

As autoridades, tanto policiais como do parque, encarregadas de combater essa prática que coloca as espécies de elefantes em perigo de extinção, acham que a melhor coisa a fazer é fingir que o problema não lhes diz respeito. Na verdade, a Polícia recusa-se a intervir nesse assunto.

“Sinto-me em pânico vendo isso acontecer e, o pior de tudo, é que a reacção da Polícia não é imediata. Ou seja, ela age como se não tivesse nada a ver com o assunto”, disse uma fonte ligada ao Parque Nacional das Quirimbas que não quis ser identificada, tendo acrescentado que se poderia parar esta situação caso houvesse força de vontade por parte do Governo.

Sensivelmente uma hora depois, um helicóptero sobrevoava a zona tendo pousado nas proximidades de um riacho, e levado as pontas de marfim. Duas semanas mais tarde, os guardas florestais do projecto Mareja decidiram voltar para o local. Pelo caminho uma enorme árvore derrubada (supostamente por um elefante em fuga) impedia o trânsito da viatura “pick up” na qual nos fazíamos transportar.

Foram necessários pouco mais de 30 minutos para remover o obstáculo e deixar a estrada livre. No local, os fiscais encontraram quatro elefantes mortos (três fêmeas e um macho). Os furtivos não retiraram as pontas de marfim de um dos animais porque as dimensões não ultrapassavam 50cm, uma vez que ainda era um elefante bebé.

Há vários relatos de aeronaves sobrevoando o espaço logo após o abate de elefantes. A título de exemplo, no ano passado, concretamente no dia 23 de Novembro, pelas 15h45, foi identificada uma aeronave de cor azul escura com a referência EC-120. O facto foi comunicado às autoridades locais que se limitaram a sacudir a água do capote fazendo um comentário tranquilizador para si próprios:

“Este é um problema que nos ultrapassa, pois não temos meios para colocar freio a esta situação”. A Polícia da República de Moçambique (PRM) a nível da província de Cabo Delgado recebeu dos fiscais do Parque Nacional das Quirimbas uma fotografia do helicóptero que sobrevoou aquela região para averiguação, porém, nenhuma investigação foi levada a acabo.

Os guardas florestais acreditam que haja gente graúda interessada no massacre de elefantes no Parque Nacional das Quirimbas, protegendo os caçadores ilegais, uma vez que quando capturam os furtivos e os levam às autoridades policiais, eles são soltos no dia seguinte. E o pior de tudo é o facto de a lei não defender os fiscais quando estes os alvejam.

Amade Cause contou que, nos anos transactos, um dos seus colegas foi condenado à prisão, além de pagar uma indemnização por ter alvejado a tiro um caçador furtivo. “As autoridades governamentais e a Polícia não agem em grande parte por conforto e, arrisco- me a dizer, também por cumplicidade”, disse.

Em meados do ano passado, os guardas florestais encontraram no interior do acampamento construído na machamba do líder comunitário local mais de 100 munições e 100 mil meticais em dinheiro. Já havia suspeitas de que ele encobria os caçadores furtivos. Porém, apesar de ter sido encontrado em flagrante, não foi preso.

O que está em curso, na realidade, no PNQ, é o processo sem paralelo de consolidação do tráfico de pontas de marfim no território moçambicano. Crescendo aos saltos, diga-se de passagem, a questão que se coloca é como pôr cobro a isso.

As autoridades do PNQ reconhecem a sua incapacidade para travar a acção dos caçadores furtivos, razão pela qual têm vindo a solicitar o apoio da PRM quando ouvem o ruído dos disparos. Mas a resposta por parte da Polícia aparece, no mínimo, 10 dias depois. Falta de viaturas e homens são as desculpas mais evocadas. A situação é mais crítica quando o facto acontece nos fins-de-semana.

“Geralmente, os casos de massacre acontecem simultaneamente em lugares diferentes, facto que também dificulta a nossa reacção, uma vez que o parque não dispõe de meios materiais e humanos”, disse a fonte do PNQ que temos vindo a citar.

A comunidade “protege” os caçadores furtivos
Na Reserva de Mareja, assim como em todo Parque Nacional das Quirimbas, o que há de peculiar não é somente a acção rápida, ousada e o facto de os caçadores furtivos possuírem meios materiais para a actividade, mas também o silêncio cúmplice de algumas pessoas integrantes das comunidades locais.

Nas vizinhanças, existem moradores que encobrem esse grupo de pessoas que se dedica à caça clandestina de elefantes para retirar as pontas de marfim. Regularmente, tem havido campanhas de sensibilização da população no sentido de denunciar os envolvidos nessa actividade que em dois anos já dizimou mais de 50 animais. Como resultado disso, foram formados guardas florestais comunitários. Mas nem tudo tem sido um mar de rosas.

Este ano, alguns dos fiscais comunitários tiveram de ser expulsos da equipa de guardas florestais por facilitarem a vida dos caçadores furtivos, informando-os dos locais de maior concentração de elefantes, além dos passos da equipa de fiscalização.

O destino das pontas de marfim
Este produto, que tem um valor comercial bastante alto (atinge preços exorbitantes no mercado negro), é traficado para os países asiáticos como China, Coreia do Norte, Tailândia e Filipinas.

Casos de apreensão de pontas de marfim
No mês em curso (Outubro), um cidadão norte-coreano foi surpreendido pela Autoridade Tributária (AT) na posse 130 unidades de pontas de marfim – equivalente a três quilogramas – no Aeroporto Internacional de Mavalane, em Maputo.

Em Setembro, um grupo de seis caçadores furtivos foi neutralizado no Posto Administrativo de Chinthopo, no distrito de Mágoè, em Tete, na posse de quantidades consideráveis de marfim retirado de elefantes abatidos clandestinamente. A quadrilha era constituída por três moçambicanos e igual número de zimbabweanos.

Em Maputo, seis toneladas de marfim apreendido a caçadores furtivos e proveniente de elefantes abatidos foram roubadas de um armazém do Ministério da Agricultura. Em Agosto do mesmo ano, dois funcionários públicos afectos ao Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE), no Guro, na província de Manica, foram detidos sob a acusação de roubo de marfim das instalações do serviço para ser comercializado no mercado negro. As presas teriam como destino o continente asiático.

Em Fevereiro, a Polícia da República de Moçambique (PRM) no Niassa, em coordenação com os guardas florestais da Reserva do Niassa, deteve um indivíduo indiciado de ser caçador furtivo.

Em 2011, as autoridades encontraram 126 pontas de marfim num contentor apreendido no porto de Pemba, que equivaliam a 63 elefantes abatidos de forma ilegal, num contentor de uma empresa que opera na área da exploração de madeira.
= > Assine a petição aqui < =
Elefantes mortos para extração de marfim (imagens recolhidas na net)




















Clique nas imagens para ampliar. Transcrição do Jornal de distribuição gratuita moçambicano @Verdade, com a devida vénia. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Outubro de 2012. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

10/10/07

Sugestão de arma para combater os elefantes em Cabo Delgado.

Zumbido de abelha afugenta elefantes, diz estudo
O zumbido de abelhas irritadas pode trazer algum alívio para moradores de vilarejos africanos que costumam ter suas colheitas devoradas regularmente por elefantes famintos.
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Pesquisadores da Universidade de Oxford descobriram que elefantes abandonam rapidamente uma área depois de ouvir gravações do som de abelhas.
Os insetos podem dar picadas doloridas na parte interior da tromba dos animais e, acredita-se, os elefantes aprenderam a evitá-los.
A pesquisa foi divulgada na revista científica Current Biology.
"Nós estamos um pouco cautelosos em relação à eficácia em larga escala", disse à BBC a líder da pesquisa, Lucy King, que realiza pesquisas no Quênia.
Ela disse, contudo, que as abelhas podem se tornar uma arma que os agricultores podem usar na situação certa.
Os elefantes gostam de milho, a principal colheita de milhões de africanos. Os animais costumam buscar as plantas pouco antes da época da colheita.
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Sombra
A equipe de pesquisadores de Oxford ocultou alto-falantes em árvores onde os elefantes buscavam sombra para se proteger do sol.
Enquanto eles descansavam, os cientistas tocaram som de abelhas gravado em colméias.
Este ruído claramente perturbou os animais e 94% das famílias de elefantes se afastaram das árvores em um período de 80 segundos depois de acionada a gravação.
King disse, contudo, que reconhece que os agricultores não têm dinheiro para comprar alto-falantes e minidisc e, por isso, o método para se livrar dos elefantes não é prático.
Os animais também são espertos e acabariam percebendo a ausência das picadas dolorosas.
"Nós não sabemos se isso aconteceria depois de tocar a gravação três ou trinta vezes, mas é claro que vai acontecer."
Pode ser mais prático e mais desejável, ela acredita, usar abelhas ao invés de apenas o som de zumbido.
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"Cerca de colméia"
Um outro projeto que os cientistas estão testando no Quênia envolve a criação de uma "cerca de colméia", onde a passagem de um elefante faminto levaria abelhas a começarem a voar e zumbir, fazendo com que o animal mude de idéia e fuja, evitando a área.
Uma experiência envolveria suspender uma série de colméias em estacas e ligá-las por fios.
Quando o elefante passa, o fio se movimenta perturbando as abelhas.
Em determinadas situações, colocar mais abelhas em comunidades rurais pode ajudar não apenas a proteger as colheitas mas também a incrementar o fornecimento de mel para consumo local ou para a venda.
Mas abelhas africanas são muito agressivas e dão picadas doloridas, então algumas comunidades podem resistir à idéia de utilizá-las.
A pesquisa é financiada, em parte, pela organização Save the Elephants (Salve os Elefantes, em tradução livre), que tem como missão "desenvolver uma relação de tolerância entre as duas espécies", de seres humanos e de elefantes africanos.
In - BBCBrasil.com 09/10/07

12/03/12

O massacre dos elefantes em MAREJA - QUIRIMBAS - Parte 2

Ajude a acabar com o massacre dos elefantes em MAREJA-QUIRIMBAS - Assine a petição (http://is.gd/2bl0B1)

In GlobalVoices - Português - Postado em 19 Novembro, 2012 16:06 GMT  (transcrição)
Caça Furtiva de Elefantes em Moçambique

Uma reportagem publicada no Jornal @Verdade no final de Outubro de 2012, põe a descoberto a caça ilegal de elefantes na Reserva de Mareja, situada em Cabo Delgado, na região Norte de Moçambique.

Segundo o artigo, o “massacre” é perpetrado por grupos de caçadores furtivos “sofisticadamente armados” e “tem vindo a ganhar proporções gigantescas”:

""Todas as semanas, pelo menos, dois animais são abatidos, dos quais são retiradas as pontas de marfim, que são posteriormente vendidas no mercado negro. A batalha acontece aos olhos das autoridades governamentais e policiais locais que, por conforto e cumplicidade, não agem.""

São frequentemente ouvidos ruídos de tiros e depois avistados helicópteros ou aeronaves a sobrevoar a reserva. Estes servirão para carregar as pontas de marfim roubadas aos animais em vias de extinção, e assim dar continuidade ao tráfico de um produto que “atinge preços exorbitantes no mercado negro”, e é exportado para países asiáticos como China, Coreia do Norte, Tailândia e Filipinas.
(Imagem daqui)

Um comentário deixado ao artigo por Conor Christie através do Facebook acrescenta:

""Trabalhei um pouco na coutada 4 na provincia de Manica e quando lá, fomos avisados que os caçadores vêm das zonas da Beira e vêm BEM EQUIPADOS. Nós tinhamos o equivalente a dois guardas das Quirimbas, e fomos avisados para não confrontar os elementos. As pessoas que têm acesso a esse tipo de armamentos não são os camponeses. Quando lá, sabíamos que caçadores furtivos alugavam AK47 (AKM) do comando ai do Save. Comprávamos balas por mil Meticais [$33 USD] cada, indicando que o acesso às armas é fácil. Na minha opinião, as pessoas atrás dessas mortes nas Quirimbas são pessoas com patencia [sic].""

Outra leitora do jornal, Kita Chilaule, expressou a sua indignação:

""Não acredito que não hajam formas de travar estes caçadores furtivos. Penso que eles não são um numero superior aos guardas mas sim têm a protecção do governo local ate porque esta claro que existe aqui uma cumplicidade e corrupção. O lamentável é a destruição do património do ecoturismo desta zona.""

E continua:

""Esses caçadores a maioria são estrangeiros não podem ter poder de acção mais que os nacionais. Peço a quem é de direito para travar esta pratica degradante de fauna bravia.""

Inserida no Parque Nacional das Quirimbas, que ocupa uma área de aproximadamente 7.506 quilómetros quadrados, a Reserva da Mareja é vigiada por um grupo de 10 guardas florestais precariamente equipados para fazerem frente à caça furtiva. No website da Associação de Camponeses de Mareja está em curso uma campanha de consciencialização e angariação de fundos para fortalecerem o trabalho de protecção dos elefantes.
(O vídeo acima é de Dominik Beissel; mais filmagens dos elefantes no seu habitat natural aqui.)

No seguimento da notícia publicada pelo Jornal @Verdade, foi criada uma petição no site Avaaz:

""Solicita-se a atenção do mundo que preza a sustentabilidade ecológica e a vida nas florestas, assim como do GOVERNO DE MOÇAMBIQUE, para que providências sejam tomadas de forma a acabar com o extermínio dos elefantes em Moçambique.""

“Conflito Homem-Elefante”

Já desde 2006 que o autor do blog Forever Pemba tem reportado sobre conflitos relacionados com a fauna bravia, e em especial os elefantes, naquela região:

""Nos últimos tempos, os animais, principalmente elefantes, matam pessoas, criando insegurança nas comunidades, assim como se lhes acusa de fomentarem, com macacos e porcos selvagens, a fome, ao destruírem parcial ou completamente as culturas.""

Criticando a implementação de algumas das “medidas de estancamento” da “destruição” causada pelos animais promovidas pelas autoridades locais, tais como a formação de caçadores comunitários, o blog analisa uma notícia publicada no jornal Notícias em 2007:
(Imagem daqui)

""Em resumo e lendo o texto, entende-se que, as autoridades responsáveis em Cabo Delgado, depois de apresentarem os elefantes e outros animais como inimigos perigosos para o ser humano, agirão, como afirmam com um tom beatificante, quase piedoso, para não dizer cínico.""

O website da WWF-Moçambique indica que em 1999 a Direcção Nacional de Florestas e Fauna Bravia (DNFFB) do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural publicou a Estratégia Nacional de Gestão de Elefantes em Moçambique, com a definição de metas para a conservação da população de cerca de 18.000 elefantes africanos que existem no país.

No entanto, a aplicação da convenção, segundo um relatório de Setembro de 2012, tem-se mostrado deficitária.

- Escrito por Sara Moreira - GlobalVoices em 19NOV2012


Clique nas imagens para ampliar. Transcrição do GlobalVOICES - Português, com a devida vénia. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Novembro de 2012. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

9/06/08

Os elefantes africanos...

Relembrando que os elefantes, animais inteligentes da floresta africana e não só, ao longo da história do mundo foram utilizados pelo homem para várias funções, como transporte, entretenimento e guerra, são actualmente, em todas as suas espécies, considerados animais em perigo de extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN) tendo como causa principal a caça ilegal e o abate indescriminado quando se tornam violentos e atacam as populações próximas, ao perderem seu habitat invadido pelo ser humano.
A caça aos elefantes, causada principalmente pelo cobiçado marfim de suas presas é normalmente ilegal em quase todos os países africanos e o mundo, gradualmente, vem rejeitando o comércio desse material utilizado em jóias, etç.
Diversos jornalistas e defensores da natureza se têm dedicado ao assunto e á defesa da vida destes seres da floresta, denunciando, estudando, retratando e descrevendo para o mundo como pode ser pacífica a convivência com os mesmos. Transcrevo, como exemplo e alerta para entidades moçambicanas mais radicais ou extremistas no trato com estes animais:
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"Em uma clareira remota na República Central africana, a bióloga Andrea Turkalo observa a vida de animais ameaçados de extinção".
'Já foi dito que, na África, as comunidades humanas eram como ilhas rodeadas de elefantes', lembra Andrea Turkalo, da Wildlife Conservation Society. "Hoje, acontece exatamente o oposto." Ela sabe do que está falando: seu estudo pioneiro sobre os elefantes da floresta é conduzido em Dzanga Bai, uma clareira remota de 12 hectares que se localiza dentro de uma dessas grandes ilhas no continente um aglomerado de floresta tropical que resta no centro da África. Quando Turkalo chegou aqui, há quase uma década, pouco se sabia sobre o Loxodonta africana cyclotis, o primo do elefante comum que é menor e habita a savana e representa talvez um terço dos 600 mil elefantes que ainda existem na África. Como se espalham por áreas extensas no meio da floresta de vegetação densa, esses elefantes são extraordinariamente difíceis de estudar. Durante anos, pesquisadores se consideravam pessoas de sorte quando conseguiam avistar um único elefante da floresta, quem dirá ser capaz de observar um deles, e baseavam suas conclusões limitadas em evidências indiretas como fezes ou trilhas que levavam aos alimentos. Então Turkalo montou acampamento em Dzanga Bai, no parque nacional de Dzanga-Ndoki, onde os elefantes se juntam para beber água e escavar minerais do solo. Hoje ela trabalha em uma plataforma nas árvores e observa meticulosamente cada elefante que visita o local, anotando características físicas para estabelecer identidades individuais, então parte desses dados para estudar históricos de vida, estrutura familiar e padrões de comportamento em grupo. Equipada com repelente de insetos e uma espécie de telescópio, Turkalo passa a maior parte das tardes em sua plataforma, "desvendando as complexidades da vida dos elefantes da floresta".
- Matéria publicada originalmente na edição de fevereiro de 1999 da National Geographic.
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Elefantes de Samburu - Uma história de amor na África: Video-reportagem com imagens sensacionais que retrata os bastidores dos seis meses de trabalho do jornalista Michael Nichols na África - aqui!
  • Post's deste blogue sobre o mesmo tema - Aqui!

6/27/09

Moçambique autorizado a matar mais elefantes!

Lamento transcrever, mesmo perante o júbilo macabro do ministro moçambicano da agricultura e demais defensores da chacina dos animais da selva:

A Convenção Internacional sobre o Comércio de Espécies em Perigo de Extinção (CITES), acaba de autorizar Moçambique a aumentar de 40 para 60 o número de elefantes a abater anualmente, por estes paquidermes estarem a criar mais problemas às comunidades rurais no país.

Reagindo o facto, o ministro moçambicano da Agricultura, Soares Nhaca, enalteceu o gesto, considerando ser uma medida fundamental nos esforços do Governo para minimizar o conflito homem-animal. Para aquele governante, que falava recentemente à AIM, em Maputo, “esta decisão da CITES é fundamental porque vai reforçar a nossa capacidade de aquisição de armamento para o abate de animais problemáticos, entre os quais os elefantes”, que semeiam a morte junto das comunidades, um pouco por todo o país.

Nhaca afirmou ainda que a decisão de aumentar para 60 o número de elefantes a abater por ano, comunicada recentemente ao Governo de Moçambique por responsáveis ligados à referida convenção, “vai-nos permitir colocar esses animais no mercado de forma mais valorizada, porque, por um lado, será um abate autorizado, e, por outro, os troféus serão legalmente exportados.

“A decisão fará também com que aumentemos a capacidade do Governo de treinar fiscais para os diferentes parques e reservas de animais bravios do país, para além de permitir uma maior eficiência no licenciamento de empresas sobretudo para o negócio de crocodilos”, realçou o titular da pasta de Agricultura.

Soares Nhaca prestou estas declarações numa altura em que as autoridades moçambicanas estão a levar a cabo um conjunto de medidas destinadas a mitigar o conflito homem-animal, que, no entanto, ainda não produziram resultados concretos. Uma das medidas adoptadas para minimizar este conflito, “que é uma das preocupações que não nos deixam apanhar sono, foi a de procurar fazer a vedação nos principais corredores dos animais”, trabalho a ser feito em coordenação com outras instituições governamentais, entre as quais o Ministério do Turismo.

O Governo diz que os animais mais visíveis que têm criado mais problemas são os elefantes, que têm uma memória de centenas de anos, ou seja, que vai de geração em geração, explicando que quando há um circuito, os elefantes permanecem nesse circuito, “e se houver desvio, eles desviam, mas passado algum tempo, eles voltam lá”.

Entretanto, o ministro do Turismo, Fernando Sumbana, em contacto com a AIM, confirmou haver esse trabalho coordenado, afirmando que na Reserva Especial de Maputo está já em curso o trabalho de construção de uma vedação ao longo do corredor dos elefantes, esperando-se que o mesmo seja concluído ainda este ano.

“Não teremos a situação do conflito homem-animal estancada, porque se construímos vedação num sítio, há uma maior pressão de animais noutro local, porque há mais animais a desviar para um determinado circuito, visto que estes se espalhavam quando a vedação não existia”, explicou Sumbana.

Outro local de grande incidência de conflito homem-fauna bravia é o Parque Nacional das Quirimbas, na província nortenha de Cabo Delgado, criado em 2002, numa zona com muitos animais. O parque foi criado tendo como um dos seus principais objectivos estabelecer um mecanismo que permita mitigar o conflito homem-animal, “e o que nós estamos a fazer agora é procurar construir uma vedação nos circuitos dos animais e abrir machambas em bloco”.
Por outro lado, foram treinados caçadores comunitários para a protecção das populações, não só ao longo da zona do parque, mas também ao nível de todos os distritos da província de Cabo Delgado. Refira-se que, recentemente, o Ministério da Agricultura promoveu, em Inhambane, sul do país, um encontro sobre o conflito homem-animal, e, brevemente, vai submeter uma estratégia ao Governo, “para sermos mais agressivos nos esforços para mitigar o conflito homem-animal”.

Entre outros aspectos, a estratégia preconiza que é preciso confinar os animais ao parque e procurar vedar todos os locais sensíveis. Em Moçambique, um dos animais que mais matam é o crocodilo, que vive no rio, sendo que a estratégia define que deve haver zonas devidamente vedadas, onde as populações possam ir tirar água sem correr riscos. A referida estratégia prevê ainda que sejam feitos abates selectivos.

Presentemente, está em curso o trabalho de recolha de ovos dos crocodilos. O resultado ainda não é satisfatório, mas a perspectiva é, por um lado recolher os ovos e fazer abates selectivos, e, por outro, vedar os sítios mais sensíveis, de modo a que as populações não corram riscos.
- @Verdade de 27/06/09.

  • Alguns post's deste blogue sobre a chacina dos elefantes e animais da selva em Moçambique e África - Aqui!
  • A chacina dos elefantes em Moçambique/África e o conflito "animal/homem" pesquisado no Google, Aqui!

5/15/07

Cabo Delgado - Meluco - Elefantes & Cia. são inconvenientes...


Elefantes destroem produção e matam – a população acusa o Governo de proteger mais os animais bravios do que as pessoas.
Animais bravios, principalmente elefantes, estão a provocar vítimas mortais e a destruir diversas culturas dos camponeses, no distrito de Meluco, situado na região centro da província de Cabo Delgado. Por exemplo, no posto administrativo de Muaguide, duas pessoas foram mortas por elefantes.
O problema sobre os animais bravios foi dado a conhecer ao governador de Cabo Delgado, Lázaro Mathe, na sua recente visita de trabalho de três dias àquele ponto da província, no âmbito da verificação do grau de cumprimento do Programa Quinquenal do Governo, através do Plano Económico e Social (PES) 2007, no seu primeiro trimestre.
Durante a sua estadia em Meluco, o dirigente de Cabo Delgado manteve encontros separados com membros do Conselho Consultivo, líderes comunitários e velhos influentes, para além de orientar a sessão extraordinária do Governo distrital e comícios populares.
Tal como já se torna regra dos governantes em Moçambique, Mathe não deixou de, na sua visita, se reunir com camaradas seus e com antigos combatentes, mesmo estando em missão de Estado e usando meios do estatais.
Porcos e macacos:
Segundo depoimentos da população, os animais bravios, nomeadamente elefantes, porcos, macacos e saguis destroem constantemente a produção nos períodos de maturação, para além de cereais guardados nos celeiros tradicionais.
Os elefantes, para além de destruírem a produção de diversas culturas nas machambas, circulam até às proximidades das zonas residenciais e criam pânico, dor e luto nas famílias.
Entretanto, desde a campanha agrícola finda, as estruturas governamentais têm vindo a sensibilizar os camponeses para a abertura de machambas em bloco e para o uso de métodos tradicionais como a utilização de piri-piri, o batimento de latas e fogueiras nocturnas. Mas estas práticas mostraram que servem apenas para macacos, porcos e saguis.
Conflito homem-animal tem os dias contados:
Em todos os encontros que o governador de Cabo Delgado realizou com a população, nas sedes das localidades de Imbada e de Ravia e na sede distrital, a população queixou-se do conflito homem-animal, que se regista todos os anos naquela região da província, e acusou o Governo provincial de proteger os animais em detrimento das pessoas. A situação é mais dramática para a população que vive dentro do Parque Nacional das Quirimbas.
Em resposta, Mathe disse que o conflito homem-animal tem os dias contados, pois, dentro em breve, será criado um comando composto por polícias, soldados e fiscais do parque e do Governo. Esse comando terá como missão a defesa de pessoas e bens e o abate de animais que criem problemas, neste caso concreto elefantes que estiverem a criar pânico nas áreas de residência e nas zonas de produção.
O distrito de Meluco é rico em animais, quer em número, quer em diversidade de espécies, e os órgãos administrativos locais consideram a fauna bravia como sendo um potencial turístico e para a caça comercial. Os macacos e os elefantes, para além de leões e gazelas, são particularmente abundantes. Por causa disso, há sempre relatos de ataques a pessoas e de destruição de produção nas machambas em cada campanha agrícola. Neste momento decorre um processo de levantamento exaustivo do número de hectares de machambas destruídos pelos animais.
Outros problemas de Meluco:
Outros problemas apresentados pela população de Meluco ao governador de Cabo Delgado estão relacionados com o seguinte: precárias vias de acesso, abastecimento de água, transporte semicolectivo de passageiros, ambulância, unidade sanitária, armas de fogo para afugentar elefantes, e residências de construção convencional para presidentes das localidades.
Em resposta, Mathe disse que consta no plano do Conselho Consultivo a construção de fontes de água. Neste momento, o empreiteiro está a reunir o equipamento para dar início às obras. Em relação à ambulância, responsabilizou imediatamente a Direcção Provincial de Saúde para resolver o problema. Prometeu soluções a curto prazo sobre as questões de armas de fogo, de construção da unidade sanitária na sede da localidade de Ravia, que fica a mais de 30 quilómetros da sede do distrito, e sobre a reabilitação das vias de acesso.
SAVANA – 11.05.2007 - Por Afonso Alberto, em Cabo Delgado.
In "Moçambique Para Todos".

5/05/07

Recados da velha de Quissanga.


Depois de no ano passado ter ouvido a máxima, em Litandacua, aldeia pertencente ao posto administrativo de Chai, distrito de Macomia, um popular a dizer ao governador Lázaro Mathe, que se o Governo não resolvesse o problema dos elefantes, na próxima visita que se reunisse com eles.
Depois de parecer que o conflito entre os animais bravios e o Homem estava a ter solução, numa altura em que o governo decidiu intervir com mais força na gestão do Parque Nacional das Quirimbas, colocando lá um seu membro, que veio a ficar acima da administração do parque.
Depois de relatórios desencontrados entre o parque, o Governo provincial e outras fontes não menos importantes, depois de tudo isso, uma mulher se levantou surpreendeu o Presidente da República ao colocar a sua versão dos factos, uma versão muito diferente do que o chefe sabia, conforme ele mesmo confessou.
A velha voltou a culpar os elefantes da fome que pode flagelar este ano o distrito de Quissanga e por extensão o Parque Nacional das Quirimbas, fazendo outra extensão, chegou a culpar o Governo, que acha, na sua opinião, que o elefante é mais importante que as pessoas.
Disse que não acreditava em nenhuma outra coisa, senão num jogo em que as populações saem sempre a perder. Quis saber da importância dos elefantes que numa noite destroem todo o esforço de um ano, depois ninguém reage em defesa dos camponeses.
Propôs que, a serem muito importantes os elefantes, que o Parque Nacional das Quirimbas abrisse suas machambas, mais grandes que aquelas que estão em blocos para permitir que os elefantes comessem nelas, distraindo-os, assim, a não irem atacar as dos populares.
Seria uma espécie de cordão para defender as machambas dos camponeses, se bem que se acha muito importante a coabitação com os elefantes. Seria o refeitório dos elefantes, que seria muito recheado, com comida à fartura e assim nunca teriam a ideia de ir às pequenas machambas, entretanto a base de sobrevivência de todos os residentes de Quissanga.
Virando-se para o turismo, disse a mesma coisa. Que não estava a ver senão um jogo em que basta que os “grandes” não sofram, não interessa que a comunidade sofra. Falou do facto de que ha áreas onde não se pode pescar, sabendo que a pesca é, para muitos a única actividade para o sustento de famílias.
Ela disse ter andado em todas as ilhas turísticas, Quilálea, Matemo, Medjumbe, entre outras, hoje todas “compradas” e não encontrou nada que lhe satisfaça, porque esse turismo de que se fala “afinal é chegar, construiu uma barraca, fazer casas de bambu e pau-a-pique, logo é turismo! Estão-nos a enganar! E quando eles forem embora o que é que vão deixar, se a casa de paus na mesma semana vai cair. Estão nos a enganar! O Governo sabe, é um jogo!
Pedro Nacuo - Maputo, Sábado, 5 de Maio de 2007:: Notícias

11/10/06

CABO DELGADO : População de Quissanga céptica quanto ao fim da pobreza absoluta...


Disseram a Lázaro Mathe que, como ele próprio afirmou, representava o presidente da República. A população de Quissanga não acredita que a pobreza (ainda que não seja absoluta) venha a acabar no seu distrito, sendo que, na sua opinião, o seu combate não passa de um slogan que pretende apenas mostrar o que seria bom para as populações daquele ponto de Cabo Delgado.
Um dos intervenientes à reunião popular dirigida pelo governador de Cabo Delgado, na localidade de Nivigo, Moisés Dias Air, disse que não se vê a seriedade do que se fala em torno da pobreza, que na sua opinião não pode acabar com uma agricultura de subsistência, em que o homem e a sua mulher todos os dias vão à machamba apenas para conseguirem, uma vez por ano, certas quantidades de comida que nem sequer cobrem todo o período. Dias Air acrescentou que o trabalho destes dois só dá para não morrerem de fome, o que não significa o fim da pobreza, pelo que o Governo, se quiser implementar o seu sonho, deve criar condições para a reintroduçao da agricultura mecanizada, se bem que este sector continua a base de desenvolvimento do país. "Nunca vamos desenvolver com a enxada de cabo curto, sem tractor, quando para se ter acesso ao crédito bancário exigem-se garantias que quem as tem não é pobre. Exigem casas de alvenaria, carros, motorizadas, tudo isso como garantia. Ora, quem tem isso tudo não faz parte do grupo dos pobres que deveriam ser apoiados para saírem da pobreza", sustentou Moisés Dias Air. Em Nivigo, localidade pertencente ao posto administrativo de Bilibiza, em Quissanga, tudo falta, apesar de estar no corredor da estrada Pemba/norte da província, exactamente em Modja. Uma loja encontra-se encerrada desde a guerra dos 16 anos. Vive-se de algumas barracas que os residentes dizem não satisfazer porque, conforme Emilio Abdala, nem sequer vendem pano branco, tradicionalmente usado para funerais. "Quando alguém morre temos que percorrer grandes distâncias à procura de pano branco, normalmente no distrito de Ancuabe. Quando regressa a pessoa já é tarde, razão porque os funerais de Nivigo realizam-se quase sempre à noite" exemplificou Abdala, que gostaria que o Governo local contemplasse a reabilitação das mesquitas no quadro do seu programa com os sete biliões de meticais alocados aos distritos. Aidar Salimo, por seu turno, convida o Executivo a repensar na sua atitude de protecção aos elefantes, que entretanto são a razão principal por que em Nivigo as pessoas passam fome. "Desde a independência nós produzíamos muito arroz nas margens do rio Montepuez. Produzíamos também bananas e batata-doce. Mas agora, com estes elefantes que vocês dizem para serem protegidos, estamos mal. Se fossem do nosso tio haveríamos de matar para mais tarde resolvermos o problema com ele", queixou-se Aidar Salimo. Pires Ássimo Sahá secunda o seu conterrâneo e acrescenta que várias áreas de cultivo de Nivigo, Bilibiza, Ntingue, Tororo e Mauá foram arrasadas impiedosamente e o panorama pode vir a complicar-se nos próximos dias, quando se entrar na (re)abertura das machambas para a safra seguinte. Para quem está a conseguir entrar na sua antiga machamba, fá-lo depois das 10 horas, altura em que os elefantes se retiram, mas para mais logo retomarem a reocupação das áreas de cultivo. "É que os elefantes já tomaram de assalto as áreas de cultivo e ninguém os pode expulsar. O Parque Nacional das Quirimbas diz que são mais importantes que nós", ironizou. A 500 metros do rio Montepuez, Nivigo não tem água potável, os poços da região não escaparam à fúria dos elefantes e há poucas informações sobre vítimas humanas provocadas por aqueles paquidermes.
PEDRO NACUO - Maputo, Quinta-Feira, 9 de Novembro de 2006:: Notícias
CABO DELGADO : População céptica nas teorias de desenvolvimento rural.
Também existem problemas com os elefantes igualmente na localidade de Cagembe, pertencente ao posto administrativo de Mahate, ainda no distrito de Quissanga Fernando Pia diz que não se percebe que se continue a proteger o elefante enquanto a vida das pessoas está em permanente perigo e jura que Moçambique não se vai desenvolver com elefantes.
"O que está na machamba não é nosso, o que está em casa, também não é nosso. Matam cabritos em casa, juntam-se os ladrões que temos aqui e limpam-nos a casa. Na machamba é outra vez o elefante. Elefante! Elefante! Elefante, senhor governador"! Lázaro Mathe, impotente ante as evidências de graves problemas que concorrem para o empobrecimento das populações, pediu ao povo que acreditasse na vitória sobre a pobreza absoluta, tal como havia acreditado que os moçambicanos seriam capazes de expulsar o colonialismo e combater a guerra dos 16 anos. "Temos uma boa liderança do presidente Armando Emílio Guebuza, que por sua vez escolheu homens firmes para as diferentes frentes de batalha. Havemos de vencer a pobreza. Podem acreditar que havemos de acabar com a pobreza", assegurou Mathe. A população nem sequer acredita nas diferentes teorias sobre o desenvolvimento rural. Disse a Lázaro Mathe que igualmente não vê com bons olhos o trabalho desenvolvido pela Fundação Aga Khan. "Nós não estamos a ver nada. As sementes são caras, mandam técnicos para nos ensinar a semear e vão embora. Não há mais acompanhamento e continuamos na mesma". A experiência recente com a "Maharishi Mozambique Global Administration", ainda na região de Nivigo, aumenta as suspeitas sobre a seriedade dos programas da Aga Khan. O "Notícias" apurou que há cerca de quatro anos, um projecto da "Maharishi" sonhava na utilização futura de 100 mil hectares, para o que dizia haver um investimento na ordem de 100 milhões de dólares norte-americanos a serem aplicados num prazo de cinco anos no desenvolvimento de uma agricultura orgânica e agro-industrial virada à plantação de fruteiras diversas, plantas medicinais e aromáticas, bem como legumes e vegetais, para além da exploração de variedades de madeireiras. Do valor global, segundo soubemos, 400 mil dólares representariam o investimento estrangeiro directo do projecto e seriam aplicados num ano, o mesmo que aconteceria com o investimento nacional directo para o mesmo período. Por outro lado, 99 milhões de dólares seriam realizados sob forma de empréstimos e o Banco de Moçambique seria responsável pela emissão de pareceres sobre os créditos solicitados. Porém, tudo não passou de utopia, incluindo a promessa de empregar, em tais situações, 417 trabalhadores moçambicanos que já haviam começado a devastar as matas da região de Modja (em Nivigo), que entretanto pararam nos 700 hectares, assim que se começou a duvidar da seriedade do projecto.
PEDRO NACUO - Maputo, Quinta-Feira, 9 de Novembro de 2006:: Notícias
CABO DELGADO : Um sonho adiado
Com o aborto do projecto, os moçambicanos, na maioria de Nivigo e da aldeia Mauá, viram o seu sonho adiado e ninguém ainda foi ao local explicar as circunstâncias em que tal aconteceu, deixando uma dívida que custa esquecer no seio da população.Na verdade, segundo dados reunidos pelo "Notícias", o fim do projecto veio anunciar-se quando a "Maharishi" não conseguiu desalfandegar o equipamento que trazia para o seu início, nomeadamente tractores, buldozeres, pás-escavadoras, máquinas de furo para abastecimento em água, charruas, entre outros.
As razões evocadas pelas autoridades aduaneiras assentavam no facto de maior parte do equipamento ser em segunda mão e outro sem nenhuma relação com as actividades inscritas, como por exemplo, mil câmaras frigoríficas. Por outro lado, a "Maharishiri" impunha ao Governo moçambicano a introdução de um sistema fiduciário não comum entre nós, nomeadamente que na área de influência do projecto, os distritos de Quissanga, Meluco, Montepuez, Ancuabe e Macomia, que se trataria como zona franca, não se usasse a moeda nacional nem outra qualquer, mas sim, circulassem cupões (senhas) para todo o tipo de troca. Numa altura em que ainda não haviam sido apresentadas à parte moçambicana as garantias da existência de dinheiro em algum banco do mundo e a "Maharishi" defendia que as árvores e o que fosse possível fazer como riqueza é que eram o sustento do projecto, o vínculo acabou se dissolvendo, tendo o projecto sido transferido para Madagáscar, onde foi aceite. Esta história, com todo o requinte a que se lhe emprestou, ficou na retina da população dos distritos que seriam abrangidos pelo projecto, mas muito particularmente do distrito de Quissanga, onde se localizava a sua sede, a menos de um quilómetro da localidade Nivigo. E a mensagem de Nivigo de que a pobreza não se pode eliminar nas actuais circunstâncias, veio a repetir-se em quase todos os lugares por onde passou o governador Lázaro Mathe. Reitera sempre que combater este flagelo só pode ser possível se forem tomadas acções muito concretas na área da agricultura, base da economia nacional. Também dizem que não se combate pobreza com a manutenção da medida que proíbe o abate dos elefantes que devastam as suas machambas. Os sete biliões alocados ao distrito de Quissanga são, outrossim, o ponto à volta do qual reinam muitas desconfianças. O administrador distrital, Alafo Abdala, é acusado de decidir sozinho sobre o destino daquele bolo orçamental. A população quer saber a quem vai beneficiar o dinheiro e em que áreas de desenvolvimento, facto que levou a que Alafo Abdala reagisse, em jeito de esclarecimento. "O Conselho Consultivo do Distrito reuniu-se e encontrou algumas prioridades, como seja a construção de um centro de Saúde de Macoba, uma fonte de água na aldeia Linde, reabilitação da residência do secretário permanente do distrito", disse o administrador do distrito de Quissanga. De acordo com o governante, o centro de Saúde vai custar 4,5 milhões meticais da nova família, a fonte de água 350 mil MTn. Entretanto, o distrito foi desaconselhado a reabilitar a casa do secretário permanente, por o dinheiro não se destinar à reabilitação de infra-estruturas do Estado. Sendo assim, conforme apurou o nosso Jornal, o dinheiro foi reorientado para outras acções, como a compra de um atrelado para tractor, charruas, grades e capineiras, já requisitado. Pensa-se igualmente na criação de uma loja a entregar a um comerciante que tenha a capacidade de comprar e vender produtos em grandes quantidades, já encontrado na sede do distrito, a quem se lhe deu 350 mil MTn. A aquisição de bombas pedestais, em Maputo, a compra de 261 caprinos para 87 famílias, para o fomento, redes para associações de pescadores de Bilibiza, Mahate e sede do distrito e o financiamento a associações de carpinteiros, constam das prioridades do Conselho Consultivo Distrital para a utilização do valor de 2,15 milhões MTn. "Mas são ideias nossas. Como não sabíamos ainda dos custos, corremos o risco de não concluir todos os projectos; é pouco o dinheiro que resta" diz Alafo Abdala. É aqui onde residem as desconfianças da população. Já na sede do posto administrativo de Mahate, onde teve lugar a sessão extraordinária do Governo do distrito, vozes se levantaram de dentro do Conselho Consultivo a negar que tenham conhecimento dos projectos anunciados pelo administrador, deixando a nu o facto de que a sua participação foi nula.
PEDRO NACUO - Maputo, Quinta-Feira, 9 de Novembro de 2006:: Notícias

10/11/12

Retalhos: De Porto Amélia a Pemba - Parque Nacional das Quirimbas, no Norte de Moçambique.

Parque Nacional das Quirimbas, no Norte de Moçambique
Por Carlos Lopes Bento

O Parque Nacional das Quirimbas (PNQ) foi declarado no dia 6 de Junho de 2002, pelo Conselho de Ministros. Ele tem a singularidade de ter sido estabelecido em resposta a solicitações das comunidades locais e outros intervenientes. Portanto, o Parque deve ser entendido como uma iniciativa "de baixo para cima", uma tentativa das bases para resolver um sem número de problemas que afetam a Província de Cabo Delgado em geral e a área do PNQ em particular.

O Arquipélago das Quirimbas em Cabo Delgado é uma cadeia de 28 ilhas, que se estendem ao longo de quase 400 km, desde o norte da cidade de Pemba no sul, à cidade de Palma no norte. As 11 ilhas mais ao sul uma uma extensa zona de floresta no continente estão incluídas no Parque, resultando numa área total de 750,639 ha, dos quais 598,402 ha são hábitat's terrestres e 152,237 ha são habitat's marinhos e ilhéus. Esta área é de há muito reconhecida como uma zona de grande beleza paisagística, enorme biodiversidade de significado mundial, e importante patrimônio histórico; a recomendação de que esta área seja declarada um parque nacional vem já de 1971.
A Importância da Área:
Os distritos costeiros e centrais de Cabo Delgado (Macomia, Quissanga, Ibo, e Meluco) têm representados quatro das 200 eco-regiões de importância mundial de acordo com o WWF. Estas 200 eco-regiões são consideradas os melhores exemplares existentes de ecossistemas típicos e também raros. Se o simples fato de um País possuir uma das eco-regiões é já por si assinalável, imagine-se o que significa quatro eco-regiões estarem representadas em uma só Província. As quatro eco-regiões são:

- no. 23... Floresta Costeira do Mosaico de Inhambane-Zanzibar;
- no. 118... Mangais do Leste de África;
- no. 193... Eco-região Marinha do Leste de África;
- no. 55... Floresta de Miombo.

O Arquipélago das Quirimbas, em particular, é considerado pelo WWF como uma área marinha de importância Mundial. A área também foi considerada como tendo potencial para ser nomeada como Patrimônio Mundial da natureza pela UNESCO, e contém a histórica cidade do Ibo, antigo centro comercial de escravos de Árabes / Africanos / Portugueses.

Espécies de importância mundial, incluem quatro dos chamados “big five” (o rinoceronte foi eliminado), substanciais populações de mabecos (wild dogs), dugongos, quatro ou cinco espécies de tartarugas marinhas, uma variedade de espécies de conchas em vias de extinção como a Chariona tritonis e a Tridacna squamosa, a baleia corcunda (Megaptera novaeangliae, ou “Humpback whale”), várias espécies de golfinhos, as árvores de pau preto e sândalo...

Os Elefantes e leões são um problema particular. O número de Elefantes está em expansão e a incidência de ataques de elefantes às machambas também tende a crescer. Mais de setenta ataques de leões foram registrados no Distrito de Macomia em 2000. No mar, espécies como dugongos, tartarugas marinhas e tubarões estão em perigo de sobre-exploração. As extensas áreas de ervas marinhas e florestas de mangal estão também sob pressão severa.

Florestas:
A floresta costeira contém espécies raras e endêmicas que foram relativamente pouco estudadas, enquanto que pelo seu lado a floresta de miombo possui madeiras de valor comercial tais como a mbila (kiyaat), chanfuti, e jambire. O abate comercial destas madeiras tem sido feito exclusivamente por empresas baseadas em Pemba. Entre os ditritos de Ibo e Quissanga desenvolveu-se um mangal que ocupa uma área de 39km2, com 8 espécies de árvores de mangal representadas.

O Governo sempre deu a necessária importância a estas Florestas e em 1996 estabeleceu duas grandes áreas como “Reservas do Estado”, com a intenção de promovê-las a Reservas Florestais. Apesar de os constrangimentos financeiros terem dificultado o desenvolvimento destas reservas, o Governo tem recusado desde então o licenciamento de corte de madeira nestas áreas, até existirem condições para a sua declaração formal como zonas protegidas.

Fauna:
Os Distritos atrás referidos têm sido mencionados em vários estudos como áreas prioritárias de fauna. Três rotas migratórias de Elefantes atravessam a área, seguindo as margens dos Rios Montepuez e Messalo. As montanhas isoladas de granito (inselbergs) de Meluco não só são espetacularmente bonitas como também foram identificadas como centros de endemismo de plantas e animais e servem historicamente como refúgio de elefantes. Os elefantes da zona estão de certa maneira adaptados ao ambiente das montanhas a dar pelas marcas da sua passagem nos mais incríveis locais.
O Ambiente Marinho a Costeiro:
A área costeira possui 11 das ilhas mais a sul do Arquipélago das Quirimbas, numa distância de cerca de 100 Km. (ver mapa). Estas Ilhas formam uma linha quase contínua separadas por canais estreitos, extensões de terra e baías. Já Tinley, em 1971, havia sugerido a proteção desta área com base na riqueza do habitat que suporta uma flora e fauna diversa, incluindo 375 diferente espécies de peixes. O Arquipélago também incluí o Baixo de São Lazaro, um baixo isolado e ainda bem conservado para a pesca desportiva e mergulho a cerca de 42 milhas náuticas da costa.

Os recursos marinhos costeiros estão presentemente sob ameaça de sobre-utilização, enquanto que os recursos de mar aberto estão quase por explorar. Também levam as estas conclusões estudos científicos, consultas com instituições e consultas às comunidades (mais recentemente durante um Seminário na Ilha do Ibo). As principais ameaças resultam de:

- A chegada, a Cabo Delgado, de pescadores vindos da Província de Nampula e Tanzania;
- Uso de artes de pesca destrutivas (rede fina, rede mosquiteira, veneno, extração de corais);
- Perda de valores tradicionais com o resultado de que as práticas tradicionais não são mais respeitadas (antigamente a pesca era feita em ciclos de 12 dias, dos quais 6 dias a pescar e seis dias a descansar; hoje pesca-se todos os dias);
- Falta de controlo por parte das autoridades de fiscalização devido a várias razões entre elas a falta de transporte (barcos).

Os pescadores locais também se referem à falta de condições de comercialização do seu pescado e a falta de equipamento para a pesca de mar alto, razão pela qual existe a sobre-pesca perto da costa. Em termos da atual captura, esta tem vindo a descer desde há muitos anos a níveis extremamente baixos. Isto resulta em que todos os locais de fácil acesso estão sobre-utilizados. Locais menos acessíveis (como o canal de Montepuez com correntes perigosas a a parte de fora da barreira de corais, com correntes e ondas) estão em muito bom estado. Os recifes de corais de baixa profundidade estão também muito danificados pelo fenômeno do El Nino Southern Oscillation ocorrido em 1997/8.

População:
Estes distritos são majoritariamente habitados por povos das etnias Macua e Muani, apesar de Macomia ter populações de Maconde também. Estas populações vivem da agricultura de subsistência, pesca e caça e não existe qualquer indústria. O Distrito do Ibo, por exemplo, não tem uma simples loja. O Distrito de Quissanga, largamente conhecido por ser potencialmente o mais produtivo da Província em termos de agricultura (com 25% de solos de aluvião), não possui um simples trator a funcionar. A esperança de vida na Província é de 37.8 anos, enquanto a mortalidade infantil antes dos cinco anos é de 295 por cada mil nascimentos. O PIB (produto Interno Bruto) per capita era de 141 USD/ano em 2000, mas estima-se que nas zonas rurais seja menos de metade desse valor. A taxa de analfabetismo em adultos é de 75% (estatísticas do Plano Estratégico de Cabo Delgado, 2000-2005).

O desespero econômico e o crescimento populacional criam uma pressão ainda maior sobre as florestas e recursos terrestres. Pelo seu lado, hábitos tradicionais como a queima da mata na época seca e a caça com armadilhas retiram aos recursos naturais a sua capacidade de regeneração. Assim, os recursos de fauna e flora estão e estado contínuo de declínio, o que é inclusivamente reconhecido pelo próprio Governo e comunidades rurais. Outro aspecto crítico é o permanente conflito animais-seres humanos tal como já atrás foi referido.

O Governo de Cabo Delgado e a GECORENA solicitaram ao WWF apoio na criação da área protegida e estão ainda a procurar mais apoio junto de outras organizações. Regulamentos e zoneamento para investimento é uma parte parte do plano que está a ser elaborado. Isto criará um quadro legal e institucional para um desenvolvimento apropriado de turismo no Parque o que contribuirá mais tarde para a sustentabilidade financeira dos esforços de conservação.

A área do Parque inclui assim:
- Uma floresta costeira entre Macomia e Quissanga, como uma fantástica fauna selvagem, incluindo o elefante, o búfalo, o leão e o leopardo;
- A costa Sul do Arquipélago das Quirimbas, incluindo 11 Ilhas, praias de desova de tartarugas marinhas, recifes de coral, ervas marinhas, e imensas florestas de mangal, e, a cerca de 40 milhas da costa, o Baixo de São Lazaro, local de pesca desportiva de classe mundial;
- O corredor de elefantes entre os Rios Messalo e Montepuez e a Reserva de Elefantes de Mputho .

CONTACTOS DE CULTURA PÓS-GÂMICOS NA COSTA ORIENTAL DE ÁFRICA.- O CASO CONCRETO DAS ILHAS DE QUERIMBA OU DE CABO DELGADO.
Por Carlos Lopes Bento

A Costa Oriental de África, considerada o berço de Humanidade, serviu de base a intensos movimentos externos de pessoas e culturas, conhecidos pelo menos desde o século II DC, altura em que a costa africana foi integrada nos fluxos do comércio marítimo do Índico, que conjugados com os movimentos internos de povos africanos, originaram a cultura suaíli ou swahili. Trata-se de uma cultura com padrões típicos, marcadamente marítima, de raíz bantu, mas de ideal islâmico que se enquadra, segundo Allen, na denominada “unidade do Oceano Índico”(1) .

Para este extenso espaço africano, constituído por um vasto conjunto insular e respectivas terras firmes, convergiram, por razões de natureza comercial, política e religiosa e em épocas históricas diferentes, fluxos migratórios provenientes do Oriente, designadamente, da Arábia, Pérsia, Índia, China, e Indonésia, do Ocidente (Portugal, Espanha, França, Holanda e Inglaterra), da América (Brasil, Cuba,....) e da própria África. Dos permanentes cruzamentos inter-genéticos e da constante interpenetração de culturas nasceria a supracitada cultura suaíli(2) e as suas variantes, aliás, sabiamente, observadas e descritas, a partir dos finais do século XV, pelos destemidos nautas portugueses, data a partir da qual passaram a sulcar, regularmente, as agitadas águas do Índico. Os dados então recolhidos , mostram a existência de :
FIG. 1- Parte sul da costa swahili.
Fonte: NEWITT, Malyn, The Southern Swahili ..., p 112

- Sociedades pluri-raciais/pluri-étnicasconstituídas por indivíduos possuidores de várias tonalidades de pele: pretos, baços, ruivos e brancos;
- Uma religião comum assente nos princípios do Alcorão;
- Cidades-Estado com estruturas sociais complexas, estratificadas e relativa autonomia política, governadas por reis mouros, com excepção da Ilha Brava em que o poder político estava nas mãos dos mais antigos da terra;
- Uma produção agrícola variada, com grande riqueza de caça grossa e de produtos aquáticos. De realçar a existência de excedentes destinados, essencialmente: à afirmação do status social; à oferta de presentes; e ao reabastecimento e apoio da navegação e moeda de troca;
- De cidades e vilas com casas assobradadas, com portas e janelas de madeira muito bem lavrada, construídas a pedra e cal;
- De um rico vestuário, de seda e algodão, por vezes bordado a oiro, usado pelas camadas mais abastadas, por homens e mulheres e de jóias, em ouro e prata que embelezavam as encantadores damas suaílis.

Com a presença e domínio português imposto às principais cidades da Costa Oriental de África, através de tratados de vassalagem, desde os princípios do sec. XVI, extinto definitivamente, a partir de 1729- perda definitiva de Mombaça- a cultura suaíli foi enriquecida com muitos traços da cultura portuguesa que, pela sua utilidade e compatibilidade e até prestígio, acabariam por ser integrados nos léxicos do kiswahili(3) e do kimwani, perdurando até aos nossos dias. Recordam-se alguns vocábulos do kiswahili relacionados com: cargos/profissões, meios e instrumentos náuticos, armas , instrumentos de guerra e símbolos de soberania, utensílios de uso doméstico, animais domésticos, edifícios, fortificações e lugares, árvores de fruto, frutos, ferramentas e objectos mecânicos, artigos de vestuário, meios de pagamento, produtos e tecidos(4): almari, amari, bandera, bao, baraza, barakinya, bastola, bata, batela, beramu, bereu, biblia, bibo, bomba, boriti, boya, bulu, busha, chá, chapa, chapeo, dadu, dama, faranga, foronya, fogau, gereza, hospitali, idadi, kanderinya, kapa, kasha, kimau, kitalu, kopa, kopo, korosho, lakir , lesso, limao, machila, meza, m’pera, mvinyo, nahota, padre, pao, parafujo, pera, pesa, pilau, pipa, rateli, riale, roda, rupia, saa, safari, seti, shumburere/sombrero, shupaza, shuka, sukari, tabakelo, tarumbeta, turufu, uru, e yaya(5).
Após a perda sucessiva do domínio português sobre as várias cidades do Indico ocidental, as autoridades portuguesas limitaram o exercício do seu poder colonial , depois de 1729, às terras litorálicas situadas a sul do rio Rovuma, em cujo extremo norte encontramos as Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado. O arquipélago, habitado especialmente por wamwani (gentes da praia), é constituído por cinco dezenas de ilhas e ilhéus, pequenas em território- muitas delas com menos de um quilómetro quadrado - e pobres em solos, quase todos de origem corálica. Apesar destes condicionalismos mas atendendo à sua posição geo-estratégica este conjunto insular, com as terras firmes adjacentes, foi aproveitado, primeiro por árabes e persas e depois por portugueses para aí instalarem alguns dos seus portos de escala e desenvolverem uma importante rede comercial, complementada por algumas práticas agrícolas, armentistas, de construção naval e de pesca.

Antes da era gâmica dependeram as mesmas Ilhas, de acordo com as circunstâncias políticas, de Mombaça e de Quiloa. Passariam, definitivamente, para o domínio português, em 1523, após a sua reconquista pelo capitão Pedro de Castro, perdurando a situação colonial, então, instituída durante 452 anos. Conhecendo-se os fracos recursos humanos e materiais, a debilidade e pouca operacionalidade das estruturas político-administrativas, económicas e religiosas de apoio implantadas, a concorrência sempre crescente de um comércio internacional pouco favorável à coroa portuguesa, os ataques de franceses, sakalava, makhwa e mouros da costa e a resistência oferecida por uma elite local influente e portadora de uma dupla herança cultural, é pertinente interrogarmo-nos como foi possível uma permanência tão prolongada dos Portugueses e do seu domínio nas Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado?

Este verdadeiro “milagre”, que não foi o resultado da força das armas que, aliás, primava pela insuficiência e pela ineficácia, deveu-se principalmente, a uma política, concreta e espontânea, de tolerância, solidariedade, miscigenação, adaptação e convívio pluri-étnico, política essa, aqui e ali com alguns desvios e conflitos, respeitadora das diferenças étnicas e culturais, das crenças e dos valores humanos dos grupos dominados e dos seus modos de vida. Estávamos perante uma prática política, um diálogo intercultural, uma busca permanente de soluções para os problemas comuns, que, só séculos mais tarde, mais precisamente em 1948, viria a ser consagrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual não faz distinção entre etnias, culturas ou crenças. Desde há séculos, é legítimo recordá-lo, que os Portugueses consideravam e defendiam o princípio da igualdade como uma relação entre coisas diferentes. Há muito tempo e em muitas partes do Mundo e em contextos históricos e sócio-culturais diversificados que praticavam, na sua vivência do dia-a-dia, o princípio da tolerância: todos diferentes, todos iguais, actualmente, pouco assumido e muito afastado dos corações dos homens.

O homem português, colono modesto, sem grandes letras, por vezes desterrado, com o seu génio criativo e plástico, a sua grande capacidade de improvisar e inovar e o seu caracter individualista e sentido oportunista, soube, habilmente, em novos espaços ecológicos, geográficos e sociais, viver em situações de solidariedade, de contraste, de ambiguidade e de conflito. Teve a capacidade de moldar e de se deixar moldar e de criar novas realidades bio-culturais e de se adaptar a contextos específicos deveras variados.

Com a implantação da situação colonial nas Ilhas iria estabelecer-se no território um novo domínio e diferentes tipos de contactos entre populações biológica e culturalmente heterogéneas, há muito adaptadas a um meio geográfico específico e comprometidas com uma história. Nesta parte norte de Moçambique o colono português conviveu com gentes de outras culturas e religiões (makhwa, mwani, yao, mouros da costa( swahili),...) e aí constituíu famílias mestiças não consagradas nas leis e costumes do Reino- mestiças pela biologia e pela cultura - e originou novas formas sincréticas de família, geradoras de consensos e de solidariedades, que se desviavam, nítidamente, dos modelos da família real cristãmente organizada e aceite. Era frequente reunirem-se num só grupo familiar pessoas de mais de uma religião, etnia e posição social. A prova factual de tal realidade encontramo-la na Relação Geral de População de 1798 relativa às Ilhas: famílias compostas por cristãos, maometanos e gentios, por pessoas livres e por escravos, sendo grande parte delas formadas através da mancebia que as autoridades político-administrativas e religiosas, embora o tentassem, nunca conseguiram eliminar. A título de exemplo dá-se conta dos seguintes registos: uma cristã, de nome Luzia, solteira, com uma filha Ana, gentia e uma mãe maometana, Muana Mungi, com uma filha Ana e duas netas, Tomásia e Catarina, todas cristãs(6). Verificámos ainda uma escrava amancebada com um homem livre( um m´zungo), a qual, por sua vez possuía uma escrava.

Dos processos de fusão biológica e de interpenetração das culturas em contacto, que foram realidades constantes ao longo da colonização portuguesa, resultaram trocas recíprocas entre os grupos em presença, variáveis em intensidade conforme a compatibilidade e utilidade dos traços e complexos de cultura. Relativamente à influência da cultura portuguesa, a maior aceitação verificou-se nos domínios da antroponímia e da cultura material, limitação que estava relacionada com o modo de vida dos habitantes das Ilhas pautado por valores e normas culturais de raiz africana ou afro-asiática, bem diferentes daqueles que o poder colonial procurava impor. Os cristãos, livres e escravos e os seus descendentes mesmo não aderentes à doutrina cristã, e alguns não cristãos adoptaram nomes e apelidos portugueses e indo-portugueses. Os cristãos livres por cultura e tradição ligadas ao sistema de povoamento processado no território. Os cristãos escravos por obrigação imposta no acto do baptismo, também ele de natureza coerciva. Apesar do optimismo de Frei João dos Santos, autor da Etiópia Oriental, que realça a conversão nas Ilhas e terras firmes de l6 000 gentios , desde o inicio da evangelização até l594, data em que deixou de paroquear a freguesia da ilha de Querimba, a realidade, segundo nos conta o Pedro Barreto Resende parece algo diferente:

“O cafres são gente bárbara, natural e muito cruel e pouco dada ao culto divino e só os que são nossos cativos se fazem cristãos por esse respeito, durando-lhe a cristandade enquanto lhe dura o cativeiro, sendo que não repugnam muito a nossa cristandade”.

Embora aderentes a valores sagrados diferentes, em 1798, - os habitantes das Ilhas estavam distribuídos pelos seguintes credos: 48,85% cristãos, 29,43% maometanos e 21,70 % de religião tradicional- verificava-se a existência de contactos permanentes e efectivos entre os membros das várias religiões praticadas. Afirmava-se naquela data que os cristãos que não eram “parentes dos maometanos e deles descendentes, o são dos cafres macuas e macondes”(7). Esta evidência vem mostrar que a política inter-étnica condenada, em l592, pelo dominicano Frei João dos Santos, não teve sucesso. O frade, como chefe religioso e chefe político, não admitia e via com bons olhos alguns usos e costumes e as relações de convivência e de amizade existentes entre cristãos e maometanos:” ... em nossos Domingos e dias santos de guarda virem as mouras visitar as cristãs suas amigas e todas juntas, cantavam, bailavam, comiam e bebiam, tão amigavelmente, como se fossem todas mouras”(8).

No lº quartel do séc. XIX, Frei Bartolomeu dos Mártires confirmava a política de convivência encetada após a imposição do domínio colonial no território verificada a partir de 1523: “Os mouros têm tal ascendente sobre os desgraçados habitantes que até lhes tem pregado e introduzido a sua infame lei, seus costumes depravados e as suas torpezas mais nefandas de maneira que já não é fácil reconhecer as diferenças entre eles”(9).

Como resultado da aculturação e miscigenação espontâneas vamos encontrar na sociedade colonial casos específicos de uma dualidade cultural: uma herança cultural por parte de uma elite local mestiça que se moldou às regras e valores da sociedade dominante, que punha em prática sempre que era preciso relacionar-se com os seus representantes e substituía pelos próprios da sociedade dominada ao regressar ao meio de origem; chefes que participavam nas duas culturas e asseguravam, deste modo, o funcionamento das estruturas coloniais, pondo ao serviço das autoridades coloniais, o seu poder tradicional e as instituições indígenas pré-existentes. Recorda-se o terço dos auxiliares, os prazos da coroa, a cobrança de impostos, o fornecimento de mão-de-obra e de forças militares sempre que estava em jogo a segurança do território e a sobrevivência do domínio colonial; uma mestiçagem, com significado mais cultural do que biológico, bem evidente e clara na antroponímia constante da Relação de l798 supra citada, da qual se respigaram alguns nomes próprios, sobrenomes e apelidos, herança das várias culturas em presença. Encontramos, por um lado, nomes próprios da língua portuguesa com apelidos provenientes de línguas locais(kimwani, kiswahíli, makonde ,makhwa,...): Agostinho Quemissa, Alberto Lupulo, Alexandre Mutema,Ambrósio Macogo, Ana Mulusso, António de Faria Mussupia, Bruno Antunes Oengue, Catarina Muadia, Cristina Muanseni, Domingos Muzuzi , Francisca Muanessa ,João Madudo, Lázaro Mazome, Macaelo Faque, Manuel Morindua, Paulo Botelho Quidava, Roque Cassicazi, Sebastião Malemoca e Sebastião Raimundo Aidoz .Por outro lado, embora mais raros, surgem nomes em que o nome próprio provem das línguas locais e os apelidos do português: Mualenda Gonçalves, Muanassa de Faria, Mucoto Ribeiro, Muenhe Mussa Ribeiro, Tima Simão e Zina Faria(10).
Ao contrário do que acontecia em 1798, durante a nossa estadia nas Ilhas, entre 1969 e l972,constatámos que os nomes de origem afro-suaíli atingiam cerca de 94,50% contra 5,5% provenientes da língua portuguesa. A mudança drástica verificada no período de quase de dois séculos ficou a dever-se à consolidação do Islamismo na Costa Oriental de África, designadamente em Moçambique, e à incapacidade dos Portugueses, através do poder político-administrativo e poder religioso, imporem o seu modelo de sociedade. Contudo, ainda pude verificar, numa análise superficial ao léxico da língua falada pelo povo mwani , o kimwani, a existência de um grande de palavras portuguesas e aportuguesadas que continuavam a fazer parte da linguagem dos Wamwani : alfanete, ambari, armari,ayo, bacia, balança, barbero, bata, biberau, blusa, bolo, brinco, buli, cabido, cadiado, calça, camisa, camisola, capote, caxa, cesto, chicra, colher, copo ya café, copo ya vidro , côr ya café, curuneta, epangaio, fato, ferro yakongomar, fogão ya makala, fogão ya patroli, fronha, fundi ya candieiro, galação, galico, galo garrafão, garufu, gelera, giz, gramafone, kifio ya cozinha, koroso, janelazi, lata, lampeão, leço, loja, mala, malaya zinco, , mala ya m´bawa, manchila, mantega, maquina ya kossoma, marrau, masoldado, m,batata, mpapaia, marmita ya alumínio, meias, mesa, moscaleta, m,pera, nakoda, nanazi, , n caju, orive, paquete, patrol, piresse, prateleira, quadro, rádio, reloyo, reloyo ya kajubera, reloyo ya campaínha, sabau, safrau, , safrau, sucrire, tamangu, tamboro, tampa ya kufinika, tcha kutaya mantega, telhado, termo , tejolo, vestido, ...

Entre a famosa doçaria que faz parte da culinária mwani também encontramos a influência da presença portuguesa, sendo bem conhecido o bolo denominado “biscoito”feito com farinha de mapira, que na forma nada difere do biscoito confeccionado em Portugal.

No princípio do presente século o governador Ernesto de Vilhena dá-nos conta de uma dança cantada de origem portuguesa a “ Margarida” que servia de divertimento aos rapazes em que a letra do refreão incluía um vocabulário misto de português e de kimwani: Ai ué niquareta/ Ai Mussa ladrão/Roubou macarrão(11). A dança da corda , conhecida por Insóbué, tão do agrado da mulher mwani, possivelmente, de origem portuguesa, ainda era divertimento em 1974.


Nas Ilhas de Querimba, após a sua conquista pelos Portugueses, nasceu e desenvolveu-se uma nova realidade sócio-cultural constituída biologicamente pela miscigenação, economicamente pela técnica escravocrata da produção e sociologicamente pela interpenetração de culturas. As famílias mestiças- pela cultura e pela biologia, desempenharam um papel relevante no povoamento, na imposição de um modo de vida próprio, no processo de mobilidade social, na solução de conflitos, na convivência social e na continuidade e revitalização da situação colonial.

Da situação colonial nesta parte norte de Moçambique resultaram processos de aculturação- que foi mais espontânea do que imposta- como a integração, a assimilação e diversos sincretismo: famílias, prazos da coroa, religião, antroponímia ..., que devem merecer a curiosidade e análise sistemática por parte das novas gerações para que se conheçam a riqueza, a diversidade e o significado da vida humana em diferentes contextos e as formas específicas de vida em comum e as inter-relações que se estabeleceram entre a Europa e os outros Continentes na era gâmica(12).

REFERÊNCIAS:
1 - Segundo este autor essa unidade cultural é constituída por três componentes: uma unidade racial resultante de múltiplas e seculares migrações humanas de natureza inter-continental(África, Ásia, Europa e América); uma unidade cultural que se estende da China até à África; e uma unidade religiosa assente no Alcorão cujos princípios doutrinais se adaptaram às diferentes condições ecológicas, políticas, culturais e étnicas e teve a capacidade de ultrapassar as divergências geradas pelos contactos de povos e culturas em diferenciados contextos. Para mais pormenores ver ALLEN,J-”Propuestas de Studios Sobre el Oceano Indico”,in Relaciones Historicas Através de Oceano Indico.Barcelona, 1980, p.p. 164 e segtes e BENTO, Carlos Lopes- As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado- Situação Colonial, Resistências e Mudança-1742-1822, 2 vols.
2 - NEWITT, Malyn - "The Southern Swahili Cost in the First Century of European Expansion". In Azania, Vol. XIII, 1978, p.p. 111-126.
3 - Os principais dialectos do Kiswahili são: o Kiamu, falado em Kiamo, Kenia e Pate; o Kimvita falado em Mombaça; o Kiunguja falado em em Zanzibar e Pemba(ilhas); o Kimrima falado nas terras firmes de Zamzibar; o Kingarija falado na Grande Cômoro; e o Kimwani falado nas Ilhas de Querimba, Quissanga, Mossimboa, Thungui e cidade de Pemba. Nas línguas do litoral , desde do sul da baía de Pemba até Sofala o prefixo ki foi substituído por e : Émakha,Ésakati, Ékoti, Éshwabo e Iboani ou Éboani.
4 - Vidé PRATA, Pe António Pires- “Influência do Português sobre o Suaíli”, in Bol. do Museu de Nampula, Vol. 2, 1961,p.149-150.
5 - Para mais pormenores consultar : MADAN, A.C.- Suahili dictionary.Oxford, 1903, p.p.442 e SACLEUX, Charles- Dictionnaire Swahili-Français.Paris , 2 Tom. e PRATA, op.cit. p.p.133-175.
6 - Para mais esclarecimentos ver BENTO, op. cit., Vol. I, p., 532.
7 - BENTO, op.cit. Vol.I, p.519.
8 - Idem,Ibid.p. 518-519.
9 - Idem ,Ibid. p.524.
10 - Idem, Ibid. p. 532.
11 - Ver OLIVEIRA, Mário Baptista de-Monografia sobre a Ilha do Ibo. Ibo, dac.,1962, p.223.
12 - Este pequeno trabalho, aqui com pequenas alterações, foi publicado na Revista de Estudos Políticos e Sociais, ISCSP, Lisboa, 2000, p. 119-126. O seu autor, que foi administrador do concelho do Ibo, é antropólogo, doutorado, em Ciências Sociais e Políticas, especialidade História dos Factos Sociais e licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo I.S.C.S.P., da Universidade Técnica de Lisboa, é professor coordenador do Instituto Superior Politécnico Internacional e professor catedrático convidado, da Universidade Internacional, onde exerce actividade docente e de coordenação de estágios, nas licenciaturas bietápicas em Gestão Turística e Hoteleira e Gestão Bancária e Seguradora. É director do Centro de Investigação Aplicada em Gestão Turística e Hoteleira e do Centro de Estudos de Gestão Turística e Hoteleira. Interessa-se pela Antropologia Africana- Moçambique e pela Antropologia Portuguesa, domínios do turismo e do comportamento organizacional. Faz investigação no domínio da cultura alimentar- Culinária tradicional.
TRABALHOS DO AUTOR:
Entre a múltipla colaboração dispersa por livros e publicações periódicas, realçam-se os seguintes artigos publicados ou em prelo:

- "Problemas Eco-Sociais e a Reconversão da Pesca Artesanal" ( 1980);
- "O Trabalho de Campo na Antropologia e o Desenvolvimento" (1982);
- "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado" (1984);
- "A Historiografia e a Antropologia em África" (1984);
- "O Contributo do Estudo das Práticas Culinárias para um Melhor Conhecimento das Migrações Humanas e dos Fenómenos da Difusão, Mudança e Evolução Culturais - A caso específico da cozinha entre os Wamwani das Ilhas de Querimba / Moçambique (1984);
- "Moínhos e Azenhas em Mouriscas" (1985);
- "As Potencialidades das Fontes Históricas na Pesquisa Antropológica" (1986)
- "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado. Breves Considerações Finais" (1986);
- "A Pesca do rio Tejo. Os Avieiros: Que Padrões de Cultura? Que Factores de Mudança Sócio-Cultural? Que Futuro?" (1987);
- "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado.- Ambiente, Tecnologia e Qualidade de Vida" (1988);
- "A Posição Geo-Política e Estratégica das Ilhas de Querimba. As Fortificações de Alguns dos seus Portos de Escala" (1989);
- «La Femme Mwani e la Famille. Étude Quantitatif des Quelques Comportements des Femmas de l’île d’Ibo» (1990);
- "As Companhas de Ceifeiros Ribatejanos no Alto Alentejo- Uma Forma de Organização Social Extinta" (1991);
- "O 1º Pré-censo de Moçambique- A Relação Geral de População de 1798 das Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado" (1991);
- "Uma Experiência de Desenvolvimento Comunitário na Ilha do Ibo/Moçambique entre 1969 e 1972" (1992);
- "Os Prazos da Coroa nas Ilhas de Querimba e a sua Importância na Consolidação do Domínio Colonial Português” (1997);
- "Ambiente, Cultura e Navegação nas Ilhas de Querimba: Embarcações, Marinheiros e Artes de Navegar" (1998);
- "A Administração Colonial Portuguesa em Moçambique- Um Comando Militar em Mogincual, entre 1886 e 1921" (1999);
- "Situação Colonial nas Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado- Senhorios, Mercadores e Escravos"(Resumo da Tese de doutoramento) (2000);
- “Contactos de Cultura Pós- Gâmica na Costa Oriental de África. O Estudo de um Caso Concreto” (2000);
- "Quem Defende os Interesses dos Pequenos Agricultores do Alto Ribatejo? (2001);
- “A Ilha do Ibo: Gentes e Culturas - Ritos de passagem” (2001);
- “Mouriscas: Terra Pobre, Gente Nobre”. (2002);
- “A Antropologia da Alimentação em Portugal.- Um estudo concreto” (2003);
- “A Cozinha Tradicional na Área do Pinhal e o Desenvolvimento Regional - O Maranho como Prato Emblemático num Processo de Mudança” (2003);
- “A possessão em Moçambique - O Curandeiro N´kanga entre os Wamwuani do Ibo (1969-74)” (2003).
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Clique nas imagens para ampliar. Transferência de arquivos do sitio "Pemba" que será desativado. Colaboração do Dr. Carlos Lopes Bento. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Julho de 2012. Atualizado em Outubro de 2012. Só é permitida a copia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores.