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10/01/08

Moçambique: Combate à corrupção - Campeões da integridade sairão do silêncio ?...

Interessante, esclarecedor. É análise clara dos meandros do sistema político moçambicano e dos interesses que impedem purgar a sociedade do jovem país desse cancro maligno que é a corrupção instalada nas esferas do poder! E atendendo a sugestão transcrevo do "CIP-Centro de Integrídade Pública" de Moçambique:

Depois de Manhenje (24/9/2008) - A detenção do antigo Ministro do Interior, Almerino Manhenje, pode ser um indicador de que finalmente a engrenagem do controlo da corrupção em Moçambique está a arrancar? Estaremos perante o início da tão esperada limpeza? Ou trata-se apenas de um curto-circuito sem consequências a longo prazo?
A resposta a estas questões é: depende. Depende da forma como a classe política dominante vai reagir neste caso e, sobretudo, se existe um aval partilhado que permita que a máquina da Justiça comece a atacar a grande corrupção dentro das balizas da lei. O grande desafio do Ministério Público (MP) é perceber se os incentivos para a sua acção são genuínos e se essa acção vai ser complementada por outros processos de promoção da transparência, alguns dos quais implicam a redução das oportunidades de acumulação de rendas por parte de altas figuras do Partido Frelimo e do Estado.

Depende porque no Partido Frelimo (o principal centro de decisão em Moçambique) há grupos de interesse e teias de cumplicidade que podem reagir de maneiras distintas (lançando sinais com incentivos negativos) em função dos laços de patronagem e clientelismo que moldam a correlação de forças no seu seio. A reacção do antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, sobre esta detenção, numa entrevista à TVM, é um desses incentivos negativos e mostrou que a Frelimo está ainda dividida quanto à forma como a investigação judicial deve (e se pode) escrutinar figuras sonantes suspeitas de envolvimento em casos de corrupção. Aliás, Chissano não fez qualquer esforço para defender o Sistema de Administração da Justiça, sugerindo até que Manhenje podia ser investigado em liberdade. Em todo o caso, a notória acção do MP, enquadrada nas suas competências, pode também ser compreendida como resultado de um aval político do Presidente da República (PR) para que a investigação de casos de grande corrupção avançasse até as últimas consequências. Como sempre foi, em Moçambique, a acção penal contra a corrupção foi sempre alvo de controlo político, dada a natureza embrionária da nossa Justiça, nascida no auge da revolução pós-independência, um passado umbilical que continua a marcar o domínio do Partido sobre os restantes poderes (incluindo o Judicial), podendo até dizer-se que a forma ineficiente como a Justiça se estrutura e trabalha (e o atraso da sua reforma) é funcional à própria reprodução do poder e seu controlo pelas elites políticas dominantes.

Ao longo dos últimos anos, em que o rent seeking e o tráfico de influências floresceu, a Justiça apadrinhou – porque o Partido não quis que ela fizesse o contrário – os processos de acumulação primária de capital centrados no Orçamento do Estado, na banca antes da sua privatização completa e nos créditos do tesouro que ainda hoje não têm sido reembolsados. Muitos destes processos nunca foram clarificados e ainda não se tem a certeza sobre se existe vontade para que essa clarificação aconteça.

O grande desafio do MP é, pois, perceber a natureza dos sinais que lhe são transmitidos pelo Partido e pelo Governo e avaliar até que ponto esses sinais representam incentivos genuínos e duradoiros no sentido de que Manhenje e Cia (independemente do desfecho deste caso) estão apenas a inaugurar uma nova etapa na forma como o Estado lida com a má governação.

Por uma razão: Se é certo que a reacção judicial contra a corrupção deve ser despolitizada, também é verdade que onde se envolve a grande corrupção (a corrupção política) essa reacção é eminentemente politizada, no sentido em que o poder Judicial só age se tiver um suporte firme da classe política (é esta quem define o âmbito e os alvos que presidem ao início da limpeza).

Haverá esse suporte agora? Porque é que o anterior PGR, Joaquim Madeira, queixava-se de que alguns supeitos neste caso nem sequer compareciam às audições? Madeira não percebeu os sinais? Os sinais de vontade política não eram claros? No caso vertente, estamos apenas perante a coragem do PGR Augusto Paulino? O que é que molda essa coragem num contexto em que a administração da Justiça continua formal e informalmente controlada pela liderança política? O que acontecerá depois de Manhenje? Terá o PGR, depois, um reforço desses incentivos? É, pois, preciso perceber se estamos na presença de um interesse genuíno da liderança política ou se se trata de um mero interesse de reprodução de poder por parte dessa mesma liderança. A percepção dos sinais e dos incentivos estruturais necessários para alavancar uma operação mãos limpas duradoira é fundamental para se evitarem alguns riscos que a acção penal anti-corrupção corre em países onde a corrupção é sistémica (e em muitos casos descontrolada), o clientelismo político-partidário estrutural, a partidarização do Estado seminal e a regulação do conflito de interesses (envolvendo a esfera política e os seus apetites de acumulação) precária.

Um desses riscos é o risco de selectividade. Se a acção do MP neste caso é institucionalmente centrada, no sentido em que os sinais recebidos foram considerados genuínos e a máquina da Justiça tem espaço para agir, é preciso evitar que essa acção seja marcadamente selectiva, abrangendo apenas alguns processos e não o conjunto alargado de práticas que até são do conhecimento público (alguns por via dos relatórios do Tribunal Administrativo sobre a Conta Geral do Estado).

O que torna difícil – mas não desencorajador – o trabalho do MP hoje é que o poder político foi sempre condescendente em relação à corrupção. A transição para a democracia foi, ironicamente, marcada por um desengajamento moral da classe política, que arrastou a sociedade a níveis de promiscuidade jamais vistos. O discurso da construção da burguesia nacional alimentou todo um conjunto de desmandos que se permitiram na transição e que hoje continuam, agora com novos actores, novas e mais sofisticadas formas e fontes de enriquecimento e estratégias de acumulação, etc. É este quadro que se espera seja invertido, para que a dependência externa seja reduzida, evitando-se que os recursos públicos e os negócios do Estado sejam apenas para o benefício de uma minoria. O Ministério Público demonstrou uma enorme coragem política, tendo em conta a figura de Manhenje e o grupo a que ele pertence dentro do Partido. É pois preciso elogiar essa coragem. Mas o que o MP não precisa apenas de palmadinhas nas costas. Há várias formas de se iniciar uma limpeza anti-corrupção. Fritar um peixe graúdo é uma delas, dado o simbolismo subjacente de se ir demonstrando à sociedade que novos tempos se avizinham. Outra forma é ir-se criando pequenas reformas administrativas, algumas ilhas de integridade, mais rigor das entidades de fiscalização (Assembleia da República) e auditoria (Tribunal Administrativo).

Qualquer que seja a abordagem escolhida, a coragem do MP deve ser amparada para se evitar o risco do isolamento. O pior que pode acontecer à liderança de Augusto Paulino na PGR é ele ficar sozinho neste trabalho. E aqui está um dos grandes desafios que a classe política tem pela frente: não basta permitir que se capturem um ou dois peixes graúdos; é preciso que se limitem as estruturas de oportunidades para que os peixes graúdos tenham menos espaço para delapidação do erário público. Neste processo, o executivo (liderado pelo Partido) e a Assembleia da República tem um papel fundamental na urgente reforma legal anti-corrupção: a regulação do conflito de interesses para o Presidente da República, para os membros do Executivo, para os deputados da Assembleia da República continua precária; a fiscalização da declaração de bens dos titulares de cargos governativos é ainda inexistente. A melhoria do quadro legal específico é instrumental para o controlo da corrupção.

Com a acção do MP neste caso de Manhenje, o sistema nacional de integridade (o conjunto de instituições e normas que contribuem para promover a transparência e a boa governação) acaba de reerguer um dos seus pilares. No actual estágio, apenas os media e o Tribunal Administrativo conseguiram manter-se firmes e vem reforçando paulatinamente os seus alicerces. É preciso mais jornalismo investigativo, é certo; e o TA deve auditar mais contas do Estado, penetrando urgentemente nessa selva descontrolada que são as empresas públicas. Os ganhos que vêm sendo alcançados exigem dos restantes pilares um complemento efectivo para que o nosso edifício institucional saia do caos. A acção do MP é uma oportunidade para que alguns campeões da integridade que se diz haver dentro das instituições, do Partido e da sociedade saiam do silêncio e dêem o seu contributo. Depois de Manhenje, é preciso que não se deixe a PGR no isolamento. Onde a corrupção virou sistémica, um dos maiores riscos é o de redes clientelares dominantes empurrarem os reformadores para ostracismo. (Por Marcelo Mosse - Director Executivo do Centro de Integridade Pública.)

  • Link para CIP - Centro de Integridade Pública - Moçambique - Aqui!

Alguns post's deste blogue relacionados com o tema:

  • Moçambique - Dinamarca declara tolerância zero contra corrupção... - Aqui!
  • Corrupção e má gestão ameaçam cancelar ajuda financeira a Moçambique - Aqui!
  • Moçambique e a Corrupção - Aqui!
  • Moçambique: Filho da primeira-ministra... - Aqui!
  • Jornalista Carlos Cardoso: A justiça que tarda - Aqui!
  • Post's anteriores deste blogue sobre o assassinato do Jornalista Carlos Cardoso, de António Siba Siba Macuácua e sobre a liberdade de imprensa em Moçambique: Aqui 1! Aqui 2 ! Aqui 3 ! Aqui 4 ! Aqui 5 ! Aqui 6 ! Aqui 7 e Aqui 8 !

9/30/07

MEMÓRIAS DE CABO DELGADO. ACHEGAS PARA O ESTUDO DO MUNICIPALISMO EM MOÇAMBIQUE - III

A CÂMARA DA ILHAS DE CABO DELGADO. POSTURAS E REGULAMENTOS
Por Carlos Lopes Bento[1]
1ª PARTE
[1] - Antigo administrador colonial. Foi presidente da C. Municipal do Ibo, entre 1969 e 1972. Antropólogo e prof universitário, continua a ser um dedicado amigo das históricas Ilhas de Querimba, que continua a investigar de maneira sistemática e a divulgar as suas inquestionáveis belezas.
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Continuação daqui.
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Foi esta estrutura morfológica da Vila que Serpa Pinto encontrou em 1884, quando passou pelo Ibo:
A vila assenta a NO da ilha e consta de dois bairros: o europeu e o indígena. O bairro europeu compõe-se de duas ruas principais, a rua de El- Rei e a Rua Maria Pia que correm proximamente E/O (...). É nesta parte da vila que residem europeus, baneanes, mouros da Índia e as principais famílias de crioulos da ilha. O bairro indígena fica a E do bairro europeu e é formado por muitas palhotas entre palmares. Neste bairro há também duas ruas principais, a de Sá da Bandeira e a 27 de Julho. No levantamento da planta, rigorosamente feito por esta expedição, com fim principal de referir as coordenadas geográficas da casa da expedição ao pau da bandeira do Forte de São João .[1]
A planta cotada da Vila do Ibo, manuscrita, que se encontra da Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa:

[1]- SERPA PINTO, A. e CARDOSO, Augusto - Diário da Expedição Científica Pinheiro Chagas - Do Ibo ao Nyassa. Lisboa, S.G.L., Manuscrito Reservado de 10 fls. (146-B-27), 1885, p. 5v e Boletim Oficial de Moçambique, nº 42, de 17/10/1885.

O Regulamento do Serviço de Policial, de Limpeza e de Sanidade Pública do concelho do Ibo, de 1898[1], fornece-nos a toponímia da Vila que se segue:

[1] - Boletim da Companhia do Nyassa nº3, de 14.5,1898, p. 34.
Esta toponímia da Vila do Ibo, com a implantação da República Portuguesa, seria alterada pela Portaria nº 145, de 12/11/1910 (Boletim da Companhia do Nyassa, de 31/3/1911, para:
- Rua de El-Rei→Rua da República;
- Rua D. Maria Pia→Rua Almirante Reis;
- Rua Conselheiro Mariano de Carvalho→Av. Mariano de Carvalho;
- Rua Infante D. Afonso→Rua Miguel Bombarda;
- Rua do Principe Real→Rua 5 de Outubro;
- Rua D. Manuel→Rua Machado dos Santos;
- Rua Nova→Rua António José de Almeida;
- Rua d'Alegria→Rua João Chagas;
- Rua do Forte de Santo António→Rua Coronel Barreto;
- Rua 27 de Julho→Avenida Afonso Costa;
- Travessa que liga as duas ruas anteriores, sem nome→Travessa Alves da Veiga;
- Praça D. Manuel, Praça da Residência e Largo do Doutor→Praça da República;
- Largo Joaquim Machado→Rua Conselheiro Machado;
- Travessa de El-Rei→Travessa da República;
- Travessa do Principe Real→Travessa Afonso Costa;
- Travessa Mariano de Carvalho→Travessa Mariano de Carvalho;
- Caminho que vai do Largo Joaquim Machado para a Praça→Avenida Teófilo Braga;
- Largo do Matadouro→Largo António Enes.
Estas designações toponímicas mantinham-se, ainda, em 1974.
Investigação e texto de Carlos Lopes Bento.
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CONTINUA

Templos e Espaços Sagrados das Ilhas de Querimba:

Quem é o Dr. Carlos Lopes Bento ? aqui

Mais trabalhos de Carlos Lopes Bento em http://br.geocities.com/quirimbaspemba/

5/15/09

Buscando no tempo lá pelo Douro: Uma formatura dos Bombeiros de 1965

(Clique na imagem para ampliar)

Em atenção aos "vareiros" que nos lêm e visitam por esse mundo virtual afora, alguns post's irei trazendo de um outro blogue ("Escritos do Douro") onde se fala do Douro em Portugal, da cidade de Peso da Régua, de sua história e cultura, de personagens que marcam e dão exemplo e de outras coisas mais que não só da "vinha e do vinho do Porto", de Pemba e Moçambique...:

:: Em homenagem ao prof. Eurico Patrício.
Esta imagem é de 1965, o ano em que o Presidente da República Américo Tomás esteve de visita ao Quartel dos bombeiros de Peso da Régua.

Nela vê-se o ambiente de festa, o passeio encontra-se devidamente engalanado com uma passadeira de flores e, numa janela do Quartel, foi pendurado um retrato do Presidente do Governo, o Prof. António de Oliveira Salazar.

Mas, o destaque maior é para o Corpo de Bombeiros desse tempo sob o comando de Carlos Cardoso dos Santos, realçando os nomes dos bombeiros que, durante muitos anos, foram os únicos agentes de protecção civil do nosso concelho.

De uma importante geração de bombeiros voluntários, podemos ver homens nossos conhecidos, como António Martins, José Resende Dias, António Monteiro, Manuel Pinto, estes felizmente vivos, e ainda, José Matos, Francisco Ferreira, José Pinto, José Morais, José Macedo, José dos Santos, Bernardo Ferreira, José Morais e o Chefe José Clemente.

Este é mais um exemplo de grandes homens generosos que gostamos de lembrar, prestando-lhes um devido reconhecimento pelo trabalho que prestaram como bombeiros voluntários, ao mesmo tempo mostrando-os aos mais jovens como referência para lhe seguirem os seus passos.

Como forma de realçar a importância do ser bombeiro transcrevemos parte de uma crónica da autoria de um grande benemérito da Associação, o professor Eurico Patrício, intitulada “UM MEU ALUNO”, publicada em 6 de Maio de 1968, no jornal “Vida por Vida”:

“ Frequenta a 3ª classe o miúdo. Não é um aluno brilhante, excepcional, mas não é todavia um mau aluno.
No quartel dos nossos bombeiros soou há dia, forte como sempre, e a chamar os nossos briosos Soldados da Paz à sua humanitária missão, a atroadora sirene.
Como que pressentindo que algo de anormal se iria passar com o pequeno, observei-o dissimuladamente. A reacção habitual manifestou-se, mas desta vez mais forte, mais excitante e mais intimativa.
Eu, que quase adivinhava o que se passava no íntimo do Joaquim, é este o seu nome, para me certificar de que não me enganava, perguntei-lhe se estava doente, se sentia mal, se queria ir até lá fora. Que não, que estava bem, dizia-me ele. Dizia-o de boca, que a expressão e o corpo traíam-no sem ele o poder evitar.
Os outros miravam-no atentos e pairava no ar uma expectativa que os mantinha presos ao seu companheiro. Propus-me aproveitar o momento, que tão oportuno se deparava, e interroguei novamente o Joaquim:

- Que tens rapaz, pareces tão aflito?
- Nada sr. Professor, mas…é que eu gostava muito de ser bombeiro.

Que grande lição de amor ao próximo nos deu nesse dia o pequenito!
E eu, cuja missão é guiar crianças para no futuro serem homens (....) senti que a escola pode e deve (….) indicar-lhes o espinhoso, mas tão nobre caminho que os eleva acima de todos os egoísmos: o caminho que conduz as fileiras dos Bombeiros”.

O nosso obrigado ao amigo prof. Eurico Patrício, neste momento a viver um momento de grande dor, por mais esta sua grande lição de amor e generosidade aos seus amigos Bombeiros, brilhantemente contada no exemplo desse seu velho aluno, cujo exemplo nós gostaríamos que se repetisse mais vezes.
- Peso da Régua, Maio de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • O grande incêndio dos Paços do Concelho da Régua - Aqui!
  • 1º. de Maio de 1911 - Aqui!
  • Homens que caminham para a História dos bombeiros - Aqui!
  • Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses - Aqui!
  • Uma instrução dos bombeiros no cais fluvial da Régua - Aqui!
  • O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui!
  • A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
  • Os Bombeiros no Largo da Estação - Aqui!
  • A Tragédia de Riobom - Aqui!
  • Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui!
  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição Virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!

5/22/09

Buscando no tempo lá pelo Douro: A visita do Presidente da Républica Américo Tomás

(Clique na imagem para ampliar)

Em atenção aos "vareiros" que nos lêm e visitam por esse mundo virtual afora, alguns post's irei trazendo de um outro blogue ("Escritos do Douro") onde se fala do Douro em Portugal, da cidade de Peso da Régua, de sua história e cultura, de personagens que marcam e dão exemplo e de outras coisas mais que não só da "vinha e do vinho do Porto", de Pemba e Moçambique...:


Esta imagem de 22 de Maio de 1965 documenta a triunfante e festiva recepção do Presidente da República, Almirante Américo Tomás, ao lado dos directores Noel de Magalhães Alfredo Baptista, no Quartel dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, ao qual se deslocou “propositadamente” na companhia do Ministro do Interior (Dr. Alfredo Rodrigues Júnior) e o da Marinha (Comodoro Fernando Quintanilha Dias), para receber as honras do Corpo Activo e conhecer as instalações.

Um peculiar apelo de conformismo dos bombeiros, dirigido a este ilustre visitante, estava visível na mensagem que se lia numa faixa colocada junto ao Quartel: “Os bombeiros depõem nas mãos de Vossa Excelência 85 anos de sacrifícios”.

Mas a histórica visita presidencial, que foi “seguida por milhares de pessoas”, não passou de uma habitual manifestação de propaganda política do regime do Estado Novo, a enfrentar as consequências da guerra colonial, o qual se esforçava em difundir mensagens patrióticas para “unir todos os portugueses à sombra da pátria comum”, como disse o Chefe de Estado no seu discurso, proferido no Salão Nobre da Câmara Municipal.

Este ambiente de patriotismo era expresso nas saudações nacionalistas inscritas em grandes painéis colocados nas principais ruas da vila, tais como: “O Chefe de Estado é o Símbolo da Nação!”, “Viva Salazar - benemérito da Pátria” e “Senhor Ministro do Interior: estamos firmes na Frente Interna”.

Ao nível do município, este acontecimento político serviu para o executivo municipal liderado pelo Dr. Rui Machado mostrar as grandes obras do seu mandato ao Governo da Nação que, nas suas elogiosas palavras, “tem promovido o progresso do país e, no caso, o da Régua”.

Este distinto autarca (que também exerceu as funções médico) inaugurava, na presença do Chefe de Estado e dois ministros do Governo de Salazar, “três obras de valor material de mais de 12 mil contos”, de acordo como as anunciou no discurso de boas-vindas, que eram relevantes para o progresso local e essenciais para a melhoria das condições de vida da população reguense: a Alameda Marechal Carmona (hoje como o nome Alameda dos Capitães), o Mercado Municipal e o Bairro Calouste Gulbenkian.

Considerada como “deveras triunfante” a visita de Américo Tomás, em especial às instalações do Quartel dos Bombeiros, mereceu um relato circunstanciado no jornal “Vida por Vida”, num suplemento exclusivo, do qual destacamos o seguinte:

“A Régua como era de esperar soube no dia 22 do corrente receber mais do que condignamente, o Senhor Presidente da República, que em todas as artérias por onde passou foi alvo das mais vivas e calorosas saudações com que espontaneamente lhe tributaram os reguenses (…)

Pode-se dizer que a Régua esteve em festa, mas numa festa a que já há muito tempo se não assistia. Nós, os bombeiros, como não podia deixar de ser, também, de alma e coração nos associamos a tão triunfal recepção que, num momento feliz, veio precisamente culminar no nosso quartel (…)

O nosso edifício-sede e respectiva avenida, encontravam-se de todo engalanadas, sendo de destacar uma passadeira feita pelo corpo activo em que sobressaíam, alternadamente um capacete e uma agulheta, rematando com um trabalho primoroso do brasão do concelho (…)

Depois de decorridos todos os números que constava da visita do Chefe de Estado a esta vila, quis sua Excelência deslocar-se propositadamente ao nosso quartel, onde recebeu as honras do corpo activo, os cumprimentos de alguns membros da direcção e então entusiásticas saudações de uma imensidão de sócios da associação, onde predominavam as senhoras, que não se cansaram de vistoriar tão ilustre visitante, assim como os Senhores Ministros do Interior, Marinha, Governador Civil do Distrito da Vila Real e o Presidente da Câmara, Dr. Rui Machado.

(…) Aproveitando a oportunidade fizeram uma visita rápida ás diversas instalações do Quartel, as quais foram motivo dos mais rasgados elogios (…) podemos afirmar tratar-se de uma obra grande entre as maiores que existem no nosso país.”

Não discutindo o seu interesse social e histórico, esta visita presidencial apontada como de “um dia dos maiores da vida da Associação”, permitiu aos seus dirigentes para pedirem ao Estado (assente na força autoritária do Governo que, no dizer do jornalista Luís Miguel Baptista, “apostava na caridade” e numa “politica demasiadamente restritiva no plano de concessão de facilidades”) auxílios para os bombeiros da Régua, nomeadamente mais equipamentos individuais e um veículo de combate a fogos.

Depois deste Chefe de Estado, só em Setembro de 1980, é que os bombeiros do Peso da Régua, com o Comandante Carlos Cardoso dos Santos (1949-1990) à frente, haviam de voltar a receber outra visita presidencial no seu Quartel, desta vez, o General Ramalho Eanes.
- Peso da Régua, Maio de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:


  • Uma formatura dos Bombeiros de 1965 - Aqui!
  • O grande incêndio dos Paços do Concelho da Régua - Aqui!
  • 1º. de Maio de 1911 - Aqui!
  • Homens que caminham para a História dos bombeiros - Aqui!
  • Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses - Aqui!
  • Uma instrução dos bombeiros no cais fluvial da Régua - Aqui!
  • O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui!
  • A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
  • Os Bombeiros no Largo da Estação - Aqui!
  • A Tragédia de Riobom - Aqui!
  • Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui!
  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição Virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!

2/13/08

Liberdade de Imprensa em Moçambique - Manifestações de 5 de Fevereiro confirmam a existência de censura nos media moçambicanos.

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As manifestações populares havidas na passada terça-feira, 5 de Fevereiro de 2008, nas cidades de Maputo e Matola, não só trouxeram um pesado fardo para a economia do país como também mostraram quão forte é ainda o controlo governamental sobre os órgãos de comunicação social públicos e privados.
A cobertura dos incidentes foi muito condicionada.
O MISA-Moçambique e o Centro de Integridade Pública estiveram atentos à forma como os incidentes foram reportados pelos diversos órgãos de comunicação social e, com base em observação directa e recurso a entrevistas com jornalistas e editores, apurámos o seguinte:
• Logo nas primeiras horas da manhã, a STV começou a reportar a revolta popular com directos a partir dos locais em que a violência era mais notória. Por volta das 9.30 horas, este canal trazia algumas incidências, ajudando muitos cidadãos a se precaveram. Mas os directos da STV foram bruscamente interrompidos por volta das 10 horas, tendo o canal passado a transmitir uma telenovela;
• No canal público, a TVM, ao longo da manhã, as revoltas não foram notícia. Ao invés de informar sobre os acontecimentos, a TVM transmitia reportagens sobre o CAN (Taça das Nações Africanas em futebol);
• No seu Jornal da Tarde dessa terça-feira, a TVM não dedicou um minuto sequer às manifestações, que haviam iniciado cedo pela manhã, embora alguns repórteres daquela estação pública se tivessem feito à rua com o propósito de documentarem o que estava a acontecer;
• À noite, no Telejornal, quando os telespectadores esperavam que o canal público trouxesse um retrato detalhado dos acontecimentos, a TVM abordou o assunto de uma forma marginal, negligenciando o facto de que, no domínio da informação, aquele era um assunto de inquestionável destaque;
• Segundo apurámos, um veterano jornalista da TVM hoje fora da Chefia da Redacção terá recebido “ordens superiores” para vigiar “conteúdos noticiosos subversivos”;
• Na Rádio Moçambique (RM), repórteres que se encontravam em vários pontos das cidades de Maputo e Matola foram obrigados, na tarde daquela terça-feira, a interromper as reportagens em directo que vinham fazendo desde as primeiras horas e instruídos a recolherem à Redacção, supostamente como forma de se evitar um alegado “efeito dominó” dos acontecimentos;
• No decurso do Jornal da Manhã de terça-feira, o jornalista Emílio Manhique anunciou que, no seu talk show denominado “Café da Manhã” do dia seguinte, quarta-feira, teria como convidado o sociólogo Carlos Serra, para fazer comentários sobre as manifestações populares. Mas, ao princípio da tarde do mesmo dia, Serra recebeu uma chamada da RM, através da qual foi informado que o o convite tinha sido cancelado “por ordens superiores”. Na quarta, no lugar de o Café da Manhã debater os incidentes do dia anterior, o tema de destaque foi o HIV/Sida. Isto levou a que muitos ouvintes da RM telefonassem para a estação manifestando-se decepcionados com rádio pública, dado que o assunto do momento eram as manifestações;
• O Jornal Notícias, que tem como um dos accionistas principais o Banco de Moçambique, também não escapou a este esforçou de omitir as evidência. Logo que se aperceberam da revolta, os executivos editoriais do jornal destacaram várias equipas de reportagem para a rua, mas as peças produzidas foram editadas numa perspectiva de escamotear a realidade. No dia seguinte, o jornal apresentava textos onde se destacavam frases do tipo “…quando populares e oportunistas se manifestaram de forma violenta, a pretexto de protestarem contra a subida das tarifas dos semi-colectivos…”, e “…entre pequenos exércitos de desempregados e gente de conduta duvidosa…”, etc, etc. Estes e outros factos mostram que a cobertura noticiosa de acontecimentos sensíveis continua a ser alvo de controlo governamental, privando a opinião pública de ter acesso a informação. No caso vertente, a informação sobre o que estava a acontecer em vários pontos do Grande Maputo era vital para que os cidadãos desprevenidos tomassem conhecimento dos lugares onde a revolta era mais violenta, evitando assim se exporem a riscos. Por outro lado, muitos populares prestaram declarações a jornalistas, mas elas não foram transmitidas, vendo assim a sua liberdade de se expressarem mutilada. Estas marcas de censura são perniciosas para a sociedade moçambicana. No caso da TVM, a mão do Governo no controlo editorial mostra que a noção de serviço público com que a estação opera não significa colocá-la ao serviço do povo (e dos contribuintes) , informando com isenção e rigor. Estes condicionalismos a que o trabalho dos jornalistas está sujeito traduz-se numa clara violação à Constituição da República de Moçambique (CRM), nomeadamente no seu artigo 48º, que versa sobre Liberdades de Expressão e Informação, e à Lei de Imprensa (Lei 18/91 de 10 de Agosto). A Constituição é clara quando refere que “todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, bem como o direito à informação” e que “o exercício da liberdade de expressão, que compreende nomeadamente a faculdade de divulgar o próprio pensamento por todos os meios legais, e o exercício do direito à informação, não podem ser limitados por censura”. O relato dos actos da revolta da passada terça-feira era do interesse público, pois a mesma afectou negativamente vários sectores da sociedade moçambicana, tanto mais que na mesma ocasião que a revolta percorria as ruas do Grande Maputo, a comunicação por telemóvel tornou-se, estranhamente, difícil ou mesmo impossível. A forma como alguns órgãos de comunicação social se portaram, omitindo uma revolta evidente ou escamoteando a sua dimensão e as suas causas, sugere um cada vez maior controlo governamental sobre o sector. Esta governamentalização actua no sentido contrário ao plasmado na Constituição da República e na Lei de Imprensa, nomeadamente porque coarcta o acesso à informação. Avaliações recentes, como o espelha o Relatório de 2006 do MISA-Moçambique sobre Liberdade de Imprensa publicado no ano passado, mostram um crescente aumento da vigia das autoridades do Estado sobre os media, destacando-se a censura, o que em estado a deteriorar o ambiente de trabalho dos jornalistas.
O MISA-Moçambique e o CIP apelam a quem de direito para que se não intrometa no trabalho dos jornalistas e dos seus órgãos de comunicação social, por tal se traduzir em violação crassa à CRM e à Lei de Imprensa.
Maputo, 10 de Fevereiro de 2008
MISA-Moçambique e CIP
"Newspapers are owned by individuals and corporations, but freedom of the press belongs to the people",Anon
--
Ericino de Salema
MISA-Mozambique
Information and Research Officer
Telephone:+258-21-302833
Facsmile:+258-21-302842
PriCell:+258-82-3200770
Mobile: +258-82-7992520
In - Misa Moçambique e Moçambique Para Todos
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Só nos resta acrescentar - LAMENTÁVEL, porque denigre a apregoada "democracia" moçambicana. E nos faz recordar o saudoso jornalista Carlos Cardoso e sua coragem indomável, atreita a qualquer submissão aos "poderosos" e a vaidades pessoais tão em uso na mídia impressa e virtual.
Não deixou, aparente e infelizmente, legatários de seu vasto, didático manual "O que é ser jornalista" ! Só algumas anêmicas tentativas de "plágio"...

6/26/09

Buscando no tempo lá pelo Douro: Bombeiros Semi-Deuses

(Clique na imagem para ampliar)

Em atenção aos "vareiros" que nos lêm e visitam por esse mundo virtual afora, alguns post's irei trazendo de um outro blogue ("Escritos do Douro") onde se fala do Douro em Portugal, da cidade de Peso da Régua, de sua história e cultura, de personagens que marcam e dão exemplo e de outras coisas mais que não só da "vinha e do vinho do Porto", de Pemba e Moçambique...:

Eram estes, como aqui se vê no adro da Igreja Matriz do Peso da Régua, no final da década de 1960, alguns dos notáveis bombeiros que constituíam o Corpo Activo, acompanhados do Comandante Carlos Cardoso dos Santos, empossado nessas funções em 1959, e nas quais se haveria de manter até 1991, após 31 anos de bons serviços.

Estes homens representam um modelo de cidadania activa e responsável que as crises sociais actuais muito enfraqueceram. Como cidadãos que ajudaram a promover valores solidários, de partilha e trabalho em equipa são merecedores do reconhecimento social. O exemplo de cada um deles merece ser louvado com mérito. Como bombeiros, durante muitos anos, ao empenharam-se na missão suprema da defesa das nossos vidas e bens souberam continuar o espírito altruísta dos fundadores e contribuíram com o seu esforço generoso para a continuidade desta grande obra.

O seu altruísmo e a sua coragem fortificaram, ao longo dos anos, o espírito do voluntariado nos bombeiros da Régua. Todos prestaram valiosos serviços à comunidade no desempenho de uma causa nobre, livre e espontâneamente assumida ao serviço do próximo, numa atitude de doação e de solidariedade humana.

Num tempo de amnésia colectiva, recordar estes brilhantes bombeiros é um dever para quem assegura os rumos do presente da Associação, que deve saber resgatar do esquecimento os nomes e os feitos dos heróis anónimos, que deixaram marcas duradouras para o historial da instituição.

Essa atitude, mesmo que a título simbólico, deve servir para consolidar laços com o passado e avivar a necessidade de seguir a lição dos que deram algo de si a esta grande causa, como fizeram os bombeiros aqui retratados no seu tempo: António Silva, José Pinto Rodrigues - este veio a notabilizar-se com jogador de futebol da equipa do Sport Clube da Régua - Jorge Xavier, Abílio Dias, António Fonseca, José Oliveira e o Chefe Armindo Almeida, Américo Coutinho, Rufino Fonseca, José Morais, António Manuel Dias (filho do saudoso Abílio Dias, que está nesta foto), Francisco Guerra e Diamantino Peixe.

Com comoção e sentimento contemplamos os rostos felizes destes generosos bombeiros. Relembra-los é um acto de orgulho, respeito e merecida gratidão. Alguns desses homens faleceram mas estão entre nós e vivos na nossa memória. Outros envelheceram e guardaram as fardas e o capacete, apenas a envergam nos dias festivos e de glória. Mas três deles ainda se encontram, decorrido mais de quarenta anos, a prestar serviço no Corpo Activo, como é o caso dos Chefes António Silva, António Manuel Dias e José Oliveira. Como reconhecimento do seu trabalho, e dos anos de serviço de voluntariado nos bombeiros, este último chefe foi recentemente distinguido pela Associação com a Medalha de Ouro da Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real e o Crachá de Ouro da Liga dos Bombeiros Portugueses.

Evocamos os bombeiros do final da década de 1960 com admiração pelo que fizeram. Tudo o que nos transmitiram é um estímulo para os desafios que enfrentam os actuais bombeiros.

Ao partilharmos a imensa generosidade destes grandes bombeiros faz sentido recordar, em nome da memória colectiva, uma crónica de João de Araújo Correia, intitulada “Bombeiros”, publicada no jornal da Associação “Vida por Vida”, em Novembro de 1957, que louva com toda a dignidade a importância da figura do bombeiro:

“Meu pai tinha sido bombeiro voluntário. Mas, dotado por aí de lenta agilidade, sempre meticulosamente pausado, é crível que as obrigações de bombeiro, subir e descer escadas, de agulheta em punho, em cima de um telhado, fossem incompatíveis com o seu eu, isto é, com físico e o seu moral. Sei que pouco tempo foi bombeiro. Desertou do apito, mas continuou ou fez-se contribuinte. Foi-o até à hora da morte.

Da actividade bombeiril do meu pai, ficou em minha casa, durante algum tempo, uma recordação. Foram os botões, as charlateiras e umas insígnias do uniforme. O que brinquei, com estas maravilhas amarelas, meio oxidadas, só eu sei… O que não sei é como se perderam. Sei que foram, uma após, imitando o soldadinho de chumbo do conto prodigioso.

Mas, se o soldadinho de chumbo regressou, para fazer das suas, elas coitadinhas, não regressaram. Vivem apenas na minha memória, isto é, no passado, que se faz presente quando eu o chamo.

Sempre que brincasse com os botões, as charlateiras da farda do meu pai, dizia entre mim: o papá foi bombeiro. Dizia-o como se o tivesse visto fardado, em dia de grande gala, numa formatura resplandecente. Dizia-o por intuição das charlateiras, insígnias e botões meio oxidados, mas ainda áureos bastantes para suscitarem orgulho no cérebro infantil. Se tivesse visto o papá numa parada, com o capacete a arder, numa fogueira de sol, com certeza que a minha vaidade se teria tornado insuportável.

Um homem de luvas brancas, com machado de prata às ordens e a cabeça adornada com um elmo de ouro, não é um homem. É um semi-deus”.

O escritor escreveu este belo elogio na figura do seu pai, António da Silva Correia (1869-1947) que deve ter sido um dos primeiros bombeiros da corporação. E não falseamos nada, se dissermos que no seu enaltecimento estavam todos os bombeiros da Régua que conheceu e muito prezou, ao ponto de imortalizar muito deles nas histórias dos seus livros. Era assim no seu imaginário, e agora é também no nosso, em que esses homens de luvas brancas com um machado são admirados como uns semi-deuses.
- Peso da Régua, Junho de 2009, José Alfredo Almeida.

- Outros textos publicados neste blogue sobre os Bombeiros Voluntários de Peso da Régua e sua História:

  • As "madrinhas" dos Bombeiros - Aqui!
  • A benção da Bandeira - Aqui!
  • Comandante Lourenço de Almeida Pinto Medeiros: Fidalgo e Cavaleiro dos Bombeiros da Régua - Aqui!
  • A força do voluntariado nos Bombeiros - Aqui!
  • A visita do Presidente da Républica Américo Tomás - Aqui!
  • Uma formatura dos Bombeiros de 1965 - Aqui!
  • O grande incêndio dos Paços do Concelho da Régua - Aqui!
  • 1º. de Maio de 1911 - Aqui!
  • Homens que caminham para a História dos bombeiros - Aqui!
  • Desfile dos veículos dos bombeiros portugueses - Aqui!
  • Os Bombeiros no velho Cais Fluvial - Aqui!
  • O Padre Manuel Lacerda, Capelão dos Bombeiros do Peso da Régua - Aqui
  • A Ordem Militar de Cristo - Uma grande condecoração para os Bombeiros de Peso da Régua - Aqui!
  • Os Bombeiros no Largo da Estação - Aqui!
  • A Tragédia de Riobom - Aqui!
  • Manuel Maria de Magalhães: O Primeiro Comandante... - Aqui!
  • A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A cheia do rio Douro de 1962 - Aqui!
  • O Baptismo do Marçal - Aqui!
  • Um discurso do Dr. Camilo de Araújo Correia - Aqui!
  • Um momento alto da vida do comandante Carlos dos Santos (1959-1990) - Aqui!
  • Os Bombeiros do Peso da Régua e... o seu menino - Aqui!
  • Os Bombeiros da Régua em Coimbra, 1940-50 - Aqui!
  • Os Bombeiros da Velha Guarda do Peso da Régua - Aqui!

- Link's:

  • Portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua (no Sapo) - Aqui!
  • Novo portal dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • Exposição virtual dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua - Aqui!
  • A Peso da Régua de nossas raízes - Aqui!

10/24/08

Moçambique piora bastante no ranking da Liberdade de Imprensa.

(clique na imagem para ampliar)

Moçambique ocupa o 90º. lugar no ranking da liberdade de imprensa 2008, elaborado pela Repórteres Sem Fronteiras(RSF), divulgado ontem. No ano passado Moçambique ocupou o 73º. lugar. A lista continua a ser liderada pela Islândia, acompanhada pelo Luxemburgo e pela Noruega.

Nos últimos lugares estão novamente a Eritreia, a Coreia do Norte e o Turquemenistão.

Os países africanos melhor posicionados que Moçambique são, a Namíbia em 23º. , Ghana e Mali, 31ª. e África do Sul em 36º.

Moçambique está a frente de países como Angola ,116º., Zimbabwe, 151º., Sudão, 135º. e Eritreia, 173º..

Entre as razões a apontar para descida de Moçambique à 90ª. posição, o que corresponde a uma perca de 27 lugares, concorrem os processos judiciais contra os jornalistas, movidos durante o corrente ano , com destaque para o processo desencadeado pelo Dr. Augusto Raul Paulino, Procurador Geral da República, contra o semanário Zambeze por este jornal ter noticiado, repetidamente, que corria um processo criminal (12/2007-C) em que ele era “arguido. Esta situação despoletou várias intervenções, com destaque para a indignação da mexicana Lydia Cacho Ribeiro, vencedora do Prémio Anual de Liberdade de Imprensa – UNESCO 2008, que considerou tais atitudes como típicas de regimes intimidadores do jornalismo investigativo.

Também, concorreu para a má imagem de Moçambique, à célere acusação e julgamento dos jornalistas do semanário Zambeze que por questionarem a nacionalidade da primeira ministra, Luisa Diogo, foram acusados pelo Ministério Público de pratica de crime contra a segurança do Estado. Na sentença desse julgamento, acabou por ser afastado o crime contra a segurança de Estado, mas foram aplicadas medidas punitivas.

Na sua avaliação de 2008, a Repórteres Sem Fronteiras considera que a democracia não garante necessariamente a liberdade de imprensa. A organização refere que alguns países – como os Estados Unidos da América, 119º., e Israel, 46º., estão a ajudar a corroer a liberdade de expressão em nome da segurança contra o terrorismo.

Por outro lado, a Repórteres Sem Fronteiras assinala que não é a prosperidade económica que garante uma maior liberdade de imprensa, mas sim a paz.

A Repórteres Sem Fronteiras considera que em África, com o fim das guerras está a melhorar a liberdade de expressão “de cada vez que uma guerra acaba, a liberdade de imprensa e a situação dos direitos humanos melhora”.

Destaca ainda que alguns líderes africanos já compreenderam as vantagens para os seus países, derivadas da liberdade de imprensa.

A China continua entre os dez piores países em termos de liberdade de imprensa.
- MediaFax, Redacção, Maputo, Quinta-feira, 23.10.08 *Nº4150.

Post's sobre o mesmo assunto:

8/26/08

Liberdade da Imprensa em Moçambique - MISA deplora ausência de liberdade de imprensa!

(Clique na imagem para ampliar)
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A liberdade da imprensa em Moçambique diminui quando que se afasta de Maputo, capital administrativa, denunciou o presidente da secção moçambicana do Instituto da Imprensa da África Austral (MISA), Tomás Vieira Mário. O presidente do organismo regional de defesa da liberdade da imprensa em Moçambique, citado pela edição de segunda-feira do diário "Notícias", disse que a grande abertura de que gozam os mídias em Maputo "esconde-nos às vezes a verdadeira realidade em vigor neste país". Tomás Mário, reeleito na semana passada para um mandato de dois anos durante a Assembleia Geral do MISA, adiantou que nas localidades e nos distritos rurais a situação é muito diferente do que se passa na capital administrativa.
"Nos distritos, a liberdade de imprensa ainda é uma noção muito estranha para a maioria das autoridades públicas", deplorou o presidente do MISA-Moçambique.
Denunciou que na província de Manica (centro) um Procurador adjunto ordenou em 2006 a detenção de três jornalistas dum jornal local por ter alegada difamado dum empresário local, apesar de a prisão preventiva não ser autorizada nos casos de difamação.
"Evidentemente, tudo era fabricado", disse Mário, adiantando que se o MISA tivesse intervindo os três jornalistas poderiam passar um longo período na prisão "porque no exercício da sua profissão eles descobriram e denunciaram um empresário local que rouba gado a pessoas do distrito de Barue e vende-os a fazendeiros sul- africanos".
O empresário em questão era uma personalidade influente em Barue, por isso foi ordenada a detenção dos jornalistas, embora não tenha havido queixa oficial contra eles e nenhum julgamento ter sido organizado para os permitir defender-se.
Este caso "simboliza a atitude dos detentores dos poderes locais fora de Maputo e mostra que quanto mais nos afastamos da capital, mais as liberdades da imprensa diminuem", ressaltou Tomás Mário.
Os juízes abusam igualmente dos seus poderes, realizando julgamentos à porta fechada em Beira e Pemba contra jornalistas locais, afirmou, sublinhando que isto decorre "porque os juízes sabem que fazem asneiras", assim para esconder os seus erros "eles expulsam o público das salas de audiência".
Os conflitos entre a imprensa e a Justiça aumentaram, particularmente devido ao número sensivelmente elevado de julgamentos por difamação.
Tomás Mário pensa que isto traduz um aumento dos maus comportamentos na administração pública e uma maior capacidade da imprensa a denunciar os abusos.
De acordo com ele, as pessoas acusadas reagem ao processar os jornalistas, notando que as acusações na imprensa contra os políticos, mesmo se baseando em fontes anónimas, são geralmente divulgadas por razões de interesse público.
Defendeu que os jornalistas, se tiverem de comparecer em tribunal, devem obter os serviços dum bom advogado que compreenda o direito à informação inscrito na Constituição e porque os jornalistas são autorizados a não revelar as suas fontes.
No entanto, o presidente da secção moçambicana do Instituto da Imprensa da África Austral (MISA) reconheceu que a imprensa comete igualmente abusos, quando jornalistas publicam intencionalmente mentiras.
- Moçambique-Maputo-(PANA) - 26/08/2008.

5/04/08

RETROCESSO - Liberdade de imprensa sofre ameaça em Moçambique !

03-05-2008 17:18:53 - Maputo, 3 Mai (Lusa) - O Instituto para a Comunicação Social da África Austral (MISA) afirmou que a ameaça à liberdade de imprensa em Moçambique tem crescido e que os jornalistas enfrentam obstáculos no exercício diário da profissão.
O relatório sobre a situação da mídia na África Austral foi divulgado para celebrar o Dia Mundial de Liberdade de Imprensa, comemorado neste sábado.
Segundo o texto, apesar de o país africano ter um quadro jurídico legal que facilita a prática do jornalismo, nos últimos anos este cenário tende a mudar. A Lei de Imprensa de Moçambique, datada de 1991, é considerada a melhor da região. "A mídia tem esbarrado com muitos obstáculos no exercício de seus direitos, incluindo assaltos à mão armada em algumas redações", diz o relatório.
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Roubo.
O documento aponta como exemplo o caso do semanário Magazine Independente, editado em Maputo. Em 22 de julho de 2007, o veículo foi assaltado por seis indivíduos armados que feriram guardas da empresa e roubaram 12 computadores.
Segundo o MISA, alguns analistas e o diretor do Magazine Independente, Salomão Moyana, o ataque foi praticado para silenciar a publicação, pois há muitas "dúvidas de que este foi um simples roubo". "Isso foi uma tentativa de transmitir a mensagem aos restantes órgãos de comunicação social do país. Foi um claro ataque à liberdade de imprensa e de expressão", diz o Instituto para a Comunicação Social da África Austral.
Os assaltantes levaram sómente do disco rígido dos computadores, que contém toda a informação da máquina, deixando os monitores na redação.
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Incidentes.
O relatório do MISA lembra que, meses depois, em 2 de outubro, um outro grupo roubou dois computadores do jornal eletrônico Vertical, uma publicação distribuída via fax e e-mail, também editado em Maputo.
De acordo com o editor do jornal, Victor Matsinhe, os criminosos roubaram computadores e gravadores usados pelos repórteres, mas "não havia sinais de que o estabelecimento tenha sido quebrado".
Victor Matsinhe descartou a possibilidade de que a invasão ao seu jornal tenha tido como objetivo intimidar os jornalistas, já que a publicação não divulgou nenhum artigo sobre figuras importantes ou assuntos delicados. Além disso, em 2007, houve um aumento de número de casos de jornalistas processados. Os tribunais passaram a exigir o pagamento de grandes somas em dinheiro para indenizar as vítimas caluniadas pelos órgãos de comunicação social moçambicanos.
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Texto anterior da Ag. LUSA sobre o tema:

Post's anteriores deste blog sobre o assassinato do Jornalista Carlos Cardoso, de António Siba Siba Macuácua e sobre a liberdade de imprensa em Moçambique: Aqui 1! Aqui 2 ! Aqui 3 ! Aqui 4 ! Aqui 5 ! Aqui 6 ! Aqui 7 ! Aqui 8 ! Aqui 9 ! Aqui 10 !

12/10/09

Corrupção em Moçambique - "Vimos muitos arvorarem-se em libertadores da Pátria... em nome da construção de uma burguesia nacional... projecto que redundou neste regabofe todo!"

EDITORIAL - Oh rama, oh que linda rama!...

Estão a chegar-nos informações interessantes, sobre os “roubos” nas instituições do Estado ou por ele participadas, e já começam a abundar nomes de supostos trafulhas, que andaram anos a passear a sua “classe” e arrogância, ofendendo, simultaneamente, a miséria que abunda neste país, mas, sobretudo, a humilhar os que trabalham e pagam impostos. São nomes e mais nomes que, por aí, começam a soar. Nomes e mais nomes, de pessoas e instituições. E, curiosa e sintomaticamente, os sinais exteriores de riqueza estão a desaparecer de certos sítios onde, habitualmente, se exercitavam as ofensas ao mais tolerante dos cidadãos e se despertavam da inconsciência os mais distraídos.

Em breve, não nos admiraremos que os mesmos que há tempos diziam “vamos discutir ideias, deixemo-nos de ofender pessoas” vão começar a defender que é legítimo que se comece a “denunciar”, com todas as letras, os seus próprios amigos. As “vitórias estrondosas”, as “vitórias esmagadoras” da Frelimo trouxeram-lhe sempre um custo difícil de gerir. Não será agora que as coisas se irão passar de maneira diferente. Desta vez, vai voltar a ser assim. Com uma economia de escassos recursos, para tantos na mesma casa, vai ser difícil encontrar recursos que saciem todos os que estão, agora, de boca aberta, à espera do que entendem por “merecido” lugar à sombra.

E é nesta luta que vai, com certeza, haver quem se exceda para oferecer um lugar, ao “sol”, de preferência aos “quadradinhos”, a quem for necessário abater, para deixar de lhe estorvar o caminho.

Por isso, não nos admiramos que estarão de regresso, muito em breve, os tempos da “bufaria”, em que os verdadeiros trafulhas e candongueiros, com as suas habilidades politiqueiras e de grupo habituais, vão ser os sobreviventes. Os eternos sobreviventes, não fosse a sua idade avançada e a impiedade divina…

Quando ainda era possível repreenderem-se os prevaricadores, seguir-se uma política de apelo à decência, vimos muitos arvorarem-se em libertadores da Pátria, para defenderem o seu direito às “batidas”, em nome da construção de uma burguesia nacional que, em abono da verdade, foi um projecto que redundou neste regabofe todo, de que Diodino Cambaza, o ex-PCA da empresa Aeroportos de Moçambique, é, apenas, um menino de coro.

Agora, quando a “Era da Bufaria” regressar ao melhor palco de espectáculos que ainda aí vem, que dirão os que enriqueceram a reboque de favores ao “partidão”, quando o feitiço se virar contra o feiticeiro?

O caso “Aeroportos de Moçambique”, já aqui dissemos, é apenas a ponta do iceberg. Agora fala-se de muitas outras instituições e de nomes de indivíduos que até já ocuparam cargos ministeriais, mas não só.

E a procissão ainda vai no adro…

Apesar do que se pode, desde já, tomar por esforços sensíveis e “positivos” (este para usarmos um termo de recorrência, sempre na ponta da língua dos yes men) no sentido das boas práticas e de moralização de costumes no Aparelho de Estado e instituições públicas ou participadas pelo Estado, temos, ainda, muitas dúvidas se este espectáculo vai passar da “rama”.

O “Caso Carlos Cardoso” ficou-se pela “rama”. Quando se estava a ir ao cerne da questão, não foi Vasconcelos Porto a ir a Marracuene, mas foi alguém silenciar Cândida Cossa…

O “Caso Siba-Siba” nem à rama chegou. Viu-se que até se tentou encontrar bodes expiatórios…

O “Caso Manhenje” se passar da “rama” vai, com certeza, dar “ramada”que nunca mais acaba…

Já dissemos quanto basta: “Oh rama, que linda rama”…
- Canal Mozambique, Ano 1 * N.º 96 * Maputo, Quinta-feira, 10 de Dezembro de 2009.

8/13/07

Moçambique - Siba Siba: Permanece a ausência de Justiça.

Há 6 (SEIS) ANOS QUE ASSASSINARAM ANTÓNIO SIBA SIBA MACUÁCUA !

Em Agosto de 2006 publicamos aqui, no ForEver PEMBA: O Centro de Integridade Pública, uma Organização não governamental moçambicana, voltada à assuntos de Boa Governação e Transparência juntou-se ao coro de protestos da sociedade civil, que reclamam a falta de justiça no caso Siba-Siba Macuácua, gestor bancário assassinado há cinco anos, em Maputo.
Dado o interesse e pertinência que o apelo do Centro de Integridade Pública suscitou mediaFAX, reproduz os seus excertos.
A 11 de Agosto de 2001, António Siba Siba Macuácua, um economista do Banco de Moçambique, foi atirado fatalmente pelo vão das escadas do 10º andar do seu gabinete.
Siba Siba estava ao serviço do Estado numa missão espinhosa: sanear um dos maiores bancos estatais moçambicanos que havia sido privatizado em 1997 para interesses malaios e locais. Foi assassinado à sangue frio. Deixou mulher e dois filhos menores.
Siba Siba, director de Supervisão Bancária no Banco de Moçambique, foi indicado para dirigir o Banco Austral, depois que o Governo decidiu retomar o controlo da instituição na sequência da quase falência do banco devido a uma gestão danosa.
Cinco anos depois, a Justiça ainda não foi feita. Este é em caso com porta de entrada para vários debates e questionamentos: a ausência de Justiça, a desprotecção do Estado relativamente à um dos seus gestores brilhantes, a gestão danosa de uma instituição de crédito, a des-solidariedade de classe, a desresponsabilização judicial, etc.
Cinco anos depois ninguém está preso, não há arguidos, parece que também nem suspeitos. Mas há muita matéria legal para responsabilizar pelo menos os culpados da gestão danosa do Banco Austral.
E o estado continua a fingir que os moçambicanos pensam que este foi um crime perfeito.
Maputo, 11.08.2006 - mediaFAX nº. 3595 - Pág. 4/4

FORUM SIBA-SIBA: O Centro de Integridade Pública coloca na sua página na internet ( www.cip.org.mz) um espaço dedicado a António Siba Siba Macuacua, economista moçambicano assassinado a sangue frio em 2001, quanto cumpria uma missão de saneamento das contas do Banco Austral, então privatizado para interesses malaios e locais. Siba Siba, que era funcionário sénior do Banco de Moçambique, foi atirado fatalmente pelo vão das escadas do 10º andar do seu gabinete no Banco Austral. Deixou mulher e dois filhos menores. Seis anos depois, a Justiça ainda não foi feita. O único grande passo dado neste caso foi a realização de uma auditoria forense em 2005, sob pressão dos doadores que canalizam fundos directamente ao Orçamento do Estado (Budget Support). Desde então a família e os moçambicanos continuam à espera que seja feita justiça. A auditoria, ao que apuramos, trouxe elementos importantes para a responsabilização criminal da gestão danosa do banco e pistas para a clarificação do crime. Mas a investigação está a correr de forma muito lenta – se é que, de facto, está a ser feita alguma investigação. Em todo o caso, esperamos que da auditoria resulte uma acção judicial. Todos os anos, quando o 11 de Agosto se aproxima, temos procurado honrar a data, homenagear o homem pela sua postura de integridade e coragem, exigir que seja feita justiça. Mas, logo a seguir, depois de cada 11 de Agosto, recolhemo-nos nos nossos silêncios de conformação. Cremos que a homenagem ao homem e a exigência de justiça deve ser uma atitude permanente. Um dever de cidadania. Para isso, o CIP abre este Forum Siba Siba, que é um espaço de debate de ideias, de monitoria do comportamento das autoridades governamentais relativamente a este caso – e outros casos de injustiças (recordámos, por exemplo, Pedro Langa). O espaço compreende secções com opinião, análises e artigos de imprensa publicados sobre o caso. Também desenhamos um blogue, onde os cidadãos podem deixar os seus comentários. Para que o caso não saia das nossas mentes, para que as autoridades saibam que estão sob permanente vigia. O Forum Siba Siba, que tem o apoio especial da família (a mulher Aquina, e os filhos Valter e Jássica), pertence a todos!!!

Visite o FORUM SIBA-SIBA - http://www.integridadepublica.org.mz/page.asp?sub=sibadoc

Ao relembrar o lamentável aniversário (seis anos) do assassinato de Siba Siba, recordamos outro crime ainda não esclarecido, o do jornalista Carlos Cardoso, também assassinado. E interrogamo-nos do porquê de os mentores da morte violenta destes incorruptíveis moçambicanos continuarem livres e impunes? Ou confirmar-se-à, pelo que se publica em notícias e comentários que correm pelo mundo, que a solução destes crimes não é conveniente a setores poderosos da sociedade moçambicana ?...

Acrescentamos com pesar que o 60. aniversário da morte de António Siba Siba Macuácua, assinalado na data de 11/08/07, foi conveniente e lamentávelmente "desconhecido" por grande parte da imprensa moçambicana !

8/20/08

Liberdade da Imprensa Moçambicana - Jornalistas demandados em processos judiciais.

(Clique na imagem para ampliar)
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EXISTE LIBERDADE DA IMPRENSA EM MOÇAMBIQUE ?
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Demandados em processos judiciais, jornalistas são vítimas da ignorância da Lei.
O fraco domínio da legislação moçambicana, sobretudo da Lei de Imprensa, por parte de jornalistas, e algum vazio legal são preocupantes, dado que se está a notar uma avalanche de processos em tribunal, por alegadas violações da Lei, sobretudo quando os supostos lesados pela notícia publicada sejam considerados figuras públicas. Esta constatação foi feita na manhã, de ontem, em Maputo, num debate, entre jornalistas membros do MISA-Moçambique, provenientes de todo o país.
No encontro em alusão, os participantes debruçaram-se sobre vários temas, nomeadamente: Processos judiciais e censura na imprensa: ponto de situação e desafios que se impõem; Imprensa e cobertura Eleitoral e Desafios profissionais e éticos.
As opiniões sobre estes assuntos, moderados por jornalistas seniores da praça e outras personalidades do mundo académico nacional, são, de algum modo, divergentes, embora convergissem, de certa forma, atendendo ao que seria o ideal, combinando com o possível e o real.
O orador do tema sobre Processos judiciais e censura na Imprensa: ponto de situação e desafios que se impõem, foi Salomão Moyana, director do semanário MAGAZINE INDEPENDENTE. Ele referiu que os jornalistas devem estar preparados e dotados de conhecimentos profissionais, sobre as leis no geral, e de Imprensa em particular, para que, em casos de se esbarrarem com o tribunal, e não só, no decurso do exercício da sua profissão, saibam posicionar-se com prudência. Disse, também, que os jornalistas, no país, devem ter a consciência de que o sistema judicial, por muitas vezes, sente-se pressionado a satisfazer o poder político, e, para satisfazer a este, tenta fazer valer algumas cláusulas das várias leis existentes no país, em prejuízo da classe jornalística. A título de exemplo, chamou a atenção para o facto de “a Lei de Imprensa rezar que os julgamentos que envolvem a imprensa devem ser céleres, e os Tribunais só fazerem uso deste pormenor da Lei quando se põe em desvantagem o poder do dia”, referiu, para acrescentar que, pelo contrário, demora e faz demorar o máximo possível quando a vantagem legal está do lado do jornalista. Esta “artimanha” é uma forma de confinar a classe a não ter espaço de manobra no exercício da profissão.
Moyana abordou, também, os contornos que norteiam a teoria sobre os chamados segredos de Estado, cuja definição exacta e clara, até hoje, ainda ninguém aclarou, com o propósito de, assim, se criar alguma ambiguidade, de modo a que cada um defina como achar melhor para si, vulnerabilizando a lei.
Eduardo Sitoe, director do Centro de Análise de Políticas, que abordou o tema sobre a Cobertura Eleitoral e desafios profissionais e éticos, começou por comparar a ética e o profissionalismo defendendo que “a ética é a face social do profissional, isto é: o jornalista está para servir as massas e, se consegue atingir esse objectivo, está cumprindo com a ética”. Por outro lado, apontou que “o profissionalismo caracteriza-se pela competência, inclinação, talento e remuneração no exercício das funções, pelo que cumprir com estas características acaba também indo de encontro àquilo que se chama ética”, frisou.
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Eleições.
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omás Vieira Mário foi, ontem em Maputo, reeleito presidente do Misa-Moçambique, num escrutínio onde houve 44 votos, dos quais 31 a favor, sete contra, três nulos e igual número em branco.
Esta eleição resulta de uma Assembleia ordinária do Misa-Moçambique convocada para o efeito, onde só houve uma única lista encabeçada pelo Tomás Vieira Mário, que concorria para a sua própria sucessão. Deste modo, o conselho nacional governativo eleito ontem é composto por Tomás Vieira Mário, presidente; Bordina Muala, primeira vice-presidente; Ezequiel Mavota, segundo vice-presidente; Custodio Duma, Joana Macie, Celestino Vaz, Cristina Xavier, Idalina Patia, Suizane Rafael, conselheiros.
Para a mesa da Assembleia Geral, a lista de Tomás Vieira Mário é composta por Maria Cremilda Massingue, presidente, e Fátima Mimbire, secretária, enquanto que o conselho Fiscal tem na presidência Lourenço Jossias; secretário, Pedro Nacuo, e vogal, Francisco Muianga.
Anteriormente a este acto, o elenco governativo cessante anunciou a decisão de nomear o jornalista e membro fundador do Misa-Moçambique, Salomão Moyana, a presidente honorário desta agremiação.
- Tomás Bernardo - Diário Independente, Maputo, 20 de Agosto de 2008.