.
Triste comemoração.
Há trinta e quatro anos Portugal vivia uma revolução que se apregoava de novos valores e princípios para a vida política, social e económica do país. Liberdade, igualdade, solidariedade, fraternidade. Como em todos os movimentos, a mudança nem sempre tem a velocidade e continuidade desejada. Há repelões, solavancos, avanços e recuos. Não será por isso que vai desmerecer o 25 de Abril. Podia aqui desfiar-se um rosário de coisas que correram mal. Com o correr da história e desaparecimento dos mantos de fumo que ainda persistem, outras vergonhas aparecerão. Mas eu ainda continuo a dizer valeu a pena. Menos entusiasmado, talvez. Porquê? É cansativo combater a politiqueirice de gente sem escrúpulos, com pouco ou nenhum sentido de estado e espírito de serviço à causa pública. Regra geral a que, como é evidente, há excepções, os nossos políticos, comentadores, jornalistas e quejandos que intervêm na vida pública, movimentam-se por interesses pessoais ou de grupo, pouco se preocupando com o comum dos mortais que só serve para os servir. Alguns dirão, “lá vem ele outra vez”. Repito o que já aqui deixei escrito, “Não desisto”. Há dias um companheiro desta cruzada dizia-me que se eu quisesse enveredar por uma carreira política e manter alguma da qualidade de vida que tenho à custa exclusiva do meu trabalho, tinha dois caminhos: ou vendia alguma coisa do meu património para sustentar o decréscimo dos rendimentos, ou entrava no jogo de interesses e troca de favores que é corrente. E isto é aceite por todos da forma mais natural possível. Não tenho pruridos e sou dos que pensa que todo o homem tem um preço. Mas durmo mal com esse tipo de coisas e porque ainda não tenho a capacidade económica de andar a desfazer-me de bens para suportar desvarios, respondi-lhe que lá iria a continuar na minha vida profissional e a dedicar-me à causa pública apenas na medida da disponibilidade das minhas ocupações de trabalho. O certo é que nesta democracia sequência do 25 de Abril, há políticos que permitem ao estado gastar 450 milhões de euros para a aquisição de helicópteros que em pouco tempo estão parados por avaria. Ou gastar 2 milhões de euros pagos a um privado pela elaboração de um documento que os serviços de contencioso desse organismo do estado já tinham concretizado em dois dias sem qualquer acréscimo de despesa. Ou 1,07 mil milhões na aquisição de submarinos sem qualquer interesse para a nossa defesa nacional, por meio de um contrato que está sob investigação judicial. Ou pagar avenças mensais de 400 mil euros a escritório de advogados cujo representante salta de partido político e apoios conforme a proximidade do poder. E o que vão permitir que se gaste em tantas outras coisas supérfluas.É escandaloso. Mas o que mais me choca é que este é o mesmo estado que não pode disponibilizar a ridicularia de 30 mil euros para pagamento do tratamento nos Estados Unidos de uma criança de seis anos que padece de uma forma rara de cancro e para a qual a última esperança ali reside. Que liberdade tem esta criança? Onde está a solidariedade e a fraternidade deste estado que nada faz perante estes casos gritantes, antes esperando que as comunidades se movimentem em esforços, tantas vezes inglórios enquanto os figurões do costume se continuam por aí a pavonear? Dir-se-á que isto é demagogia. Até aceito embora essa não seja, de certeza, a opinião dos pais e da criança em causa. E até daqueles que com muito sacrifício pessoal têm contribuído para a ajuda. Não seria triste comemoração do 25 de Abril ver no horizonte a esperança de contrariar estes políticos que, sem pudor, ainda afirmam que o Estado quando falha, não lhe acontece nada. Como se eles não fossem responsáveis dessa impunidade.
*Albano Loureiro - Advogado
e.mail albanoloureiro@mail.telepac.pt
O autor é advogado e nascido em Porto Amélia/Pemba, filho dos antigos residentes Sr. Loureiro do A. Teixeira e da Professora D. Ana Alcina, sobrinha do Administrador do posto de Metuge (na época colonial), próximo a Bandar e à Companhia Agricola de Muaguide, Fernandes Pinto.
Escreve periódicamente para jornal diário "O Primeiro de Janeiro" - Porto, a coluna Opinião.
e.mail albanoloureiro@mail.telepac.pt
O autor é advogado e nascido em Porto Amélia/Pemba, filho dos antigos residentes Sr. Loureiro do A. Teixeira e da Professora D. Ana Alcina, sobrinha do Administrador do posto de Metuge (na época colonial), próximo a Bandar e à Companhia Agricola de Muaguide, Fernandes Pinto.
Escreve periódicamente para jornal diário "O Primeiro de Janeiro" - Porto, a coluna Opinião.
.
Textos anteriores de Albano Loureiro neste blogue:
Sem comentários:
Enviar um comentário
Aviso:
- O comentário precisa ter relação com o assunto;
- Spams serão deletados sumariamente;
- Para deixar sua URL comente com OpenID;
- Backlinks são automáticos.
Obs: os comentários não refletem as opiniões do editor.